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de se perceber a diferença. Alex segue de sombra em sombra, movendo-se em silêncio pela grama. Em<br />
alguns lugares, ele parece desaparecer completamente diante de meus olhos, parece se derreter na<br />
escuridão.<br />
Ao contornarmos o lado norte da enseada, os postos de guarda começam a ficar mais bem-definidos<br />
— tornando-se realmente construções, guaritas pequenas de concreto com vidro à prova de balas.<br />
Suor surge em minhas mãos, e o nó em minha garganta parece quadruplicar o tamanho, até que eu<br />
me sinta estrangulada. De repente, percebo quão idiota é nosso plano. Cem — mil! — coisas podem dar<br />
errado. O guarda na guarita número vinte e um pode não ter tomado seu café ainda — ou não o<br />
suficiente para apagar — ou o remédio pode não ter funcionado. E, mesmo que ele esteja dormindo,<br />
Alex pode estar enganado quanto a quais partes da cerca não são eletrificadas; ou a prefeitura pode ter<br />
ativado toda a sua extensão apenas por hoje à noite.<br />
Tenho tanto medo que acho que estou prestes a desmaiar. Quero chamar a atenção de Alex e gritar<br />
que precisamos voltar, cancelar todo o plano, mas ele continua se movendo depressa à minha frente, e<br />
gritar ou fazer qualquer barulho certamente atrairá a atenção dos guardas. E os guardas fazem os<br />
reguladores parecerem criancinhas brincando de polícia e ladrão. As patrulhas de reguladores usam<br />
cassetetes e cachorros; guardas têm fuzis e gás lacrimogêneo.<br />
Finalmente, chegamos à parte norte da enseada. Alex se abaixa atrás de uma das árvores maiores e<br />
espera que eu o alcance. Agacho-me a seu lado. Esta é minha última oportunidade para dizer que quero<br />
voltar, mas não consigo falar, e quando tento balançar a cabeça negativamente, nada acontece. Sinto<br />
como se estivesse de volta ao meu sonho, sendo sugada pela escuridão, debatendo-me como um inseto<br />
preso em um pote de mel.<br />
Talvez Alex perceba o quanto estou assustada. Ele se inclina para a frente e leva um momento<br />
tentando encontrar minha orelha. Sua boca esbarra uma vez em meu pescoço e passa levemente por<br />
minha bochecha — o que, apesar do pânico, me faz tremer de prazer — e, então, chega ao lóbulo de<br />
minha orelha.<br />
— Vai ficar tudo bem — sussurra, fazendo com que eu me sinta ligeiramente melhor. Nada ruim<br />
vai acontecer enquanto eu estiver com Alex.<br />
Então nos levantamos outra vez. Avançamos em intervalos, indo silenciosamente de uma árvore<br />
para outra e parando enquanto Alex presta atenção e se certifica de que nada mudou, não houve gritos<br />
ou ruídos de passos se aproximando. Os momentos de exposição — entre os esconderijos — se tornam<br />
mais longos à medida que a quantidade de árvores diminui, e o tempo todo nos aproximamos da linha<br />
onde a faixa de grama e de vegetação desaparece de vez e precisaremos nos mover em um espaço aberto,<br />
completamente vulneráveis. É uma distância de apenas quinze metros entre o último arbusto e a cerca,<br />
mas para mim é como se fosse um lago de fogo.<br />
Do outro lado de uma estrada destruída da época em que Portland ainda não era enclausurada<br />
encontra-se a cerca em si: erguendo-se prateada ao luar, como uma enorme teia de aranha. Um lugar<br />
onde bichos grudam, ficam presos, são comidos. Alex me disse para levar o tempo necessário, para me<br />
concentrar antes de passarmos pelo arame farpado no topo da cerca, mas não consigo deixar de me<br />
imaginar sendo perfurada por todas aquelas pontas afiadas.<br />
Então, de repente, vamos — fora da proteção limitada oferecida pelas árvores, movendo-nos<br />
rapidamente pelo cascalho e xisto da estrada velha. Alex vai na frente, quase completamente curvado, e<br />
eu o sigo inclinando-me ao máximo, mas isso não me faz sentir menos exposta. O medo grita, atingindome<br />
por todos os lados; nunca vivi algo parecido. Não sei se o vento aumenta naquele segundo ou se é<br />
apenas o pânico me dominando, mas meu corpo inteiro parece gelo.<br />
A escuridão parece ganhar vida por todos os lados, cheia de sombras confusas e formas maliciosas e<br />
ameaçadoras, prontas para se tornar um guarda a qualquer instante, e imagino o silêncio de repente<br />
pontuado por gritos, suspiros, buzinas, tiros. Imagino uma dor pungente e luzes brilhantes. O mundo