02.04.2017 Views

Curso de Direito Constitucional

Este Curso se tornou, desde a sua primeira edição em 2007, um êxito singular. O Prêmio Jabuti de 2008 logo brindou os seus méritos e antecipou a imensa acolhida que vem recebendo pelo público. A vivência profissional dos autores, o primeiro, como Ministro do Supremo Tribunal Federal, e o segundo, como membro do Ministério Público experimentado nos afazeres da Corte, decerto que contribui para que este livro esteja sempre atualizado. Nessa nova edição, a estrutura básica do livro foi mantida e o texto foi colocado em dia com a legislação e a jurisprudência mais recente. Sem esquecer, é claro, de novas inserções de doutrina.

Este Curso se tornou, desde a sua primeira edição em 2007, um êxito singular. O Prêmio Jabuti de 2008 logo brindou os seus méritos e antecipou a imensa acolhida que vem recebendo pelo público. A vivência profissional dos autores, o primeiro, como Ministro do Supremo Tribunal Federal, e o segundo, como membro do Ministério Público experimentado nos afazeres da Corte, decerto que contribui para que este livro esteja sempre atualizado. Nessa nova edição, a estrutura básica do livro foi mantida e o texto foi colocado em dia com a legislação e a jurisprudência mais recente. Sem esquecer, é claro, de novas inserções de doutrina.

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

majoritária. Esse é o ethos <strong>de</strong> uma Corte <strong>Constitucional</strong>. É fundamental<br />

que tenhamos essa visão.<br />

Isso está, na verda<strong>de</strong>, na obra <strong>de</strong> Zagrebelsky, que versa um<br />

tema histórico e teológico fascinante: a crucificação e a<br />

<strong>de</strong>mocracia.<br />

Diz Zagrebelsky:<br />

1088/2051<br />

“Para a <strong>de</strong>mocracia crítica, nada é tão insensato como a divinização<br />

do povo que se expressa pela máxima vox populi, vox <strong>de</strong>i,<br />

autêntica forma <strong>de</strong> idolatria política. Esta grosseira teologia política<br />

<strong>de</strong>mocrática correspon<strong>de</strong> aos conceitos triunfalistas e acríticos<br />

do po<strong>de</strong>r do povo que, como já vimos, não passam <strong>de</strong> adulações<br />

interesseiras.<br />

Na <strong>de</strong>mocracia crítica, a autorida<strong>de</strong> do povo não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> suas<br />

supostas qualida<strong>de</strong>s sobre-humanas, como a onipotência e a<br />

infalibilida<strong>de</strong>.<br />

Depen<strong>de</strong>, ao contrário, <strong>de</strong> fator exatamente oposto, a saber, do fato<br />

<strong>de</strong> se assumir que todos os homens e o povo, em seu conjunto, são<br />

necessariamente limitados e falíveis.<br />

Este ponto <strong>de</strong> vista parece conter uma contradição que é necessário<br />

aclarar. Como é possível confiar na <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> alguém, como<br />

atribuir-lhe autorida<strong>de</strong> quando não se lhe reconhecem méritos e<br />

virtu<strong>de</strong>s, e sim vícios e <strong>de</strong>feitos? A resposta está precisamente no<br />

caráter geral dos vícios e <strong>de</strong>feitos.<br />

A <strong>de</strong>mocracia, em geral, e particularmente a <strong>de</strong>mocracia crítica,<br />

baseia-se em um fator essencial: em que os méritos e <strong>de</strong>feitos <strong>de</strong><br />

um são também <strong>de</strong> todos. Se no valor político essa igualda<strong>de</strong> é<br />

negada, já não teríamos <strong>de</strong>mocracia, quer dizer, um governo <strong>de</strong> todos<br />

para todos; teríamos, ao contrário, alguma forma <strong>de</strong> autocracia,<br />

ou seja, o governo <strong>de</strong> uma parte (os melhores) sobre a outra<br />

(os piores).<br />

Portanto, se todos são iguais nos vícios e nas virtu<strong>de</strong>s políticas, ou,<br />

o que é a mesma coisa, se não existe nenhum critério geralmente<br />

aceito, através do qual possam ser estabelecidas hierarquias <strong>de</strong><br />

mérito e <strong>de</strong>mérito, não teremos outra possibilida<strong>de</strong> senão atribuir a<br />

autorida<strong>de</strong> a todos, em seu conjunto. Portanto, para a <strong>de</strong>mocracia<br />

crítica, a autorida<strong>de</strong> do povo não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> suas virtu<strong>de</strong>s, ao<br />

contrário, <strong>de</strong>spren<strong>de</strong>-se — é necessário estar <strong>de</strong> acordo com isso<br />

— <strong>de</strong> uma insuperável falta <strong>de</strong> algo melhor.” (Zagrebelsky,<br />

Gustavo. La crucifixión y la <strong>de</strong>mocracia, trad. espanhola, Ariel,

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!