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Televisão - Entre a Metodologia Analítica e o Contexto Cultural

Este livro tem sua origem no anseio de enfrentar uma dificuldade central para os Estudos de Televisão: como associar a metodologia analítica dos produtos televisivos com o conhecimento de aspectos contextuais? Análise e síntese – a combinação desses dois procedimentos cognitivos nunca é tão fácil quanto parece. Mais difícil ainda configura-se no caso dos Estudos de Televisão.

Este livro tem sua origem no anseio de enfrentar uma dificuldade central para os Estudos de Televisão: como associar a metodologia analítica dos produtos televisivos com o conhecimento de aspectos contextuais? Análise e síntese – a combinação desses dois procedimentos cognitivos nunca é tão fácil quanto parece. Mais difícil ainda configura-se no caso dos Estudos de Televisão.

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–, os estudos das materialidades, de origem primordialmente alemã, 50<br />

buscam entender como as mídias por meio das quais são transmitidos<br />

os sentidos contribuem ou atrapalham, organizam ou desorganizam,<br />

influem, modulam e interferem diretamente na produção do sentido.<br />

Trata-se de uma guinada teórica que busca atentar para a própria<br />

experiência concreta de contato, de toque, de manuseio da mídia, cuja<br />

tecnologia determina, diretamente, a relação que, por exemplo, leitor<br />

ou espectador estabelecem com uma obra literária ou audiovisual. Hans<br />

Ulrich Gumbrecht (2010), relembrando o processo que levou à definição<br />

dessa mudança epistemológica, nos mostra que “‘Materialidades da<br />

Comunicação’, foi então decidido, ‘são todos os fenômenos e condições<br />

que contribuem para a produção de sentido, sem serem, eles mesmos,<br />

sentido’” (2010: 28). Isso implica, avançando no destrinchamento do<br />

conceito, que:<br />

falar em “materialidades da comunicação” significa ter em mente que<br />

todo ato de comunicação exige a presença de um suporte material para<br />

efetivar-se. Que os atos comunicacionais envolvam necessariamente a<br />

intervenção de materialidades, significantes ou meios pode parecer-nos<br />

uma ideia já tão assentada e natural que indigna de menção. Mas é<br />

precisamente essa naturalidade que acaba por ocultar diversos aspectos<br />

e consequências importantes das materialidades na comunicação – tais<br />

como a ideia de que a materialidade do meio de transmissão influencia e<br />

até certo ponto determina a estruturação da mensagem comunicacional<br />

(FELINTO, 2001: 3).<br />

Isso nos traz um importante ponto de reflexão para entender a<br />

relação entre o roteiro e a obra audiovisual: visto que ambos buscam<br />

contar a mesma história, mesmos personagens, mesma dramaturgia,<br />

mesma organização de cenas, sequências e transições, como considerar<br />

experiências estéticas diferentes a leitura do roteiro e o visionamento do<br />

filme/série? Uma importante chave de entendimento, aqui, é o conceito de<br />

“produção de presença”, desenvolvido por Gumbrecht (2010). Segundo<br />

ele, não se pode entender o relacionamento entre os sujeitos e as obras<br />

artísticas apenas no âmbito do sentido, do inteligível, do significado, visto<br />

que cada obra impõe determinadas condições materiais de existência, e<br />

50<br />

No Brasil, trata-se de um campo ainda recente de investigações, mas já com uma sólida tradição tanto no universo<br />

dos estudos literários, quanto no campo da comunicação. Sobre isso, cf. FELINTO, 2006.<br />

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