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vinte e um<br />
LIBERDADE NA ACEITAÇÃO;<br />
PAZ NA CLAUSURA;<br />
FELICIDADE NA RENÚNCIA<br />
— Palavras gravadas no alto dos portões das Criptas.<br />
Quando eu estava no quarto ano da escola, fiz um passeio com a turma até as Criptas. Era obrigatório<br />
haver pelo menos uma visita ao lugar durante o ensino fundamental, como parte da educação<br />
governamental anticrime e antirresistência. Não lembro muito da visita, exceto de uma sensação de<br />
pavor completo, uma vaga impressão de frio e de corredores de concreto enegrecido, cobertos de mofo e<br />
umidade, e pesadas portas eletrônicas. Para ser sincera, acho que consegui bloquear quase toda a<br />
lembrança. O propósito da visita era nos traumatizar para que andássemos na linha, e eles,<br />
definitivamente, acertaram a parte referente a traumatizar.<br />
Algo de que me lembro é sair das Criptas para o sol brilhante de um belo dia de primavera com uma<br />
sensação poderosa, completa, de alívio — e também de confusão, ao perceber que, para sair das Criptas,<br />
precisávamos descer diversas escadas até o térreo. Durante todo o tempo em que estivemos lá dentro,<br />
mesmo enquanto subíamos, eu tive a impressão de estar enterrada, presa diversos andares abaixo da<br />
superfície. Era desse nível a escuridão do lugar, o quanto ele era apertado e malcheiroso: como ser<br />
trancada em um caixão com corpos em decomposição. Também me lembro de que, assim que saímos,<br />
Liz Billmun começou a chorar e a soluçar ali mesmo, enquanto uma borboleta voava a seu redor, e<br />
ficamos todas chocadas, pois Liz Billmun era muito durona e um pouco maldosa, e não havia chorado<br />
nem quando quebrou o tornozelo em uma aula de educação física.<br />
Naquele dia, jurei que nunca mais, em hipótese alguma, voltaria às Criptas, por motivo nenhum. Mas<br />
na manhã seguinte à minha conversa com Alex, estou diante dos portões, andando de um lado para o<br />
outro, envolvendo a barriga com um braço. Não consegui engolir nada hoje de manhã, exceto a lama<br />
preta e espessa que meu tio chama de café, uma decisão da qual já estou arrependida. Sinto como se um<br />
ácido estivesse corroendo minhas entranhas.<br />
Alex está atrasado.<br />
No alto, o céu está carregado com enormes nuvens negras de chuva. Está prevista uma tempestade<br />
para mais tarde, o que parece adequado. Para além do portão, ao fim de uma pequena estrada<br />
pavimentada, o prédio das Criptas se ergue negro e imponente. Com o céu escuro ao fundo, parece o<br />
cenário de um pesadelo. Uma dúzia de janelinhas — como os vários olhos de uma aranha — se espalha<br />
pela fachada de pedra. Um pequeno campo cerca as Criptas desse lado, terminando nos portões.<br />
Lembro-me do local como um pasto, mas, na verdade, é apenas um gramado bem-aparado, e careca em<br />
alguns pontos. Mesmo assim, o verde vívido da grama — onde a vegetação consegue de fato predominar<br />
acima da sujeira — parece deslocado. Isso parece um lugar onde nada deveria florescer ou crescer, onde<br />
o sol jamais deveria brilhar: um lugar na beira, no limite; um lugar completamente removido do tempo,<br />
da felicidade e da vida.<br />
Suponho que, tecnicamente, ele fica na beira, considerando que se situa exatamente na fronteira leste,<br />
cercado pelo rio Presumpscot, por trás, e além dele, pela Selva. A cerca elétrica (ou “não tão elétrica”)