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Televisão - Entre a Metodologia Analítica e o Contexto Cultural

Este livro tem sua origem no anseio de enfrentar uma dificuldade central para os Estudos de Televisão: como associar a metodologia analítica dos produtos televisivos com o conhecimento de aspectos contextuais? Análise e síntese – a combinação desses dois procedimentos cognitivos nunca é tão fácil quanto parece. Mais difícil ainda configura-se no caso dos Estudos de Televisão.

Este livro tem sua origem no anseio de enfrentar uma dificuldade central para os Estudos de Televisão: como associar a metodologia analítica dos produtos televisivos com o conhecimento de aspectos contextuais? Análise e síntese – a combinação desses dois procedimentos cognitivos nunca é tão fácil quanto parece. Mais difícil ainda configura-se no caso dos Estudos de Televisão.

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condutor do enredo; 2) como inspiração ou solução no desenrolar da<br />

narrativa e 3) como figuração nas novelas contemporâneas (a partir de<br />

2010). Esses três grupos levam em conta, também, o período histórico e o<br />

contexto mais amplo de produção e exibição dos produtos. 7<br />

Ainda que mencionemos exemplos de treze novelas, nosso corpus<br />

é constituído por três delas, analisadas em mais detalhes. Todas<br />

foram produzidas pela Rede Globo de Televisão e muitas alcançaram<br />

consideráveis índices de audiência revelando uma grande penetração no<br />

país. Produziram cenas que se tornaram emblemáticas sendo, inclusive,<br />

as selecionadas para uma análise.<br />

O real maravilhoso americano<br />

<strong>Entre</strong> os anos de 1940 e 1970, frente ao esgotamento da narrativa<br />

realista clássica, alguns autores (CARPENTIER, 2010; GARCIA MÁRQUEZ,<br />

1979) seguiram uma trilha própria, por vezes chamada de realismo<br />

mágico, por vezes de realismo maravilhoso, 8 para expor o choque cultural<br />

de uma América Latina encantada pela tecnologia vinda da Europa e dos<br />

Estados Unidos, bem como plural e diversa em virtude de sua origem<br />

múltipla, repleta de crenças e de fatos históricos surpreendentes. Para<br />

Vera L. Follain de Figueiredo (2013: 17)<br />

a vertente da ficção latino-americana que se convencionou chamar<br />

de “realismo maravilhoso” consistiu em uma afirmação identitária da<br />

7<br />

Esse corpus foi constituído a partir de um levantamento realizado em sites especializados em teledramaturgia<br />

(cf. www.teledramaturgia.com; www.memoria.globo.com; www.supertvemais.blogspot.com.br), bem como em<br />

referências bibliográficas que se dedicam a esse tipo de categorização, cf. Caderno Globo e Universidade, Rio de<br />

Janeiro, n.º 3, 2013.<br />

8<br />

Sabemos das controvérsias que envolvem essas noções. Para Vargas Llosa o realismo mágico já não constitui o<br />

traço comum entre os escritores da América Latina: “Há escritores realistas, fantásticos, urbanos, mas também há<br />

alguns na tradição da literatura rural. Talvez um dos poucos denominadores comuns seja a rejeição do realismo<br />

mágico”, emblema da literatura da região. A ideia irrita os escritores mais jovens, algo que Vargas Llosa considera<br />

normal: “O parricídio simbólico é fundamental para que cada nova geração afirme a sua identidade”. O próprio<br />

conceito de realismo mágico sempre lhe pareceu, aliás, “vago” e de um conteúdo “pouco sólido”, quando sob<br />

a sua capa se colocam escritores “tão diferentes” quanto o são, entre outros, o argentino Jorge Luís Borges,<br />

o cubano Alejo Carpentier ou o colombiano Gabriel Garcia Márquez”. Disponível em http://www.publico.pt/<br />

cultura/noticia/mario-vargas-llosa-admite-que-a-literatura-se-torne-marginal-no-futuro-1459876, acesso em 11 abr.<br />

2015. Não negamos as divergências e convergências em torno dessas questões. Preferimos adotar uma posição<br />

que compreende o realismo maravilhoso como um gesto literário e, de algum modo, político de escritores latinoamericanos<br />

que romperam com a narrativa realista. Sendo assim, o realismo maravilhoso pode conter traços do<br />

mágico, do fantástico, do estranho, do sobrenatural e o vemos como uma tentativa de seguir uma nova trilha que<br />

assume certas especificidades.<br />

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