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Televisão - Entre a Metodologia Analítica e o Contexto Cultural

Este livro tem sua origem no anseio de enfrentar uma dificuldade central para os Estudos de Televisão: como associar a metodologia analítica dos produtos televisivos com o conhecimento de aspectos contextuais? Análise e síntese – a combinação desses dois procedimentos cognitivos nunca é tão fácil quanto parece. Mais difícil ainda configura-se no caso dos Estudos de Televisão.

Este livro tem sua origem no anseio de enfrentar uma dificuldade central para os Estudos de Televisão: como associar a metodologia analítica dos produtos televisivos com o conhecimento de aspectos contextuais? Análise e síntese – a combinação desses dois procedimentos cognitivos nunca é tão fácil quanto parece. Mais difícil ainda configura-se no caso dos Estudos de Televisão.

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hipótese, portanto, é que o movimento instável e tenso entre esses níveis<br />

– em que um contribui e atrapalha o outro, simultaneamente –, define<br />

em grande medida a relação que o texto do roteiro estabelece com o<br />

programa em sua materialidade audiovisual.<br />

Para iniciar, é importante estabelecermos um recorte para o problema<br />

da coleta do material. Dentro de um esquema produtivo em que o roteiro,<br />

muitas vezes, não se prolonga como um membro a mais da cadeia produtiva<br />

que cerca o filme ou o programa – através, por exemplo, de sua publicação<br />

na forma de livro –, como podemos ter acesso aos diferentes tratamentos<br />

que compõem o processo criativo de construção da dramaturgia seriada<br />

contemporânea? Mesmo no caso de uma publicação, sempre devemos<br />

levar em conta, exatamente, que versão do roteiro está sendo publicada:<br />

é a versão final antes de ser gravado, é a versão utilizada no processo<br />

de avaliação institucional do projeto, ou mesmo uma versão revista e<br />

atualizada feita especialmente para o caso da publicação? Já aí temos uma<br />

série de problemas a serem avaliados, mas podemos acrescentar mais um:<br />

muitas vezes, a publicação dos roteiros de séries não é feita na versão<br />

script, mas transcript, ou seja, uma transcrição em palavras das cenas e<br />

diálogos que aparecem nas imagens, o mais literalmente possível. Afinal,<br />

qual ou quais roteiros podemos tomar como referência para o tipo que<br />

análise que pretendemos realizar?<br />

Aqui nos vemos mais uma vez diante de escolhas de escopo e recorte<br />

metodológico que implicam, invariavelmente, limitações no horizonte da<br />

análise. No caso de Mad Men, o piloto fora escrito no início do ano 2000,<br />

como um spec pilot, 51 mas sua produção só ocorreu seis anos depois,<br />

tendo a série estreado em sequência, em 2007. Há que se imaginar a<br />

quantidade de alterações, ajustes, acréscimos e supressões de cenas,<br />

diálogos e mesmo personagens, ocorridos durante esses anos. Por isso<br />

mesmo, ao invés de buscarmos definir uma versão específica do roteiro<br />

como aquela mais adequada para a análise, ou mesmo recuperar, em um<br />

esforço hercúleo de cartografia genética, todas as versões escritas durante<br />

o processo de roteirização, torna-se mais válido analiticamente, e mais<br />

51<br />

De acordo com William Rabkin (2011: 2. Tradução nossa), um spec script “é, com certeza, um roteiro escrito em<br />

especulação – ou seja, um roteiro que ninguém solicitou, ninguém vai pagar por ele, e ninguém quer de fato<br />

ler”. No caso de Mad Men, o roteiro era um piloto de especulação, escrito por Weiner inicialmente para servir<br />

como parte do seu portfólio para futuros empregos. Foi assim, na verdade, que David Chase, criador da série The<br />

Sopranos, contratou Weiner para ser parte do seu staff de roteiristas.<br />

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