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Televisão - Entre a Metodologia Analítica e o Contexto Cultural

Este livro tem sua origem no anseio de enfrentar uma dificuldade central para os Estudos de Televisão: como associar a metodologia analítica dos produtos televisivos com o conhecimento de aspectos contextuais? Análise e síntese – a combinação desses dois procedimentos cognitivos nunca é tão fácil quanto parece. Mais difícil ainda configura-se no caso dos Estudos de Televisão.

Este livro tem sua origem no anseio de enfrentar uma dificuldade central para os Estudos de Televisão: como associar a metodologia analítica dos produtos televisivos com o conhecimento de aspectos contextuais? Análise e síntese – a combinação desses dois procedimentos cognitivos nunca é tão fácil quanto parece. Mais difícil ainda configura-se no caso dos Estudos de Televisão.

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o texto escrito projeta uma imagem e um som, ainda que essa projeção<br />

seja aparentemente metafísica: está naquele lugar nebuloso, vacilante,<br />

oriundo da semântica do texto, mas cuja potência estética só se manifesta<br />

adiante, nas imagens e sons cuja presença se produz, de fato, in absentia.<br />

Ao falarmos, portanto, de estudo do roteiro, uma seara teórica fecunda,<br />

que sintetize a preocupação com a estrutura sintática e com a semântica<br />

cultural, constitui um terreno ainda pouco desbravado. 49 Isso, ao passo<br />

que impõe severas dificuldades teórico-metodológicas, também nos<br />

oferece um instigante desafio, uma página em branco em que podemos<br />

traçar novos caminhos, rotas imprevistas que poderão quiçá nos conduzir<br />

a uma leitura menos ortodoxa das relações entre imagem e palavra, entre<br />

literatura e audiovisual e, mais especificamente, entre a análise televisiva<br />

e as inúmeras possibilidades do roteiro seriado, enquanto texto específico<br />

de construção de dramaturgia contemporânea.<br />

Para isso, vamos propor aqui um diálogo com alguns conceitos que,<br />

julgamos, podem iluminar a nossa análise. Não se trata, pelo menos<br />

por enquanto, da elaboração de um modelo analítico particular para a<br />

análise de roteiros de séries – em um ponto ulterior de nossa pesquisa,<br />

poderemos talvez desenhar isso com mais clareza. Por ora, vamos ensaiar<br />

algumas aproximações conceituais e metodológicas entre os estudos de<br />

intermidialidade, de literatura e de televisão.<br />

Inicialmente, devemos aqui refletir sobre o conceito de intermidialidade,<br />

a partir do qual podemos pensar a relação entre o texto do roteiro e o<br />

episódio realizado como um complexo sistema de trocas e misturas de<br />

códigos, signos e sentidos. Isso significa que não estamos considerando<br />

mais, entre roteiro e programa, uma relação apenas “intertextual”, base<br />

para boa parte das pesquisas que investigam as relações entre literatura<br />

e cinema/televisão, sobretudo nos estudos de adaptação e de tradução.<br />

Adalberto Müller procura estabelecer com clareza essa distinção<br />

importante entre os estudos de intertextualidade e intermidialidade:<br />

Dentro desse processo, literatura e cinema devem ser entendidos como<br />

mídias que se interrelacionam de modos diversos, dentro de um universo<br />

midiático bastante amplo, que inclui mídias diversas como a oral, a<br />

49<br />

Uma importante referência nesse tipo de análise pode ser encontrada na tese de doutorado de Pablo Gonçalo<br />

(2015), em que ele estuda a relação entre cinema e literatura na colaboração entre Wim Wenders e Peter Handke.<br />

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