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Televisão - Entre a Metodologia Analítica e o Contexto Cultural

Este livro tem sua origem no anseio de enfrentar uma dificuldade central para os Estudos de Televisão: como associar a metodologia analítica dos produtos televisivos com o conhecimento de aspectos contextuais? Análise e síntese – a combinação desses dois procedimentos cognitivos nunca é tão fácil quanto parece. Mais difícil ainda configura-se no caso dos Estudos de Televisão.

Este livro tem sua origem no anseio de enfrentar uma dificuldade central para os Estudos de Televisão: como associar a metodologia analítica dos produtos televisivos com o conhecimento de aspectos contextuais? Análise e síntese – a combinação desses dois procedimentos cognitivos nunca é tão fácil quanto parece. Mais difícil ainda configura-se no caso dos Estudos de Televisão.

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segundo momento, se fixar no passado: dois carros em perseguição<br />

numa estrada isolada no meio do sertão, em uma paisagem árida.<br />

Leandro, o protagonista, está no carro da frente, gravemente ferido, e<br />

tenta atirar em direção ao carro de trás. Em paralelo, cenas de Antônia<br />

se sentindo mal. Não se sabe quem são aquelas pessoas, nem onde<br />

estão. <strong>Entre</strong>tanto, de antemão já se estabelece uma tensão que percorre<br />

boa parte da narrativa. Surge uma tela preta com a indicação temporal<br />

“quatro meses antes”. Essa sequência é retomada linearmente nos<br />

capítulos 5 e 6, quando se descobre o motivo da perseguição e seu<br />

desfecho. A série traz um desenvolvimento linear quase que completo<br />

após essa sequência inicial, salvo alguns flashbacks usados para explicar<br />

alguns pontos da história. Esses flashbacks aparecem de forma rápida,<br />

surgindo sem qualquer indicação verbal ou imagética.<br />

A fotografia de Amores roubados explora a aridez do sertão e traz<br />

a profundidade de campo até para as cenas internas, inserindo ainda<br />

imagens desfocadas. As cores bastante saturadas, o baixo contraste e o<br />

aproveitamento da luz natural reforçam a temperatura das paixões e do<br />

sertão. Outro destaque são as composições de quadro que, reforçadas<br />

pela direção de arte, dão ênfase aos conflitos internos dos personagens e<br />

às tensões de gênero e de classe que permeiam a trama.<br />

Com relação às estratégias transmidiáticas, o site oficial da minissérie<br />

traz, além das informações e curiosidades sobre a obra, elenco e<br />

bastidores, um álbum com “Fotos de Antônia”, contendo fotografias<br />

tiradas pela personagem em diversos momentos da história e que<br />

podem ser compartilhadas nas redes sociais. As imagens registram a<br />

realidade do sertão e reforçam o contexto cultural no qual se desenrola<br />

a trama. Também foi disponibilizado o quiz intitulado “O quanto você<br />

conhece sobre vinho?”, que ressalta um dos elementos que caracteriza<br />

o contexto da trama, ao mesmo tempo em que revela novas faces do<br />

Brasil contemporâneo: é em torno da indústria do vinho que conhecemos<br />

um sertão moderno, economicamente produtivo, representado por<br />

uma nova classe dominante – o empresário –, que assume os valores<br />

do “coronelismo” arcaico, porém “repaginado”. Esse conteúdo da Web<br />

contribui para reforçar as marcas contextuais da trama. O sertão da<br />

aridez e dos conflitos sociais – já bastante presente no imaginário e no<br />

contexto audiovisual brasileiro muito por conta das histórias de cangaço<br />

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