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Parasitoses Gastrintestinais dos Ovinos e Caprinos

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PARASITOSES GASTRINTESTINAIS<br />

DOS OVINOS E CAPRINOS:<br />

ALTERNATIVAS DE CONTROLE<br />

Cristina Santos Sotomaior 1<br />

Fernanda Rosalinski Moraes 2<br />

Felipe Pohl de Souza 3<br />

Viviane Milczewski 4<br />

Cezar Amin Pasqualin 5<br />

Curitiba, 2009<br />

1<br />

Médica Veterinária, MSc, Doutor - Pontifícia Universidade Católica do Paraná - PUC-PR<br />

2<br />

Médica Veterinária, MSc, Doutor - Pontifícia Universidade Católica do Paraná - PUC-PR<br />

3<br />

Médico Veterinário, MSc, Membro do Conselho Consultivo da AVEPER<br />

4<br />

Médica Veterinária, MSc, Doutor - Faculdade Integradas “Espírita”<br />

5<br />

Médico Veterinário, Esp. Agronegócio Instituto Emater


GOVERNO DO ESTADO DO PARANÁ<br />

Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural<br />

Vinculado à Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento do Paraná<br />

Série Informação Técnica nº 080, 2009<br />

Elaboração Técnica:<br />

Médica Veterinária, MSc, Doutor Cristina Santos Sotomaior, Pontefícia Universidade Católica do Paraná<br />

Médica Veterinária, MSc, Doutor Fernanda Rosalinski Moraes, Pontefícia Universidade Católica do Paraná<br />

Médico Veterinário, MSc Felipe Pohl de Souza, Membro do Conselho Consultivo da AVEPER<br />

Médica Veterinária, MSc Viviane Milczewski, Faculdade Integradas “Espírita”<br />

Médico Veterinário, Especialista Agronegócio Cezar Amin Pasqualin, Instituto Emater<br />

Executores do Projeto:<br />

Cristina Santos Sotomaior - PUC-PR<br />

Fernanda Rosalinski Moraes - PUC-PR<br />

José Antonio Garcia Baena - SEAB-PR<br />

Cezar Amin Pasqualin - Instituto Emater<br />

Colaboradores Técnicos:<br />

Ana Carolina de Souza Chagas - EMBRAPA Pecuária Sudeste<br />

Angelo Garbossa Neto - Instituto EMATER<br />

Demétrio Reva - Iniciativa Privada<br />

Elza Maria Galvão Ciffoni - Universidade TUIUTI<br />

Jannifer Silva Caldas - Autônoma - DUOVET - Medicina e Produção de <strong>Ovinos</strong> e <strong>Caprinos</strong><br />

João Ari Gualberto Hill - IAPAR-PR<br />

Luiz Augusto Pfau - Instituto EMATER<br />

Luiz Danilo Muehlmann - Instituto EMATER<br />

Marcelo Molento - UFPR<br />

Maria da Graça Schwartz - Autônoma - DUOVET - Medicina e Produção de <strong>Ovinos</strong> e <strong>Caprinos</strong><br />

Odilei Rogério Prado - Iniciativa Privada<br />

Tarcísio Nicolau Bartmeyer - Cooperativa CASTROLANDA<br />

Valéria Camacho - Instituto EMATER<br />

Willis Adolfo Amatneeks Junior - Instituto EMATER<br />

Revisão Instituto EMATER:<br />

José Renato Rodrigues de Carvalho<br />

Designer/Diagramação Arte Final - Instituto EMATER:<br />

Marlene Suely Ribeiro Chaves e Roseli Rozalim Silva<br />

Tiragem: 7.000 exemplares<br />

Exemplares desta publicação podem ser adquiri<strong>dos</strong> junto ao:<br />

Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural - EMATER<br />

Serviço de Atendimento ao Cliente - SAC<br />

E-mail: sac@emater.pr.gov.br http://www.emater.pr.gov.br<br />

Rua da Bandeira, 500 Cabral - CEP 80035-270 - Caixa Postal 1662<br />

Telefone(041) 3250 2100 - Curitiba - Paraná - Brasil<br />

I59 INSTITUTO EMATER<br />

<strong>Parasitoses</strong> gastrintestinais <strong>dos</strong> <strong>Ovinos</strong> e <strong>Caprinos</strong>:<br />

alternativas de controle / Cristina <strong>dos</strong> Santos Sotomaior,<br />

Fernanda Rosalinski Moraes, Felipe Pohl Souza, Viviane<br />

Milczewski e Cezar Amin Pasqualin - Curitiba: Instituto<br />

Emater, 2009.<br />

36 p. : il. (Informação Técnica, 080).<br />

1. <strong>Caprinos</strong>. 2. <strong>Ovinos</strong>. 3. Vermifugos. 4. Controle<br />

Parasitose. 5. Alimentação Adequada I. Sotomaior, Cristina<br />

<strong>dos</strong> Santos. II. Moraes, Fernando Rosalinski. III. Souza,<br />

Felipe Pohl. IV. Milczewski, Viviane. V. Pasqualin, Cezar<br />

Amin. VI. Título.<br />

CDU 636.3:616.34<br />

Maria Sueli da Silva Rodrigues, CRB 9/1.464


SUMÁRIO<br />

1. APRESENTAÇÃO ................................................................................................ 5<br />

2. INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 6<br />

3. AS PARASITOSES DOS OVINOS E CAPRINOS<br />

SÃO UM PROBLEMA? ...................................................................................... 7<br />

4. PRINCIPAIS PARASITAS DOS OVINOS E CAPRINOS E<br />

O QUE ELES CAUSAM ...................................................................................... 9<br />

5. CICLO DE VIDA DOS PARASITAS ................................................................. 15<br />

5.1 Fase de vida livre ............................................................................................... 16<br />

5.2 Fase parasitária .................................................................................................. 17<br />

6. FATORES QUE INTERFEREM NAS PARASITOSES ..................................... 18<br />

6.1 Clima ................................................................................................................. 18<br />

6.2 Suscetibilidade do hospedeiro ........................................................................... 19<br />

6.3 Sistemas de produção ........................................................................................ 20<br />

6.4 Vermífugos......................................................................................................... 20<br />

7. RESISTÊNCIA DOS PARASITAS AOS VERMÍFUGOS ................................. 21<br />

7.1 População refúgio .............................................................................................. 22<br />

8. FORMAS DE CONTROLE DAS PARASITOSES EM<br />

OVINOS E CAPRINOS ..................................................................................... 24<br />

8.1 Controle nas pastagens ...................................................................................... 24<br />

8.2 Controle nos animais ......................................................................................... 27<br />

8.2.1 Adequada alimentação e condição sanitária ................................................... 27<br />

8.2.2 Divisão em categorias ..................................................................................... 27<br />

8.2.3 Seleção de animais resistentes aos parasitas ................................................... 27<br />

8.2.4 Manejo de vermífugos .................................................................................... 30<br />

8.2.5 Tratamento seletivo ......................................................................................... 34<br />

3


1. APRESENTAÇÃO<br />

Em 2009, teve início o projeto “Treinamento de pequenos produtores de<br />

ovinos e caprinos na utilização do método FAMACHA © como auxiliar no controle<br />

da verminose gastrintestinal”, projeto este financiado pela Fundação<br />

Araucária, dentro do Programa Universidade Sem Fronteiras - Extensão<br />

Tecnológica Empresarial da Secretaria de Ciência e Tecnologia do Paraná<br />

(SETI).<br />

Ao se estabelecerem as parcerias entre os executores do projeto (Pontifícia<br />

Universidade Católica do Paraná - PUC-PR, Instituto EMATER, Secretaria de<br />

Estado da Agricultura e do Abastecimento do Paraná - SEAB e Associação <strong>dos</strong><br />

Especialistas em Pequenos Ruminantes do Paraná - AVEPER), optou-se pela<br />

ampliação do projeto original, que previa somente o treinamento do método<br />

FAMACHA © , passando a englobar ações gerais de controle das parasitoses<br />

gastrintestinais.<br />

O projeto atual prevê a realização de seminários nas diferentes regiões do<br />

Estado do Paraná sobre o tema “<strong>Parasitoses</strong> <strong>Gastrintestinais</strong> <strong>dos</strong> <strong>Ovinos</strong> e<br />

<strong>Caprinos</strong>: Alternativas de Controle” e treinamento do método FAMACHA ©<br />

para criadores de ovinos e caprinos. Esses encontros serão compostos por aulas<br />

teóricas e pela aula prática do treinamento do método FAMACHA © ,<br />

totalizando 12 horas. A proposta é buscar a adesão da classe produtora às novas<br />

técnicas de controle da parasitose gastrintestinal, visando à obtenção de<br />

um alto padrão sanitário, impulsionando ganhos para a atividade de ovinocultura<br />

e caprinocultura.<br />

5


2. INTRODUÇÃO<br />

A verminose gastrintestinal é considerada o principal problema enfrentado<br />

pelos criadores de ovinos e caprinos. Mesmo com a existência de inúmeros<br />

trata<strong>dos</strong> técnicos sobre o assunto, o conhecimento disponível é pouco aplicado<br />

na prática para o controle eficaz <strong>dos</strong> parasitas.<br />

A utilização de méto<strong>dos</strong> inadequa<strong>dos</strong> no combate à verminose vem gerando<br />

a resistência <strong>dos</strong> parasitas aos vermífugos. Nessa luta travada to<strong>dos</strong> os dias<br />

no campo, o criador ainda está perdendo para um adversário que ele mal consegue<br />

ver, seja do ponto de vista econômico ou ambiental.<br />

Diante desse quadro, quais os rumos que o controle parasitário está tomando<br />

na atualidade? Cada vez são mais frequentes questões relacionadas ao bem<br />

estar animal e às possibilidades de existência de resíduos de vermífugos nos<br />

subprodutos <strong>dos</strong> animais, como carne, leite e deriva<strong>dos</strong>, bem como no ambiente.<br />

As criações orgânicas estão ganhando espaço em função de uma população<br />

consumidora mais exigente e se veem carentes de tecnologias relacionadas<br />

ao controle de doenças para sua sustentabilidade.<br />

O controle parasitário por meio de vermífugos comerciais é a forma mais<br />

comum de tratamento <strong>dos</strong> animais infecta<strong>dos</strong>. Na atualidade, observa-se a<br />

realização intensa de pesquisas que buscam alternativas de controle como avaliação<br />

de fitoterápicos ou da ação de substâncias isoladas de plantas, além de<br />

estu<strong>dos</strong> com homeopatia e fungos nematófagos. Novos vermífugos surgirão<br />

no mercado e, mesmo que alternativas a esse controle químico também sejam<br />

disponibilizadas, seu uso inadequado fará com que em pouco tempo perca-se<br />

a eficácia no controle parasitário. Portanto, é importante entender que o sucesso<br />

do controle dependerá de um conjunto de ações dentro da propriedade e,<br />

para que esse sucesso de fato ocorra, a informação é a melhor ferramenta de<br />

trabalho.<br />

Este manual, elaborado por um grupo de profissionais especializa<strong>dos</strong> na<br />

área oferece, à classe produtora e aos técnicos, alguns caminhos alternativos,<br />

visando a reversão desta situação. O objetivo é fazer com que o criador consiga<br />

melhores resulta<strong>dos</strong> no manejo do rebanho, com ganhos na atividade produtiva,<br />

melhoria na qualidade da carne e leite e preservação ambiental. Para<br />

que isso ocorra efetivamente, é importante que se tenha acesso às informações<br />

técnicas e que se percebam as particularidades de cada propriedade relacionadas<br />

ao sistema de produção, à raça, ao clima e à infraestrutura.<br />

Vale ressaltar que o presente trabalho propõe substituir o termo verminose<br />

por parasitose. A razão está no mercado. Não é raro ouvir comentários de<br />

consumidores afirmando que as ovelhas e os cabritos têm muitos vermes, comprometendo<br />

parte do crescimento do consumo das carnes. Portanto, utilizar o<br />

6


termo parasitose quebra o estigma da terminologia verminose, que remete a<br />

uma falsa idéia de contaminação <strong>dos</strong> vermes <strong>dos</strong> ovinos e caprinos para os<br />

humanos.<br />

A criação de ovinos e caprinos só pode se expandir com o comércio de<br />

carnes com nome, isto é, com uma marca forte e a garantia de qualidade ao<br />

consumidor. Este tem sido o escopo da ação das instituições e da Câmara Setorial<br />

que orientam a organização das cadeias produtivas <strong>dos</strong> ovinos e caprinos.<br />

Este manual não pretende encerrar a discussão sobre os procedimentos<br />

adota<strong>dos</strong> para combater as parasitoses gastrintestinais, mas espera despertar a<br />

atenção de criadores e técnicos para a importância do problema.<br />

3. AS PARASITOSES DOS OVINOS E CAPRINOS<br />

SÃO UM PROBLEMA?<br />

To<strong>dos</strong> os criadores de ovinos e caprinos já devem ter enfrentado problemas<br />

importantes em sua criação devido aos parasitas gastrintestinais. Normalmente,<br />

estes problemas são mais visíveis quando o animal está doente ou morre.<br />

Porém, outras perdas importantes podem ser calculadas quando se observa<br />

com cuidado os índices produtivos e reprodutivos: as parasitoses causam diminuição<br />

no ganho de peso, baixas taxas reprodutivas, menor aproveitamento<br />

<strong>dos</strong> alimentos, entre tantos outros problemas, e ainda aumentam os custos com<br />

o tratamento <strong>dos</strong> animais doentes e as constantes desverminações.<br />

Para entender por que ovinos e caprinos são tão sensíveis às parasitoses, é<br />

preciso voltar um pouco no tempo e olhar de onde vieram estas duas espécies<br />

e há quanto tempo convivem com o homem. <strong>Ovinos</strong> e caprinos surgiram em<br />

uma região desértica da Ásia Central e foram as primeiras espécies de produção<br />

a serem domesticadas pelo homem. Portanto, na sua origem, viviam em<br />

um ambiente desfavorável para os parasitas, pela falta de umidade e porque<br />

pastavam mais arbustos (no caso <strong>dos</strong> caprinos) do que gramas. Estes fatos<br />

determinaram que os ovinos e caprinos não desenvolvessem defesas naturais<br />

(imunidade) muito embora os ovinos sejam mais tolerantes contra as infecções<br />

parasitárias do que os caprinos.<br />

Na natureza, estes animais tinham comportamento migratório, ou seja,<br />

percorriam grandes áreas em busca da melhor pastagem e raramente pastejavam<br />

no mesmo local (uma ovelha caminha entre 6 e 15 quilômetros por dia). Quando<br />

surgiram os sistemas mais intensivos de criação, os parasitas foram beneficia<strong>dos</strong>,<br />

pois os ovinos e caprinos passaram a pastar nos mesmos locais, o que<br />

permite maior contaminação do meio e maior nível de infecção <strong>dos</strong> animais.<br />

7


Esta situação é pior no Paraná, que tem um clima quente e úmido e onde<br />

ovinos e caprinos são cria<strong>dos</strong> em pequenas áreas de pastagem, principalmente<br />

de gramíneas, que ficam repletas de fezes e, consequentemente, de larvas<br />

infectantes. Esta condição ambiental levou ao surgimento de graves problemas<br />

com as parasitoses, resultando no uso excessivo de vermífugos, em alguns<br />

casos com mais de 15 tratamentos por ano. Isto deveria ter acabado com<br />

o problema das parasitoses, mas infelizmente para ovinos, caprinos e produtores,<br />

os parasitas adquiriram resistência aos vermífugos.<br />

Atualmente convive-se com a seguinte situação: as condições ambientais<br />

(temperatura, umidade e característica das pastagens) são muito favoráveis<br />

aos parasitas, o que acarreta grande contaminação das pastagens, e os vermífugos<br />

são parcialmente eficientes no controle das parasitoses.<br />

É necessário que o produtor tenha consciência de que não é mais possível<br />

controlar as parasitoses somente usando vermífugos. Portanto, para diminuir o<br />

impacto deste problema sobre a produção, não há uma solução pronta, e sim,<br />

propõe-se uma série de ações que devem ser desenvolvidas para controle das<br />

parasitoses gastrintestinais.<br />

8


4. PRINCIPAIS PARASITAS DOS OVINOS E<br />

CAPRINOS E O QUE ELES CAUSAM<br />

Parasitas internos (endoparasitas) são os que se desenvolvem nos órgãos<br />

internos <strong>dos</strong> ovinos e caprinos (estômago, intestinos, pulmão, fígado e outros).<br />

Parasitas externos (ectoparasitas) se distribuem sobre a pele. Os mais<br />

comuns sãos os piolhos, bernes e sarna.<br />

Devido à maior importância <strong>dos</strong> endoparasitas, esta cartilha tratará apenas<br />

das parasitoses gastrintestinais.<br />

O grupo de endoparasitas que mais ocorre em ovinos e caprinos são os<br />

estrongilídeos. Existem estrongilídeos que podem causar diferentes lesões e<br />

quadros clínicos (Quadro 1). O Haemonchus é o mais frequente durante o<br />

verão paranaense e também causa a doença mais grave, por ser o único parasita<br />

que se alimenta diretamente de sangue. Estes parasitas não podem ser diferencia<strong>dos</strong><br />

no exame de fezes porque os ovos deles são iguais. Por isso, para<br />

saber quais são os estrongilídeos mais frequentes no rebanho é necessário completar<br />

o exame de fezes com uma cultura de larvas (coprocultura). Como alguns<br />

estrongilídeos são mais resistentes ao frio, à seca e aos vermífugos do<br />

que os outros, é importante solicitar ao veterinário que acompanha a propriedade<br />

uma coprocultura periódica, a fim de saber se a proporção de parasitas<br />

estrongilídeos está modificando.<br />

Figura 1 – Presença de vários Haemonchus na<br />

mucosa do abomaso.<br />

9


Quadro 1 - Principais parasitas estrongilídeos de ovinos e caprinos que<br />

afetam os rebanhos paranaenses<br />

Haemonchus – sugador de sangue<br />

Parasita de abomaso (estômago verdadeiro<br />

ou coagulador) que se alimenta de sangue<br />

(desenho), causando anemia, edema<br />

submandibular (“papeira”), emagrecimento,<br />

e morte.<br />

É mais comum durante o verão e outono.<br />

Além de ser o mais perigoso <strong>dos</strong> parasitas,<br />

pois pode levar o animal à morte, é o<br />

que está mais resistente aos vermífugos<br />

nas propriedades do Paraná.<br />

Parasitas não sugadores de sangue<br />

Existem vários outros tipos de parasitas estrongilídeos que não se alimentam<br />

de sangue. Estes parasitas se alimentam da parede do abomaso<br />

(estômago ou coagulador) e intestino, causando úlceras. Com isso, diminui<br />

a digestão e a absorção do alimento e da água, ocasionando<br />

emagrecimento, papeira e diarreia.<br />

10


Além <strong>dos</strong> estrongilídeos, podem estar presentes outros parasitas de menor<br />

importância, pois dificilmente se associa a sua presença ao desenvolvimento<br />

de doenças (Quadro 2). Estes parasitas devem ser controla<strong>dos</strong> quando presentes<br />

em grandes quantidades.<br />

Quadro 2 – Outros parasitas de ovinos e caprinos<br />

Strongyloides<br />

É o único parasita capaz de se multiplicar por reprodução<br />

sexuada no meio ambiente (pastagem). Porém, isso<br />

somente ocorre quando as condições do meio são adequadas,<br />

com alta temperatura e umidade. No Paraná,<br />

essas condições ocorrem no verão.<br />

É capaz de infectar os animais por penetração pela pele,<br />

e da mãe para o filho (via leite ou placenta). Pode causar<br />

diarreia intensa nos animais jovens, mas normalmente<br />

é bem tolerado.<br />

Moniezia<br />

É parasita de intestino. Normalmente não causa lesão,<br />

pois se alimenta apenas do quimo (resíduo do alimento<br />

do ovino ou caprino). Pode atingir até 30 cm de comprimento<br />

e a presença de muitos parasitas pode causar<br />

obstrução no intestino e raramente morte.<br />

O parasita adulto elimina pedaços de seu corpo, os<br />

proglotes, cheios de ovos nas fezes. Estes proglotes parecem<br />

grãos de arroz e podem ser vistos a olho nu (Figura<br />

1). Ácaros microscópicos das pastagens se alimentam<br />

<strong>dos</strong> ovos deste parasita e desenvolvem uma larva<br />

no seu interior. Para o ovino se infectar, precisa ingerir<br />

pastagem com ácaros contamina<strong>dos</strong>.<br />

Figura 1 – Proglotes de<br />

Moniezia, visíveis a olho nu, nas<br />

fezes de um ovino.<br />

11


Fasciola hepatica<br />

É um parasita de fígado. Em sua forma adulta é pouco<br />

patogênico, mas pode ser associado à presença de<br />

icterícia (amarelão).<br />

O maior problema da Fasciola ocorre devido à ação<br />

da forma jovem, que se alimenta de fígado e sangue.<br />

Por este motivo, pode levar a um quadro de anemia e<br />

hipoproteinemia (com papeira) e morte.<br />

A Fasciola está presente em poucas regiões do Paraná,<br />

sendo mais comum em áreas com banhado ou<br />

alagadas. Ela depende da presença de um caramujo<br />

(Lymnea), que se desenvolve em regiões alagadiças,<br />

açudes e poças d’água. O animal se infecta ao ingerir<br />

pastagem contaminada com a larva da Fasciola em<br />

locais próximos àqueles que permitem o desenvolvimento<br />

<strong>dos</strong> caramujos.<br />

É muito importante diagnosticar a presença deste parasita<br />

porque, além <strong>dos</strong> prejuízos por ele causa<strong>dos</strong>, a<br />

doença clínica é muito semelhante à do Haemonchus<br />

e a forma de controle destes parasitas é diferente.<br />

Para saber quais são os parasitas que estão infectando os animais em uma<br />

propriedade, é necessário fazer o exame de fezes. Para realizá-lo, é preciso<br />

coletar fezes do animal, com auxílio de saco plástico flexível, conforme<br />

demostrado nas Figuras 2, 3 e 4. Este material deve ser mantido sob refrigeração<br />

até realizar o exame ou enviar para o laboratório. O grau de infecção pode<br />

ser medido pelo número de ovos de parasitas por grama de fezes (OPG). Quanto<br />

maior o OPG, maior o grau de infecção parasitária.<br />

12<br />

Figura 2 – Coleta de fezes<br />

diretamente do reto com auxílio de<br />

saco plástico.


Figura 3 – Após a coleta,<br />

inverte-se o saco plástico.<br />

Figura 4 – Identificação da<br />

amostra.<br />

Como os estrongilídeos são os parasitas que mais causam prejuízos à pecuária<br />

paranaense, tudo o que será discutido a seguir fará referência a este<br />

grupo. Caso o exame de fezes mostre a presença de outros parasitas em sua<br />

propriedade, aconselha-se que o produtor consulte um médico veterinário.<br />

Dependendo de quais parasitas estão acometendo seu rebanho, os prejuízos<br />

serão distintos. Porém, na maioria das vezes, há vários tipos diferentes de<br />

estrongilídeos ao mesmo tempo, o que faz com que, em geral, estes sejam os<br />

principais sinais da parasitose gastrintestinal em ovinos e caprinos:<br />

13


Figura 5a e 5b - Edema submandibular - conhecido como papeira<br />

5a<br />

5b<br />

Figura 6 - Anemia - a mucosa<br />

do olho fica branca<br />

Figura 7a e 7b - Emagrecimento<br />

7a<br />

7b<br />

14


Figura 8a e 8b - Diarreia<br />

8a<br />

8b<br />

Normalmente, quando os animais apresentam estes sinais, se não forem<br />

trata<strong>dos</strong>, podem morrer. Nestes casos, é fácil perceber que as perdas são decorrentes<br />

das parasitoses. Porém, a maior parte <strong>dos</strong> animais não tem parasitas<br />

suficientes para causar estes sinais. Quando em menores quantidades, estes<br />

parasitas podem provocar uma absorção incompleta <strong>dos</strong> nutrientes da dieta.<br />

Com isso, há maior consumo de alimento, mas, menor ganho de peso, retardo<br />

da idade de cobertura ou abate, maior intervalo entre partos e menor índice de<br />

partos gemelares. Em outras palavras, o animal não tem condições de expressar<br />

o seu potencial genético para maximizar a produção. Por isso, de nada<br />

adianta investir em animais de alto potencial genético sem realizar o controle<br />

das parasitoses.<br />

5. CICLO DE VIDA DOS PARASITAS<br />

Para que se possa encontrar alternativas de controle das parasitoses, é preciso<br />

conhecer muito bem os parasitas e como eles vivem.<br />

Os parasitas estrongilídeos passam por duas fases de desenvolvimento (Figura<br />

9) - uma no meio ambiente (fase de vida livre) e outra dentro do animal<br />

(fase parasitária).<br />

15


Figura 9 – Ciclo <strong>dos</strong> parasitas estrongilídeos<br />

L4<br />

L5<br />

L3<br />

Machos e<br />

Fêmeas<br />

No Hospedeiro<br />

penodo pré-patente de 18 a 21 dias.<br />

Estádio<br />

infectante<br />

(L3) na<br />

pastagem<br />

No Ambiente<br />

5 a 15 dias<br />

OVO<br />

L3<br />

L2<br />

Eclosão<br />

de L1<br />

L1<br />

5.1 Fase de vida livre<br />

Os parasitas eliminam seus ovos nas fezes do animal. Em condições adequadas<br />

de oxigênio, umidade e temperatura, em 24 horas é formada uma larva<br />

dentro do ovo. Esta larva eclode e necessita de microorganismos para se alimentar.<br />

É chamada de larva de primeiro estádio ou L 1<br />

.<br />

Se as condições do meio permanecerem favoráveis ao desenvolvimento<br />

da larva, a L 1<br />

realizará duas mudas (trocas de cutícula), para L 2<br />

e L 3<br />

. Isto pode<br />

variar em cinco a 10 dias normalmente. A L 3<br />

não mais se alimenta, é mais<br />

resistente às condições do meio e mais móvel, movimentando-se para fora das<br />

fezes. Esta mobilidade permite que ela se localize nas porções mais sombreadas<br />

da pastagem e nas gotículas de orvalho. Estas larvas são muito pequenas,<br />

16


não sendo possível visualizá-las a olho nu, somente com o auxílio de um microscópio.<br />

Somente a L 3<br />

pode se desenvolver quando ingerida pelo animal na<br />

pastagem. Por isso é considerada a fase infectante. A evolução do ovo até L 3<br />

pode demorar de cinco a sete dias em condições ideais; ou até 30 dias na<br />

ausência de temperatura ou umidade adequadas.<br />

Em geral, são consideradas condições ideais de desenvolvimento uma temperatura<br />

de 18 a 30 o C, com umidade acima de 70%. Existem parasitas que são<br />

mais sensíveis ao frio e à seca que os outros, e por isso ocorre uma variação<br />

nos tipos de parasitas conforme a região do Estado e a estação do ano.<br />

Haemonchus é o estrongilídeo mais sensível ao frio e à falta de umidade. Seu<br />

desenvolvimento é inibido em temperaturas abaixo de 10 o C.<br />

O sombreamento também é um fator importante. Além de preservar um<br />

microambiente de maior umidade, impede a ação <strong>dos</strong> raios ultra-violeta do sol<br />

que podem eliminar os parasitas. Por este motivo as porções da pastagem mais<br />

próximas ao solo, bem como espécies forrageiras com mais ramificações permitem<br />

a presença de uma maior quantidade de larvas de parasitas.<br />

O tempo de sobrevivência da L 3<br />

na pastagem depende das condições do<br />

meio ambiente. Quando a umidade é alta (maior que 85%), até 40% das larvas<br />

podem ficar viáveis por até 150 dias. No entanto, se a umidade é baixa (igual<br />

ou menor que 35%), mais de 60% das larvas morrem em menos de um mês.<br />

Portanto, atenção:<br />

LARVAS DE PARASITAS FICAM VIVAS NAS PASTAGENS<br />

POR CERCA DE 60 A 90 DIAS, MAS PODEM SOBREVIVER<br />

ATÉ MAIS DE UM ANO.<br />

Mais de 90% <strong>dos</strong> parasitas de uma propriedade se encontram na pastagem,<br />

na forma de ovos e larvas. Apenas um pequeno número se encontra no interior<br />

<strong>dos</strong> animais. Por isso é importante compreender a fase de vida livre <strong>dos</strong> parasitas<br />

para instalar medidas de controle.<br />

5.2 Fase parasitária<br />

Inicia quando o animal ingere a L 3<br />

na pastagem ou, menos frequentemente,<br />

na água de bebida. A larva é carregada junto com o alimento ao abomaso<br />

(coagulador, estômago verdadeiro) ou intestino, quando penetra na parede do<br />

órgão para se alimentar. Neste momento, o animal já pode demonstrar alguns<br />

sinais de parasitose. Após nova muda, a larva volta à luz do órgão onde se<br />

17


transforma em parasita adulto e inicia a postura <strong>dos</strong> ovos. O período desde<br />

aingestão da larva até o início da eliminação <strong>dos</strong> ovos nas fezes pode demorar<br />

de 18 a 21 dias.<br />

Alguns fatores podem alterar o tempo de ocorrência deste ciclo e a viabilidade<br />

<strong>dos</strong> parasitas e serão discuti<strong>dos</strong> a seguir.<br />

6. FATORES QUE INTERFEREM NAS<br />

PARASITOSES<br />

Quando se observa diferentes rebanhos de ovinos e caprinos nota-se que<br />

em alguns deles o problema da parasitose é mais grave, enquanto em outros,<br />

os animais aparentam estar sadios e produtivos. Estas diferenças acontecem<br />

porque existem vários fatores que interferem com o aumento ou a diminuição<br />

da infecção <strong>dos</strong> animais pelos parasitas.<br />

6.1 Clima<br />

Conforme já foi explicado, o parasita passa uma parte da vida no ambiente<br />

(principalmente pastagens, água ou solo). Durante esta fase da vida, os parasitas<br />

estão na forma de ovos ou larvas, aguardando o momento de serem ingeri<strong>dos</strong><br />

por um ovino ou caprino. Porém, quando o ambiente não apresenta boas<br />

condições, estas larvas morrem e não infectam um novo animal. Pensando<br />

desta forma, pode-se criar condições no ambiente para eliminar o maior número<br />

de larvas possível, ou saber quais são os lugares ou épocas do ano em que<br />

aumenta ou diminui a contaminação do rebanho.<br />

As larvas <strong>dos</strong> parasitas precisam de oxigênio, boa umidade e temperaturas<br />

amenas para sobreviver por vários meses nas pastagens. Por exemplo, quando<br />

se faz silagem, feno ou pré-secado de uma pastagem que estava contaminada,<br />

elimina-se ou diminui-se grandemente o número de larvas vivas no alimento<br />

que será servido aos animais (porque o oxigênio ou a água são tira<strong>dos</strong> do<br />

pasto) o que se refletirá em uma menor infecção do rebanho. Também se sabe<br />

que secas prolongadas ou condições extremas, como clima desértico ou neve,<br />

também diminuem muito o tempo de sobrevivência das larvas no pasto. Quando<br />

se cria pequenos ruminantes em áreas muito úmidas (baixadas, banha<strong>dos</strong><br />

etc.) já se sabe com antecedência que as larvas sobreviverão mais tempo neste<br />

ambiente e que o rebanho estará sujeito a maior taxa de parasitismo. Portanto,<br />

o tipo de solo, a topografia e o clima da região são fatores que influenciam no<br />

tipo de parasitos e na sua sobrevivência. Portanto, é importante analisar cuida-<br />

18


<strong>dos</strong>amente estas condições em cada propriedade para melhor planejamento<br />

das medidas de controle <strong>dos</strong> fatores ambientais.<br />

6.2 Suscetibilidade do hospedeiro<br />

Nem to<strong>dos</strong> os animais do rebanho são muito afeta<strong>dos</strong> por verminose. Ao<br />

prestar atenção, verifica-se que algumas categorias, como fêmeas que estão<br />

amamentando ou filhotes depois do desmame são aqueles que apresentam com<br />

maior frequência sinais de verminose (anemia, emagrecimento, papeira,<br />

diarreia). Devido a uma série de fatores estas duas categorias são realmente as<br />

mais frágeis e passíveis de infecção e, por isso, é preciso ter maior cuidado no<br />

controle de verminose destes animais. As fêmeas apresentam um aumento do<br />

número de ovos de parasitas nas fezes aproximadamente três semanas após o<br />

parto e, quando vão para o pasto, depositam to<strong>dos</strong> estes ovos no ambiente,<br />

fazendo com que a pastagem que seus filhotes ingerem esteja ainda mais contaminada.<br />

Portanto, atenção:<br />

FÊMEAS EM LACTAÇÃO E FILHOTES APÓS O DESMAME<br />

SÃO AS CATEGORIAS MAIS SUSCEPTÍVEIS ÀS PARASITOSES.<br />

Outros fatores que fazem com que um ovino ou um caprino seja mais<br />

sensível que outro na contaminação por parasitas estão liga<strong>dos</strong> à nutrição.<br />

Rebanhos bem alimenta<strong>dos</strong> possuem naturalmente maior resistência à<br />

verminose, assim como os rebanhos que não possuem outras doenças como<br />

foot rot, linfadenite caseosa, ectima contagioso, mastites, pneumonias etc.<br />

Consequentemente, quando os animais são bem alimenta<strong>dos</strong> e há um cuidado<br />

na prevenção das diversas doenças que afetam os pequenos ruminantes, previne-se,<br />

também, as grandes infecções parasitárias. Também já foi observado<br />

que animais de raças diferentes apresentam diferente sensibilidade às parasitoses.<br />

Por exemplo, sabe-se que ovinos de raças deslanadas são mais resistentes<br />

à verminose. Mas também está comprovado que dentro de um rebanho da<br />

mesma raça existem indivíduos naturalmente mais resistentes que outros. Esta<br />

observação é importante já que esta característica pode ser transmitida de pai e<br />

mãe para os filhos. Então, é possível identificar quais são os animais mais<br />

resistentes dentro do rebanho e cruzá-los entre si, descartando os mais suscetíveis.<br />

Desta forma ao longo <strong>dos</strong> anos o rebanho todo vai se tornando cada vez<br />

mais resistente (leia mais sobre este assunto na página 27, no item 8.2.3 - Seleção<br />

de animais resistentes aos parasitas).<br />

19


6.3 Sistemas de produção<br />

Os ovinos e caprinos podem ser cria<strong>dos</strong> em vários sistemas. Antigamente<br />

os rebanhos eram acompanha<strong>dos</strong> por um pastor durante o tempo todo e mudavam<br />

o local de pastejo to<strong>dos</strong> os dias, então a re-infecção <strong>dos</strong> animais por larvas<br />

de parasitas era muitíssimo pequena. Hoje, chega-se a ter mais de 30 ovelhas<br />

pastejando continuamente em um único hectare! Com o grande número de<br />

animais defecando (e depositando os ovos <strong>dos</strong> parasitas) em uma pequena<br />

área que é repastejada praticamente to<strong>dos</strong> os dias ou com intervalos pequenos<br />

de 30 ou 40 dias (rotação de piquetes) é de se esperar que a re-infecção do<br />

rebanho aumente consideravelmente.<br />

Portanto, atenção:<br />

QUANTO MAIOR A LOTAÇÃO (NÚMERO DE<br />

ANIMAIS/HECTARE) MAIOR A PARASITOSE.<br />

Como a forma mais comum de infecção do animal é o pastejo em áreas<br />

muito contaminadas com larvas vivas de parasitas, é necessário criar alternativas<br />

para diminuir a contaminação da pastagem e/ou impedir que os animais<br />

ingiram este pasto contaminado. Os sistemas de produção que utilizam o fornecimento<br />

de alimento exclusivamente no cocho, por exemplo, no confinamento;<br />

o risco de infecção por parasitas diminui muito já que todo o alimento<br />

fornecido está livre de larvas como: o feno, as capineiras, o alimento concentrado<br />

ou mesmo a silagem.<br />

6.4 Vermífugos<br />

O uso indiscriminado de anti-helmínticos levou à resistência <strong>dos</strong> parasitas<br />

aos diferentes princípios ativos (vermífugos). Atualmente, os parasitas gastrintestinais<br />

<strong>dos</strong> rebanhos ovinos e caprinos paranaenses apresentam resistência a<br />

pelo menos um tipo de vermífugo. Por isso, observa-se, às vezes, que mesmo<br />

após uma desverminação os animais ainda continuam anêmicos, magros ou<br />

com diarreia. Este problema é muito difícil de solucionar, então, é preciso<br />

desverminar os animais o menor número de vezes possível, para que os<br />

vermífugos funcionem bem por muitos anos.<br />

Por se tratar de um tema de extrema importância, o próximo capítulo inteiro<br />

é reservado para explicar como ocorre a resistência <strong>dos</strong> parasitas aos<br />

vermífugos.<br />

20


7. RESISTÊNCIA DOS PARASITAS AOS<br />

VERMÍFUGOS<br />

A resistência é um fenômeno que ocorre quando os vermífugos já não<br />

funcionam mais. Ou seja, você dá o vermífugo para o animal, mas a maioria<br />

<strong>dos</strong> parasitas não morre com o vermífugo utilizado. Isto não acontece para<br />

to<strong>dos</strong> os parasitas ao mesmo tempo. Na natureza já existem alguns (raros)<br />

parasitas que são naturalmente resistentes aos vermífugos. O vermífugo não<br />

consegue matar estes poucos parasitas porque eles têm, na sua genética, a capacidade<br />

de processarem ou eliminarem os efeitos tóxicos <strong>dos</strong> vermífugos.<br />

Cada vez que se utiliza o vermífugo, elimina-se os parasitas que são sensíveis<br />

(os que morrem) e deixa-se que somente os parasitas resistentes sobrevivam.<br />

Portanto, existem em todas as propriedades dois tipos de parasitas:<br />

PARASITAS RESISTENTES – que não morrem com o vermífugo.<br />

Atualmente, estes são os parasitas “bandi<strong>dos</strong>”, nossos maiores inimigos,<br />

pois quando percebemos que nossa cabra ou ovelha precisa ser desverminada<br />

e usamos o vermífugo, estes parasitas não vão morrer.<br />

PARASITAS SENSÍVEIS – que morrem com o vermífugo.<br />

Atualmente, pode-se considerar estes parasitas como “amigos” ou parasitas<br />

“bonzinhos”, pois sabe-se que, ao fornecer o vermífugo, eles morrem.<br />

É possível dizer que há resistência no rebanho quando o número de parasitas<br />

resistentes for maior que o número de parasitas sensíveis. Toda a vez que o<br />

vermífugo é utilizado, morrem os parasitas sensíveis e somente os resistentes<br />

sobrevivem e vão deixando descendentes. Com o tempo, a maior parte da<br />

população de parasitas é descendente <strong>dos</strong> resistentes. Portanto, quanto mais<br />

usar o vermífugo, mais resistência haverá.<br />

Atenção para dica:<br />

EXCESSO DE DESVERMINAÇÕES<br />

RESISTÊNCIA DOS PARASITAS AO VERMÍFUGO<br />

MAIS VERMINOSE<br />

21


Os vermífugos somente devem ser usa<strong>dos</strong> quando realmente for preciso.<br />

E, mais importante ainda, os vermífugos não podem ser usa<strong>dos</strong> como a única<br />

forma de controlar a verminose! Deve-se usar outras estratégias, num controle<br />

integrado, conforme abordadas no item 8, adiante.<br />

Para saber se há parasitas resistentes no seu rebanho, existem várias<br />

metodologias. Porém, uma delas é bem simples e pode ser feita em qualquer<br />

propriedade. É o chamado teste de redução da contagem de ovos (OPG) nas<br />

fezes. Para cada vermífugo a ser testado, é necessário separar um grupo de 10<br />

a 15 animais. No dia da desverminação, coletar amostras de fezes de to<strong>dos</strong> os<br />

animais individualmente para realizar o exame de OPG. Depois de 10 a 14<br />

dias, coletar novamente as fezes <strong>dos</strong> mesmos animais. Se for comparado o<br />

OPG antes e depois da desverminação, é possível calcular a porcentagem de<br />

redução (R%), por meio da seguinte fórmula:<br />

R (%) =<br />

( ) - ( )<br />

média de OPG antes média de OPG depois<br />

da desverminação<br />

da desverminação<br />

média de OPG depois da desverminação<br />

x 100<br />

Por exemplo: se antes da desverminação a média de OPG era de 9.000 e<br />

depois ficou em 1.500, a redução foi de 83,33%.<br />

Se a redução na contagem <strong>dos</strong> ovos foi menor que 90%, isto indica que há<br />

resistência <strong>dos</strong> parasitas àquele vermífugo testado. O produtor pode testar vários<br />

vermífugos ao mesmo tempo e até associações de vermífugos. Mas precisa<br />

prestar atenção: para cada um <strong>dos</strong> vermífugos testa<strong>dos</strong>, deve-se ter pelo<br />

menos 10 animais disponíveis. Por exemplo: se o plantel é de 40 animais,<br />

poderão ser testa<strong>dos</strong> três vermífugos ao mesmo tempo, pois um grupo deverá<br />

permanecer sem ser desverminado, como testemunha. O ideal é que este teste<br />

seja feito anualmente, para se escolher com qual vermífugo se vai trabalhar<br />

naquele ano.<br />

7.1 População refúgio<br />

Ao tratar sobre o ciclo de vida <strong>dos</strong> parasitas (item 5, página 15), percebeuse<br />

que a maioria deles está no ambiente, na forma de larva. Lembrando também<br />

que estas larvas podem ser de parasitas “bonzinhos” ou “bandi<strong>dos</strong>”, é<br />

preciso aprender outro conceito importante: POPULAÇÃO REFÚGIO.<br />

22


Refúgio é a porção da população total de parasitas que não teve contato<br />

com o vermífugo, ou seja, não sofreu a chamada pressão de seleção (que seria<br />

o fato do vermífugo matar to<strong>dos</strong> os parasitas “bons” ou sensíveis e deixar<br />

vivos somente os parasitas “bandi<strong>dos</strong>” ou resistentes se reproduzindo, ou seja,<br />

os “bandi<strong>dos</strong>” seriam os seleciona<strong>dos</strong>). A princípio, todas as larvas que estão<br />

no ambiente (nas pastagens) compõem a população em refúgio, pois somente<br />

os parasitas que estão dentro <strong>dos</strong> animais é que teriam contato com o vermífugo.<br />

É importante conhecer e preservar a população refúgio porque ela é a fonte<br />

de parasitas “bons”, de parasitas que ainda são sensíveis aos vermífugos. Se<br />

for para os animais se infectarem, é preferível que seja com os parasitas sensíveis,<br />

porque assim haverá a certeza de que, quando for necessário, será possível<br />

usar os vermífugos e eles realmente funcionarão. Neste sentido é importante<br />

que sejam revistos alguns conceitos antigos, tais como o de trocar os<br />

animais de piquete após a desverminação. Quando isto é feito, a nova pastagem,<br />

com pouca população em refúgio, será povoada somente por larvas de<br />

parasitas resistentes.<br />

Recomendação Antiga:<br />

Desverminar e trocar de piquete<br />

Menor população refúgio<br />

Maior resistência ao vermífugo<br />

Recomendação Atual:<br />

Trocar de piquete e desverminar<br />

Maior população refúgio<br />

Menor resistência ao vermífugo<br />

Neste raciocínio, também é importante que os animais adquiri<strong>dos</strong> ou que<br />

retornem à propriedade pastejem em áreas contaminadas com parasitos sensíveis<br />

(população refúgio).<br />

23


Outra forma de aumentar a população de refúgio é não desverminar to<strong>dos</strong><br />

os ovinos e caprinos do rebanho. Se alguns animais forem deixa<strong>dos</strong> sem desverminar,<br />

os parasitas sensíveis (parasitas “bonzinhos”) que estão dentro destes<br />

ovinos ou caprinos que não foram desvermina<strong>dos</strong> poderão continuar se reproduzindo<br />

e também deixarão descendentes, aumentando o número de larvas de<br />

parasitas sensíveis nas pastagens. Por isso, é muito importante estar atento à<br />

condição sanitária <strong>dos</strong> animais e tratar somente aqueles que precisam ser desvermina<strong>dos</strong>.<br />

Agindo assim, o chamado TRATAMENTO SELETIVO estará sendo<br />

utilizado. Existem vários critérios diferentes para esta decisão, mas o assunto<br />

será tratado no capítulo 8.2.4 - Controle de verminose – tratamento seletivo.<br />

8. FORMAS DE CONTROLE DAS PARASITOSES<br />

EM OVINOS E CAPRINOS<br />

É preciso lembrar que os rebanhos de ovelhas e cabras irão conviver sempre<br />

com os parasitas. Não é possível exterminar totalmente os parasitas. Portanto,<br />

deve-se instituir manejos para que os animais permaneçam em equilíbrio<br />

com o parasitismo, não sofrendo grandes prejuízos. Há várias alternativas<br />

diferentes de controle que podem ser adotadas, sendo importante avaliar quais<br />

delas podem e devem ser usadas em cada propriedade. Não há uma fórmula<br />

única. O consenso, entretanto, está no fato de que é necessário diminuir a<br />

utilização <strong>dos</strong> vermífugos ao mínimo possível.<br />

Para ser possível diminuir o número de animais desvermina<strong>dos</strong>, é necessário<br />

adotar manejos que diminuam o nível de infecção <strong>dos</strong> rebanhos, assim,<br />

quando as cabras e ovelhas realmente precisarem de medicamentos eles serão<br />

utiliza<strong>dos</strong> com eficiência. Considerando esta linha de pensamento não se pode<br />

considerar o vermífugo como única forma de controle de verminose e um<br />

ovinocultor ou caprinocultor responsável, deve adotar o CONTROLE INTE-<br />

GRADO DE PARASITAS, que prioriza o controle <strong>dos</strong> parasitas baseado em<br />

várias medidas diferentes de manejo e não somente pelo uso de drogas.<br />

Dentre as muitas formas de auxiliar no controle das parasitoses gastrintestinais,<br />

destacam-se as seguintes práticas:<br />

8.1 Controle nas pastagens<br />

a) Diminuir a lotação de animais nos pastos quando possível. Nas áreas mais<br />

úmidas da fazenda ou em locais que sabidamente estão mais contamina<strong>dos</strong>,<br />

como por exemplo, uma pastagem da qual o lote sempre sai com<br />

anemia ou diarreia.<br />

24


) Utilizar pastoreio alternado com bovinos ou equinos adultos. Sabe-se que<br />

o uso de pastejo concomitante de pequenos ruminantes com bovinos adultos<br />

ou equinos é de grande valia no controle das parasitoses. Melhor ainda<br />

que o pastejo ao mesmo tempo, seria utilizar uma área onde inicialmente<br />

pastejasse o rebanho de ovinos e caprinos e quando a forragem já estivesse<br />

novamente em ponto de pastejo que fosse então destinada aos bovinos ou<br />

equinos. Desta forma, em cada pastejo, uma espécie animal diferente seria<br />

colocada controlando as larvas de parasitas da outra.<br />

c) Há casos em que o confinamento se torna a opção mais viável. O confinamento<br />

pode ser apenas das categorias mais sensíveis, como fêmeas em<br />

lactação e filhotes em terminação. No confinamento, o fornecimento do<br />

capim é realizado com volumoso livre de parasitas como relatado anteriormente:<br />

feno, silagem, concentrado, pré-secado etc.<br />

d) A separação das categorias também é uma prática interessante de manejo,<br />

porque cada uma delas apresenta uma diferença de susceptibilidade. Quando<br />

se deixam to<strong>dos</strong> os animais do rebanho num mesmo pasto, a desverminação<br />

é feita baseando-se na necessidade <strong>dos</strong> mais sensíveis, o que aumenta a<br />

pressão de seleção de parasitas resistentes. Separar em lotes também oferece<br />

a possibilidade de destinar os melhores pastos (mais nutritivos ou<br />

menos contamina<strong>dos</strong>) para as categorias mais sensíveis (fêmeas em lactação<br />

e desmama<strong>dos</strong>).<br />

e) Escolher forrageiras<br />

que possam ser manejadas<br />

em pastejo<br />

alto, acima de 15 cm<br />

aproximadamente.<br />

Como a maioria das<br />

larvas se encontra<br />

até 5 cm do solo,<br />

quando se coloca o<br />

rebanho em pastagens<br />

mais altas, diminuí-se<br />

o número<br />

de larvas ingeridas<br />

pelos animais.<br />

Figura 10<br />

25


f) Utilizar as restevas de agricultura. Algumas áreas apresentam pasto razoável<br />

após a colheita, por exemplo, o pasto que surge após a colheita do<br />

milho para grãos. As áreas que permaneceram por longos perío<strong>dos</strong> sem<br />

animais, normalmente possuem poucas larvas e podem ser utilizadas com<br />

segurança.<br />

g) Formar pastagens anuais. Quando se implanta pastagens anuais (aveia,<br />

azevém, milheto etc) especialmente quando a terra é revirada para o novo<br />

plantio, também se tem uma pastagem com baixa contaminação por larvas.<br />

h) Reservar para fenação ou silagem piquetes mais contamina<strong>dos</strong> se possível.<br />

Estes processos eliminam o oxigênio do ambiente (silagem) ou diminuem<br />

muito a umidade (fenação) matando a maior parte das larvas de parasitas.<br />

i) Eliminar as áreas de concentração de animais como solários ou piquetes<br />

pequenos com pasto nos quais o rebanho permanece à noite ou nos dias<br />

em que serão maneja<strong>dos</strong>. Se houver a necessidade de solário ou local para<br />

os animais passarem a noite, deve-se planejar para que o piso seja ripado,<br />

de cimento, areia etc, de forma que não apresente pasto. Desta forma não<br />

haverá contaminação neste local.<br />

j) Não depositar o esterco <strong>dos</strong> ovinos ou caprinos diretamente nas pastagens<br />

ou capineiras. Este material contém milhares de larvas vivas. Para que seja<br />

aproveitado como adubo, o esterco precisa ser fermentado e estar bem<br />

curtido para eliminação <strong>dos</strong> ovos e larvas <strong>dos</strong> parasitas.<br />

Portanto, atenção:<br />

NÃO COLOQUE O ESTERCO DIRETAMENTE NO PASTO. ANTES,<br />

ELE DEVE PASSAR POR UM PROCESSO DE FERMENTAÇÃO<br />

(ESTERQUEIRA OU COMPOSTEIRA).<br />

.<br />

k) Não permitir que o esterco do aprisco “escorra” para os piquetes. É importante<br />

planejar as instalações de forma que as fezes fiquem contidas e possam<br />

ser retiradas para uma esterqueira sem que escorram diretamente para<br />

o pasto.<br />

26


8.2 Controle nos animais<br />

8.2.1 Adequada alimentação e condição sanitária<br />

A adequada alimentação e sanidade são indispensáveis para um controle<br />

eficiente das parasitoses gastrintestinais. Portanto, instituir programas de controle<br />

sanitário e nutricional para o rebanho é uma medida importante. O planejamento<br />

da alimentação em todas as épocas do ano, a implementação de um<br />

calendário de vacinações, assim como o planejamento da higiene e ventilação<br />

das instalações são exemplos destas medidas a serem adotadas nas propriedades.<br />

É preciso pensar que muitas vezes o fato do animal estar magro é a causa<br />

da parasitose, não a consequência. Ou seja:<br />

NEM SEMPRE “MEU ANIMAL ESTÁ MAGRO PORQUE TEM<br />

VERMINOSE!”, MAS “MEU ANIMAL TEM VERMINOSE<br />

PORQUE ESTÁ MAGRO!”<br />

8.2.2 Divisão em categorias<br />

A separação <strong>dos</strong> animais em categorias é importante não somente para o<br />

manejo correto das pastagens, mas para todas as atividades do rebanho. Ao<br />

separar os animais pela idade e estado fisiológico, pode-se atender melhor às<br />

exigências nutricionais de cada fase, cuidar melhor das categorias mais sensíveis<br />

e planejar estratégias de controle específicas para estes animais.<br />

8.2.3 Seleção de animais resistentes aos parasitas<br />

Uma importante forma de ajudar no controle da verminose <strong>dos</strong> ovinos e<br />

caprinos é trabalhar com a seleção de animais resistentes aos parasitas. Em um<br />

rebanho existem animais (ovinos ou caprinos) que não ficam doentes, que não<br />

têm parasitoses. Estes animais ingerem as larvas que estão na pastagem, mas<br />

conseguem eliminá-las; ou seja, os parasitas não chegam à fase adulta e não<br />

vão começar a sugar o sangue do animal. Diz-se que estes animais são resistentes<br />

aos parasitas e à verminose.<br />

Preste atenção: agora é de ovinos e caprinos resistentes aos parasitas que<br />

se está falando e não mais de parasitas resistentes aos vermífugos!<br />

Esta situação de maior resistência pode não ocorrer durante toda a vida do<br />

animal. Às vezes ele é muito resistente (não fica doente) e às vezes ele adoece.<br />

27


Isto vai depender de muitos fatores como:<br />

- idade<br />

- se é uma fêmea em lactação ou não<br />

- se o animal está magro<br />

- se o animal está com outras doenças<br />

Nestes casos, deve-se dar mais atenção àqueles animais na fase em que<br />

estão mais propensos a ficar doentes.<br />

Porém, existem animais que SEMPRE são resistentes, que não ficam doentes<br />

nunca. Em média, há 15 a 20% <strong>dos</strong> animais com esta característica. O<br />

que se deve fazer é identificar quais são estes animais e escolhê-los para ficarem<br />

no rebanho. Ou seja, é preciso selecionar os animais mais resistentes,<br />

eliminando os que sempre estão doentes e com parasitoses. É exatamente a<br />

mesma coisa que se faz quando se seleciona os animais que ganham mais<br />

peso, produzem mais leite etc.<br />

Mas há também outro tipo de animal, o chamado RESILIENTE. Os<br />

resilientes são animais que apesar de estarem parasita<strong>dos</strong> (com parasitas) continuam<br />

produzindo bastante. É como se os parasitas não conseguissem prejudicar<br />

estes animais.<br />

Ao comparar um animal resistente com um resiliente, pode-se dizer que o<br />

resistente é melhor, porque não fica doente e também não elimina ovos de<br />

parasitas pelas fezes. O animal resiliente, apesar de não ficar doente, pode<br />

estar contaminando a pastagem, pois elimina ovos de parasitas nas fezes. Mas<br />

o animal resiliente é muito melhor que o animal totalmente susceptível, porque<br />

este animal fica doente e pode até morrer. Além disso, o resiliente, por não<br />

precisar ser desverminado constantemente, ajuda a preservar a população refúgio,<br />

pois quando elimina ovos de parasitas são somente de parasitas sensíveis<br />

aos vermífugos.<br />

Então, resumindo, há três tipos de animais (ovinos e caprinos):<br />

- O RESISTENTE: não tem parasitas,<br />

não fica doente, não contamina<br />

a pastagem; não precisa ser<br />

desverminado<br />

28


- O RESILIENTE: não fica doente,<br />

mas tem parasitas e, portanto, contamina<br />

a pastagem; porém não precisa<br />

ser desverminado e ajuda a preservar a<br />

população refúgio<br />

- O SUSCEPTÍVEL: tem parasitas,<br />

fica doente, contamina a<br />

pastagem e sempre precisa ser<br />

desverminado, aumentando o problema<br />

da resistência aos vermífugos.<br />

Este animal deve ser descartado<br />

do rebanho.<br />

Uma vez que há esses três tipos de animais (resistentes, resilientes e susceptíveis)<br />

é possível optar quais serão manti<strong>dos</strong> no rebanho e quais serão descarta<strong>dos</strong>.<br />

E sabe por quê? Porque estas características são herdáveis, ou seja,<br />

passam de pai para filho. Se for escolhido um animal mais resistente à<br />

verminose, os filhos deste animal serão, na média, também, mais resistentes<br />

que os filhos <strong>dos</strong> outros animais.<br />

Portanto, os mais susceptíveis devem ser descarta<strong>dos</strong> sempre. Mas, quem<br />

são estes animais? São aqueles que sempre estão com verminose, os que ficam<br />

doentes primeiro e os que demoram mais para se recuperarem.<br />

Os animais resistentes e resilientes devem ser os escolhi<strong>dos</strong> para permanecer<br />

no rebanho. Eles quase não têm verminose e, quando têm, geralmente se<br />

recuperam rapidamente.<br />

Mas como é possível diferenciar o animal resistente do resiliente? Para<br />

isto, basta fazer o exame de fezes e contar o número de ovos nas fezes (OPG)<br />

de cada animal.<br />

29


Em alguns países, como Austrália<br />

e Nova Zelândia, existem<br />

provas oficiais (como as provas<br />

de ganho de peso) para determinar<br />

quem são os animais mais<br />

resistentes à verminose.<br />

Portanto, a partir de hoje, comece a prestar atenção em seus animais e a<br />

identificar quais são os mais resistentes. E não esqueça de incluir esta característica<br />

na lista de objetivos a serem alcança<strong>dos</strong> pelo seu rebanho.<br />

8.2.4 Manejo de vermífugos<br />

Os vermífugos foram utiliza<strong>dos</strong> durante<br />

muito tempo como única maneira de<br />

combater a verminose. Hoje já se sabe que<br />

se os vermífugos forem usa<strong>dos</strong> indiscriminadamente<br />

eles não funcionarão mais.<br />

30


Portanto, atenção:<br />

OS VERMÍFUGOS NÃO DEVEM SER USADOS COMO A ÚNICA<br />

FORMA DE CONTROLE DAS PARASITOSES DOS<br />

OVINOS E CAPRINOS.<br />

Os vermífugos podem ser de amplo espectro, ou seja, que têm ação sobre<br />

várias espécies de parasitas, ou de ação específica (curto espectro) que agem<br />

sobre um número menor de espécies. No mercado existe um grande número<br />

de vermífugos à disposição do criador, mas to<strong>dos</strong> eles pertencem a apenas<br />

quatro grandes grupos químicos, que são: benzimidazóis, imidazotiazóis,<br />

lactonas macrocíclicas (amplo espectro) e salicilanídeos/substitutos fenólicos<br />

(curto espectro) (Quadro 3). Estas informações encontram-se na bula do<br />

vermífugo. O grupo químico representa a forma de ação da droga sobre o<br />

parasita, o que faz com que, quando os parasitas se tornem resistentes a um<br />

vermífugo de determinado grupo, fiquem resistentes a todas as outras drogas<br />

daquele mesmo grupo.<br />

Existem características do vermífugo que são inerentes ao princípio ativo<br />

e ao veículo que compõe a formulação comercial. Desta forma, um mesmo<br />

princípio ativo pode ser apresentado da forma oral ou injetável, bem como<br />

apresentar diferentes perío<strong>dos</strong> de carência para a carne ou leite. Por isso, é<br />

conveniente consultar os perío<strong>dos</strong> de carência diretamente na bula do medicamento<br />

utilizado.<br />

Quadro 3 - Grupos e princípios ativos <strong>dos</strong> principais vermífugos utiliza<strong>dos</strong><br />

em ovinos e caprinos, com as respectivas <strong>dos</strong>es recomendadas*<br />

1 - Benzimidazóis 3 - Lactonas Macrocíclicas<br />

- Albendazol (10 mg/kg) - Ivermectin (0,2 mg/kg)<br />

- Fenbendazol (7,5 mg/kg) - Abamectin (0,2 mg/kg)<br />

- Oxfendazol (7,5 mg/kg) - Doramectin (0,2 mg/kg)<br />

- Moxidectin (0,2 mg/kg)<br />

2 - Imidazotiazóis 4 - Salicilanilídeos<br />

- Tetramisol (8 mg/kg) - Closantel (7,5 a 10 mg/kg)<br />

- Levamisol (7,5 mg/kg) - Disofenol (7,5 mg/kg)<br />

- Nitroxinil (13 mg/kg)<br />

*<strong>dos</strong>es para ovinos<br />

31


Outro cuidado que se deve ter é prestar atenção ao nome do princípio ativo,<br />

não ao nome comercial do vermífugo. Para um mesmo princípio ativo,<br />

podem existir dezenas de produtos comerciais. Portanto, a escolha do vermífugo<br />

deve ser orientada por um profissional qualificado.<br />

Atualmente existem no mercado muitos produtos comerciais, que são associações<br />

de princípios ativos. Esses vermífugos devem ser utiliza<strong>dos</strong> com<br />

cautela, pois quando desenvolvem resistência, atingem dois ou três princípios<br />

ativos, o que pode se tornar um sério problema para os programas de controle<br />

da propriedade. Esses produtos só devem ser utiliza<strong>dos</strong> após um teste de vermífugos<br />

indicar que princípios isola<strong>dos</strong> não são eficientes.<br />

Pode-se concluir que a utilização de um vermífugo de maneira eficiente,<br />

depende de vários fatores, entre eles: a qualidade do produto, a <strong>dos</strong>e e a eficácia<br />

do produto no rebanho em que está sendo utilizado. Para que se tenha<br />

certeza de que o produto é eficaz, deve-se realizar periodicamente um teste de<br />

eficácia de vermífugos e, com base nisto, escolher o princípio a ser utilizado.<br />

O mais importante, é ter em mente que os vermífugos, quando bem utiliza<strong>dos</strong>,<br />

fazem parte das estratégias de controle da verminose, mas nunca devem<br />

ser utiliza<strong>dos</strong> como a única ferramenta de controle. Para o emprego do vermífugo<br />

de forma correta é importante considerar que:<br />

a) A forma com que se utilizam os anti-helmínticos será decisiva para prolongar<br />

o tempo de uso deste vermífugo. É necessário testar os princípios<br />

ativos antes de decidir qual será o utilizado, devido ao problema de resistência<br />

já citado. Há necessidade de que este teste seja realizado em todas<br />

as propriedades, pois nem sempre a droga que funciona em uma propriedade<br />

também funciona na outra. Deve-se somente utilizar vermífugos que<br />

apresentem redução de OPG superior a 90%. Ou seja, se antes do tratamento<br />

a média de ovos por grama de fezes era de 1.000, depois do vermífugo<br />

pode ser de, no máximo, 100. Caso isto não ocorra, deve-se testar associações<br />

de princípios ativos sob orientação técnica (usar mais de um<br />

vermífugo ao mesmo tempo). O teste de vermífugos deve ser realizado<br />

to<strong>dos</strong> os anos.<br />

b) Usar a <strong>dos</strong>e correta do vermífugo. As <strong>dos</strong>agens <strong>dos</strong> principais princípios<br />

ativos, recomendadas para ovinos, estão listadas no Quadro 3. Muitas vezes,<br />

utilizam-se estas mesmas <strong>dos</strong>agens para caprinos, ainda que alguns<br />

considerem que estas devem ser mais altas. O exemplo do princípio ativo<br />

levamisol ilustra esta situação. Enquanto o levamisol é indicado na <strong>dos</strong>e<br />

de 7,5 mg/kg para ovinos, há citações de <strong>dos</strong>es de 10 mg/kg e até 12 mg/<br />

32


kg, quando se trata de caprinos. Outro cuidado a ser tomado é verificar se<br />

as <strong>dos</strong>es indicadas nas bulas <strong>dos</strong> medicamentos estão corretas.<br />

Sabe-se, também, que erros de <strong>dos</strong>agem podem ser cometi<strong>dos</strong> por falhas<br />

na estimativa <strong>dos</strong> pesos. Sempre que possível, deve-se pesar os animais<br />

antes da desverminação. Quando isto não for viável, pode-se pesar o maior<br />

animal do lote e utilizar este valor como padrão para os demais. Caso<br />

exista muita diferença entre animais do mesmo lote é necessário dividir a<br />

categoria em leves, medianos e pesa<strong>dos</strong>, cada um com a sua <strong>dos</strong>agem.<br />

c) Rotação de princípios ativos. Após o teste de vermífugos, sabe-se quais os<br />

princípios ativos que podem ser utiliza<strong>dos</strong>. A rotação destes princípios ativos<br />

deve ser feita de forma lenta, sendo que o produtor pode manter o<br />

mesmo principio por até três anos.<br />

d) Utilização de vermífugos de curto espectro. Uma vez que Haemonchus é o<br />

principal parasita, sempre que possível, deve ser utilizado um princípio<br />

ativo de curto espectro (como o closantel e nitroxinil) que atingem mais<br />

especificamente este parasita. Desta forma, há uma diminuição na pressão<br />

de seleção para cepas resistentes <strong>dos</strong> demais parasitas presentes.<br />

e) Momento e frequência de desverminações. O número de desverminações<br />

deve ser o menor possível, uma vez que está comprovada a associação<br />

entre resistência e número de tratamentos com anti-helmínticos. O critério<br />

para determinar o momento do tratamento é muito importante e deve ser<br />

feito somente quando realmente houver necessidade. O exame de contagem<br />

de ovos nas fezes (OPG) pode ser utilizado para esta finalidade. A<br />

média de OPG acima da qual há a necessidade de desverminação depende<br />

da categoria animal e do sistema de produção. Geralmente, médias abaixo<br />

de 1.000 OPG não requerem tratamento. Tratamentos com curtos intervalos<br />

(a cada mês, ou a cada 15 dias, por exemplo) devem ser proibi<strong>dos</strong> para<br />

que não se reforce a resistência <strong>dos</strong> parasitas aos vermífugos.<br />

Para ovinos e caprinos, o método FAMACHA © tem permitido a identificação<br />

individual <strong>dos</strong> animais que precisam ser trata<strong>dos</strong>. Aprenda mais sobre este<br />

método no item 8.2.5 – tratamento seletivo.<br />

33


8.2.5 Tratamento seletivo<br />

O tratamento seletivo consiste em desverminar somente animais que apresentem<br />

algum sinal de anemia, diarreia, queda na produção de carne ou leite,<br />

deixando os outros sem tratar. O objetivo disto é preservar a população em<br />

refúgio, ou seja, aumentar o número de parasitas sensíveis nas pastagens.<br />

Há várias formas de fazer o tratamento seletivo. O melhor seria conseguir<br />

identificar, dentro de um rebanho ou de um lote, quais são os animais que<br />

realmente precisam de vermífugos.<br />

O exame de fezes (OPG), por exemplo, poderia ser um destes critérios<br />

para o tratamento seletivo. O problema do exame de fezes (OPG) é que fazer o<br />

exame de to<strong>dos</strong> os animais é muito demorado e caro. Se for feito o exame de<br />

somente alguns animais não se saberá como está o nível de infecção <strong>dos</strong> outros,<br />

o que não ajuda a identificar quem realmente precisa ser desverminado.<br />

Existe uma metodologia nova, desenvolvida por cientistas sul-africanos,<br />

que consegue identificar de forma rápida, eficiente e praticamente sem custo<br />

nenhum, quais são os animais que realmente precisam ser desvermina<strong>dos</strong>, nas<br />

propriedades em que o Haemonchus é o principal parasito presente. Este método<br />

chama-se FAMACHA © .<br />

34


O método FAMACHA © consiste<br />

em avaliar a cor da mucosa<br />

do olho de cada um <strong>dos</strong> animais do<br />

rebanho e, ao comparar esta cor<br />

com a cartela do método, decidese<br />

se o animal deve ser desverminado<br />

ou não.<br />

Portanto, esta metodologia<br />

possui várias características desejadas<br />

para um controle eficiente das<br />

parasitoses gastrintestinais. Em primeiro<br />

lugar, ela é uma avaliação Figura 11 - Método FAMACHA ©<br />

individual <strong>dos</strong> animais, sem a necessidade<br />

de estimar o grau de infecção parasitária do rebanho pela média de<br />

poucos animais. Ou seja, avalia-se cada animal para saber se ele precisa ou<br />

não ser desverminado.<br />

Exatamente por ser individual, o número de animais desvermina<strong>dos</strong> é muito<br />

pequeno. Às vezes, menos de 10% do rebanho precisa receber vermífugo. E<br />

isto traz muitas vantagens: a primeira é que desverminando menos, há menos<br />

resistência <strong>dos</strong> parasitas aos vermífugos; segundo, gasta-se menos porque a<br />

maioria <strong>dos</strong> animais não recebe o vermífugo; terceiro, há menos resíduos de<br />

vermífugos na carne e no leite <strong>dos</strong> animais.<br />

Por exemplo, veja a comparação de dois rebanhos com 100 ovinos: um<br />

com desverminações mensais de to<strong>dos</strong> os animais (método antigo e errado!) e<br />

outro utilizando o método FAMACHA © , com avaliações clínicas quinzenais<br />

<strong>dos</strong> animais. Observa-se a diminuição do número de <strong>dos</strong>es de vermífugos usadas<br />

no rebanho que utiliza o método FAMACHA © :<br />

Rebanho 1 Rebanho 2<br />

Número de animais 100 100<br />

Número médio de animais<br />

desvermina<strong>dos</strong> a cada mês 100 8 a 10 em média<br />

Número médio de <strong>dos</strong>es de<br />

vermífugos por ano 1200 108<br />

Gasto médio com<br />

vermífugos por mês* R$ 200,00 R$ 18,00<br />

Gasto médio com<br />

vermífugos por ano R$ 2.400,00 R$ 216,00<br />

* considerando um valor fictício de R$ 2,00 por animal desverminado<br />

35


A possibilidade de tratar seletivamente os animais usando o método<br />

FAMACHA © é a principal estratégia para preservar os vermífugos que ainda<br />

estão funcionando. O FAMACHA © preserva a população refúgio, por desverminar<br />

menos, o que permite a utilização <strong>dos</strong> vermífugos de forma mais eficiente<br />

e responsável.<br />

Outra vantagem do método é permitir que se identifique os animais mais<br />

susceptíveis às parasitoses (os que mais vezes tiveram que ser desvermina<strong>dos</strong><br />

num determinado tempo de utilização do método) para descartá-los. Ou seja, a<br />

médio e longo prazo, consegue-se selecionar os animais mais resistentes e<br />

resilientes do rebanho.<br />

É um método bastante simples, mas somente pessoas que foram treinadas<br />

estão aptas e autorizadas a utilizar o método. Porque, apesar de simples, esta<br />

metodologia tem algumas características que precisam ser entendidas e aprendidas<br />

e somente no treinamento o criador vai conhecer de fato como funciona<br />

o método, quais são as suas vantagens e possíveis limitações. Após um período<br />

de prática a pessoa reduz a possibilidade de erro. O método FAMACHA ©<br />

possui uso seguro e para que os intervalos de avaliações do rebanho sejam<br />

estabeleci<strong>dos</strong>, deve-se levar em consideração as condições climáticas de cada<br />

região.<br />

Da mesma forma, somente quem faz o treinamento pode adquirir a cartela<br />

do método.<br />

AGORA QUE VOCÊ CONHECE MELHOR OS PARASITAS<br />

DAS OVELHAS E DAS CABRAS<br />

E COMO FAZER O CONTROLE, MÃOS À OBRA.<br />

A SANIDADE DE SEU REBANHO<br />

E O LUCRO OBTIDO EM SUA PROPRIEDADE<br />

DEPENDEM DE VOCÊ!<br />

36


PRODUTOR RURAL:<br />

NÃO HÁ MUDANÇA<br />

SEM AÇÃO,<br />

NEM CONQUISTA SEM<br />

TRABALHO CONJUNTO.<br />

ORGANIZEM-SE EM<br />

ASSOCIAÇÕES E/OU<br />

COOPERATIVAS, E<br />

ESTRUTUREM AS CADEIAS<br />

PRODUTIVAS DOS<br />

OVINOS E CAPRINOS.

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