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Televisão - Entre a Metodologia Analítica e o Contexto Cultural

Este livro tem sua origem no anseio de enfrentar uma dificuldade central para os Estudos de Televisão: como associar a metodologia analítica dos produtos televisivos com o conhecimento de aspectos contextuais? Análise e síntese – a combinação desses dois procedimentos cognitivos nunca é tão fácil quanto parece. Mais difícil ainda configura-se no caso dos Estudos de Televisão.

Este livro tem sua origem no anseio de enfrentar uma dificuldade central para os Estudos de Televisão: como associar a metodologia analítica dos produtos televisivos com o conhecimento de aspectos contextuais? Análise e síntese – a combinação desses dois procedimentos cognitivos nunca é tão fácil quanto parece. Mais difícil ainda configura-se no caso dos Estudos de Televisão.

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Não se trata de pensar a produção de Lynch a partir de Hassan, 16<br />

nem de estabelecer relações da produção lynchiana com o que possa ser<br />

estritamente moderno ou pós-moderno, porque uma das características<br />

de sua obra está exatamente na ausência de hierarquia entre movimentos,<br />

modelos e escolas, mas propor uma análise, ou mesmo uma discussão,<br />

de como Lynch traz essas características para a televisão, e mais<br />

especificamente para uma rede aberta, a ABC, em horário nobre, 21h.<br />

O universo lynchiano<br />

É claro que, à primeira vista, a explicação pode parecer simples,<br />

ligada ao fato da formação de Lynch, 17 e de seu vasto conhecimento<br />

das vanguardas artísticas; quando centramos o olhar para essas ligações,<br />

é claro que percebemos afinidades e influências entre artistas que ele<br />

admirava e sua produção, não só artistas plásticos e literários. 18 Ou,<br />

se vamos aos estudos dos movimentos e de suas propostas, também<br />

observamos que Lynch, embora tenha o surrealismo muito presente em<br />

16<br />

Em 1982, Ihab Hassan reviu suas primeiras posições sobre modernismo-pós-modernismo. De acordo com<br />

Steven Connor: “The Dismemberment of Orpheus contém um ‘Posfácio’ acrescentado na edição de 1982 que<br />

faz um movimento diferente. Embora continue a afirmar não haver ruptura absoluta entre o modernismo e<br />

o pós-modernismo, já que a ‘história é um palimpsesto e a cultura é permeável ao tempo passado, presente,<br />

futuro’ (TPL, 264), Hassan agora tem muito mais confiança para estabelecer os termos que permitam ver o pósmodernismo<br />

como oposto ao modernismo, e não como reformulação dele.” (CONNOR, 1993: 94).<br />

17<br />

Por volta dos dezoito anos, David Lynch decidiu estudar pintura no Corcoran School of Art, em Washington DC,<br />

e acabou dividindo um pequeno apartamento com seu amigo Jack Fisk, que posteriormente acabaria se tornando<br />

um colaborador frequente nos primeiros trabalhos audiovisuais do diretor. Eles moraram por pouco tempo<br />

juntos, pois Lynch mudou-se e foi estudar no Boston Museum School, onde ficou durante um ano. Decidiu viajar,<br />

junto com Fisk, para a Europa, onde pretendiam permanecer por três anos estudando artes plásticas. Ele tinha<br />

dezenove anos na época. Lynch conseguira uma carta de recomendação de um professor de pintura do Boston<br />

Museum School e iria estudar com o pintor Oskar Kokoschka. A viagem de Lynch e Fisk, no entanto, durou<br />

apenas quinze dias. De volta aos EUA, Lynch trabalhou em casas de arte, em lojas de molduras, enfim, teve vários<br />

empregos, mas não permanecia muito tempo em nenhum deles. Conseguiu, então, entrar para a Pennsylvania<br />

Academy of Fine Arts, na Filadélfia, em 1965, seguindo conselho de Fisk. Dois anos depois, em 1967, inspirado<br />

por artistas como Francis Bacon e Edward Hopper, Lynch concluiu o curso apresentando uma coleção de pinturas<br />

em que as cores escuras e pesadas predominavam. Sua única decepção era que, infelizmente, seus quadros, suas<br />

imagens não se movimentavam. Daí ao cinema foi um passo. Para outras informações, ver FERRARAZ (2003).<br />

18<br />

Lynch sempre declarou seu fascínio pelos cinemas de vanguarda, como deixou claro no documentário que<br />

escreveu e narrou para o programa Arena, da rede BBC, em 1987, por ocasião do impacto causado por seu filme<br />

Veludo azul (Blue Velvet, EUA, 1986), na Europa. No documentário, chamado David Lynch Presents Ruth, Roses<br />

and Revolver (título inspirado no episódio “Ruth Roses and Revolvers” escrito por Man Ray para o filme-coletânea<br />

Dreams that Money Can Buy, dirigido por Hans Richter, em 1947), Lynch citava alguns filmes que marcaram sua<br />

formação artística e acadêmica, feitos por alguns dos mais importantes artistas do século, segundo ele. Na lista de<br />

Lynch estavam <strong>Entre</strong>ato (Entr’acte, França, 1924), de René Clair, Emak Bakia (Reino Unido, 1927), de Man Ray,<br />

Sangue de um poeta (Le sang d’um poète, França, 1932), de Jean Cocteau, o próprio Dreams that Money Can Buy<br />

(EUA, 1947), entre outros. Para outras informações, ver FERRARAZ (2003).<br />

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