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Televisão - Entre a Metodologia Analítica e o Contexto Cultural

Este livro tem sua origem no anseio de enfrentar uma dificuldade central para os Estudos de Televisão: como associar a metodologia analítica dos produtos televisivos com o conhecimento de aspectos contextuais? Análise e síntese – a combinação desses dois procedimentos cognitivos nunca é tão fácil quanto parece. Mais difícil ainda configura-se no caso dos Estudos de Televisão.

Este livro tem sua origem no anseio de enfrentar uma dificuldade central para os Estudos de Televisão: como associar a metodologia analítica dos produtos televisivos com o conhecimento de aspectos contextuais? Análise e síntese – a combinação desses dois procedimentos cognitivos nunca é tão fácil quanto parece. Mais difícil ainda configura-se no caso dos Estudos de Televisão.

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teledramaturgia de Benedito Ruy Barbosa, desde a década de 1960.<br />

Verificamos que esse tema, em sua visualidade, revela as estruturas de<br />

mandonismo e de clientelismo figuradas, em um determinado grupo, na<br />

personagem identificada por coronel. Essa personagem presente quer seja<br />

no protagonismo ou nas posições secundárias das tramas, na maioria das<br />

vezes, é masculina, 45 e, obviamente, controladora de recursos estratégicos<br />

para um determinado ciclo econômico, em diferentes estágios da História<br />

da República Brasileira.<br />

Lopes caracteriza as telenovelas de Barbosa, especificamente,<br />

como as que mais trabalham “com a temática rural” (LOPES, 2003:<br />

27). Concordamos, em parte, com essa perspectiva, mas sugerimos o<br />

acréscimo de uma componente notável 46 , em termos da observação da<br />

nossa realidade sociopolítica: a terra, não só como fonte de recursos e<br />

produção e, assim, catalisadora das relações de poder e mando; mas,<br />

também, como espaço simbólico em que emerge o estatuto demiúrgico<br />

da posse e as constantes manifestações do imaginário (DURAND, 2002) e<br />

do realismo maravilhoso (CHIAMPI, 1980).<br />

A teledramaturgia de Barbosa representa, ainda, a diversidade étnica<br />

e as identidades culturais que caracterizam o Brasil e, também, os demais<br />

países latino-americanos. De início, delineamos seis grupos temáticos 47 :<br />

Grupo 1: Histórias de fazendeiros – composto por dez telenovelas (entre<br />

1971 e 2016) cujos protagonistas são os fazendeiros e destacam a posse<br />

da terra. Estão nesse grupo as telenovelas: Velho Chico (TV Globo, 2016);<br />

Meu pedacinho de chão (TV Globo, 2014 e 1971); Paraíso (TV Globo,<br />

2009 e 1982); O rei do gado (TV Globo, 1996/97); Renascer (TV Globo,<br />

1993); Pantanal (TV Globo, 1990); Voltei pra você (TV Globo, 1983/84)<br />

e Jerônimo, o herói do sertão (TV Tupi, 1972).<br />

Grupo 2: Histórias das imigrações – reúne quatro telenovelas (entre<br />

1981 e 2003) cujos protagonistas são imigrantes italianos, espanhóis e<br />

portugueses, notadamente. Estão nesse grupo as telenovelas: Esperança<br />

45<br />

Registramos as personagens femininas em: 1) Esperança, com Francisca “Mão-de-ferro” (Lúcia Veríssimo), viúva<br />

de um grande produtor de café no interior paulista; 2) Sinhá moça (1986 e 2006), em que a protagonista, Maria<br />

da Graça (Lucélia Santos/Débora Falabella) herda do pai, a fazenda de café, também, no interior paulista.<br />

46<br />

No sentido de digno de atenção.<br />

47<br />

Os grupos foram organizados, por nós, a partir das sinopses que oscilam entre a proposição de roteiros originais<br />

e de roteiros adaptados.<br />

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