Televisão - Entre a Metodologia Analítica e o Contexto Cultural
Este livro tem sua origem no anseio de enfrentar uma dificuldade central para os Estudos de Televisão: como associar a metodologia analítica dos produtos televisivos com o conhecimento de aspectos contextuais? Análise e síntese – a combinação desses dois procedimentos cognitivos nunca é tão fácil quanto parece. Mais difícil ainda configura-se no caso dos Estudos de Televisão.
Este livro tem sua origem no anseio de enfrentar uma dificuldade central para os Estudos de Televisão: como associar a metodologia analítica dos produtos televisivos com o conhecimento de aspectos contextuais? Análise e síntese – a combinação desses dois procedimentos cognitivos nunca é tão fácil quanto parece. Mais difícil ainda configura-se no caso dos Estudos de Televisão.
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tela soam como aquelas ocasiões às quais estamos acostumados: a de<br />
comprar algo sempre no mesmo lugar, conversando diretamente com o<br />
dono do negócio. Pensando assim, inferimos que a relação que o canal<br />
propõe a nós não é a de público, telespectador ou fiel, mas de freguês;<br />
aquele que se habituou a “comprar” no mesmo lugar, embora saiba que<br />
nem sempre as opções serão boas. A analogia faz sentido se pensarmos<br />
na grade da emissora como uma “programação camelô”, que preza pelo<br />
que está vendendo – ou seja, dando audiência.<br />
Talvez isso explique a maneira como Silvio Santos trata sua empresa,<br />
tirando subitamente do ar o que não encontra muitos compradores, e<br />
buscando produtos que satisfaçam a clientela, repetindo-os se assim o<br />
público quiser – o que ele próprio confirma: “Não, eu sempre me vi como<br />
produto, um produto meu. Sou um bom vendedor. Sou um vendedor que<br />
usa a eletrônica para vender seus produtos, artistas, programas” (FOLHA,<br />
2013 apud MARTINS, 2013: 55). Assistir ao SBT é então um ato de amor,<br />
confiança, carinho; um “trato” feito com o próprio dono e selado com um<br />
expressivo aperto de mãos.<br />
Logo, o personalismo talvez seja a principal característica do SBT ao<br />
se colocar diante do Brasil, instaurando uma relação afetiva de expressiva<br />
intimidade na qual circulam bens simbólicos como confiança, amizade,<br />
amor, carinho, atenção – e não apenas audiência –, e a ideia que se<br />
tem é que importam mais os afetos envolvidos e menos os números<br />
conquistados pelo canal; o telespectador do SBT não é mais um índice de<br />
audiência, um “brasileiro-indivíduo”, mas um “brasileiro-pessoa”, querido,<br />
responsável pelo sucesso do canal.<br />
Conclusão<br />
Nossa análise mostra que, se conceitualmente o SBT sempre tentou<br />
ser uma alternativa popular, a figuração que ele faz do Brasil não difere<br />
muito do que se vê nas outras emissoras, 67 o que o torna particular frente<br />
67<br />
Arlindo Silva (2001) lembra que desde sua gênese, o SBT se denominou um sistema e não uma rede justamente<br />
porque “rede” subentende uma programação rígida, imposta do centro para fora, obrigando as emissoras afiliadas<br />
a transmitir a mesma programação gerada pela matriz, ignorando as conveniências e as peculiaridades regionais.<br />
Ser um sistema significaria teoricamente maior liberdade de programação regional. Mira (1994: 76) expõe as<br />
palavras do próprio Silvio Santos a respeito disso: “Rede é, na minha opinião, uma fórmula arcaica de televisão...<br />
Eu sou contrário a você ter uma estação de TV no Ceará e não poder ser o dono dessa estação. – Ou você<br />
exibe toda minha programação ou não te dou nenhuma... O diálogo tem que ser outro: – Eu tenho estes<br />
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