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longos e ruivos, brilhantes como uma chama. Há apenas cinco minutos estavam conversando e rindo<br />
juntos, tão próximos que se um dos dois tropeçasse sem querer eles poderiam ter se beijado. Agora<br />
lutam, mas ela é pequena demais. Ela morde o braço dele como um cachorro, como um animal<br />
selvagem; ele ruge e se enfurece, pega-a pelos ombros e a empurra contra a parede, para fora do<br />
caminho. Ela tropeça e cai, escorregando e tentando se levantar; um dos reguladores, um sujeito enorme,<br />
com o rosto mais vermelho que já vi, estende o braço na direção dela, pega seu rabo de cavalo e puxa a<br />
garota até colocá-la de pé. Conservatório Naval também não escapa. Dois reguladores o seguem, e,<br />
enquanto passo correndo, ouço os golpes dos cassetetes e o som abafado de gritos.<br />
Animais, penso. Somos animais.<br />
Pessoas empurram, puxam e usam umas às outras como escudo enquanto os reguladores continuam<br />
se aproximando, avançando, atacando-nos, os cachorros nos perseguem e os cassetetes passam tão perto<br />
de minha cabeça que posso sentir o deslocamento do ar quando a madeira passa a centímetros de minha<br />
nuca. Penso em uma dor aguda, penso na cor vermelha. A multidão está diminuindo ao meu redor<br />
enquanto os reguladores avançam. Uma por uma, as pessoas vão gritando junto de mim — crack! — e<br />
caindo, sendo derrubadas por três, quatro, cinco cachorros. Gritando, gritando. Todos gritando.<br />
De alguma forma, consegui não ser pega, e continuo correndo pelos corredores estreitos e<br />
barulhentos, passando por uma confusão de cômodos, uma confusão de pessoas e de reguladores, mais<br />
luzes, mais janelas estilhaçadas, o ruído de motores. O local está cercado. Então a porta dos fundos<br />
surge aberta diante de mim — e, além dela, as árvores escuras, o bosque frio e sussurrante atrás da casa.<br />
Se eu conseguir sair... Se eu conseguir me esconder das luzes por tempo suficiente...<br />
Ouço um cachorro latindo atrás de mim e, perto dele, os passos ressoantes de um regulador,<br />
avançando, avançando, uma voz áspera gritando Pare!, e, de repente, percebo que estou sozinha no<br />
corredor. Mais quinze passos... E dez. Se eu conseguir chegar à escuridão...<br />
Estou a um metro e meio da porta quando uma dor súbita e aguda atravessa minha perna. O<br />
cachorro está com as mandíbulas em minha panturrilha, e eu me viro e então o vejo: o regulador com o<br />
rosto vermelho, sorrindo, os olhos brilhando — ah, Deus, ele está sorrindo, ele realmente gosta disto —, com o<br />
cassetete erguido, pronto para me atacar. Fecho os olhos, penso em uma dor tão grande quanto o<br />
oceano, penso em um mar vermelho-sangue. Penso em minha mãe.<br />
Então sou jogada para o lado e ouço um estalo e um ganido; o regulador diz Merda. A ardência em<br />
minha perna e o peso do cachorro desaparecem, e surge um braço em minha cintura e uma voz em meu<br />
ouvido, uma voz tão familiar que naquele momento é como se eu estivesse esperando por ela o tempo<br />
todo, como se estivesse ouvindo-a desde sempre em meus sonhos, sussurrando:<br />
— Por aqui.<br />
Alex mantém um braço em volta da minha cintura, quase me carregando. Estamos em um corredor<br />
diferente agora, menor e totalmente vazio. Toda vez que coloco o peso na perna direita, a dor volta a<br />
crescer, subindo até minha cabeça. O regulador continua atrás de nós, e furioso — Alex deve ter me<br />
puxado no segundo exato em que ele me acertaria, fazendo-o acertar o próprio cachorro em vez de meu<br />
crânio —, e sei que devo estar retardando Alex, mas ele não me solta, nem por um segundo.<br />
— Aqui — ele diz, e então entramos em outro quarto.<br />
Devemos estar em uma parte da casa que não estava sendo usada para a festa. O quarto está<br />
completamente escuro, mas Alex não desacelera, ele simplesmente continua avançando pela escuridão.<br />
Deixo que a pressão das pontas de seus dedos me guiem, esquerda, direita, esquerda, direita. O ambiente<br />
cheira a mofo e algo mais: tinta fresca, quase, e algo defumado, como se alguém estivesse cozinhando<br />
aqui. Mas é impossível. Estas casas estão vazias há anos.<br />
Atrás de nós, o regulador está penando na escuridão. Ele esbarra em alguma coisa e xinga. Um<br />
segundo depois, algo cai no chão; um vidro se estilhaça; mais um xingamento. Pelo som de sua voz,<br />
percebo que ele está ficando para trás.