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Televisão - Entre a Metodologia Analítica e o Contexto Cultural

Este livro tem sua origem no anseio de enfrentar uma dificuldade central para os Estudos de Televisão: como associar a metodologia analítica dos produtos televisivos com o conhecimento de aspectos contextuais? Análise e síntese – a combinação desses dois procedimentos cognitivos nunca é tão fácil quanto parece. Mais difícil ainda configura-se no caso dos Estudos de Televisão.

Este livro tem sua origem no anseio de enfrentar uma dificuldade central para os Estudos de Televisão: como associar a metodologia analítica dos produtos televisivos com o conhecimento de aspectos contextuais? Análise e síntese – a combinação desses dois procedimentos cognitivos nunca é tão fácil quanto parece. Mais difícil ainda configura-se no caso dos Estudos de Televisão.

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Fig. 3: Três executivos brancos e o ascensorista negro. Fonte: Mad Men, DVD da Primeira<br />

Temporada, AMC.<br />

Em seguida na cena, “uma jovem e atraente secretária, segurando<br />

a bolsa à frente do peito, sobe no elevador e vira as costas para eles.<br />

Os três homens se entreolham e acenam a cabeça afirmativamente”<br />

(WEINER, 2006b: 7). Depois de um comentário malicioso de Ken, os<br />

outros rapazes olham de modo lascivo para a jovem secretária, que se<br />

contrai recatada e olha para baixo. Além de um ordenamento racial<br />

bem estabelecido – o homem negro precisa ser caracterizado, o homem<br />

branco é subentendido –, a cena rapidamente nos aponta que a questão<br />

de gênero estará no horizonte da série (nas temporadas seguintes, ainda<br />

que a questão racial tenha emergido com as lutas por direitos civis nos<br />

Estados Unidos, nenhum personagem negro vira protagonista ou mesmo<br />

coadjuvante de destaque. O mesmo não se pode dizer do papel que as<br />

personagens femininas desempenham até o final).<br />

Essa jovem secretária que entra no elevador é Peggy, figura central<br />

para a história. Além dessa caracterização mais direta, “jovem e atraente”,<br />

Peggy só será descrita de novo mais adiante, quando Joan Holloway a<br />

introduz ao novo ambiente de trabalho, fazendo comentários tanto sobre<br />

a estrutura organizacional da agência quanto sobre o melhor modo de<br />

agradar o padrão: “Eu não sei quais são os seus objetivos aqui, mas não<br />

exagere no perfume” (WEINER, 2006b: 11) 56 . E mais adiante explica para<br />

56<br />

Original em inglês: “I don’t know what your goals are, but don’t over-do it with the perfume”.<br />

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