Televisão - Entre a Metodologia Analítica e o Contexto Cultural
Este livro tem sua origem no anseio de enfrentar uma dificuldade central para os Estudos de Televisão: como associar a metodologia analítica dos produtos televisivos com o conhecimento de aspectos contextuais? Análise e síntese – a combinação desses dois procedimentos cognitivos nunca é tão fácil quanto parece. Mais difícil ainda configura-se no caso dos Estudos de Televisão.
Este livro tem sua origem no anseio de enfrentar uma dificuldade central para os Estudos de Televisão: como associar a metodologia analítica dos produtos televisivos com o conhecimento de aspectos contextuais? Análise e síntese – a combinação desses dois procedimentos cognitivos nunca é tão fácil quanto parece. Mais difícil ainda configura-se no caso dos Estudos de Televisão.
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O som, especificamente, divide-se em fala, música e efeitos sonoros.<br />
Embora apresente efeitos sonoros e músicas incidentais, as peças em<br />
análise têm como base principal o diálogo, o discurso verbal; se pensarmos<br />
que a situação retrata a proximidade entre o SBT e seu público, o diálogo<br />
torna-se uma escolha pertinente, uma conversa informal e descontraída.<br />
É interessante observar que nas peças analisadas, o SBT não agradece<br />
ao público pela audiência dada ao canal – até porque os números da<br />
época não eram tão dignos de comemoração –, mas exalta os valores<br />
provenientes da interação canal-público; por isso as vinhetas dizem:<br />
“O (A) nosso (a) amor/carinho/atenção/confiança/simpatia/admiração/<br />
amizade/alegria é pra você”.<br />
Por isso, nas vinhetas em análise, a todo momento Silvio Santos tenta<br />
frisar, em tom de modéstia e humildade, que é o SBT que deve agradecer,<br />
admirar, amar, confiar, alegrar-se e dar carinho ao telespectador. O estilo<br />
– a fala de Silvio, especificamente – cumpre aqui a função de saudar/<br />
interpelar o telespectador:<br />
Paraibana: – SBT, a nossa amizade é pra você!<br />
Silvio: – Não, não, paraibana, a nossa amizade é pra vocês que moram<br />
na Paraíba!<br />
Paraibana: – Silvio Santos, o povo da Paraíba te ama!<br />
Silvio: – Ah, eu é que agradeço o povo paraibano a atenção que dão a<br />
mim e aos programas do SBT!<br />
Acreditamos que quando os personagens se colocam diante da<br />
televisão que transmite o SBT dizendo por exemplo “Nosso amor é pra<br />
você”, há aqui um exemplo claro daquilo que François Jost (2010: 51)<br />
chamou de “emissora como pessoa”. Segundo o autor, para a delimitação<br />
de sua identidade, uma emissora televisiva lança mão de duas instâncias:<br />
como “responsável pela programação” e “como pessoa”. A primeira<br />
diz respeito às escolhas da grade de programas, que criam sentido e<br />
forjam um diferencial do canal. Já a segunda refere-se à imagem de si<br />
mesma que a emissora projeta, uma personalidade construída aos olhos<br />
do telespectador que conta com operadores para que esse ethos seja<br />
comunicado: a publicidade, a autopromoção, a “vestimenta” (entendida<br />
por nós como a unidade gráfico-visual) e a logomarca.<br />
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