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01- Delírio

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tinha razão, Lena. Tinha razão em relação a tudo. Ontem à noite... foi horrível. Teve uma batida... A<br />

festa foi invadida. Ah, meu Deus! Havia pessoas gritando, e cachorros; Lena, havia sangue. Eles estavam<br />

batendo nas pessoas, quebrando suas cabeças com porretes como se não fossem nada. As pessoas caíam<br />

por todos os lados e foi... Ah, Lena. Foi tão horrível, tão horrível!<br />

Ela envolve a barriga com os braços e se curva, como se estivesse prestes a vomitar.<br />

Começa a falar algo mais, mas o restante das palavras se perde: soluços fortes e agitados fazem seu<br />

corpo inteiro tremer. Dou um passo à frente e envolvo-a em um abraço. Por um segundo, ela fica tensa<br />

— é muito raro nos abraçarmos, considerando que esse comportamento sempre foi desestimulado —,<br />

mas, então, ela relaxa, encosta o rosto em meu ombro e se permite chorar. É um pouco estranho, porque<br />

ela é muito mais alta que eu e precisa se curvar. Seria engraçado se a situação não fosse tão horrível.<br />

— Calma... — digo. — Vai ficar tudo bem.<br />

Mas acho as palavras idiotas mesmo ao pronunciá-las. Lembro-me de quando seguro Gracie em<br />

meus braços e a embalo até que ela durma, dizendo a mesma coisa enquanto ela grita em meu<br />

travesseiro. Vai ficar tudo bem. Palavras que não significam nada, na verdade; são apenas sons entoados na<br />

vastidão e na escuridão, pequenas tentativas para se segurar em algo quando estamos caindo.<br />

Hana diz algo mais que não entendo. Seu rosto está enterrado em meu ombro, e as palavras saem<br />

abafadas.<br />

E, então, começam as batidas. Quatro batidas suaves e claras, uma após a outra.<br />

Hana e eu nos afastamos imediatamente. Ela esfrega um braço no rosto, deixando um rastro de<br />

lágrimas do pulso ao cotovelo.<br />

— O que foi isso? — pergunta ela. Sua voz está trêmula.<br />

— O quê? — Meu primeiro pensamento é fingir que não ouvi nada e rezar a Deus para que Alex vá<br />

embora.<br />

Toc, toc, toc. Pausa. Toc. Outra vez.<br />

— Isso. — Uma irritação invade a voz de Hana. Acho que eu deveria ficar feliz por ela não estar<br />

chorando mais. — As batidas. — Ela cerra os olhos, encarando-me desconfiada. — Pensei que ninguém<br />

usava esta entrada.<br />

— E ninguém usa. Quer dizer... Às vezes... Quer dizer, o pessoal da entrega... — Estou tropeçando<br />

em minhas palavras, rezando para que Alex vá embora, buscando uma mentira que não vem. Lá se vai<br />

minha nova habilidade.<br />

Então, Alex passa a cabeça pela porta e chama:<br />

— Lena?<br />

Ele vê Hana primeiro e fica paralisado, com metade do corpo para dentro e metade para o beco.<br />

Por um minuto, ninguém fala. O queixo de Hana literalmente cai. Ela se vira de Alex para mim e de<br />

novo para Alex, tão depressa que parece que sua cabeça vai cair do pescoço. Alex também não sabe o<br />

que fazer. Ele simplesmente continua completamente parado, como se pudesse ficar invisível se não se<br />

mexesse.<br />

E é a resposta mais idiota do mundo, mas tudo o que consigo dizer é:<br />

— Você está atrasado.<br />

Hana e Alex falam ao mesmo tempo.<br />

— Você disse para ele encontrar você? — pergunta ela.<br />

— Fui parado por uma patrulha. Precisei mostrar meus documentos — diz ele.<br />

Hana fica séria no mesmo instante. É por isso que a admiro: em um segundo, ela está histérica, aos<br />

prantos, e, no seguinte, está totalmente controlada.<br />

— Entre — diz ela — e feche a porta.<br />

Alex obedece. E então fica ali, pouco à vontade, mexendo os pés. Seu cabelo está bagunçado de um<br />

jeito estranho, e naquele segundo ele parece tão jovem, bonito e nervoso que sinto um impulso louco de

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