Televisão - Entre a Metodologia Analítica e o Contexto Cultural
Este livro tem sua origem no anseio de enfrentar uma dificuldade central para os Estudos de Televisão: como associar a metodologia analítica dos produtos televisivos com o conhecimento de aspectos contextuais? Análise e síntese – a combinação desses dois procedimentos cognitivos nunca é tão fácil quanto parece. Mais difícil ainda configura-se no caso dos Estudos de Televisão.
Este livro tem sua origem no anseio de enfrentar uma dificuldade central para os Estudos de Televisão: como associar a metodologia analítica dos produtos televisivos com o conhecimento de aspectos contextuais? Análise e síntese – a combinação desses dois procedimentos cognitivos nunca é tão fácil quanto parece. Mais difícil ainda configura-se no caso dos Estudos de Televisão.
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como a marca da genialidade individual em um texto ou como um floreio<br />
decorativo de camadas acima da narrativa (embora alguns estilos sejam<br />
decorativos); 2) possibilita concluir que todos os textos televisivos contêm<br />
estilo. Ou seja, o estilo pode ser visto como a manifestação física do tema<br />
e da narrativa e esses elementos estão sempre situados culturalmente. Por<br />
isso ele interroga o poder significante do som e da imagem na televisão.<br />
Butler afirma que o estilo existe na interseção de padrões econômicos,<br />
tecnológicos, industriais e códigos semióticos/estéticos.<br />
No exercício empreendido neste capítulo, daremos dois dos quatro<br />
passos da análise de Butler: a descrição do estilo e a função/análise do<br />
estilo. A análise histórica dependeria de um recuo nos programas do<br />
gênero a fim de identificar padrões. Até mesmo Butler entende a análise<br />
avaliativa como problemática pela falta de parâmetros mais específicos<br />
para se julgar a estética televisiva. A descrição seria o que o autor chama de<br />
passo básico. Para discutir estilo, deve-se primeiro ser capaz de descrevêlo.<br />
Embora pareça um passo óbvio, ele é um dos que têm causado muitas<br />
falhas analíticas e teóricas. A descrição do estilo exige que o analista<br />
opte por uma compreensão bem definida do que seja estilo e como<br />
ele funciona em televisão. Butler argumenta que a semiótica oferece o<br />
conjunto mais abrangente de ferramentas para se realizar uma descrição<br />
detalhada do estilo televisivo.<br />
O segundo passo, baseado nos estudos da “teoria funcional do estilo”<br />
no cinema, de Noël Carroll (apud BUTLER, 2010: 17), visa detectar os<br />
propósitos do estilo e suas funções no texto. O trabalho do estudioso do<br />
estilo, assim, constitui-se na desconstrução de como o estilo cumpre uma<br />
função. Butler aponta várias funções do estilo televisivo. Algumas herdadas<br />
do cinema, outras específicas que ele desenvolveu para este medium. São<br />
elas: denotar, expressar, simbolizar, decorar, persuadir, chamar ou interpelar,<br />
diferenciar e significar “ao vivo”. O estilo televisivo pode cumprir várias<br />
delas ao mesmo tempo, mas Butler sustenta que a pretensão de chamar e<br />
manter a atenção do telespectador é primordial em qualquer situação.<br />
Corpus de análise<br />
Para a realização da análise promovemos o agrupamento das<br />
telenovelas nas quais o realismo maravilhoso revelou-se: 1) como fio<br />
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