You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
de geleia de maçã até a porta, caso Jed decida investigar por que minha procura pelos remédios está<br />
demorando mais que o normal.<br />
Após um instante, ouço a batida ligeira à porta que dá para o beco. Tap, tap, tap, tap, tap.<br />
A porta parece mais pesada que o normal. Preciso de toda a minha força para abri-la.<br />
— Eu disse para bater quatro vezes... — falo quando o sol penetra a sala, ofuscando-me<br />
temporariamente. E, então, as palavras secam em minha garganta e quase engasgo.<br />
— Oi — diz Hana. Ela está no beco, deslocando o peso do corpo de uma perna para outra, com<br />
uma aparência pálida e preocupada. — Tinha esperança de encontrar você aqui.<br />
Por um segundo nem consigo responder. Estou extremamente aliviada — Hana está aqui, ilesa,<br />
inteira, bem. — e, ao mesmo tempo, a ansiedade começa a me dominar. Examino o beco rapidamente:<br />
nem sinal de Alex. Talvez tenha visto Hana e então fugiu.<br />
— Hum... — Hana franze a testa. — Você vai me deixar entrar ou não?<br />
— Ah, desculpe. Claro, entre.<br />
Ela passa por mim, e lanço um último olhar pelo beco antes de fechar a porta. Fico feliz em vê-la,<br />
mas nervosa também. Se Alex aparecer enquanto ela estiver aqui...<br />
Mas ele não aparecerá, digo a mim mesma. Deve tê-la visto. Deve saber que não é seguro vir agora. Não que eu<br />
esteja preocupada com a possibilidade de Hana me entregar, mas mesmo assim. Depois de todos os<br />
sermões que passei sobre segurança e descuido, não a culparia por querer me dedurar.<br />
— Está quente aqui — diz Hana, afastando as costas da blusa. Está usando uma camiseta branca e<br />
folgada, calças jeans largas e um cinto fino e dourado que destaca a cor de seu cabelo. Mas parece<br />
preocupada, cansada e magra. Enquanto ela faz uma volta e observa o depósito, noto pequenos<br />
arranhões atrás de seus braços. — Lembra quando eu vinha ficar aqui com você? Eu trazia revistas e<br />
aquele rádio velho e idiota que eu tinha, enquanto você roubava...<br />
— Salgadinhos e refrigerantes da geladeira — concluo a frase. — Sim, lembro.<br />
Era assim que passávamos os verões no ensino fundamental, quando comecei a trabalhar na loja. Eu<br />
costumava inventar desculpas para vir aqui atrás o tempo todo, e Hana aparecia em algum momento no<br />
começo da tarde e batia suavemente à porta cinco vezes. Cinco vezes. Eu devia ter percebido.<br />
— Recebi seu recado hoje de manhã — diz Hana, virando-se para mim. Seus olhos parecem ainda<br />
maiores que o normal. Talvez seja o restante do rosto que parece menor, esquálido de alguma forma. —<br />
Passei e não vi você no caixa, então resolvi vir para cá. Não estou com humor para lidar com seu tio.<br />
— Ele não está aqui hoje. — Estou começando a relaxar. Alex já estaria aqui se realmente fosse vir.<br />
— Só Jed e eu.<br />
Não sei se Hana me escuta. Ela está roendo a unha do polegar — um hábito nervoso que pensei que<br />
ela tivesse abandonado anos atrás — e olhando para o chão como se fosse o pedaço de linóleo mais<br />
fascinante que ela já tivesse visto.<br />
— Hana? — chamo-a. — Você está bem?<br />
De repente, ela treme toda, seus ombros se inclinam para a frente e ela começa a soluçar. Só vi Hana<br />
chorar duas vezes — uma, quando alguém a atingiu na barriga em uma partida de queimado no segundo<br />
ano, e outra, no ano passado, quando vimos uma menina doente ser subjugada pela polícia na frente dos<br />
laboratórios, e eles bateram a cabeça dela com tanta força no pavimento que ouvimos o barulho a<br />
sessenta metros de distância —, e por um instante fico totalmente paralisada e sem saber o que fazer.<br />
Ela não leva as mãos ao rosto nem tenta secar as lágrimas. Apenas fica ali, tremendo tanto que temo que<br />
vá cair, com as mãos fechadas nas laterais do corpo.<br />
Estendo o braço e toco seu ombro com minha mão.<br />
— Psiu, Hana. Está tudo bem.<br />
Ela se afasta de mim.<br />
— Não está tudo bem. — Ela respira profundamente e começa a falar em tom apressado: — Você