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01 - Forever Mine

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PL & TRT<br />

Apresentam<br />

<strong>Forever</strong> <strong>Mine</strong><br />

(The Moreno Brothers #1)<br />

by Elizabeth Reyes<br />

2


Staff<br />

Disponibilização : Soryu<br />

Tradução : Clau, Cynthia , Aynelis, Ticsul, Rute, Roseli ,<br />

Gisele<br />

Revisão Inicial : Tathy ,Val ,Rosa, Diah Persan ,Marlene,<br />

Ana Catarina Gomes,Ana Paula dos Santos,Jojo Silva<br />

Segunda Revisão : Amanda Espinel<br />

Revisão Final: Mari Sales<br />

Leitura Final e Formatação : Juuh Allves<br />

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Sinopse<br />

Aos dezessete anos, a vida de Sarah virou de cabeça para baixo<br />

quando sua mãe solteira vai para a cadeia. Ela é forçada a se mudar,<br />

deixando para trás tudo o que ela conheceu, incluindo seu melhor<br />

amigo Sydney. Perdida e amarga em uma nova escola, seu único<br />

objetivo é economizar dinheiro e voltar para casa.<br />

Então, ela conhece Angel Moreno. Enigmático, mas lindo, Angel<br />

é perfeito demais para ser verdade. Exceto por uma coisa, sua crença<br />

arcaica de que meninos e meninas nunca podem ser "apenas amigos".<br />

Problema?<br />

O melhor amigo de Sarah, Sydney, não é uma menina. Com o<br />

romance inesperado tornando-se cada dia mais intenso, quanto tempo<br />

mais Sarah poderá ocultar de Angel Moreno a existência do cara<br />

esperando que ela volte para casa?<br />

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Prólogo<br />

Sarah congelou. Isso não podia estar acontecendo. Pegou o<br />

telefone, os nódulos dos dedos começaram a ficar brancos. O nó em<br />

sua garganta era insuportável.<br />

— Ainda está aí, Sarah?<br />

Quase em um sussurro inaudível Sarah respondeu.<br />

— Sim... sim.<br />

— Querida, sei que isto é difícil, mas não é o fim do mundo. Nós<br />

conversamos sobre isso e sabia que havia uma possibilidade. Sarah<br />

tentei, realmente tentei, mas não há nada mais a fazer. Esgotamos<br />

todas as opções e qualquer outra opção seria muito arriscada. Isto é o<br />

melhor.<br />

— Mas, meu último ano preparatório... — Sarah sentiu crescer<br />

sua irritação e as lágrimas lhe queimavam nos olhos. Estava a ponto de<br />

explodir, atacar alguma coisa. Em seguida, ouviu sua mãe de novo. Sua<br />

voz embargada novamente.<br />

— Sei, querida. Eu sinto muito. Desta vez eu arruinei tudo.<br />

Sua mãe deu um longo e trêmulo suspiro e isso quebrou o<br />

coração de Sarah. Queria estar a seu lado para abraça-la e consolá-la.<br />

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— Está bem mamãe, ficarei bem.<br />

Sua mãe limpou a garganta e baixou a voz. Soando de forma<br />

determinada, falou novamente:<br />

bem?<br />

— Juro que vou te compensar por isso. Eu prometo isso, está<br />

— Está bem.<br />

— Já liguei para tia Norma. Ela e o tio Fred virão neste fim de<br />

semana. Vão ajudar a empacotar, para que você e eu possamos passar<br />

um momento juntas. Então, terei que me apresentar na segunda-feira<br />

na corte.<br />

Hesitante, Sarah disse:<br />

— Na segunda-feira?<br />

— Sim baby, na segunda-feira.<br />

Sarah cobriu a metade de seu rosto com sua mão livre e sacudiu a<br />

cabeça. Não queria que sua mãe se sentisse ainda pior, então sufocou<br />

um soluço.<br />

— Está bem mamãe — suspirou.<br />

— Ficarei por aqui um momento, querida, então não me espere<br />

acordada. Amanhã falaremos mais sobre isto.<br />

Sarah desligou e se virou para ver Sydney, seu melhor amigo, que<br />

todo o tempo esteve sentado na cama junto a ela. Sydney a olhou<br />

ansiosamente.<br />

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— Ela vai se declarar culpada e passará ao menos três anos presa.<br />

Irei viver com a tia Norma na Califórnia.<br />

Sydney foi forte e Sarah caiu chorando em seus braços.<br />

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Capítulo Um<br />

Um mês depois<br />

Preparatória La Jolla, Califórnia<br />

Enquanto estava de pé no meio de um corredor repleto de<br />

estudantes barulhentos correndo de um lado para outro, Sarah se sentia<br />

tremendamente sozinha. Um mês não foi suficiente para prepará-la<br />

para sua nova escola, novos amigos e uma vida nova.<br />

Oh Deus, como sentia saudades de Sydney. Isso não parecia em<br />

nada com o que ela tinha imaginado que seria seu último ano<br />

preparatório. Tinha tantos planos em sua escola anterior e agora, se<br />

encontrava completamente perdida.<br />

Apertando sua mochila em seus braços, começou a caminhar sem<br />

rumo fixo. Queria sair do caminho em meio desse engarrafamento<br />

humano. Onde diabos estava Valeria, sua prima? Ela havia dito que o<br />

corredor para a entrada principal se encontrava justo fora do escritório<br />

do conselheiro, ou não tinha sido assim?<br />

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Sua tia tinha levado às duas juntas, mas Sarah tinha que ir ao<br />

escritório do conselheiro. Por ter se inscrita tarde, seu horário não<br />

chegou pelo correio como o da Valeria. Assim que chegaram à escola,<br />

Valeria começou a socializar com todo mundo, lhe prometendo que<br />

estaria ali quando ela saísse do escritório.<br />

O sinal tocou e Sarah tentou não entrar em pânico. Ela olhou<br />

para o seu horário, mas não tinha ideia de onde tomar sua primeira<br />

classe. Ela começou a caminhar para trás até ficar de costas para a<br />

parede. Será que Valeria a tinha abandonado? Não, não o faria. Ficou<br />

vendo o rosto das pessoas ao seu redor e imaginou se deveria perguntar<br />

a alguém como chegar a sua primeira classe.<br />

Um grito chamou sua atenção e virou-se para a entrada principal<br />

para ver que uma das garotas tinha seus braços ao redor do pescoço de<br />

um dos rapazes que acabava de entrar. Sarah revirou os olhos. Sempre<br />

odiou este tipo de garotas. O rapaz obviamente era um atleta e ele<br />

estava usando um daqueles coletes com iniciais de alguma equipe, igual<br />

as que usavam seus outros dois amigos.<br />

Vendo que estava por sua conta, começou a caminhar de volta<br />

para o escritório e franziu a testa ao ver que bem em frente ao escritório<br />

estava um mapa da escola. Havia alguns poucos caras parados em<br />

frente a ele, revisando seus horários e vendo o mapa. Aparentemente,<br />

ela não era a única nova na escola, embora isso não fosse um grande<br />

consolo. Sarah virou-se procurando Valeria, sentindo-se mais que<br />

chateada com ela.<br />

De repente, atrás dela estalou uma risada masculina e virou-se<br />

para ver que se tratava dos mesmos caras que tinha visto há um<br />

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momento atrás, mas agora, com mais caras ao redor deles. O mais alto,<br />

que pegou a garota gritando, estava rindo quando seus olhares se<br />

encontraram. O sorriso em seu rosto pareceu apagar-se pouco a pouco.<br />

Ela ficou congelada e com os lábios entreabertos. Por um momento, ela<br />

pensou que ele diria algo quando de repente ouviu Valeria.<br />

— Aqui está!<br />

Sarah saiu de seu torpor e viu Valeria, que já tinha lhe tirado seu<br />

horário, sorrindo com malícia.<br />

— Temos duas aulas juntas!<br />

— Temos? — As bochechas de Sarah ainda estavam quentes,<br />

mas caminhou rapidamente ao lado de Valeria, incrivelmente<br />

agradecida por essa coincidência.<br />

Valeria falava das aulas até que estavam longe o suficiente ao<br />

virar a esquina do edifício.<br />

— Por Deus Sarah! Você percebeu quem estava te olhando?<br />

Surpresa, sem saber realmente por que, Sarah fingiu não ter<br />

entendido. — Quem?<br />

Valeria ofegou.<br />

— Angel Moreno! Não se lembra? Você falou com ele e seus<br />

irmãos.<br />

— Não — disse Sarah mentindo. Claro que recordava, por isso<br />

que não podia quase respirar quando o reconheceu.<br />

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Soou o sinal.<br />

— Caramba! — disse Valeria para o relógio. — Vamos chegar<br />

tarde em nosso primeiro dia.<br />

aula.<br />

Pegou o braço de Sarah e saíram correndo para sua primeira<br />

DUAS SEMANAS MAIS TARDE<br />

Angel correu dando enormes passos ao redor do edifício de<br />

ciências. Seu estômago esticou, justo quando o sinal tocou.<br />

Novamente, ia chegar tarde ao treino e sabia que seu treinador ficaria<br />

chateado. Era a segunda vez esta semana, mas teve que ficar depois da<br />

aula para fazer a tarefa por créditos adicionais. Novamente, seria<br />

reprovado em Espanhol II. Espanhol! Seus pais eram donos de um<br />

restaurante mexicano, por Deus! A única razão pela qual se inscreveu<br />

nesta aula, era porque necessitava de dois anos de uma língua<br />

estrangeira para poder ter a oportunidade de ir a uma universidade por<br />

quatro anos. E agora, isto estava lhe custando tempo no campo.<br />

Aparentemente, ele só era bom para as maldições e sua<br />

professora chamava Espanglish 1 ao espanhol que ele falava. Era um<br />

labirinto sem saída, se não ficasse até tarde para obter créditos<br />

adicionais, tampouco poderia subir as terríveis notas que estava tirando<br />

1 Espanglish – mistura de Espanhol com Inglês.<br />

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nos exames. E se não as subisse, não poderia ter a média necessária<br />

para jogar na equipe. Além disso, se não subisse suas qualificações,<br />

teria que ficar no reforço depois das aulas. O próprio pensamento o fez<br />

rosnar.<br />

Chegou a sala onde foram pesados quando já tinham começado o<br />

aquecimento. O treinador apenas o olhou e apontou em direção a<br />

arquibancada no raio de sol lá fora.<br />

— Vinte — disse. — E as faça rápido.<br />

Correr nas arquibancadas era o pior. Enquanto começava a correr<br />

para os degraus, escutou Dana lhe chamando da área da pista aonde<br />

treinavam as líderes de torcida.<br />

— Angel, outra vez as arquibancadas?<br />

Ele moveu a cabeça apenas observando-a. Algumas das garotas<br />

riram e se juntaram a ele. Suas covinhas apareceram como era de<br />

costume, embora seu sorriso era tudo menos um sorriso sincero. Os<br />

assobios já não o incomodavam faz tempo, especialmente se vinham<br />

deste grupo de garotas.<br />

Aos dezessete, Angel era um cara incrível com 1,86 metros.<br />

Estava seguindo de perto os passos de seus irmãos. Embora fosse<br />

agradável ser admirado de forma imediata assim que começou a escola,<br />

havia ocasiões em que ressentia do fato de viver da fama criada por<br />

seus irmãos. Eles eram muito bonitos fisicamente e era igualmente<br />

popular, mas em qualificações, não se pareciam em nada.<br />

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Franziu a testa só de pensar que seus dois irmãos tinham bolsa de<br />

estudos na universidade, enquanto ele se encontrava lutando para<br />

poder jogar futebol americano na escola. Era vergonhoso, mas não ia<br />

desistir. Tal como dizia seu pai e Sal, seu irmão mais velho: “O<br />

fracasso não é opção. ”<br />

Perdido em seus pensamentos e ainda chateado consigo mesmo,<br />

Angel corria devagar e pensativo pelas arquibancadas pela quarta ou<br />

quinta vez, já tinha perdido a conta. O suor começou a descer por seu<br />

rosto e começou a lutar para manter estável sua respiração.<br />

Geralmente, podia manter o mesmo ritmo, mas não hoje. Alguém<br />

passou correndo muito perto. Assustado, ele quase perdeu o equilíbrio.<br />

Esteva prestes a soltar uma bola de maldições ao menino quando<br />

escutou uma voz lhe pedir desculpas... e percebeu que era uma garota.<br />

— Desculpa, eu esbarrei em você?<br />

— Não, estou bem. — Angel se agachou pondo as mãos nos<br />

joelhos, tentando respirar.<br />

— Você está bem, de verdade?<br />

Ainda respirava com dificuldade, quando a olhou pela primeira<br />

vez. O sol estava bem atrás dela. Angel teve um vislumbre de sua<br />

pequena silhueta. Ao mover-se, ela cobriu um pouco o sol. A primeira<br />

coisa que notou foi o olhar dela. Seus olhos eram incrivelmente verdes<br />

claro. Um contraste surpreendente com suas características morenas.<br />

Ela olhou para ele, parada ali mesmo e respirando com dificuldade.<br />

Seu cabelo estava preso em uma rabo-de-cavalo, exceto por<br />

algumas mechas encharcadas do suor que lhe escorria pelas têmporas e<br />

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testa. Angel se surpreendeu por não reconhece-la de nenhum lugar.<br />

Pensou que conhecia todo mundo na escola. Mas havia algo familiar<br />

nela, não podia dizer o quê.<br />

— Estou bem — respondeu.<br />

— Que bom. — Ela começou a soltar o cabo de seus fones de<br />

ouvido. Aparentemente, os tirou dos ouvidos quando voltou para ver se<br />

ele estava bem. Ela não sorriu ou lhe pergunto mais, realmente queria<br />

continuar seu caminho. Viu como ajustava o fone no ouvido e<br />

continuava a correr.<br />

Com o coração batendo e as mãos suadas, para surpresa dela,<br />

perguntou:<br />

— Você gosta de correr?<br />

Estúpido, estúpido, estúpido.<br />

Ela virou e olhou para ele sem responder. Desejava que não<br />

tivesse escutado.<br />

— Meu nome é Angel e você?<br />

— Sarah.<br />

Tudo o que pôde fazer foi sorrir enquanto o nome dela se<br />

desvaneceu.<br />

— Bom, desejo que corra bem — disse-lhe enquanto se afastava<br />

correndo.<br />

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Ele ficou olhando enquanto ela corria pelos degraus. De longe,<br />

ela parecia muito pequena e sem curvas. Naquele momento ele se<br />

lembrou, era a garota perdida do primeiro dia de aula. Aí é onde tinha<br />

visto esses olhos. Foi então que se fixou neles. Ele lembrou que ficou<br />

impressionado, mas ele não voltou a vê-la e tinha quase esquecido.<br />

Quase.<br />

Começou de novo com sua corrida e sua mente retornou a suas<br />

qualificações. Será que eu preciso de tutoria? Sacudiu a cabeça,<br />

chateado enquanto recuperava o passo.<br />

***<br />

Sarah estava correndo, concentrada. Tinha a sensação que ele<br />

estava olhando para ela e queria morrer se, de repente, escorregasse ou<br />

caísse. As borboletas em seu estômago estavam totalmente fora de<br />

controle. Como tinha sido possível quase derruba-lo? De todas as<br />

pessoas possíveis, tinha que ser ele. Ela deveria ter dito algo mais, mas<br />

ficou sem palavras, pensava em como ele descobriria que ela tinha<br />

ficado o encarando como uma idiota. Desde então, ela tinha evitado<br />

encontrar-se frente a frente com ele. Cada vez que o via, imediatamente<br />

começava a correr na direção contrária.<br />

Suas pernas quase dobraram quando se deu conta de com quem<br />

tinha se chocado. Maldito seja ele e seu sorriso. Estava certa de que<br />

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provavelmente, ele não se lembrava dela, não quis correr o risco do<br />

ridículo.<br />

Sarah sabia tudo a respeito dos irmãos Moreno. Valeria viveu<br />

aqui toda a vida e tinha ido à escola com eles sempre. E já que Valeria<br />

era platonicamente apaixonada pelo Alex, irmão mais velho de Angel,<br />

passava todo o tempo dizendo tudo sobre eles.<br />

Sarah lembrou-se da primeira vez que viu Angel há dois verões.<br />

Ela e sua mãe vieram visitar tia Norma, irmã de sua mãe e madrasta da<br />

Valeria. Valeria a tinha levado para uma festa na praia.<br />

Era uma festa durante todo o dia, mas Valeria estava consciente<br />

de seu corpo e decidiu chegar mais tarde, quando já tinham acabado de<br />

nadar. Chegaram quando todos estavam ao redor da fogueira<br />

escutando música. Sarah nunca tinha compreendido tudo o que Valeria<br />

tinha contado a respeito de Angel e seus irmãos. Ela os fez parecer<br />

como seu fossem estrelas de cinema, terrivelmente bonitos. Valeria lhe<br />

deu um tapa quando ele e seus amigos chegaram.<br />

— Aí está. Esse é o irmão mais novo do Alex.<br />

Sarah virou-se para vê-lo em toda sua glória. Era tudo menos<br />

gorducho, inclusive desde essa época. Ele e seus amigos pareciam<br />

mover-se em câmera lenta para o grupo de garotas. Elas os esperavam<br />

com uns ansiosos e enormes sorrisos. Usava uns shorts jeans e uma<br />

camiseta que deixava seus músculos à vista. Sarah nunca tinha visto<br />

um sorriso tão atrativo como este. Suas covinhas eram incríveis. Ela viu<br />

quando uma das garotas praticamente saltou aos seus braços,<br />

abraçando-o e em seguida, virou-se casualmente para assegurar-se de<br />

que todo mundo estava olhando-os.<br />

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— É sua namorada? — Perguntou a Valeria.<br />

Valeria bufou imediatamente.<br />

— Ela gostaria. É Dana, da qual te contei. Sempre está jogando e<br />

quer convencer a quem quiser escutá-la, que os dois são como um só.<br />

Todo mundo sabe que ele nunca teve uma namorada. Para que ter uma<br />

namorada quando pode ter todas as garotas que deseja, no momento<br />

que deseja?<br />

Sarah recordou ter visto e começou a fantasiar esse dia.<br />

Era tudo o que podia fazer. As garotas com andavam pareciam<br />

tão experientes e frescas ao redor dele, como seus amigos. Elas riam,<br />

algumas vezes exageradamente, mas ao menos podiam estar falando<br />

sobre isso. Quase não pôde respirar no primeiro dia de escola, quando<br />

ele se virou para olhar. E agora, quase o fez cair. Se ele a lembrasse<br />

como a garota tola do primeiro dia, agora guardaria uma lembrança<br />

ainda mais absurda sobre ela. Não tinha a menor esperança.<br />

De qualquer forma, isso não importava. Em sua agenda não<br />

havia lugar para novos amigos. Não planejava ficar tanto tempo para<br />

isso.<br />

Ela pegou velocidade e tentou tirá-lo da mente. Lembrou-se do<br />

aniversário de Sydney. Era este fim de semana e precisava garantir que<br />

finalmente pudesse enviar por e-mail seu presente. Fez uma<br />

apresentação de slides com as fotos dos bons tempos juntos, com todas<br />

as canções que tinham um significado especial para eles dois. Ela sabia<br />

que Sydney gostaria muito mais de receber este presente que qualquer<br />

outra coisa comprada.<br />

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Se não fosse por Sydney, não tinha ideia de como poderia ter<br />

sobrevivido no ano passado e agora, ela queria lhe mostrar seu<br />

agradecimento. Sydney significava o mundo para ela. Ao longo dos<br />

anos, tinham passado por muitas coisas, especialmente no ano passado,<br />

quando começou o pesadelo de sua mãe.<br />

Quando Sarah teve que ir morar com sua tia, ela e Sydney<br />

fizeram um pacto de ficarem sempre em contato. Até o momento,<br />

trocaram mensagens por correio e desde que os pais de Sydney se<br />

ofereceram para lhe dar um telefone com minutos ilimitados, podiam<br />

falar diariamente. Sem importar a distância, Sarah estava determinada<br />

a manter Sydney e a sua família, para sempre, em sua vida.<br />

Tia Norma não tinha ideia a respeito dos planos de Sarah. Em<br />

janeiro faria dezoito anos e uma vez que os tivesse, ninguém, nem<br />

sequer sua mãe poderia impedi-la de voltar ao Arizona. Ela tinha<br />

economizado dinheiro suficiente para pagar aos pais de Sydney para<br />

que lhe permitissem ficar com eles. Já tinha vários compromissos<br />

acordados para cuidar de crianças. Entre isso e a escola, não havia<br />

espaço para nenhuma vida social.<br />

Sarah mal podia esperar. O próprio pensamento a fazia sorrir. O<br />

semestre seguinte estaria correndo na equipe de atletismo de Flagstaff<br />

High School, onde ela pertencia e sua vida retornaria à normalidade.<br />

Levantou os olhos do chão enquanto descia das arquibancadas<br />

quando viu Jesse Strickland esperando-a lá abaixo, com os braços<br />

cruzados e sorrindo de orelha a orelha. Meu Deus e agora? Lutou<br />

contra si mesma para não parecer tão incomodada. Quando acabou de<br />

descer, Jesse estava na sua frente deliberadamente bloqueando seu<br />

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caminho. Quis lhe tirar um de seus fones de ouvido, mas lhe deteve a<br />

mão e ela mesma os tirou.<br />

— Sabe que dia é hoje? — Ele disse sorrindo ironicamente.<br />

— Não.<br />

Ele ficou olhando sem poder acreditar.<br />

— Valeria não te disse?<br />

Sarah negou com a cabeça, sem mostrar o menor interesse.<br />

Estava com calor e começava a suar. Sabia que em uns momentos<br />

mais, estaria empapada se não começasse a correr de novo.<br />

— Será que isto vai durar todo o dia? — Sarah disse a ele. —<br />

Estou na metade de minha corrida.<br />

— É meu aniversário. — Abriu os braços. — Estou aqui para<br />

coletar.<br />

Os olhos do Sarah se estreitaram e deu um passo para trás.<br />

— Coletar o que?<br />

Ele se aproximou mais, crescendo seu peito.<br />

— Bem, já que estamos aqui na escola, me conformarei com um<br />

abraço por agora. — Ele apoiou os braços e começou a rodear sua<br />

pequena cintura.<br />

Sarah lutou, tentando tirá-lo de cima.<br />

— Não te devo nada!<br />

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Obviamente surpreso, levantou uma sobrancelha e começou a<br />

aproximar-se novamente e forçar um abraço.<br />

— Ouça Sarah, fizemos muito mais que isto, o que te custa<br />

apenas um abraço?<br />

— Isso foi um engano e já faz muito tempo, assim supere! — Ela<br />

se esforçou para manter suas mãos, tomando-a por trás de sua cintura.<br />

Sentiu seu peso sobre dela, pesado no início, quando a empurrou contra<br />

a parede. De repente, do nada, esse peso desapareceu. Demorou alguns<br />

segundos para entender o que tinha acontecido. Percebeu que alguém o<br />

tinha tirado de cima dela e viu Jesse no chão de um lado das<br />

arquibancadas.<br />

Suas pernas falharam. Com uma mão, se apoiou no muro para<br />

não cair e a outra estava em seu peito sentindo como pulsava seu<br />

coração. Ali estava Angel.<br />

20


Capítulo Dois<br />

— Tem algum problema, imbecil? — perguntou Angel, com seu<br />

rosto a alguns centímetros de Jesse e com o antebraço sobre seu<br />

pescoço.<br />

Jesse tinha o rosto vermelho e lutava para poder falar:<br />

— Eu... eu apenas estava brincando co... com ela.<br />

Ainda segurando Jesse, Angel se virou para ver Sarah. Aí estava<br />

ela, com os olhos bem abertos e com sua mão sobre o peito.<br />

— Está bem?<br />

Sarah assentiu com a cabeça.<br />

— Estou.<br />

Angel virou para ver o rosto de Jesse que agora mostrava um tom<br />

vermelho escarlate escuro. Voltou a jogar sobre os degraus, batendo sua<br />

cabeça contra a lateral de madeira.<br />

— Porra, aprenda algumas maneiras! — disse ele.<br />

Já livre, Jesse caiu sobre um joelho tossindo e ofegante. Mais<br />

uma vez, Angel voltou-se para Sarah e caminhou em direção a ela. Ela<br />

ainda tinha sua mão sobre o peito e seus olhos estavam em Jesse, que<br />

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agora se levantou, ainda tossindo. Finalmente, olhou para Angel com<br />

esses olhos que começavam a atormentá-lo. Ele estava determinado a<br />

não permanecer em silêncio novamente.<br />

— Tem certeza de que está bem? — Lutou para não tirar um<br />

cabelo que tinha sobre seu rosto. Ela sorriu pela primeira vez.<br />

— Sim, obrigada — respondeu ela. — Não tinha que fazer isso.<br />

Só estava fingindo ser engraçado. Eu poderia dar conta. — Ele<br />

permaneceu em pé e pôs sua mão sobre a cintura dela.<br />

— Sim, certamente poderia. O que acontece é que perco a<br />

paciência com idiotas.<br />

Algumas pessoas perceberam o tumulto e passavam lentamente<br />

por lá, mas não o suficiente para chamar a atenção dos professores.<br />

Mais uma vez, ele se virou para ver como Jesse se retirava<br />

envergonhado, tossindo e esfregando o pescoço.<br />

— Ele ficará bem.<br />

Sarah deu de ombros e começaram a caminhar lentamente para o<br />

ginásio.<br />

Caminhando tão perto, lado a lado, Angel estava distraído<br />

quando suas mãos se tocaram por um segundo. Voltou a centrar-se em<br />

sua reação ao ver Jesse empurrar-se sobre ela. Era comum para ele<br />

tentar ajudar, mas na verdade, tinha passado do limite. Só deveria tê-lo<br />

empurrado. Em vez disso, na verdade, quis machucar Jesse.<br />

Ele olhou, estreitando os olhos.<br />

22


— É seu amigo?<br />

Sarah voltou-se para ele mas imediatamente virou-se.<br />

— Não o chamaria precisamente assim.<br />

Angel apertou a mandíbula e se virou para frente.<br />

— O que significa isso?<br />

Ela voltou sua atenção para as líderes de torcida que agora<br />

começavam a vê-los, especialmente Dana. Angel estava alheio a elas,<br />

no momento, seus olhos estavam sobre Sarah.<br />

Finalmente ela o olhou.<br />

— Saímos uma vez faz muito tempo.<br />

— Saíram? Saía com ele?<br />

— Não exatamente.<br />

Ela não conseguia olhá-lo diretamente nos olhos e a frustração<br />

estava se tornando muito forte. Jesse era um dos piores imbecis que<br />

conhecia. Não podia imaginar envolvida com ele de nenhuma forma.<br />

Chegaram ao ginásio antes que ele pudesse insistir mais e ela o<br />

olhou fixamente. Ela colocou sua mão sobre seu braço e fez sua pele<br />

arrepiar.<br />

— Obrigada pelo que fez lá.<br />

Angel não conseguia parar de olhar em seus olhos.<br />

23


— Te vejo por aí. — Tirou a mão de seu braço e foi embora.<br />

O que? Isso é tudo? De maneira nenhuma ele ia permitir que<br />

fosse tão rápido. Ele pegou a mão dela quando ela se virou. Era uma<br />

mão pequena e suave, dentro de sua mão musculosa. Seu coração<br />

começou a pulsar a mil por hora.<br />

Ela se virou para ele. Ele tentou se concentrar em outra coisa que<br />

não fosse seus olhos, mas era impossível.<br />

— Você irá ao jogo desta sexta-feira?<br />

Ela o olhou fixamente por um momento e limpou garganta.<br />

— Não posso, estarei trabalhando.<br />

Alguns caras saíram da esquina e se dirigiram para eles. Ela<br />

puxou sua mão, no entanto, ele a segurou com força. Ele olhou para os<br />

caras e novamente olhou para trás.<br />

— Trabalhar? E até que horas?<br />

— Ainda não tenho certeza, vou cuidar de crianças, por isso<br />

depende do momento em que seus pais retornarem para casa.<br />

Ela puxou novamente sua mão, mas desta vez um pouco mais<br />

forte para permitir que Angel a soltasse e começou a caminhar<br />

afastando-se.<br />

Angel franziu a testa.<br />

— Bem, há uma festa mais tarde. Acha que pode ir se retornarem<br />

cedo?<br />

24


Ela ficou na entrada dos vestiários quando se voltou para ele.<br />

— Talvez. — Despediu-se com a mão e desapareceu atrás da<br />

porta.<br />

Angel ficou parado, olhando a porta do vestiário. Isto era<br />

ridículo. Por que, de repente se encontrava tão mal? Então foi que se<br />

deu conta. Realmente nunca tinha pedido a uma garota que saísse com<br />

ele. Esta ironia lhe fez rir entre dentes. Nas festas sempre estava com<br />

alguém, dançava e logo terminava ficando com ela em qualquer lugar.<br />

Mesmo com as garotas com as quais esteve, nunca teve a intenção de<br />

convidá-las para sair. Agora que estava tentando, realmente foi<br />

horrível.<br />

***<br />

Sarah sentou em sua cama olhando o telefone. Já tinha um par de<br />

horas em casa e ainda não tinha contado nada a ninguém sobre o<br />

acontecido de hoje. Mal podia esperar para falar com Sydney. Ela já<br />

tinha lhe deixado duas mensagens e ainda não tinha retornado a<br />

chamada. Olhou o relógio. Esperava que Sydney a chamasse antes das<br />

sete. Essa era a hora em que sua mãe lhe ligava as quartas-feiras e só<br />

podiam falar por miseráveis quinze minutos. Sarah deu um salto<br />

quando o telefone tocou. Agarrou-o e o abriu.<br />

— Hey!<br />

25


— Lynni? — Sydney sempre a chamava por seu segundo nome,<br />

dizia que ela, realmente, não se parecia com uma Sarah.<br />

— Sim, sou eu.<br />

— Você parece diferente — disse.<br />

— Não, apenas feliz por te escutar. — Quase estava enjoada. —<br />

Me escute, morro de vontade de falar com você. Nunca adivinhará o<br />

que aconteceu hoje.<br />

— De verdade? Me conte.<br />

Bom, Sydney soava tão emocionado quanto ela.<br />

Sarah se acomodou em sua cama.<br />

— Bem, lembra que te contei sobre Angel?<br />

— Quer dizer, o Angel?<br />

Muito entusiasmada, Sarah lhe contou como foi seu dia. Quando<br />

se referiu à festa, Sydney lhe perguntou:<br />

— Você vai?<br />

— Não, não posso, estarei trabalhando.<br />

— Não invente Lynni. Esta é sua oportunidade de se divertir.<br />

Não pode perdê-la!<br />

— Já tinha me comprometido — disse-lhe. — E os Salcido<br />

realmente me pagam bem. Além disso, não conheço ninguém exceto a<br />

Valeria.<br />

26


— E Angel — lembrou Sydney.<br />

Sarah sorriu. Ai Deus, como queria que Syd estivesse aqui. Se ele<br />

fosse com ela, tudo seria perfeito.<br />

— Você não entende. Vi às garotas com as quais ele sai. São tão<br />

sofisticadas, populares e parecem tão bem.<br />

Levantou-se com o telefone na orelha e caminhou até onde<br />

estava o espelho. Pôs sua mão na cintura e sorriu amplamente,<br />

movendo as pestanas como faziam as garotas que tinha visto ao redor<br />

de Angel e imediatamente se sentiu estúpida. De algum jeito, seu busto<br />

tinha aumentado fazendo-a sentir mais sensual, mas não se sentia bem<br />

atuando como as outras garotas. Deu uma olhada em seu guardaroupas<br />

sem atrativo e estremeceu. De maneira nenhuma Angel se<br />

interessará nisto.<br />

— Quem se importa? Deixe-me te dizer algo Lynni. Surpreendeme<br />

que você mesma te faça menos. Garanto que ele morreria por ter<br />

uma oportunidade contigo. Então, é o Sr. Popular, o Sr. Atleta do ano,<br />

quem diabos se importa? Ultimamente você se olhou no espelho?<br />

— Sim! Precisamente estou fazendo isso agora. Queria que<br />

estivesse aqui para ver a classe de garotas com que sai. Assim saberia<br />

do que estou falando.<br />

— Não tenho que vê-las. Eu conheço você.<br />

Sarah suspirou e se deixou cair na cama.<br />

— De qualquer forma não importa, não vou ficar aqui por muito<br />

tempo, você se lembra?<br />

27


— Outra vez está fazendo o mesmo, Sarah. — Podia ouvir a dor<br />

na voz do Sydney.<br />

— Fazendo o quê? — Mas ela sabia exatamente a que Sydney se<br />

referia.<br />

Antes de deixar o Arizona, os pais do Sydney se ofereceram para<br />

ficar com ela, de modo que pudesse terminar o ensino médio lá, mas<br />

sua mamãe se recusou. Insistiu que Sarah ficasse com alguém da<br />

família. Sarah argumentou que a família de Sydney era mais família<br />

para ela que sua tia Norma. Apenas a visitavam uma ou duas vezes ao<br />

ano. Além disso, ela se sentia muito próxima aos pais de Sydney.<br />

Todas as noites e festividades em que sua mamãe tinha que trabalhar,<br />

amavelmente eles tomavam conta dela como se fosse sua filha.<br />

Então, ela ficou destroçada quando sua mãe se negou e jurou que<br />

não sairia de seu quarto na casa da tia Norma, exceto para ir à escola.<br />

De modo que suas primeiras semanas na Califórnia, antes de começar a<br />

escola, passou-a em torno de sentir pena de si mesma. Sydney lhe tinha<br />

feito prometer que tiraria o melhor disso. Odiava a ideia de saber que<br />

ela andava por aí só e sentindo-se miserável.<br />

— Você se lembra? — Disse ele. — Você adorava o mar, Lynni.<br />

Era a única coisa que você falava quando retornava da visita a sua tia.<br />

Agora estará perto dele por vários meses.<br />

Fazendo-se forte, chegou a um ponto em que ameaçou não lhe<br />

ligar mais se não lhe prometesse tirar o melhor proveito disto. Então,<br />

ela prometeu. Começou a correr todos os dias na escola em vez de ir<br />

para casa. Prometeu tentar sair nos fins de semana quando tivesse<br />

28


oportunidade. Até o momento, assegurou-se que todos seus fins de<br />

semana estivessem ocupados para ficar de babá.<br />

— Não é como se tivesse me convidado para sair, Syd. Só me<br />

perguntou se estaria lá. — Levantou-se e voltou a olhar-se no espelho e<br />

franziu o cenho.<br />

— Promete-me algo?<br />

Sarah vacilou:<br />

— O que?<br />

— Se te pedir para sair, diga que sim. Diabos! Se alguém te pedir<br />

para sair, diga que sim.<br />

— Syd, nem sequer posso falar quando está perto de mim. Com<br />

força posso dizer três ou quatro palavras juntas. E eu me fiz ridícula as<br />

primeiras vezes que me viu. Sério, não acredito que me peça para sair.<br />

— Você está vacilando, certo? Céus! Realmente você anda muito<br />

mal com respeito a ele, tanto que nem sequer tenta gostar. Sei! — Ele<br />

fez uma pausa. — Conte uma piada. — Ela o escutou rir e sabia por<br />

que. — Gosto de ver como pode não chegar na metade e já está<br />

morrendo de rir.<br />

Sarah começou a rir e se jogou sobre a cama.<br />

— Cale-se!<br />

Sydney ainda estava rindo.<br />

— Basta ser você mesma, Lynni, nada mais.<br />

29


Ele estava certo sobre uma coisa. Ela realmente deu uma<br />

gargalhada. Embora, às vezes, pensava que ria muito. Ultimamente, o<br />

único que podia fazê-la rir era Sydney. Ele respirou fundo.<br />

— Tudo bem, se alguém me perguntar, prometo que farei. —<br />

Sarah não se preocupava muito por isso. — OH, exceto para Jesse.<br />

— Ah. Claro, é obvio.<br />

Sarah conheceu Jesse bem quando pôs seus olhos em Angel pela<br />

primeira vez, fazia dois verões. Uma das amigas da Valeria saía com<br />

um amigo do Jesse, assim saiu com eles. Sarah decidiu ir caminhar na<br />

praia com Jesse essa noite, longe de todos e se sentaram para conversar.<br />

Naquela época, nunca tinha beijado um menino, então, quando lhe<br />

pediu para beijá-la, ela o deixou. Antes de dar conta, as coisas<br />

começaram a acender, ela ficou com medo e o fez parar. Ele a chamou<br />

de provocadora e caminharam de volta onde estavam todos, em<br />

completo silêncio.<br />

Mais tarde, de volta ao Arizona, ele ligou para desculpar-se e<br />

ligava ocasionalmente desde então. Agora que estava nesta escola,<br />

havia se tornado uma peste: convidando-a a sair, interceptando-a nos<br />

armários e insistindo em caminhar com ela para aulas. Após o<br />

incidente de hoje, ela desejava que por fim a deixasse em paz.<br />

Ela estava falando com Sydney por cerca de uma hora quando<br />

Sarah escutou o clique da outra linha. Não podia saber quem era a<br />

pessoa que ligava, mas de qualquer modo já estava para terminar sua<br />

chamada com Sydney. Despediu-se e mudou para a outra linha.<br />

— Olá?<br />

30


— Olá Sarah, sou a Sra. Salcido. Ouça querida, o Sr. Salcido vai<br />

trabalhar até tarde na sexta-feira à noite, por isso os planos foram<br />

cancelados. Não precisamos que cuide dos meninos hoje, mas que tal<br />

na próxima semana?<br />

Logo depois que desligou, ela sentou-se pensando se devia ou não<br />

ligar para Sydney. Não, não havia necessidade de lhe ligar. Sabia<br />

exatamente o que lhe diria. Recostou-se sobre seu travesseiro. Para que<br />

tanta confusão? Era apenas uma festa e ela já tinha ido a muitas.<br />

Colocou suas mãos, que ainda estava o telefone celular, sobre seu peito<br />

e ficou olhando para o teto. Podia fazer isso.<br />

31


Capítulo Três<br />

Eles ganharam o jogo e estavam de muito bom humor enquanto<br />

esperavam do lado de fora da festa. Eric estava sentado atrás do<br />

volante. Angel, que estava fora do carro, encostou-se na janela da<br />

porta.<br />

— Me passe uma garrafa de água. — Eric pegou uma mais fria e<br />

entregou para Angel.<br />

— Venham, vamos para dentro. — Romero esperava na metade<br />

da rua.<br />

Angel fez uma careta. Foi ótimo a forma que o jogo se<br />

desenvolveu, mas estava cansado e não estava de humor para festas.<br />

Não admitiria para ninguém, mas a única razão pela qual estava ali era<br />

para ver se tinha a oportunidade de ver Sarah. Esteve pensando nela<br />

desde o dia em que se falaram. Inferno! Esteve pensando nela durante<br />

toda a partida. Em cada oportunidade que teve, olhava para o público,<br />

aguentando os gritos irritados do treinador:<br />

— Cabeça no jogo! Que droga está errado com você Moreno?<br />

Não a tinha visto na partida, mas havia lhe dito que ia trabalhar.<br />

Ainda havia oportunidade de que viesse para a festa. Olhava para o<br />

outro lado da rua, para as luzes que vinham do DJ no pátio de atrás,<br />

ansiedade percorreu sua espinha.<br />

32


— Está bem, me dê um segundo. — Bebeu um gole de água.<br />

— Só leve isso. — Disse Romero. — Já estou preparado para<br />

entrar em ação.<br />

gole.<br />

Angel virou-se para Eric que deu de ombros. Tomou outro longo<br />

—Está bem, estou preparado.<br />

Romero fez um par de vezes seu clássico movimento com a<br />

pélvis.<br />

—Vamos!<br />

Angel e Eric riram. Angel pegou o que restava de doze cervejas<br />

no banco de trás.<br />

— Você é um idiota. — Voltou a rir.<br />

Eles passaram pela entrada dos carros e viraram a esquina. Havia<br />

mais pessoas do que eles esperavam. Começaram a caminhar entre a<br />

multidão. Angel estava começando a dar uma olhada no lugar, quando<br />

a viu. Teve que olhar para ela algumas vezes já que quase não a<br />

reconheceu. No momento que deu a volta, se deu conta. De repente,<br />

algo nele se acendeu.<br />

Angel engoliu em seco. Seu cabelo longo chegava ao meio das<br />

costas. Era mais escuro do que lembrava e estava ondulado nas pontas.<br />

Suas calças jeans abraçavam seu corpo e usava uns saltos de tiras. Sua<br />

blusa preta amarrada em volta do pescoço não tinha costas, exceto pela<br />

parte de abaixo, que cobria delicadamente a parte baixa de suas costas.<br />

33


Tomou uma cerveja e pôde sentir como pegajosa estavam suas<br />

mãos. Pelo amor de Deus, é apenas uma garota. Jogou uma maldição<br />

entre dentes. Intencionalmente se colocou em frente a Sarah. Tomou<br />

um gole de sua cerveja cuidando para não beber demais. Romero era<br />

um exemplo perfeito do que acontece quando se bebe muito e tudo que<br />

não queria, era lhe causar uma má impressão.<br />

Romero foi embora por um momento para conversar com<br />

algumas das garotas de sempre. Ele voltou para dizer que já tinha<br />

compromissos para depois da festa. Normalmente, Romero arrumava<br />

garotas para seus amigos, mas desta vez, nem Angel e nem Eric<br />

estavam interessados.<br />

Angel apenas balançou a cabeça e sorriu. Eric nem ouviu. Ele<br />

estava olhando para a multidão mas sem fixar-se em ninguém em<br />

especial.<br />

Romero franziu o cenho e deu um tapinha em Eric.<br />

— Ei você! O que disse?<br />

Eric disse rapidamente.<br />

— Perdão. Não, o que foi que disse?<br />

— Disse que Stacey e suas amigas estão prontas para mais tarde.<br />

Iremos para sobremesa, e... ouça! Aí está Natalie. — Ele piscou o olho.<br />

Eric e Natalie saíram regularmente no ano passado, mas não<br />

tanto quanto Angel e Dana.<br />

Eric balançou a cabeça.<br />

34


— Eu passo, tenho que levantar cedo amanhã.<br />

Os olhos do Romero ficaram enormes.<br />

— Você vai deixar um traseiro, porque tem que levantar cedo? —<br />

Disse muito forte.<br />

— Se acalme — disse Eric olhando ao redor. — Estou aqui, não<br />

tem que gritar.<br />

Romero balançou a cabeça e se virou para Angel.<br />

— E você o quê? Tem que levantar cedo também?<br />

— Sim — disse Angel mentindo. — Mas Eric é quem me vai me<br />

levar, como vou fazer?<br />

Romero continuou balançando a cabeça.<br />

— Não posso acreditar, paciência comigo, verei o que posso<br />

fazer.<br />

Romero lançou a Eric um olhar de desgosto e pegou outra<br />

cerveja. Cambaleando um pouco, caminhou para as garotas.<br />

— Ouça irmão, Romero está se perdendo. — Eric virou-se para<br />

Angel.<br />

— Acho que sim. — Angel balançou a cabeça.<br />

Desajeitadamente, Romero passou os braços em torno de duas<br />

das garotas.<br />

35


— A quem está enganando? — Disse Eric. — Em uma hora vai<br />

estar inconsciente no banco de trás de meu carro. Como ele fica bêbado<br />

tão rápido?<br />

— Bebeu todo o caminho para cá e já sabe que não aguenta<br />

muito. — Disse Angel.<br />

Eles haviam começado a beber fazia um ano. Então, um dos<br />

caras do último ano quase se matou por dirigir embriagado, ficaram tão<br />

assustados que eles pararam. Agora, quando chegavam a beber, assim<br />

como agora, bebiam uma cerveja ocasionalmente e um deles era o<br />

condutor designado. Hoje, era a vez de Eric.<br />

Angel deixou de prestar atenção em Romero por uns segundos<br />

para virar para onde estava Sarah.<br />

Sarah tinha um copo na mão. Perguntou-se o que estaria<br />

bebendo. Pôde ouvir quando Romero chamou Eric.<br />

— Caralho irmão! Já está me chamando. — Eric olhou para o<br />

outro lado fingindo que não tinha escutado.<br />

— Mas é melhor você ir. Antes que seu traseiro alcoólico venha<br />

para cá e te arraste com ele.<br />

— Eu? E por que não você?<br />

— Não é por mim que está chamando — riu Angel.<br />

— Você vai ficar aqui sozinho? — Eric levantou a sobrancelha.<br />

— Não, há alguém aqui a quem quero cumprimentar.<br />

36


Romero estava começando a gritar. Eric finalmente ignorou.<br />

Revisando a caixa das cervejas.<br />

— Aqui há mais quatro, quer uma?<br />

— Não, estou bem. — Angel levantou sua garrafa lhe mostrando<br />

que ainda tinha o bastante. Eric pegou a caixa e foi para onde estava<br />

Romero murmurando entre dentes.<br />

Quando ia para onde estava Sarah, Angel reconheceu à garota<br />

baixa de cabelo loiro que segurava uma garrafa de cerveja e que estava<br />

com ela, era a ex-namorada de seu companheiro de equipe, Reggie<br />

Lua.<br />

Conforme se aproximava de Sarah, pôde sentir seu pulso<br />

acelerando e seu estômago começava a se contorcer. Apesar de seus<br />

esforços para se acalmar, sentia-se totalmente nervoso. Isso o deixou<br />

louco.<br />

Caminhou por trás dela e se aproximou. Cheirava a céu: uma<br />

suave e deliciosa fragrância. Não dessas que lhe enjoam, como algumas<br />

das garotas com quem costumava andar.<br />

Ele queria colocar o braço ao redor de sua cintura e puxá-la para<br />

ele. Em lugar disso se abaixou e sussurrou.<br />

— Ei, você veio!<br />

Ela se virou e por pouco não entornou sua bebida. Sua atitude<br />

mudou de surpresa a agradada.<br />

— Oh sim, cancelaram.<br />

37


Angel não podia acreditar o quão linda ela era. Se ficasse<br />

olhando toda a noite, não seria suficiente.<br />

— Por pouco eu não te reconheci com seu cabelo solto. — Seus<br />

olhos nunca a deixaram.<br />

Ela assentiu com a cabeça.<br />

— Sim, é muito comprido, especialmente quando estou correndo.<br />

Cobre meu rosto quase por completo.<br />

Angel queria todo esse cabelo sobre seu rosto.<br />

— De qualquer forma, é muito lindo. Deveria usá-lo assim na<br />

escola.<br />

Ela hesitou por um segundo.<br />

— Obrigada. — Pela segunda vez, ela evitou seu olhar.<br />

Apesar de não querer, decidiu mudar de assunto. Não queria que<br />

ela se sentisse desconfortável e cortasse a conversa. Não tinha a mínima<br />

intenção de deixa-la escapar desta vez. Olhou seu copo.<br />

— O que está bebendo?<br />

Timidamente sorriu.<br />

— Vinho.<br />

— Vinho?<br />

Ela riu.<br />

38


— Por que todos dizem a mesma coisa?<br />

De alguma forma, seu sorriso tinha um efeito calmante sobre ele.<br />

— Mas bebe em um copo? Não pode beber direto da garrafa?<br />

— Não é um cooler. — Sua expressão o desafiou. — Este é dos<br />

bons.<br />

Ela se virou para sua amiga e depois olhou seu copo. Ele estava<br />

quase vazio.<br />

— Na verdade, preciso de mais.<br />

Inclinou-se sobre um isopor de tamanho médio e tirou uma<br />

garrafa de vinho.<br />

— Não! — Angel pôs sua mão na boca sem poder acreditar. —<br />

Na verdade está louca. Vem a uma festa com uma garrafa de vinho em<br />

um isopor?<br />

Agora, Sarah na verdade estava rindo. Sua amiga ria com ela.<br />

Com carinho, acariciando sua garrafa.<br />

— Como você acha que poderia cuidar de minha preciosidade?<br />

Sua atitude era muito cordial, especialmente porque na escola se<br />

mostrava muito apreensiva. Talvez fosse o vinho. Sem importar o que<br />

fosse, adorou. Olhou-a conforme servia mais vinho em seu copo,<br />

notando o pouco que foi servido antes de parar. Retornou a garrafa a<br />

seu isopor e assinalou a sua amiga.<br />

— Ela também traz a sua.<br />

39


Sua amiga ficou boquiaberta, como se Sarah a tivesse traído.<br />

Angel arqueou as sobrancelhas quase sem acreditar.<br />

— Você também? Mas você está bebendo cerveja. Não necessita<br />

um isopor.<br />

Sua amiga sorriu e acariciou sua garrafa.<br />

— Não posso beber cerveja se não está quase congelada.<br />

— Certo Angel, esta é Valéria, minha prima — disse Sarah.<br />

Angel assentiu com a cabeça.<br />

— Ah, sim, conheço a Valéria.<br />

Valéria abriu os olhos surpresa.<br />

— Certo — reconhecendo sua surpresa, contente de que Sarah<br />

mencionou seu nome. Não lembrava.<br />

— Ouçam, por que não colocam suas bebidas no mesmo isopor?<br />

Valéria fez um gesto com os olhos para Sarah.<br />

— Sarah não gosta que ninguém incomode a sua preciosidade.<br />

— Ela é muito frágil. — Sarah fingiu abraçar o copo.<br />

Balançando a cabeça, Angel colocou uma mão sobre dela.<br />

— Será que é? Ok, bem... agora tudo faz sentido.<br />

Sarah sorriu enquanto tomava outro gole de vinho. Valéria foi<br />

conversar com outra amiga.<br />

40


Angel tomou seu último gole de cerveja e jogou a garrafa vazia<br />

em um cesto de lixo próximo.<br />

— Você já terminou? — Perguntou Sarah.<br />

— Sim, essa foi a última.<br />

— Olhe, aqui há mais. — Sarah se reclinou sobre o cooler de sua<br />

prima. Ele estava rindo como se estivesse espiando. — Vamos roubar<br />

uma da Valéria.<br />

Angel virou-se para ver se Valéria estava olhando.<br />

— Não, está tudo bem. Não quero tomar sua cerveja.<br />

Sarah balançou a cabeça.<br />

— Não vai acabar com tudo isto. Nunca bebemos e vamos acabar<br />

jogando fora mais tarde.<br />

— Jogar as cervejas fora? Estão loucas?<br />

— Bem, já que não podemos leva-las para casa. Minha tia nos<br />

matarias.<br />

— Ah... nesse caso me deixem contribuir com a causa. — Angel<br />

estendeu sua mão.<br />

Seu dedo tocou a mão dela quando ela passou a garrafa. Isso foi<br />

tudo o que necessitou para Angel acender. Suas mãos tremiam quando<br />

ele tomou um gole de sua cerveja. Todo o tempo ficou olhando para<br />

ela. Seus olhos eram tão grandes, seus cílios tão espessos e escuros, que<br />

41


tudo parecia em câmara lenta quando ela piscou. Suas vísceras<br />

queimavam, enquanto com dificuldade, tomava um gole de cerveja.<br />

— Então, está só? — Perguntou.<br />

Ele se virou ao redor. Devia estar. Se seguisse olhando-a tinha<br />

certeza de que iria assustá-la.<br />

— Não, meus amigos estão por aí em alguma parte. Acabamos<br />

de nos separar. — Ele virou de novo para ela. — E você, é apenas você<br />

e Valéria esta noite?<br />

Sarah bebeu novamente seu vinho.<br />

— Sim. Bem, vim aqui sozinha com Val, mas ficamos de nos<br />

encontrar com alguém mais tarde.<br />

Angel tomo outro gole de sua cerveja olhando de forma casual.<br />

—Meninos?<br />

— Não, algumas de suas amigas de fato não chegaram. É por isso<br />

que vim. A verdade é que eu não gosto deste tipo de festa, mas<br />

nenhuma de suas amigas poderia vir cedo, então me pediu que viesse<br />

com ela.<br />

Angel sorriu, incapaz de deixar de ver seus olhos.<br />

ir?<br />

— Deverei lhe agradecer por isso. Então, onde você gostaria de<br />

Ela sustentou um momento seu olhar e depois sorriu, fazendo as<br />

pernas de Angel enfraquecer.<br />

42


— Eu adoro a praia — disse. — Acabo de chegar do Arizona há<br />

alguns meses, de modo que a praia é nova para mim. Poderia passar<br />

todas as noites assistindo o pôr-do-sol. Bem, não me entenda mal. O<br />

pôr-do-sol no Arizona é igualmente belo. É apenas a novidade do ar<br />

salgado e frio e assistir ao vivo as ondas quebrando e as aves... parpar.<br />

Angel fico confuso:<br />

— Parpar?<br />

Ela começou a rir.<br />

— Grasnar? Você sabe o que quis dizer!<br />

Céus, ela o estava fazendo tão bem, ele estava brincando,<br />

olhando para o céu.<br />

— Quase, eu quase pude ouvir as ondas arrebentar e todo o resto.<br />

Sarah ainda ria. Angel se perguntava se Sarah bebeu bastante<br />

vinho, mas mesmo assim, continuou brincando. Adorava ouvi-la rir.<br />

— Acredito que piar seria mais próximo, mas parpar? Sério?<br />

Sarah tampou a boca com a mão, mas isso não abafou sua risada.<br />

—Bom, mas eu achei o ponto, certo?<br />

— Basta dizer. O vento soprava no meu cabelo e o resto. Olhe. —<br />

Ele fez como se estivesse segurando o cabelo dela.<br />

— Para! — Gritou Sarah.<br />

43


Não conseguia parar de rir junto com ela. Era uma risada tão<br />

linda e tão contagiante. Na verdade, era muito refrescante. As outras<br />

garotas estariam muito ocupadas tentando ser sedutoras. Ela nem<br />

sequer precisava tentar isso. Poderia dizer que ser sedutora era a última<br />

palavra que passava pela cabeça de Sarah.<br />

Ela limpou os cantos dos olhos. Literalmente tinha rido a<br />

gargalhadas.<br />

— Será que borrei meu rímel? — Sarah arregalou seus olhos.<br />

Angel deu um passo para frente para poder ver melhor. Sua<br />

maquiagem estava manchada apenas um pouco no canto inferior de<br />

seu olho direito.<br />

— Não se mova. — Ele se inclinou mais perto.<br />

Cuidadosamente, com seu dedo mindinho ele limpou a parte<br />

inferior de seu olho. Estava tão perto de seu rosto que podia cheirar o<br />

vinho em seu hálito. Sarah, ele gostaria de irritá-la. — Se servisse seu<br />

copo completamente não teria por que servir tão seguido.<br />

— Ai! O que é tratar com gente sem instrução — disse brincando.<br />

— Isto não é cerveja Angel, se bebe em goles pequenos e se eu enchesse<br />

o copo, ao chegar na metade estaria morno. Eu não gosto de vinho<br />

morno. Entende?<br />

— Ai não, me chamou de sem instrução!<br />

— Claro que fiz.<br />

44


Angel deixou seu dedo indicador apontando na frente dela e ela<br />

começou a rir novamente.<br />

— Uma palavra.<br />

— Solta. — Tomou um gole de seu vinho.<br />

— Coff, coff!!! — Ela engasgou.<br />

Com a mão cobriu a boca tentando parar de cuspir o vinho e lhe<br />

deu as costas para que não visse o vinho escorrendo por sua boca.<br />

Depois virou-se de novo para ele e continuou rindo.<br />

— Tinha que mencioná-lo. — Limpou ao redor de seu pescoço.<br />

Seus olhos estavam fixos em suas mãos.<br />

— Sim, tive. — Engolindo em seco, Angel olhou enquanto ela<br />

limpava o vinho de sua blusa. — Posso te ajudar com isso.<br />

Ela olhou para ele, gesticulando com seus olhos.<br />

— Está bem assim. — Ela voltou sua atenção para a sua blusa e<br />

ele não conseguia parar de olhar.<br />

Ele ainda estava lá sem palavras quando sentiu um toque em seu<br />

ombro. Era Eric.<br />

— Ei amigo, você está pronto?<br />

Angel virou-se para Eric que estava segurando Romero.<br />

— Diabos, quão ruim está?<br />

45


Tinha seu copo frente a ela e sentiu ao ver como se esticava no<br />

momento em que seu corpo tocou sua mão. Olhou para o outro olho.<br />

— Seus olhos são incríveis — eu disse sem mover nem um passo<br />

para atrás.<br />

Seus olhos estavam paralisados por um momento e então,<br />

ligeiramente baixou o olhar.<br />

— Obrigada.<br />

Ela se virou e Angel viu como tomava um longo gole de seu<br />

vinho. Ele ficou surpreso de quanto lhe incomodavam seus<br />

cumprimentos. Com olhos assim, você pode pensar que estava<br />

acostumada com isso. Então, quebrou o silêncio como só ela podia.<br />

— Onde está minha preciosidade? — Disse em uma voz mimosa<br />

e se inclinou sobre seu isopor abrindo-o. Angel viu como se servia<br />

menos de um quarto de seu copo.<br />

Eric deu-lhe um olhar fulminante. Angel se virou para ver Sarah.<br />

— Ele é minha carona esta noite.<br />

Ela olhou para Eric segurando Romero e lhe deu uma risadinha.<br />

Angel poderia dizer que ela estava um pouco tonta pelo vinho. Ela<br />

parecia tão pequena, delicada e extremamente vulnerável.<br />

— Não vou. Onde está Valéria?<br />

Ela sorriu.<br />

— Vai. Estou bem.<br />

46


Como o inferno.<br />

— Sim, está bem. Mas não vou sair até que Valéria retorne.<br />

A festa estava terminando e Valéria, quem levaria Sarah de volta,<br />

não estava por lá. Sarah tentou chama-la várias vezes por telefone<br />

celular, mas não completava a chamada.<br />

Angel pegou a mão de Sarah com uma mão e com a outra os<br />

isopores.<br />

— Vem, vamos procurar Valéria.<br />

Enquanto caminhavam pela festa, uma das amigas de Dana<br />

tentou detê-lo.<br />

— Ouça Angel, onde está Dana? — Arqueando suas<br />

sobrancelhas, deu uma olhada em Sarah. Angel ignorou-a, continuou<br />

caminhando.<br />

— Dana é sua namorada? — Sentiu como Sarah quis soltar sua<br />

mão, mas pressionou um pouco mais.<br />

Angel apertou seus lábios por um momento.<br />

— Não.<br />

Eric estava fora e parecia um pouco chateado. Angel sabia como<br />

Romero ficava quando estava bêbado e toda a noite, Eric tinha cuidado<br />

dele sozinho, então ele entendia sua irritação.<br />

— O aconteceu cara, já está pronto para ir? — Perguntou Eric.<br />

Angel segurou a mão de Sarah. Olhou para Eric se desculpando.<br />

47


— Dê-me um segundo. Ela precisa encontrar a sua amiga.<br />

Sarah estava chamando novamente Valéria em seu celular mas<br />

ela não respondia. Quando chegaram ao carro, ela o olhou.<br />

— Não posso deixar Valéria.<br />

— Está bem. — Ele veio em sua direção para tirá-la da passagem<br />

dos carros que estavam circulando depois da festa. Ela se inclinou sobre<br />

ele e ele pôs o braço ao redor de sua cintura. Angel revistou seu rosto<br />

sorrindo gentilmente. — Como se sente?<br />

Ela sorriu, olhando finalmente em seus olhos.<br />

— Melhor.<br />

Ele reuniu toda a sua força de vontade para não segurá-la e beijála,<br />

mas pelo menos, queria que acontecesse hoje à noite, Sarah irá<br />

subtrair a importância amanhã e vai culpar o vinho.<br />

Ele virou-se para ver como Eric acomodava Romero no banco da<br />

frente. Romero estava inconsciente. Angel se aproximou dele.<br />

— Bem, apresento a você o meu amigo Romero.<br />

Sarah riu.<br />

— Esse é seu nome verdadeiro?<br />

— Bem, é seu sobrenome. Seu nome é Ramón, mas não gosta.<br />

Eric se aproximou caminhando e se encostou no carro perto de<br />

Angel e Sarah. Ele parecia exausto. Sarah inclinou sua cabeça no<br />

ombro de Angel.<br />

48


— Ouça — disse Angel olhando para Eric. — Ela é Sarah. Sarah<br />

este é meu amigo Eric.<br />

Sarah levantou a cabeça o suficiente para dizer olá. Angel sabia<br />

que Eric pensava que esta era apenas outra garota, Sarah saiu do ombro<br />

de Angel e se encostou no carro, mas ainda estava com as mãos nas<br />

mãos de Angel.<br />

—Onde estará? — Se perguntou Sarah.<br />

Todos olhavam a entrada dos carros na casa onde tinha sido a<br />

festa. Ainda havia pessoas saindo e ficando do lado de fora, em frente<br />

da casa. Um dos carros parou e alguém desceu dele. Era Jesse<br />

Strickland. O carro que o tinha trazido, passou por onde estavam eles e<br />

seguiu seu caminho.<br />

A princípio Sarah não o viu, mas quando se deu conta de que<br />

estava lá, endireitou-se. Angel notou e seus músculos se esticaram.<br />

— Algo está errado?<br />

— Podemos ir? — Sarah ficou olhando Jesse.<br />

Jesse passou correndo para o pátio. Eric e Angel trocaram<br />

olhares.<br />

— E Valéria? — Perguntou Angel.<br />

— Voltaremos por ela. — Disse Sarah — é só que não quero estar<br />

aqui neste momento.<br />

Angel olhou por um segundo.<br />

49


— Tem certeza?<br />

Baixou sua mão para pegar os isopores. Sarah voltou a ligar para<br />

Valéria. Por alguma razão, Jesse deixava Sarah nervosa, o que Angel<br />

não gostou. Ele agarrou os isopores e os jogou no porta-malas, depois<br />

acompanhou Sarah para que entrasse no carro. Sentou-se ao lado dela e<br />

imediatamente pegou sua mão. Eric olhou pelo retrovisor.<br />

— Vamos deixar este pacote primeiro — disse Eric, referindo-se a<br />

Romero. — Então, se quiser me leva e fica com o carro. Amanhã de<br />

manhã vou buscá-lo.<br />

Angel sorriu. Agora se sentia aliviado de ter tomado apenas duas<br />

cervejas. Mesmo porque, não estava preparado para despedir-se de<br />

Sarah. Sempre podia contar com a compreensão de Eric.<br />

***<br />

Os minutos passaram enquanto ela se sentou no banco do<br />

passageiro, o coração batendo, esperando que Valéria atendesse o<br />

telefone.<br />

— Olá?<br />

— Valéria?<br />

— Sarah, estava preocupada, onde está?<br />

50


— Estou com Angel. Acabamos de deixar seu amigo. Está indo<br />

para casa?<br />

— Casa? Ainda é cedo. Vamos a outra festa. Quer que vá buscala?<br />

—Perguntou Valéria.<br />

— Não, acredito que estou bem por agora.<br />

— Ai Deus, você e Angel vão ter um momento? — Perguntou<br />

Valéria.<br />

Só o pensamento do que Valéria quis dizer ter um momento fez o<br />

coração de Sarah bater mais forte. Ela mordeu o lábio.<br />

— Não estou certa — ela disse. — Eu te ligo mais tarde para<br />

dizer onde nos encontraremos.<br />

— Está aí a seu lado? — Perguntou Valéria em voz baixa como se<br />

ele pudesse ouvir.<br />

Sarah riu.<br />

— Não, está lá fora com seu amigo. Eu estou no carro.<br />

— Deve sair com ele, Sarah, para que me conte tudo o que<br />

aconteceu.<br />

Sarah riu nervosa, seu rosto de repente ficou quente.<br />

— Valéria! — Disse — mal o conheço.<br />

— Ele é ótimo. Que mais precisa saber?<br />

51


O corpo do Sarah começou a pegar fogo. Valéria não estava<br />

ajudando em nada com o estresse que sentia.<br />

— Preciso desligar. Ele está vindo para cá — disse mentindo.<br />

— Okey, okey, adeus.<br />

Quando se tratava de caras, Valéria era muito diferente de Sarah.<br />

Valéria tinha fobia de compromissos. Teve uma relação séria em uma<br />

ocasião e dizia que isso a sufocava. Ela poderia ir com quem quer que<br />

fosse sem pensar duas vezes.<br />

Sarah não pensava menos de Valéria por desfrutar de sua<br />

liberdade. Simplesmente não podia entender como Valéria podia<br />

desprender-se de suas emoções assim. Para Sarah, unicamente as mãos<br />

tocando significavam inevitavelmente envolver sentimentos. Não era<br />

algo que ela pudesse fazer sem sentir nada. Só pensar que Angel<br />

pudesse beijá-la hoje à noite a deixava em caos.<br />

Estudou os caras que estavam do lado de fora, cara a cara. Eric<br />

era um pouco menor que Angel. Seu cabelo era mais claro e mais<br />

encaracolado. Não tinha a bela aparência de Angel, mas tinha sua<br />

própria e era tão agradável que isso o fazia atraente.<br />

Esteve os observando enquanto ajudavam Romero a descer do<br />

carro, realmente preocupados que chegasse em casa em segurança.<br />

Embora o faziam morrendo de rir e brincando, era óbvio que eram<br />

bons amigos.<br />

Angel retornou ao carro. Aquele sorriso era irreal. Sentou-se no<br />

banco para não parecer um saco de batatas, mas seu próprio sorriso era<br />

52


tão grande que era difícil de conter. Ela conversou com ele a maior<br />

parte da noite e estavam indo muito bem. Exceto por ter cuspido o<br />

vinho e sua tentativa miserável para aprofundar a respeito de sua<br />

devoção pela praia, conseguiu manter seu constrangimento ao mínimo.<br />

Por que agora estava difícil respirar?<br />

Sarah respirou fundo enquanto ele abria a porta e entrava no<br />

carro. Seus olhos imediatamente caíram sobre ela, fazendo mingau de<br />

seu interior.<br />

— Está com fome?<br />

Exalou e assentiu com a cabeça.<br />

rua.<br />

— Que bom, porque estou morrendo de fome. — Estava fora na<br />

Passaram por um restaurante self-service e foram para a praia<br />

enquanto comiam no carro. Depois de dirigir por uma estrada sinuosa<br />

colina acima, chegaram a um impasse e estacionaram. A lua brilhava e<br />

o mar chegava tão longe como ela podia ver. Estavam bem acima do<br />

nível do mar e a vista era incrível.<br />

Impressionada, Sarah olhou pela janela. Seus pensamentos<br />

estavam confusos com o toque do telefone e ficou quieta. Tinha ideia<br />

de quem podia ser e não queria responder. Um olhar no identificador<br />

de chamadas confirmou sua suspeita. Jesse.<br />

Angel estava encarando-a.<br />

— Você vai responder?<br />

53


Sarah negou com a cabeça.<br />

Ao olhar Angel com suas sobrancelhas filhas, virou a cabeça<br />

mordendo o lábio. Seu telefone tocou pela última vez.<br />

— Onde estamos? — Sarah virou-se para ele.<br />

Sarah saiu, ele a alcançou e pegou sua mão. Ela colocou a mão<br />

na dele e caminharam até o precipício. Havia um caminho de pedras<br />

através da parte de trás das casas que estavam em frente ao oceano.<br />

Chegaram à beira da estrada onde tinha uma cerca de ferro<br />

forjado. Ela olhou para baixo enquanto caminhavam ao longo da cerca<br />

e pôde ver as ondas batendo contra as rochas. Quando viraram a<br />

esquina, viram como a estrada se estreitava através da colina. Havia<br />

bancos e gramados para se sentar com flores tropicais e um caminho<br />

interminável de palmeiras.<br />

Sarah viu tudo com espanto. Ela se virou para ele encantada.<br />

— Eu adoro isso — sussurrou.<br />

— Este é meu lugar favorito.<br />

— Posso ver por que. — Ela estava perto da cerca e ficou<br />

olhando o oceano. As luzes de um par de navios e de alguns veleiros<br />

ainda estavam acesas e brilhantes. Angel estava atrás dela e agarrou o<br />

corrimão de ferro envolvendo-a entre seus braços. O calor de seu corpo<br />

em suas costas fez se sentir bem, especialmente porque o tempo estava<br />

esfriando. Seu rosto caiu em seu ombro, perto de sua orelha e Sarah<br />

sentiu quando inalou profundamente. Ele fechou os olhos e sentiu um<br />

54


formigamento por todo seu corpo. Sarah não poderia acreditar que<br />

estava aqui, fazendo isto e com ele.<br />

— Você cheira bem — disse Angel.<br />

— Obrigada.<br />

Eles ficaram em silêncio por alguns minutos com a respiração ao<br />

lado de sua têmpora. Finalmente Angel falou.<br />

— Posso te perguntar algo?<br />

Seu tom a pôs um pouco nervosa.<br />

— Claro.<br />

Angel se separou ligeiramente de seu ombro.<br />

— Por que quis sair com tanta pressa no momento em que viu<br />

Jesse?<br />

Sarah ficou tensa. Por Deus, já tinha esquecido isso. Essa é a<br />

última coisa da qual queria falar nesse momento. Jesse poderia ser um<br />

verdadeiro incômodo quando estava sóbrio. Valéria tinha contado que<br />

quando estava bêbado era ainda pior e Sarah tinha a suspeita de que<br />

esteve bebendo hoje. Teve medo de que houvesse outro confronto entre<br />

ele e Angel.<br />

— Às vezes ele pode ser muito desagradável. É tudo.<br />

Angel pôs suas mãos na cerca sobre as dela.<br />

dizer?<br />

— No outro dia disse que tinha saído com ele. O que você quis<br />

55


Sarah apertou seus olhos por um segundo. Porra. Não queria<br />

contar nada disso a ele. Por que não lhe disse que sim quando lhe<br />

perguntou se Jesse era um amigo? A verdade é que não tinha pensado<br />

em conversar de novo com Angel. E nem tanto.<br />

— Foi há muito tempo. — Ela pensou tê-lo sentido tomar ar e<br />

depois Angel ficou calado.<br />

— O que aconteceu há muito tempo?<br />

Sarah estava se preparando, não sabia o que ele sentiria a respeito<br />

dela depois que lhe contasse. Mas isso era parte do passado, então o<br />

que é que isso importa? Ela se virou mas ele não a deixou separar-se da<br />

cerca, de modo que ela estava em seus braços, para conversar. Seus<br />

olhos estavam mais escuros. Ele olhou diretamente à sua frente,<br />

esperando por ela.<br />

— Realmente nada — disse Sarah. — Eu o conheci há alguns<br />

verões atrás quando viemos visitar a minha tia e saímos uma noite.<br />

— Foi seu namorado? — Os olhos de Angel olhavam fixamente<br />

os dela.<br />

Sarah negou com a cabeça.<br />

— Não.<br />

— Continuou a vê-lo?<br />

— Não, ele continua insistindo em sairmos, mas não estou<br />

interessada.<br />

— Que bom — disse Angel. — É um idiota.<br />

56


Surpresa, as sobrancelhas do Sarah se arquearam.<br />

— Você o conhece?<br />

Com ousadia, Angel pôs uma expressão de desgosto em seu<br />

rosto.<br />

—Fomos a escola desde que éramos crianças, mas nunca gostei<br />

dele. Sempre foi um verdadeiro bastardo. Nunca pensei que podia ser<br />

pior, não até agora.<br />

Valéria sempre tinha insistido em quão intenso eram os irmãos<br />

Moreno. Ela tinha dito a Sarah quão protecionistas eram com sua irmã<br />

mais nova. Sarah sentiu esta proteção quando não quis deixa-la sozinha<br />

na festa, mas isto era diferente. Ela podia sentir algo, uma intensidade<br />

que nunca tinha sentido em alguém mais. Isto a fez sentir-se nervosa,<br />

seu estômago se apertou, mas de uma forma estranha e lhe agradou.<br />

— Posso pensar que já que está comigo aqui, não tem um<br />

namorado?<br />

O coração pulou até a garganta e balançou lentamente a cabeça.<br />

— Não, não tenho.<br />

Ela estava em um sonho. Tinha que ser isso. Na verdade,<br />

acabava de perguntar se tinha namorado? Será que realmente isso<br />

importava para Angel?<br />

Tirou suas mãos da cerca e colocou em sua cintura. Com seu<br />

coração batendo contra seu peito, engoliu em seco e se perguntou, se<br />

acaso Angel podia ouvir seus batimentos.<br />

57


— Posso te beijar? — Sussurrou ele.<br />

Assentiu com a cabeça, pois não podia nem pensar. Seus lábios<br />

estavam nos dela. Eram suaves e quentes. O explorou pouco a pouco e<br />

suavemente sua boca. Ele puxou-a pela cintura um pouco mais para ele<br />

com um braço e com sua outra mão tocou seu rosto. Com uma carícia<br />

suave como seda, sua mão foi por trás de seu pescoço aproximando-a<br />

ainda mais perto dele.<br />

Seu corpo era maior e mais forte em comparação com o dela. Sua<br />

língua era veloz e pressionou sobre ela, chupando seus lábios e língua.<br />

Ela tinha sido beijada antes, mas não desta forma, nunca com tanta<br />

paixão.<br />

Era demais. Sarah sentiu quando ele a apertou contra sua coxa e<br />

entrou em pânico. Afastou-se e o escutou gemer, enterrando seu rosto<br />

em seu cabelo.<br />

Acariciando suas costas uma vez mais, Sarah podia sentir sua<br />

respiração pesada conforme ela se afastava dele suavemente. Virou<br />

para cima bem no momento que abria os olhos.<br />

— Podemos sentar? Meus pés doem.<br />

Angel respirou fundo algumas vezes antes de responder.<br />

— Claro — e virou para ver seus sapatos — Esqueci... São lindos.<br />

Eu gosto.<br />

Caminharam até um banco de pedra que era parte de um enorme<br />

suporte de vasos de pedras com uma palmeira no meio. Ela se sentou e<br />

58


Angel fez um gesto para que se movesse mais para trás. Ela o fez e ele<br />

se sentou a seu lado, virando para que Sarah ficasse de frente para ele.<br />

— Se encoste. — Ele levantou suas pernas as pondo em seu colo,<br />

muito perto do vinco de suas calças. Com os olhos bem abertos ficou<br />

olhando por um segundo perguntando o que tinha planejado. Viu<br />

quando ele tirava seus sapatos e quando ia protestar, seus dedos fortes<br />

começaram a massagear seus doloridos pés.<br />

— Mmm, isso está tão bom. — E deixou que sua cabeça fosse<br />

totalmente para trás. Ela se perguntava se fazia isto também com as<br />

outras garotas e se a todas elas tinha dado esse beijo que paralisava o<br />

coração.<br />

Levantou sua cabeça e viu como os olhos dele praticamente a<br />

devoravam.<br />

— Seus pés são tão pequenos.<br />

Ele virou-se para seus pés e moveu todos seus dedos e depois<br />

voltou a ver os dele. Eles eram enormes. Começou a rir.<br />

— Bom, comparados com os meus, os seus são muito pequenos.<br />

— Sua expressão não mudou. — Adoro seu sorriso.<br />

Esse sorriso desapareceu em reação a seu comentário.<br />

— Obrigada, eu também eu gosto do seu. De fato, foi uma das<br />

primeiras coisas que notei em você.<br />

Pela curiosidade, suas sobrancelhas se arquearam.<br />

— De verdade? Esta noite?<br />

59


— Oh não — disse ela. — Dois verões atrás, quando te vi pela<br />

primeira vez.<br />

Agora sim ele estava interessado.<br />

— Me viu a dois verões atrás?<br />

— Sim, o mesmo verão que saí com Jesse. — Droga, por que<br />

havia retornado esse tema?<br />

Ele olhou pata ela, franzindo a testa ligeiramente.<br />

— Saiu com ele e não comigo? — Disse para incomodá-la.<br />

— Ele me pediu e você não.<br />

Uma espécie de decepção atravessou seu rosto.<br />

— Sinto muito. Não me lembro de alguma vez tê-la visto.<br />

Sarah sorriu.<br />

— Não se preocupe. Estou acostumada a ser um pouco invisível.<br />

Angel se mostrou um pouco chateado.<br />

— Você é tudo menos invisível. — Ele parou por um momento e<br />

depois, como se tivesse lembrado de algo — Então, você diz que é do<br />

Arizona. Por que se mudou para cá?<br />

Sarah se endireitou um pouco, sentindo-se subitamente<br />

desconfortável. Ela não estava preparada para discutir sua situação. Já<br />

que não estava em seus planos fazer amigos, nunca pensou estar em<br />

60


uma situação em que tivesse que explicar nada a ninguém,<br />

especialmente a Angel Moreno.<br />

— Não me mudei exatamente para cá. Isto é apenas temporário.<br />

— Verdade? Até quando?<br />

— Estou aqui apenas por um semestre e depois retornarei a<br />

Flagstaff para terminar meu último ano do colegial. — Virei-me para<br />

ver e em seguida, desviei o olhar, desejando que falasse de outra coisa.<br />

Ele continuou insistindo.<br />

— Então, por que está aqui para este semestre?<br />

Ela nunca foi boa em mentir, de modo que preparar algo mais<br />

complicado não era dela. Se ele chegasse a lhe perguntar em outra<br />

ocasião, certamente esqueceria o que foi que disse e faria uma grande<br />

bagunça. Mesmo uma versão pequena da verdade era desconfortável.<br />

Virou-se para ver o mar já que não queria ver sua expressão quando lhe<br />

contasse.<br />

— É uma história muito longa.<br />

— Temos tempo — disse ele.<br />

Sarah ficou em silêncio por um momento.<br />

— Minha mãe tem alguns problemas que precisam ser arrumados<br />

e por agora devo ficar com minha tia. Os pais do meu melhor amigo<br />

ofereceram-se para que ficasse com eles para que pudesse terminar o<br />

ensino médio em minha escola, mas minha mãe não quis, por isso é<br />

61


que estou aqui. Mas uma vez que completar dezoito anos neste<br />

inverno, não poderá impedir que retorne.<br />

Ele a olhou, cheio de perguntas e ela rezava para que nenhuma<br />

delas fosse a respeito de sua mãe. Realmente, não tinha vontade de<br />

discutir essa parte de sua vida com ele, com ninguém.<br />

— Sua tia sabe a respeito de seus planos?<br />

— Não. Não disse. Sei que não vai querer que faça, mas além de<br />

minha mãe, Sydney e seus pais são o mais próximo a uma família que<br />

tive. Tenho que voltar. Sydney está me esperando. — Levantou seu<br />

queixo um pouco mais para cima.<br />

Sarah notou a atenção de Angel quando estava falando, como se<br />

não quisesse perder nenhuma palavra.<br />

— Além disso, nunca fui muito próxima a minha tia.<br />

Começamos a visita-la faz um par de anos atrás quando ela e minha<br />

mãe voltaram a se falar de novo. Desde então, tínhamos lhes feito uma<br />

ou duas visitas por ano. — Ela moveu sua cabeça, olhando para longe.<br />

— Devo estar em Flagstaff. É aonde pertenço.<br />

A expressão de Angel tinha mudado. Não podia dizer, mas ele<br />

realmente parecia preocupado ou talvez era outra coisa. Maldita seja, a<br />

última coisa que queria era inspirar piedade, de ninguém e muito<br />

menos dele. Por isso é que estava decidida a economizar. Enquanto a<br />

família de Sydney tinha oferecido para que Sarah ficasse com eles sem<br />

pagar, ela se recusou por completo. Se ia ficar com eles, teria que pagar.<br />

62


— E o que vai acontecer uma vez que acabe a escola? Estará de<br />

novo com sua mãe?<br />

Sarah manteve seu queixo para cima.<br />

— Não. Trabalharei e irei à escola. Os pais de Sydney me<br />

disseram que posso ficar com eles tanto quanto necessário e tão logo<br />

possa conseguir um lugar para mim, mudarei.<br />

Sua aparência não mudou. Agora parecia mais intenso e seus<br />

lábios estavam muito apertados.<br />

— Bom, sinto muito por isso.<br />

O coração do Sarah transbordou. Ela sabia. Ele sentiu pena dela.<br />

Ela retirou seus pés abruptamente e se sentou, surpreendendo Angel.<br />

Começou a colocar seus sapatos.<br />

— Pode ser que nem todos tenhamos um bom começo, mas o<br />

que conta é como termina.<br />

Angel parecia confuso.<br />

— O que? Do que está falando?<br />

Terminou de colocar seus sapatos e ficou de pé. De um salto, ele<br />

ficou em frente a ela.<br />

— Qual o problema? O que eu disse? — Ele procurou seu olhar.<br />

Sarah o olhou fixamente.<br />

— Minha vida não é tão ruim. Claro que, comparada com a sua,<br />

pode ser, mas não necessito todos...<br />

63


Angel pôs o dedo em sua boca.<br />

— Pare, não quis dizer isso.<br />

Ela tentou se afastar, mas Angel deslizou sua grande mão na<br />

dela. Ela parou, mas ficou na frente dele, firme, inabalável.<br />

Ele ficou pensativo e pôs seu braço ao redor de sua cintura.<br />

— Me escute. O que quis dizer é que sinto muito que queira ir.<br />

Na verdade, estou gostando de estar com você e agora me diz que é só<br />

temporariamente? Tem toda a razão, é obvio que sinto muito.<br />

Sarah o olhou para ele sem dizer uma só palavra e se sentiu um<br />

pouco boba por ter exagerado.<br />

— Oh.<br />

Angel sorriu.<br />

— Céus, como se colocou rápido contra mim!<br />

— Sinto muito — sussurrou. — Eu só...<br />

Seus lábios estavam nos dela novamente. Ela se permitiu sentir<br />

mais de seus beijos e depois obrigou-se a conter-se antes de que as<br />

coisas aquecessem de novo. Estava ficando tarde e devia encontrar-se<br />

com Valéria em algum lugar, para que chegassem juntas em casa.<br />

Encontraram-se com Valéria no estacionamento de uma<br />

conveniência perto da casa de sua tia. Havia mais pessoas da escola.<br />

Valéria e suas amigas estavam paradas perto de seu carro.<br />

64


As amigas da Valéria ficaram boquiabertas ao ver que Angel<br />

estava levando Sarah.<br />

Sarah esperava que ele a deixasse ir na forma mais discreta<br />

possível e saísse. Em vez disso, ele saiu do carro e foi até onde estavam<br />

Valéria e suas amigas, levando-a todo o tempo pela mão. Quando se<br />

despediu, puxou-a para um lado, mas à vista de todos e deu um desses<br />

beijos que paravam as batidas de seu coração.<br />

65


Capítulo Quatro<br />

Angel resmungou conforme a música do rádio de sua irmã<br />

passava pela porta aberta de seu quarto. Estava tendo o melhor de seus<br />

sonhos com Sarah. Era tão real: seus formosos olhos, seus lábios,<br />

inclusive podia saboreá-los. Quem sabe quão longe teria chegado nesse<br />

sonho. Franziu o cenho escutando a música que interrompeu suas<br />

fantasias. Sua irmã Sofia tinha somente dezesseis anos, mas<br />

recentemente havia redescoberto Beatles e colocava sua música em<br />

cada oportunidade. E pior, o secador de cabelo estava ligado.<br />

Seu humor mudou imediatamente quando recordou todos os<br />

eventos acontecidos na noite anterior. Ficou deitado pensando em tudo<br />

o que tinha passado. Sorriu entre dentes ao pensar no pouco esforço<br />

que fez para baixar a guarda de Sarah. Tudo o que agora sentia era<br />

muito inesperado.<br />

Mais que nada, queria lhe perguntar a respeito de sua mãe, mas<br />

era óbvio que Sarah não queria falar dela, por que uma mãe deixaria<br />

uma filha com outra pessoa, simples assim? Que tipo de problemas<br />

arrumou? Tudo no olhar triste de Sarah disse que ela tinha passado por<br />

muita coisa e sentia por ela.<br />

Porra, isso é uma merda. Ao longo da semana só queria falar<br />

com ela, para conhecê-la um pouco. Mas depois de ontem à noite, logo<br />

depois que ela foi embora, queria muito mais. Sentou-se e sacudiu a<br />

66


cabeça. Não se preocuparia com isso agora. Um fato era, os planos de<br />

Sarah não estavam gravados em pedra. Entre hoje e amanhã, algo<br />

poderia acontecer. Ela podia mudar de opinião.<br />

Viu que ainda eram 8:30 da manhã. Decidiu que era muito cedo<br />

para ligar e resolveu tomar um banho e descer. Eric já estava lá,<br />

sentado na cozinha e conversando com Sofia. Seus pais saíram cedo<br />

para abrir o restaurante e Sofia tinha preparado o café da manhã. Eric<br />

levantou a vista de seu prato para ver Angel e sorriu com cumplicidade.<br />

— Como foi ontem à noite?<br />

— Foi bem. — Angel caminhou para a Sofia e lhe deu um beijo<br />

na testa. Viu o prato de ovos com bacons de Eric e logo viu Sofia.<br />

— Ficou algo para mim ou comeu tudo? — Sofia pôs os olhos em<br />

branco.<br />

— Há suficiente para todos.<br />

Angel caminhou para o refrigerador olhando o relógio. Eram<br />

pouco mais das nove, suficientemente bom. Tirou o suco de laranja do<br />

refrigerador e se serviu um copo. Caminhou perto da mesa onde tinha<br />

deixado as chaves do carro de Eric e seu telefone celular, pegou e<br />

lançou as chaves a Eric.<br />

— Obrigado irmão.<br />

Eric apanhou as chaves no ar, movendo a cabeça.<br />

— Chegou tarde ontem à noite? — Perguntou com malícia.<br />

Indo para a porta de atrás, Angel lhes disse que voltaria rápido.<br />

67


Fora, viu o número do celular de Sarah em seu telefone. Ela o<br />

programou ontem à noite antes que ele a deixasse. E só de ver seu<br />

nome, Sarah Lynn, estremeceu. Respirou fundo e pressionou o botão<br />

para ligar. Soou várias vezes e depois Sarah respondeu.<br />

— Olá Angel. — Seu tom alegre lhe fez sorrir.<br />

— Estava na outra linha, me deixe desligar.<br />

— Não, está bem. Ligo mais tarde.<br />

— Não, é Sydney. Já falamos por um momento. Estava a ponto<br />

de desligar, me espere, okey?<br />

— Está bem.<br />

Desligou a outra linha. Eram apenas nove e ela já estava falando<br />

no telefone desde que horas? Não brincou quando disse que esta era<br />

uma amizade muito próxima.<br />

Pensou e perguntou se ele se sentiria da mesma forma em sua<br />

situação. Eric e Romero eram seus melhores amigos mas não podia<br />

imaginar ser assim tão próximo com esse par de tolos, tanto que<br />

morrera de vontade por estar com eles. Bom, as garotas também eram<br />

diferentes em suas relações. Além disso não era só isso, pensou, a<br />

situação de Sarah era muito diferente. Sentou em uma das cadeiras do<br />

pátio e logo escutou o clique na linha.<br />

— Angel?<br />

— Sarah.<br />

— Me desculpe.<br />

68


— Está bem. Conversando tão cedo?<br />

— Ah sim, Sydney é como um pássaro madrugador. De fato, sua<br />

ligação me acordou.<br />

— Ah, é como minha irmã. Sua maldita música me acordou esta<br />

manhã. Está cansada? — Mesmo duvidando perguntou. — Tem planos<br />

para hoje?<br />

— Não por agora, mas na noite sim.<br />

Angel sentiu seu rosto queimar.<br />

— Ah?<br />

— Irei trabalhar — disse. — Sou babá para uns vizinhos aqui.<br />

Exalou devagar.<br />

— Então, que hora passo para te pegar?<br />

— Posso estar pronta em uma hora.<br />

Em sua vida, nunca havia sentido essa ansiedade para ver<br />

alguém.<br />

— Bom, está bem. Te ligo em uma hora para que me diga como<br />

chegar.<br />

Quando desligou, retornou à cozinha aonde estavam rindo Eric e<br />

Sofia. Angel se surpreendeu de vê-lo ainda ali. Recordou que Eric lhe<br />

disse que devia levantar cedo. Foi para o fogão e pegou um pedaço de<br />

bacon da frigideira.<br />

69


— Não tinha que fazer algo hoje cedo? — Encostou em um dos<br />

móveis da cozinha em frente a Eric.<br />

Eric sorriu.<br />

— Está tentando se livrar de mim?<br />

— Não, mas me lembro que disse a Romero que não queria sair<br />

por aí com aquelas garotas porque tinha que levantar cedo hoje.<br />

Eric esclareceu sua garganta e com um guardanapo limpou sua<br />

boca.<br />

— Bom, o que imagina que estou fazendo aqui tão cedo? Já fui<br />

resolver meu assunto e depois vim para cá pegar meu automóvel.<br />

— Preciso ir me trocar. Prometi a mamãe que chegaria cedo ao<br />

restaurante. — Sofia colocou os pratos na lava louça, a ligou e saiu da<br />

cozinha.<br />

Angel fez uma careta.<br />

— Porque tão cedo Sofi?<br />

— Tenho que estar em um lugar daqui a pouco.<br />

— Posso leva-la — disse Eric.<br />

Angel virou-se para ele.<br />

— Tem certeza?<br />

— Sim claro, de qualquer forma, tenho que sair. Quero ir para<br />

academia. Talvez coma um burrito enquanto estou por lá.<br />

70


— Não me demoro! — Gritou Sofia enquanto subia correndo as<br />

escadas.<br />

Angel ficou vendo o prato de Eric.<br />

— Cara! Acabou de comer.<br />

— Sim, por isso é que tenho que fazer exercício. — Eric deu um<br />

tapinha em seu estômago.<br />

Angel sacudiu a cabeça. Virou para pegar um prato no armário e<br />

esvaziou o resto dos ovos com bacons nele.<br />

— Então, o que aconteceu ontem à noite? Pegou? — Eric<br />

levantou uma sobrancelha.<br />

Angel tinha a boca cheia e não pôde responder rapidamente.<br />

Depois de mastigar um par de vezes, negou com a cabeça. Não era do<br />

tipo que beijava e falava, inclusive quando se tratava das garotas que<br />

não lhe importavam e ele sabia que Eric não era dos que contava as<br />

coisas a todo mundo. Mas, com Sarah, quis ser especialmente discreto.<br />

— O que? — Eric riu entre dentes. — Não vai me contar? Te<br />

dispensou?<br />

— Não, não me dispensou. — Angel zombou. — Só<br />

conversamos. Foi tudo.<br />

Eric riu ainda mais.<br />

— Está perdendo o toque? Pela forma que a olhava, pensei que<br />

com certeza teria que lavar com mangueira o banco de trás.<br />

71


— Como a estava olhando?<br />

— Como se quisesse devorá-la, assim que a olhava.<br />

Angel fingiu esquecer, mas sabia exatamente o que Eric queria<br />

dizer, já que era exatamente o que havia sentido.<br />

Eric insistiu.<br />

— Anda, irmão, não posso acreditar que só conversaram.<br />

Angel apertou os olhos<br />

— Não, cara, não é como está pensando. Não é por isso que saí<br />

com ela.<br />

— O quê? — Eric sacudiu sua cabeça. — E agora, Angel Moreno<br />

se dedica a conversar com as garotas? Desde quando virou veado?<br />

Angel encolheu de ombros e continuou comendo. Evitava olhar<br />

Eric e no momento, não estava seguro de querer falar disso.<br />

— Não sei cara. A verdade é que acredito que é bem legal passar<br />

o tempo assim com ela.<br />

Eric assentiu como se tivesse entendido.<br />

— Então, você não gostou? Pareceu que estava muito bom.<br />

— Claro que eu gostei, idiota, só que não quis fazer mais na<br />

primeira noite. Você sabe que nem todas as garotas são assim.<br />

Eric sorriu.<br />

72


— De modo que sim, ela te dispensou.<br />

Angel lhe jogou um olhar enquanto bebia de seu suco.<br />

— Bom, não tem nenhum sentido. Ou fez ou não fez. Qual é o<br />

problema?<br />

— Não há nenhum problema. — Angel não sabia porquê, mas<br />

estava frustrado. — Eu dei um beijo de despedida, se isso for o que quer<br />

saber. Mas conversamos o resto do tempo.<br />

— E descobriu o que há entre ela e Jesse?<br />

dia.<br />

Angel desejou ter sido um pouco mais duro com Jesse no outro<br />

— Faz tempo que saiu com ela e já sabe quão estúpido é Jesse.<br />

Não pode deixa-la em paz.<br />

— Na verdade, saiu com esse idiota? — Eric falou com a boca<br />

cheia.<br />

— Sim, não me fale nada.<br />

— Foi isso que pensei. — Angel devorou completamente o prato<br />

de seu café da manhã e logo o pôs na pia. Deu uma olhada ao relógio.<br />

— Devo terminar de me arrumar.<br />

— Aonde vai?<br />

— Tenho uma entrevista — disse Angel, mas evitou olhar<br />

diretamente para Eric.<br />

73


No início Eric ficou confuso e abriu totalmente a boca e os olhos,<br />

tampou a boca com a mão.<br />

— Não! — Antes de que pudesse fazer dizer mais, Angel o<br />

fulminou com o olhar.<br />

— Não se atreva a dizer nenhuma palavra — advertiu-lhe.<br />

— Tampouco diga nada ao Romero. Não preciso escutar suas<br />

merdas na segunda-feira.<br />

Eric sorriu de orelha a orelha.<br />

— Cale-se — disse Angel, saindo da cozinha.<br />

— Eu não vou dizer nada — protestou Eric, morrendo de rir.<br />

— Aha, mas está pensando. — Angel pôde ouvir as risadas de<br />

Eric, inclusive ao subir pelas escadas, e só pôde sorrir.<br />

***<br />

Sarah não podia recordar quando foi a última vez que se sentiu<br />

tão viva. Sob o jato de água quente correndo por seu corpo, pensava em<br />

Angel enquanto se enxaguava e sorriu.<br />

Todo o ano passado foi um inferno e os dois meses anteriores<br />

foram ainda pior sem Sydney, quem a resgatava de seus temores a cada<br />

74


momento. Mas agora se sentia feliz. Assustada um pouco. Ainda estava<br />

consciente de que este era Angel, o Angel que tanto tinha ouvido falar.<br />

Mas ele dizia que queria conhece-la um pouco mais. Soava muito<br />

sincero e seus beijos, por Deus, esses beijos... só de pensar neles a fazia<br />

estremecer.<br />

A ligação de Sydney a acordou bem depois das sete e falaram até<br />

que Angel ligou. Sabia que ela tinha saído ontem à noite pela primeira<br />

vez que chegou e estava ansioso por saber como tinha ido. Sarah lhe<br />

contou tudo, sem deixar fora nenhum detalhe, especialmente os beijos.<br />

Sydney não estava nada surpreso que Angel se interessou por Sarah e<br />

estava feliz de ouvi-la tão emocionada, mas lhe advertiu que tomasse<br />

cuidado.<br />

Saiu do chuveiro e se vestiu. Retornou ao banheiro para secar o<br />

cabelo e foi até Valéria, que ainda estava de pijamas, uma camiseta<br />

enorme e shorts de basquete.<br />

— Aonde vai tão cedo?<br />

As bochechas do Sarah avermelharam.<br />

— Angel vem me buscar. — Tratou de não mostrar um grande<br />

sorriso.<br />

O queixo de Valéria caiu e seus olhos se abriram totalmente.<br />

— Vem de verdade? — Sarah assentiu, sorrindo timidamente.<br />

Agarrou o secador de cabelo e voltou para seu quarto com<br />

Valéria atrás.<br />

75


— Ai meu Deus, que sorte! Foi quem te ligou esta manhã?<br />

Sarah parou em sua cama e a olhou através de sua bolsa. Não<br />

queria dar uma grande importância a isto. Quanto mais importância<br />

dava, mais duro ia ser se Angel a quisesse só para esta semana. Só de<br />

pensar causou um pouco de dor. Entretanto, sabia que havia essa<br />

possibilidade.<br />

— Não, era Sydney — respondeu. — Angel ligou enquanto<br />

estava falando com ele.<br />

Valéria revirou os olhos. Sarah sabia o que Valéria pensava de<br />

Sydney. Nunca o conheceu, mas não entendia sua amizade.<br />

— Não tem jeito, este garoto está apaixonado por você, lhe disse<br />

milhares de vezes.<br />

Sarah também sabia que Valéria ressentia o fato de que ela tivesse<br />

preferido, literalmente tinha suplicado, para ficar no Flagstaff com ele e<br />

com sua família, ao invés de viver com Valéria e sua tia. Inclusive<br />

agora, ela falava mais com ele e estava mais perto dele, do que jamais<br />

esteve com ela.<br />

Valéria subiu à cama.<br />

— Vai contar a Angel a respeito de Sydney?<br />

— Já contei. — Ela omitiu a parte em que Angel se referiu a<br />

Sydney como uma garota esta manhã e o fato de que não o corrigiu.<br />

As sobrancelhas de Valéria se arquearam pela surpresa.<br />

— De verdade? E o que disse?<br />

76


Sarah fez uma careta.<br />

— Valéria, saímos uma noite. Honestamente, acredita que me<br />

importo?<br />

— Digo que os homens são territoriais.<br />

Sarah deu de ombros.<br />

— Bom, territoriais ou não, não sou sua noiva.<br />

— Bom — interrompeu Valéria.<br />

— Veremos o que pensa de Sydney uma vez que vocês<br />

formalizarem.<br />

Sarah sentiu como se algo entrasse em seu peito. Pensou em<br />

como Angel chegou diretamente ao tema de Jesse quando estiveram na<br />

praia e em como ficou com o rosto petrificado ao saber que tinha saído<br />

com ele. Mas, Sydney era completamente diferente. Ele teria que<br />

entender.<br />

— O que te faz pensar que podemos formalizar? Você mesma<br />

disse que ele nunca teria uma namorada. Para que iria querer uma<br />

agora?<br />

Essa era uma resposta quase retórica. Nem sequer queria saber a<br />

resposta. Valéria estava arruinando tudo. Era muito cedo para se<br />

preocupar com o que Angel pensaria a respeito de sua relação com<br />

Sydney.<br />

Teria tempo de pensar quando fosse necessário. Angel tinha<br />

assumido que Syd era mulher. Mas ela não o corrigiu. Cruzaria essa<br />

77


ponte quando chegasse o momento. Por agora, não tinha certeza do<br />

que fazer.<br />

Valéria se acomodou na cabeceira<br />

— Foi a forma em que esteve contigo ontem à noite, Sarah.<br />

Jamais o tinha visto atuar daquela maneira. Nunca tinha demonstrado<br />

afeto em público. Mas ontem à noite, foi muito óbvio que queria que<br />

todo mundo visse que estava com ele. — Sarah tratou de ocultar sua<br />

alegria. — Só estou dizendo — continuou Valéria. — Se você fosse<br />

como eu, não importaria. Se fosse, desejaria má sorte e deixaria ir. Mas<br />

você não é como eu. É doce, pequena e sensível, Sarah. E minha<br />

querida senhorita, também me dei conta de como o olhava. Já está<br />

louca por ele. Assim, a menos que queira ter problemas, deve começar<br />

a te desprender de sua eterna devoção ao Sydney.<br />

As mariposas no estômago do Sarah se alvoroçaram, ameaçando<br />

se converterem em um verdadeiro furacão. Sarah voltou para pegar sua<br />

bolsa, olhando de lado para Valéria. Em silêncio, se maquiou.<br />

Realmente, quase não se maquiava, por isso não tomou muito tempo.<br />

Estava a ponto de responder o comentário da Valéria quando seu<br />

telefone tocou, fazendo-a saltar. Valéria sorriu com entusiasmo.<br />

— É ele?<br />

Sarah olhou o identificador de chamadas e assentiu. Valéria voou<br />

da cama e ficou ao lado de Sarah, encostada para ver se ouvia algo.<br />

Sarah a olhou e sorriu. Abriu o telefone e respondeu.<br />

Sarah lhe dava instruções com Valéria colada ao seu lado todo o<br />

tempo. Quando desligou, Valéria gemeu.<br />

78


— Deus, até soava quente. Juro que tem muita sorte!<br />

Sarah tomou como algo normal, mas o alvoroço em seu<br />

estômago estava fora de controle. Logo teria tempo para assimilar o<br />

que tinha acontecido na noite anterior e agora, Angel não demoraria<br />

para chegar e pegá-la. Sorriu para Valéria e parou para terminar de se<br />

arrumar.<br />

Deixou sua tia a par de seus planos e juntou suas coisas e sua<br />

bolsa. Angel conduzia um Mustang branco. Parecia um modelo antigo,<br />

mas mesmo assim, parecia bom. Olhou pela janela e viu como descia<br />

do automóvel. Vestia uns jeans escuros e uma camiseta de gola redonda<br />

que lhe pegava perfeitamente ao peito.<br />

— Já vou! — Gritou a ninguém em particular e saiu para<br />

encontrar-se com ele.<br />

79


Capítulo Cinco<br />

Angel tinha dado apenas alguns passos para a porta quando a viu<br />

sair. Imediatamente começou a sorrir. Ela estava vestida de forma<br />

casual, entretanto, tinha o mesmo incrível atrativo da noite anterior<br />

quando estava arrumada e de alguma forma, estava ainda melhor.<br />

Seus olhos pareciam brilhar conforme descia os degraus da<br />

varanda. Encontrou com ele na metade do caminho entre a varanda e o<br />

carro. Ele a pegou pelas mãos. Definitivamente podia acostumar-se à<br />

suavidade da mão dela na sua. Queria beijar, mas sentia um incômodo<br />

em fazer bem em frente da sua casa. Entretanto, não foi o<br />

suficientemente forte para aguentar a vontade de abraçá-la, de modo<br />

que a abraçou fortemente. Apertou, sentindo seu cabelo em seu rosto e<br />

respirando todo seu aroma. Sem desejar, deixou de abraçá-la,<br />

liberando-a. Sua mão continuou segurando a dela. Olhando para a<br />

porta, perguntou:<br />

— Devo entrar?<br />

Os olhos de Sarah se abriram surpresa e sacudiu rapidamente a<br />

cabeça.<br />

— Ai não, não é necessário.<br />

80


Angel se perguntou se ela estava envergonhada ou estava<br />

ocultando algo. Entretanto, não deu importância e caminharam para o<br />

carro.<br />

Uma vez que estavam no caminho, foi impossível tirar as mãos<br />

de cima. Foi pior que a noite anterior, possivelmente porque o carro de<br />

Eric era veloz. Seu carro era automático, de modo que tinha a mão<br />

livre para poder mover e assim o fez. Sempre que podia lhe acariciava o<br />

rosto, a perna, seus dedos. Em duas ocasiões pegou a mão levando para<br />

sua boca e a beijou. Que diabos estava acontecendo com ele? Tinha que<br />

se controlar antes de assustá-la. Embora parecia que não se importava,<br />

já que sorria enquanto acariciava sua mão.<br />

Queria convidá-la para sair e lhe mostrar como aproveitar bem o<br />

momento. Mas isso ia ter que esperar outro dia. Hoje não tinha<br />

vontade de ir a nenhum lugar movimentado. Só tinha uma coisa em<br />

mente, bom, além de abraçá-la e beijá-la. Queria falar com ela,<br />

conhecê-la mais, sobretudo saber mais dessa tolice de querer ir embora.<br />

O mais importante, ele esperava que hoje pudessem chegar a uma<br />

espécie de entendimento. Sabia que não estava bom, mas depois de<br />

ontem à noite, não podia ficar bem se ela tivesse a liberdade de sair<br />

com qualquer outro garoto, pelo menos enquanto ele estivesse saindo<br />

com ela. E tinha planos de estar com ela em cada oportunidade que<br />

tivesse. Sabia que havia um risco, mas não se arriscaria em não ter nada<br />

de concreto e abrir a possibilidade dela sair com outro. Só de pensar<br />

apertou a mandíbula.<br />

Na noite anterior, tinha posto refrescos no cooler de Sarah e<br />

fizeram uma parada no delivery para comprar uns sanduíches.<br />

Chegaram até o Monte Solidão, a área do Parque Estatal. Tinha muitas<br />

81


pistas para ciclistas e para caminhada, mas realmente era famoso por<br />

suas enormes cavernas fabricadas pelo homem. Dava para o oceano e<br />

tinha umas das vistas mais espetaculares. Tinha certeza de que Sarah<br />

ficaria encantada.<br />

Angel esteve lá muitas vezes com seus amigos e com seus irmãos,<br />

conhecia bem o lugar. Voltava para andar de bicicleta. Planejou que o<br />

dia de hoje fosse uma visita mais tranquila. Pela janela, Sarah estava<br />

admirando as incríveis vistas.<br />

— Meu Deus, este lugar é melhor que o escarpado de ontem à<br />

noite. Não pensei que algo assim fosse possível.<br />

Ela tinha razão. Sem importar quantas vezes viesse a este lugar,<br />

era tão inverossímil como a primeira vez. Viu a si mesmo e logo voltou<br />

a ver Sarah. Seu corpo sentia que o momento se aproximava, o<br />

momento de tê-la entre seus braços de novo. Em todo o caminho a<br />

segurou pela mão, apertando suavemente. Escolheu uma das áreas de<br />

piquenique mais privadas. O parque não estava tão movimentado. À<br />

exceção de um ou outro ciclista que passava por aí, na realidade,<br />

tinham praticamente toda essa área para eles dois.<br />

Angel tirou o cooler e um cobertor do porta-malas. Sarah se<br />

dirigiu para uma das mesas que estava sob um grande pavilhão de<br />

madeira. Mas Angel negou com a cabeça e a levou para uma área<br />

aberta debaixo de uma árvore.<br />

— Por aqui — disse sorridente.<br />

Os olhos do Sarah expressaram surpresa, mas sorrindo, o seguiu.<br />

Acomodaram a manta sobre a grama e colocaram ali o cooler. Mal<br />

82


acabaram de sentar quando Angel começou a beijá-la, de um modo<br />

suave e doce a princípio. Depois a recostou sobre a manta e ele se<br />

acomodou sobre seu cotovelo ao lado dela. Sustentou sua cabeça com<br />

uma mão enquanto a outra começou a percorrer seu corpo por cima de<br />

sua roupa. Passou sua mão por cima de seu ventre e logo pela parte<br />

externa da coxa. Angel estava completamente excitado e se deu conta<br />

de que Sarah podia senti-lo.<br />

Mordeu brandamente o lábio inferior e começou a beijar o<br />

queixo. Ela parecia muito bem. Elevou um pouco a cabeça de Sarah e<br />

invadiu o seu pescoço, beijando, sugando e mordendo brandamente.<br />

— Angel — sussurrou em Sarah.<br />

Ele gemeu enquanto continuava beijando e chupando seu<br />

pescoço, desejando que estivessem em algum lugar mais privado.<br />

— Angel. — Podia sentir sua respiração acelerada.<br />

Chupou seu pescoço pela última vez e ficou olhando conforme se<br />

retirou sorrindo, satisfeito ao ver que tinha conseguido lhe fazer uma<br />

pequena mas notória mancha avermelhada bem debaixo da orelha.<br />

Ao olhá-la novamente, não pôde evitar de beijá-la pela última<br />

vez. Quando pôr fim pôde ser capaz de sair de cima, estava sobre seu<br />

cotovelo e ficou olhando os lábios rosados e molhados de Sarah<br />

jogando com sua mão. Estava a ponto de lhe dizer quão perfeito sentia<br />

tê-la ali a seu lado quando ela o surpreendeu com uma confissão<br />

inesperada.<br />

— Sou virgem.<br />

83


Angel a olhou fixamente por um momento sem estar seguro de<br />

como responder. A ideia de ser o primeiro lhe sacudiu cada nervo de<br />

seu corpo, fazendo com que seus músculos se esticassem. Sarah, ao<br />

perceber que não respondeu imediatamente, reagrupou-se e se separou<br />

dele.<br />

— Espera, espera. — E a alcançou.<br />

Ela afastou sua mão de seu alcance.<br />

— Só quis te dizer, para que não pense que sou uma<br />

provocadora, se as coisas não chegarem tão longe como está esperando.<br />

Agrupou-se, acomodando outra vez com rapidez junto a ela. Mas<br />

antes que Angel pudesse responder, Sarah acrescentou:<br />

— Não estou preparada para algo assim, especialmente com tudo<br />

o que estou passando nestes momentos.<br />

Maldita seja, sentia-se como um estúpido perseguidor, nada<br />

melhor que Jesse.<br />

— Está bem, Sarah. — Acariciou a bochecha. — Sinto que fui<br />

muito intenso. Normalmente não sou assim. Não sei o que é, mas não<br />

consigo me controlar quando estou perto de ti.<br />

Ela parecia estar um pouco envergonhada e mordeu o lábio<br />

inferior.<br />

— Sinto da mesma forma quando estou perto de você.<br />

Passou o braço abraçando-a e a beijou na cabeça. Com esse<br />

cabelo suave em sua cara e seu aroma sedutor, deu medo de voltar a<br />

84


acender como tinha feito. Distanciou e lhe deu uma olhada a seu<br />

relógio. Já era quase meio-dia.<br />

— Está com fome?<br />

— Estou morrendo de fome, não tomei o café da manhã.<br />

Angel franziu o cenho.<br />

— Deveria ter me dito. — Pegou o cooler.<br />

— Não me deu chance — e começou a rir.<br />

Adorava ver seu sorriso.<br />

— ok, ok. — O sarcasmo a fez rir ainda mais.<br />

Sentaram-se com as pernas cruzadas e comeram em silencio por<br />

alguns minutos. Embora não fez um grande intento, não podia deixar<br />

de olhar para Sarah. Até gostava da forma como ela comia, agarrando<br />

com seus dedos os pedacinhos do sanduíche em lugar de lhe dar uma<br />

mordida. Comia devagar e elegantemente. Logo chegou na metade<br />

quando ele mordeu seu último pedaço. Tocou o telefone de Angel e ao<br />

procurar no bolso se deu conta de que tinha deixado no carro.<br />

— Tenho que atender. Pode ser minha mamãe. — Deu um salto,<br />

ficou de pé e se encaminhou ao carro.<br />

***<br />

85


Sarah ficou olhando enquanto caminhava para o carro. Uma vez<br />

no carro, se inclinou pela janela e pegou seu telefone. Colocou seu<br />

sanduíche sobre o painel e pôs sua mão sobre sua frente, deixando aí<br />

por um momento. Sacudiu sua cabeça. Sou virgem. Santo Deus, logo<br />

no primeiro encontro. Estavam em um parque a plena luz do dia.<br />

Realmente pensou que podia saltar em cima? Sua idiotice não tinha<br />

fim?<br />

Angel vinha de volta falando no telefone. Desligou antes de<br />

aproximar o suficiente para poder ouvi-lo. Sentou-se de novo junto a<br />

ela e pegou seu sanduíche.<br />

— Sinto muito. — Sentou em frente a ela. — Pensei que podia<br />

ser minha mãe. Há ocasiões em que há tanto trabalho no restaurante<br />

durante o fim de semana, que necessitam de minha ajuda, mesmo que<br />

não me peça.<br />

— Que classe de restaurante têm? — Ela já sabia. Valéria tinha<br />

falado a respeito dos Moreno. Mas queria tocar em um tema mais<br />

seguro. Algum que não fosse delicado.<br />

Sacudiu a cabeça e limpou a boca.<br />

— É um restaurante mexicano. Está no bulevar, A Jolla. Vou te<br />

levar quando tivermos um pouco mais de tempo.<br />

Terminou seu sanduíche e pôs o envoltório na bolsa de plástico<br />

em que vinha. Olhou o sanduíche de Sarah e viu que estava na metade.<br />

— Pensei que estava morrendo de fome.<br />

Vendo seu sanduíche disse:<br />

86


— É que como devagar. — Tinha perdido o apetite logo depois<br />

de sua estúpida confissão, mas mentiu, de modo que pudessem deixar<br />

esse tema esquecido. Coisa que funcionou.<br />

Angel se recostou sobre seus cotovelos e a olhou com<br />

curiosidade.<br />

— Então. — Sarah se preparou, pondo um pedaço de sanduíche<br />

em sua boca. — Disse que seu aniversário era no inverno, em que dia?<br />

Graças a Deus. Passou seu bocado com um gole de refresco e o<br />

olhou.<br />

— Em primeiro de janeiro. Sou um bebê de ano novo.<br />

— De verdade? — Disse Angel, arqueando as sobrancelhas.<br />

— Então nós temos uma diferença de poucas semanas. Meu<br />

aniversário é 20 de dezembro.<br />

— Sério? — Sem pensar, Sarah soltou uma maldição — merda!<br />

Viu o olhar confuso do rosto de Angel.<br />

— Perdão mas isso me recordou algo — explicou.<br />

— Hoje é o aniversário de Sydney. Falamos durante um longo<br />

momento e não disse feliz aniversário. Sinto-me terrível.<br />

Angel deu de ombros.<br />

— Ligue depois. — Pegou seu telefone celular de sua calça e o<br />

passou. — Toma. Aqui a recepção é bastante boa.<br />

87


— Não — respondeu um pouco apressada.<br />

— Chamarei quando chegar em casa. — De maneira nenhuma ia<br />

chamar Sydney deste seu telefone, não queria que seu número ficasse<br />

gravado no telefone de Angel.<br />

— Chame — sustentou o telefone diante dela. — Não me<br />

importo, de verdade. Se estiver chateada porque não lembrou, ficará<br />

feliz por chamar ela o mais breve que pôde.<br />

Ela... Ela... Sarah sentiu como se seu estômago estivesse<br />

revolvido. Nunca em sua vida tinha sido mentirosa e não gostava da<br />

ideia de que estava mentindo. Ela nunca disse que Sydney era mulher,<br />

mas agora sentia como se isto fosse uma grande mentira. Ela devia lhe<br />

dizer. Realmente devia, mas não podia. Não agora. Teria que ser em<br />

uma ocasião melhor.<br />

— Tem razão. — Pegou sua bolsa. — Mas usarei meu telefone, já<br />

tenho seu número programado. — Tirou rapidamente seu telefone.<br />

Olhou e engoliu saliva enquanto ligava. Ela se alegrou de estar sentada<br />

frente a ele e não a seu lado. Ele não podia ouvir a voz de Sydney.<br />

Mesmo assim, ela foi um pouco para trás, fingindo tirar migalhas da<br />

roupa enquanto escutava o telefone chamar.<br />

— Lynni?<br />

Escutar a voz do Sydney só a deixou mais tensa. Pressionou<br />

ainda mais o telefone contra sua orelha para assegurar de que Angel<br />

não o escutasse. O sorriso no rosto de Angel deixou sua voz soando<br />

com mais remorsos conforme falava.<br />

88


— Sydney — franziu o cenho — sinto muito por não ter te<br />

desejado parabéns quando falamos hoje pela manhã.<br />

Pôde ouvir Sydney rir.<br />

— Não se preocupe — disse — nem sequer tinha acordado, até<br />

que entrei na cozinha e minha mamãe já tinha tudo cheio de bolões e<br />

demais coisas. Demos uma boa festinha hoje na manhã.<br />

— Oh! — De repente se sentiu afligida com a emoção. Os pais de<br />

Sydney sempre foram assim, inclusive com ela. Recordou um par de<br />

anos atrás quando sua mãe se foi a Las Vegas para Ano Novo,<br />

deixando-a com os Maricopa. Celebraram a véspera de Ano Novo<br />

comendo pizza, jogando dominó, apostando e vendo filmes de terror.<br />

Logo no Ano Novo, Frances, a mãe de Sydney, a surpreendeu ao<br />

levantar-se cedo e lhe preparar um banquete de panquecas, toicinho,<br />

salsichas e ovos, com uns deliciosos croissants feitos em casa. Inclusive,<br />

tinha enfeitado com guirlandas e balões. Tudo isto, só para Sarah.<br />

Nunca havia se sentido tão especial. Chorou o tempo todo enquanto<br />

cantavam Feliz aniversário. Ainda agora, pôde sentir como enchiam<br />

seus olhos de lágrimas.<br />

Olhou para Angel. Olhava com curiosidade. Deu-se conta que<br />

nunca tinha tirado os olhos de cima. Pestanejou com força para<br />

recuperar a compostura.<br />

— Está bem Lynni?<br />

— Sim, sim. — Clareou sua garganta.<br />

89


— Só estava imaginando isso. Soa incrível Syd. Adoraria estar<br />

contigo para comemorar.<br />

— Está aqui — disse brandamente Sydney.<br />

— O que?<br />

— Tenho aqui a apresentação que me mandou. Comecei a vê-la,<br />

mas com frequência me deixa com um nó na garganta e a fechei, no<br />

momento, voltei a tentar.<br />

Sentiu confortada e sorriu.<br />

— Sim, tem que vê-la. Está bem — disse Sarah. Voltou a olhar<br />

para Angel quem seguia olhando. Não havia sequer pestanejado. —<br />

Ouça, tenho que desligar, mas te ligarei mais tarde para que me diga<br />

como passou o dia, ok?<br />

— Te amo Lynni.<br />

Seus olhos ainda estavam em Angel. Não pode lhe responder<br />

como queria e encolheu o coração. Por anos disse a Sydney o muito<br />

que o amava. Era algo natural. Inclusive disse a seus pais que o amava.<br />

Mas não podia agora, não em frente a Angel. Era só questão de tempo<br />

antes de que ele se inteirasse e isto seria um pouco mais difícil de<br />

explicar.<br />

— Eu também — sussurrou.<br />

— Te ligo mais tarde, está bem?<br />

Uma vez que desligou, Angel sorriu carinhosamente.<br />

90


— Céus. Quanta emoção e tudo isso por ter esquecido?<br />

Sarah ficou tensa. Nunca deveria ter ligado para Sydney na frente<br />

de Angel.<br />

— Não. — Sentia vontade de dar um golpe nela mesma. — Esta<br />

manhã, a mãe de Sydney lhe preparou um grande café da manhã de<br />

aniversário e me veio a mente as lembranças de quando ela me fez o<br />

mesmo faz alguns anos. Isso é tudo.<br />

— Vem cá. — Sorrindo, deu a mão. — Prometo que vou me<br />

controlar.<br />

Inclinou frente a ele, se colocando em seu cotovelo e sorriu.<br />

Angel girou sobre um de seus ombros e, ao tê-la frente a frente, respirou<br />

fundo.<br />

— Sarah, espero que isto não soe muito louco, mas eu gosto<br />

muito de você. — Fez uma pausa para beijar seus dedos. — Isto é<br />

louco. Acabo de te conhecer, mas sinto que poderia passar cada minuto<br />

contigo se me permitisse.<br />

Sarah ficou olhando, tragando saliva com dificuldade. Seu<br />

coração transbordava. Estava sonhando? Não queria nem pestanejar,<br />

tinha medo de que tudo desaparecesse. Angel não esperou que<br />

respondesse. Em lugar disso, começou a olhá-la.<br />

— Ontem à noite você me disse que não tinha namorado. Sei que<br />

é muito cedo para isso. Não sabe nada a respeito de mim. Também sei<br />

que não tenho direito a te perguntar isto, mas — fez uma pausa —<br />

91


Disse que vai ficar aqui por pouco tempo, seria muito se te pedir que<br />

tenhamos um acordo?<br />

— Um acordo? — Sarah tinha a sensação de saber aonde ele<br />

queria chegar, mas já não queria seguir fazendo-a de boba por mais<br />

tempo. Queria clareza absoluta.<br />

Clareando sua garganta, era óbvio que Angel se sentia incômodo.<br />

— Quero dizer, concorda em sermos exclusivos um para o outro<br />

enquanto está aqui? — Sarah não podia acreditar. Olhou para frente,<br />

mas não para ele, sacudiu a cabeça inconscientemente, tratando de<br />

digerir tudo isto. Quando se centrou de novo nele, a expressão de<br />

Angel tinha mudado.<br />

— Isso é um não?<br />

Sarah moveu ainda mais forte sua cabeça.<br />

— Não.<br />

Angel se recompôs rapidamente.<br />

— Está saindo com alguém? — Sua voz era quase um sussurro.<br />

Antes que pudesse dizer ou fazer algo estúpido novamente, Sarah<br />

endireitou para olhá-lo e falou bem de frente.<br />

— Também gosto de você. Nem sequer posso começar a te dizer<br />

quanto. Ontem à noite foi a primeira noite em que saí desde que<br />

cheguei aqui. Passou um longo tempo que não ria tanto assim.<br />

92


A expressão de Sarah se tornou mais séria. Sua seguinte<br />

declaração foi arriscada, mas sentia que era necessária.<br />

— Não tenho nenhum problema com não sair com ninguém<br />

mais, Angel, mas sei tudo sobre ti, seus irmãos e seus amigos. Não sei<br />

se você pode manter sua parte deste trato. O que não quero é sair<br />

machucada.<br />

Os olhos de Angel se apertaram igual a seus lábios, inclinou-se<br />

para frente e falou com um pouco de aflição.<br />

— Acha que me conhece, mas não tem nem ideia, portanto vou<br />

deixar os achismos neste momento. Mas se te disser que vou ser só teu,<br />

falo sério.<br />

Por mais que Sarah quisesse acreditar, estava aterrorizada. Havia<br />

tantas promessas não cumpridas em sua vida, tantas decepções. Não<br />

podia suportar outra. Angel deve ter visto a expressão em seu rosto.<br />

— Sarah, não estou mentindo — disse seriamente. — Pode<br />

perguntar a qualquer um que me conheça. Se houver algo com o que<br />

pode contar é com minha palavra.<br />

A punhalada que sentiu no estômago foi dilaceradora. Como<br />

podia estar sentada ali e ser tão hipócrita quando ela mesma não estava<br />

exatamente vendo o futuro? Sorriu fracamente e decidiu, nesse mesmo<br />

momento, que devia se permitir ser feliz, muito feliz, pela primeira vez<br />

em muito tempo. E depois sorriu de orelha a orelha.<br />

— Está bem.<br />

93


Angel ficou olhando sem compreender. Então, como se tivesse<br />

sido golpeado, sorriu ao mesmo tempo que ela. Pôs sua mão detrás de<br />

seu pescoço e a puxou suavemente para ele. Gemeu enquanto seus<br />

lábios se encontravam aos de Sarah e de novo a puxou para seu lado.<br />

94


Capítulo Seis<br />

No domingo, novamente, Angel pegou Sarah cedo e tomaram o<br />

café da manhã em um pequeno restaurante fast food. Sentaram-se do<br />

mesmo lado na cabine. Angel se deu por vencido em tentar se conter.<br />

Acariciava-a e beijava em cada oportunidade que surgia. Inclusive<br />

quando chegou sua comida, não pôde tirar suas mãos de cima dela.<br />

Entre mordidas, lhe mordiscava a orelha e lhe dava um beijo<br />

interminável. Sarah protestou sussurrando.<br />

— Tem gente olhando. Angel parecia rir de Sarah, realmente<br />

estava desfrutando mais do que queria admitir. Depois de tomar o café<br />

da manhã, Angel perguntou se havia algum lugar em particular que<br />

queria ir, desejando que ela escolhesse algum lugar que lhe permitisse<br />

desfrutar dela em privado. Mas com pesar, disse que nunca esteve no<br />

Bairro Velho de San Diego e que sabia que era a menos de meia hora<br />

dali dirigindo. Angel franziu o cenho.<br />

— Não quero ir lá.<br />

Sarah fez biquinho provocando um sorriso em Angel.<br />

— Valeria me disse que é uma visita obrigatória.<br />

Fez um movimento com os olhos enquanto punha o último<br />

pedaço de salsicha em sua boca.<br />

95


— Claro que disse. É uma garota que não há outra coisa a fazer<br />

mais do que ir às compras.<br />

— Não está certo, eu li que também há muito de história para ver<br />

— disse rapidamente. — E além disso a comida mexicana é<br />

sensacional.<br />

Angel sorriu e lhe deu um beijo no nariz.<br />

— Está bem, o que queira, mas ao se tratar de comida mexicana,<br />

conheço algo melhor.<br />

Passaram o resto do dia no Bairro Velho. Pegaram um bonde que<br />

os levou aos pontos mais interessantes. O resto do tempo caminharam,<br />

conversaram e riram. A risada de Sarah era contagiosa, e de repente se<br />

deu conta que ele também passou sorrindo e rindo com ela o dia todo.<br />

Para Angel era incrível a maneira que se sentia confortável com ela e<br />

quão rápido isso aconteceu. Quando chegaram à área principal para<br />

compras, Angel tinha algo em mente. Estava procurando algo especial<br />

para Sarah. Queria algo especial que lhe fizesse recordar seu primeiro<br />

encontro.<br />

Entraram em uma das lojas. Angel ficou nos balcões de<br />

exposições dos mostruários, depois de um momento, tudo o que tinha<br />

visto ou estava muito barato ou muito comum.<br />

Foi para onde estava Sarah. Ela via umas tartaruguinhas que<br />

tinham as cabeças móveis. Angel encostou nas cabeças para que se<br />

movesse.<br />

— Você gosta? — Fazendo uma careta.<br />

96


— São lindas.<br />

— Minha irmã tem um montão delas. Desde que suas amigas<br />

souberam que gostava, começaram a comprar mais. Agora, as<br />

coleciona. — Angel riu. — Lembro que uma vez algum idiota levou<br />

para o restaurante uma para ela. Alex, meu irmão lhe quebrou a<br />

cabeça.<br />

Sarah ficou olhando de modo estranho.<br />

— Por que fez isso?<br />

Angel seguia rindo. Pegou duas tartarugas para sua irmã e virou<br />

para Sarah.<br />

— Minha irmã só tinha quinze anos. Não era só muito nova para<br />

ter namorado, o cara tinha dezoito. O que este idiota pensou que ia<br />

acontecer?<br />

Viu quando Sarah enrugou o nariz e enrugou seus olhos.<br />

Começava a adorar todas suas expressões.<br />

— Talvez era só um amigo.<br />

Angel sorriu.<br />

— Até acredito.<br />

— O que quer dizer?<br />

— Quero dizer que não pode haver uma simples amizade entre<br />

garotos e garotas. — Angel seguiu caminhando pelo corredor sem<br />

97


encontrar nada que lhe chamasse a atenção, parou ao ver que Sarah<br />

não se moveu.<br />

— Aconteceu algo?<br />

— Nada. — Caminhou para ele. — Sério? Acredita mesmo<br />

nisso?<br />

— Acredita no quê?<br />

— Que garotos e garotas não podem ser só amigos.<br />

Angel deixou de ver todas as coisas das prateleiras e voltou sua<br />

atenção para Sarah.<br />

— Claro, você não?<br />

— Não. Penso que é possível sim.<br />

— Sério? — Levantou uma sobrancelha. — Tem muitos amigos<br />

homens, Sarah?<br />

Sarah esclareceu sua garganta e voltou a ver os suvenires na<br />

prateleira.<br />

— Não muitos, mas tenho alguns.<br />

— É mesmo? — E aproximando-se por detrás a abraçando pela<br />

cintura. Começou a falar no ouvido. — Vai me dar alguns nomes para<br />

que eu comece a chutar seus traseiros?<br />

Sentiu como Sarah ficou rígida entre seus braços e sorriu.<br />

— Relaxe, só estou brincando.<br />

98


Já teve esta mesma conversa com outras garotas. Todas<br />

pensavam que qualquer garoto que as cumprimentassem ou lhes<br />

enviasse uma mensagem estúpida por telefone era seu amigo. Angel<br />

não se referia a isso. Sabia que isso era discutível. Mas não tinha a<br />

intenção de discutir com Sarah em seu primeiro encontro. Deu um<br />

beijo na sua bochecha e pareceu que ela voltou a animar-se.<br />

Sarah não fez nenhum comentário, em lugar disso pegou dois<br />

brincos. Angel os viu por cima de seu ombro enquanto ela os<br />

examinava. Tinham um aspecto delicado, ficavam pendurados nas<br />

orelhas, não eram pequenos. A pedra que os enfeitava brilhava e era<br />

lisa.<br />

— É uma pérola?<br />

— Parece.<br />

— Você gosta? — E a beijou sobre a têmpora.<br />

— Sim, são lindos. — Levantou-os para vê-los contra a luz e<br />

Angel pegou.<br />

— Vendidos. — Soltou-a e foi direto à caixa pagar. Sarah foi<br />

atrás dele.<br />

— Não Angel, está bem. Não quis dizer...<br />

— São teus agora. — Voltou-se e piscou com um olho.<br />

Ao sair da loja, Angel ajudou. Ela olhou para ele com aquela<br />

pequena ruga em seus olhos.<br />

— Como são?<br />

99


— Perfeitos — disse e a encheu de beijos.<br />

Angel esteve com sua família muitas vezes no Bairro Antigo, mas<br />

nunca passou tão bem como nesta ocasião. Desfrutou de cada minuto.<br />

Lhe ocorreu que não importava aonde fossem ou o que fizessem,<br />

sempre que Sarah estivesse com ele. Inclusive, poderiam ser bons<br />

momentos mesmo se estivessem vendo um filme para garotas.<br />

Estremeceu, não imaginava o que os meninos iam dizer quando<br />

soubessem.<br />

Viu como Sarah se encostava nele. Sua cabeça descansava sobre<br />

seu peito e seu braço a rodeava enquanto sentavam na parte de atrás do<br />

bonde. Nesse momento, realmente, não importava o que ninguém<br />

pensava. Depois de só um fim de semana com ela, sabia que estava<br />

louco de amor. Não havia maneira de esconder. Isto o preocupava um<br />

pouco. Nunca esteve apaixonado, mas agora estava próximo de estar.<br />

Muito perto.<br />

Algo lhe incomodava. Inclusive, todas as risadas, algo seguia lhe<br />

incomodando e seus intentos de bloqueá-lo eram em vão. Estarei aqui só<br />

por um semestre. Apertou os olhos e a sustentou com força. Faria ela<br />

mudar de ideia. Tinha que fazer. Desceram do bonde e foram rumo ao<br />

estacionamento para seu carro. Mesmo com tudo o que beliscaram por<br />

aí, Angel tinha fome. Como se lesse sua mente, Sarah apertou sua mão.<br />

— Estou morrendo de fome. — Disse. Virou para olhá-lo.<br />

— Quer comida mexicana? — Perguntou. Sorriu amplamente e<br />

assentiu com a cabeça.<br />

***<br />

100


Estacionaram em uma pequena rua pitoresca, muito perto da<br />

avenida principal. O letreiro do restaurante dizia MORENOS'S. Sentiu<br />

que o estômago revirava e se perguntou se seus pais e irmãos estariam<br />

lá. No que estava pensando? Isto era muito cedo. Não estava preparada<br />

para isto, mas não queria ferir seus sentimentos.<br />

Segurou-a pela mão conforme entravam em restaurante. Era<br />

muito maior do que parecia de fora. Angel fez parecer como algo<br />

insignificante, mas ela sabia de antemão como era. Valéria falou sobre<br />

isto e havia lhe dito que era um restaurante muito agradável. Ainda<br />

com o que Valéria lhe havia dito, não estava preparada para isto.<br />

Era algo, menos insignificante. Imediatamente chamaram a<br />

atenção os tetos altos e os enormes candelabros redondos de metal, os<br />

quais tinham pequenas luzes vermelhas por todos os lados. Havia uns<br />

arcos espetaculares por todos lados e estavam decoradas como se<br />

fossem antigas e em algumas seções podiam ver tijolos aparecendo no<br />

muro, como as casas antigas que tinham visto no Bairro Antigo.<br />

A anfitriã na entrada, uma garota jovem e bonita com grandes<br />

cílios e olhos cor café, estava ocupada falando com um dos garçons<br />

quando eles entraram. Seu uniforme ajustava à perfeição deixando<br />

ressaltar seu volumoso busto. Seu cabelo escuro estava arrumado em<br />

uma trança e Angel brincou com ela, fazendo com que o cabelo na<br />

nuca de Sarah arrepiasse. A garota olhou para Angel e sorriu. Logo,<br />

sua atenção se centrou em Sarah, olhando com curiosidade.<br />

Sarah tratou de soltar a mão de Angel, mas ele apertou um pouco<br />

mais. O ciúme eram algo novo para Sarah e não gostou absolutamente.<br />

1<strong>01</strong>


Se isto era tudo o que necessitava para que ficasse vermelha, estava<br />

perguntando no que estava se metendo. Tragou saliva forçadamente e<br />

tratou de não franzir o cenho.<br />

— Quem está aqui? — Perguntou Angel à garota.<br />

— Só Alex. Mamãe e papai se foram faz meia hora. — A garota<br />

voltou a dar atenção a Sarah. — Vão comer aqui?<br />

Angel assentiu com a cabeça e virou para Sarah.<br />

— Sofie, esta é Sarah. Sarah, está é Sofie, minha irmãzinha<br />

menor, a bebê.<br />

Sua irmã fez um rolar de olhos e estendeu sua mão para<br />

cumprimentar Sarah.<br />

— Sofia — disse corrigindo — e não sou nenhum bebê, Angel.<br />

Gostei de te conhecer, Sarah.<br />

Aliviada, Sarah exalou. Pegou a mão da Sofia sorrindo.<br />

— Gostei de te conhecer também.<br />

Estava certo, pensou Sarah. Sua irmã não parecia um bebê. De<br />

fato, se tivesse que adivinhar, tinha pensado que Sofia era tão grande<br />

quanto ela se não fosse mais. Sofia era mais alta que ela e com muito<br />

mais curva também.<br />

Angel ignorou o comentário de Sofia e agarrou um menu. Dirigiu<br />

Sarah a uma das mesas.<br />

102


— Vou fazer eu mesmo nosso pedido, assim não há necessidade<br />

de que envie ninguém.<br />

Este salão era muito grande. Ao ver tudo, Sarah ficou<br />

impressionada. Nas paredes estavam quadros de arte mexicana de cores<br />

vivas de muito bom gosto. As prateleiras estavam adornadas com<br />

estatuetas de argila, iguais às que tinham visto no Bairro Velho. Através<br />

de um dos arcos, Sarah podia ver outro dos salões e se deu conta de que<br />

a música que escutou quando entravam provinha de um trio de músicos<br />

cantando ao vivo. Esticou o pescoço para poder ver melhor. Havia um<br />

homem baixinho tocando o acordeão, um mais alto tocando cielo e<br />

outro mais gordinho era o cantor e tocava o violão. Todos usavam<br />

chapéus grosseiros e tinham grossos bigodes. Agora entendia porque<br />

Angel não queria ir ao Bairro Velho. Para que? Se tinha tudo aqui.<br />

Angel a levou a um dos reservados mais privados perto da parte<br />

posterior do restaurante.<br />

— Dê uma olhada. — Passou o menu e lhe deu um beijo. — Vou<br />

buscar nossa bebida.<br />

Os olhos do Sarah saltavam de prato em prato no menu. Morria<br />

de fome e tudo parecia bom. Leu tudo o que acompanhava cada prato e<br />

se perguntava se ficaria satisfeita. Tentava decidir entre pimentas verdes<br />

e o burrito com molho, quando escutou vozes de homem que se<br />

dirigiam para ela. Levantou a vista do menu e viu Angel vir para ela<br />

com alguém que parecia uma versão de Angel mais alto, mais<br />

encorpado e mais amadurecido. Alex. Seu coração começou a pulsar<br />

rapidamente.<br />

103


— Bom, esta é a primeira — disse Alex quando esteve o<br />

suficientemente perto. Sorriu maliciosamente, dando uma olhada a<br />

Angel e logo a Sarah.<br />

— Não é da sua conta. — Angel colocou as batatas fritas e salsas<br />

diante dela, derramando sem querer um pouco de molho. Alex sentou<br />

no assento frente a ela, franzindo o cenho ao ver o molho derramado.<br />

— Por isso não lhe deixam trabalhar de garçom por aqui. —<br />

Quando seu olhar cruzou com o do Sarah, sua irritação diminuiu.<br />

— São de verdade? — Angel riu e os apresentou.<br />

— Alex, esta é Sarah. Sarah, este é meu irmão Alex e ele não vai<br />

ficar por aqui.<br />

Pôs sua mão sobre a dela na mesa.<br />

— Prazer em conhece-la, Sarah.<br />

mão.<br />

Sarah tragou saliva, sustentando fortemente o menu com a outra<br />

— Prazer em te conhecer também.<br />

Angel pegou um guardanapo e limpou a mesa aonde tinha<br />

derramado o molho.<br />

— Já sabe o que quer, ou precisa de mais tempo? — Perguntou a<br />

Sarah. Sarah só podia se concentrar nas mãos de Alex sobre a dela.<br />

— Uh, as apimentadas são boas?<br />

Alex apertou sua mão e sorriu.<br />

104


— Tudo aqui é delicioso.<br />

Sarah ficou com vergonha, sentindo suas bochechas arderem<br />

conforme Angel lançava o guardanapo amassado em Alex e riu.<br />

— Para. É um idiota.<br />

Alex não podia parar de olhar para Sarah, mas deixou de pegar<br />

sua mão.<br />

isso?<br />

— Sim. — Angel voltou a ver Sarah. — São muito boas, quer<br />

Ela assentiu com a cabeça e lhe entregou o menu.<br />

— Está bem. Me deixe fazer o pedido. Agorinha eu retorno. E<br />

não se preocupe, ele irá assim que eu voltar.<br />

— Acredito que é você o que está preocupado — disse Alex<br />

sorrindo.<br />

Angel se afastou.<br />

— Que seja — disse sem olhar para trás. — E tire as mãos de<br />

cima.<br />

Alex pôs suas duas mãos no ar, sorrindo. Voltou a sentar e<br />

cruzou os braços, a analisando.<br />

Sarah não podia acreditar o quão parecido era ele e Angel, exceto<br />

que Alex era mais corpulento, mais musculoso de algum jeito. Mas não<br />

pesado, só mais encorpado e seu pescoço era grosso. Também tinha<br />

105


essas covinhas incríveis de Angel. Com ele sorrindo assim, tão perfeito,<br />

era difícil acreditar que fosse tão rabugento, conforme tinha escutado.<br />

Sua atenção deixou Sarah nervosa.<br />

— Não sabia que Angel tinha uma garota. Sabia que tinha<br />

irmãos?<br />

— Sim, sim sabia. Mas devo admitir que embora nunca tinha te<br />

visto, escutei muito sobre você.<br />

— De verdade? — Disse. — Bom, não acredite em nenhuma só<br />

palavra de Angel. Ele está com ciúmes.<br />

Sarah riu.<br />

— De fato, Angel não me disse nada. Foi minha prima que me<br />

contou tudo. Valéria ia me matar.<br />

— Sua prima?<br />

— Sim, acredito que posso dizer que é uma de suas maiores<br />

admiradoras. — Sarah sorriu.<br />

Alex se aproximou de Sarah um pouco mais.<br />

— Está bem, tenho que conhecê-la. Como se chama sua prima?<br />

— Valéria Zuniga — disse. — Ela está no último ano da escola<br />

preparatória em La Jolla, igual a mim.<br />

Sarah o olhava enquanto ele se concentrava.<br />

— Valéria Zuniga? Como é ela?<br />

106


— Baixa — riu Sarah. — De fato é muito baixa. Sendo tão alto,<br />

aposto que já passou centenas de vezes perto de você e certamente nem<br />

a viu. Talvez por isso não lembra.<br />

— Talvez. Então sua pequena prima Valéria é uma de minhas<br />

admiradoras, né? Tem os olhos como os teus?<br />

Sarah sentiu voltar a ruborizar.<br />

— Não, de fato não é minha prima de sangue. Minha tia se casou<br />

com o pai da Valéria. Assim, não se parece em nada comigo. Seu<br />

cabelo é loiro e curto e tem olhos cor café.<br />

— Hmmm. Uma loira? Bom, se eu não lembro, o que é o que<br />

pode ter falado de mim?<br />

Oh não. Sarah não pensou que a conversa fosse tão longe. Não<br />

podia dizer que Valéria o adorava. E se eles se encontrassem em<br />

qualquer outra ocasião? Clareou sua garganta.<br />

— Oh, nada de mais foi dito, apenas que é um bom jogador de<br />

futebol americano e coisas como essa.<br />

— Está me deixando curioso, Sarah — e sorriu. — Disse que<br />

tinha ouvido um montão de coisas. Agora, solta tudo.<br />

Os olhos do Sarah ficaram enormes.<br />

— Bom, é conversa de garotas. Não posso te contar isso. Ela me<br />

mataria.<br />

Recompôs-se e se interessou ainda mais pela conversa.<br />

107


— Como, conversa de garotas, né?<br />

— Nem pensar! — Sarah riu nervosa. Onde estava Angel? Alex<br />

estava jogando com ela agora e ela poderia dizer que gostava, adorava<br />

vê-la como estremecia.<br />

— Está bem, só uma coisa. Não pode me deixar assim. Você<br />

quem trouxe esta conversa. — Isso era certo e queria dar uma tapa em<br />

si mesma por ter feito. Suspirou sentindo-se derrotada.<br />

— Está bem, só uma coisa e depois o esquecemos, ok? — Tratou<br />

de soar firme.<br />

— Sim senhorita. — Seus lábios se elevaram fazendo com que<br />

suas covinhas se acentuassem ainda mais. Como era possível que não<br />

soubesse o que as garotas diziam dele?<br />

— Me disse muitas vezes que... Bom, você sabe... quão bonito é e<br />

quão popular foi na escola. Ok? Não vou entrar em detalhes, assim,<br />

não insista.<br />

Alex riu.<br />

— Está bem, é justo, mas agora vai ter que trazê-la um dia destes,<br />

para que posso vê-la.<br />

— Está bem. Talvez um destes dias. — De alguma forma, ela<br />

duvidava que Valéria quisesse isso. Mudou de conversa. — Pensei que<br />

estava estudando longe.<br />

Negou com a cabeça.<br />

108


— Estou estudando, mas não estou longe. Vou a UC San Diego.<br />

Quero estar perto, para poder ajudar com o restaurante. Aos domingos<br />

não há aulas nem treinos.<br />

Alex olhou sobre o ombro de Sarah e seu sorriso mudou,<br />

acentuando muito mais suas grandes covinhas. Pegou a mão e a beijou.<br />

Sarah se esticou.<br />

— Chegou tarde — disse. — Nós vamos casar.<br />

— Saia daqui — escutou Angel dizer enquanto se aproximava<br />

detrás dela. Voltou para ver que Angel se aproximava. Seus olhares se<br />

encontraram e lhe mandou um beijo no ar fazendo com que seu<br />

coração parasse. Tinham passado todo o fim de semana juntos e ainda<br />

não se saciava dele.<br />

— Sim, mais vá — disse Angel.<br />

Alex bagunçou o cabelo a Angel.<br />

— Está com sorte, tenho trabalho. — Sorriu para Sarah. — Foi<br />

um prazer te conhecer, Sarah.<br />

Angel lhe deu um empurrão, jogando ele de lado.<br />

— Sai daqui, mano.<br />

Bem quando Alex se afastava, Sofia apareceu no salão.<br />

— A comida já está preparada, Angel.<br />

Alex pareceu surpreso.<br />

— Ainda está por aqui Sofie?<br />

109


— Sim, há gente esperando e Julie não chegou.<br />

— Quem vai te levar para casa?<br />

Sofia deu de ombros.<br />

— Pensei que fosse você.<br />

— Querida, não posso ir. Estou fazendo a lista de nomes desta<br />

semana. — Os dois voltaram para ver Angel.<br />

Angel deixou cair os ombros e olhou ao céu.<br />

— Eu a levo — disse. — Mas primeiro quero comer.<br />

Inclinou-se e deu um beijo em Sarah antes de ir pegar a comida.<br />

Comeram e como já era usual, Angel foi incapaz de tirar as mãos e<br />

lábios de cima de Sarah. Quando terminaram, ficaram sentados<br />

sentindo satisfeitos.<br />

— Por Deus, como estava com fome. — Sarah olhou seu prato<br />

vazio.<br />

Angel tinha comido o maior burrito do menu. Era<br />

suficientemente grande para alimentar duas pessoas. Inclinou sua<br />

cabeça sobre Sarah.<br />

— Acho que comi muito.<br />

— Acha? Seu prato parecia gasto de tão limpo que ficou. — Ela<br />

começou a rir. — De nenhuma forma podia comer nem sequer a<br />

metade disso.<br />

Angel gemeu.<br />

110


— Não é gracioso.<br />

Sarah deu uma olhada no restaurante.<br />

— Acredito que devemos ir — disse. — Sua pobre irmã está nos<br />

esperando todo este tempo.<br />

Angel se levantou e empilhou os pratos, mas chegou um dos<br />

ajudantes de garçom.<br />

— Já peguei, Angel.<br />

— Eu posso levá-los, Ernie — disse Angel.<br />

— Não, não, eu os levo. — Insistiu Ernie e rapidamente<br />

empilhou tudo em cima do prato de Angel.<br />

— Obrigado, homem. — Angel pegou Sarah pela mão.<br />

Caminharam para a porta do escritório e Angel gritou.<br />

— Já vamos, Alex.<br />

— Está bem — gritou Alex de volta. — Leve a Sofia, certo?<br />

— Sim, eu a levo.<br />

— Perfeito — disse Alex. — Adiossss Sarah.<br />

— Adiossss Alex. — Sarah riu. Todos escutaram Alex rir.<br />

Angel sacudiu a cabeça.<br />

— Não lhe dê corda.<br />

111


112


Capítulo Sete<br />

No caminho do restaurante para a casa, as duas garotas<br />

imediatamente se deram muito bem. Ambas adoravam correr. Sofia<br />

estava na equipe de atletismo e Sarah tinha começado a correr no nono<br />

ano. Sarah desejava que Sofia não lhe perguntasse por que se mudou<br />

para cá. Felizmente não o fez. Estava mais interessada em saber por<br />

que não esteve na pista em La Jolla.<br />

— Não é muito tarde, sabe? — Disse Sofia. — As reuniões não<br />

vão acontecer até o semestre que vem. Já fez corrida de revezamento?<br />

Porque a garota que corria conosco no revezamento era muito boa, mas<br />

já se graduou. Por isso estamos procurando alguém que a substitua,<br />

mas não encontramos ninguém que corresse tão rápido quanto ela.<br />

Sarah sabia que ela era rápida. Tinha ficado em quarto na corrida<br />

de revezamento de 400 e 1600 metros lá em casa e ganhou muitas<br />

vezes, algumas, vindo desde atrás. Doía na verdade, pensar que não<br />

estava lá treinando com suas antigas companheiras de equipe. Nem<br />

sequer pôde despedir-se de ninguém para não ter que responder a<br />

nenhuma das inevitáveis perguntas. Em lugar disso, pediu a Sydney<br />

que o falasse o básico, só dizendo que se mudou para outro lugar<br />

durante o verão. Já pensaria no que diria quando retornasse.<br />

— Cheguei a correr alguns revezamentos na equipe onde eu<br />

vivia.<br />

113


— Aí Deus. — Sofia se sentou na borda de seu assento. — É<br />

rápida?<br />

Angel virou para ela. Ficou de mão dada em todo o caminho.<br />

— Sim, a verdade é que sou muito rápida.<br />

— Vem conhecer a equipe, Sarah. Ver o que pensa. E, oh...—<br />

Sofia olhou para Angel e logo para Sarah. — O treinador Rudy está de<br />

volta.<br />

Voltou a repetir no caso de Sarah não ter entendido o que quis<br />

dizer.<br />

— É um pervertido — disse Angel soprando.<br />

— Não o é! Só são rumores.<br />

Isso provocou a curiosidade no Sarah.<br />

— Que rumores?<br />

— É jovem e ardente. No ano anterior foi seu primeiro ano como<br />

professor. — Sofia fez um gesto.<br />

— Por isso as estúpidas garotas passam paquerando o tempo<br />

todo. De qualquer forma, disseram que provavelmente estava saindo<br />

com algumas das garotas mais velhas, fora da escola. Se fizesse, não<br />

pode ter mais de vinte e três anos. Não é tão velho.<br />

As sobrancelhas de Sarah arquearam e Angel dirigiu a Sofia um<br />

olhar de desgosto.<br />

— Já te adverti a respeito dele.<br />

114


— Sim, sim, Angel, já sei. — Sofia voltou para Sarah fazendo um<br />

rolar de olhos.<br />

— Não posso estar a sós com ele, pode acreditar nisso? De<br />

qualquer forma vem correr conosco, Sarah. O treinador Rudy ficará<br />

muito emocionado.<br />

— Mas não estarei aqui para o semestre que vem.<br />

Angel apertou a mão de Sarah e seus olhares se cruzaram. Angel<br />

centrou sua atenção no caminho. Pôde ver como seu queixo esticou e<br />

sua expressão se tornou séria. Deu a volta em uma entrada de carros<br />

ampla e circular.<br />

A casa era impressionante, muito maior que a de sua tia e isso,<br />

porque sempre pensou que a casa de sua tia era grande. Bom,<br />

comparado com o departamento de uma casa aonde ela e sua mãe<br />

viveram, era grande. Mas esta era enorme. Olhou pela janela conforme<br />

se aproximavam da entrada principal e pararam. Tinha uma entrada<br />

elegante com uma porta enorme.<br />

— Por que? — Gemeu Sofia.<br />

— Contarei isso em outra ocasião — Respondeu Sarah, olhandoa.<br />

Sofia franziu o cenho e abriu a porta de atrás.<br />

— Diga a minha mãe que retornarei mais tarde — disse Angel.<br />

Sofia desceu do carro e chegou até a janela de Sarah.<br />

115


— Por favor, me diga que não era a quarta no revezamento, já<br />

que isso é o que realmente necessitamos.<br />

A culpa era muito grande.<br />

— Sim, sim era.<br />

— Uh — disse Sofia desanimada. — Pelo menos poderá praticar<br />

conosco um destes dias.<br />

— Claro, sim posso fazer isso. De qualquer forma, deveria estar<br />

treinando. Para quando retornar à equipe de minha escola anterior.<br />

— Bem. — Sofia sorriu. — Falarei com meu treinador e te direi<br />

quando.<br />

— Certo.<br />

Sofia agradeceu a Angel que a levasse e entrou à casa. Sorrindo,<br />

Sarah virou para ver Angel. Sua expressão era tão dura que seu sorriso<br />

desapareceu imediatamente.<br />

— Precisamos conversar. — Saiu da entrada de carros.<br />

***<br />

Dirigiram até onde a tinha levado na noite da festa. Angel podia<br />

sentir uma dor de cabeça e sentia o estômago um pouco enjoado. Que<br />

droga Sarah estava fazendo com ele?<br />

116


À exceção de quando perguntou se estava bem, ao que o<br />

simplesmente lhe respondeu “Não”, todo o trajeto foi em silêncio.<br />

Mesmo assim, seguiu firmemente segurando a mão de Sarah na sua.<br />

Estacionou o carro em frente ao escarpado onde tinham uma vista<br />

extraordinária do pôr-do-sol. Mas Angel não estava interessado nisso.<br />

Nem sequer esperou para sair do carro. Assim que desligou o motor,<br />

encostou contra a porta e a olhou. O olhar de angústia no rosto de<br />

Sarah fez com que suas palavras fossem mais suaves do que a princípio<br />

Angel queria que fossem.<br />

— Não entendo qual é sua pressa em retornar ao Arizona, Sarah.<br />

— Sem esperar que respondesse, adicionou. — É tão ruim aqui? Sei<br />

que sua amiga está esperando, mas sua mãe vai estar te esperando?<br />

Angel viu a dor no rosto de Sarah e quebrou seu coração.<br />

Imediatamente se sentiu como um idiota. Merda. Quem droga era ele<br />

para intrometer-se assim na vida de Sarah? Apenas a conhecia por um<br />

fim de semana e esses planos, ela os tinha feito muito tempo antes dele.<br />

— Sinto muito, Sarah. — Beijou sua mão.<br />

Angel viu as lágrimas em seus grandes olhos e sentiu vontade de<br />

bater em si mesmo. Sua expressão dolorosa na verdade lhe espremeu as<br />

vísceras. Maldita seja. Como pôde ser tão estúpido? Pelo que sabia, sua<br />

mãe poderia estar em um hospital em qualquer lugar. Inclinou-se e<br />

amavelmente a abraçou, beijando sua cabeça.<br />

a...<br />

— Meu Deus, Sarah, sinto muito — disse. — Não tinha direito<br />

Ela negou com a cabeça antes que ele pudesse continuar.<br />

117


— Está bem — disse. — Não é sua culpa. Você não sabia.<br />

— Saber o quê? Então, me diga — disse e rapidamente<br />

adicionou: — Não tem. Não tem que dizer se não quiser.<br />

Tinha-a pressionado muito. Ele queria ser seu apoio, fazer com<br />

que sua dor fosse embora. Tinha que deixar de pressioná-la tanto.<br />

— Não é que eu não queira — disse. — É que é tudo tão<br />

doloroso. — Adicionando em um apressado suspiro — vergonhoso.<br />

— O quê? — Angel levantou amavelmente o queixo. — Sarah,<br />

não há nada que possa me dizer que me faça sentir algo diferente por<br />

você. — E dizia na real. Tinha a sensação de que fosse o que fosse, não<br />

era algo que Sarah fez. Não poderia imaginá-la fazendo algo<br />

vergonhoso.<br />

Abriu o porta-luvas, tirou um lenço e a deu. Sarah pegou e<br />

limpou suas lágrimas.<br />

— Podemos descer?<br />

Angel tirou as chaves da ignição e desceu do carro. Rapidamente<br />

deu a volta, para encontrá-la no momento em que ela descia. Abraçou<br />

com força, querendo que ela sentisse o quanto sentia pena.<br />

— Na verdade sinto muito.<br />

— Não tem por que — disse. — Não fez nada errado.<br />

— Sou um imbecil.<br />

— Não, não é — e começou a rir.<br />

118


Sarah fechou a porta e caminharam para o lugar aonde estiveram<br />

nessa primeira noite. Sarah agarrou o corrimão e ele parou atrás dela<br />

com seus braços rodando sua cintura. Conforme olhavam para o mar,<br />

Angel sentiu quando Sarah respirou profundamente.<br />

— Minha mamãe está presa.<br />

Ele ficou totalmente quieto. A última coisa que queria era que<br />

Sarah pensasse que ele ia julgá-la. Estava determinado a não<br />

interrompê-la e deixá-la dizer o que quisesse e somente o que ela queria<br />

dizer.<br />

Ela ficou de frente para Angel. Ele sentiu como se seu coração<br />

afundasse ao ver seus olhos cheios de lágrimas.<br />

— Minha mãe é uma boa pessoa.<br />

— Querida, não tem que me convencer. — Limpou uma lágrima<br />

que rodava pela bochecha.<br />

Ele a abraçou e a sustentou com muita força, depois de abraçá-lo<br />

por uns minutos, ela se afastou e o olhou diretamente nos olhos.<br />

— As coisas não foram fáceis para nós, Angel — disse. —<br />

Sempre fomos somente as duas. Não tínhamos ninguém. Meus avós<br />

completamente não existiam, brigaram com minha mamãe quando<br />

ficou grávida de mim. Só tinha dezessete anos quando eu nasci e nunca<br />

conheci meu pai.<br />

Angel aguentou cada palavra. Quebrou seu coração vê-la como<br />

estava confrontando tudo, negando-se a deixar cair em pedaços.<br />

119


— Com o tempo comecei a pedir coisas — sua voz estava cheia<br />

de desgosto — coisas que ela não podia me dar: sapatos caros para<br />

correr, roupas, um iPod. Fui egoísta. Tudo o que pedia, me dava e<br />

nunca perguntei como, dentro de mim sabia que ela não podia ter esses<br />

gastos, mas não me importei. — Fez uma pausa para tomar ar e limpar<br />

seu nariz. — Então, um dia, ela se sentou comigo e lamentou. Ela disse<br />

que tinha feito algo errado. Ainda não entendo como foi tudo, mas<br />

pegou o dinheiro de seu patrão. Vinha fazendo há anos. Peculato é o<br />

que eles disseram no julgamento. Ela agora está cumprindo uma<br />

sentença de três anos de prisão e é inteiramente culpa minha.<br />

Ela caiu e chorou baixinho. Angel a segurou com força, sentindo<br />

um nó na garganta.<br />

— Não é culpa sua — sussurrou freneticamente em seu ouvido<br />

quando ele a beijou novamente e novamente. Eles caminharam até um<br />

banco onde pode sentar com Sarah em seu colo.<br />

Ela se sentou erguida, tratando de compor-se e o olhou.<br />

— Está num centro penitenciário de segurança mínima em<br />

Flagstaff. —Levantou os dedos para enfatizar suas palavras de forma<br />

sarcástica.<br />

Angel ficou olhando sem poder fazer nada, pegou sua mão<br />

novamente dentro da sua e apertou-a.<br />

— Não quer que eu vá visita-la — continuou — não quer que a<br />

veja assim, nunca. Mas não há nenhum jeito de passarem três anos sem<br />

que eu a veja. Meus planos são de ir visita-la, sem importar o que ela<br />

diga.<br />

120


— Pode te ligar?<br />

Sarah assentiu.<br />

— Sim, me liga a cada semana e escrevemos o tempo todo, mas<br />

não é suficiente.<br />

— Sarah — tentou soar otimista. — A pessoa raramente cumpre<br />

sua condenação, especialmente quando o delito não foi de violência.<br />

Provavelmente saia antes de três anos.<br />

— Isso foi o que disse o advogado. Mas acaba de começar, assim,<br />

se tiver sorte, estará presa um ano e meio.<br />

Angel a embalou, beijando na testa. Sarah endireitou seu ombro.<br />

— O problema, Angel, é que conforme crescia, nos mudávamos<br />

muito. Não sei porque, mas a maioria dos trabalhos que conseguia não<br />

duravam. Cada vez que conseguia um novo, era hora de mudar. Às<br />

vezes, sabia que ia ser uma estadia curta e nem sequer alugávamos um<br />

apartamento. Ficávamos em um hotel por uns meses.<br />

“Até que fiz nove anos, tínhamos mudado tanto que já tinha<br />

frequentado doze escolas diferentes, muitas vezes nos mudávamos até<br />

duas vezes no ano. Tinha decidido não voltar a fazer amigos e inclusive<br />

nem desempacotava. Passado mais de um ano depois de haver mudado<br />

para Flagstaff quando permiti desempacotar totalmente minhas coisas.<br />

— Foi onde conheceu Sydney? — Angel sentiu quando ela se<br />

esticou e endireitou um pouco.<br />

121


— Sim — disse rapidamente. — Mas o mais importante é que<br />

ficamos lá por oito anos. Não é a grande coisa para muitos, mas para<br />

mim foi tudo. Finalmente estava em casa. E para terminar a escola.<br />

Quando empacotei minhas coisas, retornaram as lembranças dolorosas<br />

de quando era criança. Graças a Deus pela Valéria. Não poderia<br />

sobreviver a uma nova escola outra vez.<br />

Sua expressão se tornou afetuosa.<br />

— Não é que aqui seja tão mau, Angel. É que levou muito tempo<br />

sentir que pertencia a algum lugar. Só sinto que preciso voltar.<br />

Necessito. Esse é meu lar.<br />

Angel a beijou com doçura.<br />

— Sarah, não me deve nenhuma explicação. De fato não tinha<br />

direito de te questionar.<br />

Sentia repulsa por si mesmo. Depois de tudo o que Sarah tinha<br />

passado, estava aqui sentada com ela, tentando se fazer entender. Ela<br />

poderia voltar para o Arizona se quisesse. Devia. Embora não gostasse<br />

de pensar que ela estaria tão longe, merecia ser feliz. Droga, se fosse<br />

necessário, dirigiria todos os fins de semana até lá.<br />

***<br />

Sarah não poderia acreditar na incrível mescla de emoções que<br />

teve no fim de semana. O passeio na montanha russa tinha terminado,<br />

mas seu estômago ainda sentia os efeitos.<br />

122


Todo fim de semana manteve Sydney a par de tudo o que estava<br />

acontecendo. Quando contou o que tinha acontecido hoje, primeiro<br />

não acreditou, mas Sarah defendeu Angel ardentemente. Sydney riu,<br />

perturbando-a, se não a conhecesse tanto, diria que estava apaixonada.<br />

Sarah ficou com a sensação de que Sydney estava contente por<br />

ter contado a alguém sobre sua mamãe. Ela se sentia culpada pela<br />

quantidade de coisas que lhe tinha contado, mas sempre esteve ali para<br />

lhe ajudar a superar. Ainda não tinha lhe contado que Angel pensava<br />

que ele era mulher. Não sabia por que, mas de algum modo pensou que<br />

se sentiria ofendido, traído, já que ela estava negando sua amizade.<br />

Deu uma olhada ao relógio. Eram as 10:30 da noite. Ia sair de<br />

seu quarto para escovar os dentes, quando escutou seu telefone tocar.<br />

Seu rosto se iluminou ao ver que era Angel. Respondeu com um<br />

sorriso.<br />

— Olá Angel.<br />

— Ouça. — Sua voz tinha um timbre de pesar. — Desculpa ter te<br />

ligado tão tarde. Não pude deixar de pensar em ti. Só queria saber se<br />

está bem. Até me sinto um imbecil por hoje.<br />

— Não, não deve. — Agarrou com força o telefone. — De fato,<br />

agora que te contei, me sinto muito melhor.<br />

— Isso é bom — disse. — Porque quero que saiba que pode<br />

contar comigo.<br />

O coração do Sarah se apertou. Ela sabia que já deveria ter<br />

contado sobre Sydney, mas na realidade estava começando a perguntar<br />

123


se isso era algo que ele devia saber. Valéria estava certa, os meninos<br />

marcavam seu território e claramente Angel não era exceção. Estava<br />

certa, especialmente depois de escutar o que pensava a respeito da<br />

amizade entre garotos e garotas, que não entenderia sua relação com<br />

Sydney.<br />

Pensou consigo mesma que, de qualquer forma, provavelmente,<br />

nunca teria a oportunidade de conhecer Syd. Estava decidida a manter<br />

ao mínimo o tema do Syd. Entretanto, não podia evitar sentir que<br />

estava enganando-o.<br />

Parou de pensar em Sydney um pouco. Havia outras coisas que<br />

precisava esclarecer com Angel.<br />

— Ouça Angel. — Sentou-se em sua cama. — Que bom que me<br />

ligou. Com toda esta conversa a respeito de minha mãe, esqueci por<br />

completo de falar contigo a respeito de amanhã.<br />

— O que acontecerá amanhã?<br />

— Bom, já sei que há algo entre nós agora, mas não quero que<br />

isso mude as coisas na escola.<br />

Angel ficou em silêncio por um momento, mas ela escutou a<br />

mudança inconfundível em sua voz quando começou a falar de novo.<br />

— Não quer que ninguém na escola saiba que estas juntos?<br />

— Não. — Ficou surpresa de que pudesse pensar isso. — O que<br />

não quero é que mude o que faz normalmente na escola, por mim. É<br />

próximo de seus amigos. Estou certa de que teremos muito tempo para<br />

passar juntos depois da escola e nos fins de semana. Não há<br />

124


necessidade de que eu me intrometa no tempo que passa com seus<br />

amigos na escola.<br />

Ela esperava que Angel a compreendesse. A última coisa que<br />

queria era sufocá-lo. Depois de tudo, esta era sua escola, seus amigos e<br />

ela era a forasteira.<br />

A verdade era que ela não sabia como ia reagir a isso. Todos<br />

sabiam como as garotas, especialmente Dana, comportavam-se ao<br />

redor dele. E só de pensar que tivesse que ver alguém enrolada em seus<br />

braços a fazia tremer.<br />

— Ouça — disse. — Não tenho nenhum problema em reagir da<br />

mesma forma, enquanto saia com suas amigas e eu com meus. Mas em<br />

caso de dúvida, não estava planejando manter a gente em segredo.<br />

Sarah sentiu como o pulso acelerava. Pela primeira vez, se deu<br />

conta do que acontecia. Isto estava acontecendo e nada menos do que<br />

com Angel Moreno.<br />

— Oh, isso eu sei — disse. — Não foi o que quis dizer. Eu só não<br />

quero te sufocar, Angel. Quero que tenha seu espaço.<br />

— Sarah, você não me sufoca — disse. — Se alguém deve cuidar<br />

de não te sufocar sou eu. Se não notou, simplesmente não há modo de<br />

me encher de você.<br />

Suas palavras causaram calafrios que percorreram sua espinha<br />

dorsal de cima abaixo. Ela se sentia exatamente da mesma forma, mas<br />

Angel não parecia assustado. Ela, pelo contrário, estava aterrorizada.<br />

125


Este tipo de felicidade não era habitual em seu mundo. Não estava<br />

acostumada e de certa forma se sentia culpada por sentir assim, feliz.<br />

— Pare de dizer coisas como essa.<br />

— Por que? — A voz de Angel soou séria. — Digo o que sinto e<br />

quero que faça o mesmo. Não quero que esconda nada.<br />

— Ok. — Adorava a forma que ele a fazia se sentir desinibida. —<br />

Posso te dizer o que estou sentindo agora?<br />

— É obvio.<br />

Mordeu o lábio inferior.<br />

— Queria poder me arrastar pelo telefone e beijar todo seu corpo.<br />

Escutou-o gemer.<br />

— Isso não vale. Está bem, esclareçamos algo. Coisas como essas<br />

só pode dizer quando estiver na minha frente. Que droga, como acha<br />

que vou dormir hoje?<br />

Sarah riu.<br />

— Doces sonhos, Angel.<br />

— A sim, claro, agora já sabe o que vou sonhar.<br />

— Sinto muito — disse rindo — prometo que vou te compensar.<br />

Gemeu novamente.<br />

126


— Sarah, querida, sei o que tenta me dizer, mas isso não me<br />

ajuda neste momento.<br />

Sarah se forçou para não rir, lembrando que não devia fazer<br />

promessas que não poderia cumprir. Ela sabia de primeira mão o quão<br />

difícil e quase doloroso que era para ele conter-se. Não é que ela tivesse<br />

dúvida de que ele o faria, mas era cruel perturbá-lo dessa forma. Ficou<br />

olhando um momento o telefone uma vez que tinham desligado e se<br />

perguntou como faria para poder dormir esta noite.<br />

127


Capítulo Oito<br />

Fiel a sua palavra, Angel não manteve sua relação em segredo.<br />

Assim que ele a viu na segunda pela manhã em seu armário, ele foi em<br />

direção a ela. Ficou atrás de Sarah e a abraçou pondo os braços ao<br />

redor de sua cintura e a beijou no pescoço.<br />

O resto do dia foi mais ou menos igual. Em qualquer momento<br />

que ela estava perto, ele a abraçava incapaz de manter seus braços ou<br />

sua boca longe dela.<br />

Ela o apresentou a algumas de suas amigas e inclusive chegou a<br />

conhecer o Freddie, um de seus amigos, que tinha seu armário abaixo<br />

do dela. Só que ir caminhando enquanto ela ria com Freddie, fez com<br />

que Angel ficasse com ciúme. Ele mencionou que seu armário estava<br />

mais perto da sala de aula regular, mas ela não entendeu.<br />

Sem dúvida, eles eram um casal. Houve algumas provocações e<br />

caras embevecidas de uma forma muito descarada por parte de algumas<br />

das garotas que conhecia Angel, mas se Sarah se deu conta, nada<br />

comentou. Angel tinha esperado que ela se sentisse tensa ou<br />

apreensiva, devido ao que lhe tinha comentado na praia sobre seu<br />

medo de se machucar. Mas sua determinação ao longo do dia o tinha<br />

surpreendido e impressionado, tornando-o ainda mais fascinado por<br />

ela.<br />

128


Embora os amigos de Angel se vissem surpreendidos, não<br />

tiveram muito que o dizer. Eric sorriu conscientemente, mas não disse<br />

uma palavra. Ele sabia mais disto. Romero não se lembrava muito<br />

sobre a festa de sexta-feira, de modo que era uma perda total. Depois de<br />

ver Angel várias vezes em cima de Sarah, finalmente falou:<br />

— Porra, você está bem? — Disse ele. — Diga-me quando estiver<br />

pronto para me falar algo.<br />

Eric abafou uma risada e esperou que os trovões e relâmpagos<br />

aparecessem. Mas Angel sabia que seu amigo não tinha nem ideia.<br />

Portanto, só fez uma séria advertência.<br />

— Isto não é assim, cara. Portanto, nem pense. E isso foi tudo.<br />

Ao final do dia, todo mundo tinha percebido. E Angel estava<br />

muito contente.<br />

***<br />

Sarah tinha aceitado o oferecimento de Sofia de ir com ela e<br />

correr com a equipe de atletismo esta semana. Essa quarta-feira, em vez<br />

de correr sozinha depois da escola, se encontrou com Sofia no vestiário<br />

e foi com ela para onde a equipe estava treinando.<br />

Angel lhe advertiu, igual havia feito com Sofia, sobre o treinador:<br />

— Não fique a sós com esse pervertido.<br />

129


Sarah ficou surpresa de quão jovem era o treinador. Se não<br />

houvesse trazido a camisa que dizia treinador, teria confundido com<br />

qualquer um dos meninos mais velhos da escola.<br />

Tinha cara de menino e não concordava com Sofia a respeito dele<br />

não ser bom, entretanto, não entendia por que as garotas se sentiam tão<br />

atraídas por ele. Tinha o corpo musculoso, o que era esperado de um<br />

jovem treinador. Sarah não notou nada de pervertido nele, só que sua<br />

sagacidade era muito atraente e que as garotas passavam rindo ao redor<br />

dele, algo que ele parecia gostar. Dado como Angel era dedicado com<br />

sua irmã, não lhe surpreendeu em nada que fosse tão apreensivo sobre<br />

o treinador. O treino foi bom. A equipe se viu impressionada e Sarah se<br />

sentiu bem com o treinamento. Ela e Sofia estavam indo para o<br />

vestiário quando o treinador reuniu-se com elas.<br />

— Então, a equipe foi boa o suficiente para você? — ele brincou.<br />

Sarah se sentiu lisonjeada. Ela ainda estava sem fôlego após a última<br />

corrida e tomou um segundo para se recuperar.<br />

— Diga que sim, diga sim. — Sophia colocou as mãos como se<br />

estivesse rezando.<br />

— Não posso.<br />

Ela viu a cara de decepção do treinador.<br />

— Porquê?<br />

— Não estarei aqui no próximo semestre. Retorno ao Arizona.<br />

Coçando a sobrancelha, o treinador fez um gesto.<br />

130


— Droga, isso realmente é muito ruim. Realmente podíamos te<br />

utilizar nas substituições. Mas você vai estar aqui todo o semestre,<br />

certo?<br />

Sarah assentiu com a cabeça e se surpreendeu ao sentir um par de<br />

braços fortes ao redor de sua cintura. Angel a beijou na têmpora e se<br />

manteve junto a ela.<br />

— E aí? O que houve?<br />

Eric e Romero estavam ao lado de Sofia observando o treinador.<br />

O treinador sorriu.<br />

— Te esperamos todos os dias depois da classe. — Estendeu-lhe a<br />

mão dizendo: — Bem vinda à equipe.<br />

Sarah apertou sua mão. O treinador se despediu e foi embora.<br />

Angel lhe disse ao ouvido.<br />

— Tinha que te tocar de verdade?<br />

Sarah começou a rir.<br />

– Como você é exagerado!!<br />

Virou-se, mas ele seguia lhe abraçando. A expressão no rosto de<br />

Angel era séria.<br />

— Não está falando sério, verdade?<br />

— Te disse que não confio neste cara, Sarah. E você tampouco<br />

deve fazê-lo.<br />

131


Sarah não pôde deixar de sorrir. Nunca tinha conhecido ninguém<br />

tão veemente. Mas sua expressão se suavizou rapidamente, beijou-a e<br />

depois se encaminharam seguindo Sofia e os meninos que já tinham<br />

chegado aos vestiários.<br />

— Ele parece amigável — disse Sarah.<br />

Angel apertou sua mão e gemeu.<br />

— Você pode confiar em mim? Tenho ouvido muitas histórias<br />

sobre isto.<br />

— Está bem, está bem. — Sarah se inclinou contra ele.<br />

Sarah começou a entender o que Valéria quis dizer sobre quão<br />

intenso era Angel e seus irmãos. Mas lhe agradava. Toda a sua vida foi<br />

apenas ela e sua mãe. Houve muitos momentos em que ter um homem<br />

para protegê-las teria sido muito útil. Assim, ter Angel protegendo-a<br />

não lhe incomodava. Ao contrário, gostava.<br />

***<br />

Depois de algumas semanas, eles haviam entrado em uma rotina<br />

cômoda. Sarah treinava com a equipe depois das aulas enquanto Angel<br />

estava no treino de futebol americano. Encontravam-se mais tarde para<br />

comer algo no parque, o qual se tornou seu ponto de encontro, ou nos<br />

penhascos onde a tinha levado pela primeira vez. Passavam juntos<br />

cerca de uma hora e logo iam para casa.<br />

132


Tudo estava muito bem, à exceção de um par de incidentes com<br />

Dana. Ela tinha se esforçado para puxar Angel em qualquer ocasião<br />

que tinha. Sarah os tinha visto um par de ocasiões e embora ele não<br />

tivesse dito nada, Angel se preocupava que isso poderia se tornar um<br />

problema.<br />

As sextas-feiras eram diferentes. Eram os dias em que Angel<br />

tinha jogo de futebol americano. Em vez de encontrá-lo após o treino,<br />

Sarah ia direto para casa com Valéria e se arrumava para a partida.<br />

Esta semana, a partida era fora de casa, de modo que as<br />

arquibancadas estariam menos concorridas e Angel poderia ter uma<br />

melhor visão de Sarah.<br />

Angel estava tendo uma boa partida. Subiram quatorze pontos no<br />

primeiro tempo e quando eles voltaram do intervalo, as animadoras de<br />

torcida trocaram suas blusas por camisas, as mesmas dos jogadores da<br />

equipe. Ataram-nas por debaixo da linha do busto para fazê-los ficarem<br />

melhores. Para consternação de Angel, Dana tinha posto a sua. Tinha<br />

se esquecido da camisa que lhe tinha emprestado no ano passado.<br />

Olhou as arquibancadas e viu Sarah sentada com Valéria e outras<br />

garotas. Se Sarah chegasse a ficar chateada com isso, realmente ia se<br />

zangar seriamente com Dana.<br />

Eles concordaram em se reunir na festa após a partida, perto da<br />

escola. Sarah se foi com Valéria após o jogo e chegaram antes dele, de<br />

modo que, quando Angel chegou, não sabia o que esperar. Chegou à<br />

festa com o Romero e Eric e começou a procurá-la. Primeiro viu<br />

Valéria e depois viu Sarah. Havia alguns meninos falando com elas e<br />

isso o pôs tenso. Caminhou diretamente até ela e pegou sua mão<br />

133


imediatamente. Levou-a além de onde estavam todos e a beijou. Para<br />

sua alegria, ela não estava com raiva. Ela o beijou facilmente.<br />

— Teve uma grande partida. — Ela sorriu.<br />

Angel ficou olhando, sustentando-a com mais força.<br />

— Como você é linda, Sarah.<br />

— Obrigada. — Ela inclinou a cabeça para os lados.<br />

— Você realmente quer estar aqui? — Falava a sério? Quase<br />

podia sentir como lhe arrepiava o cabelo de sua nuca enquanto<br />

procurava e encontrava Eric. Ele se aproximou de Eric e puxou sua<br />

camisa.<br />

— Vou daqui.<br />

Eric sorriu.<br />

— Tão rápido?<br />

— Adeus. — Angel sorriu.<br />

Apenas tinham chegado ao carro, quando Angel já tinha<br />

começado a beijá-la em seu pescoço. Cada vez que começavam a se<br />

beijar, as coisas se tornavam mais e mais intensas. A última vez que<br />

estiveram assim, ela permitiu que ele a tocasse sob o sutiã. Ele tirou o<br />

melhor proveito disto, lhe deixando alguns chupões vermelhos nos<br />

seios, acreditando que ninguém mais os veria e não poderia colocá-la<br />

em problemas. Morria de vontade de saber quão longe ela o deixaria<br />

chegar esta noite. Tinha que se conter acariciando suas costas de cima<br />

para baixo.<br />

134


Quando chegaram ao seu lugar especial, baixou totalmente o<br />

encosto dos assentos e imediatamente colocou seus lábios nos dela.<br />

Suas mãos exploraram cada centímetro de seu corpo.<br />

Embora qualquer coisa que estava por baixo de sua cintura, só<br />

tinha sido tocada por cima da roupa. Mesmo assim, essa proximidade<br />

quase o levou ao limite. Ele a beijou com força, chupando sua língua e<br />

seus lábios. Ela gemeu brandamente, pondo ele ainda mais excitado.<br />

Desabotoou sua blusa e pôs sua boca em um de seus seios.<br />

Sua mão se deslizou para baixo de seu corpo, acariciando seu<br />

ventre e logo sua virilha.<br />

O coração de Angel batia descontroladamente conforme a beijava<br />

apaixonadamente e começava a subir sua mão lentamente. Passando<br />

pela sua cintura e entrando em sua calça. Quando sentiu em sua mão a<br />

pele ardente de Sarah, esteve a ponto de perder o controle. Retirou sua<br />

boca de Sarah para recuperar o fôlego, afundando seu rosto no pescoço<br />

dela.<br />

— Está me deixando louco — queixou-se enquanto respirava seu<br />

aroma excitante.<br />

Lentamente, deslizou sua mão para baixo, dentro de sua calça.<br />

Ela abriu suas pernas, fazendo-o parar em suspense.<br />

— Oh, querida. — Disse com a voz entrecortada enquanto<br />

começou a mover sua mão ainda mais à frente.<br />

135


Seus dedos a acariciaram por alguns segundos, mas não sendo<br />

capaz de suportá-lo, moveu sua mão ainda mais abaixo. Sarah arqueou<br />

as costas e ele teve que parar.<br />

Ele se afastou dela apenas alguns centímetros, sabendo que se<br />

continuasse, terminaria por fazê-lo.<br />

— Deus! Sinto que não aguento mais, Sarah. — Quase não podia<br />

conter o fôlego.<br />

— Eu tampouco acredito que aguente mais Angel, mas acho que<br />

não estou preparada para isso.<br />

— Eu sei. — Esforçou-se para parecer calmo. — Te Prometo que<br />

não chegaremos a isso.<br />

Com delicadeza, fez com que seus dedos fizessem sua magia até<br />

que pôde senti-la estremecer e a ouviu gemer. Beijou-a, afundando sua<br />

língua profundamente em sua boca. Seus movimentos suaves em suas<br />

calças eram mais do que podia suportar. Seguiu até tê-la tremendo por<br />

completo, então Sarah não aguentou mais e aconteceu.<br />

Ela gemeu mais forte, empurrando sua mão. Angel sentiu seu<br />

coração palpitar e a beijou no canto da boca, permitindo-lhe recuperar<br />

o fôlego. Seu próprio coração ameaçava sair como louco de seu próprio<br />

peito.<br />

— Oh… Angel.<br />

Seu nome nunca soou tão bem. Ele a beijou novamente e<br />

recostou-se sobre seu assento. Estava tão perto de explodir que sabia<br />

136


que se continuasse a lhe tocar, o faria. Pôs sua mão sobre seu peito e<br />

respirou profundamente.<br />

— Cara… — Disse sem fôlego — agora eu entendo por que<br />

tantos velhos têm ataques cardíacos quando fazem sexo. Meu coração<br />

ficou louco e eu nem sequer terminei.<br />

Sarah virou-se de lado para olhá-lo.<br />

— Quero te devolver o favor.<br />

— Sarah, não o faça — disse-lhe rapidamente.<br />

— Não disse por isso. Só disse, porque meu coração está<br />

acelerado. Eu sei que não está pronta e eu respeito você. Mas se<br />

falarmos sobre o que pode chegar a acontecer algum dia, eu vou sujar<br />

minhas calças. Estou falando sério.<br />

Ela sorriu, brincando.<br />

— Bem, nós não queremos isso. — Sarah colocou a mão sobre a<br />

protuberância em suas calças. — Posso não estar pronta para algumas<br />

coisas, mas sempre posso devolver o favor sem chegar a isso e desejo<br />

fazê-lo.<br />

Seus olhos ficaram enormes e todo o seu corpo ficou tenso<br />

quando ela tocou o botão de sua calça jeans. Deixou cair sua cabeça<br />

para trás e fechou os olhos, sentindo como Sarah abria o zíper de suas<br />

calças. Controle-se. Já lhe tinham feito este favor antes e sempre tinha<br />

conseguido segurar por um tempo. Mas esta ocasião foi diferente. Esta<br />

era Sarah. Tinha medo de falhar tão logo lhe pusesse a mão em cima.<br />

137


— Sarah… — sussurrou com voz rouca.<br />

— Hummm?<br />

Sentiu como a mão do Sarah deslizou dentro de sua cueca e<br />

esteve a ponto de gozar.<br />

— Querida, não vou durar muito… — ela quase entrou em<br />

pânico. — Há lenços descartáveis no porta-luvas.<br />

Com sua mão livre alcançou os lenços enquanto que com a outra<br />

mão o acariciava. E em um segundo ele já tinha gozado. Apertou seus<br />

olhos, porque essa intensidade foi maior do que ele já havia sentido.<br />

Parecia que isso poderia ser eterno enquanto a mão de Sarah<br />

continuava a lhe acariciar sem parar. Suplicou-lhe que parasse. Não<br />

podia aguentar mais.<br />

Quando ele finalmente abriu os olhos, a viu sentada e sorrindo.<br />

Ela era bonita, o cabelo escuro estava despenteado e seus olhos verdes<br />

brilhavam. Deus era misericordioso. Ele tinha morrido e ido para o<br />

céu.<br />

138


Capítulo Nove<br />

Sarah sustentava o telefone com seu ombro enquanto fazia a<br />

cama. Era vez dela acordar Sydney.<br />

Depois da noite que teve, conseguiu dormir com muito trabalho.<br />

Sua mente foi invadida por tantas coisas, algumas mais óbvias do que<br />

outras. Tinha que falar com alguém sobre isto... Estas eram as ocasiões<br />

em que mais sentia saudades da sua mãe, poderia falar com ela sobre<br />

isto. A proximidade entre elas era assim. Graças a Deus tinha Syd.<br />

Hoje à noite, Angel e sua mãe estavam indo para Los Angeles<br />

para jantar com Sal, seu irmão mais velho. Já tinha reservado o fim de<br />

semana para cuidar de crianças. Não iriam se ver a não ser mais tarde e<br />

era obvio que Angel queria vê-la hoje, de modo que passaria por ali em<br />

uma hora.<br />

Sarah não mencionou nada sobre Dana estar usando sua camisa<br />

ontem. Estava tão ocupada assistindo Angel, que provavelmente não<br />

teria notado se Valéria não tivesse mencionado. Contudo, se recusou a<br />

deixar que Dana acabasse com sua noite, Valéria até mesmo lhe pediu<br />

para não aceitar provocação de Dana.<br />

— Ele está super obcecado por você. — disse. — A Verdade é<br />

que eu não daria um centavo por aquela garota e ela sabe disso. Está<br />

139


tão desesperada que é patética. Não discuta com ele sobre ela. Isso é o<br />

que ela quer.<br />

Sarah sabia que Dana ia ficar se exibindo na festa e não tinha<br />

certeza se seguiria usando a camisa de Angel. Não queria ficar lá fora e<br />

dar-lhe o gosto de fazê-la se sentir desconfortável. De modo que se<br />

alegrou quando Angel disse que estava pronto para sair mais cedo de<br />

lá.<br />

O que aconteceu no carro não foi totalmente impulsivo. Viu<br />

como Dana estava parecendo sedutora com a camisa de Angel durante<br />

a partida. Inclusive, viu Angel se virando para ver Dana acariciando a<br />

camisa enquanto dançava.<br />

Uma pequena parte dela queria demonstrar a Angel que ela tinha<br />

tanto ou mais para dar. Era algo que já vinha pensando por semanas.<br />

Sendo Angel tão ardente, ela já sabia que era só uma questão de tempo.<br />

Embora, realmente, nunca fizera nada parecido, sim tinha lido<br />

sobre o tema várias vezes. Valéria também a havia aconselhado.<br />

Surpreendentemente, não foi tão ruim assim e foi mais rápido do que<br />

esperava. Agora, um dia depois, tinha sentimentos mistos. Mas não<br />

estava segura de lamentá-lo.<br />

Hoje seria diferente. Ela e Angel tinham que conversar.<br />

Aguentou as tolices de Dana por semanas, mas agora não estava segura<br />

de quanto mais ia poder seguir aguentando tanta merda. Os únicos<br />

planos que tinham eram sair por um par de horas e ela ia aproveitá-las.<br />

Embora estivesse um pouco nervosa. A última coisa que queria era<br />

parecer insegura. Mas estava. Cada vez que via Dana ao redor de<br />

140


Angel, sentia que ia explodir, mas não tinha feito nada. Não tinha<br />

pensado que tinha o direito de exigir nada de Angel, até agora.<br />

As coisas eram diferentes agora. Afinal, eles eram exclusivos e a<br />

camisa tinha precipitado tudo.<br />

Conversou com Sydney por um bom tempo. Ele achava que já<br />

era hora de Sarah lhe perguntar diretamente o que acontecia entre ele e<br />

Dana. De tudo o que Sarah contou a respeito de Angel, até mesmo<br />

Sydney sabia que não havia nenhuma forma de Angel ficar calado se a<br />

coisa fosse ao contrário. Sydney, inclusive, começou a brincar se<br />

referindo a Angel como o marido grandioso. Então, de forma<br />

inesperada, Sydney lhe perguntou.<br />

— Ouça Lynni, o que Angel pensa de você e eu sermos tão<br />

próximos?<br />

Ela parou e fechou os olhos. Não queria mentir, mas não tinha<br />

outra opção. Não ia ferir seus sentimentos.<br />

— Você sabe... — Sarah desejava soar convincente. — Não disse<br />

realmente muito sobre isto. Eu acho que é porque eu não dei muitos<br />

detalhes sobre nós. — Isso era verdade, ou não? Tecnicamente, não<br />

tinha mentido.<br />

— Huummm — disse Sydney. — Talvez seja melhor assim.<br />

E assim era. Como era costume, ela e Sydney pensavam igual.<br />

Ela sorriu triunfante, seu raciocínio a respeito de não esclarecer as<br />

coisas sobre o Syd a Angel era mais válido agora. Então, como se<br />

141


alguém tivesse pressionado o botão de câmara lenta, fazendo que seus<br />

pensamentos torcessem, Sydney continuou falando.<br />

— Quero dizer, seja honesta, é obvio... Você não quer começar<br />

algo lhe escondendo coisas. Só não lhe diga mais do que precisa saber.<br />

A última coisa que você quer é que pense que está interferindo na nossa<br />

amizade.<br />

Desta forma, Sarah voltou a sentir que mentia. Isto não deveria<br />

ser tão complicado. Deixou-se cair em sua cama. Até ontem de noite,<br />

não tinha pensado na seriedade da relação e o efeito real que Sydney<br />

poderia ter nela.<br />

Levantou a vista para ver Valéria em roupa de dormir junto à<br />

porta, como era habitual naquela hora da manhã, segurando um prato<br />

de comida e um copo de leite. Tinha um enorme sorriso em seu rosto.<br />

— É Angel? — lhe perguntou.<br />

Sarah negou com a cabeça e movendo a boca disse “Sydney”.<br />

Valéria franziu a testa e deixou a comida na mesa de Sarah. Ela se<br />

sentou em frente a ela. Sarah cortou a conversa com Sydney, lhe<br />

dizendo que tinha que terminar de se arrumar. Já tinha começado a se<br />

arrumar a algum tempo, mas podia adivinhar que Valéria queria<br />

conversar.<br />

Viu Valéria sacudir a cabeça com desaprovação enquanto<br />

desligava. Nem sequer tinha acabado de dobrar o telefone quando<br />

Valéria olhou para ela.<br />

142


— Sabe que Angel vai se zangar por culpa dele? — lhe disse. —<br />

Quero dizer, você já reparou como ele é possessivo, quando está perto<br />

de você? Não me interprete mal. Acredito que é lindo. Não é grosseiro<br />

nem nada. Mas é óbvio que quer que saibam que você está fora do<br />

limite. Algo me diz que ele não sabe o quanto você fala com Syd.<br />

O nó que se formou em seu estômago durante sua conversa com<br />

Sydney ainda estava lá e foi ficando cada vez maior.<br />

Se virou para um lado da cama e subiu as pernas, de modo que<br />

pudesse se apoiar em seus joelhos. Sarah exalou com força.<br />

— Eu sei.<br />

— Obrigada — lhe disse Valéria. — Finalmente está escutando.<br />

— Pôs uma colherada de comida em sua boca e tomou um gole de<br />

leite, sustentando um dedo alto indicando a Sarah que lhe desse um<br />

segundo. Aparentemente, ainda não tinha terminado.<br />

Sarah viu o prato de Valéria. Havia comida suficiente para duas<br />

pessoas. Sempre lhe assombrava o muito que comia, tomando em<br />

conta quão pequena era. Sorriu pensando que Valéria poderia ganhar<br />

dinheiro de Angel apostando em um concurso de comer.<br />

— Olhe Sarah, te entendo. Ok? Sydney é seu melhor amigo desde<br />

que vocês dois eram crianças e sua família é a única família com que<br />

cresceste. É como um irmão para ti e são muito próximos, bla, bla, bla.<br />

Mas esta necessidade de se falarem todos os dias é demais, não acha?<br />

Sarah fez uma careta.<br />

143


— Entretanto, isto é muito injusto. Se fosse uma garota, seria<br />

como uma irmã para mim e falaríamos todos os dias e estaria bem, ou<br />

não?<br />

Valéria negou com a cabeça enquanto bebia mais de seu leite.<br />

— Mas esse precisamente é o ponto Sarah. Justo ou injusto, não<br />

é uma menina e eu posso garantir que se Angel souber o quanto vocês<br />

dois falam, ficaria com raiva. — Fez uma pausa para comer outro<br />

bocado e falou com a boca cheia. — Nunca me disse o que pensa de<br />

seu melhor amigo ser um menino.<br />

Sarah estremeceu e abraçou seus joelhos mais forte.<br />

— Ele pensa que Syd é uma garota.<br />

Os olhos de Valéria arregalaram de repente. Tomou um gole de<br />

leite rapidamente, para engolir mais rápido sua comida.<br />

— Sarah Lynn! — Seu tom de voz foi como uma lembrança de<br />

sua infância, quando a surpreendiam fazendo arte. — Por favor, me<br />

diga que está brincando.<br />

Sarah cobriu o rosto com suas mãos e gemeu.<br />

— Não, não estou brincando.<br />

Sarah baixou as mãos e cruzou os braços sobre os joelhos,<br />

apoiando a cabeça sobre eles. Virou-se para ver Valéria que ainda<br />

continuava olhando para ela, balançou a cabeça e encolheu de ombros.<br />

— Achou que Sydney fosse uma garota quando lhe falei desta<br />

grande amizade e deixei que ficasse com essa ideia. No início não vi<br />

144


mal algum, mas quando estávamos no Bairro Antigo nesse primeiro<br />

fim de semana, me disse que não podia pensar que entre garotos e<br />

garotas pudesse haver só amizade.<br />

— Te disse?<br />

Sarah assentiu com a cabeça.<br />

— Sim e foi muito firme a respeito.<br />

— Não me surpreende. Não podia esperar nada menos de um<br />

Moreno — disse-lhe Valéria. — Então, o que vai fazer quando perceber<br />

que Sydney é um menino?<br />

Sarah balançou as pernas para o lado da cama e sentou-se. Pôs<br />

suas mãos sob suas coxas.<br />

— Esse é o problema — Sarah mordeu os lábios — Como vai<br />

saber?<br />

— Está louca? Planeja alguma vez voltar a ver Sydney de novo?<br />

— Valéria parou e pareceu refletir sobre o que acabava de dizer. — De<br />

fato, não é uma má ideia. Mas estou certa que isso não é parte de seus<br />

planos, ou é?<br />

Sarah olhou para ela, ainda mordendo o lábio. Não havia<br />

nenhuma maneira de se livrar de Sydney como um antigo namorado.<br />

Ele era para ela muito mais. Era sua família. Angel teria que entender<br />

isso. Mas Valéria tinha razão em algo. Devia diminuir um pouco às<br />

ligações.<br />

145


— Não, claro que eu pretendo ver Sydney novamente. — disse.<br />

— Só devo ser honesta com Angel, mas ainda não é hora.<br />

Valéria levantou uma sobrancelha.<br />

— Quando?<br />

— Bem, eu não estou planejando me sentar com ele e conversar<br />

sobre isso. Eu não quero que pareça algo muito grande. Ultimamente,<br />

não falamos sobre Sydney. A próxima vez que sair o tema e ele se<br />

referir a Sydney como ela, só o corrigirei.<br />

Valéria olhou para ela um pouco impressionada.<br />

— Assim tão fácil?<br />

Sarah levantou seu queixo.<br />

— Sim, por que não?<br />

Valéria moveu a cabeça.<br />

— Bom, prima — disse. — Desejo-lhe sorte. Apenas lembre-se<br />

que quanto mais você esperar, pior será. Só não fique desapontada se<br />

não superá-lo quando simplesmente o corrigir.<br />

Sarah franziu o cenho, mas antes que pudesse responder, tocou o<br />

telefone. Era Angel. Valéria deu um salto e correu para o lado de Sarah<br />

para escutá-lo, como sempre.<br />

— Olá?<br />

— Ouça, tenho que ir ao restaurante. Estamos com falta de<br />

pessoal esta manhã. Não sei que horas posso pegá-la, mas na verdade,<br />

146


gostaria que você viesse aqui para almoçar. Ficaria bem, se eu enviasse<br />

Eric para buscá-la? — Valéria acenou para Sarah, dizendo-lhe que<br />

poderia levá-la.<br />

— Valéria pode me levar, Angel. Mas, tem certeza que não vou<br />

estar te interrompendo?<br />

— Não, nem um pouco — disse ele. — Sim, isso está também.<br />

Venham as duas para cá. Diga a ela que é convite da casa.<br />

Valéria aplaudiu com os dedos, sorrindo amplamente. Sarah<br />

olhou para seu prato quase vazio na mesa e quis rir.<br />

— Ok, a que horas devemos chegar?<br />

— Chegue o mais cedo que puder. Desta forma, assim que<br />

terminar, poderemos ir.<br />

Valéria fez uma careta mimosa e franziu os lábios. Sarah lhe deu<br />

uma cotovelada.<br />

— Ok, assim que estivermos prontas iremos para aí.<br />

Mal acabou de desligar, Valéria saiu disparada em direção a mesa<br />

para levar seu prato. Já estava na porta quando parou.<br />

— Ah, ouça, lhe perguntou a respeito da estúpida da Dana?<br />

Sarah negou com a cabeça.<br />

— Não, provavelmente hoje eu perguntarei.<br />

— Quase me esqueci. — Fez uma careta. — Ontem à noite,<br />

quando vocês se foram, chegou vestida com a camisa de Angel. Depois<br />

147


de duas horas, estava chorando de bêbada. Ao redor dela estavam suas<br />

amigas de alma, consolando-a, fazendo uma cena ridícula. Inclusive, a<br />

escutei perguntar ao Eric por que Angel podia machucá-la assim. Te<br />

digo que é patética. Comporta-se como se na realidade tivesse havido<br />

algo entre eles dois. É como uma brincadeira. Como te disse antes,<br />

Sarah, não discuta com ele por ela. Mas você pode pedir a ele para<br />

recuperar sua camisa.<br />

Sarah sentiu uma nuvem de tristeza sobre ela. Valéria foi firme<br />

quando lhe disse que entre Angel e Dana nunca houve nada sério. Mas<br />

agora, não estava tão segura. Ela tinha visto como ele se comportava<br />

quando Dana falava com ele na escola. Era muito doce para seu<br />

estômago.<br />

Ela sabia que Angel não era rude, mas gostaria que ele<br />

simplesmente a ignorasse. E agora, ela estava chorando por ele em uma<br />

festa na frente de todos?<br />

Isto devia ser esclarecido hoje mesmo.<br />

148


Capítulo Dez<br />

Valéria dançou de alegria quando Sarah contou sobre conhecer<br />

Alex. Mas Sarah tinha omitido algumas coisas. No caminho para o<br />

restaurante pensou que era justo colocar Valéria ciente de tudo o que<br />

havia dito a Alex. Para sua surpresa, Valéria não se alterou.<br />

— Por Deus Sarah — riu. — Como se não tivesse o ego grande o<br />

suficiente. — Sarah pensou na forma escandalosa em que tinha<br />

paquerado com ela. Sim era um doce, mas não era convencido.<br />

— Não tive a impressão de que tivesse um ego enorme.<br />

Valéria fez um movimento com os olhos.<br />

— Sarah, te disse que todos eles são encantadores. Estou certa<br />

que é um muito lindo, mas acredite em mim quando digo que ele sabe<br />

quão sexy é.<br />

Sarah sorriu. Não tinha como ele não saber.<br />

— Mas sairia com ele se lhe propusesse isso, ou não?<br />

— Está brincando? — perguntou Valéria. — É meu tipo ideal. É<br />

tão quente, maior e mais experiente do que a maioria dos idiotas de<br />

nossa escola. A última coisa que me preocuparia dele seria qualquer<br />

pressão para comprometer-se.<br />

149


O queixo de Sarah caiu.<br />

— Quer dizer que não quer uma relação, nem sequer com ele?<br />

Pensei que fosse o homem de seus sonhos?<br />

Valéria se virou para ela.<br />

— Oh, sim é e estaria em cima dele se tivesse a oportunidade.<br />

Mas aprendi minha lição com o Reggie, Sarah. Por mais que eu<br />

gostasse, depois de um momento, era muito. Não podia suportá-lo. Se<br />

não tivesse terminado com ele, com certeza o teria traído.<br />

Sarah ficou perplexa.<br />

— Sério?<br />

Valéria assentiu com a cabeça enquanto estacionava em frente ao<br />

restaurante. Desligou o carro e ajustou o espelho para ver como estava.<br />

— Sim. Não franza o nariz. Sei que soa terrível, mas Mônica e as<br />

garotas foram a Tijuana um par de vezes e me matou o fato de que não<br />

pude ir com elas por causa de Reggie. Quando você vai a Tijuana, é<br />

certo ficar com alguém. Disso não há dúvida. Eu disse que da próxima<br />

vez que fossem, iria com elas.<br />

Fechou o espelho e virou-se para Sarah que seguia olhando-a sem<br />

poder acreditar.<br />

— Assim, rompi com o Reggie antes de ir com elas e é obvio,<br />

fiquei com este cara quente de Los Angeles. Foi muito bom. Sabia que<br />

uma relação com compromisso não era para mim. Talvez algum dia,<br />

mas não agora, a verdade é que estou me divertindo.<br />

150


Sarah ainda não podia acreditar. Valéria lhe contou toda a<br />

história com Reggie deixando de fora a parte de Tijuana. Mas Reggie<br />

não era como Alex. Mesmo assim, se era assim que Valéria se sentia,<br />

quem era ela para dizer o contrário?<br />

— Você sim é outra coisa — lhe disse Sarah ao descer do carro.<br />

— Mas sou honesta — disse Valéria.<br />

— Sim. — Sarah não podia discutir com isso. — Sim, você é.<br />

Conforme cruzavam a rua, a mente de Sarah voltou a Angel e<br />

Dana.<br />

Parou e franziu o cenho. Não estava esperando ter esta conversa<br />

com ele, mas sabia que tinha que falar antes que as coisas piorassem.<br />

Quando entraram, Sarah quase desmaiou ao ver os pais de Angel<br />

ali. Não tinha pensado em conhecê-los tão cedo.<br />

No momento em que Angel as viu, foi até elas e deu um beijo em<br />

Sarah que fez com que suas pernas tremessem. Ele apresentou as duas a<br />

seus pais.<br />

Sua mãe, Isabel, era de estatura média, magra, em meados de<br />

seus quarenta anos. Sarah podia ver que ele e seus irmãos tinham<br />

herdado dela algumas de suas características mais atraentes. Tinha<br />

olhos grandes e cílios grossos. Seus lábios eram grandes e carnudos e ao<br />

sorrir, tinha as mesmas covinhas que Angel e Alex. Sofia também as<br />

tinha, mas não tão pronunciadas.<br />

151


Era muito amável e falava com um pouco de acento. Angel<br />

pensou que a sua mãe havia passado da conta, tratando de fazer com<br />

que Sarah e Valéria se sentissem a vontade, lhes oferecendo mais de<br />

tudo, muitas vezes. Entretanto, Sarah e Valéria pensaram que foi muito<br />

amável.<br />

Seu pai, Salvador, também estava em meados de seus quarenta<br />

anos e era muito alto e com ombros largos. Tinha um ótimo corpo para<br />

um homem de sua idade. Ele não falava muito como a mãe de Angel,<br />

dizendo apenas que era um prazer conhecê-las e em seguida, pediu<br />

desculpas para voltar ao escritório. Mas Sarah viu, pela forma como ele<br />

falou com Angel e Sofia, que era uma pessoa muito séria.<br />

Ao mesmo tempo, ela ouviu o calor da sua voz quando ele falou<br />

com Isabel e Sofia, se referindo a ambas como meu amor ou carinho.<br />

Sarah sentiu a mesma espécie de inveja, já familiar, que chegou a sentir<br />

quando estava com o Sydney e seus pais.<br />

O restaurante estava completamente lotado e Angel dava suas<br />

voltas até Sarah e Valéria enquanto elas almoçavam, no momento,<br />

Angel tinha sido chamado por seu pai ao escritório.<br />

Valéria estava em sua segunda rodada no buffet e Sarah estava<br />

sentada, perdida em seus pensamentos. Tinha passado todo o café da<br />

manhã pensando no que Valéria havia dito sobre Dana e sentiu como<br />

foi se enchendo de ansiedade. Estava sentada, jogando com sua<br />

comida, quando ficou perplexa.<br />

— Essa é Valéria? — Sarah pulou, quase derrubando sua bebida e<br />

virou-se para cima. — Desculpa. Não foi minha intenção me<br />

aproximar às escondidas. — Alex pôs sua mão em seu ombro.<br />

152


Sentindo-se como uma tola, Sarah sorriu.<br />

— Está tudo bem.<br />

Afastou sua bebida de seu prato. Quando voltou para Alex, já<br />

estava olhando para Valéria. Sarah voltou sua atenção para sua prima<br />

que ainda estava servindo comida no seu prato.<br />

— Bom — disse sorrindo — sou parcial com as morenas, mas<br />

uma formosa loira, de vez em quando, cai bem ao corpo.<br />

Sarah levantou o rosto. De vez em quando? Valéria não estava<br />

brincando quando disse que era o seu homem ideal. Nunca haveria um<br />

compromisso entre este par. Pelo menos, não haveria nenhum<br />

ressentimento entre eles se algo acontecesse.<br />

— Isso é muito romântico — disse Sarah.<br />

Alex sorriu para Sarah. Ela estava sentada na ponta da cabine, de<br />

modo que Angel podia se sentar junto a ela cada vez que se aproximava<br />

da mesa. Alex sentou ao lado dela.<br />

— Você acha de verdade?<br />

Sarah se sentou mais reta e fixou sua vista em sua comida.<br />

— Não pensei que estivesse por aqui hoje.<br />

— Acabo de chegar — disse Alex. — Sentiu saudades?<br />

Sarah sentiu ruborizar. Maldito seja. Porque gostava de perturbála?<br />

— Não, na verdade quem perguntou por você foi Valéria.<br />

153


fútil.<br />

Valéria veio andando em direção a ele com um sorriso um tanto<br />

— Sério? — Alex levantou uma sobrancelha.<br />

Valéria pôs seu prato sobre a mesa e se sentou em frente a Alex.<br />

Sarah os apresentou imediatamente.<br />

— Alex, esta é minha prima Valéria. — Depois sorrindo<br />

maliciosamente disse — e acredito que já conhece o Alex, verdade<br />

Valéria?<br />

Teve toda a intenção de envergonhar Valéria brincando, mas ela<br />

levou na esportiva.<br />

— Claro que sim. — Estendeu a mão para cumprimentá-lo. —<br />

Acredito que teria que estar morta para não saber a respeito dele.<br />

Alex sorriu.<br />

— Verdade? Acredito que já lembro de você. — Valéria moveu<br />

ligeiramente seus olhos. — Vi isso — disse Alex.<br />

— Não tentava ocultar — Valéria riu.<br />

— Acha que não me lembro de você?<br />

— Não. — Valéria se inundou em sua comida.<br />

— Quer apostar?<br />

Valéria negou com a cabeça.<br />

— Perderia.<br />

154


— Isso quer dizer que tem medo?<br />

— Em apostar que não se recorda de ter me visto antes? Claro<br />

que não. Mas então, o que é que estamos apostando?<br />

Alex pensou por um segundo e depois sorriu.<br />

— Tem planos para hoje à noite?<br />

Sarah afogou sua risada. Como se tivesse que ganhar uma aposta<br />

para ter um encontro com Valéria.<br />

— Pode ser — disse Valéria.<br />

Sarah estava a ponto de cuspir a comida, Alex se virou para ela.<br />

Sarah cobriu a boca com o guardanapo, tossindo.<br />

— Está bem, carinho? — perguntou Alex.<br />

Pôs a mão para cima, sentindo-se como uma louca.<br />

— Estou bem. — Dizendo que podia. — Foi um choque.<br />

Viu como Valéria a olhava mas trocou rapidamente sua<br />

expressão a um sorriso quando Alex se virou para ela.<br />

— Pode ser? — disse Alex. — O que quer dizer?<br />

Valéria deu de ombros.<br />

— É que depende se há alguma coisa melhor.<br />

Pegou um pouco de comida de seu prato, sorrindo<br />

pecaminosamente para Alex enquanto mastigava.<br />

155


— Está bem — disse Alex. — Se eu ganhar a aposta, você vai<br />

cancelar os planos que tinha e te convido para sair.<br />

— Talvez.<br />

Sarah ficou surpresa com a facilidade com que estes dois estavam<br />

conversando. Lembrou-se como mal podia respirar nas primeiras vezes<br />

que falou com Angel, sem tentar paquerar. Olhava e escutava Valéria,<br />

completamente impressionada.<br />

Alex inclinou para frente com aquele sorriso malicioso dele.<br />

— A que horas passo para te pegar?<br />

As duas, Sarah e Valéria começaram a rir.<br />

— Ainda não ganhou — lembrou Valéria.<br />

Alex olhou para Sarah e, em seguida para Valéria.<br />

Lua.<br />

— Ah sim, isso. Certo. Já tinha te visto. Você é a ex do Reggie<br />

A expressão da Valéria congelou. Ela olhou para ele e, em<br />

seguida, virou-se para Sarah.<br />

— Nunca mencionei Reggie — disse Sarah rapidamente.<br />

— Não — disse Alex. — Jogamos na mesma equipe o ano<br />

passado. Quebrou seu coração.<br />

Os olhos da Valéria arregalaram. Sarah sorriu contente de que<br />

agora, quem estava impressionada era Valéria e não ela. Valéria tratou<br />

de recuperar a compostura.<br />

156


— Verdade? — Olhou Alex com curiosidade.<br />

— Claro que sim. — Sua expressão era presunçosa. — Mas, por<br />

que rompeu com ele?<br />

Os olhos de Alex estavam fixos em Valéria. Sarah podia ver<br />

como sua prima ruborizava. Angel se aproximou da mesa, bem atrás de<br />

Valéria e Sarah, decidido a resgatar sua prima.<br />

— Angel, quanto mais vai trabalhar?<br />

Angel negou com a cabeça.<br />

— Já terminei. — Aproximou-se da mesa. — Agora que este<br />

folgado chegou, já posso ir.<br />

— Trabalhar? — Disse Alex. — Estou ocupado.<br />

Angel olhou para ele e, em seguida, olhou para Valéria. Sarah<br />

sorriu. Esteve quase invisível durante os últimos quinze minutos ou<br />

algo assim.<br />

— Bem, pelo menos não continua te paquerando.<br />

— Quem disse isso? — Alex encostou-se em Sarah.<br />

Angel o afastou.<br />

— Já terminou?<br />

Sarah pôs sua mão sobre seu estômago e fez uma careta.<br />

— Satisfeita.<br />

157


— Verdade? — perguntou Valéria. — Você nem sequer comeu a<br />

sobremesa.<br />

— Fique e termine — lhe disse Alex. — Eu vou te fazer<br />

companhia. Esse cara não pode esperar para sair com Sarah.<br />

Angel sorriu e tirou a camisa<br />

— Deixa-a sair.<br />

— Não se incomoda se eu for? — Perguntou Sarah para Valéria.<br />

— Na verdade sim — disse Alex, levantando. — Mas se este vai<br />

se cagar por isso... OH, perdão, estava falando com a Valéria.<br />

Sarah riu e Angel lhe deu um empurrão, logo a movendo.<br />

— Sim, vá — disse Valéria. — Vejo você mais tarde em casa.<br />

158


Capítulo Onze<br />

Sarah e Angel foram à praia. Não aos escarpados que<br />

costumavam ir. Sarah queria caminhar na praia. Por ser sábado, não<br />

havia tanta gente. Caminharam por um tempo e foram caminhando de<br />

volta para o carro quando Angel mencionou seus problemas com a<br />

classe de espanhol.<br />

— Não sabe espanhol? — Ela estava completamente surpresa.<br />

— Bom, eu pensei que sabia — disse — Mas de acordo com as<br />

classificações que tenho nos exames, parece que não sei.<br />

Sarah não pôde evitar rir apesar da agitação que lhe causava a<br />

iminente conversa.<br />

— Posso te ajudar.<br />

Angel virou-se para ela com curiosidade.<br />

— Sabe espanhol?<br />

— Claro que sim.<br />

Angel sorriu impressionado.<br />

159


— Que bom, porque eu tenho um exame na terça-feira e os<br />

relatórios de progresso saem na quarta-feira. Se não fizer além de um<br />

em meu exame, vou ficar no banco no jogo de sexta-feira.<br />

Sarah sorriu.<br />

— Eu vou ser sua tutora particular.<br />

Chegaram ao carro e Angel se inclinou contra ele, puxando Sarah<br />

para junto de si.<br />

— Hmm, soa bem.<br />

Sarah sabia que precisava perguntar ou teria que esperar até<br />

amanhã, e na verdade, queria acabar logo com isso. Ela respirou fundo.<br />

— Falando do seu jogo, Angel. Posso-te fazer uma pergunta?<br />

Angel a rodeou os braços.<br />

— Sim, claro.<br />

— Por que Dana estava vestindo sua camisa no jogo? — ela<br />

pensou ter visto um flash de pânico em seus olhos e depois nada. Angel<br />

exalou, virou-se para outro lado e então seu olhar voltou a Sarah.<br />

— Não sei, Sarah — disse — Andei saindo com ela antes, mas<br />

Dana sempre considerou que foi mais do que realmente foi.<br />

Sarah sentiu que algo dentro dela se acendeu.<br />

— Você namorou com ela? — De verdade se esforçou para não<br />

parecer ciumenta. Mas estava, totalmente. Ela tinha ouvido tudo sobre<br />

160


Angel e Dana por Valeria, mas escutá-lo por parte dele na verdade a<br />

pôs em xeque.<br />

— Não — disse convencido. — Eu já disse que nunca tive uma<br />

namorada.<br />

— Você dormiu com ela? — O que diabos estava fazendo? Não<br />

era sua intenção chegar a esse ponto, mas as palavras escaparam de<br />

seus lábios e mais vinham a caminho.<br />

Por um momento, ela viu como seus olhos se arregalaram por um<br />

segundo e, em seguida, voltarem ao normal. Ele esfregou suas costas<br />

gentilmente.<br />

— De verdade importa, Sarah?<br />

Seu coração quase saiu pela garganta. Queria gritar. O que<br />

esperava? Por que se permitiu cair em seus braços? Isso era apenas uma<br />

garota. Com quantas outras mais ia ter que lutar?<br />

— De modo que nunca foi sua namorada. Você só dormiu com<br />

ela? Isso é o que planeja fazer comigo?<br />

Os olhos de Angel se reduziram e sua expressão se endureceu.<br />

— Sarah, no que me diz respeito, você é minha namorada. A<br />

única razão pela qual não digo é porque não estava seguro de que você<br />

tinha tomado nosso acordo dessa forma.<br />

Sarah não queria escutar. Tudo o que podia pensar era no fato de<br />

que Angel dormiu com Dana e isso a deixava doente.<br />

— Foi exclusivo com ela? — Sua voz estava cheia de sarcasmo.<br />

161


— Não, não fui.<br />

O nó em sua garganta estava a ponto de sufocá-la. Não se atreva<br />

a chorar. Ela tratou de escapar de Angel, mas ele a segurou mais forte.<br />

— Então por que ela tem a sua camisa, Angel? — Engoliu o<br />

gosto amargo. As palavras seguiam saindo e não iam parar. — Você<br />

deu depois de dormir com ela? Quantas outras mais têm sua camisa?<br />

— Ninguém mais tem uma. — Sua voz soava muito tranquila. —<br />

Ela me pediu emprestado no ano passado e nunca me devolveu.<br />

Angel quis lhe dar um beijo, mas Sarah se virou.<br />

— O que você quer ouvir, Sarah?<br />

Isso só fez inflamar a sua raiva. Então, agora, Angel ia dar o seu<br />

lado? Tratou de escapar de seus braços para se afastar, mas o abraço<br />

dele era firme. Ela não podia contra esses braços. Deteve-se e o olhou<br />

diretamente nos olhos.<br />

— Quero a verdade sobre você e Dana.<br />

— Não havia um eu e ela — disse ele. — E mesmo se tivesse<br />

havido alguma coisa, por que eu iria mentir?<br />

— Porque, talvez, você ainda sinta alguma coisa por ela?<br />

— O que? — Sua risada conseguiu zangá-la ainda mais. — Não<br />

pequena, os únicos sentimentos que tenho são por você e são imensos.<br />

Não há comparação entre você e ela.<br />

162


Sarah o olhou, querendo desesperadamente acreditar nele. Se<br />

essa dor que sentia apareceu com algumas semanas dessa relação,<br />

como poderia enfrentar algo mais? Estar perto de Angel<br />

definitivamente nublava seus sentidos. Mal podia acreditar quão<br />

primitivas se tornaram suas emoções. Ela se espantou.<br />

* * *<br />

Merda! Merda! Merda! Que estúpido foi pensar que o<br />

comportamento da Dana não a tinha incomodado. Suas tentativas<br />

deliberadas para irritar Sarah tinham sido inegáveis por várias semanas.<br />

A expressão ferida de Sarah dizia tudo.<br />

Sarah balançou a cabeça.<br />

— Sinto Muito. Eu deveria ter avisado, Angel.<br />

Angel olhou para ela.<br />

— Que diabos isso que dizer?<br />

— Quer dizer que isso é o que você é. Isto é o que o seu mundo,<br />

o que sempre foi o seu mundo. Quem eu acho que sou para me<br />

encaixar nele? Coisas como essas vão continuar acontecendo e não<br />

acredito que possa lidar com elas. Nunca devia ter chegado a um<br />

acord...<br />

— Nem sequer diga isso. — Tomou sua mão e a pôs em seu<br />

peito. O coração de Angel pulsava com tanta força que podia senti-lo<br />

163


em seu pescoço. — Você está me assustando. Não posso acreditar que<br />

não perceba como sou louco por você.<br />

Sarah negou com a cabeça.<br />

— É muito difícil, Angel. Pensei que poderia fazer isso, mas eu<br />

não posso. Por favor, tente se colocar em meu lugar. Acaso seria capaz<br />

de suportar outros meninos constantemente em cima de mim? Não sei<br />

no que estava pensando ao me colocar nisso. Me deixei levar pela<br />

paixão.<br />

Paixão? É isso que significou para ela? E qual foi a outra coisa<br />

absurda que ela esfregou na sua cara? Ele ter que suportar outros caras<br />

em cima dela? Que diabos. Angel a olhou fixamente, mas apertando<br />

fortemente sua mão e lhe falou quase entre dentes.<br />

— Pode me dizer o que isso é para você?<br />

Sarah tinha baixado o olhar por um momento que pareceu eterno<br />

para Angel. Finalmente, ela olhou para ele. Seus olhos brilhavam, mas<br />

não chorou<br />

— O que eu sinto por você é o que tem me aterrorizado — disse.<br />

— Se não me importasse tanto, não estaria recuando neste momento,<br />

antes que seja muito tarde.<br />

Angel a olhou, incrédulo. Recuando? Sentiu o pânico lhe<br />

percorrer o corpo. Procurou em seu olhar algo mais, mas não havia<br />

nada.<br />

— Sinto muito — sussurrou.<br />

164


Seu coração ainda estava agitado, mas ao mesmo tempo sentia<br />

um estranho alívio.<br />

— Deixa de falar isso Sarah. Você não tem nada que se<br />

desculpar. A culpa é minha e eu estou tentando consertá-lo. Mas não<br />

vou deixar você voltar atrás, baby. Eu não posso. Talvez não seja tarde<br />

demais para você, mas para mim não há volta.<br />

Se inclinou e beijou Sarah na testa, em seguida, suas bochechas e<br />

ao redor de sua boca.<br />

— Angel — sussurrou Sarah.<br />

Continuou beijando-a, na boca, em seu queixo. Ela dizia que o<br />

que sentia por ele a assustava. De modo que ele não estava sozinho<br />

nisso. Era tudo o que precisava saber, na segunda-feira poria as coisas<br />

em seu lugar.<br />

— Angel...<br />

Ele não queria falar mais. Só a sustentou e a beijou.<br />

— Angel. — Sarah se afastou. — Como vai arrumar tudo isso? Se<br />

você se desfizer de Dana, o que acontecerá com as outras?<br />

Ele se esforçou para esconder sua irritação.<br />

— Não há outras, Sarah. Sim, cheguei a sair com outras garotas,<br />

mas ironicamente, graças a Dana, não foram tantas como você está<br />

pensando. Dana foi o único espinho cravado no meu traseiro que não<br />

pude tirar. Até agora, na verdade, não tive motivo para me esforçar<br />

nisso. Deixava-a fazer o que queria. Não me importava.<br />

165


Beijou-a e depois sustentou seu rosto com entre as mãos.<br />

— Confia em mim, pequena, se o custo para estar contigo for dar<br />

um fora em Dana assim, fácil, me assegurarei disso.<br />

Um ligeiro sorriso apareceu nos cantos da boca de Sarah.<br />

— Vai fazer ela desaparecer?<br />

Angel sorriu, aliviado pela mudança de humor de Sarah.<br />

...<br />

— Eu tenho algo menos violento em mente. Mas se você quiser<br />

Sarah o abraçou e se inclinou em seu peito.<br />

— Só se livre dela.<br />

***<br />

O dia seguinte foi muito menos emotivo, apesar de que as<br />

lembranças da conversa do dia anterior fizeram com que as coisas<br />

fossem ligeiramente tensas quando ele passou para pega-la. Conforme<br />

passaram as horas, Sarah se sentia melhor e novamente entregue a seus<br />

sentimentos. Inclusive, passaram uma hora inteira dentro do carro em<br />

seu lugar, antes que Sarah tivesse que ir trabalhar.<br />

166


Na noite anterior, ela estava acordada quando Valeria chegou em<br />

casa, e esta manhã, entre falar com Sydney e Angel passar cedo para<br />

pega-la, não teve oportunidade de falar com ela.<br />

Valeria acabava de sair do chuveiro e finalmente Sarah ia se<br />

inteirar sobre como ela tinha ido com Alex. Sarah sorriu amplamente.<br />

— E aí?<br />

Valéria começou a dançar e fechou a porta de Sarah. Ela levou<br />

Sarah para a cama e se sentou a seu lado.<br />

— Tenho que te perguntar algo Sarah — lhe sussurrou. — O do<br />

Angel é grande? Porque o do Alex é enorme. De verdade, enorme.<br />

Sarah ficou boquiaberta.<br />

— Você dormiu com ele?<br />

A expressão de Valeria congelou.<br />

— Claro que não.<br />

Aliviada, Sarah exalou.<br />

— Estou naqueles dias — disse Valeria. — Imagina que droga?<br />

A expressão de Sarah fez com que Valeria risse.<br />

— Sarah, quanto tempo eu estive sonhando com esse cara? Não é<br />

que eu seja virgem, você sabe. Eu dormi com Reggie.<br />

— Verdade?<br />

167


— Estive com ele por seis meses. Há tantas coisas para fazer<br />

antes de que já não possa mais se conter.<br />

Sarah sentiu como se ruborizava, pensando sobre as coisas que<br />

ela e Angel já tinham feito. Valeria a olhou de esguelha.<br />

— Viu o seu Angel...?<br />

— Shh! — Mortificada, Sarah se levantou de um salto e<br />

caminhou para a porta e foi dar uma olhada.<br />

Todas as luzes estavam apagadas. Ela voltou na ponta dos pés<br />

com medo de acordar alguém. Valeria olhou achando graça.<br />

— O que você está fazendo?<br />

Sarah colocou os dedos na boca de Valeria. Sentou-se na cama<br />

frente a ela e se aproximou.<br />

— Sim, eu já vi e é grande. Mas já que Alex é grande em tudo,<br />

não me admira que o seu seja enorme.<br />

— Não é que tenha visto tantos — disse Valeria fazendo uma<br />

careta. —Mas dos poucos que vi, quase me dá medo que vá me<br />

machucar.<br />

Sarah olhou para ela, incapaz de acreditar no que estava<br />

ouvindo.<br />

— De verdade, você vai fazer isso?<br />

— É obvio — lhe disse Valeria. — Pensa, Sarah. Não sou boba.<br />

Sei que é questão de um par de encontros mais para ele ir em busca da<br />

168


próxima garota e eu realmente não me importo. Mas eu estive<br />

desejando esse cara há anos. Se eu estragar o que pode ser minha única<br />

chance de saber o que é estar com ele, quando ao longo dos anos jogue<br />

uma olhada para trás, você sabe o quanto vou me lamentar.<br />

Sarah continuou olhando. Não podia acreditar quão diferente ela<br />

e Valeria pensavam.<br />

— Não tem medo de ficar grávida?<br />

— Não. Comecei a tomar a pílula quando comecei a sair com<br />

Reggie e nunca parei de tomar. Acredito que pensei que era melhor<br />

estar protegida do que me arrepender depois.<br />

Sarah parou de piscar por alguns segundos. A curiosidade de<br />

saber mais sobre o que Sarah fez com Alex a estava matando. Mas o<br />

medo de que Valeria perguntasse a respeito da intimidade entre ela e<br />

Angel evitou que perguntasse mais. Mas acabou que não teve<br />

necessidade. Valeria ficou cômoda na cama de Sarah e começou a lhe<br />

contar.<br />

— É absolutamente o melhor beijador do mundo.<br />

Sarah sorriu, pensando nos incríveis beijos de Angel. Nunca tinha<br />

falado sobre isso com nenhuma garota e gostou. Embora pudesse falar<br />

sobre qualquer coisa com Sydney, havia coisas que nunca poderia<br />

conversar com ele, especialmente das coisas com Angel. Não estaria<br />

bem. Só lhe contou que houve certas caricias entre eles, mas deixou de<br />

fora os detalhes.<br />

Valeria continuou.<br />

169


— Ai meu Deus, é um animal. No momento que começamos a<br />

nos beijar, quase que nem me deu oportunidade para respirar. Pensava<br />

que alguém como ele, que estou segura que pode conseguir o que quer<br />

no momento que quiser, não deveria ser tão desejoso disso.<br />

— E onde estavam? — Perguntou Sarah.<br />

— Olha só. — Valeria sorriu. — Mais cedo, antes mesmo que<br />

deixássemos o restaurante, eu trouxe para conversa o tema do futebol,<br />

você sabe, perguntando como é diferente na faculdade em relação ao<br />

ensino médio. Então, ele me falou de tudo, me dizendo que seus<br />

amigos têm bastante material gravado dele em vídeo e que talvez, um<br />

dia destes, poderia me mostrar isso. Então, já um pouco mais tarde, me<br />

convidou para comer sushi e depois fomos caminhar na praia. Ali foi<br />

onde me beijou pela primeira vez...<br />

— Teve que ficar em cima de algo? — Sarah riu.<br />

Valeria tentou ficar chateada, mas ganhou o sorriso.<br />

— Se quer saber, ele estava sentado no muro que separa o<br />

corredor da praia, quando me puxou para ele e me disse que precisava<br />

me beijar.<br />

Sarah riu.<br />

— De qualquer forma! — disse Valeria — Depois que me beijou,<br />

não podia parar e começou a falar de como poderíamos ir à casa do seu<br />

amigo para ver os vídeos dele jogando futebol americano. De modo que<br />

eu disse que sim. Por que não? Acabou que seu amigo, que está<br />

viajando, tem um apartamento de solteiro não muito longe de onde<br />

170


estávamos. Ele havia deixado com Alex a chave. Me diga se já não<br />

tinha planejado isso?<br />

Sarah estava tentando imaginar a pequena Valeria com o<br />

corpulento do Alex. Ele devia medir ao menos 1,95 e brilhava como o<br />

apoiador que era. Valeria media, quando muito, 1,60 metros e era de<br />

baixa estatura.<br />

— Assim, viu as fitas?<br />

— Nós começamos a vê-las. — Valeria começou a roer as unhas.<br />

— Mas não estávamos a muito tempo sentados no sofá quando ele veio<br />

para cima de mim. Eu juro que se não estivesse menstruada,<br />

certamente teríamos feito.<br />

Os olhos de Sarah estavam tão grandes como um par de pratos.<br />

— Você disse pra ele que estava “naqueles dias”?<br />

— Claro que não! — exclamou Valeria. — Disse que não me<br />

sentia cômoda, considerando que eu o tinha acabado de conhece-lo,<br />

coisa mais estúpida que eu podia dizer, porque aí em seguida me teve,<br />

de joelhos, engasgando com essa enormidade.<br />

Sarah cobriu o rosto e soltou uma gargalhada.<br />

— Poupe-me o visual, por favor — Ela tirou a mão do rosto. —<br />

Então, ele pediu para te ver de novo?<br />

— Bom, não o fez ontem à noite. Mas pediu meu telefone e me<br />

ligou esta manhã, dizendo que queria me ver de novo.<br />

— Vai sair com ele outra vez? — sorrindo, Valeria assentiu.<br />

171


— Valeria, talvez esteja sentindo algo por ti. Ontem, os dois<br />

fizeram clique imediatamente. — disse Sarah.<br />

— Fomos direito ao apartamento do amigo dele, Sarah. A única<br />

coisa que sentiu foi isso. — apontou sua virilha. — E o sentirá, tão logo<br />

a maldição termine.<br />

Sarah ficou olhando, decepcionada. Valeria não se via nem um<br />

tanto decepcionada. Fez um gesto enrugando seu nariz.<br />

— É meu telefone?<br />

Ela levantou-se e correu para o seu quarto. Tinha ido por alguns<br />

minutos quando Sarah foi para até seu quarto para se despedir. Quando<br />

chegou, Valeria estava na cama falando no celular com um grande<br />

sorriso no rosto. Movendo a boca, sorrindo, disse que era Alex.<br />

Sarah, a imitando, inclinou-se perto da orelha de Valeria e pegou<br />

o telefone para escuta-lo.<br />

— Então, cancela esses planos — Alex disse. — Te pego às sete.<br />

— Está bem, eu acho.<br />

— Você acha?<br />

Valeria riu.<br />

— Estou perplexa, Alex. Sim, me parece bem.<br />

Houve um longo silencio do outro lado do telefone e finalmente<br />

disse:<br />

— É bem engraçada, Z.<br />

172


— É que você é muito fácil.<br />

— Oh sim, bem, você não é — lhe disse — Tenho que ir.<br />

Amanhã levanto às cinco, mas não se esqueça.<br />

— Tentarei.<br />

— Sabe que...<br />

bem?<br />

— Ok! — Valeria sorriu. — Claro que não vou esquecer. Está<br />

— Muito melhor. Boa noite. — Alex se despediu.<br />

Sarah viu como Valeria fechou seu telefone.<br />

— Que foi isso? Ele me pareceu muito chateado.<br />

— Nããããã — disse-lhe Valeria. — Sabe que estou jogando com<br />

ele. Segue a corrente, interpretando seu papel.<br />

— Por que te chamou de Z?<br />

— Por Zuniga — disse Valéria — Acho que é uma questão de<br />

futebol. Ele chama quase todos os seus companheiros de equipe por<br />

seus sobrenomes. Mas me dei conta que o faz, quando na verdade, o<br />

provoco.<br />

Sarah levantou uma sobrancelha.<br />

— Não sei, Valeria. Te viu todo o fim de semana e já está te<br />

chamando para outro encontro? — Sara desceu da cama. — E que<br />

outros planos você tinha que cancelar?<br />

173


— Ah, quando me perguntou se tinha algo que fazer na quartafeira,<br />

lhe disse que tinha planos. Te digo que isto é, porque ainda não<br />

conseguiu entrar em minhas calças, mas assim que fizer, garanto que<br />

vai desaparecer.<br />

— Então, por que dormir com ele?<br />

Valeria olhou para ela com simpatia, quando parou em frente ao<br />

armário com porta de espelho.<br />

— Sarah, que inocente — disse. — Acredita de verdade que ele<br />

vai andar em volta de mim para sempre para obter algo disto?<br />

Sarah franziu o cenho, mas antes de poder dizer algo Valeria<br />

continuou.<br />

— Além disso, já lhe disse isso, não estou à procura de um<br />

relacionamento. Estou perfeitamente feliz com a oportunidade de ser a<br />

garota de Alex Moreno por algumas vezes. É o que eu sempre desejei.<br />

Sarah não estava segura disso. Não importava o que Valeria<br />

dizia, ela sabia o que tinha ouvido. Alex parecia irritado. Mas se<br />

Valeria insistia, o que poderia dizer? Valeria conhecia mais Alex do que<br />

ela.<br />

O telefone tocou novamente e ambas deram um salto e trocaram<br />

olhares. Valeria viu o identificador de chamadas.<br />

— É ele de novo! — Ela se sentou na cama e Sarah se sentou em<br />

posição de escutar, inclinada sobre a orelha de Valeria.<br />

— Olá?<br />

174


— Uma pergunta, Z.<br />

— Qual?<br />

— Que planos tinha para quarta-feira à noite?<br />

Valeria se virou para ver Sarah com os olhos arregalados e<br />

cobrindo a boca.<br />

— Bem, nada, na realidade — disse ela. — Apenas ia sair com<br />

minhas amigas, por que?<br />

De novo, houve silencio na linha.<br />

— Apenas imaginando. — ele disse. — Ok, agora vou deixar<br />

você dormir. Nos vemos na quarta-feira.<br />

Valeria sorriu e lhe desejou boa noite. Virou para ver Sarah, que<br />

estava lhe dando um olhar conhecido.<br />

— Antes que você diga alguma — sustentou sua mão para cima<br />

— Já tinha te falado, estes tipos são territoriais, especialmente os que<br />

têm um ego enoooorme. Isso é tudo. Não significa nada.<br />

Via-se tão petulante e soava tão segura, mas Sarah se sentia<br />

incomodada. Não conseguia acreditar, mas estava começando a se<br />

preocupar com os jogos de Valeria com Alex.<br />

175


Capítulo Doze<br />

Na segunda-feira de manhã, tudo voltou ao normal com Sarah e<br />

Angel. Nunca estavam juntos durante os intervalos da manhã ou do<br />

almoço. Assim, quando Angel viu Dana perto de seu armário pouco<br />

antes do almoço, pareceu um bom momento para cuidar deste assunto<br />

de uma vez por todas.<br />

Duas de suas amigas estavam com ela. Seus olhos brilharam<br />

assim que o viu se aproximar. Despediu-se rapidamente de suas<br />

amigas.<br />

— Ei — mostrando a Angel um grande sorriso enquanto<br />

balançava seu cabelo. — E aí?<br />

—Tem um minuto?<br />

— Para você? Sempre.<br />

— Sei o que você fez na sexta-feira, Dana. Pare já com isso.<br />

Seu sorriso desapareceu e voltou seu olhar para seu armário.<br />

— Não sei o que dizer...<br />

— Claro que entende — Angel respondeu calmamente. Virou-se<br />

para encará-lo. — Você me deu esta camisa, você não se lembra?<br />

176


— Não, eu a emprestei e você nunca me devolveu.<br />

Dana tentou manter o equilíbrio e, finalmente, olhou-o nos olhos.<br />

Angel percebeu sua intenção de parecer como se tivesse sido<br />

machucada.<br />

— Quer que lhe devolva? É disso que se trata?<br />

— Claro que quero. E eu quero que você pare de fazer tudo o que<br />

vem fazendo, Dana. Isso está muito chato.<br />

— Nunca se queixou antes.<br />

— Bom, pois as coisas são diferentes agora. — Angel pôde ver a<br />

fúria em seus olhos. Sabendo que gostava muito de fazer pequenas<br />

cenas, ele se alegrou que estavam sozinhos no corredor.<br />

— Ela lhe pediu para fazer isso. — Angel percebeu o veneno em<br />

suas palavras de forma clara e forte.<br />

Angel não ia dar o gosto.<br />

— Para ser honesto, nunca te mencionou.<br />

Dana começou a rir soando sarcástica, mas logo ficou quieta.<br />

Bateu a porta do seu armário e o eco ressoou fortemente por todo o<br />

corredor vazio. Dana franziu o cenho e seus lábios começaram a<br />

tremer.<br />

— Acha que essa é a sua única camisa que tenho?<br />

— Não, estou certo de que tem muitas.<br />

177


— Vá à merda, Angel! — Começou a se afastar. Depois de alguns<br />

passos, ela parou e se virou. — E pare de criar ilusões. Não precisa se<br />

preocupar, porque nunca mais volto a lhe dirigir nenhuma palavra<br />

— Obrigado.<br />

Com isso, Dana virou e foi embora quase correndo. Afinal de<br />

contas, as coisas correram melhor do que ele esperava. Angel foi para a<br />

cafeteria, sentindo que tirou um enorme peso de cima. Não pôde evitar<br />

sorrir. Seus problemas com Dana tinham terminado.<br />

***<br />

Essa tarde, inesperadamente, o treino foi suspenso mais cedo,<br />

porque um dos jogadores foi ferido e teve que ir ver os paramédicos.<br />

Angel olhou para as arquibancadas e viu Sarah completamente<br />

absorvida em sua corrida. Nem sequer tinha se dado conta que os<br />

jogadores já não estavam no campo.<br />

Ele podia esperar ela terminar. Fazia tempo que não ficava com<br />

seus amigos depois do treino. Agora tinha alguns minutos.<br />

Angel acabava de sair do vestiário com Eric e Romero quando<br />

viu Dana abordá-lo às pressas, muito determinada.<br />

— Posso falar contigo?<br />

Angel seguiu caminhando.<br />

178


— Diga.<br />

— A sós. — Virou-se para ver Eric e Romero. Ambos se viraram<br />

para ver Angel dando de ombros.<br />

— Estaremos por aqui — assinalou Eric. Não foram muito longe<br />

e se sentaram em uma mesa que estava perto de onde as garotas da<br />

equipe da bandeira praticavam.<br />

— Como você se atreve a se livrar de mim desse jeito. — Cruzou<br />

os braços e ficou diante dele, fazendo com que tivesse que parar. —<br />

Como se nunca tivesse significado nada para você.<br />

Angel mordeu a língua para não ser cruel, mas tinha que pensar<br />

em Sarah.<br />

— Às vezes as coisas mudam, Dana. Agora estou saindo com<br />

alguém. Não posso continuar a sair com você. — Moveu sua mão para<br />

cima e abaixo em frente dela. — E você continua com isto.<br />

— Sabia que dormiu com o Jesse Strickland?<br />

Angel soltou uma gargalhada, embora o que menos sentia era<br />

vontade de rir.<br />

— Isso é o que ele anda dizendo?<br />

— O que todo mundo diz. Estou surpresa que não tenha<br />

escutado.<br />

— Não estou acostumado a escutar merda. — Dana tinha<br />

conseguido atordoá-lo, mas preferia antes estar morto a lhe dar o gosto.<br />

179


Sabia que tudo era uma bola de mentiras, mas a ideia de que estivesse<br />

circulando um rumor assim sobre Sarah lhe dava náuseas.<br />

— Não queria te magoar, Angel. Mas pensei que você deveria<br />

saber.<br />

Sua falsa tentativa de soar como alguém compassivo era irritante.<br />

Angel não costumava desrespeitar ninguém, em especial as mulheres,<br />

mas podia sentir o sangue em suas veias congelando. Sarah esteve<br />

muito perto de terminar com ele, malditamente perto. E, por isso?<br />

Tinha sido muito amável.<br />

Angel olhou para Dana.<br />

— Não se preocupe. Você não pode me machucar, Dana. Teria<br />

que me importar um pouco para que isto acontecesse.<br />

Ela encolheu os ombros.<br />

— Suponho que ela sabe de nós?<br />

Angel riu.<br />

— Nunca houve uns nós Dana, você sabia disso. Você inventou<br />

toda essa merda, não eu. — Lágrimas brotaram nos seus olhos. Angel<br />

pôs os olhos quase em branco e seguiu em frente. — Por Deus, não<br />

comece com esta merda. — Deu a volta e começou a caminhar para<br />

Eric e Romero.<br />

— Você fez amor comigo, filho da puta! — gritou Dana. — Ou<br />

não se lembra disso?<br />

180


Seu estômago se contraiu, deu a volta e foi para ela. Viu os olhos<br />

de Dana bem abertos em sinal de alarme, mas ela se manteve firme.<br />

Caminhou direto para o seu rosto e falou entre dentes alto o<br />

suficiente para ela ouvir, com palavras fortes e afiadas.<br />

— Mete isso na cabeça. Nunca fizemos amor. Tivemos sexo, frio,<br />

sem sentido, como você teve com os outros. Isso não significou nada<br />

para mim. Você não significa nada para mim. Fique longe da merda da<br />

minha vida. Estou falando sério, Dana.<br />

Com a boca entreaberta, ela olhou para ele. Seus olhos<br />

arregalaram, em seguida, virou-se e se afastou rapidamente com o rosto<br />

entre as mãos. Suas amigas estavam em pé na porta do ginásio,<br />

esperando para consolá-la e ouvi-la soluçar enquanto davam a volta na<br />

esquina.<br />

Angel respirou fundo e lentamente virou-se para os meninos,<br />

ignorando os rumores e os rostos de todos que estavam parados ao<br />

redor.<br />

Romero sacudia sua cabeça.<br />

— Ouça amigo, espero que já tenha se livrado dessa cadela.<br />

Angel assentiu, ainda se sentindo um pouco instável. Nunca teve<br />

a intenção de ser tão duro, mas o que disse, simplesmente lhe brotou da<br />

boca. Ele ficou ali, pensando sobre o que Dana tinha dito sobre Sarah...<br />

Não queria que os caras percebessem o dano que isso lhe causou, mas<br />

nem sequer podia sorrir forçadamente.<br />

Eric parecia preocupado.<br />

181


— Tudo bem, Angel?<br />

Angel assentiu com a cabeça e virou para onde Sarah estava.<br />

Voltou para ver Eric novamente.<br />

— Acha que deveria contar isto a Sarah?<br />

— É obvio que não! — disse Romero.<br />

— Não, eu sim contaria! — disse Eric.<br />

— De verdade?<br />

Fechando os olhos, Romero negou com a cabeça.<br />

— Que se dane a Dana! Por que vai incomodar Sarah com tudo<br />

isto por causa dela?<br />

Eric fez um gesto, olhando a seu redor.<br />

— Eventualmente, Sarah vai saber. Eu garanto. Dana gritou aos<br />

quatro ventos, cara. Provavelmente alguém vai contar. Só digo que se<br />

fosse eu, sairia limpo desta. Não é que tenha feito nada errado. Só<br />

deixe de fora a parte em que Dana gritou que dormiu contigo. Sarah é<br />

legal. Vai entender. Só não torne isto maior do que é.<br />

Angel olhou para ambos. Não iria contar que Sarah esteve prestes<br />

a acabar com tudo por causa de Dana.<br />

Sentindo como se tivesse engolido um tijolo, virou-se para ver<br />

Sarah caminhando em sua direção. Ela sorriu e lhe mandou um beijo<br />

no ar. Tratou de sorrir, mas, maldita seja, temia ter outra conversa com<br />

Sarah sobre a Dana.<br />

182


***<br />

Não havia ninguém na casa de Angel quando ele e Sarah<br />

chegaram. Angel levou Sarah para o apartamento e deixou sua mochila<br />

sobre a mesa de café.<br />

— Estou com sede. — Dirigiu-se à cozinha. — Quer beber algo?<br />

— Sim claro, água ou um refrigerante diet, se tiver.<br />

Angel foi até a cozinha e pegou um par de garrafas d’água da<br />

geladeira e voltou para a sala de estar.<br />

Sarah estava de joelhos no sofá, olhando para as fotos que<br />

estavam na prateleira atrás dela. Pegou uma para vê-la mais de perto.<br />

Angel viu seus olhos brilharem e percebeu imediatamente qual era.<br />

Colocou a água sobre a mesa de café.<br />

— Por Deus, é você?<br />

— Dê me isto. — A alcançou.<br />

Sarah tinha tirado.<br />

— Você era tão fofo! — disse, rindo.<br />

A pegou no sofá, mas Sarah escondeu a foto debaixo dela. Ele a<br />

manteve presa, tentando tirar a foto. Ela se retorcia e ria<br />

histericamente.<br />

183


— Que divino eram teus cachinhos.<br />

— Não são cachinhos — seus braços estavam agora por debaixo<br />

dela, procurando a foto. Sarah mal podia respirar, estava rindo demais.<br />

— Está bem, está bem — gritou Sarah. — Pegue.<br />

Angel tirou a foto dela e a colocou virada para baixo sobre a<br />

mesa. Inclinou-se sobre ela e a beijou. Começaram a se tocar, mas em<br />

seguida se compuseram quando escutaram ruídos lá fora. Não era nada<br />

e novamente Angel virou-se para Sarah.<br />

— Que hora seus pais chegam?<br />

— Não têm hora. — Continuou lhe beijando. — Depende de<br />

quão ocupados estejam.<br />

— Então podem chegar a qualquer momento.<br />

— Sim. — Angel começou a beijá-la no pescoço.<br />

— Então, saia de cima de mim — Sarah disse rindo, retorcendo e<br />

arqueando as costas ao sentir o toque de sua língua em seu pescoço. O<br />

empurrou colocando suas mãos em seu peito. — Angel, sério. Se seus<br />

pais chegarem, morro.<br />

Deu-lhe um grande e intenso beijo e depois se endireitou e alisou<br />

suas calças.<br />

— Não poderei me conter por muito tempo.<br />

Sarah sorriu, olhando o vulto em suas calças. Sentou-se e deu um<br />

tapinha em seu ombro.<br />

184


— Você vai ficar bem.<br />

— Sim claro, só me dê uns minutos. — Pegou o controle remoto<br />

e ligou a televisão. A primeira coisa que viu foi a uma mulher grande e<br />

gorda que estava sendo entrevistada a respeito de seus vinte gatos.<br />

— Ok, já estou bem.<br />

Sarah engasgou e imediatamente depois começou a rir.<br />

— Droga.<br />

Ele mudou de canal, passando de um para o outro, até que<br />

finalmente deixou em um reality show de moto. Angel pretendia<br />

entreter-se com isso.<br />

— Falei com Dana hoje.<br />

Sarah retirou a mão de seu ombro, mas Angel a pegou de volta.<br />

Ela havia dito pela manhã que não queria os detalhes de sua conversa<br />

com Dana sempre e quando ele conversasse com ela.<br />

— Estou te contando, porque estou certo que vai ouvir sobre isso.<br />

Sarah ficou olhando.<br />

— Já tinha falado com ela cedo pela manhã e pensei que isso ia<br />

ser tudo — disse. — Mas devia ter percebido que não, quando não deu<br />

um grande show.<br />

Pode ver como Sarah buscava ansiosa seu olhar.<br />

— Ela fez uma de suas pequenas cenas após o treino.<br />

185


— Uma cena?<br />

— Sim, uma cena. — A abraçou e voltou a empurrá-la<br />

novamente sobre o sofá. — Não foi nada. Nem sequer pensava contar,<br />

mas tampouco queria que se inteirasse por outras pessoas.<br />

— O que disse?<br />

Angel tratou de beijá-la mas ela se afastou.<br />

— Por favor Sarah, não vamos começar de novo, carinho. Sério,<br />

a única coisa que importa é que já esclareci as coisas e ela deixará de<br />

fazer coisas estupidas.<br />

— Tem certeza?<br />

— Sem dúvida. — A beijou e desejou estar certo.<br />

Ela o olhou por alguns momentos.<br />

— Tudo bem.<br />

Felizmente, não começaram outra desagradável discussão a<br />

respeito de seus sentimentos por Dana, Angel gemeu e enterrou seu<br />

rosto em seu pescoço. Apertando-se contra ela e suas mãos começaram<br />

a percorrer seu corpo. Começava a colocar a mão em sua blusa quando<br />

escutou alguém na porta.<br />

Sarah deu um salto tirando Angel de cima dela. Era Alex. Sarah<br />

tirou seu caderno da mochila e Angel colocou um travesseiro em seu<br />

colo.<br />

Alex sorriu.<br />

186


— Acaso interrompi seu estudo?<br />

Angel o ignorou, mas sorriu e tomou um gole d’água.<br />

Sarah se sentou ereta com seu queixo para cima.<br />

— De fato, estamos estudando. Angel tem um exame importante<br />

amanhã.<br />

Alex tinha pegado o controle remoto da mesa e estava trocando<br />

os canais.<br />

— Bom, pois não poderão estudar aqui. — Olhou de novo para<br />

Angel. — Os caras vão chegar a qualquer momento. Iremos ver a<br />

partida.<br />

Angel estava confuso no início, então percebeu que era segundafeira<br />

de futebol. Ele olhou para a televisão.<br />

— Não me diga que os Chargers jogam?<br />

Sarah o olhou seriamente.<br />

— Você tem que estudar, Angel. Você tem o exame amanhã.<br />

Não há nada que valha mais.<br />

Alex disse:<br />

— Melhor você do que eu. — Fez gestos a Angel para que<br />

desocupasse o sofá. — Vão para cozinha. Disse aos caras que<br />

trouxessem comida e além disso, pediremos pizza. Preciso desta mesa.<br />

Angel e Sarah foram para a cozinha. Sentaram-se na ilha no<br />

centro da cozinha. Sarah era uma explicadora bastante severa já que<br />

187


não queria vacilar com a tarefa em questão. Angel não tornava as<br />

coisas fáceis com seus constantes beijos e suas carícias. Ela se afastou,<br />

rindo depois que ele mordeu sua orelha.<br />

— Está bem, Angel, preste atenção. Isto é fácil: ‘Onde estão’<br />

significa, 'Dónde están'. — Angel olhou para cima e viu Romero entrar<br />

na cozinha. Este colocou os dedos sobre os lábios para indicar para não<br />

dizer nada.<br />

Sarah continuou.<br />

— Você conhece todas estas palavras... — Ela apontou a lista de<br />

palavras no livro. — De modo que ’Onde estão meus sapatos’, significa<br />

'Dónde están mis zapatos?', e ‘Onde estão minhas chaves’, significa<br />

'Dónde están mis llaves? ’. Agora, tenta você.<br />

Antes que Angel pudesse responder, o telefone de Sarah tocou.<br />

— Vou deixar entrar na caixa de mensagem<br />

— Não — respondeu Angel agradecendo o descanso. — Estava<br />

doido por um pedaço de pizza.<br />

Sarah levantou-se para atender e foi para a porta do pátio. Os<br />

meninos na sala estavam torcendo em voz alta e teve que cobrir seu<br />

ouvido livre para ouvir melhor. Angel assentiu com a cabeça, quase<br />

sem prestar atenção.<br />

— Marcaram? — perguntou, com toda sua atenção no estudo.<br />

— Claro! — disse Romero, caminhando em direção a ele.<br />

Retornou correndo quando os meninos começaram a aclamar.<br />

188


Ambos foram para a mesa onde estava a pizza.<br />

— Olhe, tenta isto — disse Romero. — 'Onde estão meus ovos?'<br />

'Dónde están mis huevos?'<br />

Angel riu pegando uma fatia e encostando-se à mesa,<br />

Romero balançou a cabeça, irritado. Deu uma olhada para fora<br />

da janela para se certificar de que Sarah não o escutasse.<br />

— Ouça cara, está tão atordoado que está perdendo um jogo dos<br />

Chargers?<br />

Angel sorriu, comendo sua pizza.<br />

— Tenho que estudar. Se não me sair bem neste exame, me<br />

deixarão no banco na sexta-feira.<br />

Romero voltou a sacudir a cabeça sem estar convencido.<br />

— Pois está perdendo um partidão. — Pegou outro pedaço de<br />

pizza antes de retornar para sala.<br />

Angel franziu o cenho e terminou sua fatia. Olhou pela janela e<br />

viu que Sarah ainda estava ao telefone, rindo. Ela o viu e mostrou sua<br />

língua. Ele sorriu e se afastou, aproveitando para ver um pouco da<br />

partida. Estava fora da cozinha quando ouviu abrir a porta do pátio.<br />

Retornou e viu Sarah encostada na porta. Pegou o final de sua<br />

conversa.<br />

— É obvio que não — disse ela. — Não pense isso. Claro que<br />

estou contente por você. Isto é maravilhoso. Já me conhece. Se<br />

estivesse aí, estaria pulando em cima de você, celebrando.<br />

189


As sobrancelhas de Angel se arquearam.<br />

— Sim, sim, eu juro, eu te ligo mais tarde.<br />

Desligou e olhou ao seu redor. Parecia um pouco surpresa que<br />

Angel estivesse ali.<br />

— Era Sydney.<br />

A expressão de Angel se suavizou, moveu a cabeça caminhando<br />

ao redor da ilha, para pegar outra fatia de pizza.<br />

— O que aconteceu com ela? — perguntou sem se virar.<br />

***<br />

Sarah mordeu o lábio, fazendo uma careta, agradecida que Angel<br />

estivesse de costas neste momento. Sabia que havia dito que a próxima<br />

vez que Angel se referisse a Sydney como ela, ia corrigi-lo, mas de<br />

alguma forma, este não era nem o lugar nem o momento adequado.<br />

Algo lhe dizia que o estudo de Angel, era mais importante e ela<br />

não queria ser a responsável por não poder jogar na sexta-feira.<br />

Agora, Angel virou-se para ela olhando-a. Para que a mentira<br />

não crescesse, tinha que ser muito cuidadosa no que ia dizer.<br />

190


— Sydney aceitou uma bolsa antecipada para estudar música na<br />

Universidade de Columbia, em Nova York.<br />

Os olhos de Angel se fecharam levemente.<br />

— E ela não acreditou que isso te alegraria?<br />

Aproximou-se para acompanhá-la. Ela já tinha sentado onde eles<br />

estavam estudando.<br />

— Bom. — Limpou sua garganta. — Fiquei em silêncio por um<br />

segundo quando disse Columbia, porque Sydney sempre havia dito que<br />

sua meta era a UCLA 2 . Então Syd pensou que talvez ficaria chateada,<br />

porque Columbia era longe. Mas realmente já estou me acostumando à<br />

distância entre Sydney e eu. Além disso, com a tecnologia de agora,<br />

parece que nem sequer estamos longe. Falamos muito por telefone. —<br />

Mal havia dito isto e queria se retratar. Esqueceu que, eventualmente,<br />

Angel ia se inteirar de todos esses pequenos detalhes que tornariam as<br />

coisas mais difíceis de entender.<br />

— Oh sim — Angel assentiu com a cabeça. — Além disso, tem o<br />

e-mail. Não importa o quão distante estejam, estou certo que se<br />

manterão em contato.<br />

Sarah começou a ficar nervosa. Não sabia quanto mais ia poder<br />

seguir antes que o nome de Syd fosse mencionado tantas vezes que<br />

começasse a soar estranho. Sarah tentou mudar a conversa.<br />

Moveu a cabeça assentindo.<br />

Angeles<br />

2 UCLA — University of California, Los Angeles. Universidade da Califórnia, em Los<br />

191


— Estou morrendo de fome.<br />

Alex e Eric entraram. Angel se levantou e foi até a pizza.<br />

—Terminou? — perguntou Angel<br />

— Não, é o intervalo — disse Eric.<br />

Angel pôs duas fatias em um prato descartável e logo pegou outra<br />

para ele. Alex e Eric estavam comendo sua pizza, encostados na mesa.<br />

Sarah agradecia a interrupção, mas seu alívio logo se converteu em<br />

esgotamento.<br />

Angel pôs o prato na frente dela e tirou um refrigerante da<br />

geladeira.<br />

— Então Sydney se dedica à música? — Ele lhe passou o<br />

refrigerante...<br />

Sarah pegou e balançou a cabeça, recusando-se a retomar a<br />

conversa. Deu uns passos e se sentou ao seu lado.<br />

— Que instrumento ela toca?<br />

Sarah tomou um longo gole de refrigerante e olhou para Alex e<br />

Eric. Ambos a olharam.<br />

— Saxofone.<br />

— Verdade? — Angel olhou surpreso.<br />

— Isso sim é sexy — disse Alex quando Romero entrava.<br />

192


— O que é sexy? — Perguntou-lhe Romero. Pegou uma fatia de<br />

pizza e parou junto a Alex.<br />

— Sua amiga toca saxofone — disse Alex.<br />

Romero levantou as sobrancelhas.<br />

— Uma garota?<br />

Sarah ia assentir, mas não teve oportunidade.<br />

— É obvio, cara. — Alex deu um empurrão em Romero. —<br />

Como se disséssemos sobre um menino.<br />

Eric e Angel começaram a rir. Sarah queria morrer. A<br />

testosterona dentro da cozinha era sufocante.<br />

— Verdade? — disse Romero. — Uma garota que realmente sabe<br />

sopro, né?<br />

Todos os meninos soltaram uma gargalhada. Sarah se afundou<br />

em seu assento. Isto era um pesadelo. Agora, todos formavam parte de<br />

sua mentira. Sentiu quando Angel deu tapinha em suas costas. Angel<br />

pensou que seu atordoamento era por causa do comentário de Romero.<br />

— Acalme — disse. — É sua melhor amiga...<br />

Romero ficou olhando.<br />

— Ah é? Pois me apresente a ela.<br />

— Ela gosta de tocar saxofone, não um pequeno flautim — disse<br />

Alex rindo.<br />

193


ir.<br />

Eric quase cuspiu toda sua comida e até mesmo Sarah teve que<br />

— Ela está no Arizona — disse Angel, ficando em pé para pegar<br />

mais pizza. Procurou em três caixas vazias, antes de encontrar uma que<br />

ainda tinha algo. — Nós já comemos três?<br />

Alex se virou para ele com olhos enormes.<br />

— Estão uma bola de gordos. Essas eram extra grande. Nós<br />

somos apenas quatro.<br />

— Eu também comi — disse Sarah, levantando a mão.<br />

Alex olhou seu prato sem impressionar.<br />

— Carinho, eu comi sozinho duas fatiadas antes que a pizza<br />

sequer chegasse à cozinha.<br />

Romero caminhou e se encostou na pia de frente para ela.<br />

— Arizona, né? Pois então convida-a para vir te visitar.<br />

— Cara, se afaste daqui — disse Alex.<br />

— O que? — Protestou Romero.<br />

— Estou falando sério. Saia daqui — lhe disse Alex.<br />

Angel riu sentado novamente ao lado de Sarah.<br />

— Sim, saia daqui. Preciso estudar.<br />

Romero se aproximou de Angel e o olhou seriamente.<br />

194


— Dónde están mis huevos?<br />

Desta vez, foi Sarah que quase cuspiu toda sua comida. Angel<br />

pôs seus olhos quase em branco.<br />

Eric já tinha retornado à sala.<br />

— Já começou! — gritou.<br />

Alex e Romero agarraram uma fatia de pizza cada um. Não<br />

haviam saído da cozinha quando Angel estava sobre ela. Ela estava um<br />

pouco atordoada...<br />

— O que está acontecendo? — perguntou. — Sente-se cansada?<br />

— Não. — Só desleal e mentirosa.<br />

Deu-lhe mais uns beijos.<br />

— Talvez Sydney possa vir te visitar. Podemos sair todos juntos.<br />

Não se preocupe. Eu me encarrego do Romero.<br />

Sarah esperava que Angel não a ouvisse tragar amargamente e<br />

forçou um sorriso.<br />

— Claro, talvez. — Nem em um milhão de anos.<br />

Isso estava fora de controle. Tinha que pensar uma forma de<br />

resolver isto. Rapidamente.<br />

195


Capítulo Treze<br />

Angel tirou oitenta em seu exame de espanhol e estava feliz de<br />

poder estar no jogo desta semana. Era um jogo importante. Jogavam<br />

contra seus rivais e ambas as equipes estavam querendo chegar aos<br />

playoffs.<br />

Sarah sentou-se nos degraus com a Sofia, Valéria e Mônica, a<br />

amiga da Valéria. Os pais de Angel tinham voado essa tarde para<br />

Flórida para o jogo de Alex no dia seguinte. Angel estava responsável<br />

por Sofia até que eles retornassem. Em vez de deixá-la no restaurante<br />

esta noite, Angel fechou cedo e a levou com eles.<br />

Sarah não se importou dela ir com eles. Sofia gostava dela desde<br />

que estava praticando com a equipe de atletismo, estavam muito<br />

próximas. De todos os modos, Sarah se sentiu mal. A equipe de<br />

revezamento nunca chegou perto dos tempos registrados no conselho<br />

quando Sarah estava no quarto lugar de revezamento durante a prática.<br />

O treinador sempre estava duro e desanimado de que ela não ia estar<br />

no próximo semestre. Sarah começou a manter esses comentários para<br />

si mesma, já que Angel poderia se incomodar.<br />

Toda a semana transcorreu sem nenhum incidente, e agora a<br />

partida também ia bem. Havia vários meninos da outra escola sentados<br />

perto das garotas. Um deles estava tentando mexer com a Sofia e isso<br />

estava deixando Sarah nervosa. Várias vezes olhou para o campo, e<br />

pelo que ela via, Angel não se deu conta de nada.<br />

196


Quando a partida terminou, Sarah foi ao estacionamento e<br />

encostou-se no Mustang de Angel. Valéria e as garotas, incluindo Sofia,<br />

estavam conversando com os meninos que conheceram na partida, no<br />

local que estava o automóvel de Valéria, estacionado a uns carros de<br />

distância.<br />

Angel deu a Sarah às chaves em caso de que ela e Sofia<br />

quisessem ficar no automóvel enquanto esperavam. Sarah tinha a porta<br />

aberta e com música. Ela acenou para Sofia para vir com ela e assim o<br />

fez.<br />

— O que?<br />

— Está me deixando nervosa. — Disse Sarah, tentando não soar<br />

chata.<br />

— Por quê?<br />

— Não acha que Angel vai ficar nervoso se te vê com todos esses<br />

caras?<br />

— Esse é Alex. — Disse Sofia sorridente.<br />

— Angel não é tão exagerado. Não ficará contente, mas também<br />

não fará nada, a menos que os caras sejam desrespeitosos e eles não<br />

são. São bastante agradáveis.<br />

Em questão de segundos, Sarah lamentou ter chamado Sofia. O<br />

menino que estava mais interessado na Sofia a seguiu e todos outros o<br />

seguiram. Agora, todos estavam ao redor do automóvel de Angel, cinco<br />

meninos e quatro garotas. Nenhum deles era tão intimidante como<br />

Angel e seus amigos, dois deles eram mais baixos e um deles era<br />

197


gordinho e o outro era muito jovem para estar com eles. Mesmo assim,<br />

Sarah sabia que Angel não ia gostar disso. O que estava mais<br />

interessado na Sofia era o mais alto e o mais bonito desse grupo. Sarah<br />

olhou por cima deles e viu um grupo de meninos caminhando para<br />

eles. Estava escuro e se encontravam relativamente longe, mas mesmo<br />

assim, Sarah soube, somente pela forma de caminhar, que eram Angel,<br />

Eric e Romero.<br />

Quando estavam suficientemente perto Sarah, teve contato visual<br />

com Angel. Ele a olhou e logo viu o grupo de pessoas que estava ao<br />

redor de seu automóvel. Sarah era a única que estava separada do resto.<br />

Angel levantou uma sobrancelha, mas sorriu.<br />

Romero fez o primeiro comentário.<br />

— E o que é isto? Alguém organizou uma festa?<br />

Sarah viu que Eric caminhou mais depressa quando viu Sofia<br />

falando com esse cara.<br />

— O que está fazendo aí, Sof?<br />

Angel nem sequer viu Sofia até que Eric a mencionou e voltou<br />

para o grupo franzindo o cenho. Os outros meninos se afastaram<br />

imediatamente permitindo que eles se aproximassem. Angel caminhou<br />

diretamente para Sarah e a beijou.<br />

— O que está acontecendo? — Sua voz era baixa. — Quem são<br />

esses idiotas?<br />

Sarah se voltou para o grupo.<br />

198


— Não os conheço. Estes são uns meninos com que elas estavam<br />

conversando durante a partida.<br />

— Elas? — Ela sorriu e o abraçou fortemente.<br />

— Sim, elas.<br />

— Quem é o que está com a Sofie?<br />

— Vai saber. — Sarah encolheu os ombros. — Mas todos<br />

parecem suficientemente agradáveis. Ela me disse que você não se<br />

importaria.<br />

Angel franziu o cenho, vendo o cara que estava fazendo Sofia<br />

sorrir.<br />

— Claro, bom, melhor você enfiar seu traseiro no automóvel,<br />

antes que sim, eu me importe.<br />

Sarah não teve que ouvir isso duas vezes. Ele se virou em direção<br />

da Sofia. Ela ia dizer que iriam sair, mas Eric já estava lá. Ele não<br />

podia ouvir o que disse Eric, mas o que quer que fosse, fez com que o<br />

menino que falava com Sofia se irritasse.<br />

— Quem é você? — Perguntou o menino com certa atitude.<br />

— Quem diabos é você? — Respondeu Eric irritado.<br />

Sofia se colocou entre ambos e em um segundo, Angel e Romero<br />

já estavam agarrando Eric e logo se colocou entre eles quando viram<br />

que os outros meninos se dirigiam para Eric.<br />

199


As garotas contiveram os meninos. Mônica ajudou Sofia com o<br />

Eric, que era o mais firme, entretanto, Romero como sempre foi o mais<br />

difícil de conter. O pobre rapaz tentou se levantar, mas estava<br />

apavorado. Seus amigos se afastaram dali antes que saíssem<br />

machucado.<br />

Sarah lutava com Angel, suplicando:<br />

ela.<br />

— Já basta, Angel! Pelo amor de Deus, só estava falando com<br />

Quando os rapazes já estavam o suficientemente longe, Sofia<br />

soltou Eric. Com bastante desgosto, foi para o automóvel de Angel.<br />

Sentou no assento de trás e bateu a porta.<br />

Angel voltou e estava a ponto de dizer algo a Sofia.<br />

— Vamos. — Disse Sarah.<br />

— Ela bateu minha porta. — Voltou a olhar para Sarah com<br />

exasperação.<br />

— Só vamos, por favor.<br />

Angel e Sarah caminharam para o automóvel. Romero e Eric os<br />

seguiram.<br />

Uma vez no automóvel, Angel voltou a ver Sofia.<br />

— Qual o problema com você?<br />

— Qual o problema com você? — Devolveu Sofia.<br />

200


Sarah afundou no banco do passageiro. Eric colocou a cabeça<br />

pela janela da Sarah.<br />

— Quem era esse cara, Sof?<br />

— Ninguém. — Disse Sofia cruzando os braços.<br />

Romero colocou a cabeça na janela de Angel.<br />

— O que aconteceu?<br />

Sofia exalou ruidosamente, soando mais como se fosse um<br />

grunhido.<br />

— O que foi isso? — Perguntou Angel.<br />

— Quantos irmãos eu tenho?<br />

Angel ia lhe dizer algo, quando Sofia pôs sua mão em sua cara e<br />

estremeceu.<br />

— Sofie?<br />

— Está chorando? — Eric enfiou ainda mais sua cabeça.<br />

— Ela está chorando? — Perguntou Romero.<br />

— Está bem! — Disse Sarah se endireitando.<br />

— Já esteve bem. Saiam todos. — Empurrou a cabeça de Eric<br />

para fora da janela e empurrou Angel para tirá-lo do automóvel. Sua<br />

cabeça se chocou com a do Romero.<br />

— Ai! — Grunhiu.<br />

2<strong>01</strong>


— Bom, já, mova seu traseiro! — Disse Angel.<br />

Angel desceu do carro e todos eles foram caminhando à contra<br />

gosto. Valéria e Mônica ainda estavam lá e foram com eles.<br />

Sarah voltou para a Sofia.<br />

— Está tudo bem?<br />

Sofia negou com a cabeça, com a mão ainda em sua cara. Sarah<br />

se aproximou e deu um tapinha no joelho. O amplo peito de Sofia se<br />

levantava conforme tomava ar e começou a baixar conforme exalava<br />

lentamente.<br />

— As intenções deles eram boas. — Disse Sarah.<br />

— Sei. — Suspirou Sofia. — Mas uma única vez queria ser como<br />

qualquer outra garota e sair com caras, sem que nenhum deles se<br />

transformasse em alvo.<br />

Sarah riu.<br />

— Eles só não estão acostumados. Ainda te veem como sua<br />

pequena Sofie. Mais cedo ou mais tarde se acostumarão.<br />

Sofia fez um movimento com os olhos e limpou o rosto. Sarah<br />

lhe entregou um lenço. Sofia soou o nariz e sentou.<br />

— Sabe o que é o mais estúpido de tudo isso?<br />

— O que?<br />

— De qualquer maneira, eles não tinham por que se preocupar.<br />

202


Sarah não estava tão certa disso. Ela viu a forma como aquele<br />

rapaz olhava para Sofia.<br />

— O que quer dizer?<br />

— Estou me guardando para um só menino e comecei a pensar<br />

que ele já sabia.<br />

Os olhos de Sarah arregalaram.<br />

— E verdade? Quem?<br />

Sofia sustentou o lenço sobre seu nariz, olhando para Sarah de<br />

forma apreensiva. Olhou pela janela para ter certeza de que os meninos<br />

estavam o suficientemente longe para não escutá-la.<br />

— Me promete que não dirá a Angel?<br />

Sarah assentiu, mas tragou saliva, sem estar tão segura de querer<br />

saber mais. Sofia fechou seus olhos fortemente e depois voltou a olhar<br />

novamente para Sarah. Sussurrou algo, mas Sarah não entendeu a<br />

primeira vez. Sarah olhou pela janela para ter certeza que estavam o<br />

suficientemente longe. Viu que Eric dava uma olhada para o caminho<br />

de volta e logo voltou a olhar para Angel. Sarah se aproximou de Sofia.<br />

— Quem? — Sussurrou Sarah.<br />

— Eric.<br />

Sarah a olhou e ficou sem palavras. As duas olharam pela janela<br />

e viram Angel e Eric caminhando para o carro.<br />

— Por favor, não diga nada. — Suplicou Sofia.<br />

203


— Não direi.<br />

O que te fez pensar que Eric sabia que ela estava se reservando<br />

para ele? Sarah queria lhe perguntar um montão de coisas, mas os<br />

meninos estavam muito perto. Teria que esperar até a próxima<br />

oportunidade em que estivessem a sós.<br />

Foram à praia e fizeram uma fogueira. Sarah estava olhando e<br />

observando toda a noite, cuidando que Angel não desconfiasse. Não<br />

acreditou que não tivesse notado antes. Bom, se se deu conta, mas<br />

nunca fez nada a respeito. Sempre o viu como algo inocente. E seguia<br />

sendo, mas somente depois do que Sofia lhe disse hoje à noite, algumas<br />

coisas pareciam um pouco questionáveis.<br />

Eric se manteve toda a noite ao redor de Sofia. Inclusive, foram<br />

caminhar sozinhos e Angel não pensou que isso fosse errado. Ela<br />

também não teria pensado, até antes desta noite. Sempre pensou que<br />

Eric era gentil. Eric sabia que Angel estava ocupado com Sarah, de<br />

modo que estava somente dando uma olhada em Sofia. Certo?<br />

Sarah pensou em como Eric sempre se oferecia para levar Sofia<br />

ao restaurante ou trazê-la de lá e quantas vezes, falando com Angel por<br />

telefone, ele mencionou que Eric andava por aí, muito cedo de manhã<br />

ou muito tarde, mas sempre quando Sofia estava em casa. Mesmo<br />

assim, pensou no quanto Eric era fiel a Angel e seus irmãos.<br />

Realmente, não podia imaginar ele fazendo algo com Sofia.<br />

Olhando Sofia e assistindo Eric e o comportamento escandaloso<br />

de Valéria, Sarah estava muito calada a noite toda. Olhava Valéria, que<br />

bebeu muito, como estava deixando que Romero começasse a beijá-la<br />

204


na boca. Valéria começou a paquerar ele desde que tinham chegado à<br />

praia.<br />

— O que houve? — Perguntou Angel.<br />

Os olhos de Sarah se encontraram com os dele e ela negou com a<br />

cabeça. Mas ele sabia bem.<br />

— Está um pouco calada, há algo que esta te incomodando?<br />

Sarah suspirou e voltou a olhar Valéria e Romero. Angel virou-se<br />

para eles. Romero estava sentado sobre um refrigerador e Valéria estava<br />

sentada em seu colo, rindo. Ele virou-se para Sarah e encolheu de<br />

ombros.<br />

Obviamente Angel e seus irmãos não falavam muito a respeito de<br />

seus assuntos românticos. Angel sabia que Alex e Valéria saíram, mas<br />

não imaginava que Valéria teve finalmente o que queria. Terça-feira<br />

passada, ela dormiu com Alex Moreno. E agora, vergonhosamente,<br />

estava em cima de Romero.<br />

Sarah franziu o cenho.<br />

— O que vai dizer para o Alex?<br />

— Sarah, carinho, na verdade, espero que não pense que Alex<br />

realmente está preso a Valéria. Quero dizer, ela é simpática e todo o<br />

resto, mas realmente Alex não se importa com ela. Ele nunca pensou<br />

em ter um relacionamento sério. — Riu entre os dentes. — Estou certo<br />

de que hoje a noite está tirando proveito do seu quarto de hotel.<br />

205


Deve ter visto a cara de desgosto de Sarah, porque seu sorriso se<br />

dissolveu imediatamente.<br />

— Mas é obvio que uma coisa como essa me parece repugnante.<br />

Sarah girou os olhos.<br />

— Sei que não quer um relacionamento sério, mas não está<br />

incomodado porque ela está fazendo isso com um de seus amigos?<br />

— Não. — Angel negou com a cabeça. — Alex não é assim. Ele<br />

não se importa. Quero dizer, não diga a Valéria. Não quero fazê-la se<br />

sentir mal ou nada parecido. Mas tenho certeza que Alex já dormiu<br />

com ela e agora está preparado para a próxima. Ele é assim.<br />

Sarah olhou para ele.<br />

— Ele é assim, Sarah, eu não.<br />

— Não é o que eu estava pensando. Somente espero que você<br />

esteja certo. Eu não gostaria que ferissem seus sentimentos.<br />

— Confie em mim, carinho. — Alex sorriu. — Conheço meu<br />

irmão. Ele vai ficar bem com isto.<br />

Sarah lembrou quando escutou Alex no telefone com Valéria e<br />

que ele havia ligado somente para perguntar que planos ela tinha para<br />

essa quarta-feira. Algo a fez pensar que Angel podia estar errado sobre<br />

isto.<br />

206


Capítulo Quatorze<br />

Os sábados pela manhã havia sempre muita gente no restaurante.<br />

Os pais de Angel não iriam chegar até tarde, de modo que Sarah se<br />

ofereceu ajudar. Angel foi busca-la uma hora antes de abrir. Sarah<br />

sorriu ao ver também o automóvel de Sofia. Ansiava poder falar a sós<br />

com ela.<br />

Mal chegaram ao restaurante quando Sofia puxou um braço de<br />

Sarah.<br />

— Vou leva-la para a parte de trás, para que possa provar um dos<br />

modelos.<br />

Angel franziu o cenho.<br />

— Está bem, Sofie.<br />

— Sarah, querida, não tem que usar uniforme.<br />

Sarah levantou seu queixo.<br />

— Mas eu gosto de uniformes. — Voltou para a Sofia. — Usarei<br />

um tamanho médio.<br />

Angel sorriu e lhe mandou um beijo. Quando chegaram à sala do<br />

fundo, Sofia fechou a porta atrás delas e sorriu maliciosamente.<br />

— Meu Deus, quase morro para falar com alguém sobre isso e<br />

você é a única pessoa com que posso falar.<br />

207


Sarah não estava segura de querer ser a única a saber. Assim,<br />

desde o início, Angel nem sequer teve que dizê-lo. Era óbvio quão<br />

delicado ele e seus irmãos eram com Sofia. Pensou em Alex, quando<br />

ele quebrou a cabeça da tartaruga e sorriu fracamente.<br />

Sofia abriu uma gaveta e tirou uma camiseta polo com o logotipo<br />

do restaurante e um avental. Os deu a Sarah. Continuou entusiasmada,<br />

aparentemente sem notar a falta de entusiasmo de Sarah.<br />

— Eu disse a ele!<br />

Sarah tragou saliva.<br />

— Disse o que?<br />

Sofia deu uma olhada à porta e depois sussurrou.<br />

— Que estou me guardando para ele.<br />

— O que? — O coração do Sarah acelerou. Não podia acreditar<br />

no que estava ouvindo.<br />

Sofia colocou a mão na boca e começou a rir. Sarah não pôde<br />

evitar rir também. Sua risada era nervosa, já que a atitude de Sofia a<br />

respeito de tudo era surpreendente. Estava louca?<br />

Sarah tomou o polo e o avental com ambas as mãos, na frente de<br />

sua cara. Seus olhos estavam totalmente abertos.<br />

— O que ele te disse?<br />

A cara da Sofia se iluminou ainda mais.<br />

— Beijou-me.<br />

208


Sarah piscou incapaz de encontrar palavras. Sofia parecia não<br />

dar-se conta da ansiedade de Sarah. Ela confundiu a anterior risada<br />

nervosa de Sarah com emoção e continuou.<br />

— Nunca me beijaram antes. Mas ele foi incrível. Sabia<br />

exatamente o que estava fazendo. Não queria que parasse. Estava tão<br />

contente de que sua prima estivesse lá para manter ocupado Romero.<br />

Provavelmente, iria arruinar tudo. Mal posso esperar para que aconteça<br />

de novo.<br />

— Outra vez?<br />

— Ah, mas há muito mais que quero te contar. – Disse Sofia.<br />

— Mais?<br />

— Claro, houve mais que só beijos.<br />

Sarah não estava segura, mas poderia jurar que nesse quarto a<br />

temperatura estava subindo.<br />

— Quero dizer que ele para mim é mais atrativo que qualquer<br />

um. Na verdade, estou apaixonada por ele, Sarah. Quase me mata<br />

saber que ele pensou o pior de mim depois do jogo, de modo que me<br />

alegrei quando me pediu para ir caminhar. Aí foi quando eu disse.<br />

Sarah olhou para Sofia.<br />

— E agora, o que é que vai acontecer?<br />

— Não haverá forma que os seus irmãos permitissem.<br />

Sofia olhou desafiante.<br />

209


— Não sei. Tudo o que sei é que quero estar com ele e ninguém<br />

me vai deter.<br />

Isto estava piorando e ia custar muito caro para Eric, se na<br />

verdade, estivesse pensando em seguir adiante com isto.<br />

— Deve tomar cuidado, Sofia. Não quer que ele saia ferido.<br />

— Pensou no mau gênio do Alex. Isso sim seria uma tremenda<br />

confusão.<br />

— Ele quer esperar eu fazer dezessete anos para dizer a Angel.<br />

Mas isso não acontecerá no próximo ano.<br />

Isso soava razoável para Sarah, mas pela expressão de Sofia,<br />

poderia dizer que isso não aconteceria.<br />

Bateram à porta e Sarah deu um salto.<br />

— Angel, ela ainda se está trocando.<br />

— Está bem, estamos nos preparando para abrir em alguns<br />

minutos.<br />

— Está bem. — Sarah terminou de ajustar o avental. — Já vamos<br />

para lá.<br />

Quase perdeu o equilíbrio quando Sofia a abraçou.<br />

— Estou tão contente de ter alguém com quem falar disso.<br />

***<br />

210


A princípio, Angel não queria que Sarah lhe ajudasse, mas é<br />

obvio, Sarah insistiu. Agora, a via atender uma mesa, sorridente e<br />

falando com os clientes como se fosse algo natural para ela.<br />

Angel ia e vinha da recepção até o escritório onde estava tratando<br />

de escrever um anúncio solicitando empregados, o qual ia publicar<br />

online esta semana no jornal local. Seus pais estavam pensando em<br />

contratar vários cozinheiros e um par de pessoas a mais para atender às<br />

mesas.<br />

Pensou em perguntar a Sarah se queria trabalhar atendendo<br />

mesas, mas algo lhe disse que possivelmente podia ofende-la. Além<br />

disso, já estava com os fins de semana cheios como babá. Era<br />

endemoniadamente dedicada às famílias com as quais trabalhava.<br />

Sabia que ela não queria engana-los.<br />

O telefone tocou interrompendo os seus pensamentos.<br />

— Angel?<br />

Surpreendeu-se de ouvir a voz de Valéria.<br />

— Olá Val, o que houve?<br />

— Perdão mas liguei no restaurante, mas Sarah não atende o<br />

telefone.<br />

— Tudo bem. — Disse. — Está atendendo umas mesas. Não está<br />

com o telefone. Vou chama-la.<br />

211


— Espera. — Soava nervosa. — Melhor você dizer, por que a<br />

verdade é que vai se alarmar.<br />

Angel se sentou lentamente.<br />

— O que aconteceu?<br />

— Esta manhã, Sydney teve um acidente de automóvel.<br />

Angel agarrou com maior força o telefone.<br />

— Ela está bem?<br />

Por um segundo, houve uma pausa no outro lado da linha.<br />

Valéria pigarreou.<br />

— Hum, os pais dela ligaram do hospital, mas ainda não sabiam<br />

de nada. Tenho toda a informação: o hospital, o número e tudo.<br />

Deram-me seu número de telefone no caso de Sarah não ter, para que<br />

lhes chame diretamente.<br />

Angel anotou todos os dados e guardou. Pegou de novo o<br />

telefone e começou a marcar o número do celular dos pais do Sydney.<br />

Pensou que era melhor saber algo mais antes de dizer a Sarah.<br />

Deixou tocar duas vezes, mas se arrependeu e mudou de opinião,<br />

era sua culpa que eles não a tenham encontrado mais cedo. Sarah<br />

apareceu com uma bandeja na mão e a colocou sobre o balcão do bar.<br />

Olhou por cima de seu ombro.<br />

— Sof, se encarrega das mesas de Sarah.<br />

Pôs sua atenção de novo na Sarah e a levou ao seu escritório.<br />

212


— O que aconteceu? — Perguntou Sarah.<br />

Angel sentou na cadeira do escritório e fechou a porta. Sarah<br />

começou a preocupar-se.<br />

— Qual é o problema? — Disse. — É pelo café que tirei? Porque<br />

é que não....<br />

Angel se ajoelhou à frente dela e lhe disse com calma.<br />

— É sobre Sydney.<br />

Os olhos de Sarah se abriram enormes. Ele podia ver Sarah<br />

encontrar seu olhar.<br />

— Angel, eu ia...<br />

— Ela teve um acidente de automóvel esta manhã, querida.<br />

Sua expressão trocou lentamente da confusão ao pânico.<br />

— O quê? Meu Deus! — Deu um salto afastando a cadeira.<br />

Angel afastou-se do seu caminho e viu como correu para sua bolsa.<br />

Tirou seu telefone. Suas mãos tremiam conforme pegava no seu<br />

telefone.<br />

Foi para ela e lhe pôs as mãos sobre os ombros.<br />

— Relaxe, okay? Tenho o número dos pais da Sydney para que<br />

fale com eles diretamente.<br />

Levantou a vista do telefone. Seus olhos estavam cheios de<br />

lágrimas.<br />

213


— Falou com eles?<br />

— Não. — Angel se aproximou. — Falaram com a Valéria na<br />

casa de sua tia quando não puderam te encontrar e ela ligou para cá<br />

quando também não pôde falar contigo.<br />

Sarah inalou profundamente, sua cara desmoronando-se.<br />

— Ela sabia algo?<br />

Angel negou com a cabeça.<br />

— Não. — Deu a volta ao escritório e pegou o papel com os<br />

dados. Foi para a Sarah e lhe deu. Sua respiração enchia todo o<br />

escritório.<br />

— Sarah, se acalme.<br />

Tomou o papel e começou a marcar. Angel a via enquanto<br />

esperava que alguém lhe respondesse. Se preparava, desejando que<br />

houvesse boas notícias.<br />

— Frances? — Estava a ponto de chorar. — Sim, sou eu. —<br />

Como está Sydney?<br />

Apertava contra seu coração o papel que Angel lhe deu e<br />

escutava. Olhava para Angel.<br />

— Ai, graças a Deus. — Disse. — Estava tão assustada.<br />

Angel exalou aliviado.<br />

— Não, não, que bom que me chamou. — Disse Sarah. — O que<br />

foi o que aconteceu? Por que chamaram uma ambulância?<br />

214


Sarah esteve ao telefone por uns minutos e Angel se sentou na<br />

cadeira do escritório inclinando-se para trás. Viu quando Sarah<br />

desligou o telefone e voltou a vê-lo. Estendeu-lhe os braços para que ela<br />

viesse. Ela se aproximou e se sentou em seu colo. Deu-lhe um quente<br />

abraço.<br />

— Então, ela está bem?<br />

Sarah assentiu com a cabeça.<br />

— Chamaram uma ambulância porque Sydney se queixava de<br />

dor no ventre. Queriam assegurar-se de que não sangrasse por dentro.<br />

— E foi isso?<br />

Sarah negou com a cabeça e respirou fundo.<br />

— Não.<br />

Angel encostou a testa contra a dela.<br />

— E você, como está?<br />

Sorriu fracamente e encolheu os ombros.<br />

— Tinha imaginado o pior.<br />

— Sarah. — Angel lhe deu um beijo na cabeça. — Amanhã os<br />

meus pais retornam, podemos ir lá para que possa vê-la.<br />

Ela saiu do colo de Angel e sentou na cadeira.<br />

— Angel, são cinco horas dirigindo.<br />

215


Sarah ficou olhando fixamente e logo negou com a cabeça.<br />

— Já combinei com os Salcido de cuidar dos seus filhos amanhã<br />

pela tarde. Não posso cancelar agora. Assim que eu falar com Sydney,<br />

me sentirei melhor.<br />

— Tem certeza?<br />

— Sim. — Sarah sorriu. — De todos os modos obrigada, isso foi<br />

muito doce de sua parte.<br />

Levantou-se.<br />

— Mas vou voltar para ajudar Sofia. Provavelmente está atolada.<br />

— Colocou o telefone no seu bolso.<br />

Angel franziu o cenho.<br />

— Não tem que voltar a atender as mesas, Sarah. Que tal ligar<br />

para Sydney?<br />

Sarah sorriu e lhe deu umas palmadas em seu telefone.<br />

— Tenho meu telefone. — Dirigia-se à porta, deteve-se, retornou<br />

e deu um beijo em Angel. — Você é um amor. Obrigada. — Sorriu e<br />

saiu do escritório.<br />

Uma hora mais tarde, Angel olhava para Sarah da recepção. Seu<br />

rosto se iluminou quando atendeu seu telefone. Os olhos se encheram<br />

de lágrimas conforme falava e soube com que falava, era Sydney. Não<br />

havia dúvida de quão especial era Sydney para ela. Angel sorriu,<br />

sentindo uma pontada no coração. As possibilidades de que ela trocasse<br />

de opinião a respeito de ficar eram péssimas no melhor dos casos.<br />

216


No domingo pela manhã, Sarah ligou para o Sydney para saber<br />

como ele se sentia. Logo que acabou de desligar o telefone Valéria<br />

entrou em seu quarto.<br />

— Então, Angel ainda não sabe que Sydney é um homem? —<br />

Sentou-se na cama de Sarah.<br />

Sarah fez uma careta e negou com a cabeça.<br />

— Já devia ter contado Sarah. — Disse Valéria.<br />

— Alex me disse que nunca viu Angel assim. Realmente está<br />

louco por você. Se o que sente por você é tão grande, tenho certeza que<br />

entenderá ou ao menos tentará.<br />

Sarah pensou a respeito de ontem, como esteve quase a morrer de<br />

medo quando ele a levou ao escritório e lhe disse que deviam falar a<br />

respeito de Sydney. A primeira coisa que veio a sua mente é que de<br />

algum jeito, Angel descobriu e estava disposta a pedir para que a<br />

entendesse. Então, disse-lhe sobre o acidente do Sydney e ficou<br />

superada pela emoção.<br />

— Sei, sei. — Disse Sarah. — Somente estou esperando o<br />

momento perfeito, mas nunca o encontro. E quanto mais tempo passa,<br />

mais difícil fica.<br />

Viu a cara de desaprovação de Valéria. Logo pensou que sua<br />

prima não tinha direito de julgá-la.<br />

— E o que é que acontece entre Alex e você?<br />

Valéria franziu o cenho.<br />

217


— Eu não tenho notícias dele desde quarta-feira. Acredito que<br />

sua curiosidade por mim tenha terminado quando conseguiu o que<br />

queria. — Deu de ombros. — Mas é melhor não sairmos. Em meio a<br />

toda essa história, chegamos a conversar bastante e<br />

surpreendentemente, comecei a sentir uma conexão com ele que vai<br />

além do físico. Acredito que voltará a me procurar quando quiser mais.<br />

Mas se continuarmos saindo, temo que vou começar a me apaixonar<br />

por ele. O pior é que, sabendo como ele é, é certo que eu tenha o<br />

coração destroçado e será porque eu assim o quis. — Sarah a olhou<br />

com simpatia.<br />

— Bom, nunca se pode saber. Talvez ele também tenha sentido<br />

essa conexão. — Valéria riu.<br />

— Eu sei muito bem o que ele estava sentindo.<br />

— Você acha que vai dizer algo sobre o beijo com o Romero?<br />

A cara da Valéria azedou.<br />

— Eu duvido. Primeiro, porque acredito que não vai ouvir tão<br />

cedo, a menos que queira saber e mesmo assim, não acredito que se<br />

importe. Além disso, não fiz nada com Romero. Ele me beijou uma<br />

vez, mas eu não gostei, de modo que parei antes que acontecesse algo<br />

mais.<br />

— Que bom. — Disse Sarah. — Porque não me importa o que<br />

você diga. Vi vocês dois no primeiro dia em que se viram no<br />

restaurante e com certeza, entre vocês, houve uma conexão.<br />

Valéria sorriu levemente.<br />

218


— Bem, aparentemente esteve um pouco ocupado este fim de<br />

semana, provavelmente fazendo mais conexões, para me chamar.<br />

— Angel vem me buscar daqui a pouco. Vamos de novo almoçar<br />

no restaurante. — Sarah deu um sorriso um pouco torcido. — Quer vir?<br />

— Nem morta! — Ofegou Valéria. — O quanto de desespero isso<br />

mostraria? Chegando sem ter sido convidada. Não, obrigada.<br />

Valéria ficou de pé e foi para a porta. Ao chegar lá, parou e deu a<br />

volta.<br />

— Então Sydney está bem?<br />

— Ah, sim está bem. — Assentiu Sarah. — Foram somente<br />

alguns golpes, mas de resto está bem.<br />

— Danificou seu carro?<br />

— Não. Por sorte ele estava na caminhonete de seu pai. Era uma<br />

caminhonete grande, poderia ter sido pior se fosse no seu carro. Sydney<br />

me disse que somente a porta do condutor foi danificada.<br />

Valéria arqueou as sobrancelhas.<br />

— Que bom, me alegro que ele esteja bem. — Deu a volta e saiu.<br />

Sarah se aproximou da sua cômoda. Escolheu um bracelete<br />

elástico que Sofia lhe deu. Todas as garotas a usavam para dar boa<br />

sorte e embora oficialmente Sarah não pertencesse à equipe, Sofia quis<br />

que ela também tivesse uma. Sarah pensou que foi muito querido de<br />

sua parte e sorriu ao coloca-la.<br />

219


Angel passou na casa dela e de novo retornaram ao restaurante.<br />

Alex e os meninos já estavam lá. Estavam sentados em uma mesa do<br />

canto. Sarah e Angel se sentaram com eles. Romero e Eric estavam<br />

concentrados em uma de suas intermináveis disputas de futebol<br />

americano.<br />

— Não me importa o que você diga. Nunca deveriam ter se<br />

desfeito do Drew Brees. — Disse Eric. — O cara marcou cinco passes<br />

para touchdown em um só jogo!<br />

Romero negou com a cabeça.<br />

— Sim, mas quem os lançou?<br />

— Não importa, foram cinco passes para touchdown, cinco!<br />

— Não conta quando é contra os Raiders. — Disse-lhe Romero.<br />

— Merda, eu também podia ter marcado cinco.<br />

Alex riu.<br />

— Isso seria uma novidade para você.<br />

— Já marquei, imbecil. — Romero voltou para Sarah. — E<br />

falando de minha pontuação, onde está Valéria?<br />

Sarah ficou rígida. Olhou para Alex. Sua cara era indecifrável.<br />

— Em casa.<br />

— Bem, você poderia ter trazido ela. - Disse Romero.<br />

220


Quando Sarah voltou a olhar para o Alex, ele estava olhando<br />

para o Romero, mas não disse nada.<br />

Eric riu.<br />

— Lembra? Te rejeitou na sexta-feira, além disso, ela estava<br />

bêbada. Se por acaso te der uma olhada estando sóbria, enlouquecerá<br />

por ter deixado que a beijasse.<br />

As sobrancelhas de Alex se curvaram repentinamente.<br />

— Você a beijou?<br />

— Ela gostou. — Disse Romero, mais ao Eric do que ao Alex.<br />

— Então saiu com ela? — Perguntou Alex.<br />

Romero olhou para Alex.<br />

— Não foi nada, conversamos um momento depois do jogo.<br />

Todos nós fomos para praia.<br />

— Mas você a beijou?<br />

Sarah se retorceu, com vontade de desaparecer. Alex tinha o<br />

mesmo tom em sua voz daquele dia em que falou com a Valéria por<br />

telefone. O mesmo tom inconfundível que Angel tinha quando estava<br />

incomodando.<br />

Romero fez uma careta.<br />

— Sim, por quê? Não posso evitar que as garotas me queiram.<br />

Alex fez um movimento com os olhos e olhou para o Eric.<br />

221


— E depois te rejeitam né?<br />

— Sim. — Riu Eric.<br />

Sarah assentiu com a cabeça vigorosamente e se deteve ao ver<br />

que Romero estava vendo. O aspecto de sua cara era quase cômico.<br />

— Ela te disse isso?<br />

— Bom, não. Quero dizer... Não posso te dizer o que ela me<br />

disse. É conversa de garotas. — Levantou-se rapidamente. — Estou<br />

morrendo de fome.<br />

— Ela te rejeitou — sorriu Alex.<br />

Sarah pôde ver que o sorriso do Alex foi forçado. Angel se<br />

levantou com Sarah e a seguiu até a mesa do buffet. Quando<br />

retornaram, Romero e Eric estavam discutindo de novo a respeito dos<br />

Chargers e Alex já não estava. Algo dizia a Sarah que Valéria receberia<br />

essa tal chamada que estava esperando.<br />

222


Capítulo Quinze<br />

O treinador Rudy organizou uma competição amistosa de<br />

revezamento com outra escola no meio da semana. Sarah competiu, já<br />

que a equipe de futebol americano conseguiu chegar aos playoffs e<br />

começavam no mesmo dia. O jogo era durante o dia e em outro lugar.<br />

Sofia e o treinador realmente a queriam na competição. Angel lhe disse<br />

para que não se preocupasse, tratava-se de uma vitória fácil. Eles<br />

jogariam com a equipe reserva.<br />

Já passou um tempo desde sua última competição e estava<br />

nervosa. A equipe de futebol americano deveria terminar e retornar<br />

mais ou menos na hora da competição. Os meninos estavam na metade<br />

de seu revezamento quando Sarah viu chegar o ônibus com a equipe.<br />

Chegaram gritando e fazendo muito escândalo, de modo que se deu<br />

conta que ganharam. Sorriu, apesar de estar com o estômago todo<br />

revolto. Até esse momento, não se deu conta de quão nervosa estava, já<br />

que Angel a veria correr.<br />

Havia uns revezamentos a mais antes do dela e soube que Angel<br />

estaria fora dos vestiários e nos degraus com suficiente tempo. Sarah se<br />

concentrou em seu estiramento, dobrando a perna para trás e<br />

devorando seu pé com a mão, para suas costas. Sofia estava parada<br />

junto a ela fazendo o mesmo.<br />

223


Valéria estava nos degraus com algumas amigas delas. Estava<br />

muito emocionada de saber que Sarah ia competir e estava lá para<br />

animá-la.<br />

A corrida anterior a dela estava por começar quando Angel a viu<br />

e outros meninos da equipe dirigiram-se para os degraus. Usando seus<br />

pulôveres e obviamente estavam de bom humor devido a sua vitória.<br />

— Vamos La Jolla! — Gritou Romero à equipe de pista.<br />

Conforme se aproximavam, Sarah olhou para Angel e seus<br />

olhares se encontraram. Estava recém-tomado banho e seu cabelo<br />

ainda estava molhado. Olhou para Sarah com esse impressionante<br />

sorriso e ela se derreteu. Todos se sentaram atrás da Valéria e suas<br />

amigas. A corrida terminou com a vitória da outra equipe, mas<br />

estiveram perto de ter conseguido.<br />

O estômago de Sarah se contorceu ainda mais conforme se<br />

colocava em seu lugar na pista. Voltou a olhar para ver Angel. Agora,<br />

estava de pé nos degraus, olhando para onde ela estava. Fez-lhe um<br />

gesto do polegar para cima e sorriu de novo.<br />

Anteriormente, Sarah já tinha feito isto muitas vezes. Então, por<br />

que diabos estava tão nervosa?<br />

As corredoras saíram e Sarah franziu o cenho quando viu o mau<br />

começo de sua equipe. O bastão chegou a Sofia dois passos depois de<br />

que o segundo relevo da outra equipe tinha saído.<br />

— Acelera Sof. — Gritou Eric.<br />

224


Sarah olhou para Eric, que agora estava de pé nos degraus junto a<br />

Angel e logo para Sofia, quem estava por chegar ao terceiro<br />

revezamento. Agora, a outra equipe tinha uma vantagem maior. Ela já<br />

esteve antes nesta situação e desejava poder ter o mesmo resultado<br />

desta vez.<br />

Ficou em posição. Seu oponente saiu primeiro e esperou que sua<br />

companheira de equipe chegasse. No segundo em que o bastão estava<br />

em sua mão, saiu em disparada sentindo a sensação familiar da<br />

adrenalina nela.<br />

A outra corredora estava a poucos metros de distância na frente<br />

dela e ela estava correndo duro. Sarah se concentrou, ganhando<br />

velocidade pouco a pouco conforme dava a volta. Sentiu que vinha e<br />

sorriu. Na reta, fez o que ela sabia fazer sempre bem e acelerou.<br />

Ganhou rapidamente a sua oponente e pôde ouvir nos degraus à<br />

multidão voltar-se louca.<br />

Estavam ao final da meta e estavam pescoço com pescoço. Pôde<br />

ouvir a corredora esforçando-se por manter-se ao lado dela. Mas uns<br />

quantos pés antes do final, Sarah tomou vantagem e ganhou. Para o<br />

momento em que se deteve, soube. Ainda tinha essa faísca.<br />

Ainda se agarrava por seus joelhos e tratava de agarrar ar quando<br />

Sofia chegou correndo ao mesmo tempo de seus gritos.<br />

— Isso foi maravilhoso, Sarah!<br />

O treinador Rudy se apurou a chegar aonde Sarah estava, com<br />

um grande sorriso na cara. Sarah se endireitou e Sofia a abraçou.<br />

Exalou, mas sorriu. O treinador lhe entregou uma garrafa de água.<br />

225


— Maldição, preciso de você em minha equipe. Isso foi<br />

surpreendente.<br />

Sarah tomou um grande gole de água. Estava gelada e deliciosa.<br />

— Obrigada.<br />

— Vem aqui — disse-lhe e a abraçou. — Sarah, eu sabia que o<br />

tinha, mas não dessa forma. Tem um talento natural.<br />

Os três caminharam juntos para o resto da equipe. O treinador<br />

continuou com seu abraço sobre os ombros de Sarah e continuou<br />

elogiando sua proeza.<br />

Reuniu à equipe para lhes dar um breve discurso, felicitando aos<br />

destacados. A equipe aplaudiu muito forte quando mencionaram o<br />

nome de Sarah. Para essa então, os meninos, Valéria e suas amigas<br />

estavam o suficientemente perto para escutar, de modo que também<br />

lhes aplaudiram.<br />

O treinador lhe sorriu, mas com certo desespero negou com a<br />

cabeça.<br />

— Sarah, querida. Tenho que encontrar a forma de te reter. Está<br />

me partindo o coração.<br />

Sarah odiava ser colocada em uma posição assim e isto a fez<br />

ruborizar. Pôs seu braço ao redor dela e riu.<br />

— ruborizou-se. Vejam isto? Rápida e adorável.<br />

Sarah sentia que a cara lhe fervia. Nem sequer queria voltar a ver<br />

Angel. Só podia imaginar o que diria.<br />

226


— Está bem, vamos.<br />

Todos puseram suas mãos em círculo para a ovação usual e<br />

terminou a reunião. Sarah caminhou rumo aos meninos.<br />

Eric e Romero lhe deram uma palmada em sua mão tão logo<br />

chegou com eles.<br />

— Caramba menina, saiu fumaça! — disse-lhe Romero.<br />

Sarah sorriu e finalmente voltou a ver Angel. Para alívio dela,<br />

não se via tão zangado como ela pensava. Ele caminhou para ela e<br />

recarregou sua frente na de Sarah.<br />

— Esteve estupenda.<br />

— Obrigada.<br />

— Neste momento me sinto tão orgulhoso de ti. Não sabe<br />

quanto.<br />

Isto sim que a fez sentir bem e lhe deu um beijo.<br />

— Este é o seu momento e não vou estragá-lo — Angel a beijou.<br />

— Mas se voltar a ver esse pervertido pondo as mãos em você, vou lhe<br />

arrancar a mão.<br />

Sarah teve que rir. Houve um momento em que Sarah pensou<br />

que Angel realmente ia se deixar levar.<br />

***<br />

227


A equipe de futebol americano não pôde chegar ao campeonato,<br />

perdendo o segundo jogo contra uma equipe ao que tinham vencido na<br />

temporada regular. Foi uma derrota dolorosa, mas Sarah tinha sua<br />

forma especial de consolar a Angel.<br />

Tinham apenas dois meses que ela tinha começado a sair com<br />

Angel e já se sentia como se o conhecesse toda a vida. Ainda, cada um<br />

dos beijos que compartilhavam, se sentiam tão excitantes e<br />

apaixonados como a primeira noite, se não mais.<br />

Sarah adorava a forma que Angel a tocava com tal urgência, uma<br />

forma em que ele não tratava de ocultar sua necessidade de senti-la, de<br />

prová-la. Ultimamente, tinham feito as coisas extremamente próximas<br />

a grande provocação.<br />

Devido às circunstâncias que Sarah tinha nascido e por tudo o<br />

que sua mãe teve que enfrentar, a conversa dos passarinhos e abelhas<br />

foi dada a Sarah cedo. Logo, tinha onze anos quando sua mãe se<br />

sentou com ela e lhe falou de tudo. E após, sempre relembrava a Sarah<br />

a importância do controle da natalidade e o amparo contra as<br />

enfermidades. Ela usava a si mesmo como exemplo, recordando a<br />

Sarah como um momento de debilidade lhe trouxe enormes<br />

consequências que mudaram sua vida.<br />

Sua mãe lhe chamou essa noite e depois que Sarah lhe contou<br />

pela enésima vez sobre Angel, não perdeu tempo para entrar no tema.<br />

— O sexo é uma grande responsabilidade — disse sua mãe. —<br />

Não só deve te preparar fisicamente, mas também, emocionalmente.<br />

228


Sarah imediatamente ficou na defensiva quando sua mamãe<br />

perguntou se Angel a pressionava de alguma forma.<br />

— Claro que não! — irrompeu Sarah. — Ele não é assim,<br />

mamãe.<br />

— Me escute, Sarah — Fez uma pausa. — Confia em mim. Sei o<br />

quão rápido que as coisas passam. E posso dizer que já está bem<br />

apegada a ele. Se fosse a meu modo, eu gostaria de te dizer que se<br />

abstenham de ter relações sexuais e que tudo estará bem. Mas não sou<br />

ingênua. Já falei com sua tia sobre isto. Vai te levar para que comece<br />

com o controle da natalidade.<br />

Sarah ficou sem fala. Sabia o quão importante que era para sua<br />

mãe que ela não passasse por essa mesma situação, mas não esperava<br />

por isto.<br />

— Escutou o que eu falei?<br />

— Sim, escutei.<br />

— Irá amanhã.<br />

***<br />

Ao dia seguinte, Sarah pulou a corrida ao acabar as classes. Disse<br />

a Angel que sua tia a buscaria, porque precisavam sair pelo aniversário<br />

de seu tio. E isso era em parte certo. Sua tia a buscou e a acompanhou<br />

à clínica. E depois saíram para jantar, o qual foi muito conveniente se<br />

229


por acaso Angel lhe perguntasse a respeito do jantar. Já não teria que<br />

inventar algo para sair com mais mentiras.<br />

Sarah não se imaginava quantas formas de controle da natalidade<br />

existiam até que chegou à clínica. Ela decidiu que a pílula seria o<br />

melhor. Fizeram-lhe um exame pélvico e lhe deram a receita para a<br />

pílula, junto com o material para a realização do sexo seguro e sobre as<br />

enfermidades de transmissão sexual.<br />

Sentiu-se mal por mentir a Angel, mas ao menos esta mentira era<br />

por uma boa causa. Depois de havê-lo pensado muito a noite anterior,<br />

decidiu que era algo bom.<br />

Queria surpreendê-lo. Além disso, tinha a sensação de saber<br />

chegar ao coração de Angel para que a perdoasse, uma vez que<br />

soubesse a verdade.<br />

***<br />

Depois de quase três semanas, Sarah ficou de frente ao espelho.<br />

De alguma forma tinha a sensação de ver-se ou sentir-se diferente. Mas<br />

depois de examinar-se, tudo se via igual. E não se sentiu mais<br />

amadurecida que antes, como se tinha imaginado.<br />

Meteu-se na cama, mas não podia dormir, havia muitas coisas<br />

em sua cabeça. Muitas coisas tinham mudado em poucos meses.<br />

Apenas fazia uns meses, a única coisa em que podia pensar era em sua<br />

230


mamãe e em retornar a casa. Agora, aqui estava, totalmente consumida<br />

pelo fato de que estava muito perto de perder sua virgindade com<br />

Angel. Sorriu e inalou profundamente. Só em pensar já era suficiente<br />

para despertar as mariposas que lhe revoavam no estômago.<br />

Ninguém sabia sobre ela estar tomando a pílula. Sua tia lhe disse<br />

que isso era coisa dela e que ela não o comentaria com ninguém, nem<br />

sequer com Valéria. Ela se alegrou. Queria que Angel fosse o primeiro<br />

a saber. Nem sequer tinha comentado com Sydney.<br />

Sydney. Estremeceu-se tão só de pensar nele. Ainda não disse a<br />

Angel a verdade. Valéria estava de novo certa. Quanto mais tempo<br />

passasse, mais difícil ia ser. Até o momento, a falta de vontade de<br />

Angel para compartilhar algo a respeito dela com alguém, era<br />

irrefutável. No que lhe concernia, ele era agora seu melhor amigo.<br />

Entretanto, pensou se lhe houvesse dito antes. As coisas tivessem<br />

ido de mal a pior. Ela se preocupava agora mais em como se sentiria<br />

Angel, sabendo que ela o tinha enganado todo este tempo, que em<br />

saber que Syd era um menino.<br />

Depois do acidente do Sydney, ela tinha trocado coisas em sua<br />

forma de ser, para evitar por completo o assunto. Inclusive, se<br />

certificava de pôr seu telefone no silencioso ao estar com Angel, com<br />

medo de que uma chamada fizesse lembrar o tema.<br />

Talvez lhe tinha passado a mão ao aniquilar Syd graças a uma<br />

pergunta que lhe fez Angel:<br />

— Ouça e sobre Sydney? Ainda fala com ela?<br />

231


Só encolheu de ombros e lhe disse:<br />

— Sim, às vezes.<br />

Desde essa primeira noite em que Angel a beijou, não tinha<br />

passado um só dia sem se ver. Quanto mais tempo passava com ele,<br />

mais difícil era imaginar deixá-lo.<br />

Mas como ia fazer isso a Sydney? Fizeram um pacto. Por volta<br />

de uns dias que Sydney lhe tinha perguntado se na verdade poderia<br />

retornar ao Arizona e deixar Angel. Assegurou-lhe que poderia e o<br />

faria. Mas em seu coração, Sarah sabia que se não se sentisse tão<br />

comprometida com Sydney e sua família, sem dúvida ficaria.<br />

No dia seguinte, Sydney lhe chamou para lhe dizer que tinha que<br />

falar com ela pessoalmente. Isso a preocupou, já que Sydney a conhecia<br />

melhor que ninguém. Ele podia ver dentro dela.<br />

As chamadas com ele foram se tornando mais breves, mas<br />

mesmo assim se falavam diariamente. Esta noite, entretanto, a<br />

chamada foi longa. A conversa foi estranha. Debateram sobre se ela<br />

deveria ou não retornar ao Arizona. Sydney insistiu que ela devia ficar.<br />

Sarah sabia do carinho desinteressado de Sydney e que poria a um lado<br />

sua própria felicidade pela felicidade dela.<br />

Todos esses anos ele passou sendo parte de sua vida miserável,<br />

lhe fazendo companhia em lugar de sair e divertir-se com outros. Seus<br />

pais tinham dinheiro, lhe permitia fazer as coisas que faziam os outros<br />

meninos. Pôde ir a acampamentos nos verões, a esquiar em<br />

Avermelhado durante as festas, ou a qualquer lugar que quisesse<br />

232


durante as férias da primavera. Mas não, todos esses anos, passou perto<br />

dela. Ficou e lhe fez companhia.<br />

Ela se sentiu afligida pela vergonha, Como ela podia pensar em<br />

desfazer-se de seus planos só porque agora tinha arranjado um<br />

namorado? Deu um gole amargo. Não veria Sydney até o Natal. Tinha<br />

tempo para pensar em seu duplo jogo.<br />

***<br />

Faltavam dois dias para Ação de Graças e a família Moreno<br />

parecia uma confusão. O fim de semana que seguia à festividade era o<br />

dia em que mais trabalho tinham. Angel nunca tinha entendido. Sabia<br />

que os refrigeradores das pessoas estavam repletos de sobras. Como é<br />

que a gente podia sair para comer?<br />

A teoria de sua mãe é que a gente estava farta de cozinhar, de<br />

comer sobras e de atender a seus convidados que vinham de fora. De<br />

modo que saíam. Pela causa que fora, a semana de Ação de Graças era<br />

algo, menos que um pouco depravado para os Moreno.<br />

Embora no dia de Ação de Graças o restaurante estava fechado e<br />

só abririam meio-dia na sexta-feira, sempre se abasteciam para<br />

preparar-se para o agitado fim de semana. Neste momento, o pai de<br />

Angel estava tendo um ataque, já que lhe tinham avisado que um dos<br />

repartidores poderia atrasar-se devido ao clima no norte.<br />

233


— No norte? E que diabos tem a ver comigo o clima lá no norte?<br />

Estamos no Condado de San Diego! — Sua voz se retumbou todo o<br />

caminho até as escadas.<br />

Angel não sabia se estava ao telefone, ou falava consigo mesmo,<br />

como estava acostumado a fazer quando estava zangado.<br />

Terminou de tirar os sapatos e ficou suando pela cabeça por<br />

causa do gorro. Saiu voando para o banho, escovou os dentes e se<br />

penteou.<br />

— Ouça Sofie — gritou-lhe perto de seu quarto conforme descia<br />

pelas escadas. — Só tem cinco minutos. Vou esquentar o automóvel.<br />

Seu pai seguia amaldiçoando na cozinha. O aroma das bísquets<br />

de sua mãe permanecia. Ela assava os melhores bísquets do mundo,<br />

completamente desde o zero. Entrou na cozinha e pescou alguns.<br />

— Olá p, é um mau dia?<br />

— Necessito que mantenha seus planos abertos para este fim de<br />

semana. — Seu pai franziu o cenho. — Alex fez os horários desta<br />

semana e deu o dia livre a muitos empregados. Vamos estar muito<br />

ocupados. Se alguém faltar, estaremos com problemas.<br />

Angel agarrou três bísquets, mordendo um.<br />

— Seguro, não se preocupe.<br />

Seu pai se sentou em um dos bancos do bar. Angel podia dizer<br />

que estava sem fôlego.<br />

— Está bem, p?<br />

234


Seu pai assentiu com a cabeça.<br />

— Ouça — disse-lhe Angel. — Deve ir devagar. Por que faz isto<br />

todos os anos? Só relaxe. Se excede trabalhando e tudo sempre sai bem.<br />

A expressão de seu pai era lúgubre.<br />

— Alex não estará aqui este ano. Tem um jogo fora do estado.<br />

— E o que? — Angel encolheu os ombros. — Eu vou estar aqui,<br />

igual a Sofie e Sal. De modo que não se preocupe. Vai ficar doente.<br />

Angel pôs sua mão sobre o ombro de seu papai. Seu pai lhe<br />

aplaudiu e lhe sorriu.<br />

— Estou ficando velho para toda esta merda.<br />

Angel riu.<br />

— Não, algo me diz que estará por aqui chutando traseiros por<br />

muitos anos. — Tomou um gole do café de seu pai e quase se afogou.<br />

— Maldição! — Fez uma careta. — P, tem muito açúcar. Direi a<br />

minha mamãe.<br />

Seu pai o dispensou com a mão, franzindo o cenho.<br />

***<br />

Todo o dia, Angel sentiu uma estranha sensação com Sarah, mas<br />

não podia assegurar do que se tratava. Não era uma má vibração, só<br />

235


era algo diferente. Estava mais faiscante que o normal. Embora,<br />

ultimamente, se converteu em tomar a iniciativa, ele sempre tinha sido<br />

o que não podia conter-se estando perto dela, muitas vezes lhe<br />

interrompia o que dizia, já que não podia ver muito tempo seus lábios<br />

sem poder deixar de beijá-los. Hoje, entretanto, era ela a que esteve<br />

fazendo isso várias vezes.<br />

Depois das aulas, meteram-se em seu automóvel e ela se inclinou<br />

e lhe deu um beijo muito duradouro, com tanta paixão e entusiasmo<br />

que quase o levou ao limite, justo aí.<br />

Quando Sarah terminou, lambeu os lábios.<br />

— Wow! Mas o que aconteceu hoje? Não que eu esteja me<br />

queixando.<br />

— Tenho uma surpresa pra você — Sarah sorriu.<br />

Sua mente girou, tratando de encontrar alguma pista em seus<br />

formosos olhos. Tinha decidido ficar? Não lhe tinha perguntado desde<br />

o dia em que a fez chorar. Dificilmente se permitia pensar em que ela<br />

iria, muito menos na esperança de que ela ficasse. Mas tinha passado já<br />

um momento em que lhe atirasse a punhalada ao mencionar algo sobre<br />

sua partida e já tinha deixado de falar de sua amiga Sydney.<br />

Sentia seu coração pulsar em sua garganta.<br />

— O que é?<br />

— Aqui não — disse-lhe. — Vamos ao nosso lugar.<br />

236


Ele a olhou por um segundo e ligou o automóvel. Requereu toda<br />

sua integridade não conduzir de forma imprudente, mas a maior parte<br />

do tempo sim o fez, dirigiu por cima do limite de velocidade.<br />

Tão logo estacionou, desligou o automóvel e se recarregou contra<br />

sua porta para vê-la de frente. Sarah ainda tinha esse sorriso vertiginoso<br />

que lhe fez sorrir.<br />

— Do que se trata? — Tratou de esconder sua impaciência.<br />

Sarah tirou o cinto de segurança e se voltou para olhá-lo.<br />

— Bom, lembra o dia que saí cedo para ir jantar no aniversário de<br />

meu tio?<br />

Angel assentiu.<br />

— Ah, sim?<br />

— Menti.<br />

Os olhos de Angel se entrecerraram um pouco.<br />

— Okey, por que?<br />

Ela mordeu seu lábio.<br />

— Fui a uma clínica.<br />

Intrigado ficou olhando.<br />

— Estou tomando a pílula.<br />

Angel seguia sem compreender.<br />

237


— Controle da natalidade! — disse-lhe bruscamente.<br />

Os olhos de Angel se abriram enormemente. Sentiu-se como um<br />

idiota. Seus lábios se curvaram lentamente em um sorriso.<br />

— Assim que isso quer dizer que...<br />

— Sim. — Sarah se inclinou para beijá-lo. — Estou preparada.<br />

Angel não podia tirar o sorriso bobo de sua cara. Só de pensar,<br />

tinha ficado como pedra. Queria tomá-la ali mesmo. Mas tinha que<br />

controlar-se. Queria que sua primeira vez, a primeira vez dos dois<br />

juntos, fosse especial.<br />

Roçou os lábios contra os dela, sentindo uma doçura dentro dele<br />

que quase o assustou. Sustentou o rosto de Sarah entre suas mãos.<br />

Logo não podia acreditar que ela seria dele, por completo.<br />

Suas mãos a percorreram completamente. Não estava seguro que<br />

tivesse sido o melhor ouvi-la dizer que ficava ou isto.<br />

Como tinha sido possível que lhe tivesse ocultado algo desta<br />

magnitude, portanto tempo? Deve ter sido há quase três ou quatro<br />

semanas.<br />

— Desde quando está tomando a pílula?<br />

— Já quase três semanas — Recordava o dia que lhe disse a<br />

respeito do jantar de aniversário de seu tio. Ela tinha mentido<br />

diretamente na cara e ele não tinha pescado nem um só indício de falta<br />

de sinceridade. Inclusive, quando lhe chamou essa noite e lhe<br />

238


perguntou como tinha estado o jantar, lhe contou tudo sem vacilar. Ele<br />

sorriu.<br />

— O que é? — Sarah lhe perguntou.<br />

— Você é boa. Não tinha nem ideia.<br />

Sarah riu.<br />

— É claro que sim. Inclusive, depois de te dizer, parecia perdido.<br />

Ele a beijou de novo quando seus olhares se encontraram,<br />

levantando uma sobrancelha.<br />

— Desde quando te tornaste tão boa me ocultando as coisas?<br />

Ela ficou rígida e Angel pensou ter visto trocar sua expressão.<br />

Logo lhe sorriu.<br />

— Só queria te fazer uma surpresa.<br />

— Bom, fez um bom trabalho, Mas, por que agora?<br />

Seu olhar tímido o fez acender-se ainda mais.<br />

— Pensei que poderíamos aproveitar este comprido fim de<br />

semana.<br />

Angel ficou olhando seus suaves lábios cor rosa, com sua própria<br />

boca entreaberta. Suas palavras dançavam dentro de sua cabeça. Queria<br />

isto durante todo o fim de semana? Não só qualquer fim de semana, a<br />

não ser um de quatro dias. Sua mente girava a toda velocidade. Todas<br />

as coisas que poderia lhe fazer. Todas as formas em que a possuiria.<br />

Então, sua mente parou em seco, o restaurante. Embora adorava a<br />

239


forma em que estava pensando, o timing de Sarah não pôde ser pior.<br />

Apertou os lábios e ficou pensando.<br />

— Que aconteceu?<br />

— Para nós, este fim de semana, vai estar muito atarefado com<br />

restaurante.<br />

— Está bem, podemos esperar para o seguinte.<br />

Acaso estava louca?<br />

— De maneira nenhuma. Confia em mim. Já pensarei em algo.<br />

algo.<br />

Com sua mente voando a toda velocidade, já estava idealizando<br />

***<br />

Logo eram sete da noite, um pouco cedo para que Sarah<br />

retornasse a casa. Mas era meio de semana e tinha que fazer um<br />

trabalho da escola que devia estar preparado antes que terminasse a<br />

semana. Já que era o fim de semana de Ação de Graças, o fim de<br />

semana ia chegar muito rápido.<br />

Acreditou escutar que Valéria chegava em casa e se deteve para<br />

poder escutar. Não esperava que chegasse em casa agora, a não ser<br />

mais tarde. Tinha saído com o Alex e geralmente chegava em casa<br />

muito tarde, embora fosse durante a semana.<br />

240


Resultou que Sarah tinha acertado quanto ao Alex. Ele estava de<br />

saco cheio, porque Valéria esteve com o Romero. Primeiro reclamou e<br />

logo voltou a chamar quando esteve mais acalmado, lhe dizendo que<br />

jamais tinha sentido ciúmes em sua vida e que não sabia como dirigi-lo.<br />

Dito isto, Valéria se permitiu seguir saindo com ele, inclusive<br />

com o risco de sair machucada. Então, tinham estado saindo ao menos<br />

duas vezes por semana. Por isso Valéria lhe havia dito, Alex era muito<br />

parecido a Angel quanto a ser possessivo. Só que havia uma grande<br />

diferencia. Nunca tinham mencionado serem exclusivos.<br />

Angel não podia acreditar que Alex estivesse tão zangado a<br />

princípio, mas não teve outra opção do que acreditar quando seu irmão<br />

lhe deixou Romero saber que, sem sombra de dúvidas, Valéria estava<br />

fora de seu alcance.<br />

Sarah ficou de pé para ver se era Valéria que tinha escutado, em<br />

parte pela curiosidade e em parte porque já estava farta de estar fazendo<br />

o trabalho da escola.<br />

Quando chegou a sua casa, viu Valéria sentada em sua cama<br />

revisando suas mensagens no telefone. Mudou e Sarah pôde dar-se<br />

conta que tinha chorado. Seus olhos estavam inchados e seu nariz<br />

avermelhado de tanto chorar. Parte de sua boca se transformou em um<br />

intento de sorriso e logo sacudiu a cabeça e limpou uma lágrima que<br />

rodou por sua bochecha.<br />

lado.<br />

— O que aconteceu? — Sarah se aproximou e se sentou a seu<br />

Valéria se recarregou e pôs sua cabeça sobre o ombro do Sarah.<br />

241


—Terminei com o Alex.<br />

— Por quê? O que aconteceu? — perguntou-lhe Sarah enquanto<br />

esfregava suas costas.<br />

Valéria limpou o rosto com o lenço que tinha em sua mão.<br />

— Simplesmente não posso lutar mais com isto. Fui tão tola em<br />

acreditar que só porque admitiu estar ciumento e que nunca antes o<br />

tinha estado, significava algo. E aqui me tem, a que sempre falava de<br />

quão territoriais podem ser os meninos. Pois bem, olá! Disso se tratou<br />

tudo. Eu não lhe importo porra nenhuma.<br />

Sarah bateu no joelho de Valéria, sem saber que dizer.<br />

— Passou algo hoje na noite?<br />

Valéria assentiu.<br />

— Bom nada diferente que não tenha passado antes. Não lhe<br />

havia dito isso, porque me sentia tola. Mas sempre que estou com ele,<br />

seu telefone soa constantemente e sempre o manda a seu correio de<br />

voz. Nunca lhe disse nada, exceto possivelmente lhe dar a impressão de<br />

que sei que se trata de garotas. Sempre ria e me dizia, 'O que? Tenho<br />

muitos amigos.' Mas, Oh Deus, meu telefone soa e nunca o respondo.<br />

Sempre quer saber por que e se trata de um menino. — deteve-se e se<br />

limpou o nariz. — De qualquer forma — continuou. — Hoje a noite,<br />

seu telefone soou cinco vezes em menos de quinze minutos. De modo<br />

que lhe disse para responder. Primeiro, me disse que não queria, mas se<br />

deu conta que estava me enchendo o saco, então o fez e estou segura de<br />

que era uma garota. Devia ter visto o sorriso em sua cara quando falava<br />

242


com ela. Na verdade me adoeceu. Pendurou e viu o aspecto de minha<br />

cara e lhe disse que me trouxesse para casa. Sabe o que disse?<br />

Sarah negou com a cabeça.<br />

— Você me pediu que respondesse! — Valéria imitou a voz de<br />

homem mais parva que pôde fazer.<br />

Sarah teve que lutar contra suas vontades de rir e se sentiu<br />

culpada ao ver Valéria limpar outra lágrima.<br />

— Disse-lhe que já não quer mais vê-lo?<br />

— Droga, disse-lhe que não podia seguir lutando mais com ele.<br />

Disse-me que não era assim, mas quando lhe perguntei se pareceria que<br />

eu estivesse deitando com outro, ficou calado imediatamente. Deu a<br />

volta no assunto, me acusando de ser eu que já tinha alguém mais com<br />

quem me deitar e dizendo que por isso, estava terminado.<br />

— Não invente — disse-lhe Sarah. — E o que lhe respondeu?<br />

— Que vá ao diabo e lhe perguntei como podia ser que eu<br />

estivesse terminando com algo quando ele obviamente seguia vendo<br />

outras garotas. Não me disse nada. Entretanto, todo o caminho de<br />

casa, tratou de me convencer de que eu estava exagerando e que, na<br />

verdade, lhe importava, só que agora, com a escola e seus horários do<br />

futebol americano, não podia comprometer-se a nada mais. Disse-me<br />

que ainda queria me ver, mas neguei. Terminei com ele. Dói muito. —<br />

Seus olhos voltaram a encher-se de lágrimas. — Entretanto, antes de<br />

chegar aqui eu disse que não queria que houvesse rancores, em caso de<br />

que nos encontrássemos, já que você e Angel estão juntos e todo isso.<br />

243


Não quero que as coisas fiquem estranhas. — De novo, recarregou-se<br />

contra Sarah.<br />

Sarah lhe esfregou as costas de novo, sentindo-se terrível e em<br />

parte também responsável. Era a única que lhe seguia dizendo a Valéria<br />

que definitivamente, entre eles, havia uma conexão definitiva. E na<br />

verdade, pensava que a havia. Ela viu nos olhos do Alex quando<br />

estavam juntos. Angel tratou de lhe advertir que Alex era um<br />

namorador. Devia haver escutado e alertado Valéria, em lugar de havêla<br />

animado.<br />

244


Capítulo Dezesseis<br />

O dia de Ação de Graças estava diferente este ano. No momento<br />

que Angel despertou, parecia muito nervoso. Sarah ia passar o dia com<br />

ele e sua família e depois, ele a levaria para jantar na casa de sua tia.<br />

Saiu perfeito assim, já que para eles, o dia de Ação de Graças era<br />

mais um almoço com tudo meticulosamente disposto na mesa à uma<br />

da tarde, usavam o buffet na cozinha.<br />

Estava preocupado com Sarah. Ele sabia que esta era a primeira<br />

vez que passava o dia de Ação de Graças sem sua mãe. A única vez<br />

que mencionou a data, foi a uns dias atrás e só para lhe pedir que não<br />

se sentisse mal por não convidá-lo para jantar na casa de sua tia. Não<br />

tinha vontade de ficar com membros da família que nunca tinha<br />

conhecido e o ter ali com ela, possivelmente, a deixaria mais nervosa.<br />

Ele queria estar com ela para protege-la de algo desagradável,<br />

mas respeitou seu desejo e aceitou.<br />

Angel tinha grandes planos para a noite. Dependendo se ela<br />

estivesse de acordo, ele queria que essa noite fosse a noite. Esta noite,<br />

Sarah não esqueceria jamais.<br />

Enquanto que a maioria dos meninos de sua idade sonhavam<br />

com a primeira vez, Angel já tinha boa experiência. Desde que tinha<br />

quinze anos, as garotas facilitavam muito as coisas para ele. Mas Angel<br />

245


sempre foi muito precavido, inclusive recusando educadamente as<br />

primeiras vezes que as garotas literalmente lhe ofereciam. Graças aos<br />

conselhos de Sal, seu irmão mais velho, sempre teve medo das doenças<br />

ou de envergonhar alguém.<br />

Eventualmente, acharia uma verdadeira tentação e cairia. Mas já<br />

no início, as palavras de Sal retumbavam em sua cabeça, aparecendo<br />

cada vez que estava a ponto de entrar. “Pensa com a cabeça e não com<br />

o pênis. SEMPRE use uma camisinha, não é não, e não deite com algo<br />

que se mova se não quiser terminar com algo que não possa desfazer,<br />

como uma enfermidade, ou um filho. Lembre-se, as camisinhas não são<br />

100% efetivas. ” E o conselho mais íntimo de todos: “Não seja<br />

estúpido. ”<br />

Essa era a razão principal pela qual, depois de várias festas,<br />

muitas vezes terminava com Dana. A ideia de trocar de casal com<br />

frequência o deixava nervoso, mas nada comparado como se sentia<br />

agora. Desde que Sarah havia dito que já estava preparada, sentiu-se<br />

chegar no limite. Mesmo com a experiência que tinha, sabia que isto<br />

também era uma primeira vez para ele. Tratava-se de Sarah. Só de estar<br />

perto o fazia sentir coisas que nem sequer podia descrever. E agora, ia<br />

fazer amor com ela. Nunca tinha deitado com alguém que lhe<br />

importasse. E dizer que Sarah importava, não era nem de perto<br />

comparado com o que realmente sentia.<br />

Deu uma olhada para casa de sua tia enquanto desligava o carro.<br />

Não tinha tirado as chaves da ignição quando a viu vir para o carro a<br />

toda velocidade pelas escadas da frente.<br />

246


Angel lhe disse que não se preocupasse em estar elegante. O dia<br />

de Ação de Graças em sua casa era algo, menos algo formal. Inclusive,<br />

com umas calças jeans e um casquinho, estaria estupenda.<br />

No momento em que entrou no carro e pegou sua mão, pôde<br />

sentir uma suavidade que fez seu coração se sentir enorme. Hoje, ela<br />

estava um pouco mais bonita e adorava a forma com que seu delicado<br />

aroma sempre enchia o carro. Inclinou-se para ele e roçou seus lábios<br />

nos dele, fazendo uma pausa para olhá-lo nos olhos um momento e<br />

depois sorriu.<br />

Sempre se sentia como um animal selvagem quando estava com<br />

Sarah, mas ultimamente, era diferente. Ela era tudo o que pensava e<br />

quando estava longe dela, o tempo não passava. Angel fechou seus<br />

olhos e a beijou. As palavras saíram de sua boca sem pensar.<br />

— Te amo, Sarah.<br />

Seus olhos se abriram e virou para ver sua expressão. Os olhos de<br />

Sarah estavam tão grandes como seus sentimentos. Ambos ficaram<br />

surpreendidos. Mas ele sabia que o dizia, era verdade.<br />

— Sério?<br />

— Sim, sério. — Respirou fundo e colocou sua testa na dela. Por<br />

mais absurdo que parecesse, acreditou que a amava desde a primeira<br />

vez que a beijou naquela primeira noite. Mas agora, tinha certeza. Não<br />

havia dúvida. Ele estava totalmente apaixonado por ela.<br />

247


Angel procurou em seu olhar o que provavelmente estaria<br />

pensando. Depois, Sarah lhe deu um grande sorriso e o abraçou<br />

fortemente.<br />

— Isso significa muito para mim.<br />

Essas não foram as palavras que ele queria escutar, mas ainda<br />

assim a abraçou com força. Dizer o fez se sentir bem, isso era tudo o<br />

que importava.<br />

***<br />

O almoço na casa de Angel ia muito bem, junto com outros<br />

membros da família que estavam conhecendo Sarah pela primeira vez,<br />

incluindo Sal, seu irmão mais velho. Ela era tão natural, que<br />

imediatamente todos a aceitaram. Durante todo o tempo, Angel não<br />

tirava os olhos dela. Logo que terminaram, levou-a para casa, assim<br />

poderia terminar de jantar lá tão rápido quanto fosse possível.<br />

Quando voltou da casa de Sarah, Eric estava na cozinha, sentado<br />

no bar com um prato cheio de comida e Sofia estava esquentando algo<br />

no micro ondas.<br />

— Pensei que passaria o dia com seu pai — disse Angel enquanto<br />

caminhava em direção a geladeira.<br />

Eric respondeu com a boca cheia.<br />

248


— Já comi com ele.<br />

Vendo o prato cheio do Eric, Angel disse:<br />

— Está brincando, verdade?<br />

Eric nem pestanejou.<br />

— Não. Meu papai estava vendo uma merda de DVD do melhor<br />

do golfe, assim, pensei em vir aqui e ver o que faziam.<br />

Como se não pudesse imaginar. Mas Angel não se importava.<br />

Sentia-se mal por Eric. Eram só ele e seu pai e nenhum dos dois<br />

cozinhava, nenhuma vez comiam comida caseira. Por isso é que<br />

passava muito tempo na cozinha dos Moreno. No que dizia respeito a<br />

Angel, Eric e Romero eram parte de sua família.<br />

Sofia tirou do micro ondas um prato com uma fatia de bolo de<br />

maçã. Pôs em cima uma grande bola de sorvete de baunilha.<br />

— Parece bom, Sofie — disse Angel dando uma olhada no bolo<br />

de maçã enquanto tirava uma bebida energética da geladeira.<br />

— Não é para você. — Pegou o prato e pôs na frente do Eric.<br />

Eric sorriu para Angel.<br />

— Obrigado, Sof.<br />

— Está faminto. Na verdade, vai comer tudo isso? — Angel se<br />

encostou na pia.<br />

249


— Merda, vou comer um pouco mais do purê de batatas<br />

delicioso que sua mamãe fez — disse Eric, pondo em sua boca outra<br />

enorme colherada.<br />

— Eu que fiz — disse Sofia sorrindo.<br />

— Sarah também gostou. — Angel sorriu para Sofia. — Cada<br />

ano que passa está melhor, Sofie.<br />

Sal entrou na cozinha.<br />

— Melhor no que?<br />

— Em tudo — respondeu Eric.<br />

Esse comentário surpreendeu Angel e pensou ter visto Eric e<br />

Sofia trocarem olhares. Ambos, Sal e Angel, ficaram olhando. Eric<br />

terminou de mastigar e pigarreou.<br />

— Quero dizer que, ouvi que Sarah disse que Sofie está<br />

aumentando velocidade na pista. — Eric olhou para Sal. — Mas Angel<br />

estava falando de sua forma de cozinhar.<br />

Sal voltou para a Sofia com um grande sorriso.<br />

— Assim é minha irmã bebê.<br />

Sofia estava começando a pôr os pratos dentro da máquina de<br />

lavar louças.<br />

— Já não sou um bebê, Sal.<br />

Sal pôs sua atenção em Angel.<br />

250


— De modo que todo mundo está crescendo por aqui. Trouxe<br />

para casa uma garota, para conhecer papai e mamãe, Angel? De<br />

verdade?<br />

— Este cara está amarrado — sorriu Eric.<br />

Sem surpreender, Angel o fulminou com o olhar.<br />

— É isso o que acha?<br />

Tomou um gole de sua bebida e desejava que alguém mudasse de<br />

tema. Mas tinha um mau pressentimento. Viu na cara de Sal. Entrou<br />

na cozinha com um propósito. Sal pôs uma cadeira frente à mesa da<br />

cozinha e se sentou escarranchado.<br />

— E desde quando?<br />

Sofia respondeu por ele.<br />

— Três meses e umas semanas.<br />

Isso deixou Angel surpreso. Nem sequer ele sabia ao certo quanto<br />

tempo estavam juntos. Sabia que eram alguns meses.<br />

— Como sabe?<br />

A expressão de Sofie era de brincadeira.<br />

— Sarah e eu conversamos muitas coisas. — Voltou a olhar para<br />

Eric e depois, voltou de novo para Angel. — Mencionou recentemente.<br />

— Wow — disse Sal. — Então me conte, o que foi que te fez ser<br />

homem de uma só mulher?<br />

251


Sabendo que Sal não o deixaria em paz até saber tudo, Angel<br />

decidiu lhe dar um breve resumo de tudo.<br />

Muito breve.<br />

Sal estava esperando por um relato mais detalhado, mas isso não<br />

ia acontecer. Angel fez o possível para parecer aborrecido.<br />

— Conheci-a na escola. Ela era a garota nova este ano e<br />

realmente não conhecia ninguém. — Angel encolheu de ombros. —<br />

Pensei que fosse genial, assim começamos a sair, a apresentei aos<br />

meninos e a Sofie e depois, estou com ela. Não é a grande coisa.<br />

Perguntou-se se alguém tinha acreditado. Todos o viram hoje.<br />

Demônios, nunca antes se esforçou por ocultar o afeto que sentia pela<br />

Sarah. Mas esta noite era diferente. Dizer que a amava provocou algo<br />

nele. Algo que não podia decifrar. Tudo o que sabia é que cada vez que<br />

a beijava, tocava-a, ou só a olhava nos olhos, algo dentro dele acendia.<br />

Sal parecia satisfeito. — Parece muito agradável.<br />

— Ela é realmente agradável — disse Sofia estando de acordo. —<br />

É minha amiga.<br />

Eric gemeu.<br />

— Oh, acredito que comi muito. Sofie, por que me deu tanta<br />

comida?<br />

Vendo que mudavam de tema, Angel aproveitou.<br />

— Bom, isso é o que ganha. Então, fazemos exercício amanhã?<br />

252


Eric se sentou para trás na cadeira com as mãos em seu<br />

estômago. O aspecto de dor em sua cara fez Angel rir.<br />

Sem perder o ritmo, Sofia pôs um copo de água borbulhante em<br />

frente a Eric.<br />

— Olhe isto, tomate.<br />

Angel e Sal olharam para Sofia.<br />

— O que? Isso é o que papai toma quando come muito.<br />

Eric fez o que lhe disse e no meio copo parou com cara de asco.<br />

— O que é isso?<br />

— Água mineral — disse Sofia. — Beba tudo.<br />

Angel se surpreendeu como Sofia ultimamente estava se<br />

comportando como a mamãe dos pintinhos. Desfrutava de ver como se<br />

zangava quando a chamava sua irmã bebê, mas por mais que dissesse,<br />

não deixaria de chama-la assim.<br />

Soou seu telefone e quando viu que era Sarah, imediatamente se<br />

preocupou. Não estava na casa de sua tia há tanto tempo. Abriu a<br />

tampa do telefone.<br />

— Oi, o que houve?<br />

— Estou preparada. — Sarah disse.<br />

— Como é?<br />

253


— Está tudo bem. Saí de sua casa satisfeita, assim, só comi a<br />

sobremesa. Vem até aqui. Te contarei tudo.<br />

Só de pensar que voltaria a vê-la o fez sorrir.<br />

— Ok, chego em um minuto.<br />

— Angel — sussurrou Sarah.<br />

— Sim?<br />

— Disse que estou preparada.<br />

Levou um momento para entender. Mas quando o fez, seu<br />

coração disparou e dentro de suas calças, houve uma grande revoada.<br />

Maldição, ela o deixava louco.<br />

— Vou até ai.<br />

Angel não se deu conta até que desligou, mas Sal estava o vendo<br />

o tempo todo.<br />

— A vai trazê-la para cá? — perguntou Sal.<br />

Angel lhe respondeu com um amplo sorriso:<br />

— Não.<br />

— Fiquem juntos. Só se lembre, não seja bruto. — Disse<br />

piscando os olhos, Angel pegou as chaves de seu carro e saiu.<br />

***<br />

254


Sua tia a tinha feito pensar que ia haver uma grande quantidade<br />

de parentes por parte de sua mãe ali. Se Sarah soubessem quem ia estar<br />

lá, preferia que Angel estivesse lá.<br />

Durante todo o dia, Sarah não deixou de pensar que Angel havia<br />

dito que a amava. Ela desejava ardentemente poder lhe dizer que ela<br />

também o amava, mas como poderia? Como ia assim, do nada, lhe<br />

dizer que o amava quando muito em breve iria embora e ele sabia<br />

perfeitamente que era por escolha própria? Simplesmente não podia<br />

fazer isso. Por mais que tivesse gostado de ter ouvido dizer que a<br />

amava, preferia não ter escutado. Só deixou a culpa muito mais pesada.<br />

— E o que foi que aconteceu? — Saíram do caminho da entrada<br />

da casa de sua tia. Angel pôs sua mão em seu colo e ela a envolveu com<br />

suas duas mãos.<br />

Sarah respirou profundo.<br />

— Antes de mais nada, tanta preocupação para nada. A maioria<br />

dos parentes que chegaram, eram por parte de meu tio e os poucos que<br />

chegaram do lado de minha mamãe, eram de parentes longínquos.<br />

Aparentemente, os membros mais próximos de sua família vivem no<br />

Arizona. Na real, ninguém parecia interessante. Minha tia literalmente<br />

teve que lembrá-los que tinha uma irmã. Os adultos comeram na mesa<br />

da sala, enquanto que... — e elevou os dedos para citar — nós, as<br />

crianças, comemos na cozinha. Na verdade, estava muito chato.<br />

Pulou a parte em que os sobrinhos de seu tio a paqueraram<br />

descaradamente. Surpreendeu-se que os dois fossem quase da mesma<br />

idade que Angel e comparados com ele, ambos eram um par de<br />

crianças imaturas.<br />

255


Angel sorriu:<br />

— Que bom. A verdade é que me preocupei quando me ligou tão<br />

rápido. Pensei que tinha acontecido algo.<br />

Ela se encostou nele.<br />

— Não, o que aconteceu é que não podia esperar para estar<br />

contigo.<br />

Angel apertou sua mão.<br />

Quando se aproximaram do beco pela parte de trás do<br />

restaurante, Sarah não estava segura de onde estavam. Olhou ao redor<br />

um pouco confusa.<br />

Quando entraram, sorriu. O que tinha em mente? Não tinha<br />

planejado fazer uso de um dos reservados, ou tinha? Caminharam por<br />

um corredor curto e através do pequeno escritório desordenado.<br />

Passaram por outra porta para o que parecia ser uma sala de descanso.<br />

Já tinha ouvido falar dela, mas nunca esteve lá. Havia um<br />

mostrador com um forno micro ondas, uma torradeira, uma geladeira<br />

contra a parede com gabinetes a seu redor, uma mesa a metade do<br />

cômodo e um sofá junto à mesa frente a um televisor que se encontrava<br />

no canto.<br />

Então, no final do quarto a viu, uma cama. Era uma pequena<br />

cama individual com uma colcha escura, nada elegante, mas serviria.<br />

Sentiu seu coração acelerar.<br />

Angel foi para a geladeira, abriu e tirou uma garrafa de vinho.<br />

256


Sarah sorriu.<br />

— Ouça, meu tesouro! Pensei que possivelmente quisesse relaxar<br />

um pouco.<br />

Era notório que ela estava nervosa? Serviu-lhe um copo e depois<br />

pôs a garrafa dentro da geladeira e pegou uma cerveja para ele. Ela<br />

mordeu o lábio quando ele a levou para a cama. Sarah sentiu como se o<br />

enxame que estava em seu estômago ficava louco. Tomando um<br />

comprido gole de seu vinho, viu quando se aproximou de novo do<br />

mostrador. Abriu um gabinete em cima dele e tirou uma bolsa de<br />

plástico branco. Retornou e sentou a seu lado.<br />

Sorriu e respirou fundo.<br />

— Quero que saiba que, mesmo que vá embora, quero que<br />

estejamos juntos.<br />

Sua vista nublou com lágrimas mornas. Tinha pensado nisso<br />

tantas vezes, mas não se atrevia a perguntar. Era lhe pedir muito.<br />

Depois de tudo, era escolha dela retornar. Como poderia escolher?<br />

Angel tirou uma caixa pequena da bolsa e a deu. Antes que<br />

pudesse abri-la, ele pôs sua mão sobre a dela.<br />

— Sarah, isto não vai ser fácil, mas estou disposto a fazer tudo o<br />

que for necessário. Não me importa se tiver que dirigir cada fim de<br />

semana. Só porque está muito longe não significa que serei seu<br />

namorado em meio tempo. Entende o que digo? Quero que tudo seja<br />

exatamente como é agora. — Ela forçou um sorriso e assentiu.<br />

257


— Claro que sim. — Ele a beijou e retirou sua mão da sua, para<br />

que pudesse abrir a caixa. Abriu-a e tirou um bracelete de prata com<br />

pingentes. — É lindo. — Contemplou os diferentes pingentes. — Você<br />

os escolheu?<br />

Angel assentiu.<br />

— Cada um deles.<br />

Passou cada um. Primeiro uma estrela de mar pequena, depois<br />

várias conchas de mar e um bote. Os sapatos para correr e a garrafa de<br />

vinho a fizeram sorrir.<br />

— A senhorita achou engraçado quando lhe perguntei se tinha<br />

um pingente em forma de garrafão de vinho.<br />

Sarah riu.<br />

— Então o lugar não era muito elegante.<br />

— Sim, deve ter sido.<br />

O pingente de coração tinha seu nome gravado, Sarah.<br />

— Vire-o — disse Angel.<br />

Fez e leu a inscrição. Para ti... para sempre ~ Angel.<br />

Pôs sua mão sobre sua boca, conforme as lágrimas rodavam suas<br />

bochechas. Seus olhares se cruzaram por um momento e depois, Angel<br />

a beijou. Ela respirou fundo e depois novamente pôs sua atenção no<br />

bracelete. Havia mais um pingente que parecia como um frango ou<br />

pato. Um pouco confusa, voltou a olhá-lo.<br />

258


— Cuac!<br />

Sarah começou a rir<br />

— Ai, Angel, é perfeito. — e abraçou seu pescoço.<br />

A beijou e logo a afastou um pouco para poder vê-la, limpou suas<br />

lágrimas com seus polegares e sorriu.<br />

— Me deixe ver.<br />

Pegou o bracelete de sua mão e pôs em seu pequeno punho,<br />

segurando-o. Sarah levantou a mão ao ar.<br />

— Amei.<br />

— Te amo. — Angel a olhou nos olhos.<br />

Eu também. Por pouco saíram essas palavras de sua boca, mas<br />

soube as parar e sorriu. Era uma tortura, mas não podia dizer.<br />

Angel pegou o copo que Sarah segurava com sua outra mão, o<br />

pôs no piso e a puxou para ele. Seus olhos estavam fixos em seus<br />

lábios, de modo que baixou a cabeça e a beijou, imediatamente<br />

procurando sua língua. Ela a ofereceu imediatamente, querendo que<br />

sentisse quanto o amava, compensá-lo já que não podia dizer-lhe.<br />

Seguiu beijando-a enquanto a deitava sobre o travesseiro e depois<br />

recostou parcialmente sobre ela.<br />

Sua respiração estava mais agitada, chupando sua língua mais<br />

forte. Sua boca começou a percorrê-la, beijando suas bochechas, seu<br />

queixo e empurrou sua cabeça para trás com suavidade.<br />

259


— Te amo tanto — sussurrou enquanto lambia e chupava com<br />

suavidade seu pescoço, fazendo com que seu corpo estremecesse. Sarah<br />

acariciava seus fortes bíceps enquanto Angel desabotoava sua blusa.<br />

Quando terminou de despi-la, ele se despiu e ficou a olhando.<br />

Depois, arrastou-se para ela.<br />

— Sarah — sussurrou — As primeiras vezes serão rápidas.<br />

Contigo não posso me controlar.<br />

Sarah tragou saliva. As primeiras vezes?<br />

— Mas te recompensarei. Prometo isso.<br />

Sarah se ofereceu, disposta. Apesar de todo seu nervosismo, ela<br />

desejava que Angel sentisse quanto o amava. Tinha que saber. Ele<br />

significava para ela o mundo, não havia dúvida de que ela queria que<br />

sua primeira experiência fosse aqui, com ele.<br />

260


Capítulo Dezessete<br />

Afligido por todas essas assombrosas emoções, Angel seguia<br />

ainda dentro dela. Beijou-a na têmpora e logo na frente. Desde que<br />

conheceu Sarah, sentia muitas emoções pouco familiares, mas<br />

nenhuma comparada com o que estava sentindo neste momento.<br />

Passou tanto tempo rindo e pensando que os meninos com<br />

namorada séria eram bobos. Pensava também que era inimaginável<br />

alguém estar satisfeito com uma só garota. E agora aí estava ele,<br />

olhando Sarah, sabendo, sem dúvida que nunca estaria satisfeito com<br />

ninguém mais que ela.<br />

Desde o primeiro dia em que olhou seus olhos inquietantes,<br />

Sarah tinha capturado algo nele. Bobamente pensou que seria suficiente<br />

só chegar a conhecê-la. Tinha sido apanhado por seus olhos feridos, sua<br />

risada contagiosa e sua obstinada determinação e sem aviso prévio,<br />

tinha ficado de joelhos por ela.<br />

Sem fôlego, beijou-a nas têmporas:<br />

— Você, é minha.<br />

Ela assentiu com a cabeça, passando seus dedos ao longo de suas<br />

costas.<br />

De jeito nenhum a deixaria fora de sua vida. A ideia o<br />

sobressaltou, apanhando cada um de seus sentidos. Angel a beijou<br />

suave e meigamente, enquanto se virava e saía dela. Por um momento,<br />

261


se sentou a um lado da cama, sentindo-se um pouco aturdido. Nu,<br />

ficou de pé e caminhou para a porta.<br />

— Aonde vai? — perguntou Sarah.<br />

Angel se virou e sorriu.<br />

— Vou ao banheiro. Volto já.<br />

Saiu do quarto e seguiu o corredor em direção ao banheiro.<br />

Quando retornou, Sarah estava sentada na cama, segurando sua calça.<br />

Angel deslizou ao seu lado na cama, vestiu as calças, encaminhou-se<br />

para o sofá que estava do outro lado do quarto e entregou a Sarah uma<br />

toalha.<br />

— Sente dor?<br />

O aspecto inocente na cara de Sarah o fez sorrir. Ela negou com a<br />

cabeça.<br />

— Não, mas penso que pode ser doloroso se tentarmos<br />

imediatamente.<br />

Angel se levantou da cama e elevou a colcha pela parte superior.<br />

Sarah se moveu a um lado e logo se meteu debaixo dela. Angel<br />

deslizou junto a ela sob a colcha e a atraiu a seu lado, deslizando seus<br />

braços ao redor de seu quente corpo nu.<br />

dias.<br />

— Meu Deus, vou sentir saudades de estar com você todos os<br />

Sarah ficou tensa.<br />

262


— O que foi? — perguntou Angel.<br />

Sarah negou com a cabeça.<br />

— Nada, é que eu não gosto de pensar sobre isso.<br />

Angel não disse nada, mas não podia deixar de se perguntar por<br />

que Sarah estava tão determinada a retornar, se nem sequer podia<br />

pensar nisso.<br />

Então, se lembrou, Sydney.<br />

Angel a beijou no nariz.<br />

— Talvez, assim que Sydney for à universidade, possa considerar<br />

retornar.<br />

A expressão em seu rosto deixou Angel envergonhado. Ele já<br />

tinha visto essa mesma expressão antes e o fez sentir-se incômodo, mas<br />

não soube o que significava.<br />

— O que se passa? — perguntou Angel.<br />

Ela o olhou por um segundo, ainda com esse aspecto<br />

desconcertante.<br />

— Sydney — disse Sarah. — Bom, não é tudo... como você pensa<br />

— disse hesitante.<br />

Sem compreender, Angel fechou os olhos. Foi então que viu uma<br />

ligeira mudança em sua expressão.<br />

263


— O que quero dizer, é que não se trata só de Sydney, Angel. Pra<br />

falar a verdade, não sei o que acontecerá com minha mãe. Pode ser que<br />

então, ela já tenha saído.<br />

A última coisa que Angel queria era falar sobre a mãe dela. Com<br />

todo o egoísmo que sentia, não queria estragar a noite, não essa noite.<br />

Angel a beijou suavemente.<br />

— Não há por que nos preocuparmos com isso agora, ok?<br />

Deslizou suas mãos por todo seu corpo nu e respirando<br />

profundamente, fechou seus olhos. Ter Sarah assim tão perto, sem<br />

absolutamente nada entre os dois deixava-o louco. Estava pronto, de<br />

novo.<br />

Beijou-a mais intensamente desta vez, querendo come-la. Por<br />

mais que quisesse fazer amor uma e outra vez, sabia que ela estava<br />

dolorida e não queria machucá-la. Não queria que Sarah recordasse<br />

assim a primeira vez em que estiveram juntos.<br />

Mas lhe fez a promessa de compensá-la. Depois de tomar fôlego,<br />

abriu-se caminho para seus quadris. Sentiu como Sarah tremia<br />

enquanto a beijava na parte interior das coxas. Ela nunca esqueceria<br />

esta noite. Angel se asseguraria disso.<br />

***<br />

264


Valeria levou Sarah ao shopping. Mais tarde nessa noite, todos<br />

iriam celebrar o aniversário de Angel. Sarah queria escolher um<br />

presente e Valeria queria comprar um vestido novo. Alex ia estar lá, de<br />

modo que Valeria queria fazê-lo babar.<br />

Sarah estava nervosa por seu presente. O bracelete que Angel lhe<br />

deu era muito especial. Queria que seu presente fosse especial para ele<br />

também. Ele não gostava de joias, mas ela sentia que isto merecia algo<br />

especial. Escolheu uma corrente de prata singela e mandou gravar uma<br />

frase. Sua... para sempre ~ Sarah.<br />

Sarah era dele em todos os sentidos. Queria algo que o recordasse<br />

dela todos os dias, especialmente quando ela fosse para o Arizona.<br />

Duas semanas haviam se passado desde que se entregou a ele pela<br />

primeira vez. Depois disso, aproveitavam todas as oportunidades que<br />

tinham para fazê-lo novamente. Cada vez o desfrutavam mais. Só de<br />

pensar nisso, a fazia sentir-se desejosa.<br />

Ambas, ela e Valeria, examinaram a corrente quando o<br />

funcionário da loja entregou a Sarah sobre o mostrador.<br />

— Olha, isso ficou bonito de verdade — disse Valeria.<br />

Sarah enrugou o nariz.<br />

— Acha mesmo? Não acha que é muito brega?<br />

— Não, de jeito nenhum. — Valeria revisou a gravura. — Oh!<br />

Isto vai encantá-lo.<br />

Valeria saiu da loja para atender seu telefone e Sarah terminou de<br />

pagar pela corrente. Quando saiu da loja, conseguiu ouvir o fim da<br />

265


conversa de Valeria e deu-se conta de que estava falando com Alex.<br />

Valeria virou para olhar Sarah.<br />

— E esse sorriso? — perguntou Sarah brincando.<br />

Saíram do shopping caminhando lentamente.<br />

Valeria encolheu os ombros.<br />

— Alex é bonito, mas não sei. Detesto que faça eu me iludir.<br />

— O que ele queria?<br />

— Saber se vou hoje à noite.<br />

Sarah estava surpreendida. Sabia que Alex seguia ligando pra<br />

Valeria, mas não esperava que ele quisesse seguir vendo-a.<br />

— Isso é o que ele queria?<br />

— Parece que sim, disse que vai ficar me esperando. Quer falar<br />

comigo.<br />

— Bem, isso é bom, certo? — Sarah franziu o cenho, ao pensar<br />

em como tinha incitado Valeria antes e como ela tinha se<br />

decepcionado. E agora, estava fazendo, de novo.<br />

— Não muito. Disse a ele que tinha estado falando novamente<br />

com Reggie. Não menti pra ele. Ultimamente, Reggie esteve falando<br />

comigo e mandando mensagens de texto. Alex me perguntou se<br />

pensava em voltar com ele, respondi que não tinha certeza. Isso sim foi<br />

mentira. — O gesto da Valeria se tornou amargo. — Não quero meu ex<br />

de volta, especialmente sentindo o que sinto por Alex. Acredito que<br />

266


simplesmente é um menino. Sinto que toda essa estória do Reggie o<br />

deixou meio doido. Feriu uma fibra do seu orgulho, tenho certeza.<br />

— Ainda sente algo por ele? — Sarah não podia entender Valeria.<br />

Pensava que ela superava facilmente sua relação com os meninos.<br />

Entretanto, Alex a tinha feito chorar e muito.<br />

A cara de Valeria disse tudo e Sarah se sentiu mal por ela.<br />

— Estava tudo bem até que ele começou a me procurar de novo.<br />

Mas se vejo ele essa noite, sei que vai ser ainda pior.<br />

Sarah se deteve antes de dizer algo esperançoso para animá-la.<br />

Não voltaria a fazer o mesmo.<br />

— Bom, não tem por que preocupar-se por isso agora. O que tiver<br />

de ser, será.<br />

Terminaram suas compras e se foram de carro para sua casa.<br />

Valeria deixou de falar sobre Alex e Sarah não queria trazer esse tema<br />

de novo à conversa. Estava folheando uma revista quando recebeu uma<br />

mensagem de texto de Sofia que quase lhe causou um ataque do<br />

coração.<br />

— Quero morrer, Romero surpreendeu ao Eric e a mim. Pode<br />

falar?<br />

Sarah se endireitou e apertou o botão para chamar. Sofia lhe<br />

respondeu ao primeiro toque.<br />

— O que aconteceu?<br />

267


— Fui recolher um DVD que queria que me emprestasse — disselhe<br />

rindo. — espere.<br />

Aturdida, Sarah a esperou. Em toda sua vida, não podia entender<br />

como Sofia podia encontrar graça em toda esta situação. Desde a<br />

primeira vez que Sofia mencionou que ela e Eric se beijaram, mal podia<br />

conter-se. Após, para o terror de Sarah, punha-a a par de cada encontro<br />

que ela e Eric tinham. Cada um desses momentos era mais intenso que<br />

o anterior. O coração quase saia pela boca e Sofia estava aí, se<br />

acabando de rir!<br />

Escutou uma porta se fechar e novamente escutou a voz de Sofia.<br />

— Ok, eu acabava de sair da casa e Angel acabava de chegar. De<br />

qualquer modo, Eric estava sozinho em casa, mas acabava de sair do<br />

banho. Só tinha a toalha posta e começamos a nos beijar e nos tocar. —<br />

Sofia abaixou a voz. — Sarah, a toalha caiu e eu vi tudo!<br />

Sarah sentiu que ia desmaiar. Começou a se abanar com a<br />

revista.<br />

Valeria ficou olhando.<br />

— Quer que ligue o ar condicionado?<br />

Sarah negou com a cabeça.<br />

— E o que aconteceu?<br />

— Me afastei dele. Ele, na verdade, se sentiu mal e não parava de<br />

se desculpar e de perguntar se eu estava bem. E eu estava. Só fui pega<br />

de surpresa. Mas foi emocionante. — Novamente, Sofia voltou a rir,<br />

268


fazendo com que Sarah ficasse desconcertada. — Então, ouvimos que<br />

alguém batia na porta. Romero nem sequer esperou. Assim, sem<br />

preambulo, entrou. Eu agarrei o DVD do suporte e saí correndo dali.<br />

Emocionante?<br />

Sarah se abanou mais forte ainda. Valeria a olhou estranho e<br />

ligou o ar condicionado. Sarah agradeceu o ar frio. Quase começava a<br />

suar.<br />

— Romero te disse alguma coisa?<br />

— Não, só ficou ali sem poder dizer uma palavra. Acha que ele<br />

vai falar alguma coisa?<br />

— Não sei — respondeu Sarah.<br />

Na verdade, não sabia. Isso estava fora de controle. Desejava<br />

poder dizer a Sofia que não lhe contasse mais nada. Já não queria saber<br />

de nada. Já era bastante ruim ocultar uma coisa grande assim de Angel.<br />

Não estava segura de qual das duas coisas era pior. Só de pensar a fez<br />

estremecer-se. Mas também sabia que Sofia estava sozinha em tudo<br />

isto.<br />

Sarah não sabia se devia sentir pena por ela ou admirá-la. O<br />

mundo de Sofia estava cheio de homem das cavernas prepotentes, mas<br />

ao que parece, isso não a detinha.<br />

— Tenho Eric na outra linha! — disse Sofia quase aos gritos. —<br />

Logo te chamo!<br />

269


Houve um clique e a chamada terminou. Sarah olhou o telefone<br />

totalmente aturdida.<br />

— O que foi tudo isso? — perguntou-lhe Valeria.<br />

— Acredita em mim, você não quer saber.<br />

Já estava em casa quando Sofia ligou de novo. Eric tinha sido<br />

honesto, mas contou a Romero o indispensável e Romero prometeu<br />

não dizer nada, mas pensava que Eric era incrivelmente estúpido.<br />

Sarah ficou aliviada ao saber de tudo e além disso estava contente<br />

de não ser a única que sabia. Mesmo assim, preocupava-se que Romero<br />

ficasse bêbado e espalha-se a estória para todo mundo. Essa noite ia ser<br />

muito interessante. Todos iriam estar ali.<br />

270


Capítulo Dezoito<br />

Como era de costume, o coração de Angel se descontrolava só de<br />

ver Sarah. Assim que Sarah entrou no carro, beijou-a. Era para ser um<br />

beijo inocente, mas incapaz de conter-se, beijou-a apaixonadamente até<br />

que alguém no assento de atrás pigarreou. Sarah se afastou<br />

imediatamente e voltou. Romero, Sofia e Eric estavam amontoados no<br />

assento de atrás.<br />

— Não os vi, meninos. — Sua expressão escandalizada ao vê-los,<br />

surpreendeu Angel. Esta não era a primeira vez que ele se mostrava<br />

apaixonado por ela na frente deles.<br />

— Foi minha culpa — disse Angel sorridente, enquanto dirigia<br />

para sair da entrada dos carros. — Esqueci que havia alguém no<br />

assento de atrás.<br />

— Eu estava falando contigo quando ela entrou no carro —<br />

protestou Romero.<br />

Angel riu entre dentes e entrelaçou seus dedos nos de Sarah,<br />

colocando ambas as mãos em cima de sua perna. Sarah olhou para<br />

frente, um pouco rígida. Na verdade, não sabia o que fazer. Esperava<br />

que Sarah não estivesse chateada.<br />

Todo o caminho para o boliche foi muito silencioso, exceto pelos<br />

protestos de Romero a respeito da música. Angel desligou o rádio para<br />

271


calar Romero e olhou pelo retrovisor para ver sua reação. O que viu foi<br />

a cabeça da Sofia, no ombro do Eric.<br />

— Está cansada Sofia? — perguntou Angel.<br />

Endireitando-se imediatamente, Sofia lhe respondeu.<br />

— Não.<br />

Angel viu a hora no relógio. Eram oito horas.<br />

— Eric, estava dormindo em cima de você?<br />

Sarah endireitou em seu assento e levou a mão de Angel para<br />

seus lábios e a beijou. Imediatamente se esqueceu de Sofia e em troca<br />

sorriu. Estava contente que Sarah não estivesse zangada. Tinha que<br />

lembrar que, embora não se importasse com o que as pessoas<br />

pensassem a respeito de como Sarah o enlouquecia e o fazia sentir, ela<br />

era um pouco mais reservada.<br />

Quando chegaram ao boliche, Angel levou Sarah para longe dos<br />

outros.<br />

Com seus braços abraçou sua cintura e a atraiu para ele.<br />

— Está zangada?<br />

A cara confusa de Sarah lhe deu alívio.<br />

— Por que?<br />

— Nada. — Beijou-a, sentindo-se um maluco. — Não importa.<br />

272


Ele devia saber que algo assim não a faria se zangar. Não importa<br />

o que tinha acontecido, já tinha passado. Sarah o olhou estranho, mas<br />

não perguntou nada.<br />

No boliche havia mais gente do que Angel tinha esperado. Sabia<br />

que as sextas-feiras eram muito agitadas. Apagaram as luzes e puseram<br />

música, mas havia muita gente. A maioria dos meninos da equipe já<br />

tinha chegado e aparentemente, Sarah e Sofia tinham convidado à<br />

equipe de corrida, porque muitas delas estavam lá.<br />

Sarah e Sofia se afastaram para estar com suas amigas da equipe<br />

de corrida. Angel não se importou. Tinha esperanças de que elas a<br />

convencessem a unir-se à equipe e decidisse ficar. Faltava só uma<br />

semana antes que ela fosse e isso o estava matando. Mas não ia pensar<br />

nisso e arruinar a noite.<br />

Romero lhe arrumou um refresco e pôs seu braço ao redor de<br />

seus ombros.<br />

— Feliz aniversário, cara.<br />

Angel bebeu cuidadosamente o refresco. Já sabia. Estava certo,<br />

sabia que era apenas para esconder o álcool disfarçado com refresco.<br />

Angel tossiu.<br />

— Que diabos era isso?<br />

Romero começou a rir e outros membros da equipe fizeram o<br />

mesmo.<br />

— É seu aniversário, Angel. Não seja maricas!<br />

273


Alguém sempre tentava pôr algo em sua bebida. E sabia que os<br />

meninos iam tentar prejudicá-lo, porque era seu aniversário. Mas ele<br />

tinha outros planos para essa noite. Não iam fazê-lo perder isso.<br />

Sempre acontecia a mesma coisa. Todos eram menores de idade,<br />

por isso, a única oportunidade de tomar um gole era colocar escondido.<br />

Tinha certeza que mais da metade das pessoas que estavam ali, traziam<br />

algo. Angel nem sequer gostava do licor forte. O mais forte que tomava<br />

era cerveja e mesmo assim, tomava sozinho uma ou quando muito,<br />

duas. Mas não queria desiludir os meninos, assim, fingia que estava<br />

tomando. Sabia que todos estavam bebendo a mesma merda e breve,<br />

ninguém se daria conta de que tinha se desfeito da sua bebida.<br />

Já havia passado várias horas e Angel não podia acreditar que<br />

continuava chegando gente. O lugar estava ficando muito cheio. Angel<br />

sabia que Sarah estava lhe dando espaço para ficar com os meninos.<br />

Sarah foi até ele por um momento, mas depois ficou junto de suas<br />

amigas.<br />

Angel não tinha problema algum se Sarah ficasse a seu lado a<br />

noite toda, mas à conhecia. Não o faria. Para ela, sempre foi<br />

importante lhe dar espaço.<br />

Alex chegou tarde, mas Angel gostou. Sabia muito bem que este<br />

ripo de festas não se comparava com as que Alex tinha agora na<br />

universidade. Mas mesmo assim, estava ali, parecendo mais feliz do<br />

que nunca.<br />

— Feliz aniversário, pequenino. — Alex chocou sua mão e o<br />

puxou para si para lhe dar um abraço de urso. Angel lançou um<br />

grunhido quando Alex, a propósito, o abraçou fortemente. Só Alex o<br />

274


fazia sentir mais menino. Soltou-o e deu uma olhada ao redor. —<br />

Maldição, este lugar está muito cheio — Alex parecia satisfeito.<br />

Havia muito álcool no ambiente. Isso nunca era bom. Percebeu<br />

que vários empregados estavam com cara preocupada. Havia só um<br />

guarda de segurança. Era um cara mais velho, já entrado nos cinquenta<br />

anos e já tinha dado bastante duro tentando separar uma disputa verbal<br />

entre duas garotas. É obvio que em nada tinha ajudado um grupo de<br />

bêbados por aí gritando: Briga! Briga! Briga!<br />

Angel estava vigiando Sarah, mas com a chegada de Alex,<br />

perdeu-a de vista entre a multidão. Romero se aproximou e Angel lhe<br />

perguntou.<br />

— Viu as garotas?<br />

Era óbvio que Romero já estava bêbado.<br />

— Sim, vi um montão delas.<br />

— Refiro-me a Sofia e Sarah, cara.<br />

Romero levantou as sobrancelhas e elevou os ombros. Angel<br />

percebeu que Romero não ia ser de grande ajuda.<br />

— Não sei de Sarah, mas Sofia está com o Eric.<br />

— E onde está Eric?<br />

— Eu é que sei?<br />

Angel franziu o cenho. Por que diabos isso lhe incomodava? Bem<br />

quando estava tentando ordenar seus pensamentos, aconteceu uma<br />

275


comoção a suas costas. Deu a volta e antes de se dar conta, havia copos<br />

e comida voando pelos ares.<br />

Todos estavam brigando, as garotas gritavam e mais e mais gente<br />

se envolvia na rixa. Angel procurava freneticamente Sarah e Sofia.<br />

Sentiu uma mão no ombro, e instintivamente a tirou de cima, mas viu<br />

que era Alex.<br />

— Onde está Sofia? — Sua cara de preocupação era igual ao que<br />

Angel sentia.<br />

— Não sei. — Angel estava zangado, tinha perdido de vista às<br />

garotas. Isto era um caos. Todo mundo estava sendo empurrado. Angel<br />

e Alex abriram espaço entre a multidão.<br />

— Ali está Sarah — assinalou Alex.<br />

Angel a viu e saiu disparado para ela. Estava com Valéria, mas<br />

não via Sofia em nenhum lado. A expressão de preocupação da Sarah<br />

se atenuou no momento em que o viu. Ele a pegou pela mão assim que<br />

a alcançou.<br />

— Onde está Sofia?<br />

Ela negou com a cabeça.<br />

— Não sei. Separamo-nos quando todo mundo começou a<br />

empurrar.<br />

— Circulem, circulem! — O segurança e um par de empregados<br />

do boliche estavam fazendo com que todo mundo saísse.<br />

276


A única coisa que podiam fazer era sair dali. Cheios de<br />

ansiedade, ficaram parados fora no estacionamento vendo todos saírem<br />

do lugar.<br />

Que diabos tinha passado por sua cabeça para trazer Sofia neste<br />

lugar? Angel sentiu como Sarah lhe apertava a mão. Viu Eric sair entre<br />

a multidão, mas não Sofia. Viu quando Eric levantava sua mão entre a<br />

multidão e conforme as pessoas dispersavam, viu Sofia de mão dada<br />

com ele. Angel exalou aliviado.<br />

— Aí estão! — Sarah levantou sua mão para chamar sua atenção.<br />

Eric os viu e caminhou por entre a multidão para eles, sem soltar<br />

a mão da Sofia. Quando chegaram, sorriu e deu um tapinha com sua<br />

mão livre no ombro de Angel.<br />

— Cara amigo! Este é um aniversário ou o quê?<br />

Angel sacudiu a cabeça e se dirigiram para o carro. Alex e Valéria<br />

já estavam lá.<br />

— E agora, aonde? — Perguntou Alex.<br />

Para Angel, a festa tinha terminado. Já tinha seus próprios<br />

planos. Eles estavam, depois de tudo, festejando seu aniversário.<br />

— Acredito que já tive ação suficiente por uma noite — disse<br />

Angel mentindo. — Vou levar os meninos para casa.<br />

— O que? — Havia uma nota de desencanto no tom do Eric.<br />

— Não são nem sequer onze — adicionou Sofia.<br />

277


Angel puxou Sarah pela cintura e ela se encostou nele.<br />

— Sim, Sarah está cansada.<br />

Sarah levantou subitamente a cabeça e lhe deu uma cotovelada<br />

na costela.<br />

— Não me jogue a culpa!<br />

Angel tentou, mas não pôde ocultar um sorriso:<br />

— Sarah, carinho, era para você me seguir.<br />

Alex tirou suas chaves do bolso.<br />

— Toma. — As lançou para Eric. — Leve Sofia e esse bêbado<br />

para casa. Valéria quer me ensinar algo.<br />

Alex esboçou um sorriso malicioso e Valéria lhe deu uma<br />

cotovelada.<br />

— Não fale assim.<br />

Romero se aproximou da turma.<br />

— Ouçam! E a festa?<br />

— Acho bom que você não vomite no meu carro — advertiu<br />

Alex a Romero e se afastou com a Valéria.<br />

Romero ficou confuso.<br />

— Seu carro? Eu vou com Angel, certo?<br />

Voltou para Angel.<br />

278


— Você vai com eles. — Angel apontou para Eric e Sofia que já<br />

estavam indo em direção ao carro de Alex. Caminhavam para multidão<br />

que ainda se encontrava no estacionamento.<br />

— Te cuide, Sof.<br />

Eric tirou a mão de Sofia e a mostrou a Angel.<br />

— Não se preocupe, está comigo!<br />

Eric.<br />

— Está de acordo com isso? — disse Romero apontando para<br />

— Não seja bobo — Angel franziu o cenho. — Mexa esse<br />

traseiro, antes que lhe deixem.<br />

Se fosse outro, Angel se sentiria estranho. Mas conhecia Eric e<br />

sabia que como sempre, cuidaria da Sofia.<br />

Romero saiu disparado atrás deles.<br />

— Ouçam! Me esperem. Eric, me dê a mão também!<br />

Sarah deu risada e Angel voltou para lhe dar atenção.<br />

A risada de Sarah o fazia feliz, mas ao mesmo tempo o desafiava.<br />

— E então? Aniversariante. Onde vai me levar?<br />

O coração de Angel deu um salto. Sabia perfeitamente bem onde<br />

a levaria.<br />

279


Logo que entraram no quarto, Angel puxou Sarah para ele e lhe<br />

deu um beijo apaixonado. Já estava preparado para ela. Demônios,<br />

esteve preparado toda a noite.<br />

Depois de uns minutos, Sarah se afastou para tomar ar.<br />

— Wow! — disse Sarah quase sem fôlego.<br />

— Oh sim, wow. — Angel sorriu.<br />

Estava a ponto de beijá-la de novo, mas Sarah o deteve pondo a<br />

mão em seu peito.<br />

— Espera. — Afastou-se e correu para sua bolsa que estava no<br />

sofá. — Tenho algo para você.<br />

Isso não deixou Angel muito feliz. Tinha pedido que não gastasse<br />

com ele. Sabia o pouco que ganhava como babá e que economizava<br />

tudo para que retornasse ao Arizona.<br />

— Sarah, carinho, disse que...<br />

— Silêncio, eu queria. — Tirou uma caixa com um toque<br />

prateado ao redor.<br />

Angel sorriu de lado e pegou a caixa. Sarah pegou sua mão e o<br />

levou para a cama. Sentaram-se e Angel começou a abrir seu presente.<br />

Sarah se sentou junto a ele. O entusiasmo de Sarah o divertia.<br />

Abriu a caixa e tirou a corrente de prata. Sabia que Sarah estava<br />

ansiosa esperando alguma reação de sua parte, mas era tão adorável<br />

que não conseguiria dizer o que realmente queria lhe dizer, ela não<br />

devia ter gasto tanto dinheiro com ele.<br />

280


— Gostei.<br />

Beijou-a de novo.<br />

— Lê a inscrição.<br />

Angel rodou a pulseira. Sua... para sempre ~ Sarah<br />

— Queria te dar algo para que recordasse de mim diariamente,<br />

quando for.<br />

Quando for. Demônios, ele odiava ouvir isso. Sarah devia estar<br />

louca se pensava que precisava de algo para lembrar dela. Sarah sempre<br />

estava presente, em sua mente. Entretanto, sorriu-lhe e pegou em seus<br />

braços. Já era hora de receber o presente pelo qual tinha esperado toda<br />

a noite.<br />

281


Capítulo Dezenove<br />

Sarah se assustou quando viu a hora em seu relógio. Seu telefone<br />

celular estava chamando e ainda não eram nem seis da manhã. Quem<br />

ligaria a estas horas? Estirou-se e pegou o telefone. Era Sydney. O abriu<br />

para responder sem saber o que esperar.<br />

— Olá?<br />

— Ouça Lyne — soava muito tranquilo.<br />

— Tudo bem?<br />

— Ah sim — disse. — Perdão por te ligar tão cedo. Não podia<br />

dormir.<br />

— Por que? O que aconteceu? — Em todos os anos que o<br />

conhecia, sabia que as únicas vezes em que Sydney não dormiu era<br />

porque estava estressado a respeito de algo. Sentou-se na cama e pôs<br />

um travesseiro atrás dela.<br />

— Não aconteceu nada.<br />

Sarah já conhecia esse tom.<br />

— Sydney, está estressado por algo. Deveria saber quanto te<br />

conheço e não tentar me esconder algo.<br />

Houve silêncio no outro lado da linha e logo um suspiro.<br />

282


— Não pude deixar de pensar em você e em Angel — disse. —<br />

Tem certeza que ficará bem se voltar?<br />

Sarah franziu o cenho. Passaram quase duas semanas que Angel<br />

e ela fizeram amor pela primeira vez. Deixou passar um tempo antes de<br />

contar para Sydney, não queria trair Angel ao compartilhar algo tão<br />

íntimo com outra pessoa. Mas perto de uma semana, não pôde mais se<br />

conter.<br />

Para ela mesmo.<br />

Diariamente, Angel lhe dizia quanto a amava. Isso a estava<br />

matando já que não podia lhe responder da mesma forma. Então, não<br />

pôde mais e contou para Sydney em prantos. Depois, Sydney ficou fora<br />

de si, sendo pouco otimista de que ela pudesse voltar ao Arizona. Mas<br />

ela se esforçou para convencê-lo de que poderia e o faria. Não tinha<br />

como ela se esquecer disto, só de pensar a devastava.<br />

Tinha que voltar, sem importar quanto queria ficar agora. Senão,<br />

não ia poder ser capaz de viver consigo mesma. Como poderia lhe dizer<br />

agora que lhe daria as costas simplesmente por um sujeito que tinha<br />

conhecido a quatro meses? Embora fossem os melhores quatro meses<br />

de sua vida, não podia.<br />

Nunca poderia esquecer como Sydney chorou aquele dia tão<br />

terrível em que Sarah soube que teria que mudar-se. Ela também tinha<br />

chorado por ele, da mesma forma que tinha chorado por si mesmo.<br />

— Sydney, já lhe disse. Posso sim. Angel e eu continuaremos<br />

juntos, embora eu mude para o Arizona.<br />

283


— Tem certeza? — perguntou. — Não ficaram longe um do<br />

outro nem um só dia desde que começaram a sair.<br />

Sarah fechou seus olhos, apertando-os. Sabia que Sydney estava<br />

certo. Ia ser duro, mais duro do que quando deixou Sydney. Mesmo<br />

assim, tinha que ir.<br />

— Ficarei bem, Syd. Pude sobreviver todo este tempo aqui,<br />

lembra como pensei que não poderia?<br />

— Sim claro, ficou bem, mais que bem, por causa dele.<br />

isso.<br />

— Bom, terei você quando retornar e me ajudará a passar por<br />

Houve um estranho silêncio, por alguns segundos.<br />

— Lynn, em todos os anos que te conheço, nunca tinha ouvido<br />

você tão feliz. Odiaria ter você de volta deprimida.<br />

— Impossível — respondeu Sarah. — Enquanto você estiver aí<br />

para mim, estarei bem.<br />

Não pôde evitar de escapar um bocejo. Estava tão cansada. A<br />

parada no restaurante tinha durado mais do que tinham planejado.<br />

Tinha chegado em casa depois do toque de recolher. Por sorte, como<br />

ela pode perceber, ninguém tinha notado. Todos pareciam estar<br />

dormindo quando ela chegou.<br />

— Deveria voltar a dormir — disse-lhe Sydney. — Parece muito<br />

cansada.<br />

— Estou bem. — Sarah bocejou novamente.<br />

284


— Não, está cansada. Volte para cama. Falamos mais tarde.<br />

— Tem certeza?<br />

— Claro.<br />

— Bom — disse-lhe. — Deixa de se preocupar com isso, Syd.<br />

Tudo será como antes. Parecerá como se nunca tivesse partido.<br />

Depois de ter desligado, foi ao banheiro e pensou no dia que<br />

tinha pela frente. Da noite em que se entregou a Angel e concordaram<br />

em continuar com sua relação mesmo quando ela retornasse ao<br />

Arizona, sentia-se cheia de culpa. Tinha que dizer a Angel a verdade<br />

sobre Sydney e por pouco contou nessa mesma noite. Mas se<br />

acovardou, por não querer estragar o momento. Sarah sacudiu a<br />

cabeça, recordando como vergonhosamente utilizou a sua mãe para<br />

mudar o tema.<br />

Preparou uma desculpa depois de outra para não lhe dizer. Mas<br />

não podia lhe dar o prazer de lhe dizer que o amava até que sua<br />

consciência estivesse limpa e lhe dissesse a verdade. E não poder fazêlo,<br />

a estava matando.<br />

Ia ser algo tenso, mas se Angel, na verdade, a amasse como dizia,<br />

tinha certeza que a entenderia. Voltou a dormir logo que sua cabeça<br />

tocou o travesseiro. Sendo um pássaro madrugador, assustou-se<br />

quando o telefone voltou a tocar e percebeu que dormiu por mais três<br />

horas. Desta vez, era Angel quem ligava.<br />

— Olá?<br />

— Olá, carinho, te acordei?<br />

285


— Mm — Sarah estirou os braços. — Sim, mas é lindo que seja<br />

sua voz que estou escutando.<br />

— Não faça esse som, Sarah — disse Angel. — Ficarei louco o<br />

dia todo até que possa estar contigo.<br />

— Todo o dia? Não vinha me pegar hoje cedo?<br />

— Não, carinho. Estamos com pouco pessoal hoje. Sofia e eu<br />

vamos ajudar com o serviço de hoje de manhã e agora temos que voltar<br />

para o restaurante. Não poderei te pegar a não ser até às sete da noite.<br />

— Olá Sarah! — Ouviu a voz da Sofia.<br />

Sarah franziu o cenho, brava com ela mesma por haver dormido<br />

até tão tarde. Poderia ajudar com o serviço da manhã.<br />

— Quer que lhes ajude?<br />

— Não, Eric vai nos ajudar. Estou indo pegá-lo agora. — Sua<br />

voz ficou mais baixa. — Além disso, ficamos juntos até tarde ontem à<br />

noite. Quero que descanse para mim, para hoje à noite.<br />

— Espero que tenha descansado — disse Sarah — porque eu<br />

estou bem agora.<br />

— Para — sussurrou. — Merda! Se puder parar antes das sete te<br />

ligo, tudo bem.<br />

— Ok — respondeu Sarah rindo.<br />

— Te amo, carinho.<br />

286


Ela sentiu que seu coração estava sendo sequestrado, incapaz de<br />

lhe dizer o que tanto ansiava.<br />

— Ok, adeus.<br />

Acabou. Hoje mesmo, a noite, lhe diria tudo. Cada célula de seu<br />

corpo morria de medo, mas tinha que contar. Não podia passar um dia<br />

a mais sem lhe dizer o muito que o amava.<br />

Queria manter sua consciência limpa, não deixaria que Sydney<br />

também se envolvesse dentro de toda esta complicada mentira. Talvez<br />

ele pudesse lhe aconselhar sobre a melhor forma de contar para o<br />

Angel. Ligou para ele, mas entrou na caixa de mensagem. Deixou-lhe<br />

uma breve mensagem, lhe dizendo que tinha que falar com ele e que<br />

não ia estar com Angel durante o dia, por isso, podia lhe ligar a hora<br />

que fosse.<br />

O resto do dia passou lavando sua roupa e repassando sobre o<br />

que diria a Angel. Desta vez, não daria para atrás. Tinha ensaiado uma<br />

e outra vez. A cada momento que olhava o relógio, o nó que sentia no<br />

estômago crescia e ficava mais pesado. Ligou para o Sydney várias<br />

vezes, mas sempre dava fora de área.<br />

Angel entenderia. Dizia a si mesmo uma e outra vez. Ele tinha<br />

que entender. Depois que contasse, lhe diria o quanto o amava, Angel<br />

saberia que não havia nada por que se preocupar.<br />

Sarah estava olhando sua roupa no closet quando escutou<br />

287


— Você! — e pulou um salto que quase a fez perder o equilíbrio.<br />

Virou e viu Valéria parada ali com um sorriso. — Que aconteceu com<br />

você?<br />

Sarah fechou os olhos e pôs sua mão no peito.<br />

— Meu deus! Estive tão nervosa o dia todo, estou um desastre.<br />

— Por que? — Valéria entrou e se sentou na cama de Sarah.<br />

Sarah deixou cair os ombros.<br />

— Hoje à noite direi a Angel.<br />

— Dirá o que?<br />

— A respeito de Syd.<br />

Os olhos da Valéria ficaram enormes.<br />

— Ainda não sabe?<br />

Sarah fez um movimento com seus olhos. Valéria sempre a fazia<br />

se sentir pior, especialmente a respeito disto.<br />

— Não, mas hoje à noite vai saber. Sem mais pretextos. Hoje<br />

direi. — Virou para continuar olhando em seu closet. — É só que não<br />

sei como começar.<br />

— Pois espere o pior.<br />

Sarah virou rapidamente e a fulminou com o olhar.<br />

— Ouça, obrigada! Isso sim me ajuda.<br />

288


Valéria elevou os ombros.<br />

— Só quero te dizer que vai deixa-lo triste, Sarah. Sabe que<br />

deixará. Merda, seu irmão ainda acha que tem direito de me dizer que<br />

não gosta que esteja falando com Reggie. Nem sequer estou com ele e<br />

para começar, nunca foi meu namorado, mas Angel sim está louco por<br />

ti. E tem mais direito de sentir que é dele, toda dele. E não vai ficar<br />

muito contente quando voltar para Sydney, sua amizade masculina.<br />

— Mas tenho que contar para ele — disse Sarah.<br />

— Sim, deve — disse Valéria. — Já pensou no que vai dizer?<br />

— Todo o dia. — Sarah deixou cair seu vestido na cadeira de seu<br />

quarto.<br />

— Acredito que deve ficar muito linda esta noite — disse Valéria.<br />

— Você sabe, se arrume muito sexy. A distração fará com que não seja<br />

tão duro, que a irritação seja menor.<br />

— Você acha? — Sarah ficou olhando de forma apreensiva.<br />

— Sim. — Valéria se levantou da cama. — Tenho um vestido<br />

verdadeiramente sexy que posso te emprestar. Ficará um pouco curto,<br />

mas tampouco ficará vulgar. Prometo isso.<br />

Sarah viu quando Valéria saiu correndo para seu quarto. Mordeu<br />

o lábio enquanto pensava nisso. Parecia algo maluco, mas estava<br />

disposta a tentar algo que pudesse ajudar.<br />

289


Valéria retornou com um vestido preto. Era de decote baixo à<br />

frente e tinha duas aberturas dos lados. Parecia que ficaria uma ou duas<br />

polegadas mais acima dos joelhos. Sarah ficou olhando.<br />

— Acha que ficará bem?<br />

— Experimente — disse Valéria ao lhe entregar e sair de seu<br />

quarto.<br />

Sarah experimentou e ficou perfeito, algo mais justo do que ela<br />

normalmente usava e muito mais revelador. Realmente mostrava boa<br />

parte de seu busto. Supostamente era para uma festa, um pouco mais<br />

elegante que as roupas usuais de festas que ela costumava usar. Mas<br />

estava certa que, depois que Angel a visse neste vestido, em lugar da<br />

festa, iriam voltar ao restaurante, no qual para ela estava perfeito.<br />

Virou-se para ver no espelho como estava a parte detrás quando<br />

Valéria voltou. Sarah virou bem na hora para ver Valéria colocar a mão<br />

na boca.<br />

— O que foi?<br />

— Aí meu Deus! Sou um gênio. — Riu Valéria. — Estou certa<br />

que nem sequer vai escutar nada do que lhe disser. Como não pensei<br />

nisto antes?<br />

Sarah voltou a olhar-se no espelho. Esse vestido não tinha nada a<br />

ver com ela. No momento que Angel a visse, saberia que algo estava<br />

acontecendo.<br />

— Pensa que seu pai vai me deixar sair com isto?<br />

290


— Boa pergunta — disse enquanto rodeava Sarah, vendo como<br />

parecia. — A que hora vem te pegar?<br />

— Às sete.<br />

— Não se preocupe. — Valéria tinha um olhar picareta em sua<br />

cara. — Verão um espetáculo e logo irão jantar. Mas como não gostam<br />

de gastar, vão a uma seção mais cedo, ao redor das cinco.<br />

Sarah voltou a olhar-se no espelho. Voltou a horrível sensação<br />

que sentia no estômago, mas com o vestido ou sem ele, diria a verdade<br />

essa mesma noite, sem importar nada mais.<br />

Começou a arrumar-se bem antes das cinco. Valéria lhe ajudou<br />

com seu cabelo. Seu cabelo era muito, mas Valéria alisou ainda mais<br />

para que ficasse super sedoso e sensual.<br />

Sarah olhava para Valéria pelo espelho do banheiro vendo como<br />

se concentrava em escovar seu cabelo.<br />

— E como foi com Alex ontem à noite? Os dois pareciam muito<br />

sociáveis.<br />

Valéria tirou a vista do espelho e encolheu de ombros. Seguiu<br />

concentrada no cabelo de Sarah.<br />

— Acho que desligou o telefone ou o pôs para vibrar, já que não<br />

tocou a noite toda. Tentei resistir o quanto pude, mas é tão difícil. Mas<br />

não dormi com ele. Disse que não vou mais dormir com ele. Então, me<br />

perguntou se era pelo Reggie. E respondi, 'Não, é porque me dói<br />

muito.' E logo se desculpou por ser tão imbecil.<br />

291


A cara da Valéria era de desgosto, mas Sarah não pôde evitar rir.<br />

Alex era bem engraçado.<br />

— Para — disse Valéria. — Vai se queimar.<br />

Sarah controlou sua risada o melhor que pôde e Valéria<br />

continuou contando o que aconteceu o resto da noite com Alex. Sarah<br />

não pôde evitar rir algumas vezes mais.<br />

Vendo seu modo, Valéria queria culpar Alex pela que pensava.<br />

Ela tinha se entregado muito fácil e sem compromisso. Mas Alex não<br />

tinha o direito de lhe pedir que deixasse de sair ou falar com qualquer<br />

outra pessoa. Alex era, como disse Valéria, ridículo.<br />

Valéria lhe disse que podiam sair mas não haveria nada de sexo e<br />

hoje de noite voltariam a sair. Sarah teve que rir novamente por isso. Se<br />

era verdade que Alex era como Angel, mas multiplicado por três, pela<br />

forma que todo mundo fazia parecer, Valéria devia estar sonhando se<br />

pensava que podia tirar Alex de cima. Não é que pensasse que ele iria<br />

forçá-la a fazê-lo. Mas estava certa de que ele encontraria uma forma de<br />

manipular as coisas. Se tratasse de alguém mais, talvez Valéria poderia<br />

encontrar a força de vontade para manter-se firme. Mas com ele, Sarah<br />

duvidava seriamente.<br />

Valéria foi se arrumar, deixando que Sarah terminasse de se<br />

arrumar sozinha. Quando Sarah já tinha quase terminado, escutou uma<br />

batida na porta. Olhou o relógio. Eram seis e meia. Angel lhe disse que<br />

ligaria se pudesse sair mais cedo. Então continuou arrumando sua<br />

maquiagem e depois escutou Valéria.<br />

— Sarah, é para você.<br />

292


Talvez acabou tão cedo que queria surpreendê-la. Sarah se<br />

alegrou de estar preparada. Pôs as coisas de volta em sua bolsa de<br />

maquiagem e as colocou em sua bolsa. Passou perfume e pegou a<br />

bolsa. Respirou profundamente e se olhou no espelho pela última vez.<br />

Angel ia saltar assim que a visse.<br />

Conforme se aproximava, viu a janela e pareceu ver um<br />

inconfundível Chevy Empala 1964 amarelo canário, estacionado<br />

exatamente em frente da casa. Não pode ser.<br />

Deu a volta na sala e ficou paralisada. Aí estava, todo ele, de<br />

baixo para cima, parado ali, olhando dos pés à cabeça. Por um<br />

momento, ela ficou sem fala.<br />

— Sydney! — Sarah saltou em seus braços.<br />

Ele a abraçou fortemente. O aroma de seu perfume trouxe-lhe à<br />

memória todas as boas lembranças. Quando a afastou, Sarah ficou<br />

vendo sem poder acreditar.<br />

— Meu Deus! O que está fazendo aqui?<br />

— Temos que conversar, Lynn.<br />

***<br />

Angel tinha saído cedo, sentia-se culpado por sair quando ainda<br />

havia muita gente no restaurante. Mas não tinha visto Sarah o dia todo<br />

e estava ansioso por vê-la.<br />

293


Foi para casa se trocar e estava para sair e pegar o carro, quando<br />

tocou seu telefone celular. Deu uma olhada na tela do telefone e sorriu<br />

pensando que tinha lido a mente, já que estava a ponto de ligar para<br />

ela.<br />

— Olá, carinho.<br />

— Angel? — Sarah parecia estranha e isso o deixou<br />

imediatamente incomodado.<br />

— Tem alguma coisa errada?<br />

— Nada — respondeu Sarah. — Bom, aconteceu algo. Os<br />

vizinhos... os hum... os Gledson, tiveram uma emergência e necessitam<br />

que eu vá imediatamente cuidar de seus filhos. Estão desesperados e<br />

não posso negar Angel.<br />

Sentindo-se desiludido, mas ao mesmo tempo vendo sua<br />

preocupação, suspirou.<br />

— É por toda a noite?<br />

— Não sei — disse. — Mas te ligo tão logo saiba algo.<br />

— Está bem — deu a volta em sentido oposto e foi para o<br />

restaurante. — Te amo.<br />

Houve um silêncio prolongado, depois Angel voltou a escutá-la.<br />

— Ok, adeus Angel.<br />

294


Estava na parte de atrás do restaurante há mais ou menos uma<br />

hora quando seu telefone tocou. Respondeu imediatamente sem sequer<br />

ver quem lhe ligava, pensando que se tratava de Sarah.<br />

— Olá?<br />

— Olá, Angel.<br />

Ficou calado por um segundo.<br />

— Dana?<br />

As únicas vezes que tinha lhe ligado desde o dia em que<br />

esclareceu coisas, foram em algumas poucas ocasiões bêbada, lhe<br />

deixando mensagens, mas realmente não havia voltado a falar com ela.<br />

Agora, lamentava ter respondido.<br />

— Sim, sou eu.<br />

— O que quer? — Não era seu estilo ser grosseiro, mas tampouco<br />

se metia em problemas com Sarah. A última coisa que queria era dar<br />

esperanças a Dana.<br />

— Não estou te ligando para lhe esfregar isso ou para te fazer<br />

sentir pior, se isso for o que está pensando. Só te liguei para que saiba<br />

que estou aqui, se precisar de mim.<br />

Angel moveu impacientemente os olhos. Não tinha ideia do que<br />

Dana estava querendo dizer e na verdade, não lhe interessava.<br />

— Dana, não preciso de você, ok? Agora estou trabalhando.<br />

Tenho que ir.<br />

295


— Angel, sei que te chateei, mas antes que acontecesse algo entre<br />

nós, fomos amigos. Não sei o que aconteceu entre você e Sarah, mas<br />

sei que é bem parecido com ela, assim, se necessitar de alguém para<br />

conversar, lembra que sigo sendo sua amiga.<br />

Suas palavras ressonavam por todo o lugar, entretanto Angel não<br />

podia as entender. Então, decidiu levá-la na brincadeira.<br />

— Está bem, obrigado. Tenho que ir.<br />

Mal acabou de desligar, seu telefone tocou novamente. Algo o<br />

chateou, viu o identificador de chamadas, pensando que poderia ser<br />

novamente Dana. Não era. Era Eric.<br />

— Olá amigo. Onde está? — perguntou Eric.<br />

— Estou trabalhando.<br />

— Trabalhando? — Angel escutou Romero. — Pergunte,<br />

pergunte!<br />

Angel sorriu.<br />

— Me perguntar o quê?<br />

— Sarah está contigo?<br />

— Não, teve que trabalhar. Havia muita gente no restaurante,<br />

assim voltei.<br />

— Ah..., então Sarah não está contigo?<br />

Então, Angel escutou novamente ao Romero<br />

296


— Não lhe disse? Era ela. Eu sei que era ela.<br />

— O que foi? — perguntou Angel.<br />

Eric disse ao Romero que se calasse.<br />

— Nada, homem, este cara que anda bêbado. Pensa que viu<br />

Sarah faz um tempo.<br />

Sem desanimar, respondeu.<br />

— Não, está de babá. — Ficou sorrindo, escutando sua conversa.<br />

Não podia dizer se Romero estava bêbado ou só estava sendo<br />

desagradável.<br />

Eric e Romero andaram de um lado para outro por uns minutos,<br />

escutou como brigavam. Depois, o telefone ficou mudo e logo soou a<br />

buzina do automóvel. Riu entre dentes. Par de idiotas.<br />

— Está bem, amigo — disse Eric a Angel.<br />

Angel riu.<br />

— Já está bêbado?<br />

— Não — respondeu Eric. — Não esteve bebendo, mas por sua<br />

maneira de atuar, parece que sim.<br />

A outra linha estava soando.<br />

— Não responda a outra linha. É este pentelho —disse Eric.<br />

— Responde! — ouviu Romero gritar.<br />

297


cara?<br />

— Espere. — Angel desligou e pegou a outra linha. — O que foi,<br />

Ficou parado no posto de anfitrião à entrada do restaurante e<br />

olhou para trás para ver quantos clientes tinham. Era cedo, mas a<br />

maioria dos empregados da cozinha já estavam trabalhando fazendo<br />

horas extra e seu pai havia lhe dito que se o trabalho diminuísse o<br />

suficiente, para que fechasse cedo e os deixasse ir para casa.<br />

— Era ela, homem — disse Romero.<br />

Casualmente, caminhou para trás, dando uma olhada na segunda<br />

mesa. Estava vazio. Sabia que Romero não podia estar certo, mas<br />

mesmo assim seguiu com a corrente.<br />

— Ah sim? Onde?<br />

— Em um carro, um puto Chevy Empala amarelo, um desses<br />

carros velhos, todo remodelado, com um sujeito.<br />

298


Capítulo Vinte<br />

Sarah estava ao mesmo tempo aflita e assombrada quando viu<br />

Sydney. Tampouco tinha se dado conta do quanto sentia saudades até<br />

que sentiu a emoção em seu abraço.<br />

Tinha tantas perguntas que lhe fazer que quase se esqueceu de<br />

que Angel estava para chegar em qualquer momento. Sentia-se péssima<br />

por ter mentido do modo que tinha feito. Mas sabia que não tinha<br />

como Angel estar preparado para conhecer Sydney, não desta forma.<br />

Seria uma bofetada na cara. Precisaria explicar tudo a cada um, antes<br />

que pudessem se conhecer.<br />

Toda esta confusão era culpa dela e agora ameaçava lhe explodir<br />

na cara. Todo o dia estava uma pilha de nervos e agora, estava a ponto<br />

de um colapso.<br />

Sydney lhe havia dito que tinham que conversar e teve a sensação<br />

que não ia ser uma conversar curta. Os únicos lugares que conhecia<br />

eram aqueles aos que tinha ido com Angel. Todos eles eram<br />

frequentados por todo mundo na escola.<br />

Não havia forma de levá-lo ao lugar especial de Angel e ela. De<br />

modo que decidiu ir pelo rumo da praia aonde nunca tinha ido com<br />

Angel. Ela imaginava que aí era seguro.<br />

299


Ao chegar lá demonstrou ser justamente o contrário. Ficaram<br />

obstruídos no tráfico do sábado. Parecia que todo mundo tinha saído<br />

essa noite. Afundou no assento várias vezes quando pensou ter visto<br />

gente da escola, inclusive meninos da equipe de futebol americano.<br />

Quando finalmente chegaram à praia, Sydney lhe soltou a<br />

bomba. Ela esperava algo grande devido a ele ter vindo dirigindo até<br />

aqui, mas ainda estava surpreendida e preocupada quando o escutou.<br />

— Lynni. — Sydney começou a falar. — Devia te dito isto a<br />

muito tempo.<br />

Sarah se preparou. Enquanto que não se tratasse de uma<br />

enfermidade que ele padecesse, poderia suportar algo.<br />

— O que?<br />

— Lembra-se de Carina Santiago?<br />

Sarah ficou a pensar por um momento.<br />

— A garota na orquestra que toca o solo?<br />

— Sim. — Sydney respirou profundamente. — Bom, justo antes<br />

que fosse, ela e eu começamos a falar, muito. Bom, realmente<br />

começamos a sair. Mas você estava passando por tanta merda,<br />

estressada pelos problemas com sua mamãe, que não queria dizer isso.<br />

E você partiu amavelmente.<br />

— De que está falando?<br />

— Eu escondi algumas coisas.<br />

300


Sarah sacudiu a cabeça.<br />

— Por quê?<br />

— Vamos, Lynn, tinha muitas coisas em cima. A metade do<br />

tempo estava quase doente de preocupação por sua mãe. Como ia<br />

poder sentar e te contar todas as coisas boas que me estavam<br />

acontecendo? Isso não teria estado bem e inclusive, quando foi, sentiase<br />

muito miserável e aí, justo foi quando tudo começou realmente para<br />

mim e para Carina. Não podia fazê-lo.<br />

Sarah ficou olhando, com o estômago revolto, sentindo-se tão<br />

egoísta. Todo este tempo que tinha passado dizendo que devia estar lá<br />

pelo Sydney e agora se dava conta de que ela tinha estado tão ocupada<br />

com suas coisas que não se deu tempo de escutá-lo. Ele sempre a tinha<br />

apoiado a passar por tudo, guardou seus próprios sentimentos para ele<br />

mesmo, nunca compartilhou suas ansiedades ou emoções a respeito<br />

desta nova relação. A menos que lhe tenha oculto a ela outra coisa<br />

antes disto, Sarah sabia que para ele, esta também era uma primeira<br />

vez.<br />

— Oh Sydney, sinto-o muito. — Abraçou-o fortemente.<br />

Ele a apartou amavelmente.<br />

— Do que está falando? Se fui eu que te ocultei as coisas.<br />

— Sim, mas o fez por mim, já que era uma covarde e chorona<br />

inútil. Desfiz-me toda a merda em você, uma e outra vez e nenhuma só<br />

vez me detive pensar em quão difícil tinha sido para você também.<br />

3<strong>01</strong>


Sem aviso, as lágrimas brotaram. Sentia-se terrível, mas quando<br />

seus olhos se encontraram, ele parecia zangado.<br />

— Não se atreva a fazer isto, Lynn. — Brandamente limpou as<br />

lágrimas de suas bochechas mas falou firme. — Você foi a melhor<br />

amiga que alguém pôde ter. Crê que me esqueci o que fez por mim? Se<br />

não tivesse sido por você, nunca teria terminado o secundário. Era o<br />

pedaço mais gordo e ocioso de...<br />

— Não, não o foi! — ela o deteve, furiosa.<br />

— Sim era, Lynni. Mas você foi a única pessoa que não pensava<br />

assim. E justo agora, está bem para dar uma patada a qualquer um que<br />

me fizesse sentir como era antes.<br />

— Isso é porque sempre soube a pessoa incrível que você é,<br />

Sydney. Eles não te conheciam como eu.<br />

— Nunca me esquecerei disso. Mas sempre sigo escutando o<br />

muito que me deve. Não me deve nada. Você me ajudou a sobreviver<br />

nos anos mais difíceis de minha vida. Se não tivesse sido por você,<br />

acredito que teria me dado um tiro.<br />

Assombrada, Sarah ficou olhando-o.<br />

— É verdade, Lynn. Sinto vergonha em admitir, mas houve<br />

ocasiões em que quase agradecia que as coisas não fossem perfeitas<br />

para você, porque sabia que se as coisas tivessem sido um pouco mais<br />

normais, talvez não me tivesse necessitado tanto.<br />

— Como pode dizer isso. Se alguém deve algo, esse sou eu? —<br />

As lágrimas lhe queimavam os olhos. — Eu nunca lhe daria as costas.<br />

302


— Eu sei — disse. — Por isso é que estou aqui. Deve ficar, Lynn.<br />

Angel e você se pertencem, da mesma forma que Carina e eu. Por que<br />

crê que aceitei a vaga de Columbia?<br />

Sarah o olhava sem compreender.<br />

— Ela vai estudar lá — disse. — Isto esteve me matando, porque<br />

eu sei que quer ficar com Angel. Aqui é onde deve estar. Se retornar ao<br />

Arizona só porque não quer me dar as costas, como crê que me sentirei<br />

quando for a Columbia? Que tal se insistir em retornar ao Arizona,<br />

perde Angel e fica sozinha? Como acha que poderia viver com isso?<br />

Deixaria a escola, Lynn. Juro-o por Deus. Perderei a Carina antes que<br />

de te perder.<br />

— Não! — Exclamou Sarah.<br />

— Então fique aqui, Lynn — disse. — Deixa de ser tão obstinada<br />

e diga que o ama. Fique aqui e seja feliz. — Viu muito profundo em<br />

seus olhos. — Nada, nem ninguém, poderão romper conosco, nada,<br />

nem sequer à distância.<br />

Sarah sorriu, sentindo que o coração inchava mil vezes.<br />

— Por isso é que te amo tanto, Sydney.<br />

— Eu também te amo.<br />

Sarah o abraçou fortemente. Seguiram andando por aí quase por<br />

uma hora mais, com Sarah insistindo em que contasse a respeito de<br />

Carina. Sydney, sem duvidar, contou-lhe tudo. Para assombro de<br />

Sarah, já eram íntimos fazia tempo. Sarah tratava de sacudir a culpa.<br />

303


Ele deveria ter podido compartilhar isto com ela. Sarah sabia<br />

quão grande isto era. Logo a surpreendeu com outra notícia mais.<br />

— Não sabe que estou aqui contigo.<br />

Sarah riu.<br />

— Ah sim? Pois Angel pensa que é uma garota. — A expressão<br />

de sua cara a fez rir. — O assumiu isso quando lhe contei a respeito da<br />

melhor amizade que tinha tido na vida. Assumiu que era uma garota e<br />

nunca o corrigi. — Sarah conteve a respiração sem saber que reação<br />

esperar.<br />

Ele sorriu devagar.<br />

— Bom, Lynni... acredito que ambos temos muitas coisas que<br />

explicar.<br />

Sarah riu e deslizou sua mão na dele como sempre o tinha feito.<br />

— Ia dizer hoje. Já tinha decidido. Por que acha que ando vestida<br />

assim? O que aconteceu é que, de repente, você chegou.<br />

Sydney lhe deu uma olhada de acima a abaixo.<br />

— Por um momento ia te dizer algo, mas depois pensei melhor<br />

não. — Sacudiu a cabeça, tratando até de digeri-lo. — Diabos, Lynni.<br />

Quase não pude te reconhecer.<br />

Sarah se ruborizou.<br />

— Isto não foi minha ideia, ok?<br />

304


— Não estou dizendo que seja má ideia. Só estou dizendo que...<br />

wow!<br />

Sentindo-se consciente de si mesma, Sarah riu.<br />

— Pará.<br />

— Está bem, está bem, mas sim, diga-lhe quanto antes. E Lynni,<br />

se necessitar que fale com ele, farei.<br />

Sarah sorriu. Não podia pensar que isso aconteceria com Angel.<br />

Não podia imaginar escutando outro rapaz falando a respeito de sua<br />

relação com ela, nem sequer Sydney.<br />

— Morro de fome — disse-lhe Sarah.<br />

— Há algo bom por aqui?<br />

Sarah não se importava com o bom. Tudo o que lhe importava<br />

neste momento era ser discreta.<br />

— Encontraremos algo.<br />

***<br />

Angel ficou quieto por um momento. Sabia que não podia ser,<br />

mas Romero soava muito convincente. Tomou o que acabava de<br />

escutar e sacudiu a cabeça e de novo começou a caminhar.<br />

— Não, amigo — disse-lhe. — ela está de babá na casa de uns<br />

vizinhos.<br />

305


— Então chama-a — disse-lhe Romero.<br />

O tom insistente de Romero estava começando a lhe incomodar,<br />

aparentava tão seguro. Angel ficou quieto por um momento.<br />

— Ela te viu? — O que estava fazendo? Isso era ridículo. Não<br />

havia modo em que Sarah saísse com outro. Ele confiava nela.<br />

— Não — respondeu Romero.<br />

— Eu não vi! — gritou Eric.<br />

— Sim claro, o teria visto se não dirigisse como uma velha.<br />

Quando retornamos, já tinham ido — disse-lhe Romero.<br />

Realmente retornaram para certificar-se? Angel tomou o telefone<br />

da recepção sem mencionar a Romero.<br />

— O que é o que ela estava fazendo? — Marcou o número de<br />

telefone do Sarah.<br />

— Falando, acredito — respondeu Romero. — Vi-a conforme<br />

íamos passando e queria retornar para me assegurar, mas Eric ia<br />

dirigindo tão rápido e não baixava a velocidade. Ela estava diferente.<br />

— Porque não era ela! — gritou novamente Eric.<br />

Angel o escutava com um ouvido enquanto esperava escutar a<br />

voz de Sarah com o outro. Mas a chamada foi para caixa postal.<br />

— De modo que supostamente está trabalhando, certo? —<br />

perguntou-lhe Romero.<br />

306


Angel não gostou como isso soou. Sabia que Sarah não lhe<br />

mentiria. Vacilou para responder.<br />

— Só estou dizendo — disse Romero — Que, em caso de a<br />

vermos novamente, vou perguntar, 'o que há de novo?' Se esse gay se<br />

atrever a me dizer algo, acomodo-lhe um murro.<br />

Angel riu entre dentes, mas realmente não achou graça. Isto<br />

começava a parecer estranho. Sarah não era das que não respondia<br />

quando ligava. Sempre lhe respondia. Se perdia alguma chamada dele,<br />

sempre lhe retornava imediatamente. Além disso, ligou do restaurante.<br />

Talvez ela não reconheceu o número. Só um par de vezes lhe ligado<br />

daí.<br />

— Ouça, chamo-te depois — disse Angel.<br />

— Chama-a — insistiu Romero.<br />

— Farei. — Logo que pendurou, marcou o número de Sarah.<br />

Respondeu-lhe novamente a mensagem. Desta vez, lhe deixou uma<br />

mensagem.<br />

— Sarah, carinho, sou eu. Me chame assim que tiver chance.<br />

Na seguinte meia hora, o restaurante já estava limpo e vazio.<br />

Voltou a revisar a cozinha e depois fechou. A caminho da casa de Eric,<br />

lhe chamou de novo.<br />

— Ouça amigo, está no restaurante?<br />

— Não, já vou para a casa.<br />

— O que? Não vai se encontrar conosco?<br />

307


— Estou cansado — disse-lhe bocejando. — tive um dia muito<br />

comprido.<br />

— Bom. Ouça, pôde falar com Sarah?<br />

Angel franziu o cenho.<br />

— Não, ainda não. — Jogou uma olhada ao relógio do tabuleiro.<br />

Eram pouco mais de nove.<br />

— Bom, não se preocupe. Estou seguro que não era ela, mas já<br />

sabe como fica Romero.<br />

Angel sorriu.<br />

— Sim, sei. Mas não estou preocupado, na verdade, estou<br />

cansado.<br />

Deteve-se, vendo a luz vermelha no semáforo. Merda! Estava lhe<br />

dando dor de cabeça. Por alguma razão, a chamada de Dana o<br />

atormentava na cabeça. Estava tratando de recordar do que lhe tinha<br />

falado. Agora, tivesse desejado lhe dado atenção.<br />

Havia dito algo como que estava aí se precisasse. O semáforo<br />

trocou para verde e justo recordou.<br />

Não estou chamando para lhe esfregar isso. Não sei o que<br />

aconteceu com Sarah e você, mas sei que está muito parecido com ela.<br />

De onde vinha tudo isso? Nada disso tinha sentido. Bom,<br />

demônios, ele nunca seria um detetive. Isso sim era certeza. Era<br />

suficiente. Já estava suave. Não necessitava nada disto. O que precisava<br />

era dormir. E planejava fazer isso assim que chegasse a casa.<br />

308


Se não tivesse falado com o Romero hoje, não estaria se<br />

perguntando em onde estaria Sarah. Inclusive, se não tivesse podido<br />

saber dela toda a noite, ele sabia perfeitamente onde estava: com os<br />

vizinhos de babá.<br />

Estava a ponto de chegar em casa e começava a sentir-se exausto.<br />

Suas pálpebras se sentiam cada vez mais pesadas. Tentava piscar<br />

fortemente para manter os olhos abertos.<br />

Justo a duas ruas de sua casa, soou o telefone e a alma lhe voltou<br />

para o corpo. Tomou o assento do carona e franziu o cenho quando viu<br />

que era Eric novamente.<br />

— Ouça amigo. — Angel podia escutar Romero dando lata, mas<br />

Eric ou o que fora, estava tampando o ruído do telefone e não podia<br />

entender o que estavam dizendo.<br />

— Já está em sua casa?<br />

— Não — respondeu-lhe Angel. — Mas quase.<br />

— É ela, amigo — disse-lhe Eric.<br />

Tomou um momento para registrar isso.<br />

— Sarah?<br />

— Sim — respondeu Eric. — Está com um cara.<br />

Quase lhe deteve o coração. Teve que sair do caminho, de modo<br />

que pudesse pensar... respirar.<br />

— Está seguro?<br />

309


— Com certeza é ela — Eric soava quase como se desculpando.<br />

Angel se deixou cair no assento, mas apertava o volante. Deu um<br />

gole amargo, incapaz de acreditar.<br />

— Aonde?<br />

— Em um restaurante fora do Proctor — respondeu-lhe Eric. —<br />

Nunca tinha visto esse lugar antes.<br />

— Ainda está aí? — Angel se incorporou. E de repente lhe caiu à<br />

ficha. Eric não estava falando de tê-la visto fazia um tempo. Ela ainda<br />

estava aí, com outro cara.<br />

— Sim — respondeu-lhe Eric. — Estiveram comendo ali.<br />

Tiraram-se da mão quando entraram no lugar e na verdade, não sei<br />

quanto tempo mais possa conter Romero. Está preparado para entrar aí<br />

e lhe partir agora mesmo a esse cara.<br />

— Não, não, não! — Angel pôs em marcha o automóvel. — Vou<br />

para lá. Como chego aí?<br />

A cabeça de Angel ia a toda velocidade. Desde quando vinha ela<br />

lhe fazendo isto? Pensou em todos os sábados em que ela tinha<br />

trabalhado e nunca o perguntou. A raiva lhe corria pelas veias e ele<br />

estava agradecido por isso. Era uma sensação familiar que ao menos<br />

sim sabia como dirigir e lhe ajudava a acalmar a dor.<br />

Ela o tinha cegado por completo e se sentiu preparado para partir<br />

para cima de alguém. Pisou a fundo o acelerador. Muito em breve,<br />

poderia fazê-lo.<br />

310


***<br />

Sydney e Sarah tinham conduzido durante um tempo e ela<br />

deliberadamente o dirigia por ruas que Angel e ela nunca<br />

frequentavam. Viu um pequeno café que ainda estava aberto, no centro<br />

de uma das praças.<br />

— Aí — assinalou Sarah.<br />

Sydney franziu o cenho.<br />

— Tem certeza?<br />

Não o estava, mas parecia bastante discreto. Definitivamente,<br />

ninguém da escola andaria por esses lugares.<br />

— Sim.<br />

Sydney a tirou da mão conforme entravam com cautela ao lugar.<br />

Aí dentro havia duas pessoas mais e estavam sentadas juntas e mesmo<br />

assim, a garçonete já de idade levou um tempo para aproximar-se e<br />

anotar o pedido.<br />

Sarah aproveitou o tempo para perguntar mais sobre Carina.<br />

Estava decidida a inteirar-se de tudo, de cada um dos detalhes. Ainda<br />

se sentia terrível de que ele não tivesse podido compartilhar nada sobre<br />

Carina. Inclusive, quando chegou a comida, continuou lhe<br />

perguntando, às vezes sentindo-se comovida e sustentando sua mão em<br />

cima da mesa. Como tinha perdido tudo isso?<br />

Finalmente terminaram. Sydney insistiu em pagar. Pôs o braço<br />

sobre seus ombros conforme saíam do lugar. Ela se aconchegou nele,<br />

311


com o olhar para o piso e de repente, levantou a vista. Quase lhe<br />

dobraram as pernas quando viu Angel. A amarga repugnância de seu<br />

olhar era inegável. Deu uma olhada em Sydney e logo voltou a vê-la<br />

muito devagar até que seus olhos se cravaram nos dela.<br />

— Estava trabalhando, Sarah?<br />

312


Capítulo Vinte e Um<br />

Mesmo quando Angel tinha chegado ao estacionamento e tinha<br />

visto o Empala amarelo estacionado em frente ao café, tinha a<br />

esperança de que tudo fosse um grande equívoco.<br />

Estacionou junto ao automóvel de Eric, onde Eric e Romero<br />

estavam parados. Eric voltou-se para a janela do café conforme Angel<br />

se aproximava.<br />

Era ela. E parecia incrivelmente sedutora. Estava aí, sentada com<br />

sua vista fixa nos olhos do outro cara. Angel olhava com desgosto<br />

conforme ela pegava a mão do cara ali e então se deu conta do decote<br />

que usava, nunca tinha usado algo assim em público.<br />

Eric e Romero lhe contaram como viram o carro sair da praia e o<br />

seguiram até este local esquecido de Deus. Sarah não era tola.<br />

Somente, que não tinha contado que esse par de tolos a vissem.<br />

E agora, estava aqui de pé, olhando seus olhos assustados,<br />

procurando respostas. Seus olhos verdes, antes formosos, que<br />

normalmente o olhavam com tanto brilho e emoção, estavam quase<br />

cinzas. Tudo o que viu neles foi medo e algo que lhe pareceu ser,<br />

maldita seja, como culpa.<br />

Tudo parecia irreal, como se fosse uma espécie de estranho<br />

pesadelo. Olhou-a de cima a baixo, incluindo o vestido provocante que<br />

313


tinha posto. Por um momento pensou que ia vomitar. Então o escutou<br />

falar.<br />

— Homem, não é o que está pensando — disse o cara.<br />

Angel se lançou ao ataque disposto a lhe partir a cara. Sua voz<br />

retumbou.<br />

— Como diabos sabe o que...<br />

— Pare. — Sarah se interpôs entre os dois.<br />

Angel ficou olhando. Sentiu como uma neblina vermelha de dor<br />

e raiva lhe cegava. Acaso estava protegendo este cara? Apertou<br />

fortemente os punhos.<br />

— Angel, sinto tanto, devia ter dito isto faz muito tempo.<br />

O coração de Angel se oprimiu. Faz muito tempo?<br />

— Este é Sydney.<br />

A mente de Angel ficou em branco. Ficou ali, com o coração a<br />

tudo o que dava. Deu um passo para trás.<br />

— Sydney? — Ficou olhando Sarah e logo novamente ao<br />

Sydney.<br />

— Sim. — disse-lhe ela. — Quis dizer isso desde o começo, mas<br />

então, você assumiu que se tratava de uma garota e sei quão estúpido<br />

foi de minha parte, mas...<br />

Suas palavras zumbiam em seus ouvidos. Só havia uma só coisa<br />

que ele podia escutar. Ouvia gritos dentro de sua cabeça. Todo este<br />

314


tempo ela teve outro cara esperando-a no Arizona. Angel sacudiu sua<br />

cabeça e se retirou.<br />

— Angel, por favor.<br />

Viu suas lágrimas, mas não lhe importou. Algo oprimia sua<br />

garganta e quase lhe impedia de emitir alguma palavra.<br />

— Com ele é com quem retornará a viver?<br />

Sarah se aproximou dele. Angel retrocedeu, já que não queria que<br />

ela desse um passo mais. Romero e Eric, sem falar, estavam parados a<br />

suas costas. Conforme ia digerindo a realidade, a raiva se apoderava<br />

dele.<br />

— Com ele é com quem fala todos os dias? — Elevava a voz com<br />

cada palavra que dizia. — É com ele que malditamente não pode<br />

deixar de viver?<br />

Sarah pôs a mão sobre sua boca por um segundo.<br />

— Angel, por favor, você não entende. Me deixe...<br />

— De modo que ele esteve vindo aqui a cada sábado, Sarah?<br />

— Não!<br />

— Isto é o que chama trabalhar?<br />

Angel se afastou, sentindo novamente que ia vomitar. Não queria<br />

que Sarah visse quão profundamente isto o afetava, nunca mais.<br />

ele.<br />

Através da extremidade do olho, viu como ela caminhava para<br />

315


Angel não precisava escutar mais. Não importava o que ela<br />

tivesse que dizer. Tudo era muito claro.<br />

— Angel. — disse Sarah. — Me escute, por favor.<br />

— Já não importa, Sarah. — Ele parou e a olhou. — A menos<br />

que me diga que não é verdade, que não vai retornar a viver com este<br />

cara, que não é por quem quer me deixar, não preciso escutar nada<br />

mais.<br />

— Eu não estou te deixando por ninguém...<br />

— Besteira!<br />

Sarah ficou congelada e Angel começou a caminhar de novo. Ele<br />

tinha perdido o controle e precisava ir dali antes que se voltasse contra<br />

Sydney.<br />

— Ele é meu melhor amigo, Angel.<br />

Essas palavras soaram como uma cacetada em seu estômago.<br />

Deteve-se e voltou.<br />

eu.<br />

— De verdade Sarah? Pois eu pensava que seu melhor amigo era<br />

Angel começou a pestanejar rapidamente, tratando de evitar que<br />

lhe saíssem as lágrimas. Voltou o rosto, com pânico por pensar que ela<br />

pudesse vê-lo chorar.<br />

— Você é mais, Angel. — Ela tentou tomar sua mão, mas Angel<br />

a retirou. — Ele só foi meu amigo por muitos anos. Tudo o que te<br />

316


contei sobre ele é certo. Somos como família. Tem que acreditar em<br />

mim.<br />

Angel apertou os dentes. Pensou na forma em que ela olhava<br />

Sydney no café e lhe segurou a mão sobre a mesa. Ela se apoiava nele<br />

quando estavam por sair do café. Esse vestido. Esse vestido que dizia a<br />

gritos ‘me tome’ e o tinha posto para o Sydney. Como família? Na<br />

verdade, Sarah pensava que ele era estúpido?<br />

Não queria perguntar, mas tinha que sabê-lo.<br />

— Você o ama, Sarah?<br />

Quando não lhe respondeu imediatamente, soube e isso o<br />

devastou. Era mais do que podia suportar sem decompor-se. Tinha que<br />

sai dali, rapidamente.<br />

— Anda, vai. — disse-lhe. — É livre para ir com ele sem ter que<br />

mentir e sem se esconder.<br />

Imediatamente se foi para seu carro.<br />

— Angel, você entendeu tudo errado. — disse-lhe Sarah<br />

chorando. — Por favor, não faça isto!<br />

Angel apressou o passo e quase tinha chegado a seu automóvel<br />

quando as lágrimas alagaram seus olhos. Nunca, nem em um milhão<br />

de anos, tinha havido uma garota que o fizesse se sentir como ela. Logo<br />

que podia ver, fez o retorno. Passou rapidíssimo perto de Sarah que<br />

ainda seguia de pé ali, chorando e tomou a estrada. Limpou os olhos,<br />

incomodado, porque não podia deixar de chorar.<br />

317


Tudo fazia sentido agora. Todo este tempo tinha mentido e<br />

nunca lhe havia dito que o amava, porque não podia. Não podia...<br />

porque ela estava apaixonada pelo Sydney. Como tinha podido ser tão<br />

cego? Deitou-se com ele também? Saiu da estrada e abriu a porta, justo<br />

para aliviar o estômago.<br />

***<br />

— Tenho que ir atrás dele! — declarou Sarah enquanto corria<br />

para Sydney. Um casal já de idade que caminhava para seu automóvel<br />

a viram com preocupação. As lágrimas lhe caiam pelas bochechas e<br />

sabia agora que sua cara parecia um desastre, mas não lhe importava<br />

nada disso. Tirou seu telefone da bolsa e começou a marcar<br />

freneticamente o número de Angel.<br />

— Eu não o faria, Sarah. — disse-lhe Eric quando passava perto<br />

de Sarah.<br />

Sarah voltou, o olhou e tratou de tomar ar.<br />

— Sei, mas preciso fazê-lo.<br />

Eric acudiu a cabeça.<br />

— Conheço Angel minha vida toda e nunca o tinha visto assim.<br />

— Sim, caralho. — disse Romero. — Isto sim esteve feio.<br />

Sarah limpou seu rosto e tentou ganhar compostura<br />

desesperadamente.<br />

318


— Mas pelo mesmo preciso falar com ele e lhe explicar. O que<br />

acontece é que ele não entende. — Voltou para Sydney. — Por favor,<br />

me leve até ele.<br />

— O que você quiser, Lynni. — Sydney pôs uma mão em seu<br />

ombro.<br />

— E quem caralho é Lynni? — disse Romero aborrecido.<br />

— Ouça, se acalme. — disse-lhe Eric franzindo o cenho.<br />

— Só me perguntava se também mentiu a respeito de seu nome?<br />

— Romero começou a caminhar para seu automóvel, sem esperar uma<br />

resposta.<br />

Sarah queria gritar. Não menti. Mas o tinha feito e merecia isto,<br />

tudo isto.<br />

— Ouça, esse é seu segundo nome... — começou a dizer Sydney.<br />

Sarah tocou Sydney no braço.<br />

— Está bem. Não importa.<br />

— Claro que sim. Ele te chamou de mentirosa.<br />

— É o que é. — A decepção nos olhos de Eric era profunda. Deu<br />

a volta sem despedir-se e caminhou para seu carro.<br />

Sarah pôde sentir que chegava outra onda de lágrimas.<br />

— Vamos, Syd.<br />

319


No momento em que subiu no carro, paralisou. Estava pior que<br />

quando tinha chorado antes. Antes, tinha chorado de medo: medo de<br />

ter visto Angel tão fora de controle, medo de sua total incompetência<br />

para fazer com que ele entendesse, mas agora, chorava de raiva, raiva<br />

por ter sido suficientemente estúpida para deixar que as coisas<br />

chegassem a isto.<br />

Sarah decidiu que Eric estava certo. Agora não era tempo de<br />

explicações, especialmente não com Sydney aí. Esperaria até amanhã<br />

para chamá-lo. No momento em que chegaram na casa de sua tia, já<br />

havia se tranquilizado física e emocionalmente. Sentou-se aí, olhando a<br />

lua pela janela, sem ter vontade de se mover.<br />

Sydney apertou sua mão.<br />

— Vêm, vamos entrar.<br />

Sydney passou a noite no sofá da sala e retornou muito cedo pela<br />

manhã. Os dois seguintes dias foram uma verdadeira tortura. Sarah<br />

chamou Angel ao menos cinco vezes por dia e lhe mandou inumeráveis<br />

mensagens de texto e não recebeu resposta. Não podia acreditar quão<br />

irracional Angel estava sendo. Nem sequer queria discutir.<br />

Sarah se sentou em sua cama e ficou olhando seu telefone.<br />

Tinham passado somente dois dias desde que o tinha visto pela última<br />

vez e sentia saudades terrivelmente. Ele não sentia saudades também?<br />

Se tivesse sido ao contrário, ela já teria dado o braço a torcer e teria<br />

respondido. Acaso tudo o que lhe havia dito a respeito de amá-la tanto<br />

tinha sido uma mentira? Ou possivelmente se deu conta que lhe era<br />

impossível amar a uma mentirosa.<br />

320


Escutou que alguém tocou brandamente a sua porta. Esta se<br />

abriu e Valeria se deteve a entrada.<br />

— Como está?<br />

Sarah sacudiu a cabeça e apertou os lábios, olhando para seu<br />

telefone. Estava doente de tanto chorar, mas ao ver a expressão de<br />

simpatia de Valeria, lhe provocou um nó na garganta. Valeria se sentou<br />

na cama junto a ela e a abraçou. Apertou-a um pouco forte e depois a<br />

soltou e lhe deu umas palmadas na perna.<br />

— De modo que decidiu ser um idiota. Dê-lhe tempo. Superará.<br />

Sarah não era tão otimista. Valeria não o tinha visto naquela<br />

noite.<br />

— Não, na verdade, acredito que agora me odeia.<br />

— Está brincando? Acredito que ainda está abatido. Mas eu acho<br />

que você pode esperar, você sabe, que jogue.<br />

Sarah ficou vendo Valeria, a qual evitava fazer contato visual.<br />

— O que quer dizer?<br />

Valeria ficou de pé e caminhou até o escritório do Sarah.<br />

— Sabe que os meninos são bastante tolos. — Tomou uma folha<br />

de papel e uma caneta. Depois retornou e se sentou na cama junto a<br />

Sarah. Pôs seus olhos na folha de papel e começou a desenhar.<br />

— Fez-lhe mal, e pode ser que agora, queira lhe revidar isso.<br />

Assim passa. É muito imaturo, mas...<br />

321


— De que você está falando, Valeria? — Pôs sua mão sobre a<br />

caneta de modo que Valeria deixasse de desenhar — Sabe de algo?<br />

Os olhos da Valeria finalmente se encontraram com os de Sarah e<br />

respirou profundamente.<br />

— Não realmente, mas falei com o Alex.<br />

— E? — Sarah podia sentir como suas vísceras se esticavam.<br />

— Bom... Bem, você sabe que Alex é pior que Angel, de modo<br />

que pensa que você enganou Angel. Contaram-lhe toda a história<br />

errada, o tarado. — Começou a desenhar de novo. — Alex pensa que<br />

todo este tempo esteve enganando Angel e que Syd foi seu namorado<br />

há anos.<br />

Sarah apertou fortemente seus olhos fechados e se preparou.<br />

Quando olhou para baixo, Valeria estava desenhando com fúria.<br />

— Que mais te disse?<br />

Valeria deixou de desenhar, mas não a olhou.<br />

— Acabo de falar com ele. Disse-me que Angel ia jantar com<br />

Dana hoje.<br />

Isso golpeou Sarah como se fossem toneladas de pedra, mas<br />

realmente não lhe surpreendeu. No mais profundo, sempre soube que<br />

houve mais entre Angel e Dana. Com razão não sentia saudades.<br />

Valeria tocou a mão de Sarah.<br />

322


— Ouça, ela é a pessoa mais chata que há no planeta. Não há<br />

forma em que ele se meta com ela. É muito óbvio o que está fazendo.<br />

Angel não era tão imaturo. Sarah não podia imaginar Angel<br />

fazendo essa classe de jogos. Mas sim, viu ele tão ferido que precisava<br />

agarrar-se a alguém. Alguém que o fizesse sentir melhor e certamente,<br />

escolheu Dana. Sarah se levantou. Já tinha pensado desde ontem. Isto<br />

só tinha confirmado.<br />

— Tenho que sair daqui. — Tirou a mala de abaixo da cama.<br />

— Aonde vai? — perguntou-lhe Valeria.<br />

— Retornar ao Arizona, aonde devia ter estado todo este tempo.<br />

323


Capítulo Vinte e Dois<br />

Angel esperou impaciente que o semáforo mudasse para o verde.<br />

Já estava arrependido de ter aceitado isso. Mas não conseguia deixar de<br />

pensar na chamada de Dana essa noite. Ter terminado com Sarah era,<br />

sem dúvida, a coisa mais dura que já tinha feito e queria ter certeza que<br />

não estava cometendo nenhum engano. Mas quando ligou para Dana<br />

esta manhã, ela insistiu em querer falar com ele pessoalmente.<br />

Alex concordou em cobri-lo no restaurante, inclusive lhe disse<br />

para levar seu tempo e que desfrutasse, como se pudesse desfrutar de<br />

algo sentindo-se assim. Esperava que Dana fosse rápida e chegasse ao<br />

ponto. Não estava de humor para mais. Estava tão cansado pela falta<br />

de sono nas últimas duas noites, que somente pensar em Sarah o fazia<br />

golpear o volante.<br />

Foi buscar Dana e comentou que não tinha muita fome, mas que<br />

podiam ir tomar um café, de modo que foram ao Starbucks. Ela falou<br />

todo o caminho, mas não a respeito do que ele queria escutar. Então,<br />

quando chegaram à cafeteria, Angel foi direto ao ponto.<br />

— Então, me fale de uma vez. O que estava querendo me dizer<br />

quando me chamou sábado à noite?<br />

— Angel, eu não sabia que você estava ignorando todos. Odeio<br />

causar problemas...<br />

Angel cortou seu discurso.<br />

324


— Terminamos. O que tínhamos, acabou. Só queria saber o que<br />

tinha para falar.<br />

Dana ficou surpreendida. Mas de repente, seu olhar se encheu de<br />

compaixão.<br />

— Sinto muito ouvir isso.<br />

Angel lutou por não demonstrar a sua raiva com os olhos.<br />

Levavam só cinco minutos e já estava perdendo a paciência.<br />

— É sobre sábado, Dana.<br />

— Ah, sim. Bom, eu não os vi, mas Lorena me perguntou se eu<br />

sabia o que estava acontecendo com você e Sarah. — Dana começou a<br />

brincar com seu guardanapo. — Estava me ligando da praia Lujan e<br />

disse que Sarah estava lá de mãos dadas, beijando e outras coisas com<br />

outro cara.<br />

Angel podia sentir que tudo se repetia de novo. A raiva<br />

queimando em suas veias.<br />

— Beijando e outras coisas? Tem certeza?<br />

— Bom, acredito que isso foi o que disse.<br />

Bem... que caralho. Já deveria saber que não ia poder tirar uma<br />

resposta direta de Dana, especialmente quando se tratava de Sarah.<br />

— Isto é importante Dana — Angel não ocultou a irritação em<br />

sua voz.<br />

— Mas pensei que vocês tinham terminado.<br />

325


— Isso mesmo. — Levantou sua voz, depois se deteve para tomar<br />

um gole de café e tomar um tempo antes de voltar a falar. Decidiu que<br />

o melhor era se comportar de forma agradável. Talvez isso o acalmaria.<br />

Aproximou e pôs sua mão na dela.<br />

E se esforçou para falar calmamente.<br />

— É um detalhe importante, querida. Só quero saber a verdade.<br />

Dana sorriu ao ver sua mão na dela.<br />

— Bom, me deixe mandar uma mensagem para ela.<br />

Tirou seu telefone da bolsa e começou a escrever. Quando<br />

terminou, abaixou o telefone e voltou a pegar a mão de Angel.<br />

— Quer falar sobre isso? — Dana acariciava lentamente os dedos<br />

de Angel. — Falei sério quando disse que me tinha, Angel. Sabe disso.<br />

Angel forçou um sorriso e se sentou de novo em sua cadeira.<br />

— Sei, mas não quero.<br />

Na hora certa seu telefone soou. Dana o levantou e o leu.<br />

— Bom, diz que estavam de mãos dadas, abraçando-se e<br />

trocando olhares. Ela parecia feliz.<br />

Angel tentou ocultar a onda de dor que o percorria quando ela<br />

leu a mensagem. Tinha sentido. Desde que conhecia Sarah que ela<br />

nunca tentou esconder o afeto que sentia por Sydney. Depois do<br />

sábado, não tinha pensado que a dor pudesse o fazer se sentir pior. Por<br />

que estava fazendo isto a si mesmo? Por que tinha vindo para cá? Já<br />

326


sabia que Sarah estava apaixonada por Sydney. Então lembrou.<br />

Precisava confirmar. E agora já tinha feito.<br />

Angel pode ver que Dana estava incomodada, já que tão logo ele<br />

obteve a informação, agarrou suas coisas e a conduziu para fora do<br />

lugar. Não se importava. Nem sequer tinha terminado seu café. Depois<br />

dessa mensagem, não poderia suportar nada no estômago.<br />

Foi levá-la e retornou ao restaurante. Alex estava ao telefone no<br />

escritório de trás quando Angel chegou. Pôs sua mão no telefone e se<br />

sentou ao ver seu irmão.<br />

— Isso foi muito rápido.<br />

— Sim, só fomos tomar um café. — Angel pegou um avental da<br />

prateleira. Viu que Alex desligou o telefone. — Se quiser, pode ir. Eu<br />

tomo conta.<br />

— Era Valeria.<br />

Angel diminuiu o passo por um segundo mas não olhou para<br />

Alex.<br />

— Ah sim?<br />

Angel nem sequer tinha ligado seu telefone nos últimos dois dias.<br />

Disse a todo mundo que tinha perdido e que somente lhe chamassem<br />

no restaurante ou em sua casa. A última coisa que queria era ouvir<br />

Sarah se desculpar por estar apaixonada por Sydney. Preferia não<br />

voltar a falar com ela.<br />

327


— Sim — disse Alex. — Não precisa se preocupar em voltar a ver<br />

a Sarah por aqui nunca mais.<br />

Angel parou enquanto amarrava seu avental e olhou ao Alex.<br />

— E isso por que?<br />

— Vai para o Arizona. — Alex ficou de pé. — Essa noite.<br />

Seu estômago se embrulhou. Não podia entender por que isso lhe<br />

incomodava tanto. Sabia que ia embora logo, mas pensava que não iria<br />

até o Natal e para isso faltava mais de uma semana.<br />

Acabou de colocar o avental e deu de ombros.<br />

— Bom para ela.<br />

Passou depressa por Alex e caminhou para a porta do escritório.<br />

dela.<br />

Não queria saber mais a respeito de Sarah e muito menos falar<br />

— Ouça Angel — disse Alex — Valeria me disse que Sarah e esse<br />

cara, realmente, são somente amigos muito próximos.<br />

Angel seguia pensando no que a amiga da Dana disse sobre eles<br />

na praia. Seria possível, que de todas as pessoas, Alex também estivesse<br />

acreditando nesse lixo? Também era certo que ele mesmo tinha<br />

pensado nessa possibilidade centenas de vezes desde sábado. Mas não<br />

tinha sentido e depois de hoje, estava cada vez mais convencido de que<br />

não podia ser isso.<br />

Angel soltou uma gargalhada.<br />

328


— Isso é mentira Alex.<br />

— Sim, isso foi o mesmo que eu disse.<br />

Com um humor de morte, Angel se voltou para Alex<br />

— Então, por que diabos está me dizendo isso?<br />

Alex sorriu para o aumento no temperamento de Angel.<br />

— Porque ela deu uma boa explicação sobre isso.<br />

Mantendo um olhar sobre Alex, Angel não se moveu.<br />

— Ela está apaixonada por ele.<br />

— Ela te disse isso?<br />

— Não foi preciso. — Angel foi para a porta deixando Alex no<br />

escritório. Já tinha dado por terminado o assunto. Mas Alex não.<br />

Seguiu Angel até a porta de trás do restaurante. Angel sabia que Alex<br />

nunca se intrometia, mas tinha a sensação que Valeria estava por trás<br />

do seu súbito interesse por interceder.<br />

— Sarah tem chorado por dias, Angel.<br />

Angel diminuiu um pouco o passo. Sentia novamente o seu<br />

estômago revirar. O último par de dias tinham sido um inferno para<br />

ele, mas odiava a ideia de saber que Sarah estava machucada. A<br />

imagem dela e Sydney lhe passou novamente pela cabeça e apertou a<br />

mandíbula.<br />

— Não quero ouvir mais — Soltou um grunhido e foi para a<br />

porta de trás.<br />

329


— Só estava dizendo — continuou Alex. — Se me perguntar...<br />

Angel deu a volta. Ia terminar isso agora.<br />

— É um ajudante de cozinha. Ninguém está perguntando nada,<br />

então pode parar.<br />

Alex riu disso. Agitou as mãos no ar e se foi. Angel irrompeu no<br />

corredor para a porta de entrada na parte traseira do restaurante.<br />

A verdade é que estava afundando em um grande inferno nos<br />

últimos dois dias. Ficou feliz em saber que Sarah ia embora, porque<br />

estava certo de não saber como caralho ia fazer ao vê-la na escola. Ela<br />

poderia estar apaixonada por outra pessoa, mas seus sentimentos por<br />

ela não tinham mudado nada. Seguiam sendo tão intensos como<br />

sempre. Além disso, teria que adicionar todo o rolo emocional que<br />

tinha agora, sabia que voltar a vê-la seria brutal.<br />

O telefone tinha tocado todo o tempo em que Angel esteve<br />

caminhando. Ansioso para descansar sua mente, atendeu o telefone.<br />

— Restaurante Moreno, aqui é Angel.<br />

— Eu, hum... somente queria me despedir — a voz de Sarah era<br />

como um sussurro.<br />

Angel sentiu sua garanta se fechar. Acaso esse dia podia piorar<br />

mais? Ficou congelado por um segundo. Disse a única coisa que veio a<br />

sua mente perturbada.<br />

— Está indo embora antes.<br />

Escutou ela respirar fundo.<br />

330


— Ahã, não tenho razão para ficar por aqui.<br />

Claro que não. Esse foi o golpe final. Seu coração já não<br />

aguentava mais.<br />

— Seja feliz Sarah. Adeus. — Enfurecido por sua voz falhar ao<br />

dizer a última palavra, Angel não esperou Sarah responder e desligou.<br />

***<br />

Sarah olhava pela janela do ônibus o último pôr-do-sol que veria<br />

da Califórnia por um longo tempo. E ainda por cima, ela tinha<br />

acrescentado mais um motivo para continuar irritada consigo mesma<br />

Além de nunca poder se perdoar por ter machucado Angel, foi<br />

contra seu melhor julgamento e ligou para ele. Não conseguiu evitar e<br />

ainda mais quando Valeria mencionou que acabava de falar com o<br />

Alex e disse que Angel tinha acabado de chegar. Sabia que era a melhor<br />

oportunidade de poder falar com ele lá, do que por seu celular, além<br />

disso, ansiava ouvir sua voz mais uma vez antes de ir. Tinha a ideia<br />

absurda que com passaria por isso, mas ao contrário, só intensificou<br />

sua agonia.<br />

Sua voz foi tão fria e amarga, nada parecido ao que uma vez já<br />

foi. Sua indiferença em volta dela era o que mais lhe doía agora. Angel<br />

nunca voltaria a olhá-la como antes e a dor era devastadora.<br />

331


Sydney não sabia que ela chegaria a Flagstaff essa noite. Sarah<br />

pediu para ele busca-la na estação de ônibus amanhã ao meio dia.<br />

Quando falou com ele essa manhã, Sydney se sentia terrível com tudo<br />

isso e tinha pensado que se talvez ele falasse com Angel, poderia fazê-lo<br />

entender.<br />

Antes de hoje, ela até poderia pensar que isso seria uma boa<br />

ideia. Uma pequena parte dela se prendia à ideia de que o amor que<br />

Angel sentia por ela o ajudaria a aceitar sua relação com Sydney. Mas<br />

perdeu toda esperança ao saber que Angel já seguiu em frente e que já<br />

estava se encontrando com Dana. Obviamente, ela estava em negação<br />

todo esse tempo. Amanhã seria um grande dia. Se Sydney soubesse<br />

quais eram seus planos, insistiria em ir com ela. Mas isto era algo que<br />

precisava fazer sozinha. Já tinha reservado um quarto de hotel para<br />

ficar em Flagstaff essa noite.<br />

Ainda faltava ao menos três horas para chegar. Tratou de dormir<br />

mas não conseguia. Valeria até emprestou um livro sobre o poder da<br />

mente e pensamento positivo. Fechou seus olhos e colocou sua cabeça<br />

para trás e tratou de pensar em momentos mais felizes.<br />

Recordou o dia em que conheceu Sydney, o menino gordinho da<br />

cafeteria na escola primária. Já o tinha visto antes, mas era tão tímida<br />

que nem em sonhos falaria com ninguém que não falasse primeiro com<br />

ela. Além disso, Sarah já tinha deixado de querer fazer amizades novas.<br />

Nunca pensaria que estariam juntos na mesma escola.<br />

Sydney tinha se sentado em frente a ela esse dia e começou a<br />

conversar com ela. Sarah lhe ofereceu suas batatas à francesa quando<br />

viu que ele tinha acabado as suas e ele as aceitou. Sydney dizia que<br />

332


tinha amigos, mas que não gostava de ir ao pátio de jogos já que lá<br />

fazia muito calor. De modo que, em lugar disso, preferia ficar na<br />

cafeteria.<br />

Não passou muito tempo para que Sarah se desse conta da<br />

verdadeira razão para não ter amigos. Seu peso era um grande<br />

problema. Os meninos zoavam dele sem descanso. Roubavam seu<br />

dinheiro, mas ele dizia que devia a eles. Mas ela podia ver que isso o<br />

machucava. Ele ficou muito feliz por ela ter apoiado ele nesse<br />

momento. Em retrospectiva, era como se algo os tivesse unido. Ambos<br />

se ajudavam.<br />

Alguém atrás de Sarah espirrou fortemente e a trouxe de volta ao<br />

presente. Sarah franziu o cenho. Finalmente tinha conseguido pensar<br />

em algo que não fosse sua dor. Valeria tinha razão. Isto estava<br />

funcionando. Mas a melhor parte de tudo, era que tinha começado a<br />

cochilar. Fechou seus olhos e tratou novamente de pensar em coisas<br />

felizes. Pela primeira vez em dias, Sarah pôde adormecer.<br />

333


Capítulo Vinte e Três<br />

O restaurante esteve muito concorrido durante todo o dia. A<br />

semana antes do Natal sempre ficava assim, cheio, já que as empresas<br />

locais celebravam suas festas de Natal aí.<br />

Até agora, nunca se tinha dado conta da quantidade de canções<br />

que tinham a ver com desilusões amorosas e corações partidos. Com<br />

frequência se via mudando de estação de rádio do automóvel e em<br />

algumas ocasiões o desligava de forma abrupta, totalmente aborrecido<br />

devido ao nó que sentia na garganta.<br />

Finalmente ligou seu telefone, que estava cheio de mensagens de<br />

voz e de texto. Não eram de Sarah, mas de todas as formas, apagou<br />

todos. Não queria arriscar-se a escutar por engano a voz de Sarah ou<br />

ler, mesmo que só um pouco, de suas mensagens de texto. Inclusive,<br />

isso era doloroso.<br />

O alvoroço do almoço tinha passado e o restaurante gozava de<br />

um curto descanso. O pessoal da tarde tinha chegado e estavam se<br />

organizando para os jantares dos festejos dessa noite.<br />

A ausência de Sarah era notoriamente óbvia, de modo que Angel<br />

tinha comentado com sua família de seu rompimento, a alguns contou<br />

mais do que a outros. Disse a seus pais que tinham decidido dar por<br />

terminada sua relação já que Sarah retornava ao Arizona.<br />

334


Sofia era a que mais mal o tinha tomado e para sua surpresa, sua<br />

irmã estava zangada com ele por não querer compreender. O que era<br />

que teria que compreender? Sarah ia se mudar com outro cara e ela<br />

sabia fazia tempo.<br />

Fez-lhes saber claramente que não queria falar disso. A amargura<br />

crescia cada vez mais a cada ocasião que falavam. Sofia tem que ter<br />

visto algo nele, porque lhe pediu para não odiar Sarah. Angel sorriu<br />

amargamente. Odiá-la teria deixado tudo muito mais fácil.<br />

Durante os últimos dez minutos, Angel tinha estado sentado no<br />

escritório contemplando o lápis com que estava brincando em suas<br />

mãos, a voz de Sarah em sua ligação anterior ainda seguia em sua<br />

cabeça. Sofia colocou cabeça dentro do escritório.<br />

— Alguém te procura na entrada principal.<br />

Angel se levantou da cadeira.<br />

— Quem? — Sofia encolheu os ombros e se foi às pressas.<br />

Levantou-se e foi para a entrada do Restaurante. Conforme dava<br />

a volta na esquina viu quem era sua visita. Cada músculo em seu corpo<br />

se esticou e automaticamente apertou os punhos.<br />

Alex deixou o balcão da recepção e passou em frente a Angel e se<br />

dirigiu para o salão, sabendo do que se tratava isto.<br />

Sydney olhou Angel.<br />

— Tenho que ajustar contas contigo.<br />

335


Talvez este não fosse um Natal tão mau. Durante toda a semana<br />

tinha tido vontade de partir a cara de alguém e agora aqui estava<br />

Sydney, entre todo mundo, procurando-o. Sydney não era em nada<br />

pequeno, tinha boa aparência, mas seja como for, Angel estava certo<br />

que lhe poria um bom hematoma. Demônios, pelo modo como se<br />

sentia, tinha estado preparado para ter dado a Alex um bem mais cedo.<br />

Angel sorriu e se recostou no arco da entrada da sala de jantar.<br />

— Eu pensei que você e Sarah já estariam de volta ao Arizona.<br />

Sydney ficou olhando.<br />

— Escutou alguma de suas mensagens?<br />

Os dentes de Angel se apertaram e deu um gole amargo.<br />

— Já escutei tudo o que precisava escutar.<br />

— Então já sabe que ela está em pedaços?<br />

Sentindo uma pontada de dor, Angel afastou da mente qualquer<br />

pensamento de Sarah sofrendo. Agora ela estava feliz. Estava com o<br />

Sydney, aonde ela queria estar.<br />

— Tenho certeza que você saberá arrumar isso.<br />

Os clientes começavam a chegar em grupos, enchendo a entrada<br />

do restaurante. Sydney se aproximou de Angel.<br />

— Há outro lugar onde possamos falar?<br />

Angel olhou a recepção. Alex já tinha enviado alguém para<br />

recepcionar. Angel saiu pela entrada principal e Sydney foi atrás dele.<br />

336


O clima estava muito frio e havia muitas pessoas chegando com<br />

casacos e jaquetas pesadas. Mas Angel se sentia acalorado.<br />

O Empala amarelo estava estacionado na frente do restaurante.<br />

Angel apertou os olhos por um segundo, recordando essa noite.<br />

Encostou na caminhonete do Alex que estava estacionada a dois carros<br />

de distância da entrada principal do restaurante.<br />

— Não tenho muito tempo. — Angel cruzou os braços.<br />

— Vai ser rápido.<br />

Angel fez o possível para aparentar estar aborrecido.<br />

— Angel, Sarah te ama.<br />

Ele ficou olhando Sydney, com uma expressão endurecida.<br />

— Que engraçado, nunca me disse isso.<br />

— Não podia. Sentia-se muito culpada de lhe dizer isso sabendo<br />

que ia embora — disse-lhe Sydney. — Ela é assim.<br />

Claro que se sentia culpada.<br />

Angel riu.<br />

— Ama-me tanto que morre por retornar ao Arizona para viver<br />

com outro cara?<br />

Sydney ficou olhando.<br />

— Para ser alguém que diz amar tanto Sarah, realmente não sabe<br />

uma merda a respeito dela, não é?<br />

337


Angel apertou os lábios fazendo um esforço supremo para<br />

manter-se calmo.<br />

— Sei por que mentiu sobre sua verdadeira razão para retornar e<br />

que todo este tempo esteve apaixonada por mais alguém. — Suas<br />

palavras estavam cheias de amargura.<br />

— Não tem nem ideia, não é? — Sydney sacudiu a cabeça. —<br />

Sarah e eu estivemos juntos por anos e sim, me ama. Eu também a<br />

amo.<br />

Angel sentiu que a adaga que levava no coração se retorcia.<br />

— Ela é como uma irmã para mim, sempre foi assim e seguirá<br />

sendo. Mas se só o pensamento dela estando perto de qualquer outro<br />

cara te tem tão chateado, certamente vai perdê-la.<br />

O pulso de Angel se acelerou. Ficou olhando Sydney diretamente<br />

nos olhos.<br />

— Ela já tomou sua decisão.<br />

— Você tomou por ela.<br />

— Ela tomou o dia que decidiu que ninguém a deteria de retornar<br />

contigo — Angel apertou os dentes — nem sequer eu.<br />

Sydney o olhou com fúria sem poder acreditar.<br />

— Então é isso? Vai deixar que sua insegurança se interponha no<br />

que sente por ela? Vai deixa-la ir, assim sem mais?<br />

338


Angel não lhe respondeu. Requereu todo seu controle para evitar<br />

soltar murros sobre a caminhonete de Alex.<br />

Sydney se via enojado. Sacudiu a cabeça e começou a caminhar<br />

para seu automóvel. Uns passos depois, deteve-se e voltou. Angel não<br />

se moveu.<br />

— Sabe? Depois de tudo o que ela tinha me contado sobre você,<br />

esperava um pouco mais. Realmente, estava muito contente porque ela<br />

tinha te encontrado. Mas agora vejo que me enganei. Me alegro que<br />

retorne ao Arizona. Não a merece.<br />

Angel começou a se sentir mal, com a mesma vontade de vomitar<br />

que sentiu no dia em que viu Sarah com Sydney. O mesmo sentimento<br />

que teve quando esteve doente no dia seguinte. Olhou para seus pés<br />

com fúria.<br />

— Estou seguro que vocês dois estarão felizes.<br />

Sydney se voltou uma última vez antes de entrar em seu carro.<br />

— Sim, claro, se isso for o que você quer pensar.<br />

Sydney partiu, fazendo com que o motor rugisse ao passar por<br />

Angel.<br />

Angel, Sarah te ama. Por muito que quisesse acreditar nisso,<br />

pensar no apego indiscutível de Sarah com o Sydney o fazia impossível,<br />

a forma em que ela estava vestida essa noite para Sydney e a forma que<br />

tomou sua mão no restaurante. Era claro para ele o que Sarah sentia<br />

por Sydney e isso lhe queimava como brasa.<br />

339


***<br />

Só levou um momento para Sarah dar-se conta de onde estava<br />

quando despertou. Veio-lhe à memória quando era pequena e ela e sua<br />

mãe viviam em hotéis por meses, algumas temporadas. Muitas vezes,<br />

ela acordava e estava sozinha, já que sua mãe foi trabalhar.<br />

Igual a quando era pequena, ligou a televisão, não queria ver<br />

nada, só odiava o silêncio. Sentou-se um momento na borda da cama e<br />

pensou sobre o dia que tinha pela frente. Devia ter feito isto faz tempo.<br />

Depois de tomar banho e ter bebido uma xícara de café que<br />

preparou na pequena cafeteira que havia em seu quarto de hotel, já<br />

estava pronta para ir. Poderia ter pego o carro, mas decidiu caminhar.<br />

Vinha preparada para isso. Arrumou-se e colocou suas botas e seu<br />

gorro. Inundou-se do rangente e gelado ar frio de Flagstaff e sorriu,<br />

recordando de como ela e Sydney estavam acostumados a caminhar<br />

para todos os lados. A caminhada seria por volta de uma milha e isso<br />

lhe ajudou a diminuir sua ansiedade.<br />

Sarah chegou ao Centro Coconino de Detenção de Mulheres<br />

pouco depois das nove. Tinha ligado antes, de modo que sabia que não<br />

devia trazer nada, exceto sua identidade e dinheiro. Depois de passar<br />

pela revisão de segurança e de caminhar nos largos corredores estéreis,<br />

registrou-se e foi escoltada a uma ampla sala que se parecia com o<br />

refeitório da escola. Havia outros visitantes aí, sentados nas mesas<br />

frente as internas que estavam vestidas com uma bonita cor azul.<br />

340


Tudo era sombrio. A única coisa que havia nas mesas eram<br />

caixas de lenços descartáveis.<br />

Passos e portas abrindo e fechando ressoavam fortemente,<br />

sacudindo seus nervos já superexcitados. Cada vez que a porta de onde<br />

as internas eram escoltadas para entrar ou sair se abria, continha a<br />

respiração. Abriu-se uma vez mais e entrou sua mãe. Via-se menor e<br />

frágil. Seu cabelo que usualmente trazia arrumado, agora estava preso<br />

em um rabo de cavalo e seus olhos estavam fundos com grandes<br />

olheiras sob eles.<br />

Sarah estava atônita, mas forçou um sorriso. Não estava aí para<br />

fazer sua mãe se sentir pior. Estava aí, porque sentia saudades e a<br />

necessitava desesperadamente.<br />

A expressão de sua mãe se quebrou quando estavam<br />

suficientemente perto e a abraçou fortemente.<br />

— Ai, minha vida, senti tanta saudade.<br />

Sarah não queria soltá-la. Não tinha se dado conta do muito que<br />

tinha sentido falta dela. Suas emoções a traíram mas já não lhe<br />

importou. Chorou abertamente.<br />

— Sinto sua falta, mamãe.<br />

Sua mãe a segurou um momento mais e depois a soltou para<br />

poder ver a cara de Sarah. Sua mãe lhe limpou as lágrimas com seus<br />

dedos.<br />

— Venha, sente-se.<br />

341


Sentaram-se uma frente à outra em uma das mesas. Sarah estava<br />

preocupada de que sua mãe tenha se incomodado, porque tinha vindo<br />

vê-la. Sempre lhe havia dito que não queria que a visse assim. Agora,<br />

Sarah entendeu por que. Mas sua mãe não se via nem um pouco<br />

zangada.<br />

Sua mãe alcançou as mãos de Sarah através da mesa.<br />

— Ninguém me disse que viria.<br />

— Ninguém sabe.<br />

Os olhos de sua mãe se entrecerraram.<br />

— Quem te trouxe? Angel?<br />

Sarah negou com a cabeça, olhando para baixo, para suas mãos<br />

entrelaçadas.<br />

— Vim sozinha, de ônibus. — O rosto de sua mãe mostrou uma<br />

preocupação ainda maior. — Tia Norma sabe que estou no Flagstaff.<br />

Só que não lhe disse que viria te ver. Não queria que tentasse me<br />

dissuadir.<br />

Sarah não poderia sobrepor o aspecto que apresentava sua<br />

mamãe. Muitas vezes, quando era menina e tinham que mudar por<br />

motivos desconhecidos para ela, sua mãe se via triste e preocupada,<br />

mas nunca assim. Também tinha perdido muito peso.<br />

— Retorna hoje?<br />

Essa era a pergunta que Sarah mais temia. Sabia que sua mãe não<br />

ia alegrar-se de que ela retornasse ao Arizona.<br />

342


— Não, mãe. — Os olhos cansados de sua mãe procuravam uma<br />

resposta na cara de Sarah. — Ficarei na casa dos pais de Sydney para o<br />

Natal e Ano Novo.<br />

A expressão da cara da mãe de Sarah não mudou.<br />

— E o que aconteceu com Angel? Pensei que vocês eram<br />

inseparáveis?<br />

O nó na garganta de Sarah estava por afoga-la. Tudo o que pôde<br />

fazer foi negar com a cabeça e olhar para o outro lado para evitar que<br />

as lágrimas escapassem de seus olhos. Sua mãe apertou suas mãos.<br />

— Conte o que aconteceu.<br />

Sarah limpou as lágrimas com uma mão. Estava incômoda<br />

consigo mesma. Isto não devia ser sobre ela. A última coisa que queria<br />

era pôr uma carga a mais sobre os ombros de sua mãe, mas ela insistiu<br />

muito.<br />

— Fale, filhinha...<br />

Depois de se recompor, respirou profundamente. Sarah tomou<br />

novamente a mão de sua mãe. Sua mãe pegou e a apertou sorrindo.<br />

— Angel soube tudo a respeito de Sydney. — Sabia que sua mãe<br />

ia se confundir e sua expressão demonstrava. — Nunca lhe disse quem<br />

era Sydney...<br />

Sarah se sentiu como uma idiota. Tinha contado a sua mãe tanto<br />

como pôde a respeito de Angel. Mas suas conversas por telefone eram<br />

343


tão curtas que se sentia culpada por utilizar todo o tempo da chamada<br />

em falar de si mesma, de modo que muitas coisas ficaram sem contar.<br />

— E o que, carinho?<br />

Sarah olhou ao redor do lugar e sua vista retornou a sua mãe.<br />

— Sabe alguém que pensa que entre um menino e uma garota<br />

não pode haver somente uma amizade?<br />

Em um instante, o aspecto de preocupação e confusão na cara de<br />

sua mãe trocou por entendimento e assentiu com a cabeça.<br />

— Acredito que estraguei as coisas, mãe. — Falar com sua mãe a<br />

fazia se sentir muito bem.<br />

— De modo que ele não sabia a respeito de Sydney? — Sua<br />

mamãe soltou sua mão para alcançar a caixa de lenços da mesa e a<br />

passou para Sarah. — Assoe o nariz.<br />

Sarah assoou e continuou.<br />

— Não exatamente.<br />

Contou a sua mãe a sórdida história completa sobre como Angel<br />

assumiu que Syd era mulher e como quis lhe dizer a verdade tantas<br />

vezes e finalmente, quando se inteirou dessa verdade da pior maneira.<br />

Logo lhe disse de sua ligação para despedir-se e como Angel lhe disse<br />

que fosse feliz.<br />

— Então ele pensa que ficará no Arizona?<br />

Sarah se mordeu o lábio.<br />

344


— Disso era o que queria falar contigo.<br />

A mãe de Sarah levantou a sobrancelha.<br />

— mãe — a voz de Sarah era quase como um sussurro. — Não<br />

posso voltar.<br />

Sua mãe sacudiu a cabeça, mas sua expressão era amável. Sarah<br />

olhou para longe.<br />

— Carinho, o que mais desejo é sua felicidade. Me olhe.<br />

Sarah voltou para os olhos cansados de sua mãe. Não ia ficar e<br />

discutir com ela. Quando chegou pela primeira vez na Califórnia,<br />

estava tão amargurada que não lhe importava quão zangada ficaria sua<br />

mãe se ela retornasse ao Arizona. Mas depois de vê-la hoje, seu coração<br />

lhe dizia para conceder a sua mãe qualquer desejo, sem importar o que<br />

fosse.<br />

— Me escute, neném. — Pegou uma das mãos de Sarah entre<br />

suas duas mãos. — Eu sei que agora parece como se fosse o fim do<br />

mundo. E nunca saberá o quanto eu sinto por não ter estado contigo<br />

quando isto aconteceu. Mas lhe dê tempo. As coisas irão se resolvendo<br />

por si mesmos. Angel entenderá...<br />

Talvez fosse a expressão de Sarah. Ela não podia acreditar que<br />

isto se resolveria de alguma forma, mas sua mãe parou sem terminar de<br />

falar. Se inclinou para ela, com um pequeno sorriso nos lábios.<br />

— Tenho boas notícias.<br />

— O que?<br />

345


— Bom, não ia te dizer nada antes de que fosse certo, mas está<br />

tão triste. — Sua mamãe fez uma pequena careta. — Meus advogados<br />

encontraram certa possibilidade no meu caso.<br />

Pela primeira vez desde que tinha chegado, Sarah pensou ver<br />

uma faísca nos olhos de sua mãe.<br />

— O que isso significa?<br />

Sua mamãe se sentou para trás com um sorriso cauteloso.<br />

— Bom, não saberei nada até que vá a corte e isso não será até<br />

depois do Natal e Ano Novo, mas de acordo com meus advogados, se<br />

tudo sair bem, posso sair no começo da primavera.<br />

Sarah deu um salto de seu assento, fazendo com que o guarda a<br />

olhasse estranho. Lhe deu de presente um sorriso torcido e depois<br />

abraçou a sua mãe.<br />

— Ai, mãe, Por Deus! Essas são as melhores notícias.<br />

Sua mãe parecia resplandecer e depois recuperou a seriedade.<br />

Pediu a Sarah que se sentasse.<br />

— Mas tem que me prometer que ficará na Califórnia até então,<br />

Sarah. Já não falta muito.<br />

Sarah sentia seu estômago inquieto, mas nada poderia lhe tirar a<br />

felicidade que sentia pelo que tinha ouvido. O sorriso seguia em seu<br />

rosto e sentiu o nó em sua garganta novamente. Agora, era a alegria a<br />

que fazia afogar-se, a emoção tinha sido tão alheia a ela durante toda<br />

essa semana.<br />

346


— Está bem, mãe. — Sarah sorriu — O que você quiser.<br />

* * *<br />

Carina era uma garota alta, de seios grandes e cabelo loiro, não se<br />

parecia em nada ao que ela pensava que poderia ser o tipo de garota<br />

para Sydney. Mas Carina adorava sua música e só com isso ela e<br />

Sydney podiam falar durante horas.<br />

Não lhe deu muita conversa, mas foi educada. Sarah esperava<br />

que pudessem chegar a ser amigas, especialmente se o relacionamento<br />

dela e Sydney fosse durar. Mas até o momento, as coisas tinham sido<br />

incômodas.<br />

Depois de passar alguns dias com eles, Sarah finalmente aceitou.<br />

A relação dela e Sydney era uma das coisas que teria que se acostumar<br />

com qualquer terceiro em questão.<br />

Sarah estava muito acostumada a ser completamente desinibida<br />

em torno de Sydney. Depois de tudo, ela tinha crescido a seu lado.<br />

Estando Carina perto, tinha que cuidar para fazer coisas que nem<br />

sequer faria estando perto de Angel. Como por exemplo, arrotar.<br />

Era tão fácil que tudo voltasse a ser como era antes e começar a<br />

rir e a aguentar as coisas. Surpreendeu-lhe que, apesar de que não tinha<br />

podido tirar Angel da cabeça, estar perto de Sydney realmente tinha lhe<br />

ajudado.<br />

347


O dia de Natal na casa de Sydney foi igual o de sempre. Os<br />

senhores Maricopa estiveram entoando as canções de Natal enquanto<br />

terminavam de preparar o jantar juntos. Viriam jantar alguns membros<br />

novos da família e Carina.<br />

Sarah estava vendo televisão na sala da frente apesar da música,<br />

mas não se importava. Quase se sabia de cor o filme, tinha o visto<br />

muitas vezes.<br />

Sydney saiu da cozinha, agitando a cabeça.<br />

— Já lhe estão dando o ponche. — Ria entre dentes.<br />

Sarah olhou por cima da televisão. Estava sentada no chão<br />

apoiada nos travesseiros que tinha usado de noite. Sydney apareceu<br />

para ver o que ela estava assistindo na televisão.<br />

— Outra vez está vendo Orgulho e Preconceito? — Sydney pôs<br />

uma cara de incômodo. — Por Deus, você não viu umas cem vezes?<br />

Sarah o ignorou e olhando para a televisão, sorriu-lhe. Sentou-se<br />

perto dela e tomou o controle remoto do chão. A próxima coisa que<br />

soube é que havia futebol americano na tela.<br />

— Ei!<br />

— Agora, assim está melhor — Sydney sorriu.<br />

— Eu tinha o controle remoto primeiro e além disso, sou sua<br />

convidada — Quis pegar o controle remoto, mas ele levantou o braço e<br />

Sarah não pôde alcançá-lo.<br />

348


— Vou contar a ela — e sorriu maliciosamente. — Sra.<br />

Maricopa!<br />

Não havia forma de que a mãe de Sydney a ouvisse com a<br />

música tão alta na cozinha e Sarah sabia. Ficou de joelhos para<br />

alcançá-lo, mas Sydney se foi para trás rindo e ela caiu sobre dele.<br />

Sarah tinha sua mão sobre o controle e Sydney começou a lhe fazer<br />

cócegas nas costelas. Sarah estremeceu e começou a rir.<br />

— Não é justo!<br />

Ela começou a lhe fazer cócegas nas costas, fazendo ele jogar o<br />

controle e pôde agarrá-lo, mas então, Sydney a segurou pela cintura e<br />

ela caiu, escondendo o controle debaixo de suas costas. Sarah não ria<br />

assim fazia muito tempo. Fechou seus olhos apertando-os, tentando<br />

tomar um pouco de ar entre as risadas. Quando os abriu viu por cima<br />

do ombro de Sydney, Carina. Ela estava parada no meio da sala,<br />

olhando-os. Via-se aturdida, por isso Sarah empurrou Sydney para<br />

tirar-lhe de cima.<br />

— Olá, Carina.<br />

Sydney voltou a cabeça imediatamente. A metade de seu corpo<br />

seguia sobre Sarah. Imediatamente se levantou de cima dela.<br />

— Ouça, neném.<br />

— Toquei, mas... — Os olhos de Carina se dirigiram a Sarah, que<br />

estava baixando a blusa que tinha subido e mostrava parte de suas<br />

costelas e logo olhou Sydney e depois olhou ao redor e saiu depressa<br />

pela porta.<br />

349


— Carina, espera — Sydney saiu de um salto. — Aonde vai?<br />

Carina saiu e Sydney foi atrás dela.<br />

Sarah se levantou e chegou até a janela. Espiou e os viu<br />

discutindo. Carina parecia chorar. Sarah não podia acreditar quão<br />

ingênua tinha sido. Angel teria tido uma reação muito mais violenta.<br />

Só porque isto era normal para eles, não queria dizer que fosse para os<br />

estranhos. Era como se ela tivesse um irmão, mas em realidade, não<br />

era. Estiveram fora por um momento e quando entraram, pelo olhar<br />

que Sydney lhe mostrou, soube que era melhor não dizer nada. Mais<br />

tarde, quando Carina foi ao banheiro, teve oportunidade de dizer a<br />

Sarah que tudo estava bem. Mas Sarah sabia. Quase tinham arruinado<br />

o Natal.<br />

Assim, quando Valeria a chamou uns dias mais tarde para a<br />

convencer de que retornasse à Jolla para o Ano Novo, Sarah<br />

concordou. Originalmente, ela planejou ficar no Arizona e passá-lo<br />

com Syd e Carina. Mas depois do que aconteceu, decidiu deixá-los<br />

desfrutar de um romântico Ano Novo sem uma terceira pessoa.<br />

Sydney não gostou que ela fosse embora antes, mas estava<br />

contente de que decidisse ficar na Califórnia, ao menos até que sua mãe<br />

saísse da prisão.<br />

350


Capítulo Vinte e<br />

Quatro<br />

O Natal veio e foi sem nenhum sentimento de felicidade para<br />

Angel. O restaurante não estava nem um pouco cheio depois da<br />

semana de Natal como tinha estado na semana anterior. Seus pais<br />

foram ao México para uma semana de visitas a família. Todos os anos<br />

iam uma semana depois do Natal e retornavam depois do Ano Novo.<br />

Angel e Alex cobriam o turno da manhã no restaurante e como Sal<br />

estava de férias do colégio essa semana, ele e Sofia cobriam o turno da<br />

tarde.<br />

Angel não estava com humor para celebrar a véspera do Ano<br />

Novo, especialmente sabendo que o aniversário de Sarah era a meia<br />

noite e que ele não poderia lhe dar um beijo de aniversário. Deslizou<br />

seus dedos pela corrente que ela lhe dera no seu aniversário, antes de<br />

voltar a guardá-la na gaveta de meias, fechando com um golpe.<br />

Alex enfiou o nariz em seu quarto.<br />

— O que há com você?<br />

Angel ficou olhando mas não lhe respondeu. Sentou em sua<br />

cama e começou a colocar as meias.<br />

351


— Tenho convidados hoje, então, vem aqui em baixo e me ajude<br />

a dar uma limpeza na casa.<br />

Angel deixou cair os ombros.<br />

— Quem vêm?<br />

— Nenhum dos seus idiotas e irritantes colegas de escola — disse<br />

rindo — à exceção de Eric e Romero. Mas todos os outros são adultos,<br />

atue como se fosse.<br />

Angel franziu o cenho.<br />

— A que horas?<br />

Alex se afastava, mas gritou.<br />

— Daqui uma hora.<br />

Angel olhou o relógio. Já eram quase nove. Só tinha feito<br />

exercício e tomado banho. Esperava ter uma noite tranquila jogando<br />

bilhar e se deitando cedo, não tinha vontade de uma maldita festa.<br />

No momento em que desceu, o balcão da cozinha se converteu<br />

em um mini bar. A música soava muito forte e Romero já estava<br />

instalado com uma cerveja na mão.<br />

Sal e Sofia chegaram quando Angel pegava uma cerveja do<br />

refrigerador.<br />

— E agora o que foi? — Perguntou Sal.<br />

Alex retornava do pátio com um cooler.<br />

352


— Hora da festa, irmão.<br />

Sal ficou olhando e Sofia sorriu. Sal voltou a olhar Angel. Ele<br />

levantou as mãos ao ar.<br />

— Nem me olhe. Isto é ideia do Alex.<br />

— Ahã — disse Alex. — Não se preocupe. Não há nenhum dos<br />

seus amigos torpes e juvenis, à exceção de Eric e Romero.<br />

Romero pegando a dica.<br />

— Vejam, aqui estou!<br />

Alex o ignorou enquanto tirava uma bolsa de gelo do congelador.<br />

— São só uns dos meus amigos mais refinados.<br />

Sal sacudiu a cabeça.<br />

— Boa sorte. Mas lembre-se que este lugar amanheça limpo,<br />

porque eu não vou levar nenhuma bronca por isso.<br />

Sofia saiu correndo da cozinha e subiu. Alex a parou.<br />

— Ei aonde vai, Sof?<br />

— Oh sim, ela estará perto de todos seus refinados companheiros<br />

da universidade. — Sal sorriu e deu uma olhada em todas as garrafas<br />

de bebida no balcão.<br />

Alex não gostou disso.<br />

— Bom, pois ninguém a convidou.<br />

353


Angel riu.<br />

— E o que vai fazer? Trancá-la em seu quarto?<br />

Alex levantou uma sobrancelha.<br />

— Não é uma má ideia.<br />

— Ah sim — disse Romero sorrindo. — Não são com os caras da<br />

universidade que precisaria se preocupar.<br />

Os três irmãos ficaram olhando.<br />

— E o que quer dizer com isso? — Perguntou Alex.<br />

Romero negou com a cabeça e encolheu de ombros.<br />

— Não sei, só saiu.<br />

Angel, que era o mais próximo de Romero, deu-lhe um<br />

empurrão.<br />

Terminaram de listar as coisas e as pessoas começaram a chegar.<br />

Angel foi com Romero à sala principal, com sua mente a milhas de<br />

distância, como era costume.<br />

Romero passou acotovelando-o para captar sua atenção. Depois<br />

de várias conversas Alex percebeu que seus refinados amigos da<br />

universidade já tinham tido muito. Foi para a cozinha para pegar algo<br />

para comer.<br />

Angel parou bruscamente quando entrou na cozinha e viu Sofia.<br />

Vestia de calça jeans e saltos que a faziam parecer mais alta, para não<br />

mencionar mais velha também, mas era da blusa que não podia afastar<br />

354


o olhar. Era a mesma blusa preta sem costas que Sarah pôs na primeira<br />

festa que falou com ele.<br />

Alex entrou atrás de Angel.<br />

— O que faz parado, Sofia?<br />

Sofia deu uma olhada na sua blusa.<br />

— O que? Sarah me deu faz tempo. O que tem de mau?<br />

— Parece... — Alex lutou para encontrar uma palavra.<br />

— Ardente? — Disse Sofia para incomodá-lo.<br />

A mandíbula de Alex endureceu.<br />

— Precisa ir se trocar.<br />

— Por que?<br />

Eric entrou do pátio e ficou imóvel ao ver Sofia.<br />

Alex percebeu como a olhou.<br />

— Vai trocar agora, Sofia, antes que alguém mais entre.<br />

Sofia saiu brava da cozinha e foi para cima. Angel se sentiu mal.<br />

Não lhe incomodava como estava, mas se sentiu aliviado ao saber que<br />

a blusa desapareceria. Só de vê-la havia lhe trazido lembranças de<br />

Sarah, quando a beijou e a segurou pela primeira vez. Era muito<br />

doloroso e por mais que sentisse saudades, alegrava-se de não voltar a<br />

vê-la.<br />

355


O tempo passou rapidamente e antes que imaginasse, já estavam<br />

fazendo a contagem regressiva. Angel estava fora com Sal, Alex e um<br />

par de garotas. Sofia tinha entrado com o Eric e Romero para ver a<br />

contagem regressiva na televisão grande.<br />

Quando já tinham terminado os abraços e as felicitações de Ano<br />

Novo, Alex trouxe mais cervejas para dentro. Angel o seguiu, com<br />

Sarah em sua mente, pensando no que ela estaria fazendo nesse<br />

momento. Agora já era maior de idade.<br />

Alex entrou na cozinha.<br />

— Que merda é essa?<br />

Angel não pôde ver nada, mas Alex estava pálido. Entrou na<br />

cozinha no momento em que Alex foi contra Eric.<br />

— Estava beijando minha irmãzinha?<br />

— Foi um beijo de Ano Novo — disse Sofia parando em frente<br />

ao Eric.<br />

— Vale-me Deus! Você não deve beijar a minha irmã dessa<br />

maneira. Que caralho te passa?<br />

— Como a beijou? — Angel tentava parar Alex. Que diabos tinha<br />

visto? Já havia gente aparecendo na cozinha e Sal entrou rapidamente<br />

do pátio.<br />

— Só foi pelo Ano Novo, Alex. Relaxe — disse Eric.<br />

Alex passou pela Sofia e pegou Eric pela camisa.<br />

356


— Sei o que vi, seu bastardo. Mova-se Sofia!<br />

Entre Angel, Sal e Sofia conseguiram o deter. Eric foi para a<br />

porta.<br />

— Que diabos tem, Alex? — Perguntou Angel. — Espere, Eric.<br />

— Não! Quero que vá — berrou Alex. — Se voltar a te ver perto<br />

de minha irmã, juro por Deus que te parto a cara!<br />

Sal interveio.<br />

— Chega, Alex.<br />

Antes disto, Alex não parecia bêbado, mas agora Angel pensava<br />

que estava. Eric foi depressa. Angel voltou para Sofia. Parecia que<br />

estava a ponto de chorar. Os convidados tinham saído da cozinha, lhes<br />

dando um pouco de privacidade, salvo pelo Romero que estava parado<br />

na porta.<br />

Angel não queria nem perguntar. Era muito estranho. Mas tinha<br />

que perguntar.<br />

— Como é que estava te beijando?<br />

— Seu amigo colocou a língua na sua garganta! — Gritou Alex.<br />

falar.<br />

Antes que Angel digerisse isso em sua mente, Sofia começou a<br />

— Talvez, a que tinha a língua em sua garganta era eu, não lhe<br />

ocorreu isso? — As lágrimas escorriam pelas suas bochechas e no<br />

357


momento, deixou-os atordoados. — Já não sou um bebê, Alex. E estou<br />

cansada de que continuem me tratando assim!<br />

— Só tem dezesseis anos, Sof — a voz do Alex soava muito mais<br />

tranquila e Angel se deu conta de que não estava bêbado.<br />

— Verei Eric se isso for o que quero. Não vai me impedir! —<br />

Sofia saiu correndo, dando um empurrão em Romero ao sair da<br />

cozinha.<br />

— Sobre meu cadáver — disse Alex, dizendo brandamente e<br />

depois mais forte. — Ouviu-me, Sof? Sobre meu cadáver!<br />

Alex virou e olhou para Angel.<br />

— Não quero esse imbecil perto dela nunca mais.<br />

***<br />

Sarah estava cansada e seus pés doíam. Parecia que a festa não ia<br />

terminar nunca. Valéria tentou puxá-la para o círculo de garotas com as<br />

que estava dançando, mas Sarah fez um gesto de que queria ir ao<br />

banheiro.<br />

As amigas de Valéria viviam em um condomínio particular.<br />

Tinham um centro de recreação e era onde estava sendo realizado a<br />

festa. Era do tamanho de uma pequena sala de banquetes com uma<br />

piscina no exterior.<br />

358


Sarah passou pelo banheiro e saiu. Fazia frio, mas se sentia bem.<br />

Sentou-se em uma das mesas que havia perto da piscina e procurou em<br />

sua pequena bolsa seu pó compacto. Seu telefone celular estava<br />

tocando. Perdeu uma mensagem de texto. Sydney a tinha ligado para<br />

lhe desejar feliz aniversário.<br />

Quando o abriu, viu que, além disso, tinha duas chamadas<br />

perdidas. Ambas eram de Sofia. Sarah sorriu. Depois de terminarem,<br />

Sofia tinha ligado algumas vezes. A primeira para lhe dizer quanto<br />

sentia e outra, antes do Natal, para lhe dizer quanto sentia saudades e<br />

que desejaria que estivesse na Califórnia. Em ambas as ocasiões, Sarah<br />

se comoveu.<br />

Não se lembrava de haver mencionado a Sofia que seu<br />

aniversário era no Ano Novo. Clicou sobre a mensagem e leu o texto.<br />

Odeio meus irmãos. Estou zangada e chorando.<br />

Me ligue. Preciso falar contigo.<br />

Sarah pensou nos homens das cavernas e não pôde evitar franzir<br />

o cenho. E agora o que tinham feito? Ligou para Sofia quem respondeu<br />

imediatamente. Estava histérica. Sarah apenas escutava. Do pouco que<br />

entendeu, Alex tinha quebrado sua vida.<br />

359


— Sofia, se acalme. Respira fundo. — Sarah fez seu melhor<br />

esforço para falar em um tom suave. Lembrou como sua mãe fazia<br />

quando ela era pequena e estava chorando. — Não posso entender o<br />

que me diz.<br />

Sofia respirava agitadamente, mas Sarah podia adivinhar que<br />

estava tentando se tranquilizar. Parecia uma menina pequena e Sarah<br />

desejou poder estar com ela e abraçá-la.<br />

— Alex disse ao Eric que se mantivesse afastado de mim.<br />

Sarah temia perguntar por que, mas mesmo assim, o fez. Escutou<br />

em silêncio enquanto Sofia lhe contava tudo, de repente, desmoronou e<br />

começou a chorar de novo. Uma vez que se acalmou, soava mais<br />

determinada e zangada que qualquer outra coisa.<br />

— Não é justo, Sarah. Eric não foi outra coisa além de um<br />

cavalheiro comigo. Foi tudo culpa minha e disse isso a eles.<br />

— Disse?<br />

— Sim. — Soou satisfeita. — Disse-lhes que era minha língua em<br />

sua garganta.<br />

Sarah deixou escapar uma risada ofegante.<br />

— Não! De verdade?<br />

Finalmente, Sofia não soava tão triste. Inclusive, Sarah acreditou<br />

tê-la ouvido rir.<br />

— É verdade. Eric sempre se contém. É tão cavalheiro comigo.<br />

Sofia suspirou. — Me deixa louca, então tomei a iniciativa.<br />

360


Sarah não podia acreditar que Sofia pudesse dizer coisa<br />

semelhante. De algum modo, ela desejaria poder ter estado lá, mas Por<br />

Deus, de todos os irmãos que pudessem havê-la surpreendido, por que<br />

tinha que ser Alex? Sabendo que se sentiria terrivelmente incômoda,<br />

sentiu certo alívio de não ter estado lá.<br />

— E o que Alex te disse quando falou isso?<br />

Sofia lhe disse que todos ficaram sem fala, inclusive lhe descreveu<br />

o olhar de surpresa de Angel. Por um momento pareceu que Sofia tinha<br />

escapado de seu estado de ânimo abatido. Mas quando chegou ao final<br />

do relato, começou a choramingar de novo.<br />

— Eric me mandou uma mensagem, mas só para ver se eu estava<br />

bem. Disse que não queria arriscar se meus irmãos revistassem o<br />

telefone. Disse que queria falar com Angel sobre isto. Disse que não<br />

pensava que fosse boa ideia e me fez prometer que ele falaria com<br />

Angel antes que eu fizesse.<br />

Sarah tentava se concentrar, mas só de ouvir seu nome tremia por<br />

dentro. Angel não era precisamente a pessoa mais razoável que ela<br />

conhecia. Mas nestas circunstâncias, não via como tentar falar com ele<br />

podia lhe prejudicar.<br />

— E o que vai dizer a ele? Que vocês estiveram escondendo isto<br />

todo este tempo? Ficará furioso. Acredite, eu sei de primeira mão.<br />

Sarah tinha começado a preocupar-se com como se sentiria Angel<br />

neste momento. Sabia que já se sentia traído por ela e agora isto? Eric<br />

era um de seus amigos mais próximos. Doeu a alma por ele.<br />

361


Sofia lhe disse que pensaria e antes de dizer algo, consultaria ela<br />

para saber sua opinião. Falaram por um momento mais e Sarah lutou<br />

contra a incrível tentação de saber se Angel e Dana estavam juntos na<br />

festa. Mas decidiu não torturar a si mesma. O fato de que nem sequer<br />

lhe mandou uma mensagem genérica de feliz aniversário dizia tudo.<br />

Ele já tinha terminado com ela para sempre.<br />

362


Capítulo Vinte e<br />

Cinco<br />

Ultimamente, Angel não dormia muito. Levantou cedo e se<br />

dirigiu ao quarto de Sofia, tratando de não despertar Alex. Precisava<br />

chegar ao fundo de todo este assunto com Eric e não queria Alex<br />

gritando com Sofia até o ponto de dizer algo absurdo como o que havia<br />

dito ontem à noite.<br />

Conhecia Eric fazia muito tempo e confiava nele completamente.<br />

Sabia que devia haver algo mais em tudo isto. Esta era uma conversa<br />

que temia ter. Nem sequer sabia por onde começar, mas tinha que<br />

conversar rápido antes que Alex despertasse.<br />

Bateu brandamente na porta entreaberta do quarto de Sofia antes<br />

de aparecer. Para sua surpresa, ela já tinha se levantado e estava em seu<br />

computador. Minimizou a tela em que estava quando Angel entrou.<br />

Para seu alívio, nem sequer teve que pensar o que dizer. Ela falou<br />

primeiro.<br />

— Está zangado comigo?<br />

Angel levantou um ombro.<br />

— Não sei.<br />

363


Ela se levantou e fechou a porta atrás de Angel. A expressão de<br />

sua cara lhe lembrou quando eram meninos. Sofia sempre tinha sido<br />

tratada com cuidado. Tinham lhes ensinado isso a vida toda. E<br />

aprenderam muito bem. Ninguém se metia com a doce Sofie. Assim<br />

era antes e assim era agora. Angel se sentou em sua cama e ela em sua<br />

escrivaninha.<br />

— Olhe, o que aconteceu ontem à noite foi minha culpa. Assumo<br />

toda a responsabilidade. — Falou em voz baixa e seus olhos pareciam<br />

suplicar. — Angel, Eric me deu um abraço de Ano Novo e eu o beijei.<br />

Angel ficou olhando.<br />

— Por que?<br />

Primeiro olhou Angel e logo virou para outro lado.<br />

— Gosto dele. Sempre gostei.<br />

Isto não era o que Angel queria escutar. Sacudiu a cabeça. Eric<br />

era como da família e Sofia era... bom, sua irmãzinha, maldita seja.<br />

Levantou-se sem saber o que dizer.<br />

— Não.<br />

— Não, o que? — Sofia parou frente a ele.<br />

— Não pode.<br />

— Por Deus, por que não? Vocês agem como se eu fosse um<br />

bebê. Faço dezessete este ano, a mesma idade de Sarah quando<br />

começou a sair contigo.<br />

364


A mandíbula de Angel se apertou.<br />

— Isso é diferente.<br />

— Em que sentido?<br />

— Só é, Sof.<br />

Angel tentou caminhar ao redor de Sofia para sair dali. Esta<br />

conversa tinha terminado. Alex tinha razão. Eric devia manter-se<br />

afastado. Mas Sofia não o deixou passar. Pôs sua mão em seu peito e o<br />

olhou diretamente aos olhos.<br />

— Você e Alex vão ter que enfrentá-lo, cedo ou tarde. Já não sou<br />

mais uma criança.<br />

Angel não estava acostumado que ela fosse tão intrépida e não<br />

gostou.<br />

— Papai vai gostar tampouco.<br />

— Eu me encarrego de papai, Angel. Só me prometa que não<br />

brigará com Eric. Não foi sua culpa.<br />

Angel assentiu com a cabeça e ela o deixou ir. As coisas não<br />

tinham saído como tinha planejado, mas ao menos estava aliviado por<br />

não ter que brigar com Eric. Alex era outra história. A imagem de Eric<br />

beijando a sua irmã ficaria em sua mente por algum tempo. Mas<br />

passaria. A menos que quisesse que Sofia lhe lembrasse a cada<br />

momento que ela tinha sido quem tinha iniciado o beijo. Angel<br />

encolheu os ombros, nada mais a pensar.<br />

365


Não queria que o tempo passasse e brigasse feio quando<br />

finalmente falasse com Eric. Não só a conversa com Sofia o tinha<br />

deixado inquieto. Precisava esclarecer algumas coisas com Eric.<br />

Planejou lhe chamar mais tarde esse mesmo dia, mas Eric ganhou. Seu<br />

telefone tocou justo quando estava entrando no restaurante.<br />

— Olá Eric, que foi?<br />

Por um momento, houve silêncio na outra linha e Angel sorriu.<br />

Sabia que sua alegre saudação deixaria Eric sem jeito.<br />

— Ouça... e como está tudo?<br />

— Quer dizer, com o Alex? — Angel riu. — Vai estar assim por<br />

um tempo. Mas Sofia me disse o que aconteceu. E está bem. Desculpa<br />

que Alex teve aquela reação, Eric.<br />

Eric clareou a garganta.<br />

— Não, está tudo bem. Sei que poderia ter sido muito pior.<br />

Angel riu.<br />

— Aha, saiu daqui inteiro.<br />

— Claro que não, merda! Tive que trocar as calças quando<br />

cheguei em casa.<br />

— Há, Ha! Romero me disse que faria isso.<br />

— Claro, tenho certeza que esse imbecil teve muito que dizer.<br />

De fato foi uma surpresa que Romero não tivesse muito que dizer<br />

na noite passada. Depois do incidente, a festa diminuiu. Alex estava<br />

366


muito alterado para relaxar, então começaram a limpar e todo mundo<br />

se foi.<br />

Angel baixou a voz quando passou perto de Alex, que estava<br />

sentado em um dos reservados, revisando a correspondência do<br />

restaurante da semana passada. Ele se encarregava disso enquanto seus<br />

pais estavam fora, portanto, agora estava fazendo isso.<br />

— Olhe, acredito que não é nada estranho que minha irmã se<br />

apaixone platonicamente pelo amigo de seu irmão mais velho, correto?<br />

— Fez uma pausa, mas Eric não disse nenhuma palavra. Angel não<br />

sabia como soltar o resto sem soar embaraçoso. Mas embaraçoso ou<br />

não, tinha que entrar. — Não pode deixar que uma coisa assim volte a<br />

acontecer, correto? — Isso soava pouco convincente, mas ia ao ponto e<br />

se sentiu satisfeito.<br />

— Angel, já tem quase dezessete.<br />

Angel parou de fato, deu uma olhada em seu telefone.<br />

— Está querendo ver minha cara?<br />

— Ouvi o que está dizendo — adicionou Eric rapidamente. — E<br />

sim, prometo isso, Angel. Mas vamos, quanto tempo mais acredita que<br />

possa impedir que ela saia com alguém?<br />

Angel havia reatado a marcha, mas podia sentir a agitação dentro<br />

dele. Sabia que sua irmã quase tinha dezessete, mas não podia medir a<br />

maturidade com um número. Sofia era diferente.<br />

— Não se preocupe com isso. Só promete que não voltará a se<br />

envolver em outra de suas tolices, promete?<br />

367


Escutou Eric exalar fortemente.<br />

— Sim, sim, tem minha palavra.<br />

— Obrigado. — Isso era pedir muito? Mas Angel não podia<br />

evitar pensar que esta era outra conversa que não se desenvolveu como<br />

ele queria. Este ano realmente estava uma porcaria e acabava de<br />

começar.<br />

***<br />

Quando Sarah retornou do Arizona fez Valéria lhe prometer que<br />

não diria a Alex que tinha voltado. Assim, quando ele a chamou na<br />

véspera do Ano Novo para convidá-la a sua festa, Sarah se sentiu mal<br />

que Valéria recusasse seu convite.<br />

Sarah lhe disse que ficaria em casa. Não estava com humor para<br />

festas, mas Valéria estava chateada que Alex a houvesse convidado no<br />

último momento. Disse que Alex lhe assegurou que tinha planejado a<br />

festa no último momento, mas lhe respondeu que não ia cancelar os<br />

planos que já tinha feito.<br />

— Ninguém planeja uma festa de Ano Novo no último<br />

momento. — Valéria soltava faíscas. — Deve pensar que sou bastante<br />

tola.<br />

Sarah sabia que sua estadia na Califórnia seria por pouco tempo.<br />

Sua mãe tinha ligado no dia de seu aniversário e lhe disse que tinha<br />

falado com seu advogado e que as coisas estavam ainda melhor.<br />

368


As coisas entre ela e Angel estavam completamente sem<br />

esperança. Sydney tinha ligado no dia seguinte de seu aniversário e lhe<br />

confessou que tinha ido ver Angel, antes do Natal. Não havia dito<br />

antes, porque não queria que os festejos do Natal e Ano Novo fossem<br />

ainda mais duros para ela, mais do que já eram. Mas lhe contou a<br />

negativa de Angel de nem sequer escutar seu lado da versão.<br />

A princípio isso a machucou, mas depois, a raiva se apoderou<br />

dela. Estava certa que Dana tinha algo, se não, tudo a haver com o<br />

marco inquebrável na cabeça de Angel.<br />

Veria Sofia assim que chegasse depois da aula de educação física,<br />

mas enquanto isso, só precisava tomar três aulas. Assegurou-se de que<br />

pudesse tomar todas elas por volta do final do dia. Seu plano era<br />

simples, mover-se rápido de uma aula para outra e manter a cabeça<br />

baixa. A última coisa que queria era encontrar-se com Angel e Dana.<br />

Seria somente questão de tempo para que Sarah o visse. Ela<br />

sabia, mas queria adiar tanto quanto fosse possível.<br />

No momento que ela entrou em sua aula de física, deu-se conta<br />

que todo o planejado tinha sido em vão. Angel estava sentado atrás e<br />

seus olhares se encontraram. Por um momento ela ficou imóvel.<br />

Reuniu suas ideias o suficiente para saber que se sentasse na frente, não<br />

teria que olhá-lo. Não era de estranhar que a maioria dos assentos<br />

dianteiros estivessem vazios, assim se sentou no primeiro que viu.<br />

Apenas tinha se sentado quando Kim, uma garota que conhecia<br />

da equipe de corrida, se inclinou para lhe falar.<br />

— Meu Deus, pensei que tinha retornado ao Arizona.<br />

369


Sarah voltou para ver uma cara com um grande sorriso. Aí se deu<br />

conta de que não se fixou em quem estava em sua classe. O único que<br />

tinha visto foi Angel. Outros eram como imagens imprecisas ante seus<br />

olhos. Sua respiração quase se normalizou e se forçou a sorrir.<br />

— Mudança de planos. Ficarei por aqui um tempo mais.<br />

A aula começou e tentou se concentrar no que o professor lia.<br />

Dificilmente podia escutar o que dizia. Tudo o que podia pensar era na<br />

expressão de Angel ao vê-la. Queria apagar de sua mente. Ele não<br />

estava zangado, mas tampouco parecia feliz.<br />

Quando a aula terminou, por mais que dissesse a si mesma que<br />

não devia voltar, não pôde resistir. Virou para onde ele estava sentado,<br />

mas já não havia ninguém. Aparentemente, Angel não tinha planejado<br />

falar com ela.<br />

Sarah mordeu o lábio. Embora sentiu que lhe vinha, tratou de<br />

sacudir a angústia. Já tinha chorado o suficiente por Angel Moreno.<br />

O resto do dia foi um pouco menos doloroso. Quando apareceu<br />

na aula prática, o treinador Rudy estava mais que contente de escutar<br />

queria fazer parte da equipe. Disse que era uma mera formalidade. De<br />

fato, já era parte da equipe.<br />

Ninguém estava mais contente de ver Sarah que Sofia. Sarah<br />

quase se afogou quando Sofia a abraçou tão forte, que pensou que não<br />

ia deixar ir. Sarah lhe explicou brevemente que ficaria um pouco mais<br />

de tempo, mas lhe disse que suas intenções eram retornar ao Arizona<br />

assim que as circunstâncias mudassem.<br />

370


Os dois dias seguintes foram pior ainda. Angel não apareceu na<br />

aula de física e ao final do terceiro dia, seu nome não foi mencionado<br />

ao passar a lista. Obviamente, tinha mudado seu horário. Era uma<br />

bofetada na cara, mas ela aguentou. Ao menos não teria que lutar,<br />

vendo-o na aula todos os dias.<br />

Sydney estava cada vez mais incomodado com a prolongada<br />

inflexibilidade de Angel. Esse fim de semana, Sarah comentou com<br />

Sydney sobre a mudança de horário de Angel e para surpresa dela<br />

mesma, nesse momento, desmoronou e começou a chorar. Sydney não<br />

podia acreditar.<br />

— Mande-o a merda, Lynni. É um imbecil.<br />

Seria possível que ela tenha estado tão equivocada a respeito de<br />

Angel? Surpreendia-lhe agora, que em algum lugar de sua mente<br />

retorcida, realmente pensou que Syd e Angel poderiam ser amigos<br />

algum dia.<br />

— Só estou esperando que minha mãe saia, para poder voltar<br />

para casa — disse Sarah. — É a única coisa que quero.<br />

— Mas não pare sua vida, Lynn. Pode levar um tempo. Desfruta.<br />

Saia. Sério, se divirta.<br />

Sarah não podia nem sequer imaginar estar se divertindo. Mal<br />

podia se concentrar em viver o dia sem ter nenhum tipo de crise<br />

emocional.<br />

***<br />

371


As coisas deram um giro na segunda-feira durante a aula prática.<br />

Como se todo seu cilindro emocional não fosse suficiente, agora lutava<br />

com a dor física. Durante uma das rotinas de aquecimento, Sarah pisou<br />

em um buraco e caiu fortemente. Sentiu ranger seu tornozelo e<br />

imediatamente soube que estava muito machucada. Sofia chegou<br />

imediatamente a seu lado, mas Sarah já tinha ficado de pé.<br />

O treinador Rudy chegou tão logo lhe avisaram.<br />

— Não tente caminhar apoiando nesse pé. Machucará mais. Terá<br />

que pôr gelo imediatamente.<br />

Antes que Sarah soubesse o que estava passando, já estava em<br />

seus braços e a levava carregando para o ginásio. Para sustentar-se<br />

melhor, Sarah passou seus braços no pescoço dele. Alguns dos meninos<br />

começaram a rir conforme eles passavam. Sentiu-se incômoda até que<br />

moveu o pé do lado equivocado e a dor insuportável no tornozelo a fez<br />

esquecer-se de tudo. Fechou os olhos, apertando-os fortemente e fez<br />

uma careta, desejando que a dor desaparecesse.<br />

Quando o treinador ficou satisfeito de ter esfriado o pé com gelo<br />

tempo suficiente, levou-a para seu carro e depois a sua casa. Sarah se<br />

surpreendeu de que cancelasse a aula tão cedo por culpa dela, mas a<br />

verdade é que se alegrava de poder ir para casa.<br />

O treinador Rudy realmente parecia preocupado pelo tornozelo<br />

de Sarah. Deu-lhe alguns papéis que tinha em seu escritório sobre o<br />

cuidado adequado de uma entorse de tornozelo e no caminho da casa,<br />

explicou o que podia e que não podia fazer. Logo, o tema mudou ao<br />

que ela temia.<br />

372


— Quando saberemos com certeza quanto tempo vai estar por<br />

aqui? Quero dizer, poderemos contar contigo para toda a temporada?<br />

Sarah sempre tinha sido vaga quanto a sua situação, mas ele<br />

nunca tinha insistido. Tinha a sensação de que o treinador sentia que se<br />

tratava de um tema um pouco delicado. Mesmo assim, ela se sentia mal<br />

por não lhe poder dar uma resposta mais concreta, já que ele estava<br />

muito entusiasmado que ela estivesse na equipe. Sarah não queria que<br />

ele pensasse que não levava a sério sua participação na equipe.<br />

— Minha mamãe está na prisão. — Sarah voltou seu olhar para a<br />

janela com medo de ver sua expressão. Fora Sydney e sua família,<br />

Angel era a única pessoa a que ela havia dito.<br />

— Oh, sim — respondeu. — Então, está esperando ver quando<br />

vai sair?<br />

Sua atitude a surpreendeu. Sarah pensou que, talvez, se sentiria<br />

incômodo e mudaria o tema ou algo assim, mas foi como se lhe<br />

houvesse dito que sua mãe tinha ido às compras. Sarah se voltou para<br />

olhá-lo.<br />

— Ahã, não saberemos até dentro de umas semanas, assim,<br />

realmente não sei. — Voltou a ver suas mãos. — Mas eu quero estar na<br />

equipe.<br />

Ela realmente desejava estar na equipe. Desde que sua mãe a fez<br />

prometer que ficaria na Califórnia, era uma das coisas que ela focou<br />

para permanecer com uma atitude positiva. Correr era sua paixão e<br />

tinha planejado usá-la como forma de terapia.<br />

373


— Oh, como eu sei que quer. Posso ver quando corre. — Parou<br />

na entrada e desligou o carro. — Sempre há uma habilidade para algo.<br />

Muitas pessoas pensam que a pista é somente correr, mas não é só isso.<br />

Trata-se de saber quando é o momento de apertar e quando terá que<br />

esperar. Você tem isso Sarah. Vi desde a primeira vez que vi sua<br />

substituição.<br />

Sorriu com verdadeiro orgulho, como se fosse seu irmão mais<br />

velho. A fazia se sentir bem. Seu antigo treinador no Flagstaff havia<br />

dito o mesmo. Lhe sorriu.<br />

— Obrigada.<br />

— Ouça. — Ele esperou até que Sarah voltasse a olhá-lo. Sua<br />

expressão tinha mudado. Novamente, tinha cara de treinador<br />

preocupado. — Eu tenho um irmão que entrou e saiu da prisão, Sarah.<br />

Não há nada por que se envergonhar. Levou tempo para entender que<br />

o que ele fez, não reflete na pessoa que sou.<br />

Sarah pensou nisso. Ela nunca sentiu vergonha de sua mãe, mas<br />

só de pensar que alguém falasse mal dela a enfurecia. Quanto menos<br />

gente soubesse, menos arma teriam contra ela.<br />

Sarah assentiu com a cabeça.<br />

— Sei. Mas há pessoas que nunca poderão entender. Eu nem<br />

sequer entendo. — Sarah se voltou e ficou o mais cômoda que pôde<br />

sem mover o tornozelo. — Tudo o que sei é que, por anos, esteve<br />

pegando dinheiro de seu chefe. Ofereceu devolvê-lo. Eu nem sequer<br />

tinha ideia de que podia ir a prisão por isso. Pensei que, por ser mãe<br />

374


solteira, poderiam ter aceitado que pagasse e lhe dar liberdade<br />

condicional ou algo assim.<br />

O treinador Rudy lhe escutou em silêncio, sem interrompê-la.<br />

Também virou ficando de costas para porta, ficando também um pouco<br />

mais cômodo.<br />

Sarah lhe contou como tinha planejado retornar ao Arizona e<br />

terminar a preparatória em sua antiga escola. Logo, contou sobre a<br />

visita a sua mãe e como, depois de tudo, foi que retornou à Jolla.<br />

O treinador nunca lhe deu a impressão de ter pena dela ou de<br />

estar julgando. Mas escutou cada uma de suas palavras. Esperou que<br />

tivesse terminado, respirou profundamente e sorriu novamente.<br />

— Não pensei que pudesse sentir mais respeito por ti do que já<br />

sentia. É muito madura e forte para a idade que tem. Muitas garotas de<br />

sua idade teriam achado que isto fosse o fim do mundo. Mas o tomaste<br />

com muita graça. Nunca teria imaginado que estava passando tudo<br />

isto.<br />

Sarah esboçou um leve sorriso.<br />

— Sabe? Esta é a primeira vez que falei sobre minha mãe desde<br />

que está na prisão e não chorei. Sinto-me bem.<br />

— É porque já quase terminou. Está quase acabando, Sarah. E<br />

tem feito um trabalho estupendo. Só uma coisa, a próxima vez que vir<br />

sua mãe, diga a alguém. Tenho certeza que não acredita que é grande<br />

coisa, mas se algo te acontecesse, poderiam chegar a passar quase vinte<br />

e quatro horas antes que alguém soubesse.<br />

375


Sarah tomou nota mentalmente. Sentia-se realmente bem logo<br />

depois de ter falado com o treinador. Encharcou seu tornozelo em água<br />

morna enquanto falava com Sydney essa noite. Para sua surpresa, ele<br />

não estava comovido como ela estava, sobre a conversa com seu<br />

treinador.<br />

— Não é esse que Angel chama de pervertido?<br />

Só ouvir seu nome era suficiente para deixá-la deprimida e<br />

franziu o cenho.<br />

— Sim, mas também diz que você é meu namorado. Qual é o<br />

ponto?<br />

— Só estou dizendo que é um pouco estranho que ele te levasse<br />

para casa, ou não?<br />

— E o que queria que fizesse? Eu não podia caminhar. — Sarah<br />

tentou mover um pouco o pé, em seguida, se arrependeu.<br />

— Ouça, 'olá'... podia ter ligado para alguém.<br />

— Por que? Ele podia me trazer e foi muito mais rápido. — Sarah<br />

não podia acreditar que Sydney estivesse falando assim.<br />

— Porque talvez tinha uma equipe cheia de meninos esperando<br />

para ter sua aula.<br />

Sarah não respondeu a isso. Estava ficando um pouco incômoda.<br />

— Olhe Lynni, eu não sei, mas a maioria das vezes, quando há<br />

rumores assim sobre os professores ou treinadores, há algo de verdade<br />

nisso. Talvez alguém adicione alguma coisa para fazer a intriga maior,<br />

376


mas se olhar a fundo, os rumores começaram por causa de algo<br />

verdadeiro.<br />

Não, de jeito nenhum. O treinador Rudy nunca tinha sido outra<br />

coisa mais que cortês e encorajador com ela. No que lhe consentia, as<br />

pessoas que começam esses rumores não são mais que uns idiotas. Syd<br />

lhe fez prometer que tomaria cuidado, mas ela sabia que não havia<br />

nada com que se preocupar. O treinador Rudy não era nenhum<br />

pervertido.<br />

377


Capítulo Vinte e Seis<br />

Ver Sarah foi pior do que Angel havia imaginado. Foi<br />

completamente inesperado e na verdade, não sentia-se preparado para<br />

enfrentar isso. Ficou sentado na sala de aula esse primeiro dia por<br />

quase vinte minutos antes de sair pela porta de trás.<br />

Esteve quase a ponto de voltar para casa, mas pensou melhor e<br />

passou no escritório do conselheiro e trocou todo seu horário. Não lhe<br />

importou em que aulas ficaria, contanto que não tivesse que vê-la<br />

diariamente. Isso o mataria.<br />

Até agora, ele fez todo o possível para evitá-la. Sofia lhe disse na<br />

primeira noite, que tudo o que Sarah tinha comentado é que tivera uma<br />

mudança em seus planos, mas que isso era temporário. Que ainda iria<br />

ao Arizona. Mas ainda não sabia data. Sofia não gostava que Angel<br />

não tivesse a intenção de reconciliar-se com Sarah e muito menos de<br />

voltar a sair com ela.<br />

Toda a semana tinha sido um pesadelo. No mais, tratava de não<br />

pensar em Sarah, mesmo não faltando os estúpidos intrometidos que<br />

lhe perguntavam a respeito dela. Parecia que toda a maldita escola<br />

estava falando disso.<br />

Para piorar, Dana estava atrás dele de novo. Convenientemente<br />

confundiu sua breve saída para o café como um convite para retornar a<br />

sua vida. Havia tornado a abraçá-lo cada vez que o via. E ele sabia que<br />

378


Dana estava por trás de todos os rumores que se espalharam<br />

rapidamente de que Sarah o tinha enganado.<br />

O fim de semana foi tranquilo e finalmente houve um par de dias<br />

sem que ninguém lhe perguntasse a respeito de Sarah. A segunda-feira<br />

passou muito rápida, mas Angel se perguntou se já tinha superado a<br />

sensação de tensão que teve todo o dia, pela preocupação de vê-la<br />

novamente.<br />

Essa noite fez exercícios com Alex no pátio de trás. Justamente<br />

quando acabavam de terminar, Sofia entrou com uma garrafa de água.<br />

Angel se deitou nos bancos para descansar.<br />

— Sarah se machucou hoje durante a corrida. — Sofia se sentou<br />

em uma das cadeiras do pátio.<br />

Angel se sentou.<br />

— Ainda está aqui? — perguntou Alex.<br />

— Ainda. — Sofia virou-se para Angel. — Ninguém lhe disse que<br />

Sarah ainda não foi?<br />

Angel encolheu seus ombros. Em sua mente podia ver Sarah com<br />

o pé machucado.<br />

— Não me diga! — disse Alex sorrindo. — Por isso estava tão<br />

tenso durante todo o fim de semana.<br />

Angel o ignorou. Sofia não tinha afastado a vista dele. Contudo,<br />

não podia permitir-se perguntar nada sobre Sarah. Mas acabou que não<br />

aguentou.<br />

379


— Torceu o tornozelo durante uma das corridas. Machucou-se<br />

bastante. O treinador Rudy teve que carregá-la até o carro.<br />

Alex limpou o suor de uma de suas sobrancelhas e riu.<br />

— Aquele pervertido?<br />

Angel tinha a sensação de que o fato de Sofia lhes contar não fora<br />

sem razão. E se a razão era incomodá-lo, estava funcionando.<br />

— Ao seu carro? — Angel tratou de não parecer tão aborrecido<br />

como na realidade se sentia.<br />

Sofia começou a beber de sua água e olhou para Angel. Quando<br />

terminou, calmamente tampou a garrafa antes de responder.<br />

— Bem, sim, ela não iria caminhar até sua casa.<br />

— Ele a levou para sua casa? — O entusiasmo perplexo de Alex<br />

não estava ajudando Angel. Tentava arduamente manter-se calmo.<br />

Tinha a sensação de perceber o que Sofia pretendia. Mas ainda que<br />

fosse certo, não importava que ela se propunha. Ele continuava<br />

indignado.<br />

— Sim, por isso cheguei em casa cedo. Suspendeu o resto da aula<br />

de ginástica.<br />

Alex sentou-se, gargalhando.<br />

— Ai Deus! Isto só está ficando melhor. Quer dizer que agora sai<br />

com o treinador?<br />

— Cale-se, Alex. — Finalmente Angel reagiu.<br />

380


— Sim. — Interveio Sofia. — Assim é que começam os rumores.<br />

Foi suficientemente amável para levá-la para sua casa e de repente, já<br />

andam saindo?<br />

— Quem sabe. Este tipo está sempre preparado. Conheço<br />

algumas garotas que na verdade, sim, saíram com ele.<br />

— Podem prendê-lo, idiota. Pode perder o emprego. — De<br />

repente, Angel estava defendendo as intenções do pervertido?<br />

— Não — disse Alex rindo. — Ele sabe o que faz. Sarah já fez<br />

dezoito, não? Já é maior de idade.<br />

Angel começou a se perguntar se Alex e Sofia não estariam<br />

juntos nisto. Os dois pareciam muito sintonizados durante a conversa.<br />

De repente, levantou-se.<br />

— Sarah não faria isso — disse Sofia e adicionou — além disso,<br />

ainda não superou Angel.<br />

Angel parou e olhou para Sofia.<br />

— Ela disse isso?<br />

A expressão de Sofia murchou.<br />

— Não, mas...<br />

— Mas nada. — Angel caminhou na frente dela. — Ela vai para<br />

o Arizona, porque é onde ela quer estar, Sof. O que eu não sei é por<br />

que diabos ela está demorando tanto.<br />

— Sabia que seu amigo Sydney tem uma namorada?<br />

381


Angel parou, mas não virou para ela.<br />

— Isso é verdade? — Com todos os malditos rumores que se<br />

espalharam, já não sabia no que acreditar.<br />

— Sim e é sério. Sarah passou o Natal com eles — Sofia foi até<br />

ele para encará-lo. A expressão de Sofia era de esperança. — Isso muda<br />

as coisas?<br />

Angel pensou por um momento e a imagem que finalmente tinha<br />

deixado de lhe atormentar lhe apareceu de novo. O vestido, esse<br />

maldito vestido que usou para Sydney na noite em que mentiu sobre<br />

onde estava.<br />

E a forma como se arrumou. Nunca a tinha visto assim<br />

anteriormente. Angel apertou os dentes.<br />

— Não.<br />

Tomou um longo banho e pensou em tudo o que Sofia lhe<br />

dissera. Inclusive, se passasse por cima da questão do vestido, nunca<br />

estaria satisfeito com Sarah distribuindo tanto afeto para outro cara.<br />

Nunca.<br />

***<br />

Sentado em seu carro, Angel esperava que Sofia terminasse a<br />

aula de ginástica. Chegara cedo e de onde estava estacionado, tinha<br />

uma vista perfeita dos degraus. Mascava chicletes lentamente como<br />

uma técnica para acalmar-se quando viu Sarah com muletas subindo os<br />

382


degraus e sentando-se. Tinham se passado quatro dias desde que se<br />

machucou e pelo que via, não tinha melhorado.<br />

Esta era a primeira vez que a tinha visto em toda a semana. Ele<br />

pegava Sofia todos os dias, exceto na segunda-feira quando saía cedo,<br />

mas Sarah não tinha estado ali até agora. Ainda a distância, não podia<br />

deixar de olhá-la. Estava com seu cabelo solto. O vento o tinha revolto<br />

e ela estava tirando as mechas do rosto. Sentou-se ali, olhando a aula<br />

de sua equipe sem ela.<br />

Angel pensava em quão diferente seriam as coisas se Sydney não<br />

existisse. Sem dúvida, estaria com ela sentada, tirando as mechas do<br />

rosto e beijando-a em cada momento.<br />

Algo se acendeu quando se deu conta de que o treinador<br />

pervertido saía do ginásio. Seu olhar foi imediatamente para Sarah.<br />

Escreveu algo na sua prancheta, deu uma olhada na equipe e voltou a<br />

olhar para Sarah. Angel respirou fundo quando o treinador Rudy<br />

começou a caminhar em direção a ela.<br />

O treinador sentou-se ao lado de Sarah e imediatamente suas<br />

mãos estavam sobre seu tornozelo.<br />

— Agora está ansioso doutor? — Angel disse para si mesmo.<br />

Falaram e inclusive riram. O treinador parou algumas vezes para<br />

dar instruções ao resto da equipe que estava praticando no campo, mas<br />

nunca saiu do lado de Sarah.<br />

Angel começou a socar brandamente a parte inferior do volante<br />

uma e outra vez, tratando de não perder a paciência. Mas o maldito<br />

383


treinador não deixava de falar com Sarah desde que foi sentar a seu<br />

lado.<br />

Sarah sacudiu a cabeça para tirar o cabelo da cara e logo o<br />

treinador pegou uma mecha de cabelo e colocou atrás de sua orelha.<br />

Angel cuspiu o chiclete pela janela e desceu do carro.<br />

Respirou fundo. O ar estava frio e ajudou a esfriar um pouco seu<br />

ânimo, muito pouco. Encostou-se em seu carro e fixou sua vista no<br />

treinador todo o tempo.<br />

Não o faça. Apenas fique aqui e espere pela Sofia. Ela já não é<br />

problema seu.<br />

Angel olhou seu relógio. Não podia deixar de notar o flagrante<br />

desprezo do treinador pela equipe. O resto da semana, quando ia<br />

buscar Sofia, ele estava lá embaixo com eles treinando-os duramente.<br />

Mas agora, estava tão ocupado com Sarah, que apenas olhava para a<br />

equipe e a aula já estava por terminar.<br />

O treinador disse algo que fez que Sarah rir muito alto. Angel<br />

olhou ao redor para ver se alguém mais tinha notado. Não sabiam que<br />

as pessoas começariam a falar? Ninguém pareceu notá-lo, mas quando<br />

o treinador voltou a pôr sua mão no tornozelo de Sarah, Angel<br />

começou a caminhar.<br />

Não tinha ideia do que ia dizer ou fazer e inclusive, a voz em sua<br />

mente não pôde detê-lo. Angel não tinha feito segredo de sua relação<br />

com Sarah o semestre passado e o treinador os viu juntos muitas vezes.<br />

Talvez, ver Angel fizesse com que esse sujeito se retirasse.<br />

384


Angel pensou a caminho dos degraus quando o treinador chamou<br />

a todos. Esse momento foi quando seu olhar se encontrou com o de<br />

Sarah. O sorriso em seu rosto se apagou quando o olhou e se virou para<br />

o outro lado.<br />

Angel começou a caminhar mais lentamente nos degraus, já que<br />

o treinador estava indicando em que áreas tinham que trabalhar. Devia<br />

estar de brincadeira. Passou toda a aula praticando com Sarah e agora<br />

queria dar-lhes um sermão?<br />

Angel chegou ao fim dos degraus no momento em que o<br />

treinador terminou. Todo mundo se dispersou e Sofia aproximou-se<br />

para encontrá-lo. Sarah estava lhe dando as costas enquanto agarrava<br />

suas muletas.<br />

O treinador a sustentou pelo braço quando Sarah perdeu o<br />

equilíbrio. Angel se concentrava em manter a calma. Sarah riu quando<br />

o treinador titubeou por ter perdido o equilíbrio e por pouco, voltou a<br />

perdê-lo.<br />

— Vamos Sarah, está me matando — disse o treinador<br />

brincando.<br />

— Agora sim, consegui. — Sarah ria conforme ficava em pé.<br />

Continuava dando as costas a Angel. Não tinha se dado conta<br />

que estava tão perto e o treinador não o tinha visto entre tanta gente.<br />

— Quer que lhe de carona até sua casa? — perguntou o treinador.<br />

— Eu posso te levar.<br />

— Não é necessário, treinador. Ela tem quem a leve.<br />

385


Ambos, Sarah e o treinador, viraram-se para vê-lo. Angel não<br />

sentia que estava dirigindo-se a um treinador de sua escola. Este tipo<br />

era hábil e Sarah já era maior de idade. O treinador fitou-o como a um<br />

rival e logo olhou novamente para Sarah.<br />

Sarah olhou para Angel.<br />

— Verdade? Engraçado eu não sabia.<br />

Sua atitude o surpreendeu, mas não se retratou.<br />

— Sim, eu levo você para casa.<br />

Sarah desceu dos degraus. As muletas faziam cada passo mais<br />

ruidoso que o normal. O treinador estava atrás dela, cuidando de seus<br />

passos.<br />

— Prefiro caminhar. — Seus olhos estavam acesos.<br />

Mas Angel notou uma ligeira quebra nesse ardor quando seus<br />

olhares se encontraram e aproveitou a vantagem.<br />

— Por que?<br />

Sarah olhou para outro lado rapidamente e logo voltou a olhá-lo<br />

novamente. O coração de Angel se acelerou. Ela estava tão perto dele<br />

que teve que lutar consigo mesmo para não tomar seu rosto em suas<br />

mãos e beijá-la como tinha feito antes tantas vezes.<br />

— Nem sequer falou comigo desde que retornei. — Parou antes<br />

que suas emoções a traíssem. Seu olhar rígido vacilou. E quando Angel<br />

viu seus lindos olhos chorosos, soube que tinha cometido um grande<br />

engano. — Nem sequer quer saber por que estou aqui?<br />

386


Angel entrou em pânico ao ver que as lágrimas escorriam pelo<br />

rosto. Isto era a última coisa que podia imaginar que aconteceria. Não<br />

pôde pensar em nada mais que em sacudir a cabeça.<br />

— Sinto muito. — Foi a única coisa que pôde dizer.<br />

Sarah ficou vendo sem poder acreditar e se apoiou em sua muleta<br />

para limpar as lágrimas e em um instante, passou de sensível a<br />

resolvida.<br />

— Bom, eu também sinto muito.<br />

Virou-se para Sofia.<br />

— Nos vemos na segunda-feira.<br />

O treinador Rudy se afastou um pouco, mas ainda estava<br />

próximo.<br />

— A oferta ainda está de pé?<br />

— É obvio — respondeu o treinador sorrindo. — Fica no<br />

caminho da minha casa.<br />

Angel apertou o maxilar, mas não foi atrás dela. O treinador<br />

virou-se casualmente e deu a Angel uma última olhada. Havia algo em<br />

sua forma de sorrir quando alcançou Sarah e pôs sua mão em seu<br />

ombro conforme caminhava. Angel estava certo desta vez. Rudy o<br />

estava desafiando.<br />

***<br />

387


Sarah pensava que não havia nenhuma parte de seu coração que<br />

faltasse quebrar. Estava tão magoada consigo mesma por ter chorado.<br />

Por que Angel ainda tinha tanto poder sobre ela? Foi patética a forma<br />

que todo seu corpo entrou em um frenesi assim que o viu.<br />

Estar tão perto dele teve um efeito deprimente nela. Não pôde<br />

aguentar o que estava sentindo, mas o óbvio desprezo de Angel por ela<br />

era agora inegável. Nem sequer lhe importava, porque ela ainda<br />

continuava aqui.<br />

Tratou desesperadamente de ir para casa. Falar com o treinador<br />

Rudy de sua mãe era uma coisa, mas falar com ele a respeito de Angel<br />

seria algo muito diferente. Sydney seria o primeiro a criticar isso.<br />

Sarah permaneceu em silêncio a maior parte do caminho e o<br />

treinador finalmente lhe perguntou.<br />

— Está bem?<br />

Sarah assentiu com a cabeça, mas não disse nada.<br />

— Não tem que me contar nada — disse. — Só espero que saiba<br />

que apesar de sentir neste momento que nunca conseguirá,<br />

eventualmente o superará. Prometo-lhe isso.<br />

Sempre sabia o que dizer exatamente. Sarah pensava que isto era<br />

parte de ser treinador. No campo, quando ela se questionava, ele<br />

sempre sabia quando lhe dizer algo que a fazia sentir-se melhor. Mas<br />

inclusive agora, fora do campo, suas palavras eram reconfortantes.<br />

— Verei novamente a minha mãe amanhã.<br />

388


Chegaram em frente a garagem e o treinador desligou o carro.<br />

— Verdade? Quando?<br />

— No domingo, mas vou amanhã.<br />

— Já disse a alguém? — perguntou-lhe sorrindo.<br />

— Bom, estou dizendo agora.<br />

— Então, ninguém mais sabe?<br />

Ele se encostou contra a porta por um momento e parecia muito<br />

mais jovem do que usualmente aparentava. A forma que brilhava<br />

recordou-lhe Angel, quando estavam acostumados a estacionar em seu<br />

lugar e namorar. As palavras do Sydney lhe vieram à mente. Os<br />

rumores começam com coisas válidas.<br />

— Tem algo errado?<br />

Sarah negou com a cabeça.<br />

— Não, sinto muito. Minha mente estava em outro lugar. O que<br />

me dizia?<br />

Sentiu-se um pouco tola. Ele parecer mais jovem não queria dizer<br />

nada.<br />

— Perguntava se eu sou a única pessoa que sabe que você vai?<br />

Sarah riu.<br />

— Não, todo mundo sabe, inclusive minha mãe sabe.<br />

389


— Vai novamente de ônibus?<br />

— Sim, meu amigo me pegará ao chegar.<br />

Franziu o cenho.<br />

— É um longo caminho para que vá sozinha. Sua tia ou sua<br />

prima não podem acompanhá-la?<br />

Havia algo no treinador Rudy. Talvez fosse, porque nunca tivera<br />

uma figura paterna ou irmãos mais velhos, mas suas palavras amáveis e<br />

sua preocupação a enterneceram. Gostava.<br />

— Valéria enjoa em viagens longas, especialmente de ônibus. E<br />

minha tia tem que trabalhar. — Sarah sorria. — Mas, estarei bem. A<br />

outra vez dormi quase todo o caminho.<br />

— Ofereceria levar você, se não tivesse que trabalhar. É um<br />

passeio magnífico. E — enfatizou —nunca estive no Gran Canyon.<br />

Sarah enrugou o nariz.<br />

— Trabalha nos fins de semana?<br />

— Não em todos os finais de semana. Sou árbitro de futebol.<br />

— Verdade? — Era tão alto que não o imaginava como jogador<br />

de futebol. — Então joga também, correto?<br />

— Bom, jogava, antigamente — disse rindo. — Agora, sou<br />

apenas juiz. Sou muito velho para jogar. Mas mesmo assim, é<br />

divertido.<br />

390


— Não é tão velho — disse Sarah arrependendo-se no mesmo<br />

instante que isso saiu de sua boca. Foi inapropriado.<br />

— Poderia ter jogado na universidade, mas me dediquei aos<br />

livros e me graduei antes. Não podia esperar para começar a ensinar.<br />

Sorriu novamente e de novo Sarah teve a sensação de que não<br />

estava conversando com um professor ou treinador. Sentia-se tão à<br />

vontade, como quando falava com Sydney.<br />

— Então, há alguma razão em particular pela qual vai ver sua<br />

mãe? Ou só porque quer?<br />

Sarah assentiu com a cabeça.<br />

— Sim, depois de vê-la a última vez, me dei conta que devia ter<br />

feito isso antes. A única razão pela que não ia, era porque quando foi<br />

presa, disse-me que não queria que fosse.<br />

— Bom, possivelmente a próxima vez que você for, eu possa te<br />

levar.<br />

Sarah sabia que isso poderia soar estranho a outros. Talvez sua<br />

longa história com Sydney a tenha feito acreditar que poderia existir<br />

gente que se preocupasse com alguém sem ter outras intenções. Sarah<br />

decidiu que ele era uma boa pessoa. Mostrou um verdadeiro interesse<br />

por ela e confiava nele.<br />

Antes que pudesse responder, o treinador se ajeitou um pouco em<br />

seu assento.<br />

— Diga, alguma vez você correu no Canyon?<br />

391


— Sim, as pistas são estupendas, eu adorava treinar lá — disse<br />

Sarah sorrindo, recordando de todas as vezes que ela correu com<br />

Sydney.<br />

— Alguma vez esteve no Monte Solidão?<br />

Sarah sentiu um vazio no estômago ao lembrar-se dos<br />

piqueniques que ela e Angel fizeram lá e as outras vezes que<br />

retornaram depois, supostamente para escalar, mas sempre acabavam<br />

recostados em um cobertor. Sarah assentiu com a cabeça como pôde.<br />

— As pistas ali também são espetaculares. Às vezes, levo os meus<br />

estudantes. Falando de treinamento. Talvez, quando seu tornozelo<br />

estiver melhor, possa nos acompanhar.<br />

— Sim — disse-lhe Sarah, mordendo o lábio. — Parece bom. —<br />

E na verdade soava bem, retornar ao parque seria algo agridoce e como<br />

correr sempre tinha sido terapêutico para ela, já podia ver-se perdendo<br />

em seus pensamentos nesses lindos atalhos.<br />

Quando conversou com Sydney essa noite, ficou surpresa de sua<br />

atitude. Pensou que ficaria furioso por Angel e em lugar disso, se<br />

colocou no papel de advogado do diabo.<br />

— Então, não gostou que o pervertido levasse você para casa?<br />

Esse é Angel. Na verdade, você se surpreendeu com sua atitude?<br />

— Está bem, Sydney, antes de mais nada deixa de chamá-lo de<br />

pervertido. — Sarah estava caminhando com cuidado por seu quarto.<br />

Seu tornozelo estava muito melhor. — E segundo, esse não é o ponto.<br />

O ponto é que Angel espera que esqueça tudo e suba de um salto em<br />

392


seu carro sem mais, sem nem sequer um simples 'olá' ou 'um como vai?'<br />

Na verdade acha que sou uma idiota?<br />

Ela ponderou o que disse por um momento. A quem queria<br />

enganar? Apenas podia acreditar que tinha rechaçado a oportunidade<br />

de que ele a trouxesse para casa.<br />

— Lynni, quantas vezes viu Angel comportar-se excessivamente<br />

machista? Ele é impulsivo e voluntarioso — disse Sydney rindo. — A<br />

última coisa em sua mente seriam as formalidades. Estou certo que<br />

perguntaria como você estava dentro do carro.<br />

— Isso não é ao que me referia.<br />

Sydney riu.<br />

— Sei, sei. Estou brincando. Está bem, não soube o que dizer<br />

sobre isso. Mas, não é isso o que sempre tem feito? Reagir? Muito no<br />

fundo, suas intenções eram honoráveis, não? Deixou de lado tudo que<br />

passou, para afastá-la de uma situação de possível perigo.<br />

— Perigo? Isso sim que é ridículo. O treinador Rudy é inofensivo.<br />

— E o que é o que o treinador Rudy pensa de tudo isto?<br />

Sarah sabia que Sydney não ia gostar de todo o tempo que o<br />

treinador estava dispensando para conversar com ela, em lugar de<br />

somente tê-la deixado em sua casa. Mas já tinha aprendido a lição das<br />

verdades pela metade. Ela não ia mentir para não voltar a discutir de<br />

novo.<br />

393


— Não perguntou e eu não lhe disse. Apenas me disse que<br />

conseguiria superar Angel.<br />

— E por que ele disse isso?<br />

— Não sei. Acredito que viu como estava triste e possivelmente<br />

pensou que me sentiria melhor.<br />

Sarah sentou em sua cama e moveu seu tornozelo em círculos no<br />

ar. Estava definitivamente melhor.<br />

— Contei a ele que verei de novo a minha mãe.<br />

— Deixe-me adivinhar: ofereceu para levar você. — Sydney<br />

começou a rir.<br />

Sarah, incapaz de acreditar que Sydney estava rindo dela, não lhe<br />

respondeu.<br />

— Lynni?<br />

— Hmm?<br />

— Está tirando sarro de mim, né?<br />

— Só disse que seria uma viagem muito longa para que eu fosse<br />

sozinha, e que...<br />

— Ai, meu Deus, este cara é demais! — O tom de Sydney mudou<br />

de brincalhão a exasperado. — Me diga, por favor que está percebendo,<br />

Lynni.<br />

— Não. — Insistiu ela. — Porque não é o que você está<br />

pensando. Perguntou-me se minha tia podia me acompanhar. Pensa<br />

394


que é uma viagem muita longa para ir sozinha. Tudo o que ele disse é<br />

que, se não tivesse que trabalhar, ele se ofereceria para me levar. Mas<br />

como tem, não pode.<br />

— Lynni.<br />

— O que?<br />

— Prometa uma coisa.<br />

— O que?<br />

Sarah estava frustrando-se. O treinador Rudy a tinha ajudado a<br />

esquecer um momento duro em sua vida e agora, Sydney estava<br />

confundindo as coisas.<br />

— Sabe aquela voz que lhe acalma e diz para não ser paranoica?<br />

— Sim?<br />

— Esqueça. Daqui em diante, qualquer coisa a respeito deste<br />

tipo, questione. Certo?<br />

Sarah estava tão cansada que não queria continuar discutindo<br />

com Sydney. Disse-lhe que concordava, embora soubesse que não<br />

havia razão para se preocupar.<br />

395


Capítulo Vinte e Sete<br />

Jogar bilhar com os rapazes sempre tinha ajudado Angel a<br />

relaxar. Esta era a primeira vez que Eric aparecia depois da festa de<br />

Ano Novo. Alex e Sofia estavam trabalhando juntos no restaurante,<br />

mas chegariam logo em casa. Angel não estava seguro se ter Eric aqui<br />

era uma boa ideia. Falou brevemente com Alex a respeito de não<br />

culpar Eric, mas Alex continuava com a ideia de que não o deixaria<br />

perto de Sofia se ninguém mais estivesse ali. Angel esperava que isso<br />

não significasse que faria uma cena se todos estivessem aqui.<br />

Este foi outro lento e amargo fim de semana para Angel. Sua<br />

mente estava na mesma, o que já estava se tornando quase irritante.<br />

Estar tão perto de Sarah na sexta-feira fez com que percebesse que não<br />

estava nem um pouquinho perto de superá-la. O ressentimento que<br />

Sarah tinha por ele o surpreendeu. Ele foi o enganado. Sarah esperava<br />

que ele aceitasse outro cara em sua vida? Isso não ia acontecer. Mas<br />

estar tão perto dela, pela primeira vez desde aquilo, o tentou a aceitar<br />

ficar com ela de qualquer jeito...<br />

Entretanto, isso era melhor. Ter só que lutar com o fato dela estar<br />

fora da Califórnia seria bastante difícil. Mas saber que ela estaria com<br />

Sydney o faria impossível. Não havia jeito disso funcionar.<br />

E como se as coisas não fossem suficientemente más, a tensão se<br />

elevou ao máximo com esta coisa do treinador. Esperava que Sarah<br />

soubesse que não devia cair na merda deste cara. O olhar de suficiência<br />

na cara do treinador era agora a imagem que Angel tinha gravada na<br />

396


mente e aceitou o desafio. Professor ou não, Angel não teria escrúpulos<br />

em acabar com ele.<br />

Eric tinha acomodado as bolas de bilhar.<br />

— Comece a tacar, Angel.<br />

Angel se reclinou e fez sua jogada. As bolas se espalharam<br />

violentamente e uma delas voou fora da mesa. Romero riu.<br />

— Calma, matador.<br />

— Ouça amigo — Eric se agachou e recolheu a bola até onde<br />

tinha rodado. — Qual é o problema?<br />

Angel os ignorou e se preparou para tacar novamente. Sofia e<br />

Alex entraram pela porta do lado. Angel notou que Eric ficou tenso. A<br />

bola que lhe deu entrou na caçapa e levou um momento para pôr giz<br />

em seu taco.<br />

Sofia caminhou para eles em lugar de ir para a porta da cozinha e<br />

Alex a seguiu. Sofia sorria despreocupadamente.<br />

Alex se sentou em um dos bancos do bar, entre Eric e Sofia. Para<br />

alívio de Angel, Alex cumprimentou Eric, mas apenas com um<br />

movimento de cabeça.<br />

— Sarah me mandou uma mensagem. — Sofia se centrou em<br />

Angel, mas não tirava o olho de cima de Eric.<br />

Angel fingiu não ter interesse e caminhou ao redor da mesa de<br />

bilhar para ter um melhor ângulo.<br />

397


— Ah sim? Qual?<br />

— Estava preocupada de que estivesse chateada por causa de<br />

sexta-feira.<br />

Angel fechou seus olhos por um segundo. Esta não era uma<br />

conversa que desejaria ter na frente dos meninos. Era como lhes dar<br />

munição. Mas queria saber se Sarah disse algo mais. Continuou<br />

fazendo suas jogadas sem responder a Sofia. Planejou ficar todo este<br />

tempo sem perguntar para Sofia de Sarah e não ia começar hoje.<br />

Sofia pôs sua mão em seu traseiro, obviamente incomodada por<br />

Angel não estar mostrando interesse.<br />

— Disse que gostaria, mas não pôde e adicionou uma cara triste.<br />

Angel levantou a vista para a Sofia e finalmente cedeu.<br />

— Não podia? E que diabos quis dizer com isso?<br />

— Não sei. Foi tudo o que ela disse. Não respondi, porque disse<br />

que tinha que ir. — Sofia foi para a porta da cozinha. — Seu tornozelo<br />

está melhor, no caso disso te interessar.<br />

Angel olhou para os meninos e parou olhando Alex, quando o<br />

viu sorrir de orelha a orelha.<br />

— O que?<br />

Alex virou para ver se Sofia estava dentro da casa.<br />

— Contaram-me sobre sexta-feira.<br />

Angel fez um movimento com seus olhos.<br />

398


— E?<br />

— De modo que as coisas estão esquentando entre Sarah e o<br />

treinador pervertido. Disse para você que ele era um tipo escorregadio.<br />

diga?<br />

— Sarah e o treinador Rudy? — Perguntou Romero. — Não<br />

— Só lhe deu uma carona até sua casa. — Angel agarrou o taco<br />

um pouco mais forte. — É sua vez.<br />

— Duas vezes — disse Alex. — E ninguém mais a levou. Valéria<br />

disse que ficaram conversando um momento na garagem. Na noite de<br />

sexta-feira, ficou mais tempo do que da primeira vez.<br />

Angel ficou olhando para Alex. Uma nova tensão se apoderou de<br />

seus músculos.<br />

— E o que foi que Sarah disse sobre isso?<br />

Alex ainda tinha um estúpido sorriso em sua cara.<br />

— Valéria lhe disse que parecia um pouco horripilante, mas<br />

Sarah não pensa assim. Diz que ela se sente realmente a vontade perto<br />

dele. — Alex sacudiu a cabeça. — Vou lhe dizer. O treinador está<br />

conquistando-a.<br />

Algo queimou as vísceras de Angel. De repente, Sarah no<br />

Arizona com Sydney soava ideal. Por que diabos não estava de uma<br />

vez lá neste momento?<br />

— Sabe a respeito dele, Angel? — Parecia que Eric era o único<br />

que demonstrava estar preocupado.<br />

399


Angel assentiu com a cabeça mas franziu o cenho ao recordar<br />

como Sarah não tinha concordado cada vez que tinha advertido ela que<br />

esse tipo era um pervertido. Ela tinha suas próprias ideias sobre esse<br />

sujeito e Angel sabia que essa opinião era favorável. Mas como Sofia,<br />

não dava crédito aos rumores.<br />

— Escutei que deixou a escola aonde ensinava antes, já que<br />

alguém o acusou de violação — disse Eric.<br />

— O que? — Angel sentiu que o cabelo arrepiava em sua nuca.<br />

— Pensei que era um professor novo. Que vinha diretamente da<br />

Universidade.<br />

Alex disse:<br />

— Não, não é tão jovem quanto aparenta.<br />

— Quantos anos tem?<br />

— Algo como vinte e seis ou vinte e sete. — Alex tomou uma<br />

garrafa de água da geladeira pequena e foi para a cozinha.<br />

— Eu já tinha escutado essa história da violação — disse Romero<br />

e se agachou para tacar. Depois acrescentou encolhendo os ombros. —<br />

Mas ouvi tanta merda a respeito dele, que quem sabe o que foi que<br />

realmente ocorreu.<br />

Angel sentou-se em um dos bancos do bar, pela primeira vez<br />

interessado no que Romero dizia.<br />

— Qual é essa história?<br />

400


Romero olhou Eric e logo ficou de pé sustentando seu taco reto e<br />

na frente dele.<br />

— É diferente cada vez que a escuto, mas basicamente houve<br />

alguém que denunciou esse idiota, seja por violação ou intento de<br />

violação. — Sentou-se para escutar algo estranho. — Não houve<br />

evidência suficiente, de modo que retiraram as denúncias. Mas acredito<br />

que todo mundo estava tão enfurecido com isso, que ele procurou<br />

transferir-se para outro lugar. E por sorte, para A Jolla, ficamos com<br />

ele.<br />

Angel se perguntava por que nunca ouviu essa história, ou talvez<br />

tenha escutado. Possivelmente nunca deu atenção aos detalhes. Tudo o<br />

que sabia com certeza, é que o tipo tinha fama de ser muito amistoso<br />

com as garotas. E pelo que Angel tinha visto na sexta-feira, já não<br />

havia dúvida em sua mente, ele estava conquistando Sarah.<br />

***<br />

A viagem de Sarah para ver sua mãe foi perfeita. Tê-la visto foi<br />

tão emocionante quanto a primeira visita. Mas as coisas pareciam<br />

melhores. Sua mãe não tinha ido até a corte, mas os advogados<br />

estavam ainda mais otimistas a respeito das oportunidades para que<br />

saísse antes do tempo e Sarah pôde apreciar a mudança no aspecto de<br />

sua mãe. Continuava com olheiras, mas eram menos pronunciadas que<br />

4<strong>01</strong>


da outra vez. E além disso, havia um brilho em seus olhos que fez<br />

Sarah sentir-se muito esperançosa.<br />

Antes de ir, sua mãe lhe deu algo em que pensar seriamente.<br />

— Sarah, quero que saiba que eu sei que você passou por muitas<br />

coisas. Quando sair daqui, você decidirá onde quer viver. Já não tenho<br />

trabalho aqui em Flagstaff, mas se aqui é onde quer estar, encontrarei<br />

uma forma de fazer com que funcione. Mas se quiser ficar na<br />

Califórnia, sua tia se ofereceu para que fiquemos com ela até que possa<br />

me pôr em pé novamente. Pense e logo me diga.<br />

A escolha parecia mais que óbvia. O único motivo que tinha para<br />

ficar em La Jolla já não queria nada com ela. Em Flagstaff, ao menos,<br />

tinha Sydney.<br />

Passou todo o sábado com Syd e sua família. Carina não<br />

apareceu lá. Sydney lhe dissera que estava ocupada e Sarah mudou o<br />

tema pela paz. No domingo depois de visitar sua mãe, Sydney a levou<br />

para a estação de ônibus e a deixou lá. Cada vez que retornava ao<br />

Arizona, preocupava-se que as coisas ficassem diferentes entre Sydney<br />

e ela, mas como sempre, parecia como se nunca tivesse ido.<br />

***<br />

Talvez tenha sido a viagem do fim de semana ou o fato de que<br />

não tivesse se deslocado por perto de uma semana, mas Sarah sentiu-se<br />

402


fora de forma durante sua primeira prática de corrida. O treinador<br />

Rudy tinha fama de levar as coisas com calma e tinha enfaixado o seu<br />

tornozelo muito apertado antes de deixá-la correr. Começava a sentir o<br />

pé adormecido. Diminuiu o ritmo até caminhar e procurou o treinador,<br />

mas não o viu. Tinha sido inflexível sobre o uso da faixa, por isso Sarah<br />

não queria tirá-la. Mas ela realmente estava incomodada, assim foi ao<br />

ginásio para buscá-lo.<br />

Não o viu em nenhum lado, caminhou para seu escritório onde<br />

tinha enfaixado o pé. A porta de seu escritório abriu justamente quando<br />

ela chegava e uma garota em sua roupa de treinadora de torcida de<br />

beisebol quase se choca contra ela, ao sair.<br />

— Sinto muito — disse-lhe a garota com um sorriso nervoso.<br />

— Tudo bem.<br />

A garota se afastou rapidamente. Sarah a olhava conforme ela<br />

corria, arrumando sua saia. Abriu a porta de seu escritório. O treinador<br />

Rudy tinha uma prancheta em uma de suas mãos enquanto vestia a<br />

camisa com a outra mão.<br />

— E aí, Sarah, como foi a corrida?<br />

Seu zíper estava aberto até a metade e Sarah ruborizou,<br />

esperando que ele não se desse conta que ela estava olhando ali.<br />

— Acredito que a faixa está muita apertada. Está deixando o pé<br />

dormente.<br />

Olhou para baixo em direção a seu pé.<br />

403


— Está bem, sente-se.<br />

Sarah se sentou na cadeira que estava junto a sua mesa e o<br />

treinador pôs a prancheta ali.<br />

— Passe o pé para cá.<br />

Sarah subiu a perna e ele a apanhou com suas coxas. De repente,<br />

Sarah sentiu-se vulnerável. Desamarrou os cadarços e sorriu ao tirar o<br />

tênis.<br />

— Deu a volta por toda a pista?<br />

— Só uma vez — disse Sarah — Mas caminhei no final.<br />

Uma vez tirada a atadura, ele massageou o tornozelo e levou suas<br />

mãos para a panturrilha.<br />

— Sente que está melhor?<br />

Sarah assentiu com a cabeça. Tinha que admitir que se sentia<br />

muito melhor. Moveu seu tornozelo em movimentos circulares e depois<br />

para frente e atrás. Sarah elevou a vista e viu quão comprometido<br />

estava trabalhando em seu tornozelo. O treinador a enfaixou<br />

novamente de forma meticulosa. E Sarah achou-se tola por haver<br />

sentido certa angustia desnecessária. Já estava se deixando influenciar<br />

por Sydney e todos os estúpidos rumores.<br />

— Me diga se estiver muito apertado.<br />

Quando acabou de enfaixar o seu pé, colocou a meia três-quartos<br />

e o tênis e amarrou os cadarços.<br />

404


— Pare.<br />

Sarah parou. O espaço entre a cadeira e a escrivaninha era muito<br />

apertado. Quando ficou de pé, suas coxas tocaram as dele e seu rosto<br />

estava suficientemente perto do dele para sentir o aroma do chiclete em<br />

sua respiração. Sarah foi para trás e quase perdeu o equilíbrio. Seu<br />

olhar e o do treinador se cruzaram por um segundo.<br />

— Cuidado — disse.<br />

Sarah sorriu, sentindo que ruborizava. Esta segunda faixa estava<br />

muito melhor colocada e Sarah pôde dar umas voltas antes que<br />

terminasse a corrida. Sentiu-se a mais tola por reagir como fez no<br />

escritório do treinador. Inclusive, seus pensamentos sobre a garota que<br />

tinha saído de seu escritório tinham sido sem razão.<br />

Sydney lhe disse que prestasse atenção em tudo, mas era muito<br />

injusto chegar a essas conclusões tão desagradáveis. O treinador Rudy<br />

tinha boa pinta e era uma pessoa agradável, no que dizia respeito a ele.<br />

E além disso, que necessidade tinha ele de envolver-se com garotas de<br />

escola preparatória?<br />

Viu Angel esperando perto de seu carro quando ela caminhava de<br />

volta ao vestiário e seu corpo reagiu da mesma forma. Concentrou-se<br />

em manter-se tranquila, mas seu coração acelerou e sabia muito bem<br />

que isso não tinha nada a ver com as voltas que tinha dado. Já sabia<br />

que, enquanto continuasse na Califórnia, nunca poderia superá-lo, nem<br />

por indício. Só poderia tratar de fazer seu melhor esforço para evitá-lo<br />

até que retornasse para Flagstaff. Mas era desagradável saber, como vêlo<br />

sozinho lhe afetava tanto.<br />

405


Sarah estava quase nos armários quando escutou que alguém<br />

chamava por seu nome. Viu que o treinador Rudy vinha para ela.<br />

— Ouça, vi que estava muito bem lá fora. Não dói nada?<br />

Sarah negou com a cabeça e sorriu.<br />

— Não, nada de nada. Está como novo, treinador.<br />

O treinador olhou para baixo, para seu pé e logo a olhou aos<br />

olhos.<br />

— Olhe, no sábado iremos ao Monte Solidão. Quer vir? — Seus<br />

lábios mostravam um sorriso torcido. — Prometo que lhe darei um<br />

bom treinamento.<br />

A mente de Sarah acelerou pensando se tinha algum<br />

compromisso para o fim de semana. Mas correr nas pistas da<br />

montanha, olhando para o mar, soava como algo que precisava fazer.<br />

— Parece realmente bom.<br />

— Estupendo, pegarei você às dez horas. Traga água. — Com o<br />

fichário, bateu-lhe no traseiro e piscou um olho antes de ir.<br />

Sarah ficou imóvel por um momento e logo acordou. Muitos<br />

treinadores batiam nos seus jogadores no traseiro, inclusive nos<br />

meninos. Ela via isso o tempo todo. Já tinha deixado de tirar<br />

conclusões.<br />

406


Capítulo Vinte e Oito<br />

Na sexta-feira pela manhã, Angel sentou-se na cozinha para fazer<br />

a tarefa de Espanhol da noite anterior. Depois de trocar seu horário<br />

para sair de sua aula de física, encontrou-se de novo com a mesma<br />

professora de Espanhol do semestre anterior. Até esse momento, não<br />

tinha se incomodado. Tudo o que lhe importava era não ver Sarah<br />

diariamente. Agora, estava seriamente arrependido. A quantidade de<br />

tarefa que esta mulher dava era irreal.<br />

Alex estava preparando uma bebida de proteínas quando Sofia<br />

entrou.<br />

— Bom, papai já disse que se algum de vocês pode ir amanhã ao<br />

restaurante em meu lugar, eu terei a manhã para minhas coisas.<br />

— Eu vou — disse-lhe Angel, sem tirar a vista de sua tarefa.<br />

— E aonde vai? — perguntou-lhe Alex.<br />

Sofia colocou a cabeça na geladeira e disse algo que Angel não<br />

entendeu.<br />

— Onde? — perguntou-lhe novamente Alex.<br />

— Correr com a equipe. — Sofia serviu-se de um copo de suco de<br />

laranja.<br />

Angel levantou a vista. Sofia evitou olhá-lo.<br />

407


— No sábado?<br />

— Sim. — Sofia pegou a torradeira e a ligou na tomada.<br />

Angel franziu o cenho. Sof estava se comportando de forma<br />

estranha. Desde que confessou seus sentimentos por Eric e estando tão<br />

determinada em falar com seu pai para fazer as coisas a seu modo,<br />

perguntava-se quanto tempo lhe faltava antes de começar a ser ardilosa.<br />

— Por que no sábado, Sof?<br />

Alex serviu-se da bebida que preparou no liquidificador e se<br />

encostou contra o portal da porta.<br />

— Seus treinamentos para tomada de tempo ainda não<br />

começaram, ou já?<br />

— Não é uma tomada de tempo. Apenas vamos correr nas pistas<br />

do Monte Solidão.<br />

— Ah, então é uma viagem de campo? — perguntou Angel,<br />

sentindo como se liberasse um pouco da pressão.<br />

— Não — Sofia pôs manteiga no seu pão torrado e falou dando<br />

as costas.<br />

— Bom, pois que demônios é? — perguntou Alex.<br />

Sofia exalou, mas não virou para encará-los.<br />

tudo.<br />

— O treinador levará alguns de nós para correr nas pistas. Isso é<br />

As sobrancelhas de Angel se arquearam.<br />

408


— Irão no seu carro?<br />

— Nem a pau! — Alex franziu o cenho em direção da Sofia, mas<br />

ela seguia sem virar.<br />

— Sofia, o que eu disse a respeito de tomar cuidado com este<br />

tipo? — Angel ficou de pé.<br />

Finalmente Sofia virou-se.<br />

— Disse-me que não estivesse a sós com ele. E não estarei.<br />

Estarão outras pessoas da equipe. Sarah vai estar lá.<br />

Isso apenas conseguiu piorar o mal humor de Angel.<br />

— Então levará as montanhas um grupo de garotas?<br />

— Não sei. Sarah foi quem me disse. Eu pensei que se ela ia estar<br />

lá, estaria bem. Só vamos correr.<br />

— Esqueça. — O tom de Alex foi definitivo.<br />

— Mas por que? — Frustrada, Sofia levantou os olhos para o<br />

teto. —Vocês são tão irracionais. Meu pai disse que estava tudo bem.<br />

— Papai sabe que ele é um pervertido, Sof? — perguntou-lhe<br />

Angel.<br />

— Não comece. Estou certa que concordará conosco assim que<br />

falar com ele — disse Alex a caminho de fora da cozinha. — Não vai,<br />

Sof.<br />

Sofia olhou de forma exasperada para Angel.<br />

409


— Não se incomode em ir amanhã ao restaurante. Estarei lá. —<br />

Jogou seu pão torrado no lixo e saiu da cozinha.<br />

Angel estava soltando fumaça. Que merda Sarah estava<br />

pensando? Lembrou o que Eric havia dito. Talvez suas advertências<br />

não tivessem sido suficientes. Se ele não tinha escutado os rumores a<br />

respeito de que o pervertido tinha sido acusado de estupro e já estudava<br />

há tempos nessa escola, talvez Sarah tampouco tivesse escutado nada.<br />

Seu único consolo é que ela não estaria lá a sós com ele. Sofia<br />

mencionou que várias garotas iriam. Esse tipo não se arriscaria a fazer<br />

nada estúpido depois de já ter sido transferido de escola e menos ainda<br />

com um grupo de garotas ao redor. Sarah estaria bem.<br />

***<br />

Sarah acordou tarde no sábado. Esperou até ontem para falar<br />

com Sydney sobre ir com o treinador ao Monte Solidão. E como<br />

esperava, Sydney não ficou emocionado. Conversaram até tarde. Fez<br />

as advertências usuais, mas no fim, acabou contente que finalmente ia<br />

sair com as amigas, mesmo que o treinador também fosse.<br />

De noite, o treinador mandou uma mensagem dizendo que três<br />

das garotas tinham cancelado, mas que havia outras garotas que iriam e<br />

seriam quatro no total as que iriam correr. Para Sarah pareceu bem,<br />

mas se sentiu incômoda quando Sofia disse que ela não poderia ir.<br />

Sabendo o que Angel pensava, especulou sobre o que ele estaria<br />

410


achando a respeito dela ir ao Monte Solidão. Ela se deu conta de como<br />

Angel olhava o treinador no dia em que se apresentou na aula.<br />

Acabava de sair do banho e estava se enxugando em seu quarto<br />

quando tocou seu telefone. Era o treinador. Sarah olhou pela janela<br />

enquanto respondia.<br />

— Já chegaram aqui? Não me dei conta que era tão tarde.<br />

O treinador riu.<br />

— Não, de fato estou ligando para ver se ainda quer ir, ou se<br />

deixamos para outra ocasião.<br />

— E por que não iria?<br />

— Ninguém ligou pra você?<br />

Sarah olhou seu telefone. Não tinha chamadas perdidas.<br />

— Não, ninguém me ligou.<br />

Ele ficou calado por um momento e depois falou.<br />

— Parece que seremos só você e eu. As outras duas cancelaram<br />

na última hora. Mas se não quiser, podemos fazer isto em outro<br />

momento quando todas possam vir.<br />

O estômago da Sarah se revolveu. Sabia o que Sydney gostaria<br />

que respondesse, mas se sentiu mal.<br />

— Eu, bom...<br />

411


— Está bem, Sarah. Podemos tentar ir na semana que vem com<br />

todo a equipe se isso faz com que se sinta mais cômoda.<br />

Sarah se sentiu tola. Ele poderia simplesmente tê-la pegado sem<br />

lhe dizer nada e não lhe dando nenhuma opção. E ela tinha esperado<br />

com ansiedade toda a semana por isso.<br />

— Não, está bem. Se ainda quer ir, eu também.<br />

— Tem certeza?<br />

Sarah sorriu, sentindo-se mais aliviada.<br />

— Sim, totalmente. Só me dê quinze minutos.<br />

Enquanto se vestia, Sarah repassou todas as possibilidades. Sabia<br />

que o treinador Rudy era inofensivo, mas algo deixava suas vísceras<br />

revoltas. Estava contente que Valéria e sua tia foram cedo às compras.<br />

Com certeza Valéria faria sentir-se mal por ir.<br />

A conversa de ontem à noite lhe retornou de repente à mente. A<br />

única razão pela que Sydney finalmente estava de acordo para ir, é que<br />

ia em grupo. E agora, de alguma forma, se sentia como uma mentirosa.<br />

Talvez isso fosse o que estava lhe incomodando tanto. Se não<br />

dissesse agora, isso lhe incomodaria o dia todo. Pegou o telefone e<br />

ligou. Já tinha aprendido uma boa lição sobre mentir e ocultar. Seu<br />

lema agora era, que não importava quão ruins estivessem as coisas, era<br />

melhor dizer a verdade cedo, que fazê-lo tarde.<br />

— Olá Lynni.<br />

412


— Sydney, não tenho tempo para falar. O treinador chegará a<br />

qualquer momento. Apenas queria que soubesse, hoje vamos somente<br />

ele e eu.<br />

Sydney não disse nada, mas depois escutou seu inconfundível<br />

tom de censura.<br />

— O que?<br />

— Todo mundo cancelou. Ligou-me para perguntar se<br />

adiávamos para outra ocasião, quando todas pudessem ir.<br />

— E por que não lhe disse que isso seria bom? — Sarah quase<br />

podia ver suas sobrancelhas franzidas.<br />

— Porque esperei por isso toda a semana e seria uma tolice não<br />

ir. Estaremos em plena luz do dia no parque. Do que terei que me<br />

preocupar?<br />

— Lynn. — De forma pouco usual levantou a voz. — Este não é<br />

o mesmo parque que tem muitas pistas abandonadas que pode<br />

caminhar milhas e milhas sem ver ninguém?<br />

Sarah suspirou.<br />

— Espero que não corramos nessas, Syd. Só liguei para que não<br />

se zangasse mais adiante, não para você se preocupar. Estarei bem,<br />

prometo-lhe isso.<br />

— E como foi que todas cancelaram? — Sydney fez uma pausa e<br />

logo em um tom mais alto disse: — Em primeiro lugar, está certa de<br />

que ele não planejou tudo isto?<br />

413


— Quer parar? — Sarah viu o carro do treinador parar na<br />

garagem.<br />

— Por que planejaria, se me perguntou se eu queria adiar para<br />

outra data?<br />

— Talvez isso faça parte do plano.<br />

— Já chegou Syd, tenho que ir.<br />

— Não acredito que deva ir, Lynni. Sério, tenho um mal<br />

pressentimento.<br />

— Sydney, deixa de se preocupar, por favor. — Sarah mandou<br />

um par de beijos ao ar e desligou.<br />

O treinador esperou Sarah sem descer do carro. Sarah apareceu<br />

pela janela do passageiro que estava aberta.<br />

— Bom dia, treinador.<br />

— Está bonita.<br />

Sarah olhou para seu suéter e encolheu os ombros.<br />

— Já me conhece, treinador. Fiquei elegante para a ocasião. —<br />

Subiu e colocou o cinto de segurança.<br />

— Sarah, se não se incomodar, não tenho nenhum problema que<br />

me chame Rudy. — Saiu da garagem e se dirigiu à avenida. — Mas<br />

depende de você. Só quero dizer que estaria bem se fizesse.<br />

414


Olhava para a frente enquanto dirigia, e Sarah estava pensando.<br />

Não era nada irracional. Soaria um pouco estranho a princípio, mas<br />

não era para tanto. Ela poderia até se acostumar.<br />

— Está bem, Rudy.<br />

Virou-se para ela e sorriu.<br />

— Isso eu gosto.<br />

O caminho para o parque se tornou frio. As nuvens estavam<br />

virtualmente tragando à montanha. Todas as vezes que tinha vindo<br />

aqui com Angel era outono, com um formoso céu azul e os raios de sol<br />

brilhando em qualquer ângulo do parque. Agora, parecia tão escuro e<br />

sinistro, como um tributo a como sentia-se ultimamente.<br />

— Não imaginei que o clima estaria tão ruim — disse o treinador<br />

olhando para o céu através do para-brisa. — A previsão é de chuva<br />

mais tarde, mas certamente já teremos ido.<br />

Sarah olhou por sua janela. Focou em relaxar. Ainda não podia<br />

sair do desconforto que sentia depois de desligar com Syd. Tudo neste<br />

dia parecia ruim. Em seu interior, sabia que deveria ter ouvido Sydney,<br />

mas uma grande parte dela queria acreditar que o treinador era boa<br />

pessoa.<br />

Estacionaram em uma área aberta. Havia apenas alguns carros<br />

no estacionamento. Realmente, Sarah não lembrava dessa parte do<br />

parque, mas era tão enorme que certamente havia muito mais que ela<br />

não tinha visto. Saíram e ele abriu o porta-malas. Estava fazendo mais<br />

frio aqui que quando saíram de sua casa. Ele pegou uma mochila<br />

415


pequena e as águas. Deu a ela uma garrafa e Sarah estremeceu quando<br />

seu dedo acariciou sua mão.<br />

Seus olhares se encontraram.<br />

— Está bem?<br />

O rosto de Sarah ruborizou. Sentiu-se um pouco ridícula.<br />

— Sim.<br />

— Não está muito frio para você? — Suas palavras eram amáveis<br />

e notava a preocupação em seus olhos.<br />

Sarah respirou profundamente e sorriu.<br />

— Um pouco, mas eu gosto. É tão fresco e limpo.<br />

Caminharam até a área verde perto de uma das pistas. O<br />

treinador colocou sobre a grama a mochila e a água e começou a<br />

alongar-se. Lembrou Sarah que se assegurasse de mover o tornozelo o<br />

suficiente.<br />

Depois de esquentar por uns quantos minutos, Sarah sentiu-se<br />

mais relaxada e amaldiçoou-se por ficar tão apreensiva. Supunha-se que<br />

seria um dia para relaxar e esquecer de todas as suas preocupações e<br />

estava ficando difícil com sua ansiedade. Saltou no mesmo lugar um<br />

pouco mais e sacudiu as mãos.<br />

Olhou para cima e o treinador mostrava um sorriso em seu rosto.<br />

— Nunca tinha visto você se aquecer assim.<br />

— Estou tentando sacudir o frio. — Sarah sorriu bobamente.<br />

416


— Tem certeza de que não está muito frio para você?<br />

Sarah negou com a cabeça e seguiu saltando no mesmo lugar por<br />

um momento mais. O treinador terminou o alongamento e recolheu<br />

sua mochila. Colocou as garrafas de água nela e a pôs nas costas. Ficou<br />

ali vendo Sarah por um momento. Seus olhos se moviam de acima a<br />

abaixo medindo-a, fazendo com que Sarah se sentisse invadida. Deixou<br />

de pular e sorriu.<br />

— Está preparada?<br />

— Com certeza.<br />

***<br />

Supunha-se que Angel só deixaria Sofia no restaurante, mas<br />

acabou ficando lá e ajudando. Isto acontecia com frequência<br />

ultimamente. Mas não tinha o que fazer e a última coisa que queria era<br />

estar, era sentado em sua casa atormentando-se com lembranças<br />

dolorosas.<br />

Eric e Romero passaram para tomar o café da manhã. Sentaramse<br />

na área do bar, que normalmente não estava aberta pela manhã, mas<br />

o restaurante estava muito cheio e Alex lhes disse que não queria que<br />

ocupassem lugar no balcão. Romero bufou e disse que era um cliente<br />

pagante, mas logo o calaram quando Alex lhe disse que pagasse sua<br />

conta.<br />

417


Depois de levar uns pedidos as suas respectivas mesas, Angel foi<br />

para onde comiam Romero e Eric. Estavam falando sobre ir ver uma<br />

briga mais tarde da noite. Um amigo do tio do Romero estava<br />

promovendo e podia conseguir ingressos grátis. Angel estava<br />

considerando.<br />

Não saiu desde que rompeu com Sarah.<br />

Estava tratando de sacudir o péssimo humor que tinha<br />

ultimamente, mas saber que Sarah estava passando mais tempo com o<br />

pervertido enquanto eles praticavam, não lhe ajudava.<br />

Alex apareceu na porta do escritório.<br />

— Ouça, Angel, um tipo chamado Sydney está na linha te<br />

procurando. Não é o amigo da Sarah?<br />

Romero começou a rir e sua voz ficou aguda.<br />

— Ui, drama!<br />

Com os olhos fechados, Angel apertou a ponte de seu nariz,<br />

falando para si mesmo.<br />

— O que será agora?<br />

Ignorou Romero e não respondeu à pergunta de Alex. Em lugar<br />

disso, caminhou até o telefone do bar.<br />

— Peguei. É Angel. — Os dois, Romero e Eric ficaram olhando<br />

com curiosidade, assim, lhes deu as costas. Pelo espelho ao fundo do<br />

bar, podia-os ver até embevecidos e os sacudiu dali.<br />

418


— Desculpe por ligar para você no restaurante, mas não sabia<br />

como podia localizá-lo — Angel não podia ter certeza, mas sentiu<br />

pânico em seu tom e isso o deixou nervoso.<br />

— O que aconteceu?<br />

— Não sei o que você sabe deste treinador dela, mas pelo que<br />

Sarah me disse, me parece que é um autêntico idiota.<br />

— Ela disse isso? — Angel quase sorriu.<br />

— Bom, não, me disse as coisas que as pessoas dizem sobre ele,<br />

mas ela está convencida de que é boa pessoa.<br />

Angel franziu o cenho, sem estar certo de que é o que queria<br />

obter de Sydney, mas começou a esgotar a sua paciência<br />

imediatamente.<br />

— Ah e daí?<br />

— Pessoalmente, não acredito que seja boa ideia que ela ande<br />

com ele, especialmente sozinha. — Sydney fez uma pausa. Angel<br />

pensou tê-lo ouvido grunhir. — Ele a convenceu de ir correr com ele<br />

em umas pistas isoladas acima nas montanhas. Eu não gosto disso.<br />

Acredito que suas intenções não são boas.<br />

Angel agarrou a borda da barra e apertou os dentes.<br />

— Ouvi sobre isso. Mas vão em grupo.<br />

— Por isso é que estou ligando para você. — Desta vez, Angel<br />

definitivamente ouviu uma batida de porta. — Ligou-me esta manhã.<br />

Convenientemente, todas as demais cancelaram no último momento.<br />

419


Ela está lá com ele agora, sozinha. Acredito que este cara nunca teve a<br />

intenção de levar alguém mais. Acredito que planejou assim.<br />

Tudo ficou confuso depois da palavra sozinha. Já não pôde<br />

escutar mais nada. A tensão que tinha sentido nas semanas anteriores<br />

aumentou e sentia-se a ponto de explodir. Cada músculo de seu corpo<br />

estava tenso. Falou através dos dentes.<br />

— Disse onde?<br />

— Não, só que é o mesmo parque que você a levou no outono.<br />

O parque não estaria cheio em um dia como hoje e ele conhecia o<br />

carro que este estúpido dirigia. Encontraria e quando fizesse, Angel ia<br />

aliviar toda a tensão que trazia acumulada desde que tinha rompido<br />

com Sarah. Sentia-se preparado para matar.<br />

— Irei encontrá-la.<br />

Depois de desligar o telefone, Angel passou como um raio em<br />

frente a Eric e Romero. Ouviu que Alex lhes perguntava.<br />

— O que aconteceu agora?<br />

Já estava quase em seu carro quando Eric gritou.<br />

— Espera Angel. O que aconteceu? Aonde vai?<br />

— Tenho que encontrar Sarah — Alcançou o trinco da porta de<br />

seu carro.<br />

— O que aconteceu? — perguntou Romero.<br />

Angel virou-se pouco antes de entrar no carro.<br />

420


— Esse pervertido do Rudy está sozinho com ela no Monte<br />

Solidão.<br />

Viu quando Eric e Romero correram para o carro de Eric, bem<br />

quando ligava o carro. A imagem de Rudy caminhando com Sarah na<br />

escola e o modo insolente com que olhou para Angel alimentaram seu<br />

temperamento, por si só assassino e agora, tinha ateado fogo.<br />

***<br />

Depois de correr perto de um quilômetro e meio, o treinador<br />

diminuiu o passo e parou perto de uma área gramada. Correram ao<br />

longo de uma pista que era quase paralela à estrada. Algumas vezes, a<br />

pista se afastava da estrada e outras estava à vista. Sarah não tinha visto<br />

um só carro passar por ali em todo o tempo que estiveram correndo.<br />

O treinador Rudy tirou as garrafas de água que trazia na mochila<br />

e deu uma a Sarah. Com a respiração entrecortada, lembrou a Sarah<br />

que não tomasse água muito rápido e nem muita. Sarah caminhou para<br />

uma pedra enorme que estava fora da pista e se encostou nela. Agora,<br />

estava contente do clima frio, já que o ar gelado estava abundante em<br />

seu nariz.<br />

O treinador se aproximou, caminhando e a acompanhou na<br />

pedra. Sua coxa roçou sua perna quando se encostou na rocha.<br />

— E como está esse tornozelo?<br />

421


— Bem. — Sarah olhou para baixo e o virou. — Estava um<br />

pouco nervosa, mas estava bem.<br />

O treinador tomou um gole de sua água.<br />

— Posso perguntar algo pessoal?<br />

Sarah pôs seu pé para baixo e virou-se para ele.<br />

— Sim.<br />

— Seu namorado do semestre passado parecia estar louco por<br />

você. Só me perguntava o que aconteceu para se separarem?<br />

Ele deve ter visto a dor em seus olhos, já que pôs sua mão na<br />

perna de Sarah.<br />

— Ouça, sinto muito. Não foi minha intenção te fazer sentir<br />

triste. Só estava curioso.<br />

Sarah sacudiu a cabeça e ficou olhando seus pés.<br />

— Não, está bem. Só foi um pouco difícil, mas acredito que vou<br />

superar.<br />

O treinador lhe bateu na perna e logo a apertou brandamente.<br />

— Foi sua primeira vez?<br />

Surpresa, Sarah virou-se para vê-lo.<br />

— Quis dizer, seu primeiro amor.<br />

422


Realmente ela não tinha pensado desse modo. Mas era. Nenhum<br />

outro menino havia sequer se aproximado do que ela sentia por Angel.<br />

E tinha a intuição de que nunca ninguém aproximaria.<br />

Ela assentiu com a cabeça e centrou sua atenção em sua garrafa<br />

de água.<br />

— Foi minha culpa. — Tomou um pequeno gole. — Fui<br />

realmente tola.<br />

Sarah se endireitou. A dor ainda era tão recente, que tinha medo<br />

de ficar sentimental. O treinador tirou a mão dela.<br />

— Vem cá. Está bem. — Falou brandamente. Suas palavras eram<br />

amáveis, seu tato parecia quente. Exceto na noite da terrível cena e o<br />

dia em que foi ver sua mãe, todas as vezes que tinha chorado por<br />

Angel, tinham sido a sós em seu quarto. Geralmente, Sydney era quem<br />

estava do outro lado do telefone, mas não podia evitar sentir-se<br />

sozinha.<br />

Sentou-se junto a ele. O treinador seguiu com sua mão na dele e<br />

lhe falou, olhando-a direto aos olhos.<br />

— Me escute, não tem que falar disso. Mas é uma garota bela,<br />

Sarah, não só por fora e espero que saiba que há muitos meninos por aí<br />

que morreriam para estar com alguém como você.<br />

Sarah não estava segura disso. Mas tampouco lhe importava.<br />

Havia só uma pessoa com a qual ela queria estar, mas entendeu o que o<br />

treinador quis lhe dizer. O nó em sua garganta estava ficando maior<br />

conforme ele falava. Podia sentir como os olhos enchiam de lágrimas.<br />

423


Maldição. Era exatamente o que não queria, especialmente agora, que<br />

supunha que este dia a afastaria de suas dores. Tragou forte, tratando<br />

de conter-se.<br />

— Posso te abraçar?<br />

Sarah se encostou em seu peito sem responder e ele colocou seus<br />

braços fortes ao redor dela. Sarah sentiu quando a beijou na cabeça, e<br />

de alguma forma se sentiu bem. Parecia que era Sydney. Lágrimas<br />

escorreram pelas bochechas enquanto podia cheirar o aroma limpo de<br />

sua camiseta.<br />

Ela se afastou um pouco para encará-lo e ele limpou as lágrimas<br />

de seu rosto.<br />

— Tem ideia do quanto é especial?<br />

Sarah não estava certa de como responder isso. Sabia que ele<br />

sozinho estava tentando fazer com que se sentisse melhor, mas isso a<br />

deixava incômoda. O nível de ternura em seus olhos tinha mudado um<br />

pouco. Brandamente a beijou na testa e logo na extremidade do olho.<br />

— Tem olhos lindos — sussurrou-lhe.<br />

Sarah sentiu um calafrio por todas suas vértebras. Ele a estava<br />

consolando, dizia a si mesma. Mas seus beijos continuaram por seu<br />

rosto e seu corpo forte encostou mais no dela. Puxando-a pela cintura,<br />

seus lábios acariciaram os do Sarah.<br />

Ela pôs sua mão em seu peito.<br />

— Treinador? — Mas ele nem se alterou.<br />

424


— Me chame de Rudy — disse-lhe e a beijou um lado da boca.<br />

— O que está fazendo? — Sarah o empurrou mais forte, mas não<br />

era obstáculo para ele.<br />

todo.<br />

— Está bem, Sarah, não lute contra isto. Senti a atração o tempo<br />

O ardor de seus olhos a alarmou. Era quase como ver outra<br />

pessoa. Finalmente caiu a ficha.<br />

— Do que está falando? Está me assustando.<br />

O treinador afrouxou a pressão sobre ela por um momento.<br />

— Vamos, Sarah. Nós dois somos adultos. Isto foi aumentando<br />

entre nós dois faz tempo.<br />

O pânico que começou a sentir disparou e utilizou seu pé para<br />

empurrá-lo. O treinador foi para trás de forma estranha, mas recuperou<br />

o equilíbrio e a alcançou de novo. Sarah escapou. A dor que sentia<br />

antes se transformou em fúria e medo. Ela tinha acreditado nele.<br />

— Como se atreve?<br />

— Deixe de fingir, Sarah — disse friamente. — Ambos<br />

desejamos isto.<br />

— O que? Está louco! Não posso acreditar que sequer pensasse<br />

isso. — Sarah se afastou dele cautelosamente, mas ele não se retratou.<br />

— Louco? — Agarrou-a pela mão e a puxou para ele. Em um<br />

instante, Sarah se encontrava presa em seus braços e lutava com todas<br />

425


suas forças para liberar-se. — Não se faça de desentendida. Por que<br />

outra razão estaria aqui comigo?<br />

Sarah lhe deu uma joelhada, falhando na virilha por uma<br />

polegada, mas foi o suficiente para aturdi-lo e deixá-la ir. No momento<br />

em que se liberou, saiu correndo para o estacionamento.<br />

— Sarah, espere!<br />

Sem olhar para trás, nem vacilar, Sarah estava correndo a corrida<br />

de sua vida. Fez o que melhor sabia fazer e aumentou a velocidade.<br />

Sua mente ia também a toda velocidade, conforme as lágrimas lhe<br />

escorriam no rosto.<br />

Como pôde ser tão estúpida? Inclusive, com todas as advertências<br />

recebidas, pôs-se nesta terrível situação. Pensou a respeito dos poucos<br />

carros que haviam no estacionamento e orava para que houvesse<br />

alguém lá quando ela chegasse. Até o momento, não tinha visto nem<br />

uma alma.<br />

A meio caminho, deu-se conta de que o treinador estava atrás<br />

dela. Gritava algo, mas seu ouvido zumbia com o vento, ou talvez o<br />

medo não a deixasse ouvir. Gotas de chuva começaram a cair no seu<br />

rosto. A adrenalina percorreu seu corpo e acelerou ainda mais o passo.<br />

Quando finalmente chegou à esquina, pôde ver o estacionamento<br />

e lhe afundou o coração. Dos poucos automóveis que havia quando<br />

chegaram, só ficaram dois. Seu coração se transbordava enquanto que<br />

seus olhos procuravam alguém. Escutou um ruído de motor e tentou<br />

averiguar em que direção vinha.<br />

426


O carro acelerou perto da esquina para onde ela tinha vindo.<br />

— Ei! — Gritou Sarah, agitando seus braços ao ar. Mas o<br />

automóvel ia muito rápido. Estava fora de sua vista e ela não ia correr<br />

naquela direção. Logo teria que tomar fôlego e achava que não poderia<br />

correr mais. O estômago quase lhe sai quando viu que o treinador<br />

vinha saindo da esquina.<br />

— Sarah, espera. Quero me desculpar.<br />

Corria devagar e Sarah pôde ver que estava tão exausto quanto<br />

ela. Olhou para os lados procurando algo que pudesse usar como arma.<br />

Não encontrou nada e tampouco havia alguém à vista.<br />

— Não se aproxime — Sarah logo que pode falou, tinha a<br />

respiração muito agitada.<br />

Mas suas palavras não impediram que ele se aproximasse.<br />

Arremeteu contra ela com esse ardor enlouquecido que ainda mostrava<br />

em seus olhos.<br />

427


Capítulo Vinte e Nove<br />

Angel derrapou até parar quando percebeu que era o treinador<br />

que acabara de ver correndo na pista, mas estava sozinho. Onde estava<br />

Sarah? Olhou a pista. Talvez ela tivesse caído lá atrás. Poderia este<br />

idiota tê-la deixado sozinha?<br />

Eric e Romero voluntariamente se ofereceram a ajudar a<br />

encontrar Sarah e estavam dirigindo também pelo parque. Mandou<br />

uma mensagem de texto a Eric para que soubessem que os tinha<br />

encontrado e onde.<br />

Angel olhava pelo retrovisor e viu que o treinador corria para o<br />

estacionamento pelo que acabava de passar. Começava a chover um<br />

pouco mais forte. Pôs o carro na ré e dirigiu depressa para trás.<br />

Os pneus chiaram conforme deu volta no estacionamento,<br />

quando viu Sarah falando com o pervertido perto de seu carro. Estava<br />

muito perto dela e a postura de Sarah parecia na defensiva. Angel se<br />

aproximou deles e em um instante estava entre Sarah e o treinador.<br />

— O que aconteceu? O que é o que está errado? — perguntou a<br />

Sarah.<br />

Os olhos avermelhados de Sarah o enfureceram. O treinador<br />

respondeu por ela.<br />

— Foi só um mal entendido.<br />

428


Angel tirou lentamente sua vista dos olhos chorosos de Sarah.<br />

Seu pulso palpitava em sua orelha. Falou tão calmamente quanto pode.<br />

— Que mal entendido?<br />

O treinador pareceu falar com calma.<br />

— Estávamos falando, sabe, a respeito de você e o rompimento.<br />

Ela ficou um pouco sentimental. Eu só tentava consolá-la.<br />

O queixo de Angel endureceu. A palavra consolo jamais lhe tinha<br />

parecido tão obscena. Dificilmente poderia conter-se. Olhou os olhos<br />

assustados de Sarah.<br />

— Foi isso que aconteceu? Diga-me a verdade.<br />

Algo nos olhos de Sarah pareceu piscar quando Angel disse a<br />

palavra verdade. Seus lábios trêmulos o destroçaram.<br />

Sarah cobriu com suas mãos sua boca e disse:<br />

— Me atacou.<br />

Não acabava de dizer essas palavras quando Angel se equilibrou<br />

sobre o treinador.<br />

— Filho de puta! — disse-lhe grunhindo e lhe deu um golpe no<br />

rosto que rompeu seu nariz.<br />

O treinador cambaleou para trás e suas mãos foram diretamente<br />

para seu nariz. Seu rosto era uma massa sanguinolenta. Angel<br />

arremeteu novamente contra ele, lançando outro golpe no queixo,<br />

nocauteando o treinador e jogando-o contra o carro. Novamente<br />

429


arremeteu contra ele para virá-lo para golpeá-lo inconsciente, mas<br />

Romero e Eric lhe agarraram pelos braços. Conseguiu lhe dar um forte<br />

chute bem na virilha, fazendo com que o treinador caísse ao chão<br />

gemendo e se retorcendo.<br />

— Santa merda, Angel! — O xingou! Romero ficou vendo o<br />

treinador que rolava no chão de dor.<br />

Embora vendo o rastro de sangue no estacionamento escorrendo<br />

do rosto do treinador, não estava satisfeito. Esteve com ódio outras<br />

vezes, mas nada se comparava com o que sentia agora. Esse bastardo<br />

tinha muita sorte de que Eric e Romero tivessem chegado, ou só Deus<br />

saberia o que iria acontecer.<br />

Angel ignorou Romero e correu para Sarah. Colocou-lhe a mão<br />

sobre um ombro e procurou seu olhar aturdido.<br />

— Está bem? Machucou você?<br />

Sarah negou sacudindo a cabeça.<br />

— Não, só me assustou — disse choramingando. — Me beijou e<br />

me mantinha fortemente agarrada, mas pude escapar e corri. Tinha<br />

acabado de me alcançar. Ai, Angel se não tivesse chegado, não sei o<br />

que teria acontecido. Estava como louco.<br />

Ela o abraçou pelo pescoço e ele a abraçou fortemente. Seu<br />

aroma e senti-la em seus braços foi a única coisa que apaziguou o<br />

tornado que levava dentro de si.<br />

Deixaram o treinador lá para que ele se arranjasse sozinho, mas<br />

Angel conduziu diretamente para delegacia de polícia de La Jolla.<br />

430


Insistiu com Sarah para denunciá-lo imediatamente. Sentou com ela o<br />

tempo todo, segurando sua mão. Emitiram uma ordem de prisão para o<br />

treinador. A policial advertiu a Sarah que provavelmente isto pudesse<br />

ficar feio, dado que ele era um professor, mas a animou dizendo que<br />

fora valente e que continuasse com isto, para que que não saísse em<br />

liberdade e fizesse o mesmo a outra pessoa.<br />

Angel se asseguraria disso. Saíram da delegacia. Deu-se conta<br />

que Sarah estava mandando as chamadas de seu telefone para a caixa<br />

durante todo o tempo que estiveram lá. Angel tinha certeza que era<br />

Sydney. Justamente no momento em que colocaram os cintos de<br />

segurança, o telefone de Sarah voltou a tocar e ela finalmente atendeu.<br />

Saudou-o e em seguida lhe rompeu a voz.<br />

— Sei. Sinto muito, estava na delegacia de polícia. Não, estou<br />

bem. Sim, estou com Angel. Mais tarde lhe conto, ok? — Baixou a voz,<br />

mas Angel escutou e pedia a Deus que ela não respondesse. — Eu<br />

também te amo.<br />

Seu ciúme descarado o queimou por dentro. Acelerou fundo.<br />

Fazia apenas umas horas que estava ansioso para matar alguém por<br />

Sarah e agora, só queria que ela descesse do carro, de sua vida.<br />

Entrou na autoestrada a alta velocidade. A chuva começava a<br />

intensificar-se. Não se incomodou em desligar o motor e nem sequer<br />

suavizou o tom de sua voz.<br />

— Tomara que te assegure de que esse malandro vá preso.<br />

431


Sarah assentiu com a cabeça e recolheu suas coisas, a bolsa<br />

Ziploc de plástico em que a polícia colocou todos os papéis para que<br />

não se molhassem com a chuva.<br />

— Obrigada Angel. Na verdade, me salvou hoje. Não sei mais o<br />

que posso dizer a você. Só desejo...<br />

Não terminou de falar e começou a abrir a porta rapidamente<br />

para sair.<br />

A paciência de Angel se esgotou.<br />

— Deseja o que, Sarah?<br />

— Que eu pudesse entender como me superou tão rápido. —<br />

Desceu do carro e fechou a porta.<br />

Angel jogou sua cabeça para trás sobre o assento. Incrível.<br />

Desligou o motor do carro, abriu a porta do carro e saiu.<br />

— Verdade que acredita que já superei você? — gritou por cima<br />

da capota do automóvel.<br />

casa.<br />

Sarah não lhe respondeu. Nem sequer virou; já estava quase em<br />

Angel deu a volta no carro e foi para onde ela estava. Chamou-a<br />

por seu nome, Sarah parou e virou. Angel viu que estava chorando.<br />

— Eu não poderia imaginar ter superado você e seguir adiante,<br />

Angel, mas você já está com outra.<br />

432


— O que? — Angel não podia acreditar que Sarah estivesse<br />

fazendo isto. — Não me jogue toda esta merda, Sarah. Não fui eu<br />

que...<br />

— Soube que correu para os braços da Dana dois dias depois que<br />

rompemos.<br />

Angel podia ver que estava furiosa e sua mente se agilizou para<br />

pensar no que Sarah lhe acabava de dizer.<br />

— Fui falar com ela, isso é tudo.<br />

— Que seja, não importa. Espero que os dois sejam felizes. —<br />

Sarah começou a caminhar para a casa.<br />

— Não, não, espere! — Angel deu alguns passos para frente. Não<br />

ia permitir que ela convertesse as coisas a seu favor. — A única razão<br />

pela qual fui falar com ela é porque tinha informações sobre você.<br />

Sarah parou e virou.<br />

— E que diabos ela saberia sobre mim?<br />

— Alguém viu você naquela noite. A noite em que você e Sydney<br />

seguravam suas mãos e se abraçavam na praia. — Apenas de pensar<br />

nisso revolvia as vísceras. — Naquela noite, me chamou para me dizer<br />

isso e nada disso tinha sentido para mim. Ignorei-a. Mas depois de<br />

saber a verdade, queria confirmar exatamente o que é que ela tinha<br />

visto.<br />

433


Lembrar-se de estar sentado lá e obter a confirmação de Dana lhe<br />

fez reviver a dor e começou a caminhar afastando-se. Já estava farto<br />

disto.<br />

— Estou cansada de chorar por você, Angel. — Sarah soluçou.<br />

— Nunca entenderá a minha relação com Sydney e ele sempre será<br />

parte da minha vida.<br />

Escutá-la tão angustiada quase o matava. Mas Sarah estava certa.<br />

Nunca o aceitaria. Não podia. Virou-se para enfrentá-la. Parecia tão<br />

desfeita como ele mesmo se sentia. Mas isso o enfureceu mais. Tinha<br />

feito isto, maldita seja, não ele.<br />

— O que é que quer que entenda, Sarah? Na verdade, quer que<br />

aceite que você vai viver com ele? Com o cara pelo qual está<br />

apaixonada?<br />

— EU NÃO ESTOU APAIXONADA POR ELE! — gritou<br />

Sarah. — Gosto dele. É muito diferente.<br />

Os dois estavam encharcados, mas não importava. Angel sentia<br />

que esta seria a última vez que falaria com ela, de modo que não<br />

pensava guardar nada. Começou a rir sem acreditar.<br />

— Como um irmão, Sarah?<br />

— Sim!<br />

Começou a caminhar para ela, mas parou uns metros antes.<br />

— E por que aquele vestido?<br />

434


Sarah ficou olhando com os olhos bem abertos com uma perda<br />

aparente. Angel estava contente de que a tormenta fora tão sonora já<br />

que sua voz atraiu aos vizinhos. Via como Sarah tratava de entender o<br />

que estava gritando.<br />

— Aquele vestido, Sarah! Alguma vez se vestiu assim para mim,<br />

mas pôs para seu irmão? Espera que acredite...<br />

— Era para você! — disse Sarah chorando.<br />

Continuava mentindo. Incrível. Angel apertou os dentes para<br />

tratar de acalmar sua voz. Continuava muito irritado.<br />

— Nem sequer ia me ver naquela noite!<br />

— Mas nos veríamos! — seus olhos se iluminaram. — Lembra?<br />

Você iria me pegar, mas Sydney chegou na última hora, assim saí com<br />

ele e liguei para você.<br />

Angel pensou por uns segundos, com a respiração agitada ainda.<br />

Não fazia sentido. Ela nunca se vestia assim.<br />

Sarah atirou tudo o que trazia nas mãos e caminhou depressa<br />

para ele. Parou frente a ele e Angel a olhou diretamente nos olhos<br />

alagados de lágrimas.<br />

— Isto soará como uma tolice. Eu ia contar de Sydney essa noite.<br />

Juro. Todo o dia estive preocupada. Valéria foi quem teve a ideia de<br />

que vestida assim te distrairia. E não sei, se faria as coisas mais fáceis.<br />

Não deu tempo de me trocar quando Sydney chegou. Mas o vestido, o<br />

cabelo, todo isso era para você, Angel, não para ele.<br />

435


Sentindo que tirava um enorme peso do coração e senti-la tão<br />

perto dele, teve que resistir para não puxá-la para ele. Pela primeira vez<br />

desde que tinham rompido, Angel começou a sentir um leve raio de<br />

esperança. Se tão apenas pudesse superar o fato de que ela ia voltar e<br />

viver com Sydney.<br />

— E quando vai para o Arizona?<br />

Sarah sorveu o nariz e mordeu o lábio.<br />

— Talvez não volte.<br />

O coração apaziguado de Angel começou a agitar-se novamente.<br />

Levantou uma sobrancelha.<br />

— O que quer dizer?<br />

— Minha mãe sairá da prisão mais cedo do que esperávamos,<br />

talvez em poucos meses. Por isso estou aqui. Fui vê-la e me disse que<br />

aguentasse um pouco mais. Mas também me disse que dependeria de<br />

mim o lugar que viveremos quando ela sair.<br />

Seu olhar procurava agora o olhar de Sarah.<br />

— E o que é que você vai fazer?<br />

— Isso depende. — Sarah tinha uma ruguinha entre as<br />

sobrancelhas.<br />

Angel franziu o cenho. Sempre havia algo.<br />

— Do que?<br />

— De você. — Parecia que Sarah continha a respiração.<br />

436


Tomou um segundo para que caísse a ficha. Mas quando<br />

compreendeu, puxou-a e a abraçou. Surpreendeu-a, mas logo Sarah riu.<br />

— Não brinque comigo, Sarah. Ficará mesmo?<br />

Seus olhos voltaram a encher de lágrimas.<br />

— Quer isso?<br />

Angel sorriu e pondo suas mãos no rosto de Sarah, colocou-se em<br />

frente a ela. Ficou vendo seus lindos olhos antes de beijá-la<br />

meigamente. Sentia saudades de seu cheiro, de seus lábios deliciosos.<br />

Nunca mais ia deixa-la ir.<br />

Sarah se retirou e o olhou nos olhos.<br />

— Amo você, Angel.<br />

Escutá-la dizer pela primeira vez quase o fez engasgar.<br />

— Diga de novo — sussurrou-lhe.<br />

Os olhos de Angel brilharam e ela riu.<br />

— Amo você.<br />

— Eu amo você também, carinho.<br />

437


Capítulo Trinta<br />

Sarah ficou ali, deitada, tocando com seus dedos a marca da<br />

corrente ao redor do pescoço de Angel. Olhava seu pulso e sorria ante<br />

seu bracelete de pingentes. No tempo em que estiveram separados, o<br />

tinha tirado e se negava sequer a olhá-lo. Esteve a ponto de mandar<br />

para ele pelo correio, quando tinha perdido as esperanças. Algo em seu<br />

coração não permitiu e agora, se alegrava de não ter feito.<br />

Depois de uma semana de terem voltado, não podiam saciar-se<br />

um do outro. Após Angel fechar o restaurante a cada noite, Sarah<br />

sempre estava lá com ele na hora de fechar. Sarah se perguntava se seus<br />

pais tinham uma ideia do que faziam no quarto de trás.<br />

Angel se incorporou sobre seu ombro e mexeu com o cabelo de<br />

Sarah.<br />

— E como foi que ficaram tão próximos? — Ele a olhava nos<br />

olhos. — Você e Syd?<br />

Desde que haviam voltado, Sarah se esforçava para manter o<br />

mínimo de qualquer conversa sobre Sydney e até agora, Angel<br />

realmente não tinha perguntado muita coisa. Sabia que quando a<br />

poeira se assentasse, perguntaria e o momento tinha chegado. Ela já se<br />

preparou. Nunca mais lhe ocultaria nada, sem importar quão<br />

incômodo fosse.<br />

438


— Bom, contei que quando era garota, nos mudávamos muito<br />

frequentemente. Nunca tinha amigos. Quando fazia alguma amizade,<br />

tinha que deixá-los. Quando mudamos para Flagstaff, dei-me por<br />

vencida na questão de fazer amigos. Então Sydney quis ser meu amigo<br />

— disse Sarah sorrindo, enquanto lembrava. — Ele tampouco tinha<br />

amigos, embora a princípio não tenha admitido. Nessa época, na<br />

verdade, ele era gordinho.<br />

— Sydney era gordo? — Angel pareceu surpreso com isso.<br />

Sarah sorriu, tratando de não virar os olhos.<br />

— Sim e quando estávamos no Ensino Médio, ele realmente<br />

ficou enorme. Eu nunca fazia amigos por não saber quanto tempo nós<br />

iríamos ficar no mesmo lugar. Logo, minha mãe me disse que seu<br />

trabalho seria permanente e que nós íamos ficar lá. Então, Syd e eu<br />

realmente ficamos muito próximos. Como minha mãe sempre estava<br />

fora, passava muito tempo na casa dele. Sua casa se converteu em<br />

minha casa fora da minha e sua família sempre me tratou como se fosse<br />

parte deles.<br />

Angel levantou uma sobrancelha.<br />

— E alguma vez tentou ultrapassar os limites?<br />

Sarah negou com a cabeça.<br />

— Nunca. Como disse, por muito tempo era muito obeso e além<br />

disso, estava consciente disso, assim como eu estava muito consciente<br />

dos meus dentes.<br />

— Seus dentes? Seus dentes são lindos.<br />

439


— Claro, mas isso é agora, depois de três anos de aparelho.<br />

Antes, eram espantosos. Assim, Syd e eu fomos um casal consciente de<br />

nossos defeitos que se apoiou um no outro por anos. — Sarah sorriu<br />

novamente, recordando essa época. Angel a olhava, assim Sarah<br />

continuou com o relato. — De qualquer forma, foi no secundário<br />

quando comecei a atormentá-lo para que perdesse peso. Foi quando<br />

comecei a correr. Tudo começou para fazer com que perdesse peso.<br />

Começamos a correr diariamente; aí foi onde começou minha paixão<br />

por correr. Já na escola preparatória, Sydney tinha perdido muito peso.<br />

Depois deu o estirão e isso, na verdade, lhe ajudou. Unimo-nos à<br />

equipe de corrida e por isso agora é que não se percebe o quão gordo<br />

era.<br />

Angel riu.<br />

— Realmente, a verdade é que nunca imaginei que tinha sido um<br />

verdadeiro gorducho.<br />

Sarah franziu o cenho, mas estava contente de que Angel não<br />

estivesse tenso por isso. Angel se encostou nela e a beijou docemente.<br />

Sarah estava surpresa o quanto estava feliz por estar com ele.<br />

Beijou-a mais e depois veio o que temia.<br />

— Baby, sei que ele é seu amigo. E vou tentar bravamente ser tão<br />

breve nisto quanto posso, mas preciso saber de tudo. Não quero que me<br />

oculte nada, especialmente referente a ele. Assim, se ele telefonar, não<br />

preciso saber de tudo o que falam entre vocês. Apenas quero que não<br />

me oculte isso.<br />

440


Angel deve ter visto algo em seu rosto ou sentiu que ela ficou<br />

tensa, porque parou e logo lhe perguntou<br />

— O que?<br />

— Tenho que dizer a você cada vez que ele ligar?<br />

Os olhos de Angel se entrecerraram.<br />

— Quantas vezes ele telefona, Sarah?<br />

Todo o assunto sobre honestidade total se foi pelos ares. Sarah<br />

sabia que estava mal, mas com esse olhar em seus olhos e o tom de sua<br />

voz, não havia forma que a verdade saísse neste momento. Dizer que<br />

suas chamadas eram diárias estava fora da questão.<br />

— Bem, nem sempre é ele quem liga, mas falamos várias vezes<br />

na semana.<br />

Sarah viu como Angel tentava manter-se equilibrado. Torceu o<br />

pescoço como sempre fazia, como se isso de alguma forma lhe ajudasse<br />

a liberar a tensão. Mas ela sabia que isso nunca funcionava.<br />

— Tentarei me esforçar — disse ela imediatamente.<br />

— E o que isso significa? Tentarei me esforçar? Na verdade é um<br />

grande sacrifício?<br />

— Não, mas o que acontece é que você não entende... Estou<br />

tentando — Angel reclinou-se para trás, pondo sua mão sob sua nuca.<br />

Sarah se deitou sobre seu ombro.<br />

— É muito uma vez por semana?<br />

441


Ele ficou vendo mas não lhe disse nada e agora era a vez de<br />

Sarah de beijá-lo. Encostou-se sobre ele e deu-lhe beijinhos nos lábios e<br />

logo beijou a covinha que lhe formava na bochecha com a expressão<br />

franzida.<br />

Angel pôs sua mão livre atrás do pescoço dela.<br />

— Sarah, Baby, não quero que pense que sou insensível. Já<br />

entendi que é seu amigo de toda a vida e tudo isso. Só digo que vai<br />

levar um tempo para me acostumar a isto.<br />

Sarah o beijou por mais tempo.<br />

— Sei como é. Mas vamos fazer com que isto funcione. Temos<br />

que, porque não quero estar longe de você nunca mais.<br />

Angel sorriu e agora puxou-a para ele com ambos os braços.<br />

— Adoro ouvir você dizer coisas como essas. — A beijou longa e<br />

profundamente, logo parou e adicionou. — E sim, quero saber cada vez<br />

que fale com ele.<br />

Sarah ia ter que reduzir o número de ligações para Sydney,<br />

porque mentir para Angel era coisa do passado. Nunca mais voltaria a<br />

cometer o mesmo erro. Fizeram novamente amor e logo Angel levou<br />

Sarah a sua casa sem voltar a comentar mais nada sobre Sydney.<br />

***<br />

442


O coração de Angel quase se paralisou quando escutou Sarah<br />

chorando ao lhe ligar. Não podia entender uma só palavra do que<br />

dizia. Mas depois a escutou rir em meio de tanto pranto.<br />

— Sairá depois de amanhã!<br />

Por várias semanas tinham esperado a data e finalmente a mãe de<br />

Sarah sairia da prisão. Angel não podia estar mais contente, a mãe de<br />

Sarah estaria aqui com ela durante o julgamento do treinador.<br />

— Eu disse querida, tenha fé — Já era tarde da noite e era dia de<br />

aula, mas mesmo assim ficaram acordados até tarde conversando. A<br />

princípio, quando ficaram separados, Sarah teve uma ideia louca de ir<br />

sozinha ao Arizona para buscar a sua mãe. Mas agora, Angel não<br />

deixaria isto acontecer.<br />

A tia de Sarah não poderia tirar um dia de folga em tão curto<br />

tempo de aviso, Angel fez os acertos necessários e ele mesmo levou<br />

Sarah. Sua mãe não ia ser liberada até a parte da tarde e Sarah sugeriu<br />

passar na casa de Sydney para visitá-los rapidamente, lhe dizendo que<br />

Sydney os havia convidado. Angel não foi com muita vontade, mas<br />

pelo bem de Sarah, fingiu que estava bem.<br />

Quando chegaram na casa de Sydney, Sarah se virou para ele e<br />

lhe perguntou.<br />

— Tem certeza que está bem com isto?<br />

Não realmente, mas poderia superar isso. No que lhe dizia<br />

respeito, Sarah era parte de sua vida, assim Sydney era parte da vida<br />

dela, ele teria que se acostumar com isto.<br />

443


— Sim, estou bem.<br />

Reclinou-se e o beijou antes de sair do carro. Angel deu a volta<br />

no carro e se juntou a ela. Sydney já estava parado no alpendre com<br />

uma garota loira.<br />

Sydney se encontrou com eles na parte de baixo da escada do<br />

alpendre, e primeiro felicitou Angel e o apresentou sua namorada<br />

Carina. Depois virou e saudou Sarah.<br />

— Senti saudades, Lynni.<br />

Sarah soltou a mão de Angel e o abraçou.<br />

— Eu também.<br />

Angel viu como Sydney abraçou Sarah fortemente e por longo<br />

tempo.<br />

— Por Deus, que bom ver você.<br />

Concentrou-se em não ranger os dentes muito forte e tratou de<br />

não franzir o cenho. Sydney olhou para cima e seu olhar se encontrou<br />

com o de Angel, mesmo que ainda tivesse Sarah abraçada.<br />

— Acredito que a felicidade faça bem, né?<br />

A mãe de Sydney preparou o almoço e comeram no terraço.<br />

Sarah e Sydney falaram sobre a equipe de corrida que tinha deixado no<br />

Arizona e lhe deu todos os detalhes da liberação prematura de sua mãe.<br />

Angel olhou para Carina, que como ele, não teve muito o que dizer e se<br />

perguntava se ela se sentia tão incômoda quanto ele com essa relação.<br />

444


Não ficaram muito tempo assim incomodados, Angel achou que<br />

foi, porque Sarah sentira seu desconforto e seu melhor esforço para não<br />

encolher-se cada vez que escutava Sydney chamá-la de Lynni.<br />

Sydney a abraçou bem apertado novamente ao despedir-se. Desta<br />

vez, casualmente, Angel se virou, não querendo ver a forma em que as<br />

mãos de Syd acariciavam as costas de Sarah. Estava agradecido de que<br />

nenhum dos dois disse do amor que sentia, já que isso poderia ter<br />

arruinado seu estado de ânimo e possivelmente a noite.<br />

Sarah apertava a mão de Angel conforme se afastavam no carro.<br />

— Obrigada por isso. Sei que não foi fácil. — Sarah levantou a<br />

mão de Angel, levou para sua boca e a beijou.<br />

— Por que ele chama você de Lynni? — Angel não queria que<br />

Sarah pensasse que estava zangado, mas não pôde evitar de lhe<br />

perguntar.<br />

Sarah encolheu os ombros.<br />

— No momento em que o conheci, me apresentei como Sarah<br />

Lynn, seu primeiro comentário foi, 'Parece mais uma Lynn que uma<br />

Sarah.' Depois de um tempo, o nome virou Lynni — Sarah voltou a<br />

beijá-lo. — Você se incomoda?<br />

Angel decidiu ser honesto.<br />

— Detesto.<br />

Sarah riu.<br />

— Por que?<br />

445


Angel virou para ver seus olhos verdes brilhantes que o olhavam.<br />

— Soa exageradamente enjoativo.<br />

Sarah comentou que tampouco a sua mãe gostava, mas depois de<br />

anos de tratar de corrigi-lo, deu-se por vencida. Sarah era e seria sempre<br />

Lynni para Sydney. Estupendo.<br />

Quando chegaram ao centro de detenção de mulheres, ainda era<br />

cedo. Não tinham terminado a preparação e a papelada da liberação da<br />

mãe de Sarah. Sentaram-se em um banco frio e duro, no lobby. Sarah<br />

se encostou em Angel e ele a abraçou. Deu-se conta que ela estava<br />

ansiosa e deu-lhe um beijo na cabeça.<br />

— Já está quase acabando, querida.<br />

Sarah assentiu com a cabeça. Depois de uma hora de espera,<br />

finalmente sua mãe saiu caminhando e eles ficaram de pé. Angel se<br />

surpreendeu pela falta de semelhança entre elas. O cabelo de sua mãe<br />

era castanho claro e tinha os olhos muito escuros. A única coisa que<br />

tinham em comum, era o sorriso.<br />

Sarah correu para sua mãe e a abraçou. Depois de abraçarem-se<br />

por uns minutos, Sarah virou-se para apresentar Angel.<br />

Angel se aproximou para dar-lhe a mão, mas em lugar disso a<br />

mãe de Sarah o abraçou fortemente. Quando ela se retirou, examinou-o<br />

conscientemente.<br />

— Ouça menino, ela tinha razão. É lindo.<br />

— Nunca antes tinham me chamado assim — sorriu Angel.<br />

446


Pegou a mala que a mãe de Sarah trazia e logo que ela a tirou do<br />

braço, com o outro braço livre, tomou o do Sarah. Os três juntos<br />

começaram a caminhar pelo corredor.<br />

— O que acham meninos? Vamos nos esquecer do passado e<br />

começar uma nova vida na Califórnia.<br />

Angel e Sarah viraram e se olharam, sorrindo. Sim, Angel gostou<br />

como soou isso.<br />

447


Epílogo<br />

Os músicos entraram no restaurante, atendendo a pedidos. Sarah<br />

sentou-se com sua mãe, seus tios e Valéria em uma dos reservados<br />

maiores. Os pais de Angel estavam celebrando uma festa de formatura,<br />

assim o restaurante só estava aberto para os convidados.<br />

A mãe de Sarah apertou sua mão e Sarah sorriu. O aspecto de<br />

sua mãe em nada tinha a ver em comparação a como parecia quando<br />

Sarah a visitou pela primeira vez no cárcere. Ganhara peso e estava<br />

vibrante e saudável.<br />

Sua mãe a esteve com ela durante o julgamento do treinador.<br />

Depois de Sarah apresentar a queixa, muitas outras garotas também o<br />

acusaram do mesmo. Entre uma coisa e outra, foi julgado por<br />

diferentes delitos, entre perseguição sexual e intento de estupro. Além<br />

disso, muitas outras garotas atestaram que ele também se comportou de<br />

forma inapropriada com elas. Só levou ao júri duas horas para<br />

deliberar.<br />

Foi declarado culpado e depois de todas as condenações que lhe<br />

somaram, ao menos passaria trinta anos no cárcere antes de poder<br />

pagar fiança. Angel não poderia estar mais contente. Mas Sarah não<br />

podia evitar de sentir-se mal pelo sujeito. Era muito jovem e sua vida<br />

estava arruinada. Guardou esses sentimentos para ela mesmo e<br />

celebrou junto aos outros.<br />

448


Sofia piscou o olho para ela e sorriu, de onde estava sentada com<br />

seus pais, de mãos dadas com Eric. Depois que Sarah ajudou a<br />

convencer Angel, Sofia e Eric os acompanharam, como casal, à<br />

graduação. Depois de fazer dezessete anos fazia um mês, teve<br />

permissão para sair. Certamente que Eric reclamou seu direito no<br />

momento em que soube.<br />

Angel e Alex faziam seu melhor esforço para evitar deixá-los<br />

sozinhos. Sarah lhe piscou os olhos e também sorriu. Nunca saberiam<br />

como sua irmã podia ser ardilosa. Quando Sydney chegou com Carina,<br />

Sarah se levantou para saudá-los. Primeiro abraçou Carina e logo<br />

depois, Sydney. Seus dedos percorreram os dela, enquanto estiveram<br />

saudando-se. Sarah virou e viu que Angel vinha para eles rapidamente<br />

e soltou a mão de Sydney. Os maus hábitos são difíceis de romper.<br />

— Como vai, Sydney? — Angel saudou Sydney de mão e lhe deu<br />

um tapinha no ombro.<br />

Logo virou e abraçou Carina.<br />

Angel lhes perguntou a respeito de como tinha sido a viagem e<br />

gentilmente puxou Sarah para seu lado. Cada vez se sentia mais a<br />

vontade com Sydney, mas houve muitas mudanças. Era inevitável.<br />

Sarah deixou de dizer que Sydney era seu melhor amigo, pelo menos<br />

com Angel por perto. Desde que tinham conversado, Sarah e Angel, as<br />

chamadas com o Sydney se reduziram para alguns dias na semana. Por<br />

mais que tentasse, a paciência de Angel não era muita.<br />

Sarah tinha ido sozinha uma vez mais ao Arizona para pegar a<br />

sua mãe. Mas depois, Syd e Carina tinham vindo visitá-la várias vezes e<br />

cada vez as coisas melhoravam.<br />

449


Caminharam para o bar para tomar uma bebida.<br />

— E sua mãe finalmente já se acostumou a viver na Califórnia?<br />

— perguntou-lhe Sydney.<br />

Sarah tinha comentado que estava dando trabalho adaptar-se.<br />

— Já, inclusive tem até trabalho. Os pais de Angel lhe disseram<br />

que podia trabalhar aqui no restaurante. Começa semana que vem.<br />

— Mas não dirigirá os livros — disse Angel sorrindo, passando<br />

um refresco a Sarah.<br />

Ela o olhou, horrorizada e ele a beijou.<br />

— Estou brincando.<br />

Sarah fez um movimento com seus olhos e continuou.<br />

— Não ficaremos por muito tempo na casa de minha tia, logo<br />

teremos um apartamento.<br />

— Ainda trabalha de babá? — perguntou-lhe Carina.<br />

— Não, o restaurante esteve muito cheio. Estava trabalhando<br />

aqui, não tive tempo.<br />

— Certo, Lynni me contou que o negócio está florescendo. —<br />

Sydney virou-se para Angel. — Vocês não pensaram em abrir outro<br />

restaurante?<br />

Angel apertou a mão de Sarah. Ainda odiava ouvir como Syd lhe<br />

chamava, mas estava começando a aceitar que isso não ia mudar.<br />

450


— Na realidade — disse-lhe Angel — já estamos planejando.<br />

Sarah e eu estamos pensando em abrir nosso próprio restaurante, ao<br />

terminar a universidade. Meu pai me disse que nos ajudará, mas não<br />

antes de terminarmos os estudos. — Angel se virou para contemplar os<br />

olhos de Sarah. — Primeiro nos casaremos.<br />

No outono, Sarah e Angel iriam à universidade de San Diego.<br />

Sarah esteve muito perto de ir ao Novo México durante o tempo em<br />

que Angel esteve fora de si. Entretanto, apenas umas semanas atrás<br />

receberam a notícia de suas bolsas em San Diego e agora, tudo estava<br />

perfeito. Ela ficaria em La Jolla e poderia trabalhar no restaurante meio<br />

período.<br />

Sydney sorriu.<br />

— Lynni me disse que se fosse por você, já estavam casados.<br />

Angel franziu o cenho.<br />

— Ah, sim. Sim. Esperaremos ela terminar a escola, mas não<br />

mais que isso.<br />

Os músicos começaram a cantar ‘Sabor a Mim’, uma formosa<br />

melodia mexicana, lenta e muito romântica. Sarah sorriu ao ver o<br />

gigante do Alex junto à pequena Valéria. Eles seguiam indo e vindo.<br />

Sarah não os compreendia. Alex olhava para Valéria de forma muito<br />

parecida como Angel a olhava, entretanto, todo o tempo, seguia<br />

jogando com a Valéria. Por várias semanas eram inseparáveis e logo<br />

sumia, lhe enviando algumas mensagens de texto para saber como<br />

estava e Valéria estava segura de que tinha outra pessoa.<br />

451


Algumas pessoas pararam para dançar, incluindo Eric e Sofia.<br />

Angel puxou a mão de Sarah. Ela pôs sua bebida na mesa e ele a levou<br />

a pista de dança. Antes de abraçar Sarah para dançar, deu um<br />

empurrão em Eric.<br />

— Como é cara — disse-lhe Eric, rindo.<br />

Sarah reclinou sua cabeça no largo ombro de Angel e fechou os<br />

olhos. Angel a apertou um pouco mais e lhe deu um beijo na cabeça.<br />

Nunca em todos seus sonhos mais estranhos de quando era pequena,<br />

poderia se imaginar tão feliz. Finalmente, estava em casa.<br />

452

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