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Televisão - Entre a Metodologia Analítica e o Contexto Cultural

Este livro tem sua origem no anseio de enfrentar uma dificuldade central para os Estudos de Televisão: como associar a metodologia analítica dos produtos televisivos com o conhecimento de aspectos contextuais? Análise e síntese – a combinação desses dois procedimentos cognitivos nunca é tão fácil quanto parece. Mais difícil ainda configura-se no caso dos Estudos de Televisão.

Este livro tem sua origem no anseio de enfrentar uma dificuldade central para os Estudos de Televisão: como associar a metodologia analítica dos produtos televisivos com o conhecimento de aspectos contextuais? Análise e síntese – a combinação desses dois procedimentos cognitivos nunca é tão fácil quanto parece. Mais difícil ainda configura-se no caso dos Estudos de Televisão.

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Através do ar cheio de fumaça nós vemos Ken, Dick, Harry, Salvatore<br />

e Pete sentados em uma cabine no canto. Eles estão bebendo e sorrindo,<br />

mas Pete não está no clima para participar (WEINER, 2006b: 42) 59 .<br />

Aqui, o ar cheio de fumaça e o clima de Pete na festa são indicações<br />

diretas de uma atmosfera, da criação de uma ambiência particular em que<br />

o visível, no nível sensório (a fumaça) está diretamente relacionado com<br />

o afetivo, no nível dramático (o espírito de Pete na própria festa), ambos<br />

mediados por um estilo de escrita específico (nível linguístico). Mad Men,<br />

enquanto narrativa seriada, buscou em sua longa vida replicar essa lógica<br />

de organização do mundo ficcional, até o último plano da série, quando<br />

Don Draper, mesmo iluminado por um sorriso discreto ao som de um<br />

sino meditativo, teria (ou não?) planejado a famosa campanha da Coca-<br />

Cola, Hilltop, ao som de uma canção louvando a humanidade, tão cínica<br />

quanto emblemática.<br />

É portanto ao usar a fumaça para produzir, sensorialmente, essa<br />

atmosfera de ambiguidade que tão bem define Mad Men, que o roteiro<br />

do episódio piloto desempenha com perfeição o seu ofício: define que<br />

é, e o que será, numa repetição que eternamente se inova, não só os<br />

personagens, o modelo episódico ou mesmo os conflitos que a longo<br />

prazo se tensionam, mas o próprio espírito seriado que tão fortemente<br />

afeta os seus espectadores e assim garante, para além de uma publicidade<br />

deslumbrada ou de fidelizações circunstancialmente emotivas, uma<br />

experiência estética de fato singular.<br />

Referências<br />

DIMAGGIO, Madeline. How to write for television. New York: Touchstone, 2008.<br />

FELINTO, Erick. Passeando no labirinto: Ensaios sobre as Tecnologias e as Materialidades da<br />

Comunicação. Porto Alegre: PUCRS, 2006.<br />

____________. Materialidades da comunicação: por um novo lugar da matéria na teoria da<br />

comunicação. Ciberlegenda, n.º 05, 2001. Disponível em: http://www.ciberlegenda.uff.br/index.<br />

php/revista/article/view/308 Acesso em: 11 jul. 2016.<br />

59<br />

Original em inglês. Tradução nossa. “Live jazz sizzles in the background. A buxom blonde STRIPPER is onstage.<br />

She unzips her dress in the back and slowly shakes it to the floor. Through the smoke-filled air we see Ken, Dick,<br />

Harry, Salvatore, and Pete sitting at a corner booth. They are drinking and laughing, but Pete is in no mood to<br />

participate”.<br />

91

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