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Televisão - Entre a Metodologia Analítica e o Contexto Cultural

Este livro tem sua origem no anseio de enfrentar uma dificuldade central para os Estudos de Televisão: como associar a metodologia analítica dos produtos televisivos com o conhecimento de aspectos contextuais? Análise e síntese – a combinação desses dois procedimentos cognitivos nunca é tão fácil quanto parece. Mais difícil ainda configura-se no caso dos Estudos de Televisão.

Este livro tem sua origem no anseio de enfrentar uma dificuldade central para os Estudos de Televisão: como associar a metodologia analítica dos produtos televisivos com o conhecimento de aspectos contextuais? Análise e síntese – a combinação desses dois procedimentos cognitivos nunca é tão fácil quanto parece. Mais difícil ainda configura-se no caso dos Estudos de Televisão.

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gente tem que fazer, pra merecer uma bondade dessa?”. O fazendeiro<br />

é incisivo: “Não é bondade, não, Regino. Eu tô lhe propondo um<br />

negócio. Não vou lhe dar nada de graça, não. Nem as terra, nem os<br />

boi, nem a ajuda que vocês precisarem. Vocês vão me pagar tudo com<br />

trabalho.”. Na segunda linha, os frames correspondem ao clímax do<br />

diálogo, ou seja, ao momento em que Bruno elucida a natureza da<br />

proposta que envolve abandonar a causa dos sem-terra e trabalhar<br />

para o fazendeiro em regime de parceria de produção. Assim, o<br />

enquadramento alterna o primeiro e o primeiríssimo plano, pois as<br />

minúcias do negócio serão pormenorizadas por Bruno, com o dedo<br />

em riste, sendo ouvido atentamente por Regino:<br />

BRUNO – Veja só, as terra que eu vou dá pra vocês, eu não vou invadir,<br />

não. Eu vou comprar. Os boi, eu não vou tirar do meu rebanho porque<br />

isso não me custou barato. E nem a ajuda que vocês precisarem, eu vou<br />

dar esse dinheiro de graça pra vocês. Eu vou dar a vocês é um crédito<br />

que banco nenhum daria. E a única garantia que eu vou querer é a sua<br />

palavra.<br />

REGINO – Pelo que eu tô entendendo, seu Bruno, você quer que a gente<br />

seja vosso empregado.<br />

BRUNO – Não. Eu quero que vocês sejam meus parceiro.<br />

Há, na sequência, um corte para outra cena, na sala da mansão<br />

de Bruno Mezenga, onde uma ansiosa Jacira espera o resultando da<br />

conversa do marido com o “Rei do Gado”, ao lado de Luana e o casal de<br />

filhos do fazendeiro. Há outro corte e retornamos ao escritório. A terceira<br />

linha corresponde, justamente, a esta parte e é, pois, a ocasião em que<br />

observamos a mudança mais sensível de enquadramento. O diálogo se<br />

reinicia com Regino, em pé, em primeiro plano, de costas para Bruno.<br />

Nesse momento, como os interlocutores não estão mais frente a frente,<br />

é possível observar no primeiro, segundo e quarto frames as reações e<br />

a postura de cada personagem em cena. Desta vez, Regino, em primeiro<br />

plano, está mais iluminado dando ênfase em seu momento de hesitação e<br />

o fato de estar de costas para o latifundiário prenuncia o seu desacordo.<br />

Bruno está ao fundo, ainda sentado à mesa de trabalho e, agora, fumando<br />

cachimbo. A sequência evolui destacando a postura emocional e grave<br />

de Regino, diante da postura racional de Bruno. O líder dos sem-terra<br />

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