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Televisão - Entre a Metodologia Analítica e o Contexto Cultural

Este livro tem sua origem no anseio de enfrentar uma dificuldade central para os Estudos de Televisão: como associar a metodologia analítica dos produtos televisivos com o conhecimento de aspectos contextuais? Análise e síntese – a combinação desses dois procedimentos cognitivos nunca é tão fácil quanto parece. Mais difícil ainda configura-se no caso dos Estudos de Televisão.

Este livro tem sua origem no anseio de enfrentar uma dificuldade central para os Estudos de Televisão: como associar a metodologia analítica dos produtos televisivos com o conhecimento de aspectos contextuais? Análise e síntese – a combinação desses dois procedimentos cognitivos nunca é tão fácil quanto parece. Mais difícil ainda configura-se no caso dos Estudos de Televisão.

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América Latina e, ao mesmo tempo, numa revisão crítica da modernidade<br />

ocidental.<br />

O termo “maravilhoso” já tão consolidado na literatura foi adotado<br />

como predicado do real americano, por ser o que melhor expressa o<br />

fato cultural América Latina, com suas especificidades e características<br />

que a diferenciavam do mundo europeu. Foi Alejo Carpentier (2010)<br />

quem propôs o termo “real maravilhoso americano” ao observar tanto a<br />

dificuldade de nomeação da complexidade deste Continente, por parte<br />

dos exploradores, quanto por desejar expressar uma visão e uma posição<br />

crítica em relação à modernização seletiva e desigual que ocorria no<br />

Continente, já que nesse contexto conviviam o moderno e o arcaico;<br />

a razão, a crença e a imaginação. Para o escritor, a força da cultura da<br />

América Latina estava justamente na sua capacidade de negociar os<br />

contrários, de operar com sua não disjunção, de se identificar em meio a<br />

efetivas misturas e sincretismos. Para Chiampi (1973: 32):<br />

a constituição do real maravilhoso americano, segundo Carpentier, assim<br />

se constitui: a união de elementos díspares, procedentes de culturas<br />

heterogêneas, configura uma nova realidade histórica, que subverte<br />

os padrões convencionais da racionalidade ocidental. Essa expressão,<br />

associada amiúde ao realismo mágico pela crítica hispano-americana, foi<br />

cunhada pelo escritor cubano para designar, não as fantasias ou invenções<br />

do narrador, mas o conjunto de objetos e eventos reais que singularizaram<br />

a América no contexto ocidental.<br />

O Iluminismo e suas promessas de emancipação humana através<br />

do uso da razão não conseguiu evitar, por exemplo, duas guerras<br />

mundiais nem o horror do holocausto. Isso colocou em xeque a<br />

suposta superioridade europeia e abriu o caminho para que a cultura<br />

latino-americana, que não compartilhava totalmente aquele modelo de<br />

racionalidade, pudesse se erigir sob outras bases, outras temporalidades<br />

e encontrar seu próprio valor, calcado na diferença e não na semelhança.<br />

Para Carpentier (1987:79):<br />

Pela virgindade da paisagem, pela formação, pela ontologia, pela<br />

presença fáustica do índio e do negro, pela revelação que propiciou<br />

sua descoberta, pelas fecundas mestiçagens, a história da América Latina<br />

seria uma crônica do real maravilhoso.<br />

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