Imagens Modernistas no Urbanismo de Porto Alegre 1950-1960
Imagens Modernistas no Urbanismo de Porto Alegre 1950-1960
Imagens Modernistas no Urbanismo de Porto Alegre 1950-1960
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<strong>Imagens</strong> <strong>Mo<strong>de</strong>rnistas</strong> <strong>no</strong> <strong>Urbanismo</strong> <strong>de</strong> <strong>Porto</strong> <strong>Alegre</strong><br />
<strong>1950</strong>-<strong>1960</strong><br />
Resumo<br />
Esse trabalho enfoca o período da história da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Porto</strong> <strong>Alegre</strong> <strong>no</strong> qual as idéias<br />
mo<strong>de</strong>rnistas se difundiram <strong>no</strong>s meios técnico, acadêmico e político locais, especialmente entre as<br />
décadas <strong>de</strong> 1940 a <strong>1960</strong>. Essas idéias surgidas <strong>no</strong> período do entre – guerras chegam a <strong>Porto</strong><br />
<strong>Alegre</strong> por volta <strong>de</strong> 1945 especialmente pela tradução e divulgação da Carta <strong>de</strong> Atenas, <strong>de</strong> autoria<br />
<strong>de</strong> Le Corbusier. O Pla<strong>no</strong> Diretor <strong>de</strong> <strong>Porto</strong> <strong>Alegre</strong>, aprovado em 1959, teve como base os<br />
princípios do Movimento Mo<strong>de</strong>r<strong>no</strong> manifestado <strong>no</strong>s instrumentos <strong>de</strong> planejamento, na legislação<br />
urbana e <strong>no</strong>s projetos dos bairros. Esse trabalho que se insere na pesquisa “As Políticas Públicas<br />
e a Morfologia das Cida<strong>de</strong>s” 1 visa registrar os projetos urbanísticos que trazem a marca <strong>de</strong>ssas<br />
idéias, sendo o primeiro <strong>de</strong>les o da Avenida Primeira Perimetral <strong>de</strong> <strong>Porto</strong> <strong>Alegre</strong>, anel viário que<br />
contorna o centro histórico da cida<strong>de</strong>, constante <strong>no</strong> Pla<strong>no</strong> Diretor <strong>de</strong> 1959. Procura-se constatar<br />
se tal projeto reflete uma origem <strong>de</strong> inspiração mo<strong>de</strong>rnista em <strong>Porto</strong> <strong>Alegre</strong>. Verificam-se os<br />
dispositivos legais previstos <strong>no</strong> Pla<strong>no</strong> Diretor para avaliar a consolidação <strong>de</strong>ssa orientação<br />
mo<strong>de</strong>rnista <strong>no</strong> espaço urba<strong>no</strong> construído ao longo da avenida.<br />
1 “As Políticas Públicas e a Morfologia das Cida<strong>de</strong>s” <strong>Porto</strong> <strong>Alegre</strong>: pesquisa FAUFRGS, 2001-2010. Esta pesquisa na<br />
qual esse trabalho se insere está em andamento <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o a<strong>no</strong> <strong>de</strong> 2001. Nesse período levantou e analisou o surgimento<br />
<strong>de</strong> inúmeras avenidas relevantes para a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Porto</strong> <strong>Alegre</strong>, como a Av. Borges <strong>de</strong> Me<strong>de</strong>iros e a Av. Salgado Filho.<br />
1
<strong>Imagens</strong> <strong>Mo<strong>de</strong>rnistas</strong> <strong>no</strong> <strong>Urbanismo</strong> <strong>de</strong> <strong>Porto</strong> <strong>Alegre</strong><br />
<strong>1950</strong>-<strong>1960</strong><br />
Introdução<br />
A cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Porto</strong> <strong>Alegre</strong> entre as décadas <strong>de</strong> 1940 a <strong>1960</strong> apresentou um crescimento<br />
vertigi<strong>no</strong>so, vendo sua população <strong>no</strong> espaço <strong>de</strong> três décadas aumentar <strong>de</strong> 263 mil para 650 mil<br />
habitantes. Esse aumento da <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> populacional não foi acompanhado <strong>de</strong> modificações e<br />
or<strong>de</strong>namentos na estrutura da cida<strong>de</strong>, levando a mesma em seu processo <strong>de</strong> expansão a agravar<br />
seus problemas urba<strong>no</strong>s pré-existentes, como a falta <strong>de</strong> a<strong>de</strong>quação da malha urbana e dos<br />
prédios <strong>de</strong> moradia, que não comportavam as necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> tal população.<br />
Além da questão populacional <strong>Porto</strong> <strong>Alegre</strong> ainda passava, assim como o restante do país, por um<br />
momento político conturbado <strong>de</strong> reestruturação do processo <strong>de</strong>mocrático, após o térmi<strong>no</strong> do<br />
Estado Novo em 1945. Nesse período, entre os a<strong>no</strong>s <strong>de</strong> 1945 a 1951, assumiram a Prefeitura <strong>de</strong><br />
<strong>Porto</strong> <strong>Alegre</strong> <strong>no</strong>ve administradores <strong>no</strong>meados, até que Ildo Meneghetti fosse eleito diretamente<br />
para assumir a prefeitura. Este reavivou o <strong>de</strong>bate sobre a cida<strong>de</strong> e suas questões urbanas ao<br />
constituir uma Comissão Revisora do Pla<strong>no</strong> Diretor com o objetivo <strong>de</strong> avaliar e emitir parecer<br />
sobre o Pla<strong>no</strong> Diretor elaborado por Arnaldo Gladosch 2 , <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s anteriores, que até então era<br />
tido como portador das diretrizes sobre a cida<strong>de</strong>.<br />
O ponto culminante <strong>de</strong> mudança em direção a elaboração <strong>de</strong>finitiva do Pla<strong>no</strong> Diretor <strong>de</strong> <strong>Porto</strong><br />
<strong>Alegre</strong> aconteceu <strong>no</strong> a<strong>no</strong> <strong>de</strong> 1955 com a chegada da oposição a prefeitura da capital gaúcha, na<br />
figura do vice-prefeito Ma<strong>no</strong>el Sarmanho Vargas e posteriormente por Martim Aranha, presi<strong>de</strong>nte<br />
da Câmara dos Vereadores. Até que em 1956, <strong>no</strong> a<strong>no</strong> seguinte, Leonel <strong>de</strong> Moura Brizola (1956-<br />
1958) toma frente da prefeitura <strong>de</strong> <strong>Porto</strong> <strong>Alegre</strong> e convoca o urbanista Edvaldo Pereira Paiva 3 a<br />
assumir a Divisão <strong>de</strong> <strong>Urbanismo</strong> da Secretaria Municipal <strong>de</strong> Obras e Viação. Este irá conduzir os<br />
trabalhos <strong>de</strong> elaboração do Pla<strong>no</strong> Diretor até sua aprovação junto a Câmara <strong>de</strong> Vereadores sob a<br />
lei nº 2.046 <strong>de</strong> 1959.<br />
Além do cenário político-administrativo que se <strong>de</strong>senvolvia na cida<strong>de</strong> e <strong>de</strong>terminava a or<strong>de</strong>m dos<br />
acontecimentos relativos ao seu urbanismo através das discussões e elaborações realizadas<br />
pelos técnicos da prefeitura, outros <strong>de</strong>bates afins aconteciam na aca<strong>de</strong>mia acerca do mesmo<br />
tema, talvez pela relação próxima entre o meio técnico e acadêmico. Em <strong>Porto</strong> <strong>Alegre</strong>, muitos<br />
técnicos da administração municipal eram também professores <strong>no</strong>s cursos das faculda<strong>de</strong>s. Assim<br />
2 Esse Pla<strong>no</strong> foi <strong>de</strong>senvolvido pelo urbanista Arnaldo Gladosch entre os a<strong>no</strong>s 1938 a 1941 quando foi contratado pelo<br />
então prefeito <strong>de</strong> <strong>Porto</strong> <strong>Alegre</strong> José Loureiro da Silva em seu primeiro mandato (1937-1943).<br />
3 Edvaldo Pereira Paiva era técnico <strong>de</strong> carreira da Prefeitura Municipal <strong>de</strong> <strong>Porto</strong> <strong>Alegre</strong> e professor da aca<strong>de</strong>mia <strong>no</strong>s<br />
cursos <strong>de</strong> Arquitetura e <strong>Urbanismo</strong> da Universida<strong>de</strong> do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul e Instituto <strong>de</strong> Belas Artes. Estudou em<br />
Montevidéu <strong>no</strong> Curso <strong>de</strong> <strong>Urbanismo</strong> da Faculdad <strong>de</strong> Arquitectura dirigido pelo professor Maurício Cravotto, com seus<br />
gastos custeados pela Prefeitura <strong>de</strong> <strong>Porto</strong> <strong>Alegre</strong> durante a administração <strong>de</strong> Loureiro da Silva (1937-1947). Lá teve um<br />
primeiro contato com as idéias <strong>Mo<strong>de</strong>rnistas</strong> que estavam em circulação pela aca<strong>de</strong>mia uruguaia.<br />
2
as idéias que circulavam <strong>no</strong>s dois meios e <strong>de</strong>terminavam sua visão <strong>de</strong> cida<strong>de</strong> eram oriundas do<br />
Movimento Mo<strong>de</strong>r<strong>no</strong> 4 . Essas chegaram a <strong>Porto</strong> <strong>Alegre</strong> principalmente através <strong>de</strong> duas fontes,<br />
sendo a primeira a publicação e divulgação da Carta <strong>de</strong> Atenas 5 pelo técnico da prefeitura<br />
engenheiro Clóvis Pestana em 1945; e a segunda, o contato entre professores e técnicos com<br />
outros centros como Rio <strong>de</strong> Janeiro, São Paulo (<strong>de</strong>stacando-se as figuras <strong>de</strong> Lúcio Costa e Oscar<br />
Niemayer) e Montevidéu <strong>no</strong> Uruguai (encontro com Maurício Cravotto e Gomez Gavazzo).<br />
O Pla<strong>no</strong> Diretor <strong>de</strong> 1959<br />
Quando começaram a elaborar o Pla<strong>no</strong> Diretor com o trabalho do anteprojeto em 1954, sob a<br />
coor<strong>de</strong>nação do urbanista Edvaldo Pereira Paiva, já estavam traçadas as diretrizes sob as quais a<br />
cida<strong>de</strong> iria se or<strong>de</strong>nar. Essas idéias vinham <strong>de</strong> estudos anteriores, como o trabalho feito em<br />
conjunto por Paiva e o arquiteto Demétrio Ribeiro 6 , <strong>de</strong>signado como anteprojeto <strong>de</strong> planificação <strong>de</strong><br />
<strong>Porto</strong> <strong>Alegre</strong> em 1951. Esse trabalho tinha <strong>de</strong>claradamente inspiração nas idéias vindas do<br />
Movimento Mo<strong>de</strong>r<strong>no</strong>. Paiva e Demétrio organizaram a cida<strong>de</strong> através do zoneamento das funções<br />
urbanas (habitar, trabalhar, cultivar o corpo e o espírito e circular), além <strong>de</strong> terem proposto<br />
extensas áreas ver<strong>de</strong>s nas quais estariam instalados os principais equipamentos culturais. Outra<br />
proposição foi a organização das áreas resi<strong>de</strong>nciais baseadas em unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> habitação, com<br />
espaços <strong>de</strong>stinados a indústria e ao comércio. A influência <strong>de</strong>sse estudo <strong>de</strong> Paiva e Demétrio fica<br />
evi<strong>de</strong>nte quando analisamos as proposições finais do Pla<strong>no</strong> Diretor que foi instituído legalmente<br />
em <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1959, na administração <strong>de</strong> Tristão Sucupira Viana.<br />
O Pla<strong>no</strong> abrange inicialmente a parte mais <strong>de</strong>nsificada da cida<strong>de</strong>, se limitando a área<br />
compreendida pelo contor<strong>no</strong> da Terceira Perimetral. As áreas externas a esta foram englobadas<br />
<strong>no</strong> planejamento urba<strong>no</strong> da capital <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s posteriores através <strong>de</strong> sucessivas Extensões do<br />
Pla<strong>no</strong>. Por ser aplicado a uma área urbana extremamente consolidada o pla<strong>no</strong> se apresentou<br />
enquanto um paliativo, uma forma <strong>de</strong> resolver os problemas <strong>de</strong> <strong>Porto</strong> <strong>Alegre</strong> da melhor forma<br />
possível, porém longe <strong>de</strong> ser a i<strong>de</strong>al.<br />
Sua principal marca, o zoneamento <strong>de</strong> uso, foi <strong>de</strong>finido por três principais zonas: comercial,<br />
resi<strong>de</strong>ncial e industrial; nas quais estavam <strong>de</strong>limitadas as ativida<strong>de</strong>s compatíveis com cada uma<br />
<strong>de</strong>las. Agregado a este zoneamento principal estava um zoneamento secundário que regulava a<br />
ocupação do solo pelas edificações (taxa <strong>de</strong> ocupação e índices <strong>de</strong> aproveitamento) e as alturas<br />
máximas permitidas para as mesmas (taxas <strong>de</strong> alturas). Ao estabelecerem esses zoneamentos a<br />
intenção dos técnicos era garantir a correta ocupação e uso do solo, para que não houvesse<br />
4 O Movimento Mo<strong>de</strong>r<strong>no</strong> a que o texto se refere é consi<strong>de</strong>rado como o movimento surgido <strong>no</strong> período do entre a<br />
Primeira e a Segunda Guerra Mundial, que teve como um dos seus principais ícones o arquiteto francês Charles-<br />
Edouard Jeanneret, mais conhecido como Le Corbusier.<br />
5 A carta <strong>de</strong> Atenas se constitui em um dos principais documentos produzidos pelo Movimento Mo<strong>de</strong>r<strong>no</strong>, <strong>no</strong> qual está<br />
presente a síntese <strong>de</strong> suas idéias sobre a cida<strong>de</strong> (zoneamento <strong>de</strong> funções). Escrita durante um dos CIAM (Congresso<br />
Internacional <strong>de</strong> Arquitetura Mo<strong>de</strong>rna) em 1933.<br />
6 Técnico da Prefeitura Municipal <strong>de</strong> <strong>Porto</strong> <strong>Alegre</strong> e re<strong>no</strong>mado professor dos cursos <strong>de</strong> arquitetura e urbanismo da<br />
UFRGS e do Instituto <strong>de</strong> Belas Artes. Junto com Paiva participou da elaboração <strong>de</strong> Pla<strong>no</strong>s Diretores <strong>de</strong> outras cida<strong>de</strong>s,<br />
tais como Florianópolis-SC e Passo Fundo - RS.<br />
3
prejuízo para nenhuma das partes em conflito por ocupações incompatíveis em um mesmo<br />
espaço. Além <strong>de</strong> garantir através da taxa <strong>de</strong> ocupação do solo e das limitações <strong>de</strong> altura os<br />
corretos e necessários índices <strong>de</strong> insolação e aeração para as edificações e logradouros.<br />
Em relação ao sistema viário a principal preocupação que <strong>no</strong>rteou os técnicos municipais foi a<br />
resolução do problema do tráfego do centro, que se encontrava extremamente congestionado e<br />
com vistas a ter sua situação agravada a cada a<strong>no</strong>. A área central <strong>de</strong> <strong>Porto</strong> <strong>Alegre</strong>, pela qual a<br />
cida<strong>de</strong> começou seu <strong>de</strong>senvolvimento e expansão urbana, era composta em sua maioria por ruas<br />
antigas que não possuíam a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> escoar o trânsito se forma satisfatória. Além do<br />
problema da configuração e gabarito <strong>de</strong> tais vias o centro ainda apresentava o agravante <strong>de</strong> ser a<br />
área coletora das radiais que vinham dos bairros, que não possuíam outro ponto <strong>de</strong> comunicação<br />
entre si senão este caminho central. Observando essa situação caótica a solução a que se<br />
chegou foi a proposição <strong>de</strong> um sistema viário baseado em vias radiais e perimetrais, com vistas a<br />
criar uma área coletora <strong>de</strong> tráfego, através das avenidas perimetrais, e diferentes pontos <strong>de</strong><br />
ligação entre bairros.<br />
A Avenida Primeira Perimetral <strong>no</strong> Pla<strong>no</strong> Diretor <strong>de</strong> 1959<br />
Como visto anteriormente o problema viário da capital gaúcha era uma das maiores preocupações<br />
dos técnicos municipais que elaboraram o Pla<strong>no</strong> Diretor <strong>de</strong> 1959, especialmente o tráfego do<br />
centro da cida<strong>de</strong>, por isso o projeto da Avenida Perimetral teve o maior <strong>de</strong>staque <strong>de</strong>ntre todos os<br />
outros projetos previstos <strong>no</strong> pla<strong>no</strong>. Essa avenida foi projetada para ser uma via coletora do<br />
trânsito oriundo da área central <strong>de</strong> <strong>Porto</strong> <strong>Alegre</strong>, <strong>de</strong> forma a distribuir o fluxo para as radiais e as<br />
interligar <strong>de</strong> forma a evitar que todos os veículos tivessem que fazer essa conexão pelas precárias<br />
ruas centrais. Facilitando a conexão entre os bairros pretendiam criar <strong>no</strong>vos caminhos para a<br />
expansão urbana, possibilitando a criação <strong>de</strong> outros centros comerciais ao longo dos bairros.<br />
No contor<strong>no</strong> da Avenida Primeira Perimetral estava previsto a construção <strong>de</strong> uma área <strong>de</strong><br />
expansão do comércio da região central, <strong>de</strong> forma a gerar um local <strong>de</strong> mais fácil acesso, dotado<br />
<strong>de</strong> espaços para estacionamento <strong>de</strong> veículos e <strong>de</strong> edificações compatíveis com as necessida<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong>ssa ativida<strong>de</strong>. Além da área comercial, outros atrativos eram a localização <strong>de</strong> equipamentos <strong>de</strong><br />
gran<strong>de</strong> porte ao longo da Avenida, já que esta comportaria o fluxo <strong>de</strong> trânsito gerado em direção a<br />
tais equipamentos, que anteriormente se localizavam <strong>no</strong> centro e contribuíam para o acréscimo do<br />
seu congestionamento.<br />
Entre eles estariam o Centro Administrativo Estadual criando um local que agrupasse os órgãos<br />
<strong>de</strong> administração do estado, que em sua maioria, encontravam-se espalhados pelo centro e<br />
privados do <strong>de</strong>vido espaço para seu correto funcionamento. A se<strong>de</strong> do po<strong>de</strong>r executivo e<br />
legislativo municipal também tinha área prevista nas imediações da Avenida Perimetral em área<br />
próxima a Avenida Oswaldo Aranha. Outros equipamentos como o <strong>no</strong>vo Teatro Municipal se<br />
localizaria <strong>no</strong> entroncamento da Avenida Perimetral com a Avenida Borges <strong>de</strong> Me<strong>de</strong>iros.<br />
Pretendiam que num futuro próximo ele viesse a substituir o Teatro São Pedro, antigo teatro porto-<br />
4
alegrense.<br />
A Avenida Perimetral ainda serviria ao propósito <strong>de</strong> distribuir os passageiros oriundos dos<br />
municípios ao <strong>no</strong>rte <strong>de</strong> <strong>Porto</strong> <strong>Alegre</strong> que viessem <strong>de</strong> trem pela Avenida Dique, fazendo a conexão<br />
<strong>de</strong> meio <strong>de</strong> transporte, passando ao rodoviário, a fim <strong>de</strong> ir aos bairros da capital sem a<br />
necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> penetrar <strong>no</strong> centro.<br />
Traçado Previsto para a Primeira Perimetral <strong>no</strong> Pla<strong>no</strong> Diretor <strong>de</strong> 1959<br />
Fonte: PMPA (Prefeitura Municipal <strong>de</strong> <strong>Porto</strong> <strong>Alegre</strong>). <strong>Porto</strong> <strong>Alegre</strong> – Pla<strong>no</strong> Diretor 1954-1964. <strong>Porto</strong> <strong>Alegre</strong>:<br />
PMPA, 1964. [s.p.]<br />
Av. Presi<strong>de</strong>nte João Goulart<br />
Av. Borges <strong>de</strong> Me<strong>de</strong>iros<br />
Detalhamento do Pla<strong>no</strong> - Trecho A, compreendido entre a atual Av. Presi<strong>de</strong>nte João Goulart e a Av. Borges<br />
<strong>de</strong> Me<strong>de</strong>iro.<br />
Fonte: PMPA (Prefeitura Municipal <strong>de</strong> <strong>Porto</strong> <strong>Alegre</strong>). <strong>Porto</strong> <strong>Alegre</strong> – Pla<strong>no</strong> Diretor 1954-1964. <strong>Porto</strong> <strong>Alegre</strong>:<br />
PMPA, 1964. [s.p.]<br />
5
Av. Borges <strong>de</strong> Me<strong>de</strong>iros<br />
Detalhamento do Pla<strong>no</strong> - Trecho B, compreendido entre a Av. Borges <strong>de</strong> Me<strong>de</strong>iros e a Av. João Pessoa.<br />
Fonte: PMPA (Prefeitura Municipal <strong>de</strong> <strong>Porto</strong> <strong>Alegre</strong>). <strong>Porto</strong> <strong>Alegre</strong> – Pla<strong>no</strong> Diretor 1954-1964. <strong>Porto</strong> <strong>Alegre</strong>:<br />
PMPA, 1964. [s.p.]<br />
Detalhamento do Pla<strong>no</strong> - Trecho C, compreendido entre a Av. Oswaldo Aranha e Av. Júlio <strong>de</strong> Castilhos.<br />
Fonte: PMPA (Prefeitura Municipal <strong>de</strong> <strong>Porto</strong> <strong>Alegre</strong>). <strong>Porto</strong> <strong>Alegre</strong> – Pla<strong>no</strong> Diretor 1954-1964. <strong>Porto</strong> <strong>Alegre</strong>:<br />
PMPA, 1964. [s.p.]<br />
A Avenida Primeira Perimetral – traçado consolidado<br />
Av. João Pessoa<br />
Av. Oswaldo Aranha Av. Júlio <strong>de</strong> Castilhos<br />
Entre o traçado do projeto para a Avenida Primeira Perimetral <strong>no</strong> Pla<strong>no</strong> Diretor <strong>de</strong> 1959 e o<br />
traçado que se consolidou na cida<strong>de</strong> há algumas diferenças. A mais significativa é a parte<br />
correspon<strong>de</strong>nte ao trecho que passa ao lado do Parque Farroupilha, on<strong>de</strong> se encontra o campus<br />
central da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul. Nesse trecho o traçado previsto passava<br />
por sobre o campus da Universida<strong>de</strong>, entretanto essa rota não se consolidou. O que se realizou<br />
foi a ligação da Avenida Loureiro da Silva até a Rua da Conceição através das Avenidas Eng. Luiz<br />
Englert e Paulo Gama, contornado o campus universitário. Esse trecho atualmente se tor<strong>no</strong>u um<br />
ponto <strong>de</strong> afunilamento do trânsito <strong>no</strong>s horário <strong>de</strong> maior fluxo <strong>de</strong> veículos, já que estás avenidas<br />
6
não foram construídas <strong>de</strong> forma compatível com o restante do sistema <strong>de</strong> vias da Primeira<br />
Perimetral.<br />
Av. Presi<strong>de</strong>nte João Goulart<br />
Traçado atual da Primeira Perimetral.<br />
Fonte: elaboração do pesquisador, 2009.<br />
Delimitação do trecho <strong>de</strong> análise<br />
Av. Mauá<br />
Dentro do projeto da Avenida Primeira Perimetral foi selecionado um trecho para realização da<br />
análise da legislação prevista <strong>no</strong> Pla<strong>no</strong> Diretor. Esse trecho compreen<strong>de</strong> a área do <strong>de</strong>talhamento<br />
B do pla<strong>no</strong>, situado entre as Avenidas Borges <strong>de</strong> Me<strong>de</strong>iros e João Pessoa, são analisadas as<br />
quadras voltadas a Av. Loureiro da Silva (Av. Perimetral).<br />
Av. Loureiro da Silva<br />
Nesse trecho aberto em meio a malha urbana antes existente houve um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>sapropriações, as antigas ruas estreitas dão lugar a uma ampla avenida, on<strong>de</strong> eram previstas<br />
edificações mo<strong>de</strong>rnas, dotadas do melhor padrão <strong>de</strong> insolação e ventilação, com um amplo<br />
passeio <strong>no</strong> térreo <strong>de</strong>limitado por galerias em uma área sob os pilotis.<br />
Rua da Conceição<br />
UFRGS<br />
Av. Paulo Gama<br />
Av. Eng. Luiz Englert<br />
PARQUE FARROUPILHA<br />
7
Lotes em análise<br />
Lotes em análise voltados a Av. Loureiro da Silva, marcados <strong>no</strong> <strong>de</strong>talhamento do trecho B do projeto da Av.<br />
Perimetral <strong>no</strong> Pla<strong>no</strong> Diretor <strong>de</strong> 1959.<br />
Fonte: PMPA (Prefeitura Municipal <strong>de</strong> <strong>Porto</strong> <strong>Alegre</strong>). <strong>Porto</strong> <strong>Alegre</strong> – Pla<strong>no</strong> Diretor 1954-1964. <strong>Porto</strong> <strong>Alegre</strong>:<br />
PMPA, 1964. [s.p.]<br />
Vista do Trecho B – entroncamento da Av. Borges <strong>de</strong> Me<strong>de</strong>iros com Av. Perimetral (Av. Loureiro da Silva).<br />
Observa-se a uniformida<strong>de</strong> das alturas e a configuração das galerias <strong>no</strong> térreo das edificações.<br />
Fonte: PMPA (Prefeitura Municipal <strong>de</strong> <strong>Porto</strong> <strong>Alegre</strong>). <strong>Porto</strong> <strong>Alegre</strong> – Pla<strong>no</strong> Diretor 1954-1964. <strong>Porto</strong> <strong>Alegre</strong>:<br />
PMPA, 1964. [s.p.]<br />
Vista da área do Convento do Carmo, edificações Entrada do Túnel da Conceição.<br />
sobre pilotis configurando uma galeria.<br />
Fonte: PMPA (Prefeitura Municipal <strong>de</strong> <strong>Porto</strong> <strong>Alegre</strong>). <strong>Porto</strong> <strong>Alegre</strong> – Pla<strong>no</strong> Diretor 1954-1964. <strong>Porto</strong> <strong>Alegre</strong>:<br />
PMPA, 1964. [s.p.]<br />
8
Índices Previstos <strong>no</strong> Pla<strong>no</strong> Diretor <strong>de</strong> 1959<br />
Abaixo seguem os índices previstos para os lotes voltados para a Av. Loureiro da Silva. Esses<br />
dados aplicados aos lotes e as edificações irão <strong>de</strong>terminar a configuração espacial pensada e<br />
pretendida pelos técnicos municipais.<br />
Uso: Área C2. 2 – Área comercial 2.<br />
Para esta área são previstas as seguintes ativida<strong>de</strong>s:<br />
Residências individuais e coletivas, Estabelecimentos <strong>de</strong> ensi<strong>no</strong>, Bibliotecas e Museus,<br />
Templos, Clubes esportivos ou recreativos, Edifícios públicos, Comércio e Varejo, Supermercados,<br />
Casas <strong>de</strong> Espetáculo e Diversão, Escritórios em geral, Hotéis, Bancos e estabelecimentos<br />
financeiros, Restaurantes e Padarias, Laboratórios <strong>de</strong> Análises, Garagens, Hospitais, entre outros.<br />
Aproveitamento: Z0.<br />
Zona on<strong>de</strong> estão fixados os alinhamentos <strong>de</strong> frente, fundos e alturas máximas permitidas,<br />
não sendo aplicável o índice <strong>de</strong> aproveitamento.<br />
Percentagem <strong>de</strong> Ocupação: Zona Z2.<br />
Taxa <strong>de</strong> ocupação <strong>de</strong> 75% da área do terre<strong>no</strong>, com exceção dos prédios on<strong>de</strong> o térreo tem<br />
<strong>de</strong>stinação comercial on<strong>de</strong> a taxa po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong> 100% <strong>de</strong> ocupação.<br />
Alturas:<br />
A altura dos prédios da zona Z0 (Avenida Perimetral) será padronizada, assim como a<br />
altura <strong>de</strong> cada pavimento, <strong>de</strong>vendo obe<strong>de</strong>cer aos gabaritos constantes do Pla<strong>no</strong>.<br />
No caso da área em análise a altura fixada seria <strong>de</strong> 70m.<br />
Contexto atual da Av. Primeira Perimetral<br />
Com a <strong>de</strong>limitação do trecho foi feita uma verificação da situação atual da Av. Primeira Perimetral,<br />
ou seja, um levantamento do que <strong>de</strong> fato está construído <strong>no</strong>s lotes para os quais se verificou a<br />
legislação <strong>no</strong> Pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> 1959. A partir das datas <strong>de</strong> aprovação dos prédios 7 , foi contatada a<br />
legislação sob a qual essas edificações foram construídas. Os resultados obtidos foram datas <strong>de</strong><br />
aprovação posteriores ao a<strong>no</strong> <strong>de</strong> 1979 quando então já estava em vigência o Primeiro Pla<strong>no</strong><br />
Diretor <strong>de</strong> Desenvolvimento Urba<strong>no</strong> (1º PPDU 1979), ou ainda alguns que já estavam sob a<br />
orientação do último pla<strong>no</strong> para <strong>Porto</strong> <strong>Alegre</strong> (em vigência até os dias atuais) o Primeiro Pla<strong>no</strong><br />
Diretor <strong>de</strong> Desenvolvimento Urba<strong>no</strong> e Ambiental (1º PDDUA 1999).<br />
7 As datas <strong>de</strong> aprovação dos projetos das edificações foram obtidas junto a Secretaria Municipal <strong>de</strong> Obras e Viação<br />
(SMOV).<br />
9
Número do Data <strong>de</strong><br />
Legislação<br />
Nº <strong>de</strong><br />
Edifício<br />
Edifício Aprovação Correspon<strong>de</strong>nte Pavimentos<br />
Torre Perimetral 1788 19/01/1979 1º PDDU - 1979 10<br />
Edifício sem <strong>no</strong>me 1688/1696/1700 02/04/1982 1º PDDU - 1979 8<br />
Posto Ipiranga 1630 19/12/1988 1º PDDU - 1979 1<br />
Ilha dos Açores 1500 14/09/1989 1º PDDU - 1979 13<br />
Hotel Comfort 1660/1670 17/06/1999 1º PPDUA - 1999 13<br />
Hotel Master Express 1840 27/12/1999 1º PPDUA - 1999 13<br />
Edifício em construção 1570 02/04/2001 1º PPDUA - 1999 4<br />
Resi<strong>de</strong>ncial Karnak 1870 16/10/2001 1º PPDUA - 1999 13<br />
Liquigás 1730 13/12/2001 1º PPDUA - 1999 1<br />
Resi<strong>de</strong>ncial Lótus 1710 06/01/2006 1º PPDUA - 1999 10<br />
Tabela <strong>de</strong> aprovações<br />
Hotel Comfort Resi<strong>de</strong>ncial Karnak<br />
Fonte: levantamento direto, pesquisa <strong>de</strong> campo, 2009.<br />
Consi<strong>de</strong>rações Finais<br />
A sucessão <strong>de</strong> pla<strong>no</strong>s que se seguiram ao Pla<strong>no</strong> Diretor <strong>de</strong> 1959 (1º PPDU / 1979 e 1º<br />
PDDUA /1999) não alterou <strong>de</strong> maneira significativa a tipologia prevista para a área, pois as<br />
características das edificações e <strong>de</strong> ocupação dos lotes conseguiram se consolidar na área.<br />
Temos <strong>no</strong> trecho analisado prédios construídos com importantes características previstas<br />
<strong>no</strong> Pla<strong>no</strong> Diretor <strong>de</strong> 1959 como: as galerias sobre pilotis <strong>no</strong> térreo, uniformida<strong>de</strong> das alturas dos<br />
pavimentos e os recuos dos blocos superiores em relação à base do prédio. Por isso po<strong>de</strong>mos<br />
afirmar que a Avenida Primeira Perimetral (Av. Loureiro da Silva) reflete uma imagem <strong>de</strong><br />
orientação mo<strong>de</strong>rnista <strong>no</strong> urbanismo <strong>de</strong> <strong>Porto</strong> <strong>Alegre</strong>.<br />
Esse fato leva a formulação <strong>de</strong> uma <strong>no</strong>va hipótese, <strong>de</strong> que os Pla<strong>no</strong>s que suce<strong>de</strong>ram o<br />
Pla<strong>no</strong> Diretor <strong>de</strong> 1959, o 1º PDDU (1979) e 1º PDDUA (1999) tiveram uma orientação semelhante<br />
ao seu antecessor para a legislação da área da Primeira Perimetral. Essa <strong>no</strong>va hipótese será<br />
10
confirmada na etapa próxima da pesquisa.<br />
Perfil proposto para a Av. Primeira Perimetral.<br />
Fonte: PMPA (Prefeitura Municipal <strong>de</strong> <strong>Porto</strong> <strong>Alegre</strong>). <strong>Porto</strong> <strong>Alegre</strong> – Pla<strong>no</strong> Diretor 1954-1964. <strong>Porto</strong> <strong>Alegre</strong>:<br />
PMPA, 1964. [s.p.]<br />
Perfil consolidado da área em análise Prédios com galerias sob pilotis<br />
Fonte: levantamento direto, pesquisa <strong>de</strong> campo, 2009.<br />
Referências Bibliográficas<br />
ALMEIDA, M. S. Transformações Urbanas. Atos, Normas, Decretos, Leis na administração<br />
da Cida<strong>de</strong>, 1937-1961. São Paulo: Tese <strong>de</strong> Doutorado, Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo, USP, 2005.<br />
BENÉVOLO, L. As origens da urbanística mo<strong>de</strong>rna. Lisboa: Presença,1987.<br />
BENEVOLO, L. História da Cida<strong>de</strong>. São Paulo: Perspectiva, 2007.<br />
KOPP, A. Quando o mo<strong>de</strong>r<strong>no</strong> não era um estilo e sim uma causa. São Paulo: Nobel / Edusp,<br />
1990.<br />
SOUZA, C.F; MÜLLER, D.M. <strong>Porto</strong> <strong>Alegre</strong> e sua evolução urbana. <strong>Porto</strong> <strong>Alegre</strong>: Editora da<br />
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UFRGS, 2007.<br />
PMPA (Prefeitura Municipal <strong>de</strong> <strong>Porto</strong> <strong>Alegre</strong>). <strong>Porto</strong> <strong>Alegre</strong> – Pla<strong>no</strong> Diretor 1954-1964. <strong>Porto</strong><br />
<strong>Alegre</strong>: PMPA, 1964.<br />
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