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Televisão - Entre a Metodologia Analítica e o Contexto Cultural

Este livro tem sua origem no anseio de enfrentar uma dificuldade central para os Estudos de Televisão: como associar a metodologia analítica dos produtos televisivos com o conhecimento de aspectos contextuais? Análise e síntese – a combinação desses dois procedimentos cognitivos nunca é tão fácil quanto parece. Mais difícil ainda configura-se no caso dos Estudos de Televisão.

Este livro tem sua origem no anseio de enfrentar uma dificuldade central para os Estudos de Televisão: como associar a metodologia analítica dos produtos televisivos com o conhecimento de aspectos contextuais? Análise e síntese – a combinação desses dois procedimentos cognitivos nunca é tão fácil quanto parece. Mais difícil ainda configura-se no caso dos Estudos de Televisão.

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essas condições trabalham diretamente para produzir efeitos específicos,<br />

que Gumbrecht chama de “efeitos de presença”. Ou seja, não se trata de<br />

uma superação do sentido pela presença, do significado pelo significante,<br />

mas de uma atenção renovada para o modo como as materialidades<br />

trabalham na produção da experiência estética, concebida então “como<br />

uma oscilação (às vezes, uma interferência) entre ‘efeitos de presença’ e<br />

‘efeitos de sentido’” (GUMBRECHT, 2010: 22).<br />

O roteiro produz efeitos de presença muito diferentes do episódio<br />

exibido na televisão. Embora contem a mesma história, evoquem a mesma<br />

dramaturgia, roteiro e episódio promovem vivências diversas. O que<br />

constitui, portanto, os efeitos de presença produzidos pelo roteiro? Para<br />

tentar responder a essa pergunta, inserimos a nossa preocupação aqui com<br />

uma estilística do roteiro audiovisual dentro de um universo conceitual<br />

específico, que, assim o julgamos, pode contribuir determinantemente<br />

para a melhor compreensão desse fenômeno. Trata-se de uma guinada<br />

bastante significativa no próprio horizonte de preocupações dos estudos<br />

de televisão, visto que pretendemos trabalhar nos interstícios, nas zonas<br />

de fronteiras entre mídias, entre literatura e audiovisual. Talvez, só assim,<br />

possamos entender melhor o que caracteriza o roteiro como obra de<br />

passagem, uma presença oculta, de temporalidade indeterminada, a meio<br />

caminho entre a matéria e o desaparecimento.<br />

Algumas hipóteses metodológicas<br />

Nosso objetivo neste artigo é analisar algumas cenas do episódio piloto<br />

da série de televisão norte-americana Mad Men, escrita por Matthew Weiner,<br />

e exibida entre 2007 e 2015 pelo canal a cabo AMC, tendo como foco o<br />

modo como o texto escrito no roteiro indica, inaugura e, em último caso,<br />

presentifica elementos de linguagem audiovisual que serão determinantes<br />

para o programa em sua longa vida. Para tanto, pretendemos conciliar –<br />

talvez com menos sucesso do que verdadeiramente desejado, mas com<br />

a certeza do risco da aposta – uma análise cotejada entre o texto e as<br />

imagens/sons, querendo com isso não apenas identificar os índices de<br />

uma tradução intersemiótica evidente, mas sobretudo compreender como<br />

o roteiro, textualmente, é capaz de produzir uma série de “efeitos de<br />

presença”, que funcionam em três níveis dinâmicos e inter-relacionados:<br />

o nível linguístico, o nível sensório e o nível dramático/narrativo. Nossa<br />

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