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Televisão - Entre a Metodologia Analítica e o Contexto Cultural

Este livro tem sua origem no anseio de enfrentar uma dificuldade central para os Estudos de Televisão: como associar a metodologia analítica dos produtos televisivos com o conhecimento de aspectos contextuais? Análise e síntese – a combinação desses dois procedimentos cognitivos nunca é tão fácil quanto parece. Mais difícil ainda configura-se no caso dos Estudos de Televisão.

Este livro tem sua origem no anseio de enfrentar uma dificuldade central para os Estudos de Televisão: como associar a metodologia analítica dos produtos televisivos com o conhecimento de aspectos contextuais? Análise e síntese – a combinação desses dois procedimentos cognitivos nunca é tão fácil quanto parece. Mais difícil ainda configura-se no caso dos Estudos de Televisão.

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suas obras. No entanto, a forma com que esse passado é inserido<br />

na diegese 23 causa estranhamento, pois os elementos típicos daquele<br />

tempo idealizado são utilizados fora de seu contexto. As histórias,<br />

geralmente, passam-se no tempo presente, mas as paisagens imagéticas<br />

e sonoras não condizem com ele, pois fazem alusão a uma época<br />

passada.<br />

Essa verdadeira obsessão de Lynch pelos anos 1950 não é negada por<br />

ele, como mostra nessa entrevista a Ana Maria Bahiana:<br />

Sou louco pelos anos 50 e tudo o que se refere aos anos 50. Mas, para<br />

mim, quando eu me refiro aos anos 50, tanto em imagem quanto em<br />

som, estou me referindo na verdade a uma lembrança dos anos 50 (...)<br />

Uma coisa nostálgica (BAHIANA, 1996: 42)<br />

Essa mistura de universos artísticos e estilísticos e de ícones de<br />

épocas distintas – com destaque aos anos cinquenta na obra de Lynch<br />

–, numa visão ao mesmo tempo nostálgica e crítica, pode ser vista,<br />

conforme vimos, como uma das características da chamada arte pósmoderna.<br />

É interessante observar a forma como o próprio Lynch, em junho de<br />

1995, quando começou a trabalhar no roteiro de A estrada perdida (Lost<br />

highway, EUA, 1997), descreveu o que viria a ser o filme, evidenciando a<br />

mistura de gêneros e o jogo com a questão temporal:<br />

Um filme de horror noir do século 21.<br />

Uma investigação gráfica sobre crises de identidade paralelas.<br />

Um mundo onde o tempo está perigosamente fora de controle.<br />

Um passeio aterrorizante pela estrada perdida.<br />

David Lynch<br />

Junho de 1995<br />

(LYNCH E GIFFORD, 1997: 3 – tradução dos autores)<br />

23<br />

Seguimos aqui o conceito trabalhado no livro A estética do filme: “A diegese é, portanto, em primeiro lugar, a<br />

história compreendida como pseudomundo, como universo fictício, cujos elementos se combinam para formar<br />

uma globalidade. A partir de então, é preciso compreendê-la como o significado último da narrativa: é a ficção<br />

no momento em que não apenas ela se concretiza, mas também se torna una.” (AUMONT et al., 1995: 114).<br />

45

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