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Televisão - Entre a Metodologia Analítica e o Contexto Cultural

Este livro tem sua origem no anseio de enfrentar uma dificuldade central para os Estudos de Televisão: como associar a metodologia analítica dos produtos televisivos com o conhecimento de aspectos contextuais? Análise e síntese – a combinação desses dois procedimentos cognitivos nunca é tão fácil quanto parece. Mais difícil ainda configura-se no caso dos Estudos de Televisão.

Este livro tem sua origem no anseio de enfrentar uma dificuldade central para os Estudos de Televisão: como associar a metodologia analítica dos produtos televisivos com o conhecimento de aspectos contextuais? Análise e síntese – a combinação desses dois procedimentos cognitivos nunca é tão fácil quanto parece. Mais difícil ainda configura-se no caso dos Estudos de Televisão.

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O mandonismo, de acordo com Leal (1997) e Carvalho (1997), se<br />

refere às estruturas oligárquicas e personalizadas de poder arbitrário. Há<br />

várias designações: mandão, potentado, chefe e coronel. Geralmente,<br />

qualifica o indivíduo que tem a posse algum recurso estratégico para<br />

o ciclo econômico. Historicamente, o mandonismo envolve detenção<br />

de cargos públicos, por representantes dos mandões locais, que tinham<br />

acesso ao erário e facilidades de crédito, pelo “voto de cabresto” e pelas<br />

disputas com outros mandões. Cumpre ressaltar, em concordância com<br />

Carvalho (1997), que o mandonismo não é um sistema, é uma característica<br />

da política tradicional existente desde colonização. Segundo o autor, a<br />

tendência é que o mandonismo desapareça à medida que os direitos civis<br />

se estendem para a população nos limites do território nacional.<br />

Já o conceito de clientelismo refere-se, de acordo com Leal (1997)<br />

e Carvalho (1997) às relações bilaterais de troca entre atores sociais e<br />

políticos de poder desigual. Segundo Carvalho, o clientelismo é um tipo<br />

de relação que envolve concessão de benefícios públicos, fiscais, de<br />

crédito, de isenções e de troca de apoio político. Os autores explicam<br />

que o clientelismo e o mandonismo são fenômenos mais amplos que o<br />

coronelismo, mas elucidam que é inegável que o coronelismo envolve<br />

relações de troca de natureza clientelística. Carvalho esclarece, ainda, que<br />

as expressões do mandonismo e do clientelismo mudam, historicamente,<br />

“de acordo com os recursos controlados pelos atores políticos, em nosso<br />

caso pelos mandões e pelo governo” (CARVALHO, 1997).<br />

Assim, cremos que Zé Inocêncio, nos momentos em que é enquadrado<br />

com o dedo indicador em riste, tem sua composição assentada numa<br />

estrutura de mando, pois esta é, em termos históricos e políticos, mais ampla<br />

e ostensiva. A dimensão do maravilhoso amplia a pretensa confiabilidade<br />

de suas palavras, pois alça o mandão ao pedestal das deidades. Não há<br />

comiseração, nem no instante em que ele percebe que Tião crê em suas<br />

palavras e o tem na conta de um justiceiro, em verdade um traidor que<br />

subjuga seu interlocutor. No dedo em riste não há apenas, ao que salta aos<br />

nossos olhos, uma expressão de instrução, mas de sentença.<br />

Tião, ao sair dali, dará consecução ao plano e criará, de fato, uma<br />

galinha preta dentro de uma gaiola, da qual não se separará nem para<br />

dormir, ou seja, ele se agarrará à possibilidade desesperada de tirar a<br />

família da miséria, sabendo que perderá um filho. A personagem passa<br />

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