Televisão - Entre a Metodologia Analítica e o Contexto Cultural
Este livro tem sua origem no anseio de enfrentar uma dificuldade central para os Estudos de Televisão: como associar a metodologia analítica dos produtos televisivos com o conhecimento de aspectos contextuais? Análise e síntese – a combinação desses dois procedimentos cognitivos nunca é tão fácil quanto parece. Mais difícil ainda configura-se no caso dos Estudos de Televisão.
Este livro tem sua origem no anseio de enfrentar uma dificuldade central para os Estudos de Televisão: como associar a metodologia analítica dos produtos televisivos com o conhecimento de aspectos contextuais? Análise e síntese – a combinação desses dois procedimentos cognitivos nunca é tão fácil quanto parece. Mais difícil ainda configura-se no caso dos Estudos de Televisão.
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específicos, esse aspecto nos intrigou e ampliou em grande medida nosso<br />
percurso de análise pretendido inicialmente.<br />
Ao deixarmos nosso objeto falar, ele abriu nossos olhos para uma<br />
questão até então não enxergada nas vinhetas em tela; aparentemente<br />
“ingênuas”, percebemos que elas podiam ser pensadas como tentativas<br />
de representação e figuração do Brasil. Com esse viés de interpretação<br />
em mãos, vimos que a suposta identidade nacional encenada pelo SBT<br />
poderia e deveria ser alvo de reflexão. Afinal, qual é o Brasil que as<br />
vinhetas constroem? Quais são as “feições” do canal que já chegou a se<br />
autointitular “a cara do Brasil” e que se pretende ser o Sistema Brasileiro<br />
de Televisão?<br />
Tal discussão se faz importante dada a proeminência da televisão em<br />
nosso país: atualmente os brasileiros passam, em média, 4h31 por dia<br />
em contato com a televisão de segunda a sexta-feira e 4h14 nos finais<br />
de semana (BRASIL, 2014). 63 Segundo informações contidas em seu site,<br />
o SBT opera em sinal aberto que abrange todos os estados do país, com<br />
uma cobertura de 97,7% dos lares com televisão, atingindo 204 milhões<br />
de telespectadores e 62 milhões de lares por meio de suas 114 emissoras<br />
(SBT, 2016).<br />
Essa exposição expressiva à televisão dá, então, inúmeros espaços<br />
para que as mais variadas representações sejam veiculadas e recebidas<br />
pelo telespectador; entre elas está a de “[...] um sentimento nacional,<br />
que articula incluídos e excluídos em torno de uma certa ideia básica de<br />
Brasil, e existe ao mesmo tempo como unidade e diversidade” (PRIOLLI,<br />
2003: 15).<br />
Stuart Hall (2006) nos recorda de que as culturas nacionais são<br />
constituídas também por símbolos e representações, um discurso que<br />
influencia nossas práticas cotidianas e a concepção que temos de<br />
nós mesmos; ou seja, uma identidade da nação produzindo nossas<br />
identidades individuais. Seguindo o raciocínio do autor, as identidades<br />
nacionais não nascem conosco, mas são formadas a partir da<br />
representação. Uma certa “brasilidade” foi forjada em nossa sociedade<br />
e apresentada a nós por meio da literatura, dos costumes populares<br />
63<br />
Tais índices são superiores aos encontrados na Pesquisa Brasileira de Mídia referente ao ano de 2013, quando o<br />
brasileiro assistia a 3h29 durante a semana e 3h32 aos sábados e domingos.<br />
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