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Começo a me levantar, mas uma imagem de Alex na noite anterior — tão perto de mim, dizendo<br />
aquelas palavras estranhas e maravilhosas: Eu a amo ao largo e ao fundo que minh’alma alcança — me derruba<br />
novamente, e caio com um baque sobre o vaso.<br />
Alex rindo, respirando, vivendo — afastado, longe de mim. Ondas de náusea me dominam, e eu me<br />
curvo, colocando a cabeça entre os joelhos, resistindo.<br />
A doença, digo a mim mesma. A doença está progredindo. Tudo vai melhorar após a intervenção. É essa a ideia.<br />
Mas não adianta. Quando finalmente consigo entrar no chuveiro, tento me perder no ritmo da água<br />
batendo nos azulejos, mas imagens de Alex passam por minha mente: ele me beijando, acariciando meu<br />
cabelo, seus dedos dançando em minha pele — dançando, bruxuleando como a luz de uma vela prestes a<br />
se apagar. A pior parte é que nem tenho como contar a Alex que não poderei encontrá-lo. É perigoso<br />
demais ligar para ele. Meu plano era ir aos laboratórios e avisá-lo pessoalmente, mas, quando desço,<br />
vestida e de banho tomado, e vou até a porta, Carol me detém.<br />
— Aonde você pensa que vai? — indaga, severamente.<br />
Posso perceber que ela ainda está brava por nossa discussão — brava e provavelmente ofendida.<br />
Sem dúvida, acha que eu deveria estar soltando fogos porque finalmente fui pareada. E ela tem o direito<br />
de pensar assim: há alguns meses eu estaria soltando fogos.<br />
Volto o olhar para o chão, tentando soar tão doce e calma quanto possível.<br />
— Pensei em dar uma volta antes que Brian chegue. — Tento forçar um clima. — Estou um pouco<br />
nervosa.<br />
— Você já tem passado muito tempo fora de casa — rebate Carol. — E só vai ficar suada e suja<br />
outra vez. Se está procurando algo para fazer, pode me ajudar a arrumar o armário.<br />
Não há como desobedecer à minha tia, então sigo-a até o andar de cima e me sento no chão<br />
enquanto ela me entrega toalhas velhas, e eu as examino à procura de buracos, manchas e defeitos, dobro<br />
e redobro panos, conto guardanapos. Estou tão irritada e frustrada que fico tremendo. Alex não vai<br />
saber o que aconteceu comigo. Ele vai se preocupar. Ou, pior, vai pensar que o estou evitando de<br />
propósito. Talvez pense que ir à Selva me assustou.<br />
A violência que estou sentindo me apavora — quase louca, capaz de tudo. Quero subir pelas<br />
paredes, incendiar a casa, fazer algo. Diversas vezes me imagino pegando um dos panos de prato idiotas<br />
de Carol e estrangulando-a. É disso que todos os livros, a Shhh, os pais e os professores sempre me<br />
alertaram. Não sei quem está certo — se eles ou Alex. Não sei se esses sentimentos — essa coisa<br />
crescendo dentro de mim — são algo horrível e doentio ou o melhor que já me aconteceu.<br />
Seja como for, não consigo contê-los. Perdi o controle. E o verdadeiramente doentio é que, apesar de<br />
tudo, estou feliz.<br />
Quando dá meio-dia e meia Carol me leva até a sala, que obviamente foi limpa e arrumada. As<br />
ordens de remessa de meu tio, que geralmente ficam espalhadas por todos os lados, foram organizadas<br />
em uma pilha caprichada, e nenhum dos livros velhos de escola ou dos brinquedos quebrados que<br />
costumam entulhar o chão está visível. Ela me faz sentar no sofá e começa a mexer em meu cabelo.<br />
Sinto-me como um troféu, mas sei que é melhor não reclamar. Se eu fizer tudo o que ela mandar — e se<br />
tudo correr bem —, talvez ainda tenha tempo de ir à casa na rua Brooks quando Brian for embora.<br />
— Pronto — diz Carol, afastando-se e me examinando com um olhar crítico. — Melhor que isso<br />
não fica.<br />
Mordo o lábio e viro o rosto. Não quero que ela perceba, mas suas palavras provocaram uma dor<br />
aguda. Por incrível que pareça, eu havia esquecido que devia ser banal. Estou tão acostumada com Alex<br />
me dizendo que sou linda... Estou tão acostumada a me sentir linda quando estou com ele... Um vazio se<br />
abre em meu peito. É assim que a vida será sem ele: tudo será comum outra vez. Eu serei comum outra<br />
vez.<br />
Alguns minutos depois de uma da tarde ouço o portão da frente abrir e passos na entrada. Estive tão