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Televisão - Entre a Metodologia Analítica e o Contexto Cultural

Este livro tem sua origem no anseio de enfrentar uma dificuldade central para os Estudos de Televisão: como associar a metodologia analítica dos produtos televisivos com o conhecimento de aspectos contextuais? Análise e síntese – a combinação desses dois procedimentos cognitivos nunca é tão fácil quanto parece. Mais difícil ainda configura-se no caso dos Estudos de Televisão.

Este livro tem sua origem no anseio de enfrentar uma dificuldade central para os Estudos de Televisão: como associar a metodologia analítica dos produtos televisivos com o conhecimento de aspectos contextuais? Análise e síntese – a combinação desses dois procedimentos cognitivos nunca é tão fácil quanto parece. Mais difícil ainda configura-se no caso dos Estudos de Televisão.

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Ao menos desde meados da primeira década deste século, têm sido<br />

realizadas tentativas mais bem sucedidas, no sentido de estabelecer<br />

os fundamentos da metodologia analítica de produtos televisivos. O<br />

nome de maior destaque é Jeremy Butler. Em Television style (2010),<br />

além de fazer o levantamento dos embates de pesquisadores e críticos<br />

diante dessa problemática, ele efetua análises que têm servido e ainda<br />

servirão de modelo. No entanto, Butler não responde à questão central,<br />

acima levantada: qual o peso heurístico, isto é, capaz de proporcionar<br />

conhecimento, da análise de cenas pertencentes a um produto de dimensões<br />

colossais? Ainda pesam sobre os pesquisadores as consequências dessa<br />

lacuna e de questões que lhe são afins.<br />

Não bastassem tantas dificuldades, como não perceber que são<br />

infinitas as conexões culturais/históricas/sociais levantadas por uma<br />

massa tão grande de capítulos, episódios ou apresentações? As relações<br />

entre essas duas perspectivas, quanto a qualquer desses ou de outros<br />

produtos televisivos, mostram-se ao mesmo tempo muito promissoras e<br />

a exigir esforço metodológico para dar conta dos aspectos envolvidos.<br />

Em relação às operações de síntese, a questão principal é: como<br />

estabelecer conexões entre quaisquer aspectos contextuais e elementos<br />

constituintes dos produtos em foco? Embora muitas tentativas nesse<br />

sentido tenham sido feitas na história do audiovisual, em se tratando<br />

de televisão muito poucas chegaram a um resultado plausível. Para<br />

conectar modo narrativo, construção de personagem, enquadramentos,<br />

iluminação, movimentos de câmera, ângulos de câmera ou qualquer<br />

outro elemento narrativo ou estilístico com a cultura, a vida social, a<br />

política, que constituem o contexto do produto, é preciso mais do que<br />

o associacionismo, a analogia ou supostas metáforas e alegorias. Não é<br />

tão recente a tradição de pensamento nessa direção, a relacionar objeto<br />

e contexto, embora, obviamente, não nos Estudos de Televisão. Ela é<br />

formada, exemplificando, por aquilo que o historiador da arte Erwin<br />

Panofsky chamou de iconologia, na primeira parte de Significação<br />

nas artes visuais: de forma bastante convincente, detalhes de pinturas<br />

e esculturas do Renascimento eram relacionados com elementos<br />

históricos (1979: 52-54). Os Estudos de Cinema, por sua vez, se lançaram<br />

inesgotavelmente à mesma empreitada, com resultados desiguais, ao<br />

menos desde a publicação do livro De Caligari a Hitler: uma história<br />

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