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IO DESIGN<br />
PORTFÓLIO<br />
DESIGN EDITORIAL
Sobre<br />
nós<br />
A IO DESIGN atua há 17 anos no mercado editorial. Criada no ano<br />
2000 a IO DESIGN ao longo dos anos cresceu e ganhou espaço no<br />
competitivo mercado editorial.
NOSSa<br />
EQUIPE<br />
A IO DESIGN conta com uma equipe especializada formada por<br />
profissionais qualificados e capazes de realizar cada etapa da<br />
produção com qualidade e compromentimento com os prazos e as<br />
metas estabelecidas.
NOSSOS<br />
TRABALHOS<br />
A IO DESIGN trabalha com os melhores softwares de editoração do<br />
mercado, Adobe InDesign, Photoshop, Illustrator, InCopy, Pacote Office,<br />
dentre outros, todos nas suas versões mais atuais ou na versão que<br />
for solicitado. Nossos trabalhos são: editoração, criação de projetos,<br />
design de capa, tratamento de imagens, redesenho (figuras e gráficos),<br />
inserção de emendas em arquivos em preparação, adaptação de<br />
projetos editados em outros idiomas, criação de eBooks (ePUB/e-PDF),<br />
criação ou adaptação de capa. Nossa capacidade de produção vária de<br />
acordo com a necessidade apresentada pelo cliente.
PORTFÓLIO<br />
Apresentamos a seguir nossos últimos trabalhos, todos os projetos<br />
confeccionados contam com muita dedicação e empenho ao<br />
serem realizados.
CAMPBELL - CIRURGIA ORTOPÉDICA<br />
Ano: 2017<br />
Editora: Elsevier<br />
Volumes: 4<br />
Nº de Páginas: 4.240<br />
Formato: 21,6 x 27,6 cm<br />
Área: Medicina<br />
A seguir algumas páginas
© 2017 Elsevier Editora Ltda.<br />
Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610 de 19/02/1998.<br />
Nenhuma parte deste livro, sem autorização prévia por escrito da editora, poderá ser reproduzida ou transmitida sejam quais forem os meios empregados:<br />
eletrônicos, mecânicos, fotográficos, gravação ou quaisquer outros.<br />
ISBN: 978-85-352-7840-8<br />
ISBN versão eletrônica: 978-85-352-8598-7<br />
CAMPBELL’S OPERATIVE ORTHOPAEDICS, TWELFTH EDITION<br />
Copyright © 2013 by Mosby, an imprint of Elsevier Inc.<br />
This translation of Campbell’s Operative Orthopaedics, Twelfth Edition, by S. Terry Canale and James H. Beaty was undertaken by Elsevier Editora<br />
Ltda and is published by arrangement with Elsevier Inc.<br />
Esta tradução de Campbell’s Operative Orthopaedics, Twelfth Edition, de S. Terry Canale e James H. Beaty foi produzida por Elsevier Editora Ltda<br />
e publicada em conjunto com Elsevier Inc.<br />
ISBN: 978-0-323-07243-4<br />
Capa<br />
Studio Creamcrackers/Aline Haluch<br />
Editoração Eletrônica<br />
IO Design<br />
Elsevier Editora Ltda.<br />
Conhecimento sem Fronteiras<br />
Rua Sete de Setembro, nº 111 – 16º andar<br />
20050-006 – Centro – Rio de Janeiro – RJ<br />
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04569-011 – Brooklin – São Paulo – SP<br />
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0800 026 53 40<br />
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Consulte nosso catálogo completo, os últimos lançamentos e os serviços exclusivos no site www.elsevier.com.br<br />
NOTA<br />
Como as novas pesquisas e a experiência ampliam o nosso conhecimento, pode haver necessidade de alteração dos métodos de pesquisa, das práticas<br />
profissionais ou do tratamento médico. Tanto médicos quanto pesquisadores devem sempre basear-se em sua própria experiência e conhecimento<br />
para avaliar e empregar quaisquer informações, métodos, substâncias ou experimentos descritos neste texto. Ao utilizar qualquer informação ou<br />
método, devem ser criteriosos com relação a sua própria segurança ou a segurança de outras pessoas, incluindo aquelas sobre as quais tenham responsabilidade<br />
profissional.<br />
Com relação a qualquer fármaco ou produto farmacêutico especificado, aconselha-se o leitor a cercar-se da mais atual informação fornecida (i) a<br />
respeito dos procedimentos descritos, ou (ii) pelo fabricante de cada produto a ser administrado, de modo a certificar-se sobre a dose recomendada<br />
ou a fórmula, o método e a duração da administração, e as contraindicações. É responsabilidade do médico, com base em sua experiência pessoal e<br />
no conhecimento de seus pacientes, determinar as posologias e o melhor tratamento para cada paciente individualmente, e adotar todas as precauções<br />
de segurança apropriadas.<br />
Para todos os efeitos legais, nem a Editora, nem autores, nem editores, nem tradutores, nem revisores ou colaboradores, assumem qualquer responsabilidade<br />
por qualquer efeito danoso e/ou malefício a pessoas ou propriedades envolvendo responsabilidade, negligência etc. de produtos, ou advindos de<br />
qualquer uso ou emprego de quaisquer métodos, produtos, instruções ou ideias contidos no material aqui publicado.<br />
O Editor<br />
C22c<br />
12. ed.<br />
Canale, S. Terry<br />
Campbell cirurgia ortopédica / S. Terry Canale, James H. Beaty. - 12. ed. - Rio de<br />
Janeiro : Elsevier, 2017.<br />
il. ; 28 cm.<br />
Tradução de: Campbell’s operative orthopaedics<br />
Apêndice<br />
Inclui bibliografia e índice<br />
ISBN 978-85-352-7840-8<br />
1. Cirurgia ortopédica. I. Beaty, James H. II. Título.<br />
16-34351 CDD: 617.47<br />
CDU: 616-089.23<br />
01/07/2016 04/07/2016
CAMPBELL<br />
CIRURGIA<br />
ORTOPÉDICA<br />
DÉCIMA SEGUNDA EDIÇÃO<br />
volume I<br />
S. TERRY CANALE, MD<br />
Harold B. Boyd Professor and Chair, Department of Orthopaedic<br />
Surgery<br />
University of Tennessee—Campbell Clinic<br />
Memphis, Tennessee<br />
JAMES H. BEATY, MD<br />
Professor, Department of Orthopaedic Surgery<br />
University of Tennessee—Campbell Clinic<br />
Chief of Staff, Campbell Clinic<br />
Memphis, Tennessee<br />
Assistência Editorial de<br />
KAY DAUGHERTY e LINDA JONES<br />
Coordenação de Artes de<br />
BARRY BURNS<br />
Revisão Técnica<br />
da Tradução<br />
SBOT<br />
SOCIEDADE BRASILEIRA DE<br />
ORTOPEDIA E TRAUMATOLOGIA
CAMPBELL<br />
CIRURGIA<br />
ORTOPÉDICA<br />
DÉCIMA SEGUNDA EDIÇÃO<br />
volume II<br />
S. TERRY CANALE, MD<br />
Harold B. Boyd Professor and Chair, Department of Orthopaedic<br />
Surgery<br />
University of Tennessee—Campbell Clinic<br />
Memphis, Tennessee<br />
JAMES H. BEATY, MD<br />
Professor, Department of Orthopaedic Surgery<br />
University of Tennessee—Campbell Clinic<br />
Chief of Staff, Campbell Clinic<br />
Memphis, Tennessee<br />
Assistência Editorial de<br />
KAY DAUGHERTY e LINDA JONES<br />
Coordenação de Artes de<br />
BARRY BURNS<br />
Revisão Técnica<br />
da Tradução<br />
SBOT<br />
SOCIEDADE BRASILEIRA DE<br />
ORTOPEDIA E TRAUMATOLOGIA
CAMPBELL<br />
CIRURGIA<br />
ORTOPÉDICA<br />
DÉCIMA SEGUNDA EDIÇÃO<br />
volume III<br />
S. TERRY CANALE, MD<br />
Harold B. Boyd Professor and Chair, Department of Orthopaedic<br />
Surgery<br />
University of Tennessee—Campbell Clinic<br />
Memphis, Tennessee<br />
JAMES H. BEATY, MD<br />
Professor, Department of Orthopaedic Surgery<br />
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Memphis, Tennessee<br />
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KAY DAUGHERTY e LINDA JONES<br />
Coordenação de Artes de<br />
BARRY BURNS<br />
Revisão Técnica<br />
da Tradução<br />
SBOT<br />
SOCIEDADE BRASILEIRA DE<br />
ORTOPEDIA E TRAUMATOLOGIA
CAMPBELL<br />
CIRURGIA<br />
ORTOPÉDICA<br />
DÉCIMA SEGUNDA EDIÇÃO<br />
volume IV<br />
S. TERRY CANALE, MD<br />
Harold B. Boyd Professor and Chair, Department of Orthopaedic<br />
Surgery<br />
University of Tennessee—Campbell Clinic<br />
Memphis, Tennessee<br />
JAMES H. BEATY, MD<br />
Professor, Department of Orthopaedic Surgery<br />
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Chief of Staff, Campbell Clinic<br />
Memphis, Tennessee<br />
Assistência Editorial de<br />
KAY DAUGHERTY e LINDA JONES<br />
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Revisão Técnica<br />
da Tradução<br />
SBOT<br />
SOCIEDADE BRASILEIRA DE<br />
ORTOPEDIA E TRAUMATOLOGIA
PartE<br />
I<br />
PRINCÍPIOS<br />
BÁSICOS
TÉCNICAS E VIAS DE<br />
ACESSO CIRÚRGICAS<br />
Andrew H. Crenshaw , Jr.<br />
CaPÍtULO<br />
1<br />
TÉCNICAS CIRÚRGICAS 3<br />
TORNIQUeTeS 3<br />
RADIOGRAFIAS NA SALA De<br />
CIRURGIA 5<br />
POSICIONAMeNTO DO PACIeNTe 6<br />
PRePARAÇÃO LOCAL DO PACIeNTe 6<br />
Soluções para Irrigação de Ferida 7<br />
COLOCAÇÃO DO CAMPO CIRÚRGICO 7<br />
Colocação do Campo Cirúrgico nas<br />
Bordas da Incisão 8<br />
PReVeNÇÃO DA TRANSMISSÃO<br />
DO VÍRUS DA IMUNODeFICIÊNCIA<br />
HUMANA 8<br />
PReVeNINDO OS eRROS 9<br />
TÉCNICAS OPERATÓRIAS<br />
ESPECIAIS 9<br />
MÉTODOS De FIXAÇÃO DO<br />
TeNDÃO AO OSSO 9<br />
eNXeRTIA ÓSSeA 12<br />
Estrutura dos Enxertos Ósseos 13<br />
Fontes dos Enxertos Ósseos 13<br />
Banco de Ossos 13<br />
Substitutos de Enxerto Ósseo<br />
Esponjoso 14<br />
Indicações para Várias Técnicas de<br />
Enxerto Ósseo 14<br />
Condições Favoráveis para<br />
Enxertia Óssea 17<br />
Preparação dos Enxertos Ósseos 17<br />
Enxertos Ósseos Esponjosos da<br />
Crista Ilíaca 19<br />
ACESSOS CIRÚRGICOS 21<br />
ARTeLHOS 22<br />
Acesso às Articulações<br />
Interfalângicas 22<br />
Acessos à Articulação<br />
Metatarsofalângica do Hálux 22<br />
Acesso às Articulações<br />
Metatarsofalângicas dos Artelhos 23<br />
CALCÂNeO 23<br />
Acesso Medial 23<br />
Acesso Lateral 24<br />
Acesso em Forma de U 24<br />
Acesso de Kocher (L curvo) 25<br />
TARSO e TORNOZeLO 25<br />
Acessos Anteriores 25<br />
Acessos Laterais 28<br />
Acessos Posteriores 30<br />
Acessos Mediais 30<br />
TÍBIA 31<br />
Acesso Anterior 32<br />
Acesso Medial 32<br />
Acesso Posterolateral 32<br />
Acesso Posterior à<br />
Região Superomedial<br />
da Tíbia 32<br />
FÍBULA 34<br />
Acesso Posterolateral 34<br />
JOeLHO 35<br />
Acessos Anteromedial e<br />
Anterolateral 35<br />
Acessos Posterolateral e<br />
Posteromedial 38<br />
Acessos Mediais ao Joelho e<br />
Estruturas de Suporte 39<br />
Acesso Transverso ao Menisco 42<br />
Acessos Laterais ao Joelho e<br />
Estruturas de Suporte 42<br />
Acesso Extenso ao Joelho 46<br />
Acessos Diretos Posterior,<br />
Posteromedial e Posterolateral 47<br />
FÊMUR 51<br />
Acesso Anterolateral 51<br />
Acesso Lateral à Diáfise do Fêmur 51<br />
Acesso Posterolateral à Diáfise do<br />
Fêmur 53<br />
Acesso Posterior 53<br />
Acesso Medial à Superfície<br />
Posterior do Fêmur no<br />
Espaço Poplíteo 55<br />
Acesso Lateral à Superfície<br />
Posterior do Fêmur no<br />
Espaço Poplíteo 56<br />
Acesso Lateral à Diáfise<br />
Proximal e Região Trocantérica 57<br />
QUADRIL 58<br />
Acessos Anteriores 58<br />
Acessos Laterais 61<br />
Acessos Posteriores 68<br />
Acesso Medial 72<br />
ACeTÁBULO e PeLVe 73<br />
Acessos Anteriores 73<br />
Acesso Posterior 77<br />
Acessos Extensos ao Acetábulo 78<br />
ÍLIO 86<br />
SÍNFISe PÚBICA 87<br />
ARTICULAÇÃO SACROILÍACA 88<br />
Acesso Posterior 88<br />
Acesso Anterior 89<br />
Acesso a Ambas as Articulações<br />
Sacroilíacas ou ao Sacro 89<br />
COLUNA 90<br />
ARTICULAÇÃO eSTeRNOCLAVICULAR 90<br />
ARTICULAÇÃO ACROMIOCLAVICULAR<br />
e PROCeSSO CORACOIDe 91<br />
OMBRO 91<br />
Acessos Anteromediais 91<br />
Acesso Axilar Anterior 93<br />
Acessos Anterolaterais 94<br />
Acesso Transacromial 95<br />
Acessos Posteriores 95<br />
ÚMeRO 101<br />
Acesso Anterolateral 101<br />
Acesso Posterior ao Úmero<br />
Proximal 102<br />
Acessos à Diáfise Distal do<br />
Úmero 103<br />
COTOVeLO 106<br />
Acessos Posteriores 106<br />
Acessos Laterais 110<br />
Acesso Medial 112<br />
Acesso Medial e Lateral 113<br />
Acesso Global 113<br />
RÁDIO 116<br />
Acesso Posterolateral à Cabeça e<br />
ao Colo do Rádio 116<br />
Acesso aos Terços Proximal e<br />
Médio da Superfície<br />
Posterior 117<br />
Acesso Anterolateral à Diáfise<br />
Proximal e Articulação do<br />
Cotovelo 118<br />
Acesso Anterior à Metade<br />
Distal do Rádio 118<br />
ULNA 121<br />
Acesso ao Terço Proximal da<br />
Ulna e ao Quarto Proximal do<br />
Rádio 121<br />
PUNHO 121<br />
Acessos Dorsais 121<br />
Acesso Volar 121<br />
Acesso Lateral 123<br />
Acesso Medial 124<br />
MÃO 125<br />
2
CAPÍTULO 1 TÉCNICAS E VIAS DE ACESSO CIRÚRGICAS 3<br />
TÉCNICAS CIRÚRGICAS<br />
Existem várias técnicas cirúrgicas especialmente importantes na<br />
ortopedia: uso de torniquetes, uso de radiografias e intensificadores<br />
de imagem na sala de cirurgia, posicionamentos do paciente, preparação<br />
local do paciente, e colocação do campos cirúrgicos na parte<br />
ou partes apropriadas. Para evitar a repetição em outros capítulos,<br />
também são descritas as técnicas operatórias comuns a muitos procedimentos,<br />
à fixação de tendões ou fáscia ao osso, e à enxertia óssea.<br />
TORNIQUETES<br />
As operações nas extremidades são facilitadas pelo uso de um torniquete.<br />
O torniquete é um instrumento potencialmente perigoso<br />
que deve ser usado com cuidado e conhecimento adequados. Em<br />
alguns procedimentos, o torniquete é um luxo, enquanto em outros,<br />
como operações delicadas na mão, é uma necessidade. O torniquete<br />
pneumático é mais seguro do que um torniquete de Esmarch ou<br />
uma bandagem de borracha de Martin.<br />
Um torniquete pneumático com bomba manual e manômetro<br />
preciso é, provavelmente, o mais seguro, mas um torniquete de<br />
pressão constantemente regulada é satisfatório, se for mantido e<br />
verificado de maneira adequada. O torniquete deve ser aplicado por<br />
uma pessoa com experiência no seu uso.<br />
Vários tamanhos de torniquetes pneumáticos estão disponíveis<br />
para as extremidades superior e inferior. A parte superior do<br />
braço ou a coxa é envolvida com várias camadas de acolchoamento<br />
de algodão ortopédico suavemente aplicado. Rajpura et al.<br />
mostraram que a aplicação de mais de duas camadas de acolchoamento<br />
resultou em uma redução significativa na pressão real<br />
transmitida. Ao aplicar o torniquete em um paciente obeso, um<br />
assistente segura manualmente o tecido da extremidade imediatamente<br />
distal ao nível da aplicação do torniquete, e puxa firme<br />
este tecido no sentido distal antes da colocação do acolchoamento<br />
de algodão. A tração sobre o tecido mole é mantida enquanto o<br />
acolchoamento e o torniquete são aplicados, e o último é fixado.<br />
O assistente solta o tecido, o que resulta em uma maior proporção<br />
de tecido subcutâneo ainda em posição distal ao torniquete. Este<br />
tecido volumoso tende a suportar o torniquete e empurrá-lo para<br />
uma posição mais proximal. Todo o ar é expelido do esfigmomanômetro<br />
ou torniquete pneumático antes da aplicação. Quando<br />
um manguito de esfigmomanômetro é usado, ele deve ser envolvido<br />
com uma bandagem de crepom para evitar o seu deslizamento<br />
durante a inflação. A extremidade é elevada por 2 minutos,<br />
ou o sangue é expelido por uma bandagem de borracha estéril ou<br />
uma bandagem elástica de algodão. Iniciando na ponta dos dedos<br />
ou nos artelhos, a extremidade é envolvida proximalmente a 2,5<br />
a 5 cm do torniquete. Se uma bandagem de borracha de Martin<br />
ou uma bandagem elástica for aplicada até o nível do torniquete,<br />
este último tende a deslizar distalmente no momento da inflação.<br />
O torniquete deve ser inflado rapidamente para evitar o enchimento<br />
das veias superficiais antes do fluxo arterial ser ocluído.<br />
Todos os esforços são feitos para diminuir o tempo de torniquete;<br />
muitas vezes, a extremidade está preparada e pronta antes de o<br />
torniquete ser inflado. Hirota et al., usando ecocardiografia transesofágica<br />
durante a cirurgia artroscópica do joelho, mostraram<br />
que uma embolia pulmonar assintomática pode ocorrer dentro de<br />
1 minuto após a liberação do torniquete. Eles também observaram<br />
que o número de pequenos êmbolos depende da duração da inflação<br />
do torniquete.<br />
A pressão exata pela qual o torniquete deve ser inflado não foi<br />
determinada. A evidência indica que pressões mais altas do que o<br />
necessário têm sido usadas há muitos anos. A pressão correta<br />
depende da idade do paciente, da pressão arterial e do tamanho da<br />
extremidade. Reid, Camp e Jacob utilizaram pressões do torniquete<br />
pneumático determinadas pela pressão necessária para anular o<br />
pulso periférico (pressão de oclusão do membro) usando uma sonda<br />
de Doppler; então, eles adicionaram 50 a 75 mmHg para permitir<br />
circulação colateral e alterações da pressão arterial. Pressões do torniquete<br />
de 135 a 255 mmHg para a extremidade superior e de 175<br />
a 305 mmHg para a extremidade inferior foram satisfatórias para a<br />
manutenção da hemostasia. Younger et al. mostraram, com o protótipo<br />
de um aparelho automatizado de pressão de oclusão do<br />
membro, que as pressões do torniquete poderiam ser reduzidas em<br />
43%. Atualmente, dispositivos deste tipo são disponibilizados por<br />
várias empresas.<br />
De acordo com Crenshaw et al., manguitos de torniquetes largos<br />
são mais eficazes em pressões de inflação mais baixas do que os estreitos.<br />
Pedowitz et al. mostraram que torniquetes curvos nas extremidades<br />
cônicas requerem pressões de oclusão arterial significativamente<br />
mais baixas do que torniquetes retos (retangulares) (Fig. 1-1). Deve<br />
ser evitado o uso de torniquetes retos nas coxas cônicas, em especial<br />
em indivíduos extremamente musculosos ou obesos.<br />
Não se deve permitir que qualquer solução aplicada à pele<br />
escorra por baixo do torniquete, o que pode provocar uma queimadura<br />
química. O escorrimento de soluções por baixo do torniquete<br />
é evitado por um campo cirúrgico plástico adesivo circunferencial<br />
A<br />
B<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
FIGURA 1-1 A, Os torniquetes retos (retangulares) se ajustam<br />
de maneira ideal aos membros cilíndricos. B, Torniquetes curvos<br />
são mais adequados para membros cônicos. (De Pedowitz RA, Gershuni<br />
DH, Botte MJ, et al: The use of lower tourniquet inflation pressures<br />
in extremity surgery facilitated by curved and wide tourniquets and<br />
integrated cuff inflation system, Clin Orthop Relat Res 287:237, 1993.)
4<br />
PARTe I PRINCÍPIOS BÁSICOS<br />
TABELA 1-1<br />
Modificação das Dez Regras de Bruner por Braithwaite e Klenerman<br />
APLICAÇÃO<br />
Aplique somente em um membro saudável ou com cuidado em um membro não saudável<br />
TAMANHO DO TORNIQUETE Braço, 10 cm; perna, 15 cm ou mais largo em pernas grandes<br />
LOCAL DE APLICAÇÃO Braço superior; coxa média/superior idealmente<br />
ACOLCHOAMENTO<br />
De pelo menos duas camadas de algodão ortopédico<br />
PREPARAÇÃO DA PELE Oclua para evitar o umedecimento do algodão. Use 50 a 100 mmHg acima da pressão sistólica<br />
para o braço; o dobro da pressão sistólica para a coxa; ou 200-250 mmHg para o braço e<br />
250-350 mmHg para a perna (manguitos grandes são recomendados para membros maiores em<br />
vez de aumentar a pressão)<br />
TEMPO<br />
Máximo absoluto de 3 h (recupera-se em 5-7 dias), geralmente não exceder 2 h<br />
TEMPERATURA<br />
Evite o aquecimento (p. ex., luzes quentes), frio se viável, e mantenha os tecidos úmidos<br />
REGISTRO<br />
Duração e pressão calibrada pelo menos semanalmente com manômetro de mercúrio ou<br />
manômetro de teste de manutenção; manutenção a cada 3 meses<br />
Modificado de Kutty S, McElwain JP: Padding under tourniquets in tourniquet controlled surgery: Bruner’s ten rules revisited, Injury 33:75, 2002.<br />
aplicado sobre a pele imediatamente distal ao torniquete. Torniquetes<br />
pneumáticos estéreis estão disponíveis para operações ao redor<br />
do cotovelo e do joelho. O membro pode ser preparado e envolto<br />
em campos cirúrgicos antes da aplicação do torniquete. Eventualmente,<br />
uma lesão superficial da pele pode ocorrer na margem superior<br />
do torniquete na região da prega glútea. Esta lesão geralmente<br />
ocorre em indivíduos obesos e, provavelmente, está relacionada ao<br />
uso de um torniquete reto em vez de um curvo.<br />
Torniquetes pneumáticos devem ser mantidos em bom estado,<br />
e todas as válvulas e manômetros devem ser verificados rotineiramente.<br />
O tubo interno deve ser completamente vedado num invólucro<br />
para evitar que se inche por meio de uma abertura, permitindo<br />
a queda da pressão ou causando um “rompimento”. O manguito<br />
também deve ser inspecionado com cuidado. Torniquetes descartáveis<br />
estéreis de uso único são os preferíveis, uma vez que torniquetes<br />
reutilizáveis devem ser completamente descontaminados após cada<br />
uso a fim de evitar a colonização microbiana.<br />
Qualquer manômetro aneroide deve ser calibrado com frequência.<br />
Os manômetros mais recentes possuem fichas de instruções.<br />
Os torniquetes são vendidos com manômetros de teste para<br />
que tenham sua calibração adequada testada. No entanto, o manômetro<br />
de teste também é um manômetro aneroide, e está sujeito a<br />
erro. A precisão do manômetro de teste deve ser testada por meio<br />
de um manômetro de mercúrio. O manômetro de teste deve ser<br />
verificado uma vez por semana, e cada manômetro do torniquete<br />
deve ser testado com um manômetro de teste antes de seu uso. Se<br />
houver uma discrepância de mais de 20 mm entre o torniquete e<br />
o manômetro de teste, o equipamento deverá ser descartado. Um<br />
dos maiores perigos no uso de um torniquete é um manômetro<br />
com registro indevido; já foram observados manômetros de teste<br />
com erro de calibração de 300 mm. Em muitas lesões por torniquete,<br />
os manômetros foram posteriormente verificados, e foi descoberto<br />
que eles estavam totalmente imprecisos, causando uma<br />
pressão excessiva.<br />
A paralisia de torniquete pode ser resultante de (1) pressão<br />
excessiva; (2) pressão insuficiente, resultando em congestão passiva<br />
da parte, com infiltração hemorrágica do nervo; (3) permanência do<br />
torniquete por muito tempo; ou (4) aplicação sem considerar a<br />
anatomia local. Não há nenhuma regra sobre por quanto tempo um<br />
torniquete pode ser inflado com segurança. O tempo pode variar com<br />
a idade do paciente e o suprimento vascular da extremidade. Em um<br />
adulto saudável normal com menos de 50 anos de idade, nós preferimos<br />
manter o torniquete inflado por não mais de 2 horas. Se uma<br />
operação na extremidade inferior durar mais de 2 horas, é melhor<br />
terminá-la o mais rápido possível do que desinflar o torniquete por<br />
10 minutos e então inflá-lo novamente. Foi observado que 40<br />
minutos são necessários para que os tecidos retornem ao normal<br />
após o uso prolongado de um torniquete. Consequentemente, a<br />
prática anterior de desinflar o torniquete por 10 minutos parece ser<br />
inadequada. A síndrome pós-torniquete, como reconhecida primeiramente<br />
por Bunnell, é uma reação comum à isquemia prolongada<br />
e é caracterizada por edema, palidez, rigidez articular, fraqueza<br />
motora e parestesia subjetiva. Acredita-se que esta complicação seja<br />
relacionada à duração da isquemia, e não ao efeito mecânico do<br />
torniquete. A síndrome pós-torniquete interfere com o movimento<br />
precoce e resulta em maior necessidade de narcóticos. A resolução<br />
espontânea ocorre geralmente dentro de 1 semana.<br />
Síndrome compartimental, rabdomiólise e embolia pulmonar<br />
são complicações raras do uso de torniquete. Complicações vasculares<br />
podem ocorrer em pacientes com arteriosclerose grave ou<br />
enxertos protéticos. Um torniquete não deve ser aplicado sobre<br />
um enxerto protético vascular.<br />
Torniquetes pneumáticos geralmente são aplicados na parte<br />
superior do braço e da coxa, e um torniquete bem acolchoado na<br />
panturrilha proximal é seguro para a cirurgia do pé e do tornozelo.<br />
As orientações gerais para o uso seguro de torniquetes pneumáticos<br />
estão descritas na Tabela 1-1.<br />
O torniquete de Esmarch ainda está em uso em algumas áreas<br />
e é o mais seguro e mais prático dos torniquetes elásticos. Ele é usado<br />
somente nos terços médio e superior da coxa. Este torniquete tem um<br />
uso definido, embora limitado, uma vez que pode ser aplicado em<br />
uma posição mais alta na coxa − diferentemente do torniquete pneumático.<br />
O torniquete de Esmarch é aplicado em camadas, uma em<br />
cima da outra; uma faixa estreita produz menos danos aos tecidos do<br />
que uma larga.<br />
Uma bandagem de borracha de Martin pode ser usada com segurança<br />
como um torniquete para procedimentos rápidos no pé. A elevação<br />
e a exsanguinação da perna são feitas envolvendo a bandagem de<br />
borracha nos maléolos do tornozelo e fixando-a com uma braçadeira.<br />
A porção distal da bandagem é liberada para expor a área operatória.<br />
Atenção especial deve ser dada ao se usar torniquetes nos<br />
dedos e artelhos. Um torniquete de anel de borracha ou um torniquete<br />
feito com dedo de luva trançado ao redor do dedo não devem<br />
ser usados, pois podem ser inadvertidamente deixados no lugar<br />
sob um curativo, resultando na perda do dedo. Um dedo de luva<br />
ou dreno de Penrose podem ser colocados ao redor da porção<br />
proximal do dedo, esticados e fixados com uma pinça hemostática.<br />
Este é um método muito mais seguro para a cirurgia dos dedos. É<br />
difícil incluir inadvertidamente uma pinça hemostática em um<br />
curativo dos dedos.
CAPÍTULO 1 TÉCNICAS E VIAS DE ACESSO CIRÚRGICAS 5<br />
A<br />
B<br />
C<br />
D<br />
FIGURA 1-2 A e B, Configuração da fluoroscopia portátil com intensificador televisivo de imagem de braço C para a reparação de<br />
fraturas. O braço C gira 90 graus para obter uma visão lateral. C e D, Técnica para radiografias em dois planos durante a cirurgia de<br />
quadril com uma máquina portátil para visões anteroposterior e lateral. O cassete do filme para visão lateral é posicionado sobre o<br />
aspecto superolateral do quadril.<br />
Torniquetes de anel de borracha descartáveis estéreis estão disponíveis<br />
para uso nas extremidades superior e inferior. Estes torniquetes<br />
são envoltos por uma malha tubular e aplicados trançando o<br />
anel de borracha e a malha tubular até a extremidade, exsanguinando,<br />
assim, a extremidade. A malha tubular é, então, cortada no local<br />
operatório. Torniquetes de anel de borracha não são indicados na<br />
presença de malignidade, infecções, lesões cutâneas significativas, fraturas<br />
ou luxações instáveis, fluxo sanguíneo periférico insuficiente,<br />
edema ou trombose venosa profunda. O tamanho destes torniquetes<br />
é baseado na pressão arterial sistólica.<br />
RADIOGRAFIAS NA SALA DE CIRURGIA<br />
Muitas vezes, é necessário obter radiografias durante um procedimento<br />
ortopédico. Os técnicos em radiologia que trabalham na<br />
sala de cirurgia devem usar as mesmas roupas e máscaras utilizadas<br />
pelo pessoal circulante. Estes técnicos devem ter um claro<br />
entendimento das técnicas cirúrgicas assépticas e da colocação do<br />
campo cirúrgico para evitar a contaminação no campo operatório.<br />
As unidades portáteis de radiografia usadas na sala de cirurgia<br />
devem ser limpas regularmente e, idealmente, não devem ser<br />
usadas em qualquer outra área do hospital.<br />
Quando um cassete de radiografia não estéril for introduzido<br />
no campo estéril, ele deve ser colocado dentro de uma fronha dupla<br />
ou saco plástico estéreis dobrados de modo que o exterior permaneça<br />
estéril. A fronha ou o saco plástico são cobertos por uma toalha<br />
grande estéril, garantindo pelo menos duas camadas de campos<br />
cirúrgicos estéreis no cassete. A ferida operatória deve ser coberta<br />
com uma toalha estéril quando são feitas radiografias da visão anteroposterior<br />
a fim de evitar a possível contaminação da máquina<br />
durante sua colocação na posição.<br />
A fluoroscopia portátil com intensificador televisivo de imagem<br />
de braço C permite uma avaliação instantânea da posição dos fragmentos<br />
da fratura e dispositivos de fixação interna. Muitas dessas<br />
máquinas têm a capacidade de fazer radiografias permanentes.<br />
Quando usada próxima ao campo estéril, a parte do braço C da<br />
máquina deve ser envolvida de acordo com as técnicas de esterilização<br />
(Fig. 1-2A e B). Como em qualquer dispositivo eletrônico, pode<br />
ocorrer falha do intensificador de imagem. Neste caso, radiografias<br />
simples de suporte são necessárias. Podem ser feitas radiografias em<br />
dois planos, até mesmo do quadril quando necessário, usando-se<br />
equipamentos portáteis (Fig. 1-2C e D). As técnicas de fixação da<br />
haste intramedular fechada ou de fixação percutânea das fraturas<br />
podem precisar ser substituídas por uma técnica aberta caso haja falha<br />
do intensificador de imagem.
6<br />
PARTe I PRINCÍPIOS BÁSICOS<br />
<br />
<br />
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<br />
<br />
<br />
FIGURA 1-3 Relacões anatômicas do plexo braquial quando o membro é hiperabduzido. Inserção, Com o paciente na posição de<br />
Trendelenburg, a cinta no ombro não está em boa posição, uma vez que o membro foi abduzido e colocado na mesa de braço.<br />
Todo o pessoal da sala de cirurgia deve evitar exposição a<br />
radiografias. Aventais de chumbo adequados devem ser usados sob<br />
os aventais cirúrgicos estéreis. Protetores de tireoide, óculos impregnados<br />
com chumbo e luvas de borracha estão disponíveis para diminuir<br />
a exposição.<br />
POSICIONAMENTO DO PACIENTE<br />
Antes de entrar na sala de cirurgia, o cirurgião e o paciente, este<br />
acordado e alerta, devem estar de acordo sobre o local cirúrgico, e o<br />
cirurgião deve marcar isso claramente para evitar um erro de “local<br />
incorreto”. A posição do paciente na mesa cirúrgica deve ser ajustada<br />
para permitir as máximas segurança e conveniência para o cirurgião.<br />
Uma via respiratória deve ser mantida livre em todos os momentos,<br />
e deve-se evitar pressão desnecessária sobre o tórax ou o abdômen.<br />
Isso é particularmente importante quando o paciente estiver na posição<br />
prona; nela, sacos de areia são colocados sob os ombros, e um travesseiro<br />
fino é colocado sob a sínfise púbica e os quadris para minimizar<br />
a pressão no abdômen e no tórax. Rolos de tórax grandes e moderadamente<br />
firmes, estendendo-se desde a crista ilíaca às áreas claviculares,<br />
podem servir à mesma finalidade.<br />
Quando o paciente estiver na posição supina, o sacro deve ser<br />
bem acolchoado; e, quando o paciente estiver em decúbito lateral, o<br />
trocânter maior e o colo da fíbula devem ser protegidos da mesma<br />
maneira. O perigo de alongamento de um nervo ou de um grupo de<br />
nervos aumenta quando um medicamento relaxante muscular é<br />
usado. A Figura 1-3 mostra a tração sobre o plexo braquial devido<br />
ao posicionamento inadequado do braço. O plexo braquial pode ser<br />
alongado quando o braço estiver em uma mesa de braço, particularmente<br />
se estiver hiperabduzido para dar espaço ao cirurgião ou<br />
assistente, ou para a administração de terapia intravenosa. O braço<br />
nunca deve ser amarrado acima da cabeça em abdução e rotação<br />
externa enquanto um gesso de corpo é aplicado, uma vez que esta<br />
posição pode causar uma paralisia do plexo braquial. Em vez disso,<br />
o braço deve ser suspenso em flexão em uma estrutura suspensa, e<br />
a posição deve ser mudada frequentemente. A Figura 1-4 mostra a<br />
posição do braço na mesa cirúrgica que pode causar pressão sobre<br />
o nervo ulnar, particularmente se alguém da equipe cirúrgica se<br />
inclinar sobre o braço. Nunca se deve permitir que o braço fique<br />
pendurado na borda da mesa. O acolchoamento deve ser colocado<br />
sobre a área onde um nervo pode ser pressionado contra o osso (ou<br />
seja, o nervo radial no braço, o nervo ulnar no cotovelo, e o nervo<br />
fibular no colo da fíbula).<br />
PREPARAÇÃO LOCAL DO PACIENTE<br />
Os resíduos superficiais de pele e óleo são removidos com uma assepsia<br />
completa com água e sabão por 10 minutos. Nós preferimos um<br />
agente de limpeza de pele que contenha 7,5% de solução de iodopovidona,<br />
que é diluída em aproximadamente 50% com soro fisiológico<br />
estéril. O agente de limpeza contendo hexaclorofeno é substituído<br />
quando o paciente tem ou suspeita-se que tenha alergia a frutos do<br />
mar ou iodo. Após a assepsia, a pele é seca com toalhas estéreis. Esta<br />
assepsia pode ser realizada no quarto do paciente antes da cirurgia ou<br />
na sala de cirurgia. Se for realizada fora da sala de cirurgia, a extremidade<br />
deve ser envolvida com segurança com lençóis estéreis.<br />
Após o torniquete ser colocado, se isto for necessário, devem ser<br />
removidos os curativos estéreis aplicados durante a preparação anterior.<br />
Deve-se tomar cuidado com a contaminação do campo operatório,<br />
uma vez que a eficácia da preparação seria parcialmente perdida.<br />
Com o paciente na posição adequada, as soluções são aplicadas, cada<br />
uma com uma esponja de cabo estéril separada, iniciando-se na área<br />
central do local da incisão e seguindo perifericamente. A tintura de<br />
iodo contendo 85% de álcool ainda é amplamente usada como
CAPÍTULO 1 TÉCNICAS E VIAS DE ACESSO CIRÚRGICAS 7<br />
<br />
<br />
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<br />
FIGURA 1-4 Pontos em que os nervos do braço podem ser lesionados pela pressão. Inserção, Uma pressão é aplicada à face medial<br />
do braço, pois o paciente está mal posicionado na mesa cirúrgica.<br />
preparação da pele. Uma vez pintada, permite-se que ela seque e, em<br />
seguida, é retirada com álcool simples. Alguns cirurgiões usam rotineiramente<br />
a solução de iodopovidona, em especial quando o risco<br />
de uma queimadura química devido à tintura de iodo é significativo.<br />
O campo operatório imediato é preparado primeiro; a área é ampliada<br />
para incluir uma maior pele circundante. As gazes usadas para preparar<br />
a coluna lombar são conduzidas em direção à fenda glútea e ânus,<br />
e não na direção oposta. As gazes não devem ser saturadas, pois a<br />
solução ultrapassaria o campo operatório e deveria ser removida.<br />
O iodo em excesso, mesmo no campo operatório, deve ser removido<br />
com álcool para evitar dermatite química. Se os lençóis sobre a mesa<br />
ou os campos cirúrgicos estéreis se tornarem saturados com soluções<br />
antissépticas fortes, eles devem ser substituídos por novos lençóis ou<br />
campos. Não se deve permitir que as soluções escorram por baixo de<br />
um torniquete. Soluções à base de álcool devem ser removidas do<br />
campo, uma vez que podem provocar incêndio a partir de uma faísca<br />
de uma unidade de cauterização.<br />
Se um paciente é alérgico a iodo, álcool simples pode ser usado<br />
na preparação da pele. Antissépticos coloridos, comumente usados<br />
em cirurgia abdominal, não são adequados para cirurgia das extremidades<br />
quando há preparação dos artelhos ou das unhas. A maioria<br />
destas soluções é difícil de remover, e a cor vermelha, rosa ou laranja<br />
residual dificulta a avaliação da circulação após a cirurgia.<br />
Quando há feridas traumáticas, a tintura de iodo e outras<br />
soluções que contenham álcool não devem ser usadas para a preparação<br />
antisséptica da ferida. Em vez disso, soluções de iodopovidona<br />
ou hexaclorofeno sem álcool devem ser usadas para evitar a morte<br />
do tecido.<br />
Nas operações ao redor do terço superior da coxa, da pelve ou<br />
da coluna lombar inferior em pacientes do sexo masculino, a genitália<br />
deve ser deslocada e mantida longe do campo operatório com fita<br />
adesiva. Da mesma maneira, uma tira de fita longa e larga ajuda a<br />
cobrir a fenda glútea, onde há potencial de infecção. Nas pacientes do<br />
sexo feminino, a área genital e a fenda glútea também são cobertas<br />
longitudinalmente com tiras de fita adesiva. Panos cirúrgicos plásticos,<br />
aderentes e estéreis podem ser usados para essas finalidades.<br />
Antes da preparação do campo operatório na região da coluna<br />
lombar inferior, articulações sacroilíacas ou nádegas, a fenda glútea<br />
é limpa com uma esponja com álcool e gaze seca estéril é inserida<br />
ao redor do ânus, para evitar que o iodo ou outras soluções escorram<br />
para esta região, causando dermatite.<br />
Brown et al. e outros recomendam que, antes da artroplastia<br />
total da articulação, a extremidade deve ser segurada por um assistente<br />
paramentado, pois isso reduz a contagem do ar bacteriano em<br />
quase a metade. Eles também recomendam que os pacotes de instrumentos<br />
não sejam abertos até que a preparação da pele e a colocação<br />
do campo cirúrgico sejam concluídas.<br />
Quando estas preparações são feitas às pressas, o avental ou as<br />
luvas do assistente estéril que está preparando a área podem ser contaminados<br />
sem o conhecimento do mesmo. Para evitar isso, um enfermeiro<br />
ou anestesista deve ser convocado para assistir este estágio de<br />
preparação.<br />
SOLUÇÕES PARA IRRIGAÇÃO DE FERIDA<br />
Na nossa instituição, rotineiramente irrigamos as feridas cirúrgicas<br />
limpas com soro fisiológico estéril ou solução de Ringer com lactato<br />
a fim de mantê-las úmidas. Às vezes, se o risco de contaminação da<br />
ferida for alto, soluções antimicrobianas para irrigação são usadas.<br />
Dirschl e Wilson recomendam uma solução antibiótica tripla de<br />
bacitracina, neomicina e polimixina, pois esta fornece a mais completa<br />
cobertura para feridas limpas e contaminadas. As soluções<br />
antibióticas devem permanecer na ferida por pelo menos 1 minuto.<br />
Sistemas de lavagem pulsátil são mais eficazes na irrigação da ferida<br />
do que seringas simples do tipo alinhavo.<br />
COLOCAÇÃO DO CAMPO CIRÚRGICO<br />
A colocação do campo cirúrgico é um passo importante em qualquer<br />
procedimento cirúrgico e não deve ser atribuída a um assistente inexperiente.<br />
A colocação casual que resulta na exposição de áreas despreparadas<br />
da pele no meio de uma operação pode ser catastrófica. É<br />
necessário ter uma experiência considerável na colocação do campo<br />
cirúrgico não só para evitar a sua desorganização durante a operação,<br />
mas também para evitar a contaminação do cirurgião e dos campos.<br />
Se há a menor dúvida quanto à esterilidade dos campos ou do cirurgião<br />
quando a colocação for concluída, todo o processo deve ser<br />
repetido. A menos que os assistentes sejam bem treinados, o cirurgião<br />
deve realizar a colocação dos campos no paciente.<br />
Na camada de base dos campos cirúrgicos, ganchos de toalha ou<br />
grampos de pele são colocados através dos campos e da pele a fim de<br />
evitar o escorregamento dos campos e a exposição da pele contaminada.
CBR - CABEÇA E PESCOÇO<br />
Ano: 2017<br />
Editora: Elsevier<br />
Nº de Páginas: 856<br />
Formato: 21,6 x 27,6 cm<br />
Área: Medicina<br />
A seguir algumas páginas
Série<br />
Colégio Brasileiro<br />
de Radiologia e Diagnóstico<br />
por Imagem<br />
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E PESCOÇO<br />
EDITORES ASSOCIADOS<br />
Ademar José de Oliveira Paes Junior<br />
Rainer G. Haetinger<br />
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Giuseppe D’Ippolito<br />
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Série<br />
Colégio Brasileiro<br />
de Radiologia e Diagnóstico<br />
por Imagem<br />
Ademar José de Oliveira Paes Junior<br />
Doutor em Ciências na área de Radiologia e Diagnóstico por Imagem<br />
pelo Instituto de Radiologia da Faculdade de Medicina da Universidade<br />
de São Paulo.<br />
Médico Radiologista responsável pela área de Radiologia em Cabeça e<br />
Pescoço da Clínica Imagem e Hospital Baía Sul, Florianópolis, SC.<br />
Editor da revista Arquivos Catarinenses de Medicina, órgão de<br />
divulgação científica da Associação Catarinense de Medicina.<br />
Membro-titular do Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por<br />
Imagem.<br />
Rainer G. Haetinger<br />
Doutor em Ciências na área de Anatomia Morfofuncional pelo Instituto<br />
de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo.<br />
Professor da Pós-graduação no Departamento de Anatomia do Instituto<br />
de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo.<br />
Médico Radiologista responsável pela Radiologia de Cabeça e Pescoço<br />
e coordenador da Tomografia Computadorizada na Med Imagem,<br />
Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo.<br />
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Imagem.
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04/10/2016 07/10/2016
Capítulo 6 Glândulas 6Salivares 303<br />
CAPÍtulo<br />
Glândulas salivares<br />
Luiz de Abreu Junior<br />
Renato Sartori de Carvalho<br />
Rainer G. Haetinger<br />
Ademar José de Oliveira Paes Junior<br />
QQIntrodução<br />
As glândulas salivares podem ser divididas em dois grupos<br />
exócrinos: glândulas salivares maiores e glândulas salivares<br />
menores. As glândulas salivares maiores incluem as glândulas<br />
parótidas, submandibulares e sublinguais. As centenas de glândulas<br />
salivares menores estão dispostas na mucosa da cavidade<br />
oral e faringe, principalmente orofaringe.<br />
A grande função das glândulas salivares é a secreção de saliva,<br />
que, por sua vez, apresenta um importante papel na lubrificação<br />
dentária e da mucosa na digestão e na imunidade, além<br />
de um papel adjunto na manutenção da homeostase do corpo<br />
humano. A redução da secreção salivar resulta em deterioração<br />
da saúde bucal, apresentando impacto na qualidade de vida<br />
do paciente.<br />
Pacientes com boca seca apresentam dificuldade para engolir,<br />
falar, usar próteses dentárias, ficando mais sucetíveis a ulcerações<br />
da mucosa oral. Também podem apresentar alterações gustativas,<br />
redução da higiene oral, sensação de queimação bucal,<br />
predispondo ao aparecimento de infecções por Candida albicans<br />
e, consequentemente, ao aparecimento de cáries dentárias. O<br />
uso de várias medicações é outro fator pode reduzir a produção<br />
salivar. Xerostomia também ocorre na síndrome de Sjögren e<br />
após tratamento radioterápico dos tumores de cabeça e pescoço.<br />
As glândulas salivares podem ser afetadas por uma grande<br />
variedade de processos patológicos: lesões inflamatórias, infecciosas,<br />
sistêmicas, obstrutivas ou neoplásicas, com uma grande<br />
diversidade de lesões malignas e benignas, apesar da baixa<br />
incidência das neoplasias salivares. Os tumores das glândulas<br />
salivares correspondem a menos de 3% dos tumores de cabeça<br />
e pescoço e menos de 0,1% das mortes causadas por câncer.<br />
Os tumores parotídeos correspondem à grande maioria dos<br />
tumores de glândulas salivares, seguidos por ordem de frequência<br />
pelas glândulas submandibulares, salivares menores,<br />
sublinguais e ectópicas. Acredita-se que as células basais dos<br />
ductos excretores e as células pertencentes aos ductos intercalados<br />
agem como células de reserva para células mais diferenciadas<br />
da unidade glandular salivar e, consequentemente, que<br />
os tumores epiteliais se originam destas células de reserva, em<br />
vez do ácino glandular.<br />
Epidemiologicamente, os tratamentos radioterápicos podem<br />
predispor ao aparecimento de tumores das glândulas salivares.<br />
Existem também relatos de predisposição aos tumores salivares<br />
relacionada ao vírus Epstein-Barr (EBV), principalmente ao<br />
carcinoma indiferenciado, especialmente em chineses e indivíduos<br />
de etnia esquimó. Infecções relacionadas a HIV, herpes e<br />
papiloma não são descritas na literatura como fatores de risco<br />
para a etiologia dos tumores.<br />
303
304 Capítulo 6 Glândulas Salivares<br />
Glândula parótida primitiva<br />
LÍNGUA<br />
Glândula submandibular primitiva<br />
Glândula sublingual primitiva<br />
FIGURA 6-1. Glândulas salivares maiores primitvas durante a fase embrionária. (Ilustração: Margareth Baldissara)<br />
QQEmbriologia<br />
O desenvolvimento das glândulas salivares ocorre da sexta à oitava<br />
semana de gestação, quando divertículos orais ectodérmicos<br />
se estendem para o mesoderma adjacente, local de origem<br />
das glândulas salivares maiores.<br />
Com o aparecimento de fendas epiteliais, inicia-se a<br />
formação de brotos ductais, revestidos internamente por<br />
células ciliadas e externamente por células ectodérmicas<br />
mioepiteliais, formando a aparência precoce de lóbulos e<br />
canalização ductal. Inicia-se então a formação de ácinos e<br />
ductos intercalados.<br />
A primeira glândula a aparecer é a glândula parótida primordial,<br />
que se desenvolve a partir do estomodeu posterior<br />
(Capítulo 1), alongando-se através de cordões sólidos junto ao<br />
desenvolvimento do músculo masseter. Esses cordões canalizam-se,<br />
formando os ductos e após os ácinos nas porções distais.<br />
No assoalho da boca, inicia-se a formação de pequenos<br />
brotamentos bilaterais à lingua durante a sexta semana de<br />
gestação, estendendo-se posteriormente junto aos músculos<br />
milo-hióideos, iniciando-se o desenvolvimento das glândulas<br />
submandibulares.<br />
Ainda no assoalho da boca, o aparecimento de brotos epiteliais<br />
ectodérmicos nos sulcos paralinguais dá origem às glândulas<br />
sublinguais (Fig. 6-1). Linfonodos e ductos maiores não se<br />
desenvolvem no interior destas glândulas.<br />
O ectoderma do trato respiratório superior origina estruturas<br />
tubuloacinares simples, que por sua vez vão se desenvolver<br />
em glândulas salivares menores, durante a décima segunda semana<br />
de gestação.<br />
Anatomia das Glândulas Salivares<br />
As glândulas parótidas, submandibulares e sublinguais são conhecidas<br />
como glândulas salivares maiores, cada uma delas com<br />
sua anatomia, histologia e fisiologia individualizadas (Fig. 6-2).<br />
As glândulas salivares menores correspondem a aglomerados<br />
submucosos de tecido glandular na cavidade oral e faringe. A<br />
maior parte está localizada nos lábios, na mucosa oral e no palato,<br />
embora possam estar também presentes junto a tonsilas,<br />
região supraglótica e seios paranasais.
Capítulo 6 Glândulas Salivares 305<br />
Parótida<br />
Sublingual<br />
Submandibular<br />
FIGURA 6-2. Desenho das glândulas salivares maiores: parótida, submandibular e sublingual. (Ilustração: Margareth Baldissara)<br />
Papila incisiva<br />
Pregas palatinas<br />
transversas<br />
Rafe do palato<br />
Processo palatino<br />
da maxila<br />
Glândulas palatinas<br />
Lâmina horizontal<br />
do osso palatino<br />
Aponeurose palatina<br />
(do músculo tensor<br />
do véu palatino)<br />
Músculo da úvula<br />
Glândulas salivares<br />
menores (molares)<br />
Músculo<br />
palatofaríngeo<br />
Tonsila palatina<br />
l<br />
Fossa incisiva<br />
Artéria e nervo palatinos maiores<br />
Forame palatino maior<br />
Forame palatino menor<br />
Artéria e nervos palatinos menores<br />
Tendão do músculo tensor<br />
do véu palatino<br />
Hâmulo pterigoideo<br />
Fibras interdigitais do músculo<br />
levantador do véu palatino<br />
Músculo bucinador<br />
Rafe pterigomandibular<br />
Músculo constritor<br />
superior da faringe<br />
Músculo palatoglosso<br />
Vista anterior<br />
FIGURA 6-3. Desenho das glândulas salivares menores. (De Norton, N. Netter Atlas de Cabeça e Pescoço, 2ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012. Com permissão)
306 Capítulo 6 Glândulas Salivares<br />
QQAnatomia por Tomografia Computadorizada e<br />
Ressonância Magnética<br />
mhg<br />
sl<br />
sm<br />
h<br />
sm<br />
mmh<br />
sm<br />
mgg<br />
sm<br />
mecm<br />
vji<br />
aci<br />
mecm<br />
vji<br />
aci<br />
A<br />
B<br />
mm<br />
mpm<br />
mgg<br />
p<br />
vrm<br />
sm<br />
mmh<br />
h<br />
C<br />
d<br />
pe<br />
p<br />
vji<br />
e<br />
sl<br />
vamd<br />
f<br />
mecm<br />
FIGURA 6-4. Imagens de Tomografia Computadorizada demonstrando as relações das glândulas parótidas (p), submandibulares (sm) e sublinguais (sl) com os<br />
músculos milo-hioideo (mmh), pterigoideo medial (mpm), músculo genio-hioideo (mgh), músculo genioglosso (mgg), osso hioide (h), músculo esternocleidomastoideo<br />
(mecm), artéria carótida interna (aci), veia jugular interna (vji), veia retromandibular (vrm), músculo masseter (mm), músculo pterigoideo medial (mpm), músculo<br />
pterigoideo lateral (mpl), ventre anterior do músculo digástrico (vamd), processo estiloide (pe).
Capítulo 6 Glândulas Salivares 307<br />
vamd<br />
mm<br />
sl<br />
mgh<br />
mmh<br />
sm<br />
vji<br />
sm<br />
p<br />
mecm<br />
mecm<br />
A<br />
B<br />
mpm<br />
mm<br />
mm<br />
vrm<br />
mpm<br />
p<br />
p<br />
C<br />
vpmd<br />
D<br />
vrm<br />
Ducto de Stensen<br />
Ducto de Stensen<br />
Músculo bucinador<br />
p<br />
E<br />
F<br />
FIGURA 6-5. Imagens de Ressonância magnética ponderadas em T1 demonstrando as relações das glândulas parótidas (p), submandibulares (sm) e sublinguais (sl)<br />
com os músculos milo-hioideo (mmh), pterigoideo medial (mpm), músculo genio-hioideo (mgh), músculo genioglosso (mgg), osso hioide (h), músculo esternocleidomastoideo<br />
(mecm), artéria carótida interna (aci), veia jugular interna (vji), veia retromandibular (vrm), músculo masseter (mm), músculo pterigoideo medial (mpm),<br />
músculo pterigoideo lateral (mpl), ventre anterior do músculo digástrico (vamd), ventre posterior do músculo digástrico (vpmd), processo estiloide (pe).
308 Capítulo 6 Glândulas Salivares<br />
sm<br />
A<br />
B<br />
sl<br />
mm<br />
mm<br />
mpm<br />
sm<br />
mmh<br />
sm<br />
C<br />
D<br />
p<br />
mecm<br />
E<br />
FIGURA 6-5. (continuação).
Capítulo 6 Glândulas Salivares 309<br />
Anatomia da Glândula Parótida<br />
A glândula parótida apresenta localização posterior ao ramo<br />
da mandíbula, junto ao tecido celular subcutâneo da região<br />
pré-auricular. No conceito cirúrgico, a parótida é dividida<br />
em lobos superficial e profundo, baseado no trajeto do nervo<br />
facial, contornando posterolateralmente a veia retromandibular<br />
(Fig. 6-6.A). Não há divisão estrutural entre os lobos.<br />
O lobo superficial corresponde a cerca de 80% do parênquima,<br />
localizando-se superficialmente ao músculo masseter, ao<br />
ramo da mandíbula e anteriormente ao meato acústico externo,<br />
estendendo-se cranialmente em direção ao arco zigomático.<br />
O lobo profundo corresponde a cerca de 20% de seu parênquima<br />
e estende-se medialmente através do canal ou túnel estilomandibular,<br />
posteriormente à borda do ramo da mandíbula,<br />
anteriormente à borda do ventre posterior do músculo digástrico.<br />
O canal ou túnel estilomandibular é delimitado pela borda<br />
posterior do ramo da mandíbula e pelo processo estiloide.<br />
Em algumas pessoas, podemos observar a presença de glândula<br />
parótida acessória, localizada na região anterior da face<br />
lateral do músculo masseter (Fig. 6-7).<br />
A<br />
B<br />
FIGURA 6-6. A, Divisão cirúrgica da glândula parótida em lobos superficial e profundo com base no trajeto do nervo facial (linha amarela) e na veia retromandibular<br />
(em azul). Junto à veia retromandibular está a artéria carótida externa (em vermelho). B, Trajetos dos ramos do nervo facial na face. (Ilustração: Margareth<br />
Baldissara)<br />
A<br />
B<br />
FIGURA 6-7. Glândulas salivares acessórias. Observe o aspecto e a topografia normais das glândulas acessórias (setas) nas imagens ponderadas em T2 (A) e STIR (B).
Este livro apresenta uma abordagem<br />
istência dos materiais: uma abordagem sintética apresenconteúdo<br />
clássico relacionado com o tema (equilíbrio,<br />
mática, solicitações, dimensionamento e estabilidade)<br />
uma abordagem atual e diferenciada, na qual foram<br />
uídos tópicos fundamentais para o entendimento do<br />
nto como propriedades geométricas das áreas e introduà<br />
Teoria da Elasticidade.<br />
leta de exercícios resolvidos e de propostas para desenimento<br />
de projetos práticos, o objetivo desta obra é apretar<br />
um conteúdo que possa ser utilizado da primeira à<br />
a página, nos mais diversos cursos de graduação em<br />
enharia, e servir como referência de consulta rápida de<br />
rmações para alunos de cursos de pós-graduação.<br />
RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS MARCELO GRECO | DANIEL NELSON MACIEL<br />
MARCELO GRECO | DANIEL NELSON MACIEL<br />
RESISTÊNCIA<br />
DOS<br />
MATERIAIS<br />
Uma abordagem sintética<br />
inovadora que sintetiza assuntos<br />
relacionados com a disciplina Resistência<br />
dos Materiais, com exercícios<br />
resolvidos e propostos, além de<br />
sugestões para desenvolvimento de<br />
projetos práticos. A importância dos<br />
projetos práticos está relacionada com<br />
os problemas reais de engenharia, nos<br />
quais nem sempre as especificações de<br />
projeto são claramente definidas. Ao<br />
conteúdo clássico relacionado com o<br />
tema (equilíbrio, cinemática, solicitações,<br />
dimensionamento e estabilidade)<br />
foram incluídos tópicos de fundamentação<br />
como propriedades geométricas<br />
das áreas e introdução à Teoria da<br />
Elasticidade, de modo a oferecer uma<br />
abordagem diferenciada, voltada a<br />
alunos de graduação das mais diversas<br />
áreas de engenharia.<br />
RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS<br />
Ano: 2016<br />
Editora: Elsevier<br />
Nº de Páginas: 336<br />
Formato: 21 x 27 cm<br />
Área: Engenharia<br />
A seguir algumas páginas
MARCELO GRECO | DANIEL NELSON MACIEL<br />
RESISTÊNCIA<br />
DOS<br />
MATERIAIS<br />
Uma abordagem sintética
Resistência dos<br />
Materiais<br />
Uma Abordagem Sintética<br />
Marcelo Greco<br />
Daniel Nelson Maciel
© 2016, Elsevier Editora Ltda.<br />
Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei nº 9.610, de 19/02/1998.<br />
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reproduzida ou transmitida sejam quais forem os meios empregados: eletrônicos, mecânicos,<br />
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Copidesque: Angélica Angelo<br />
Revisão: Silvia Barbosa Lima<br />
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ISBN: 978-85-352-7458-5<br />
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Nota: Muito zelo e técnica foram empregados na edição desta obra. No entanto,<br />
podem ocorrer erros de digitação, impressão ou dúvida conceitual. Em qualquer<br />
das hipóteses, solicitamos a comunicação ao nosso Serviço de Atendimento ao<br />
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CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDI-<br />
CATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ<br />
G829r<br />
Greco, Marcelo<br />
Resistência dos materiais : uma abordagem sintética / Marcelo<br />
Greco, Daniel Nelson Maciel. - 1. ed. - Rio de Janeiro : Elsevier, 2016.<br />
il. ; 27 cm.<br />
Inclui bibliografia<br />
ISBN 978-85-352-7458-5<br />
1. Materiais. 2. Projetos de engenharia. I. Maciel, Daniel<br />
Nelson. II. Título.<br />
16-35030 CDD: 620.11<br />
CDU: 620.1/.2<br />
28/07/2016 01/08/2016
CAPÍTULO<br />
Propriedades Geométricas<br />
das Áreas Planas<br />
1<br />
Este livro iniciará o estudo da Resistência dos Materiais abordando as propriedades<br />
geométricas das áreas planas, que são utilizadas na análise do comportamento mecânico<br />
de seções transversais de elementos estruturais. Serão apresentados os conceitos<br />
fundamentais e as aplicações em problemas associados à Resistência dos Materiais.<br />
Para o cálculo dos valores principais dos momentos de inércia em relação aos eixos no<br />
plano da área será introduzido o conceito de tensores e suas transformações, assunto<br />
abordado com maior profundidade no próximo capítulo que tratará da introdução à<br />
Teoria da Elasticidade. Uma breve aplicação do círculo de Mohr para transformações<br />
de momentos de inércia também será apresentada neste capítulo.<br />
1 Propriedades Geométricas<br />
O escopo da resistência dos materiais é descrever o comportamento mecânico dos corpos<br />
sólidos deformáveis por meio de equacionamentos. A descrição geralmente é de natureza<br />
diferencial e possibilita encontrar soluções de engenharia capazes de suportar o nível de<br />
ações de serviço às quais os componentes estruturais são submetidos ao longo de suas<br />
I<br />
vidas úteis. Vale salientar que existem soluções X<br />
de engenharia consagradas, mas sempre<br />
há uma característica aproximada, tanto em termos teóricos como em termos conceptivos.<br />
A melhor maneira conhecida de racionalizar a análise mecânica nos sólidos é formular<br />
teorias baseadas em propriedades físicas e geométricas dos elementos analisados.<br />
Neste sentido, as propriedades baricêntricas e centroidais dos corpos sólidos analisados<br />
são importantes. E este capítulo dedica-se ao estudo dessas propriedades.<br />
1.1 Baricentro<br />
É uma característica física do sólido, associada ao ponto pelo qual a linha de ação da força<br />
peso sempre atua. O baricentro também é conhecido como Centro de Gravidade (C.G.).<br />
A Fig. 1.1 apresenta um procedimento prático para determinar a posição do baricentro no<br />
CG<br />
(A)<br />
(B)<br />
Figura 1.1 Linhas de ação da força peso<br />
em duas posições de equilíbrio diferentes<br />
(A) e (B).<br />
1
44 CAPÍTULO 1 Propriedades Geométricas das Áreas Planas<br />
Exercício resolvido<br />
Calcular os momentos principais de inércia da seção “L” e o ângulo principal em relação<br />
ao sistema de referência X 0 Y 0 , usando o círculo de Mohr.<br />
2<br />
Yo<br />
Tensor das inércias:<br />
[I ] x0 y 0<br />
= 3156<br />
2825<br />
2825<br />
676,3<br />
cm 4<br />
22<br />
2,875<br />
Xo<br />
7,875<br />
2<br />
12<br />
Cotas em [cm]<br />
Figura 1.50 Área “L” utilizada para o cálculo dos momentos de inércia principais.<br />
_<br />
I_<br />
XY<br />
3156 + 676,3<br />
l med = = 1916,15 cm 4<br />
2<br />
-(-825)<br />
B<br />
R =<br />
3156 1 676,3<br />
2<br />
2<br />
+ (2825) 2 = 1489,25 cm 4<br />
676,3<br />
3156<br />
2θ p<br />
_ _<br />
I_<br />
X,<br />
I_<br />
Y<br />
-825<br />
A<br />
Figura 1.51 Construção inicial do círculo de Mohr para o cálculo dos momentos de inércia principais.<br />
Inércias principais:<br />
Ângulo principal: tg2qp =<br />
I 1 = Imed + R = 3405,35 cm 4<br />
I 2 = Imed 2 R = 426,85 cm 4<br />
825<br />
(3156 2 676,3) ⇒ 2qp = 33,64 o ↺<br />
/ 2<br />
qp = 16,82 o ↺
CAPÍTULO<br />
Análise de Estados<br />
Particulares de Tensão<br />
3<br />
Este capítulo trata da análise de problemas de Resistência dos Materiais relacionados<br />
a casos que envolvem estados de tensão mais simples. Serão estudados também<br />
problemas com vasos de pressão das paredes finas, solicitação axial e cisalhamento<br />
simples. Serão introduzidos conceitos importantes, como o Princípio de Saint-Venant<br />
e o Princípio da Superposição de Efeitos, além de uma breve discussão a respeito<br />
das propriedades mecânicas dos materiais isotrópicos, aplicadas na resolução de<br />
problemas dos estados particulares de tensão estudados neste capítulo. Também<br />
serão abordadas neste capítulo as transformações de tensores usando o círculo de<br />
Mohr, como alternativa mais simples às transformações tensoriais apresentadas no<br />
capítulo anterior deste livro.<br />
1 Análise dos estados planos de tensão e deformação<br />
A transformação dos estados de tensão por rotação foi apresentada no capítulo anterior,<br />
aplicada tanto a casos bidimensionais (estados planos de tensão) quanto a casos<br />
tridimensionais. Neste item, é possível obter equações algébricas de transformação de<br />
tensões que possam ser utilizadas diretamente na análise de estados planos de tensão.<br />
A Fig. 3.1 apresenta um estado de tensões inicial, descrito em termos do sistema de<br />
coordenadas XY, que será transformado em um estado de tensões rotacionado X 1 Y 1 .<br />
Na realidade, o estado inicial e o estado transformado são sobrepostos e na figura são<br />
expostos separadamente apenas para facilitar a visualização.<br />
σ Y<br />
t XY<br />
σ Y1<br />
t X1Y1<br />
t X1Y1<br />
Y<br />
t XY<br />
Y 1<br />
X 1<br />
σ X1<br />
σ x<br />
X<br />
σ x<br />
θ<br />
t XY<br />
σ X1<br />
t XY<br />
t X1Y1<br />
t X1Y1<br />
σ Y1<br />
σ Y<br />
(A)<br />
(B)<br />
Figura 3.1 Componentes de um estado plano de tensões transformado por rotação: (A) estado inicial de<br />
tensões; (B) estado transformado de tensões.<br />
93
CAPÍTULO<br />
Torção<br />
4<br />
Este capítulo trata do estudo do problema da torção em elementos estruturais. Inicialmente<br />
será desenvolvida a fórmula da torção para situações de eixos com seção<br />
transversal circular, que são os mais eficientes para resistir ao torque.<br />
Na sequência do capítulo serão apresentadas as fórmulas relacionadas com a torção<br />
em seções transversais de paredes finas fechadas e abertas, além da extensão do equacionamento<br />
para o caso de seções de paredes finas multicelulares.<br />
Serão ainda descritos os procedimentos de cálculo para o caso de torção de barras<br />
constituídas por outros tipos de seções transversais maciças, baseado no método<br />
semi-inverso de Saint-Venant, e uma breve descrição da analogia da membrana.<br />
Tópicos especiais como dimensionamento de elementos discretos de ligação utilizados<br />
para resistir à torção e estruturas de molas helicoidais também serão discutidos<br />
brevemente neste capítulo.<br />
1 Torção em barras de seção circular<br />
As barras com seções circulares são importantes no estudo da torção por dois aspectos.<br />
O primeiro está relacionado à eficiência desse tipo de seção quando submetida à torção<br />
pura 1 , que é a mais eficiente por apresentar menor nível de tensões e deformações<br />
quando construída com a mesma quantidade de material. O segundo aspecto é devido<br />
ao fato de problemas mais complexos, como torções de seções maciças quaisquer,<br />
fornecerem fórmulas para distribuição de tensões de cisalhamento máximas similares à<br />
fórmula da torção obtida no caso da torção de seções circulares. Neste ponto, é possível<br />
distinguir uma diferença do tipo de tensão provocada na seção pela torção. Ou seja, a<br />
torção produz nas seções transversais tensões de cisalhamento, que atuam no próprio<br />
plano da área da seção.<br />
Para o cálculo de tensões de cisalhamento em uma barra com comportamento elástico<br />
linear submetida à torção pura, considera-se a hipótese de distribuição proporcional de<br />
tensões ao longo da direção radial da seção transversal, conforme apresentado na Fig. 4.1.<br />
É importante destacar que, por hipótese de cálculo, qualquer direção radial da seção<br />
apresentará a mesma distribuição de tensões. Assim, as tensões de cisalhamento<br />
são máximas na superfície da barra 2 e nulas sobre o eixo da barra. Considerando uma<br />
distância radial do centro da barra (r) e o raio da seção circular (c), é possível estabelecer<br />
a relação de proporcionalidade entre a tensão de cisalhamento no ponto interno<br />
considerado (τ) e a tensão de cisalhamento máxima no limite da seção (τ máx ).<br />
τ = ρ c . τ máx<br />
(4.1)<br />
1. Barra submetida apenas a solicitação de torques.<br />
2. E também nos limites da seção transversal circular.<br />
171
CAPÍTULO<br />
Flexão e Linha Elástica<br />
5<br />
Este capítulo trata do estudo do problema da flexão em elementos estruturais e da cinemática<br />
relacionada a este tipo de solicitação. Inicialmente será desenvolvida a Fórmula<br />
da Flexão pura reta 1 para o caso de elementos estruturais sem curvatura inicial, que<br />
são encontrados em aplicações estruturais. Na sequência do capítulo será apresentado<br />
o estudo de vigas constituídas por mais de um material, com o uso da técnica da homogeneização.<br />
O caso de flexão assimétrica, em relação a dois eixos perpendiculares<br />
da seção, será o próximo tópico apresentado juntamente com a flexão associada à<br />
solicitação de força normal. Por fim, serão abordados dois tópicos um pouco mais<br />
avançados, como flexão em vigas com curvatura inicial circular e flexão elastoplástica.<br />
1 Deformação por flexão pura reta em um elemento sem<br />
curvatura inicial<br />
Solicitações por flexão são muito comuns em elementos estruturais dos tipos mais diversos.<br />
No caso da engenharia aeroespacial, a longarina da asa do avião é um exemplo<br />
de viga “I” solicitada principalmente à flexão. Em Engenharia Mecânica, conjuntos de<br />
travessas, longarinas de caminhões e pontes rolantes são exemplos típicos de elementos<br />
solicitados à flexão. Já na Engenharia Civil, as vigas e placas 2 são elementos estruturais<br />
essencialmente solicitados à flexão.<br />
A cinemática utilizada no desenvolvimento deste capítulo será adequada para o<br />
caso de vigas com relação das dimensões da seção transversal por comprimento menores<br />
que 10%. Tal cinemática é conhecida como cinemática de Bernoulli-Euler. Há<br />
outra cinemática conhecida como cinemática de Reissner 3 que é a mais adequada para<br />
vigas com essa relação superior a 10%, sendo aplicada nas denominadas vigas de<br />
Timoshenko. A hipótese cinemática de Reissner é aplicada nas vigas de Timoshenko,<br />
que consideram uma distribuição média constante para as tensões de cisalhamento<br />
causadas pela flexão e são aplicáveis em vigas com geometria mais próxima às chapas 4 .<br />
Para o cálculo de tensões normais em uma barra inicialmente reta (configuração<br />
inicial) com comportamento elástico linear submetida à flexão pura atuando no eixo<br />
normal ao plano, considera-se a hipótese cinemática apresentada na Fig. 5.1 (configuração<br />
deformada).<br />
1. Se refere ao momento fletor atuando em apenas um eixo da seção transversal.<br />
2. As placas são elementos estruturais que apresentam uma das dimensões geométricas (no caso a espessura) consideravelmente<br />
menor que as demais e sobre as quais o carregamento atua na direção normal à superfície preponderante. São<br />
elementos indicados para o uso em lajes de edificações.<br />
3. O tipo de cinemática vem da teoria de placas, na qual há uma cinemática mais adequada para chapas finas (com relação<br />
espessura/dimensão menor que 10%) conhecida como cinemática de Kirchhoff. Outra cinemática mais adequada para<br />
chapas espessas (com relação espessura/dimensão maior que 10%) é a conhecida como cinemática de Reissner-Mindlin.<br />
4. As chapas são elementos estruturais semelhantes às placas, porém o carregamento é aplicado no próprio plano do<br />
elemento. São elementos encontrados em aplicações de painéis, vigas-parede e mecanismos de apoio e de ligação.<br />
217
CAPÍTULO<br />
Cisalhamento<br />
6<br />
Este capítulo trata do estudo do problema do cisalhamento associado à flexão em<br />
elementos estruturais e da cinemática relacionada a esse tipo de solicitação. Inicialmente<br />
será deduzida a fórmula do cisalhamento para o caso de elementos estruturais<br />
reticulados. Na sequência do capítulo, desenvolve-se o estudo da influência das seções<br />
transversais solicitadas ao esforço de cisalhamento. Ademais, o conceito de fluxo de<br />
cisalhamento será introduzido para aplicações de seções de paredes finas, também será<br />
abordado o dimensionamento de ligações em seções transversais compostas por elementos<br />
independentes. Por fim, será apresentado o conceito de centro de cisalhamento.<br />
1 Cisalhamento em vigas reticuladas prismáticas<br />
As tensões de cisalhamento em vigas reticuladas prismáticas são causadas pelos esforços<br />
cortantes atuantes nas seções transversais. Se além do esforço cortante a seção<br />
for solicitada à flexão, ocorrem distribuições complexas de tensões de cisalhamento.<br />
São admitidas as seguintes hipóteses de cálculo:<br />
a) As tensões de cisalhamento (τ) são paralelas à força cortante (V) sobre a Linha<br />
Neutra (L. N.) da seção;<br />
b) Para larguras de seção (t) constantes, as tensões de cisalhamento são<br />
distribuídas uniformemente para cada posição na altura;<br />
c) Consideram-se inicialmente elementos reticulados e prismáticos na dedução da<br />
fórmula do cisalhamento.<br />
Na Fig. 6.1 é apresentada a distribuição das tensões de cisalhamento sobre a linha<br />
neutra de uma seção transversal de viga prismática, provocada por um momento fletor<br />
(M Z ) e esforço cortante (V) positivos, de acordo com a convenção usual de esforços<br />
solicitantes.<br />
y<br />
V<br />
Elemento no plano XY<br />
(posicionado sobre a L. N.)<br />
τ<br />
M z<br />
z<br />
t<br />
τ<br />
L. N.<br />
x<br />
τ<br />
y<br />
τ<br />
x<br />
τ<br />
Figura 6.1 Distribuição de tensões de cisalhamento máximas sobre a L.N. de uma viga submetida à solicitação<br />
combinada de flexão e cisalhamento.<br />
267
CAPÍTULO<br />
Estabilidade Elástica<br />
7<br />
Este capítulo trata do estudo da estabilidade elástica de colunas submetidas à compressão.<br />
Tal fenômeno também é conhecido como flambagem de colunas ou simplesmente<br />
flambagem. Trata-se de um problema geométrico associado à equação diferencial que<br />
descreve o comportamento de estruturas na iminência da perda de estabilidade.<br />
Serão apresentados inicialmente os conceitos fundamentais relacionados com<br />
estabilidade elástica e na sequência problemas relacionados com o cálculo de cargas<br />
críticas de flambagem em diversos tipos de situação. No final do capítulo serão desenvolvidas<br />
as fórmulas tangente e secante para o caso de colunas submetidas a forças de<br />
compressão com excentricidade.<br />
1 Conceitos fundamentais sobre estabilidade elástica<br />
A perda de estabilidade elástica em estruturas submetidas à compressão é um problema<br />
de autovalores e autovetores associado a uma condição crítica que ocorre nas equações<br />
diferenciais que governam o comportamento mecânico de estruturas esbeltas como<br />
colunas, placas, chapas e cascas 1 . Esse tipo de problema é comum em diversas áreas<br />
da ciência e engenharia, conforme pode ser visto em Prigogine (2002).<br />
O primeiro conceito fundamental no estudo da estabilidade elástica é a carga crítica.<br />
Em diversos tipos de análise estrutural procura-se descrever o comportamento dos sistemas<br />
em termos qualitativos, com o uso da chamada análise P - d. Esse tipo de análise<br />
permite descrever o comportamento global da estrutura (P - D) ou local (P - d) de acordo<br />
com uma força externa aplicada (P) e com os deslocamentos associados (d ou D) ao grau<br />
de liberdade 2 no qual a força é aplicada. Carga crítica (P CR ) é uma ação de compressão que<br />
altera o estado do equilíbrio estrutural. Se a carga aplicada for menor que a carga crítica<br />
(P < P CR ) assume-se que o sistema estrutural é estável. Se a carga aplicada for maior ou<br />
igual à carga crítica (P > P CR ) assume-se que o sistema estrutural é instável.<br />
O estado de equilíbrio de um sistema estrutural pode ser classificado em estável,<br />
instável ou indiferente. No equilíbrio estável, após a introdução de uma pequena perturbação<br />
o sistema retorna à sua posição inicial. No equilíbrio instável, após a introdução<br />
de uma pequena perturbação no sistema não é possível retornar à posição inicial.<br />
O fenômeno da perda de estabilidade estrutural está associado a uma condição crítica<br />
do sistema na qual o equilíbrio assume um comportamento instável. No equilíbrio<br />
1. Colunas são elementos estruturais reticulados que trabalham à compressão. Placas são elementos planos com ações<br />
aplicadas na direção normal ao plano. Chapas são elementos planos com ações aplicadas no próprio plano. Cascas são<br />
elementos planos ou curvos com espessura fina submetidos a forças que causam esforços em três direções distintas. O<br />
caso de perda de estabilidade em chapas é menos comum em relação ao dos demais elementos estruturais.<br />
2. Graus de liberdade são direções cartesianas, nas quais podem ser aplicados deslocamentos ou forças em um sistema<br />
estrutural discretizado. É um termo fundamental usado na área de métodos numéricos.<br />
293
DELINEAMENTO DE FORMAS FARMACÊUTICAS<br />
Ano: 2016<br />
Editora: Elsevier<br />
Nº de Páginas: 872<br />
Formato: 21 x 27 cm<br />
Área: Medicina<br />
A seguir algumas páginas
TraDuÇÃO Da<br />
4ª EDIÇÃO<br />
aulton<br />
Delineamento De<br />
Formas Farmacêuticas<br />
editado por<br />
Michael E. aulton<br />
Kevin M. G. Taylor
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ISBN: 978-85-352-8316-7<br />
ISBN versão eletrônica: 978-85-352-6278-0<br />
AULTON’S PHARMACEUTICs: THE DESIGN AND MANUFACTURE OF MEDICINES, 4TH EDITION<br />
Copyright © 2013 Elsevier Ltd. All rights reserved.<br />
First edition 1988<br />
Second edition 2002<br />
Third edition 2007<br />
Fourth Edition 2013<br />
This translation of Aulton’s Pharmaceutics: The Design and Manufacture of Medicines, 4th Edition, by Michael E. Aulton and Kevin M. G. Taylor was<br />
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Esta tradução de Aulton’s Pharmaceutics: The Design and Manufacture of Medicines, 4th Edition, de Michael E. Aulton e Kevin M. G. Taylor foi produzida<br />
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ISBN: 978-0-7020-4290-4<br />
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A924a<br />
4 ed.<br />
Aulton, Michael E.<br />
Aulton delineamento de formas farmacêuticas / Michael E. Aulton , Kevin M. G.<br />
Taylor ; [tradução Francisco Sandro Menezes]. - 4 ed. - Rio de Janeiro : Elsevier, 2016.<br />
il. ; 27 cm.<br />
Tradução de: Aulton’s pharmaceutics the design and manufacture of medicines,<br />
4th edition<br />
Inclui índice<br />
ISBN 978-85-352-8316-7<br />
1. Farmácia. I. Taylor, Kevin M. G. II. Menezes, Francisco Sandro. III. Título.<br />
15-28486 CDD: 615<br />
CDU: 615<br />
23/11/2015 25/11/2015
Quarta edição<br />
Editado por<br />
Michael E. Aulton BPharm PhD FAAPS FSP FRPharmS<br />
Emeritus Professor, School of Pharmacy, De Montfort University, Leicester, UK<br />
e<br />
Kevin M. G. Taylor BPharm PhD MRPharmS<br />
Professor of Clinical Pharmaceutics, UCL School of Pharmacy, London, UK
3 Propriedades das soluções<br />
Michael E. Aulton<br />
CONTEÚDO DO CAPÍTULO<br />
Introdução ................................. 36<br />
Tipos de solução. ........................... 37<br />
Pressões de vapor de sólidos, líquidos .<br />
e soluções. ............................. 37<br />
Soluções ideais: Lei de Raoult .............. 37<br />
Soluções reais ou não ideais ............... 38<br />
Ionização de solutos. ........................ 39<br />
Concentração de íon hidrogênio e pH. ....... 39<br />
Constantes de dissociação (ou de ionização);<br />
pK a e pK b ............................... 40<br />
Soluções-tampão e capacidade de .<br />
tamponamento. .......................... 42<br />
Propriedades coligativas. ..................... 43<br />
Pressão osmótica ........................ 43<br />
Difusão em solução. ......................... 44<br />
Resumo. ................................... 45<br />
Bibliografia. ................................ 45<br />
PONTOS-CHAVE<br />
• Uma vez que as soluções são produzidas, da forma<br />
descrita no capítulo anterior, elas têm várias<br />
propriedades importantes para a ciência<br />
farmacêutica.<br />
• Há vários tipos de solução que devem ser<br />
entendidos. Isso envolve as diferenças entre<br />
soluções teóricas ou “ideais” e as soluções “reais”<br />
encontradas na prática.<br />
• De particular relevância para a administração de<br />
fármacos pelo trato gastrintestinal é o grau de<br />
ionização de solutos e o efeito do pH nessa<br />
ionização.<br />
• O conceito de pH e pK a e sua inter-relação, e a<br />
ligação entre grau de ionização e solubilidade são<br />
fundamentais para entender a administração de<br />
fármacos no trato gastrintestinal, devido às<br />
mudanças de pH nas áreas próximas do trato<br />
durante a passagem do fármaco.<br />
• Outras propriedades das soluções de particular<br />
importância são: pressão de vapor, pressão<br />
osmótica e difusibilidade.<br />
Introdução<br />
O objetivo deste capítulo é fornecer informações sobre<br />
certas propriedades das soluções que se relacionam com<br />
sua aplicação nas ciências farmacêuticas. Este capítulo<br />
lida, principalmente, com as propriedades físico-químicas<br />
das soluções que são importantes quanto a sistemas<br />
farmacêuticos. Esses aspectos são abordados detalhadamente<br />
para apresentar o cientista farmacêutico a tais<br />
propriedades, a fim de possibilitar a compreensão de sua
Propriedades das soluções CAPÍTULO 3<br />
importância no delineamento de formas farmacêuticas e<br />
na administração de fármacos. Muito já foi publicado em<br />
outras fontes e com mais detalhamento. Por isso, o leitor<br />
que necessite de informações adicionais pode buscar<br />
algumas referindo-se à bibliografia no final do capítulo.<br />
Tipos de solução<br />
As soluções podem ser classificadas de acordo com o<br />
estado físico (isto é, gasoso, líquido ou sólido) do(s)<br />
soluto(s) e do solvente. Embora possa haver diversos<br />
tipos, quase todas as soluções de interesse farmacêutico<br />
têm solventes líquidos. Além disso, os solutos são predominantemente<br />
substâncias sólidas. Consequentemente, a<br />
maior parte da informação deste capítulo é relevante para<br />
soluções de sólidos em líquidos.<br />
Pressões de vapor de sólidos, líquidos<br />
e soluções<br />
Para entender várias das propriedades das soluções, é<br />
necessário conhecer o conceito de uma solução ideal e<br />
seu uso como sistema de referência, com o qual o comportamento<br />
de soluções reais (não ideais) pode ser comparado.<br />
Por sua vez, esse conceito baseia-se no<br />
entendimento da pressão de vapor. A presente seção<br />
serve como introdução para a discussão posterior sobre<br />
soluções ideais e não ideais.<br />
A teoria cinética da matéria mostra que o movimento<br />
térmico das moléculas de uma substância no seu estado<br />
gasoso é mais do que suficiente para superar as forças<br />
atrativas que existem entre as moléculas. Assim, as<br />
moléculas estarão submetidas a um movimento completamente<br />
aleatório dentro dos limites do recipiente.<br />
A situação é inversa, porém, quando a temperatura é<br />
reduzida o suficiente para que uma fase condensada seja<br />
formada. Nesta, os movimentos térmicos das moléculas<br />
são agora insuficientes para superar completamente as<br />
forças atrativas intermoleculares e surge algum grau de<br />
ordem no arranjo relativo das moléculas. Esse estado<br />
condensado pode ser líquido ou sólido.<br />
No caso em que as forças intermoleculares sejam tão<br />
fortes que deem origem a um alto grau de ordem,<br />
quando a estrutura é influenciada muito pouco por<br />
movimentos térmicos, a substância costuma estar no<br />
estado sólido.<br />
No estado condensado líquido, as influências relativas<br />
do movimento térmico e das forças atrativas intermoleculares<br />
são intermediárias entre aquelas nos estados<br />
gasoso e sólido. Assim, os efeitos de interação entre os<br />
dipolos permanentes e induzidos, isto é, as ditas forças<br />
de atração de van der Waals, causam alguma coesão entre<br />
as moléculas do líquido. Consequentemente, os líquidos<br />
ocupam um volume definido sobre uma superfície, diferentemente<br />
dos gases. Além disso, não obstante haja<br />
evidência de estrutura nos líquidos, essa estrutura é<br />
muito menos aparente do que nos sólidos.<br />
Embora tanto os sólidos quanto os líquidos sejam sistemas<br />
condensados com moléculas coesas, algumas das<br />
moléculas nas superfícies desses sistemas ocasionalmente<br />
irão adquirir energia suficiente para superar as forças<br />
atrativas exercidas pelas moléculas adjacentes. Essas<br />
moléculas podem, portanto, escapar da superfície para<br />
formar uma fase de vapor. Na situação em que a temperatura<br />
seja mantida constante, um equilíbrio será estabelecido<br />
entre a fase de vapor e a fase condensada. A<br />
pressão exercida pelo vapor neste equilíbrio é chamada<br />
de pressão de vapor da substância.<br />
Todos os sistemas condensados têm a habilidade inerente<br />
de dar origem a uma pressão de vapor. No entanto,<br />
as pressões de vapor exercidas pelos sólidos são geralmente<br />
bem menores do que aquelas exercidas pelos<br />
líquidos, pois as forças intermoleculares nos sólidos são<br />
mais fortes do que nos líquidos. Portanto, a tendência<br />
das moléculas superficiais ao escape é maior nos líquidos.<br />
Consequentemente, a perda de vapor na superfície dos<br />
líquidos pelo processo de evaporação é mais comum do<br />
que a perda de vapor na superfície dos sólidos por<br />
sublimação.<br />
No caso de um solvente líquido contendo um soluto<br />
dissolvido, as moléculas tanto do solvente quanto do<br />
soluto podem apresentar tendência a escapar da superfície<br />
e a contribuir para a pressão de vapor. As tendências<br />
relativas ao escape dependerão do número relativo de<br />
moléculas diferentes na superfície da solução e das intensidades<br />
relativas das forças atrativas entre moléculas adjacentes<br />
de solvente por um lado e moléculas do soluto e<br />
do solvente por outro. Como as forças intermoleculares<br />
entre solutos sólidos e solventes líquidos tendem a ser<br />
relativamente fortes, essas moléculas de soluto geralmente<br />
não escapam da superfície de uma solução e não<br />
contribuem para a pressão de vapor. Em outras palavras,<br />
o soluto não costuma ser volátil e a pressão de vapor<br />
surge unicamente do equilíbrio dinâmico estabelecido<br />
entre as taxas de evaporação e condensação de moléculas<br />
de solvente contidas na solução. Em uma mistura de<br />
líquidos miscíveis, ou seja, um líquido em uma solução<br />
líquida, as moléculas de ambos os componentes tendem<br />
a evaporar e contribuem para a pressão de vapor total<br />
exercida pela solução.<br />
Soluções ideais: Lei de Raoult<br />
O conceito de uma solução ideal foi apresentado a fim<br />
de oferecer um sistema-modelo que possa ser usado<br />
como um padrão com o qual soluções reais ou não ideais<br />
sejam comparadas. No modelo, presume-se que todas as<br />
forças intermoleculares sejam idênticas. Assim, as interações<br />
solvente/solvente, soluto/solvente e soluto/soluto<br />
são idênticas e iguais à força da interação intermolecular<br />
tanto no solvente puro quanto no soluto puro. Por causa<br />
37
Parte 1 Princípios científicos de formas de produção de dosagens, dissolução e solubilidade<br />
dessa igualdade, as tendências relativas de escape de<br />
moléculas de soluto e solvente da superfície da solução<br />
serão determinadas apenas pelo seu número relativo na<br />
superfície.<br />
Como uma solução é homogênea por definição, o<br />
número relativo dessas moléculas superficiais será o<br />
mesmo que o número relativo na solução como um todo.<br />
O mesmo pode ser expresso convenientemente pela fração<br />
molar dos componentes, pois, para uma solução binária (ou<br />
seja, aquela com dois componentes), x 1 + x 2 = 1, em que<br />
x 1 e x 2 são as frações molares do soluto e do solvente,<br />
respectivamente.<br />
A pressão de vapor total (P) exercida por uma solução<br />
binária é dada pela Equação 3.1:<br />
P = p 1 + p 2<br />
(3.1)<br />
em que p 1 e p 2 são as pressões de vapor parciais exercidas<br />
sobre a solução pelo soluto e pelo solvente,<br />
respectivamente. A Lei de Raoult afirma que a pressão<br />
parcial de vapor (p) exercida por um componente volátil<br />
em uma solução a uma dada temperatura é igual à<br />
pressão de vapor do componente puro à mesma temperatura<br />
(p o ), multiplicada pela sua fração molar na solução<br />
(x). Isto é:<br />
Assim, pelas Equações 3.1 e 3.2:<br />
p<br />
= p o x<br />
(3.2)<br />
o o<br />
P = p + p = p x + p x<br />
1 2 1 1 2 2<br />
(3.3)<br />
em que p 1 o e p 2 o são as pressões de vapor exercidas pelo<br />
soluto puro e pelo solvente puro, respectivamente. Se a<br />
pressão de vapor total da solução for descrita pela<br />
Equação 3.3, então o sistema obedece à Lei de Raoult.<br />
Uma das consequências dos comentários anteriores é<br />
que uma solução ideal pode ser definida como aquela que<br />
obedece à Lei de Raoult. Além disso, só se deve esperar<br />
que exibam o comportamento ideal sistemas reais compostos<br />
de substâncias quimicamente similares, pois<br />
apenas neles as condições de forças intermoleculares<br />
iguais entre os componentes (como presume o modelo<br />
ideal) pode provavelmente ser satisfeita. Consequentemente,<br />
a Lei de Raoult é obedecida por meio de uma<br />
faixa considerável de concentrações por relativamente<br />
poucos sistemas na realidade.<br />
Misturas de, por exemplo, benzeno + tolueno, n-hexano<br />
+ n-heptano, bromoetano + iodoetano e misturas<br />
binárias de hidrocarbonetos fluorados são sistemas que<br />
exibem esse comportamento ideal. Note a similaridade<br />
química entre os dois componentes da mistura em cada<br />
exemplo.<br />
Soluções reais ou não ideais<br />
A maioria das soluções reais não exibe comportamento<br />
ideal, pois as forças de interação soluto-soluto, solutosolvente<br />
e solvente-solvente são desiguais. Essas desigualdades<br />
alteram a concentração efetiva de cada<br />
componente. Desse modo, ele não pode ser representado<br />
por uma expressão normal de concentração como<br />
o termo x de fração molar usado nas Equações 3.2 e<br />
3.3. Consequentemente, as soluções reais frequentemente<br />
desviam da Lei de Raoult e as equações anteriores<br />
não são obedecidas nestes casos. Essas equações<br />
podem ser modificadas, porém, substituindo-se cada<br />
termo de concentração (x) por uma medida da concentração<br />
efetiva, fornecida pela chamada atividade (ou<br />
atividade termodinâmica), a. Assim, a Equação 3.2 converte-se<br />
na Equação 3.4:<br />
p<br />
= p o a<br />
(3.4)<br />
e a equação resultante é aplicável a todos os sistemas,<br />
independentemente de serem ideais ou não ideais.<br />
Convém notar que, se a solução exibe comportamento<br />
ideal, então a é igual a x, porém a não será igual a x se<br />
houver desvios de tal comportamento. A razão entre a<br />
atividade e a fração molar é chamada coeficiente de atividade<br />
(f) e oferece uma medida do desvio com relação<br />
ao ideal. Assim, quando a = x, f = 1.<br />
No caso em que as forças atrativas entre as moléculas<br />
de soluto e do solvente forem mais fracas do que aquelas<br />
entre as próprias moléculas do soluto ou entre as próprias<br />
moléculas do solvente, os componentes tenderão<br />
a apresentar baixa afinidade um pelo outro. A tendência<br />
de escape das moléculas superficiais nesse tipo de<br />
sistema é maior quando comparada com uma solução<br />
ideal. Em outras palavras, p 1 , e p 2 e, portanto, P são<br />
maiores do que o esperado pela Lei de Raoult. Assim,<br />
as atividades termodinâmicas dos componentes são<br />
maiores do que suas frações molares, isto é, a 1 > x 1 e<br />
a 2 > x 2 . Diz-se que esse tipo de sistema apresenta um<br />
desvio positivo da Lei de Raoult e a extensão do desvio<br />
aumenta conforme a miscibilidade dos componentes<br />
diminui. Por exemplo, uma mistura de álcool e benzeno<br />
apresenta um desvio menor do que a mistura menos<br />
miscível de água + éter dietílico, enquanto a mistura<br />
praticamente imiscível de benzeno + água exibe um<br />
desvio positivo extremamente grande.<br />
Por outro lado, se as moléculas de soluto e solvente têm<br />
forte afinidade mútua (o que pode, por vez, resultar na<br />
formação de um complexo ou composto), ocorre um<br />
38
Propriedades das soluções CAPÍTULO 3<br />
desvio negativo da Lei de Raoult. Assim, p 1 , p 2 e, portanto,<br />
P são menores do que o esperado e a 1 < x 1 e a 2 < x 2 .<br />
São exemplos de sistemas que apresentam este tipo de<br />
comportamento clorofórmio + acetona, piridina + ácido<br />
acético e água + ácido nítrico.<br />
Embora a maior parte dos sistemas não seja ideal e<br />
desvie positiva ou negativamente da Lei de Raoult,<br />
esses desvios são pequenos quando a solução é diluída.<br />
Isso ocorre porque o efeito que uma pequena quantidade<br />
de soluto tem sobre as interações entre as moléculas<br />
de solvente é mínimo. Assim, soluções diluídas<br />
tendem a exibir comportamento ideal e as atividades<br />
dos seus componentes aproximam-se de suas frações<br />
molares, ou seja, a 1 é aproximadamente igual a x 1 e a 2<br />
é aproximadamente igual a x 2 . Por outro lado, grandes<br />
desvios podem ser observados quando a concentração<br />
da solução é alta.<br />
Conhecer as consequências de tamanhos desvios é<br />
particularmente importante no que diz respeito à<br />
destilação de misturas líquidas. Por exemplo, a separação<br />
completa dos componentes de uma mistura por<br />
destilação fracionada pode não ser conseguida se<br />
grandes desvios positivos ou negativos da Lei de<br />
Raoult causarem a formação das chamadas misturas<br />
azeotrópicas com pontos de ebulição mínimo ou<br />
máximo, respectivamente.<br />
Ionização de solutos<br />
Vários solutos dissociam-se em íons se a constante dielétrica<br />
do solvente for alta o bastante para causar separação<br />
suficiente entre íons de carga oposta. Esses solutos<br />
são denominados eletrólitos e sua ionização (ou dissociação)<br />
tem várias consequências, que costumam ser<br />
importantes na prática farmacêutica. Algumas dessas<br />
consequências estão indicadas a seguir.<br />
Concentração do íon hidrogênio e pH<br />
A dissociação da água pode ser representada pela<br />
Equação 3.5:<br />
+ −<br />
HO 2 ↔ H + OH<br />
(3.5)<br />
Deve dar-se conta de que esta é uma representação simplificada,<br />
pois os íons hidrogênio e hidroxila não existem<br />
em estado livre, mas combinados com moléculas de água<br />
não dissociadas para formar íons mais complexos, como<br />
H 3 O + e H 7 O 4 − .<br />
Na água pura, as concentrações dos íons H + e OH −<br />
são iguais e a 25 °C – ambas têm o valor de 1 × 10 −7<br />
mol L −1 . A teoria de Brönsted-Lowry de ácidos e bases<br />
define um ácido como uma substância que doa um próton<br />
(ou íon hidrogênio). Portanto, a adição de um soluto<br />
ácido à água resultará em uma concentração de íon hidrogênio<br />
que excede aquela da água pura. Por outro lado, a<br />
adição de uma base, definida como uma substância aceptora<br />
de prótons, reduzirá a concentração de íons hidrogênio<br />
na solução. A faixa de concentração de íon<br />
hidrogênio decresce desde 1 mol L −1 para um ácido forte<br />
até 1 × 10 −14 mol L −1 para uma base forte.<br />
A fim de evitar o uso frequente de números inconvenientes<br />
que surgem dessa faixa tão ampla, o conceito<br />
de pH foi introduzido como uma medida mais<br />
conveniente da concentração de íons de hidrogênio.<br />
Define-se pH como o logaritmo negativo da concentração<br />
de íons hidrogênio [H + ], conforme mostrado<br />
na Equação 3.6:<br />
+<br />
pH =− log [ H ]<br />
10<br />
(3.6)<br />
Desse modo, o pH de uma solução neutra, como da água<br />
pura, é 7. Isso ocorre porque, conforme mencionado<br />
anteriormente, a concentração de íons H + (e, portanto,<br />
de íons OH − ) na água pura é de 1 × 10 −7 mol L −1 .<br />
O pH de soluções ácidas é menor do que 7 e o pH de<br />
soluções alcalinas é maior do que 7.<br />
O pH tem várias implicações importantes na prática<br />
farmacêutica, tendo efeito sobre:<br />
• O grau de ionização de fármacos que sejam ácidos<br />
ou bases fracas.<br />
• A solubilidade de fármacos que sejam ácidos ou<br />
bases fracas.<br />
• A facilidade de absorção de fármacos do trato<br />
gastrintestinal para o sangue. Por exemplo, muitos<br />
fármacos (cerca de 75%) são bases fracas ou sais<br />
destas. Esses fármacos dissolvem-se mais.<br />
rapidamente no pH baixo do estômago ácido.<br />
Entretanto, haverá pouca ou nenhuma absorção do<br />
fármaco nesse local, pois ele está muito ionizado.<br />
A absorção do fármaco normalmente deverá esperar<br />
até o intestino, mais alcalino, no qual a ionização da<br />
base fraca dissolvida é reduzida.<br />
• A estabilidade de muitos fármacos.<br />
• Tecidos corporais (ambos os extremos de pH são<br />
danosos).<br />
Essas implicações têm grande consequência durante a<br />
administração de fármacos por via oral, uma vez que o<br />
pH a que o fármaco é exposto pode variar de pH 1 a<br />
8, à medida que ele atravessa o trato gastrintestinal. A<br />
inter-relação entre o grau de ionização, a solubilidade e<br />
o pH serão discutidos a seguir neste capítulo. As consequências<br />
biofarmacêuticas serão discutidas no Capítulo<br />
20.<br />
39
Parte 1 Princípios científicos de formas de produção de dosagens, dissolução e solubilidade<br />
Constantes de dissociação<br />
(ou de ionização); pK a e pK b<br />
Vários fármacos são ácidos fracos ou bases fracas. Nas soluções<br />
desses fármacos, existem equilíbrios entre moléculas<br />
não dissociadas e seus íons. Em uma solução de um fármaco<br />
fracamente ácido HA, o equilíbrio pode ser representado<br />
pela Equação 3.7:<br />
+ −<br />
HA ↔ H + A<br />
(3.7)<br />
+ −<br />
− log K a = −log [ H ] − log [ A ] + log [ HA]<br />
10 10 10 10<br />
(3.12)<br />
O símbolo pK a é usado para representar o logaritmo<br />
negativo da constante de dissociação ácida K a , de modo<br />
análogo à forma pela qual o pH é usado para representar<br />
o logaritmo negativo da concentração de íons hidrogênio<br />
(como na Equação 3.6). Portanto:<br />
pK<br />
a<br />
=−log 10 K a<br />
(3.13)<br />
De modo similar, a protonação de um fármaco fracamente<br />
básico B pode ser representado pela Equação 3.8:<br />
B+ H + ↔ BH<br />
+ (3.8)<br />
Em soluções da maioria dos sais de ácidos fortes ou bases<br />
fortes na água, esses equilíbrios são deslocados fortemente<br />
para um dos lados da equação, pois estes compostos<br />
são praticamente completamente ionizados. No caso<br />
de soluções aquosas de ácidos ou bases mais fracos, o<br />
grau de ionização é muito mais variável e, de fato, como<br />
será visto, passível de controle.<br />
A constante de ionização (ou constante de dissociação)<br />
K a de uma espécie ácida fraca parcialmente ionizada pode<br />
ser obtida pela aplicação da Lei de Ação de Massas para<br />
formar a Equação 3.9, em que [I + ] e [I − ] representam<br />
as concentrações das espécies ionizadas dissociadas e [U]<br />
é a concentração da espécie não ionizada.<br />
K<br />
a =<br />
+ −<br />
[ I ][ I ]<br />
[ U]<br />
(3.9)<br />
No caso de um ácido fraco, isso pode ser escrito (a partir<br />
da Equação 3.7) como:<br />
+ −<br />
[ H ][ A ]<br />
K a =<br />
[ HA]<br />
(3.10)<br />
Obtendo-se os logaritmos de ambos os lados da Equação<br />
3.10, resulta-se em:<br />
+ −<br />
log K a = log [ H ] + log [ A ] − log [ HA]<br />
10 10 10 10<br />
(3.11)<br />
Os sinais dessa equação podem ser invertidos para obterse<br />
a Equação 3.12:<br />
Agora, a Equação 3.12 pode ser reescrita como a Equação<br />
3.14:<br />
ou<br />
ou mesmo<br />
−<br />
pK = pH+ log [ HA] − log [ A ]<br />
a<br />
10 10<br />
HA<br />
pK a = pH + log [ ]<br />
10 −<br />
[ A ]<br />
pH = pK<br />
+ log<br />
a<br />
10<br />
−<br />
[ A ]<br />
[ HA]<br />
(3.14)<br />
(3.15)<br />
(3.16)<br />
As Equações 3.15 e 3.16 são conhecidas como as equações<br />
de Henderson-Hasselbach para um ácido fraco.<br />
As constantes de ionização tanto dos fármacos<br />
ácidos quanto dos fármacos básicos são geralmente<br />
expressas em termos de pK a . A constante de dissociação<br />
ácida equivalente para a protonação de uma base<br />
fraca é dada (a partir da Equação 3.8) pela Equação<br />
3.17. Note que a equação parece estar invertida, mas<br />
ela é escrita em termos de K a em vez de K b (a constante<br />
de dissociação básica):<br />
+<br />
[ H ][ B]<br />
K a =<br />
+<br />
[BH ]<br />
(3.17)<br />
Obtendo-se os logaritmos negativos, resulta a Equação<br />
3.18:<br />
+ +<br />
− log K a = −log [ H ] − log [ B] + log [ BH ]<br />
10 10 10 10<br />
(3.18)<br />
40
Propriedades das soluções CAPÍTULO 3<br />
ou<br />
ou<br />
+<br />
BH<br />
pK a = pH + log [ ]<br />
10<br />
[ B]<br />
[ B]<br />
pH = pKa<br />
+ log10<br />
+<br />
[ BH ]<br />
(3.19)<br />
(3.20)<br />
As Equações 3.19 e 3.20 são conhecidas como as equações<br />
de Henderson-Hasselbach para base fraca.<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
Relação entre pH, pK a , grau de ionização e<br />
solubilidade de fármacos fracamente ácidos<br />
ou básicos<br />
Existe uma relação direta para a maior parte dos compostos<br />
polares entre o grau de ionização e a solubilidade<br />
aquosa. Conforme mostrado anteriormente, por sua vez,<br />
o grau de ionização é controlado pelo pK a da molécula e<br />
pelo pH do ambiente circundante. Essa inter-relação está<br />
representada na Figura 3.1.<br />
Tomando primeiramente a linha do ácido fraco, pode<br />
ver-se que, em um pH alto, o fármaco está completamente<br />
ionizado e no seu máximo de solubilidade. Sob<br />
condições de pH baixo, o oposto é verdadeiro. A forma<br />
da curva é definida pela equação de Henderson-Hasselbalch<br />
para ácidos fracos (Equação 3.15), que mostra a<br />
relação entre pH, pK a e grau de ionização para um<br />
fármaco fracamente ácido. Pode depreender-se também<br />
da Figura 3.1 que, quando o pH é igual ao pK a do fármaco,<br />
este está 50% ionizado. Isso também é previsto pelas<br />
equações de Henderson-Hasselbalch.<br />
A Equação 3.16 mostra que, quando [A − ] = [HA], o<br />
log([A − ]/[HA]) será igual a log 1 (ou seja, zero) e, portanto,<br />
pH = pK a . Dito de outra maneira, quando o pH<br />
da solução ao redor for igual ao pK a , a concentração da<br />
espécie ionizada, [A − ], será igual à concentração da<br />
espécie não ionizada, [HA], ou seja, o fármaco está 50%<br />
ionizado. As equações de Henderson-Hasselbalch<br />
também mostram que um fármaco está quase completamente<br />
ionizado ou não ionizado (conforme apropriado)<br />
quando o pH está a duas unidades de distância do pK a .<br />
O exame da linha equivalente para uma base fraca<br />
mostra que, provavelmente, não é uma coincidência que<br />
a maioria dos fármacos de administração por via oral seja<br />
de bases fracas. Uma base fraca estará ionizada e no seu<br />
máximo de solubilidade no estômago ácido, e não ionizada<br />
no intestino delgado mais alcalino, no qual, portanto, será<br />
mais facilmente absorvida. A escolha do pK a de um<br />
fármaco é, pois, de importância fundamental na administração<br />
por via oral.<br />
Fig. 3.1 • Variação no grau de ionização e solubilidade<br />
relativa de fármacos fracamente ácidos e fracamente básicos<br />
em função do pH.<br />
Uso das equações de Henderson-<br />
Hasselbalch para o cálculo do grau de<br />
ionização de fármacos fracamente ácidos<br />
ou básicos<br />
Várias técnicas analíticas, como os métodos espectrofotométricos<br />
e potenciométricos, podem ser usadas para<br />
determinar constantes de ionização, mas a temperatura<br />
na qual a determinação é realizada deve ser especificada,<br />
uma vez que o valor das constantes varia com a<br />
temperatura.<br />
O grau de ionização de um fármaco em solução pode<br />
ser determinado a partir de equações de Henderson-Hasselbalch<br />
para ácidos ou bases fracas (Equações 3.15 e<br />
3.19, respectivamente) rearranjadas, se o valor do pK a do<br />
fármaco e o pH da solução são conhecidos. As equações<br />
resultantes para ácidos e bases fracas são as Equações<br />
3.21 e 3.22, respectivamente:<br />
log [ HA ]<br />
10 = pKa<br />
−pH<br />
−<br />
[ A ]<br />
log [ +<br />
BH ]<br />
10 = pKa<br />
−pH<br />
[ B]<br />
(3.21)<br />
(3.22)<br />
Esses cálculos são particularmente úteis para determinar<br />
o grau de ionização de fármacos nas várias partes<br />
do trato gastrintestinal e no plasma. Os exemplos a<br />
seguir são relacionados com esse tipo de situação,<br />
portanto.<br />
41
Parte 1 Princípios científicos de formas de produção de dosagens, dissolução e solubilidade<br />
Soluções-tampão e capacidade de<br />
tamponamento<br />
As soluções-tampão manterão um pH constante, mesmo<br />
quando pequenas quantidades de ácido ou álcali são adicionados<br />
à solução. Os tampões geralmente contêm misturas<br />
de um ácido fraco e um de seus sais, embora<br />
misturas de uma base fraca e um de seus sais também<br />
possam ser utilizadas. As últimas sofrem com as desvantagens<br />
oriundas da volatilidade de muitas bases.<br />
A ação de uma solução-tampão pode ser compreendida<br />
considerando-se, por exemplo, um sistema<br />
simples como uma solução de uma mistura de ácido<br />
acético e acetato de sódio em água. O ácido acético,<br />
sendo um ácido fraco, estará confinado praticamente<br />
à sua forma não dissociada, pois sua ionização será<br />
suprimida pela existência de íons acetato em comum,<br />
produzidos pela dissociação completa do sal de sódio.<br />
O pH dessa solução pode ser descrito pela Equação<br />
3.23, que é a Equação 3.16 em que [A − ] é a concentração<br />
de íons acetato e [HA] é a concentração de<br />
ácido acético na solução-tampão:<br />
−<br />
A<br />
pH = pKa<br />
+ log [ ]<br />
[ HA]<br />
(3.23)<br />
Pode ver-se, a partir da Equação 3.23, que o pH permanecerá<br />
constante enquanto o logaritmo da razão<br />
[acetato]/[ácido acético] não se altere. Quando uma<br />
pequena quantidade de ácido é adicionada à solução, ela<br />
converterá parte do sal em ácido acético. No entanto,<br />
se as concentrações tanto de íon acetato quanto de<br />
ácido acético forem suficientemente grandes, então o<br />
efeito da mudança será desprezível e o pH permanecerá<br />
constante. Do mesmo modo, a adição de uma pequena<br />
quantidade de base converterá uma parte do ácido<br />
acético em sua forma de sal, mas o pH permanecerá<br />
basicamente inalterado se as mudanças das concentrações<br />
em geral das duas espécies forem relativamente<br />
pequenas.<br />
No caso de grandes quantidades de ácido ou base<br />
serem adicionadas a um tampão, as mudanças na razão<br />
entre as espécies ionizada e não ionizada se tornam<br />
Quadro 3.1<br />
Exemplos discutidos:<br />
1. O valor de pK a do ácido acetilsalicílico, um ácido<br />
fraco, é cerca de 3,5. Se o pH do conteúdo gástrico<br />
for 2, podemos calcular a partir da equação 3,21:<br />
log [ HA ]<br />
10 = pKa<br />
− pH = 35 , −20 , = 15 ,<br />
−<br />
[A ]<br />
de modo que a razão entre a concentração não<br />
ionizada do ácido acetilsalicílico dividido pela<br />
concentração do ânion acetilsalicilato, é dada por:<br />
[ HA]:[ A − ] = antilog 15 , = 31, 61 :<br />
e<br />
log [ HA ]<br />
10 = pKa<br />
− pH = 80 , −50<br />
, = 30 ,<br />
−<br />
[ A ]<br />
− 3<br />
[ HA]:[ A ] = antilog 30 , = 10 : 1<br />
4. O pK a do fármaco básico amidopirinaé 5,0. No<br />
estômago, a razão entre a forma ionizada pela forma<br />
não ionizada do fármaco é calculada a partir da<br />
seguinte equação 3.22:<br />
2. O pH do plasma é 7,4 de modo que a razão da forma<br />
não ionizada pela forma ionizada do ácido<br />
acetilsalicílico nesse meio é dada por:<br />
log [ HA ]<br />
10 = pKa<br />
− pH = 35 , − 74 , =−39<br />
,<br />
−<br />
[ A ]<br />
e<br />
log [ +<br />
BH ] = pKa<br />
−pH<br />
= 50 , − 20 , = 30 ,<br />
[ B]<br />
+ 3<br />
[ BH ]:[ B] = antilog 30 , = 10 : 1<br />
e<br />
Enquanto que no intestino, a razão é dada por:<br />
−<br />
−4<br />
[ HA]:[ A ] = antilog ( −39 , ) = 12 , 6×<br />
10 : 1<br />
3. O pK a do fármaco, fracamente ácido, sulfapiridina é<br />
cerca de 8,0 e se o pH do conteúdo intestinal é 5,0 a<br />
razão do fármaco na forma não ionizada pela forma<br />
ionizada é dada por:<br />
e<br />
log [ +<br />
BH ] = pKa<br />
−pH<br />
= 50 , − 50 , = 0<br />
[ B]<br />
[ BH + ]:[ B] = antilog 0 = 11 :<br />
42
Propriedades das soluções CAPÍTULO 3<br />
consideráveis e o pH será alterado. A habilidade de um<br />
tampão de resistir aos efeitos de ácidos e bases é uma<br />
propriedade importante do ponto de vista prático. Esta<br />
habilidade é expressa em termos da capacidade de tamponamento<br />
(β). Ela pode ser definida como igual à quantidade<br />
de ácido ou base forte, expressa em mols de íon<br />
H + ou OH − , necessária para alterar o pH de um litro<br />
do tampão em uma unidade de pH. Dos comentários<br />
anteriores, deve ficar claro que a capacidade de tamponamento<br />
aumenta conforme a concentração dos componentes<br />
do tampão aumenta. Além disso, a capacidade<br />
também é afetada pela razão entre as concentrações do<br />
ácido fraco e seu sal, sendo a capacidade máxima (b max )<br />
obtida quanto a razão entre ácido e sal é = 1, ou seja,<br />
o pH é igual ao pK a do ácido.<br />
Os componentes de vários sistemas-tampão e as<br />
concentrações necessárias para produzir diferentes pH<br />
estão listados em vários livros de referência, como as<br />
farmacopeias. Ao selecionar um tampão apropriado, o<br />
valor do pK a do ácido deve ser próximo ao pH necessário<br />
e a compatibilidade dos componentes com outros<br />
ingredientes no sistema deve ser considerada. A toxicidade<br />
de componentes do tampão também deve ser<br />
levada em conta se a solução for usada para fins<br />
medicinais.<br />
Propriedades coligativas<br />
Quando um soluto não volátil é diluído em um solvente,<br />
certas propriedades da solução resultante são basicamente<br />
independentes da natureza do soluto e são determinadas<br />
pela concentração de partículas do soluto. Essas<br />
propriedades são chamadas de propriedades coligativas.<br />
No caso de um soluto não eletrolítico, as partículas de<br />
soluto serão moléculas, mas, se o soluto é um eletrólito,<br />
seu grau de dissociação determinará se as partículas serão<br />
apenas íons ou se uma mistura de íons e moléculas não<br />
dissociadas.<br />
A propriedade coligativa mais importante no aspecto<br />
farmacêutico é a pressão osmótica. Entretanto, como<br />
todas as propriedades coligativas estão relacionadas<br />
umas com as outras em virtude da sua dependência<br />
comum da concentração de moléculas do soluto, outras<br />
propriedades coligativas (como redução da pressão de<br />
vapor do solvente, elevação do seu ponto de ebulição e<br />
redução do seu ponto de fusão) são de interesse<br />
farmacêutico. As observações dessas outras propriedades<br />
oferecem alternativas às medidas da pressão osmótica<br />
como método para comparar as propriedades<br />
coligativas de diferentes soluções<br />
Pressão osmótica<br />
A pressão osmótica de uma solução é a pressão externa<br />
que deve ser aplicada a uma solução para evitar que<br />
ela seja diluída pela entrada de solvente por um processo<br />
conhecido como osmose. Esse consiste na difusão<br />
espontânea de solvente de uma solução de baixa concentração<br />
de soluto (ou solvente puro) para uma mais<br />
concentrada por meio de uma membrana semipermeável.<br />
Esse tipo de membrana separa as duas soluções e<br />
é permeável apenas a moléculas do solvente (ou seja,<br />
não às do soluto).<br />
Embora o processo ocorra espontaneamente sob<br />
temperatura e pressão constantes, as leis da termodinâmica<br />
indicam que ele será acompanhado por redução<br />
na energia livre (G) do sistema. Essa energia livre pode<br />
ser encarada como a energia disponível para a realização<br />
de trabalho útil. Quando se consegue uma posição<br />
de equilíbrio, não resta diferença entre as energias dos<br />
estados que estão em equilíbrio. A taxa de aumento<br />
na energia livre de uma solução causada por um<br />
aumento no número de mols de um componente é<br />
determinada pela energia livre molar parcial ( G ) ou<br />
pelo potencial químico (µ) daquele componente. Por<br />
exemplo, o potencial de solvente em uma solução<br />
binária é dado pela Equação 3.24. Os subscritos fora do<br />
parêntese do lado esquerdo indicam que a temperatura,<br />
a pressão e a quantidade de componente 1 (o soluto,<br />
neste caso) permanecem constantes:<br />
⎛ ∂G⎞<br />
⎝<br />
⎜<br />
∂ ⎠<br />
⎟ = G2 = µ 2<br />
n<br />
2 TPn , , 1<br />
(3.24)<br />
Uma vez que (por definição) apenas moléculas do<br />
solvente podem passar através de uma membrana<br />
semipermeável, a força-motriz (driving force) para<br />
osmose surge da desigualdade de potenciais químicos<br />
do solvente nos lados opostos da membrana. Assim, a<br />
direção de fluxo osmótico é da solução diluída (ou do<br />
solvente puro), em que o potencial químico do solvente<br />
é maior, devido à maior concentração de moléculas<br />
de solvente, para a solução mais concentrada, na<br />
qual a concentração e, consequentemente, o potencial<br />
químico do solvente são reduzidos pela presença de<br />
mais soluto. O potencial químico do solvente na<br />
solução mais concentrada pode ser aumentado, forçando-se<br />
as moléculas a uma proximidade maior sob a<br />
influência de uma pressão aplicada externamente. A<br />
osmose pode ser prevenida por tais meios – daí o<br />
termo pressão osmótica.<br />
A relação entre a pressão osmótica (π) e a concentração<br />
de um não eletrólito é definida para soluções<br />
diluídas. Presume-se que estas apresentam comportamento<br />
ideal pela equação de van’t Hoff (Equação<br />
3.25):<br />
πV<br />
= n 2 RT<br />
(3.25)<br />
43
CIÊNCIA E ENGENHARIA DE MATERIAIS<br />
Ano: 2016<br />
Editora: Grupo GEN | Selo LTC<br />
Nº de Páginas: 912<br />
Formato: 21 x 28 cm<br />
Área: Engenharia<br />
A seguir algumas páginas
9 a Edição<br />
Ciência e Engenharia<br />
de Materiais<br />
UMA INTRODUÇÃO<br />
WILLIAM D. CALLISTER, JR.<br />
Departamento de Engenharia Metalúrgica<br />
The University of Utah<br />
DAVID G. RETHWISCH<br />
Departamento de Engenharia Química e Bioquímica<br />
The University of Iowa<br />
Tradução<br />
Sergio Murilo Stamile Soares, M.Sc.<br />
Engenheiro Químico<br />
Revisão Técnica<br />
Prof. Dr. Álvaro Meneguzzi<br />
Profa. Dra. Annelise Kopp Alves<br />
Prof. Dr. Carlos Arthur Ferreira<br />
Prof. Dr. Carlos Pérez Bergmann<br />
Profa. Dra. Jane Zoppas Ferreira<br />
Profa. Dra. Liane Roldo<br />
Prof. M.Sc. Marcelo Duarte Mabilde Silveira<br />
Prof. Dr. Sandro Campos Amico<br />
Prof. Dr. Saulo Roca Bragança<br />
Professores do Departamento de Materiais (DEMAT) –<br />
Escola de Engenharia (EE) –<br />
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
Os autores e a editora empenharam-se para citar adequadamente e dar o devido crédito a todos os detentores dos direitos autorais de qualquer<br />
material utilizado neste livro, dispondo-se a possíveis acertos caso, inadvertidamente, a identificação de algum deles tenha sido omitida.<br />
Não é responsabilidade da editora nem dos autores a ocorrência de eventuais perdas ou danos a pessoas ou bens que tenham origem no uso<br />
desta publicação.<br />
Apesar dos melhores esforços dos autores, do tradutor, do editor e dos revisores, é inevitável que surjam erros no texto. Assim, são bemvindas<br />
as comunicações de usuários sobre correções ou sugestões referentes ao conteúdo ou ao nível pedagógico que auxiliem o<br />
aprimoramento de edições futuras. Os comentários dos leitores podem ser encaminhados à LTC __ Livros Técnicos e Científicos Editora<br />
pelo e-mail ltc@grupogen.com.br.<br />
Traduzido de MATERIALS SCIENCE AND ENGINEERING: AN INTRODUCTION, NINTH EDITION<br />
Copyright © 2014, 2010, 2007, 2003, 2000 John Wiley & Sons, Inc.<br />
All Rights Reserved. This translation published under license with the original publisher John Wiley & Sons, Inc.<br />
ISBN: 978-1-118-32457-8<br />
Portuguese edition copyright © 2016 by<br />
LTC __ Livros Técnicos e Científicos Editora Ltda.<br />
All rights reserved.<br />
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Editor de fotografia sênior: MaryAnn Price<br />
Arte de capa: Roy Wiemann e William D. Callister, Jr.<br />
Editoração Eletrônica: IO Design<br />
Capa: Representação de uma célula unitária para o carbeto de ferro (Fe 3 C) a partir de três perspectivas diferentes. As esferas de cor marrom e<br />
azul representam os átomos de ferro e de carbono, respectivamente.<br />
Contracapa: Três representações da célula unitária para o ferro cúbico de corpo centrado (α-ferrita); cada célula unitária contém um átomo de<br />
carbono intersticial.<br />
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO<br />
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ<br />
C162c<br />
9. ed.<br />
William, D. Callister<br />
Ciência e engenharia de materiais : uma introdução / William D. Callister, Jr., David G. Rethwisch ; tradução Sergio Murilo Stamile Soares.<br />
- 9. ed. - Rio de Janeiro : LTC, 2016.<br />
il. ; 28 cm.<br />
Tradução de: Materials science and engineering: an introduction<br />
Apêndice<br />
Inclui bibliografia e índice<br />
ISBN 978-85-216-3103-3<br />
1. Materiais. I. Título.<br />
16-31462 CDD: 620.11<br />
CDU: 620.1/.2
Capítulo1 Introdução<br />
© iStockphoto/Jill Chen<br />
Um objeto familiar que pode ser fabricado a partir de três tipos de<br />
materiais diferentes é o vasilhame de bebidas. As bebidas são comercializadas<br />
em latas de alumínio (metal, foto superior), garrafas de vidro<br />
(cerâmica, foto central) e garrafas plásticas (polímero, foto inferior).<br />
© blickwinkel/Alamy<br />
© iStockphoto/Mark Oleksiy<br />
© iStockphoto/Mark Oleksiy<br />
© blickwinkel/Alamy<br />
• 1
Objetivos do Aprendizado<br />
Após estudar este capítulo, você deverá ser capaz de fazer o seguinte:<br />
1. Listar seis diferentes classificações das propriedades dos<br />
materiais, as quais determinam sua aplicabilidade.<br />
2. Citar os quatro componentes que estão envolvidos no<br />
projeto, na produção e na utilização dos materiais, e descrever<br />
sucintamente suas possíveis inter-relações.<br />
3. Citar três critérios que são importantes no processo de<br />
seleção de materiais.<br />
4. (a) Listar as três classificações principais dos materiais<br />
sólidos, e então citar as características químicas que<br />
distinguem cada uma delas.<br />
(b) Citar os quatro tipos de materiais avançados e, para<br />
cada um deles, sua(s) característica(s) distinta(s).<br />
5. (a) Definir sucintamente material/sistema inteligente.<br />
(b) Explicar sucintamente o conceito de nanotecnologia<br />
e sua aplicação a materiais.<br />
1.1 PERSPECTIVA HISTÓRICA<br />
Os materiais estão mais enraizados em nossa cultura do que a maioria de nós se dá conta. Nos transportes,<br />
habitação, vestuário, comunicação, recreação e produção de alimentos — virtualmente, todos<br />
os seguimentos de nosso cotidiano são influenciados, em maior ou menor grau, pelos materiais.<br />
Historicamente, o desenvolvimento e o avanço das sociedades estiveram intimamente ligados às<br />
habilidades de seus membros em produzir e manipular materiais para satisfazer às suas necessidades.<br />
De fato, as civilizações antigas foram identificadas de acordo com seu nível de desenvolvimento em<br />
relação aos materiais (Idade da Pedra, Idade do Bronze, Idade do Ferro). 1<br />
Os primeiros seres humanos tiveram acesso a apenas um número muito limitado de materiais,<br />
aqueles que ocorrem naturalmente: pedra, madeira, argila, peles, e assim por diante. Com o tempo,<br />
eles descobriram técnicas para a produção de materiais que tinham propriedades superiores àquelas<br />
dos materiais naturais; esses novos materiais incluíam as cerâmicas e vários metais. Além disso,<br />
descobriu-se que as propriedades de um material podiam ser alteradas por meio de tratamentos<br />
térmicos e pela adição de outros constituintes. Naquele ponto, a utilização dos materiais era um<br />
processo totalmente seletivo, que envolvia escolher, entre um conjunto específico e limitado de<br />
materiais, aquele que por suas características mais se adequava a uma dada aplicação. Somente em<br />
tempos mais ou menos recentes os cientistas compreenderam as relações entre os elementos estruturais<br />
dos materiais e suas propriedades. Esse conhecimento, adquirido aproximadamente ao longo<br />
dos últimos 100 anos, deu-lhes as condições para moldar, de modo significativo, as características dos<br />
materiais. Nesse contexto, desenvolveram-se dezenas de milhares de materiais diferentes, com características<br />
específicas, os quais atendem às necessidades da nossa moderna e complexa sociedade,<br />
e incluem metais, plásticos, vidros e fibras.<br />
O desenvolvimento de muitas das tecnologias que tornam a nossa existência tão confortável<br />
está intimamente associado à disponibilidade de materiais adequados. Um avanço na compreensão<br />
de um tipo de material leva com frequência ao progresso gradativo de alguma tecnologia.<br />
Por exemplo, não teria sido possível fabricar os automóveis, sem a disponibilidade, a baixo<br />
custo, de aço ou de outro material substituto comparável. Nos tempos atuais, os dispositivos<br />
eletrônicos sofisticados dependem de componentes fabricados a partir dos chamados materiais<br />
semicondutores.<br />
1.2 CIÊNCIA E ENGENHARIA DE MATERIAIS<br />
Muitas vezes, é conveniente subdividir a disciplina Ciência e Engenharia de Materiais nas subdisciplinas<br />
Ciência de Materiais e Engenharia de Materiais. Especificamente, a Ciência de Materiais<br />
envolve a investigação das relações entre as estruturas e as propriedades dos materiais. Em contraste,<br />
a Engenharia de Materiais, com base nas correlações estrutura-propriedade, projeta ou<br />
“engenhera” a estrutura de um material para obter nele um conjunto predeterminado de propriedades.<br />
2 A partir de uma perspectiva funcional, o papel de um cientista de materiais é desenvolver<br />
ou sintetizar novos materiais, ao passo que um engenheiro de materiais é chamado para criar<br />
1 As datas aproximadas para o início das Idades da Pedra, do Bronze e do Ferro foram 2,5 milhões a.C., 3500 a.C. e 1000 a.C., respectivamente.<br />
2 Ao longo deste texto, chamamos a atenção para as relações que existem entre as propriedades dos materiais e os elementos estruturais.<br />
2 •
Introdução • 3<br />
novos produtos ou sistemas usando materiais existentes, e/ou para desenvolver técnicas para o<br />
processamento de materiais. A maioria dos estudantes de Engenharia de Materiais é treinada para<br />
ser tanto um cientista de materiais quanto um engenheiro de materiais.<br />
Estrutura é, a essa altura, um termo nebuloso que merece alguma explicação. De maneira<br />
sucinta, a estrutura de um material refere-se, em geral, ao arranjo dos seus constituintes internos.<br />
A estrutura subatômica envolve os elétrons nos átomos individuais e as interações com seus<br />
núcleos. Em nível atômico, a estrutura engloba a organização dos átomos ou das moléculas, uns<br />
em relação aos outros. O próximo nível estrutural na escala crescente das dimensões, que contém<br />
grandes grupos de átomos que estão normalmente conglomerados, é chamado de microscópico,<br />
e significa aquele que está sujeito a uma observação direta por meio de algum tipo de<br />
microscópio. Finalmente, os elementos estruturais que podem ser vistos a olho nu são chamados<br />
de macroscópicos.<br />
A noção de propriedade merece alguma consideração. Em serviço, todos os materiais são expostos<br />
a estímulos externos que causam algum tipo de resposta. Por exemplo, uma amostra submetida<br />
à ação de forças deformará, ou uma superfície metálica polida refletirá a luz. Propriedade é uma<br />
característica de um dado material, em termos do tipo e da magnitude da sua resposta a um estímulo<br />
específico que lhe é imposto. Geralmente, as definições das propriedades são feitas de modo a serem<br />
independentes da forma e do tamanho do material.<br />
Virtualmente, todas as propriedades importantes dos materiais sólidos podem ser agrupadas em<br />
seis categorias diferentes: mecânica, elétrica, térmica, magnética, óptica e de deterioração. Para cada<br />
categoria existe um tipo característico de estímulo que é capaz de provocar diferentes respostas. As<br />
propriedades mecânicas relacionam a deformação com uma carga ou força que é aplicada; os exemplos<br />
incluem o módulo de elasticidade (rigidez), a resistência e a tenacidade. Para as propriedades<br />
elétricas, tais como a condutividade elétrica e a constante dielétrica, o estímulo é um campo elétrico.<br />
O comportamento térmico dos sólidos pode ser representado em termos da capacidade calorífica<br />
e da condutividade térmica. As propriedades magnéticas demonstram a resposta de um material<br />
à aplicação de um campo magnético. Para as propriedades ópticas, o estímulo é a radiação eletromagnética<br />
ou a radiação luminosa; o índice de refração e a refletividade são propriedades ópticas<br />
representativas. Finalmente, as características de deterioração estão relacionadas com a reatividade<br />
química dos materiais. Os capítulos seguintes discutem propriedades que se enquadram em cada<br />
uma dessas seis classificações.<br />
Além da estrutura e das propriedades, dois outros componentes importantes estão envolvidos<br />
na Ciência e Engenharia de Materiais, que são o processamento e o desempenho. No que se refere<br />
às relações entre esses quatro componentes, a estrutura de um material dependerá de como ele é<br />
processado. Ademais, o desempenho de um material é uma função de suas propriedades. Desse<br />
modo, a inter-relação entre processamento, estrutura, propriedades e desempenho ocorre como está<br />
demonstrado na ilustração esquemática na Figura 1.1. Ao longo deste texto, chamamos a atenção<br />
para as relações que existem entre esses quatro componentes em termos de projeto, produção e<br />
utilização dos materiais.<br />
Apresentamos agora, na Figura 1.2, um exemplo desses princípios de processamento-estrutura-propriedades-desempenho:<br />
uma fotografia que apresenta três amostras com formato de discos<br />
delgados, colocadas sobre um material impresso. É óbvio que as propriedades ópticas (isto é, a<br />
transmitância da luz) de cada um dos três materiais são diferentes; o material mais à esquerda é<br />
transparente (ou seja, virtualmente, toda luz refletida passa através dele), enquanto os discos no<br />
centro e à direita são, respectivamente, translúcido e opaco. Todas essas amostras são do mesmo<br />
material, óxido de alumínio, mas aquela mais à esquerda é o que chamamos de monocristal, isto é,<br />
tem um elevado grau de perfeição, e dá origem à sua transparência. A amostra no centro é composta<br />
por um grande número de monocristais muito pequenos, todos ligados entre si; as fronteiras entre<br />
esses pequenos cristais espalham uma fração da luz refletida da página impressa, o que torna esse<br />
material opticamente translúcido. Finalmente, a amostra à direita é composta não apenas por um<br />
número muito grande de pequenos cristais interligados, mas também por inúmeros poros ou espaços<br />
vazios muito pequenos. Esses poros também espalham, de maneira efetiva, a luz refletida e tornam<br />
opaco esse material.<br />
Processamento Estrutura Propriedades Desempenho<br />
Figura 1.1 Os quatro componentes da disciplina Ciência e Engenharia de<br />
Materiais e seu inter-relacionamento.
4 • Capítulo 1<br />
Figura 1.2 Três amostras de discos delgados, de óxido de<br />
alumínio, que foram colocadas sobre uma página impressa,<br />
com o objetivo de realçar suas diferenças em termos das<br />
características de transmitância da luz. O disco mais à esquerda<br />
é transparente (isto é, praticamente toda luz refletida<br />
na página passa através dele), enquanto o disco no centro<br />
é translúcido (significando que parte dessa luz refletida é<br />
transmitida através do disco). O disco à direita é opaco, ou<br />
seja, nenhuma luz passa através dele. Essas diferenças nas<br />
propriedades ópticas são uma consequência de diferenças<br />
nas estruturas desses materiais, as quais resultaram da maneira<br />
como os materiais foram processados.<br />
Preparo das amostras, P. A. Lessing<br />
Dessa forma, as estruturas dessas três amostras são diferentes em termos dos contornos entre os<br />
cristais e da presença de poros, o que afeta as propriedades de transmitância óptica. Além disso, cada<br />
material foi produzido com a utilização de uma técnica de processamento diferente. E, certamente,<br />
se a transmitância óptica for um parâmetro importante em relação à aplicação final do material, o<br />
desempenho apresentado por cada um deles será diferente.<br />
1.3 POR QUE ESTUDAR A CIÊNCIA E A ENGENHARIA DE MATERIAIS?<br />
Por que estudamos os materiais? Muitos cientistas experimentais ou engenheiros, sejam eles mecânicos,<br />
civis, químicos ou elétricos, irão uma vez ou outra deparar-se com um problema de projeto que<br />
envolve materiais. Os exemplos podem incluir uma engrenagem de transmissão, a superestrutura<br />
para um edifício, um componente de uma refinaria de petróleo, ou um chip de circuito integrado.<br />
Obviamente, os cientistas e engenheiros de materiais são especialistas que estão totalmente envolvidos<br />
na investigação e no projeto de materiais.<br />
Muitas vezes, um problema de materiais consiste na seleção do material correto entre os muitos<br />
milhares que estão disponíveis. A decisão final normalmente se baseia em diversos critérios.<br />
Em primeiro lugar, as condições de serviço devem ser caracterizadas, uma vez que elas ditarão as<br />
propriedades necessárias do material. Raramente um material possui a combinação máxima ou<br />
ideal de propriedades. Dessa forma, pode ser necessário abrir mão de uma característica por outra.<br />
O exemplo clássico envolve a resistência mecânica e a ductilidade; normalmente, um material que<br />
possui alta resistência mecânica terá uma ductilidade apenas limitada. Em tais casos, pode ser necessário<br />
um compromisso entre duas ou mais propriedades.<br />
Uma segunda seleção a ser considerada é a deterioração das propriedades dos materiais durante<br />
sua vida útil. Por exemplo, reduções significativas na resistência mecânica podem resultar da<br />
exposição a temperaturas elevadas ou a ambientes corrosivos.<br />
Finalmente, a consideração definitiva provavelmente estará relacionada com aspectos<br />
econômicos: quanto custará o produto acabado? Um material pode apresentar um conjunto ideal<br />
de propriedades, mas pode ser de custo proibitivo. Novamente, algum comprometimento será<br />
inevitável. O custo de uma peça acabada inclui também os custos para sua conformação na forma<br />
desejada.<br />
Quanto mais familiarizado estiver um engenheiro, ou um cientista, com as várias características<br />
e relações estrutura-propriedade, assim como com as técnicas de processamento dos materiais, mais<br />
capacitado e confiante estará para definir materiais com base nesses critérios.<br />
1.4 CLASSIFICAÇÃO DOS MATERIAIS<br />
Os materiais sólidos foram agrupados convenientemente em três categorias básicas: metais,<br />
cerâmicas e polímeros. Esse esquema está baseado principalmente na composição química e<br />
na estrutura atômica. A maioria dos materiais se enquadra em um ou outro grupo distinto.<br />
Adicionalmente, existem os compósitos, que são combinações engenheiradas de dois ou mais
Introdução • 5<br />
E S T U D O D E C A S O<br />
Falhas dos Navios Classe Liberty<br />
seguinte estudo de caso ilustra um papel para o<br />
O qual os cientistas e engenheiros de materiais são<br />
chamados para assumir na área de desempenho dos<br />
materiais: analisar falhas mecânicas, determinar suas<br />
causas, e então propor medidas apropriadas para evitar<br />
futuros incidentes.<br />
A falha de muitos dos navios da classe Liberty 3<br />
durante a Segunda Guerra Mundial é um exemplo bem<br />
conhecido e dramático da fratura frágil de um aço que<br />
era considerado dúctil. 4 Alguns dos primeiros navios<br />
experimentaram danos estruturais quando se desenvolveram<br />
trincas nos seus cascos. Três deles se dividiram<br />
ao meio de forma catastrófica quando as trincas se<br />
formaram, cresceram até um tamanho crítico, e então<br />
se propagaram rápida e completamente até preencher<br />
o perímetro transversal do casco do navio. A Figura 1.3<br />
mostra um dos navios que fraturou no dia seguinte ao do<br />
seu lançamento.<br />
Investigações subsequentes concluíram que um ou<br />
mais dos seguintes fatores contribuíram para cada falha: 5<br />
• Quando algumas ligas metálicas normalmente dúcteis<br />
são resfriadas até temperaturas relativamente<br />
baixas, elas ficam suscetíveis a uma fratura frágil,<br />
ou seja, elas experimentam uma transição de dúctil<br />
para frágil com o resfriamento através de uma faixa<br />
de temperatura crítica. Os navios da classe Liberty<br />
foram construídos com um aço que experimentava<br />
uma transição de dúctil para frágil. Alguns deles foram<br />
posicionados no gelado Atlântico Norte, onde<br />
o metal originalmente dúctil experimentava fratura<br />
frágil quando as temperaturas caíam abaixo da temperatura<br />
de transição. 6<br />
• Os cantos das escotilhas (a porta) eram cantos vivos;<br />
esses cantos atuaram como pontos de concentração<br />
de tensões em que podia haver a formação de trincas.<br />
Figura 1.3 O navio classe Liberty S.S. Schenectady, que em 1943<br />
falhou antes de deixar o estaleiro.<br />
(Reimpresso com permissão de Earl R. Parker, Brittle Behavior of Engineering<br />
Structures, National Academy of Sciences, National Research Council, John<br />
Wiley & Sons, Nova York, 1957.)<br />
3 Durante a Segunda Guerra Mundial, 2.710 navios cargueiros da classe Liberty foram produzidos em massa pelos Estados Unidos para<br />
abastecer de alimentos e materiais os combatentes na Europa.<br />
4 Os metais dúcteis falham após níveis de deformação permanente relativamente grandes; contudo, muito pouca, ou mesmo<br />
nenhuma deformação permanente acompanha a fratura de materiais frágeis. As fraturas frágeis podem ocorrer repentinamente, na<br />
medida em que as trincas se espalham rapidamente; a propagação da trinca é normalmente muito mais lenta nos materiais dúcteis,<br />
e a eventual fratura leva mais tempo. Por essas razões, a modalidade dúctil de fratura é geralmente preferida. As fraturas dúctil e<br />
frágil são discutidas nas Seções 8.3 e 8.4.<br />
5 As Seções 8.2 a 8.6 discutem vários aspectos da falha.<br />
6 Esse fenômeno de transição de dúctil para frágil, assim como técnicas que são usadas para medir e aumentar a faixa de temperaturas<br />
críticas, são discutidos na Seção 8.6.<br />
(continua)
6 • Capítulo 1<br />
• Os barcos alemães classe U estavam afundando navios<br />
cargueiros mais rapidamente do que eles podiam<br />
ser repostos usando as técnicas de construção<br />
existentes. Consequentemente, tornou-se necessário<br />
revolucionar os métodos de construção para a fabricação<br />
de navios cargueiros mais rapidamente e<br />
em maior número. Isso foi feito com a utilização de<br />
lâminas de aço pré-fabricadas que eram montadas<br />
usando-se solda, em vez do método convencional e<br />
demorado de uso de rebites. Infelizmente, as trincas<br />
em estruturas soldadas podem se propagar sem<br />
impedimentos ao longo de grandes distâncias, o que<br />
pode levar a uma falha catastrófica. Contudo, quando<br />
as estruturas são rebitadas, uma trinca deixa de se<br />
propagar quando ela atinge a aresta da chapa de aço.<br />
• Defeitos nas soldas e descontinuidades (isto é, sítios<br />
em que pode haver a formação de trincas) foram introduzidos<br />
por operadores inexperientes.<br />
Algumas medidas remediadoras que foram tomadas<br />
para corrigir esses problemas incluíram o seguinte:<br />
• Redução da temperatura, da transição de dúctil<br />
para frágil, do aço até um nível aceitável, mediante<br />
uma melhoria na qualidade do aço (por exemplo,<br />
pela redução dos teores das impurezas de enxofre<br />
e fósforo).<br />
• Arredondamento dos cantos das escotilhas, mediante<br />
a solda de uma tira de reforço curvada em cada canto. 7<br />
• Instalação de dispositivos de supressão de trincas,<br />
tais como tiras rebitadas e cordões de solda resistentes,<br />
para interromper a propagação de trincas.<br />
• Melhoria na prática de soldagem e estabelecimento de<br />
códigos de soldagem.<br />
Apesar das falhas, o programa de embarcações da<br />
classe Liberty foi considerado um sucesso por várias razões;<br />
a principal delas foi que os navios que sobreviveram<br />
à falha foram capazes de suprir as Forças Aliadas<br />
no teatro de operações e, muito provavelmente, encurtaram<br />
a guerra. Além disso, foram desenvolvidos aços<br />
estruturais, com resistência amplamente aprimorada<br />
às fraturas frágeis catastróficas. As análises detalhadas<br />
dessas falhas possibilitaram maior compreensão da formação<br />
e do crescimento de uma trinca, e isso contribuiu<br />
para o surgimento da Mecânica da Fratura como área<br />
de conhecimento.<br />
7 O leitor pode observar que os cantos das janelas e portas de todas as estruturas marinhas e aeronáuticas são atualmente arredondados.<br />
materiais diferentes. Uma explicação sucinta dessas classificações de materiais e das suas características<br />
representativas será apresentada a seguir. Outra categoria é a dos materiais avançados<br />
— aqueles que são usados em aplicações de alta tecnologia, como os semicondutores, os<br />
biomateriais, os materiais inteligentes e os materiais “nanoengenheirados”, que serão discutidos<br />
na Seção 1.5.<br />
Metais<br />
Os metais são compostos por um ou mais elementos metálicos (por exemplo, ferro, alumínio, cobre,<br />
titânio, ouro e níquel), e com frequência também por elementos não metálicos (por exemplo,<br />
carbono, nitrogênio, oxigênio) em quantidades relativamente pequenas. 8 Os átomos nos metais e<br />
nas suas ligas estão arranjados de uma maneira muito ordenada (como discutido no Capítulo 3)<br />
e, em comparação às cerâmicas e aos polímeros, são relativamente densos (Figura 1.4). Quanto<br />
às características mecânicas, esses materiais são relativamente rígidos (Figura 1.5) e resistentes<br />
(Figura 1.6), e ainda assim são dúcteis (isto é, são capazes de se deformar intensamente sem sofrer<br />
fratura), e resistentes à fratura (Figura 1.7); por isso são amplamente utilizados em aplicações<br />
estruturais. Os materiais metálicos possuem grande número de elétrons livres. Esses elétrons não<br />
estão ligados a qualquer átomo em particular. Muitas das propriedades dos metais podem ser<br />
atribuídas diretamente a esses elétrons. Por exemplo, os metais são bons condutores de eletricidade<br />
(Figura 1.8) e de calor e não são transparentes à luz visível; uma superfície metálica, polida,<br />
possui uma aparência brilhosa. Além disso, alguns metais (isto é, Fe, Co e Ni) têm propriedades<br />
magnéticas interessantes.<br />
A Figura 1.9 mostra vários objetos comuns e familiares que são feitos de materiais metálicos.<br />
Os tipos e as aplicações dos metais e das suas ligas serão discutidos no Capítulo 11.<br />
8 A expressão liga metálica refere-se a uma substância metálica que é composta por dois ou mais elementos.
Introdução • 7<br />
Densidade (g/cm 3 ) (escala logarítmica)<br />
40<br />
20<br />
10<br />
8<br />
6<br />
4<br />
2<br />
1,0<br />
0,8<br />
0,6<br />
0,4<br />
Metais<br />
Platina<br />
Prata<br />
Cobre<br />
Ferro/Aço<br />
Titânio<br />
Alumínio<br />
Magnésio<br />
Cerâmicas<br />
ZrO 2Al2<br />
O 3<br />
SiC,Si 3 N 4<br />
Vidro<br />
Concreto<br />
Polímeros<br />
PTFE<br />
PVC<br />
PS<br />
PE<br />
Borracha<br />
Compósitos<br />
CRFV<br />
CRFC<br />
Madeiras<br />
Figura 1.4<br />
Gráfico de barras dos<br />
valores da massa específica<br />
à temperatura<br />
ambiente para vários<br />
materiais metálicos,<br />
cerâmicos, polímeros e<br />
compósitos.<br />
0,2<br />
0,1<br />
Rigidez [módulo de elasticidade (ou Módulo de Young)<br />
(em unidades de gigapascal)] (escala logarítmica)<br />
1.000<br />
100<br />
10<br />
1,0<br />
0,1<br />
0,01<br />
Metais<br />
Tungstênio<br />
Ferro/Aço<br />
Titânio<br />
Alumínio<br />
Magnésio<br />
Cerâmicas<br />
SiC<br />
AI 2 O 3<br />
Si 3 N 4<br />
ZrO 2<br />
Vidro<br />
Concreto<br />
Polímeros<br />
PVC<br />
PS, Náilon<br />
PTFE<br />
PE<br />
Borrachas<br />
Compósitos<br />
CRFC<br />
CRFV<br />
Madeiras<br />
Figura 1.5<br />
Gráfico de barras dos<br />
valores da rigidez (isto<br />
é, do módulo de elasticidade)<br />
à temperatura<br />
ambiente para vários<br />
materiais metálicos,<br />
cerâmicos, polímeros e<br />
compósitos.<br />
0,001<br />
Resistência (limite de resistência à Tração, em<br />
unidades de megapascal) (escala logarítmica)<br />
1.000<br />
100<br />
10<br />
Metais<br />
Ligas<br />
de aço<br />
Ligas de<br />
Cu, Ti<br />
Ligas de<br />
alumínio<br />
Ouro<br />
Figura 1.6<br />
Compósitos<br />
Cerâmicas<br />
CRFC<br />
Si 3 N 4<br />
CRFV<br />
SiC<br />
Al 2 O 3<br />
Vidro<br />
Náilon<br />
PS<br />
PE<br />
Polímeros<br />
PVC<br />
PTFE<br />
Madeiras<br />
Gráfico de barras dos<br />
valores da resistência<br />
(isto é, do limite de<br />
resistência à tração) à<br />
temperatura ambiente<br />
para vários materiais<br />
metálicos, cerâmicos,<br />
polímeros e compósitos.
FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO<br />
Ano: 2016<br />
Editora: Grupo GEN | Selo Guanabara Koogan<br />
Nº de Páginas: 560<br />
Formato: 21 x 28 cm<br />
Área: Medicina<br />
A seguir algumas páginas
j<br />
j<br />
j<br />
j<br />
j<br />
j<br />
j<br />
Os autores deste livro e a EDITORA GUANABARA KOOGAN LTDA. empenharam seus melhores esforços para assegurar que<br />
as informações e os procedimentos apresentados no texto estejam em acordo com os padrões aceitos à época da publicação, e todos<br />
os dados foram atualizados pelos autores até a data da entrega dos originais à editora. Entretanto, tendo em conta a evolução das ciências da<br />
saúde, as mudanças regulamentares governamentais e o constante fluxo de novas informações sobre terapêutica medicamentosa e<br />
reações adversas a fármacos, recomendamos enfaticamente que os leitores consultem sempre outras fontes fidedignas, de modo a se<br />
certificarem de que as informações contidas neste livro estão corretas e de que não houve alterações nas dosagens recomendadas ou<br />
na legislação regulamentadora. Adicionalmente, os leitores podem buscar por possíveis atualizações da obra em http://gen-io.grupogen.com.br.<br />
Os autores e a editora envidaram todos os esforços no sentido de se certificarem de que a escolha e a posologia dos medicamentos<br />
apresentados neste compêndio estivessem em conformidade com as recomendações atuais e com a prática em vigor na época<br />
da publicação. Entretanto, em vista da pesquisa constante, das modificações nas normas governamentais e do fluxo contínuo<br />
de informações em relação à terapia e às reações medicamentosas, o leitor é aconselhado a checar a bula de cada fármaco para<br />
qualquer alteração nas indicações e posologias, assim como para maiores cuidados e precauções. isso é particularmente importante<br />
quando o agente recomendado é novo ou utilizado com pouca frequência.<br />
Os autores e a editora se empenharam para citar adequadamente e dar o devido crédito a todos os detentores de direitos autorais<br />
de qualquer material utilizado neste livro, dispondo-se a possíveis acertos posteriores caso, inadvertida e involuntariamente, a<br />
identificação de algum deles tenha sido omitida.<br />
Traduzido de:<br />
EXERCISE PHYSIOLOGY: INTEGRATING THEORY AND APPLICATION, SECOND EDITION<br />
Copyright © 2016 Wolters Kluwer<br />
Copyright © 2012 Lippincott Williams & Wilkins, a Wolters Kluwer business.<br />
All rights reserved.<br />
2001 Market Street<br />
Philadelphia, PA 19103 USA<br />
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Published by arrangement with Lippincott Williams & Wilkins, Inc., USA.<br />
Lippincott Williams & Wilkins/Wolters Kluwer Health did not participate in the translation of this title.<br />
ISBN: 978-1-4511-9319-0<br />
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Reservados todos os direitos. É proibida a duplicação ou reprodução deste volume, no todo ou em parte, em quaisquer formas ou<br />
por quaisquer meios (eletrônico, mecânico, gravação, fotocópia, distribuição pela Internet ou outros), sem permissão, por escrito,<br />
da EDITORA GUANABARA KOOGAN LTDA.<br />
Capa: Editorial Saúdc<br />
Editoração eletrônica: IO Design<br />
j<br />
Ficha catalográfica<br />
F565<br />
Fisiologia do exercício : teoria e prática / William J. Kraemer, Steven J. Fleck, Michael R. Deschenes ; tradução Ana Cavalcanti<br />
Carvalho Botelho, Dilza Balteiro Pereira de Campos. - 2. ed. - Rio de Janeiro : Guanabara Koogan, 2016.<br />
il.<br />
Tradução de: Exercise physiology: integrating theory and application<br />
ISBN 978-85-277-3022-8<br />
1. Fisiologia humana. I. Fleck, Steven J. II. Deschenes, Michael R. III. Botelho, Ana Cavalcanti Carvalho.<br />
16-34640 CDD: 612<br />
CDU: 612
William J. Kraemer, PhD<br />
Professor<br />
Department of Human Sciences<br />
College of Education and Human Ecology<br />
The Ohio State University<br />
Columbus, Ohio<br />
Steven J. Fleck, PhD<br />
Professor and Chair<br />
Department of Kinesiology<br />
University of Wisconsin-Eau Claire<br />
Eau Claire, Wisconsin<br />
Michael R. Deschenes, PhD<br />
Professor and Chair<br />
Department of Kinesiology and Health Sciences<br />
The College of William & Mary<br />
Williamsburg, Virginia<br />
Revisão Técnica<br />
Hugo Celso Dutra de Souza<br />
Professor Doutor Associado da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto/USP.<br />
Doutor em Ciências e Fisiologia pela USP.<br />
Segunda edição
PARTE 3<br />
nutrição e<br />
Ambiente
Capítulo<br />
9<br />
Suporte Nutricional para o Exercício<br />
Após a leitura deste capítulo, você deve ser capaz de:<br />
Definir e distinguir os três macronutrientes<br />
Explicar o papel dos macronutrientes nas funções corporais e no<br />
metabolismo dos substratos<br />
Identificar e contrastar as recomendações nutricionais da American<br />
Dietetic Association para atletas<br />
Explicar o índice glicêmico dos alimentos<br />
Descrever o processo e o objetivo da sobrecarga de carboidratos<br />
Discutir o propósito das bebidas esportivas<br />
Analisar a composição e as consequências metabólicas das dietas<br />
com baixa ingestão de carboidratos<br />
Descrever as estratégias de suplementação de carboidratos e<br />
proteínas para os atletas de endurance e força<br />
Diferenciar os tipos de triglicerídios e especificar seus papéis nos<br />
riscos de doenças<br />
Discutir o papel das dietas ricas em gordura no desempenho<br />
esportivo<br />
Compreender e explicar a função das vitaminas e dos minerais no<br />
metabolismo do substrato<br />
Explicar as consequências da deficiência de vitaminas ou minerais<br />
Descrever a composição e o objetivo das refeições antes e depois<br />
das competições<br />
Há alguns meses, várias mulheres foram treinadas<br />
para a corrida de 5 km Susan G. Komen Race for the<br />
Cure que divulga e arrecada fundos para a luta contra<br />
o câncer de mama. Cada uma das mulheres seguiu<br />
orientações básicas do American College of Sports<br />
Medicine no que se refere à prescrição de exercícios,<br />
e estão muito motivadas para correr o mais rápido que<br />
puderem e tentar definir um recorde pessoal para essa<br />
corrida. Na tentativa de melhorar todos os aspectos<br />
de sua preparação para a corrida, uma das mulheres<br />
disse que consumir muito carboidrato iria ajudá-las a<br />
fazer a melhor corrida possível. Outra mulher no grupo<br />
não tinha certeza de se essa era uma boa ideia depois<br />
de verificar essa informação com o departamento de<br />
fisiologia do exercício da universidade. Ela contou<br />
ao grupo o que aprendeu: devido à curta distância da<br />
corrida, o carboidrato adicional armazenado, conhecido
260 Parte 3 Nutrição e Ambiente<br />
como glicogênio, não seria de fato necessário mesmo<br />
se fossem buscar seu recorde pessoal para 5 km. Além<br />
disso, com cada grama de glicogênio são armazenadas<br />
até 5 gramas de água, criando um ganho de peso<br />
significativo que pode não ser benéfico. Assim, ela<br />
incentivou o grupo a focar no que já estavam fazendo,<br />
além de seguirem um programa consistente de nutrição.<br />
Ao fazerem isso, elas garantiram que as calorias necessárias<br />
seriam consumidas a fim de atender às demandas de seu<br />
programa de condicionamento total na pista e na sala<br />
de musculação, sem usar qualquer tipo de dieta com<br />
sobrecarga de carboidrato para essa corrida. Após a corrida,<br />
recuperando-se alegremente por terem atingido seu recorde<br />
pessoal para a distância de 5 km, todas agradeceram a ela<br />
por pesquisar sobre o que era necessário ao se realizar uma<br />
corrida.<br />
Aprendendo o básico sobre nutrição e como um<br />
atleta ou praticante de atividade física pode se beneficiar<br />
da compreensão de como carboidratos, lipídios, proteínas,<br />
vitaminas e minerais são usados durante e depois<br />
das sessões de treinamento diferentes ou competições,<br />
uma abordagem mais científica pode ser utilizada para<br />
determinar a necessidade de dietas e alterações benéficas<br />
na alimentação.<br />
Neste capítulo, serão exploradas as estratégias na<br />
dieta acerca do consumo de carboidratos, gorduras,<br />
proteínas, vitaminas e minerais para melhorar o desempenho<br />
físico.<br />
MACrONuTriENTES<br />
O corpo humano apresenta uma grande necessidade de carboidratos,<br />
proteí nas e lipídios; portanto, estes são chamados<br />
de macronutrientes. Todos os três são orgânicos por natureza,<br />
o que significa dizer que são substâncias com base de<br />
carbono. Os três macronutrientes contêm moléculas de carbono,<br />
hidrogênio e oxigênio, e, além disso, a proteí na também<br />
tem moléculas de nitrogênio. Todos os macronutrientes podem<br />
ser usados no metabolismo para produzir energia utilizada na<br />
forma de trifosfato de adenosina (ATP; ver Capítulos 2 e 3).<br />
No entanto, o número de quilocalorias – uma medida de<br />
energia potencial – por grama de substrato é diferente entre<br />
os macronutrientes: o carboidrato e a proteí na, cada um,<br />
produzem 4 kcal/g e a gordura 9 kcal/g. Por isso, o fato de<br />
conterem energia que pode ser convertida em ATP por meio<br />
das vias metabólicas aeróbias e anaeróbias é uma razão dessa<br />
necessidade de consumo relativamente elevada dos macronutrientes.<br />
Lembre-se de que o ATP é a única forma de energia<br />
que pode ser usada de maneira direta pelo corpo em todas as<br />
suas funções, inclusive na contração muscular. Em par ticular,<br />
os carboidratos e os lipídios são importantes para o metabolismo,<br />
uma vez que são responsáveis por boa parte do ATP<br />
produzido durante o metabolismo. Sob condições normais,<br />
pouca proteí na é usada na produção de ATP; entretanto, isso<br />
pode mudar em situações específicas. Por exemplo, o uso de<br />
proteí na no metabolismo aumenta quando se consome dieta<br />
rica em proteí nas ou quando a ingestão de calorias totais não<br />
satisfaz as necessidades energéticas do corpo (dieta ou fome).<br />
Nesses casos, a proteí na que compõe o tecido corporal, como<br />
os músculos esqueléticos, é degradada, e os aminoá cidos resultantes<br />
são utilizados para sintetizar ATP via metabolismo<br />
aeróbio.<br />
Além de servir como substrato metabólico, todos os três<br />
macronutrientes são essenciais para o desenvolvimento teci<br />
dual corporal, inclusive do músculo estriado esquelético.<br />
Nesse contexto, os carboidratos são fundamentais por duas<br />
razões. Primeiro porque são a fonte primária de energia durante<br />
a atividade de alta intensidade, como o exercício resistido<br />
(levantamento de peso), que é um potente estimulante do<br />
crescimento do tecido muscular. Segundo porque o consumo<br />
adequado de carboidratos na dieta permite que as proteí nas<br />
ingeridas sejam usadas no crescimento muscular. O músculo<br />
esquelético, como a maioria dos tecidos do corpo, é composto<br />
de muita proteí na na forma de aminoá cidos. Por isso, é preciso<br />
consumir aminoá cidos para sintetizar e reparar o músculo<br />
esquelético.<br />
Embora, normalmente, seja recomendada uma ingestão<br />
limitada por questões de saú de, como prevenção de doença<br />
cardiovascular, os lipídios são elementos fundamentais na<br />
nossa dieta diá ria por muitas razões. Por exemplo, os lipídios<br />
são essenciais para manter o ambiente hormonal necessário<br />
para a síntese proteica e a função reprodutiva. Além disso,<br />
eles são componentes importantes das membranas de todas<br />
as células no corpo. A ingestão adequada (IA) de todos os<br />
três macronutrientes é indispensável para o crescimento normal<br />
do corpo humano, para a manutenção da função corporal<br />
regular e para as adaptações ao treinamento físico, como aumento<br />
da massa muscular decorrente do treinamento resistido<br />
ou manutenção e reparo de massa muscular em virtude<br />
do treinamento aeróbio. Nas seções seguintes, será explorada<br />
com mais detalhes a função dos macronutrientes para melhorar<br />
potencialmente o desempenho físico.<br />
Revisão rápida<br />
• Os três macronutrientes são o carboidrato, o lipídio e<br />
a proteína<br />
• Todos os macronutrientes são necessários para a ampla<br />
organização das funções corporais<br />
• Todos os três macronutrientes podem ser usados como<br />
substratos metabólicos, porém, em geral, pouca proteína<br />
é usada na produção do ATP.<br />
Carboidrato<br />
Embora a American Dietetic Association recomende que<br />
45 a 65% da ingestão calórica diá ria total seja composta de<br />
carboidratos, da perspectiva prática, o menor valor dessa variação,<br />
45 a 50%, parece ser mais prudente, a não ser que
Capítulo 9 Suporte Nutricional para o Exercício 261<br />
o in di ví duo seja um corredor de endurance e precise de um<br />
maior consumo quando o volume de treinamento é alto.<br />
O consumo elevado de carboidratos de alto índice glicêmico<br />
interfere nas ingestões necessárias de proteí na e gordura, e<br />
os carboidratos de alto índice glicêmico promovem a deposição<br />
de gordura no corpo devido à função da insulina, que<br />
inibe as enzimas lipolíticas que degradam a gordura. 1 A Food<br />
and Drug Administration (FDA) estima que 130 g por dia<br />
de carboidratos sejam a quantidade mínima média de glicose<br />
metabolizada pelo encéfalo, que tem uma grande preferência<br />
por esse substrato de energia. 32 Em virtude dessa necessidade,<br />
juntamente com o fato de os carboidratos serem usados por<br />
muitos outros tecidos do corpo, o valor diá rio nos rótulos dos<br />
alimentos desses macronutrientes é de 300 g por dia. Muitos<br />
alimentos ricos em carboidratos, como frutas e vegetais, também<br />
apresentam percentual relativamente baixo de gordura<br />
e alto de fibra. Tanto a baixa ingestão de gordura quanto a<br />
alta ingestão de fibras são associadas a benefícios gerais para a<br />
saú de, como diminuição do risco de alguns tipos de câncer, da<br />
obesidade e da doen ça cardiovascular. No entanto, em termos<br />
de desempenho físico, talvez o aspecto mais importante da<br />
ingestão de carboidratos seja atender às necessidades energéticas<br />
para a atividade.<br />
Durante eventos aeróbios, como a maratona, o carboidrato<br />
é o substrato metabólico preferido por diversos fatores. 14,103<br />
A velocidade na qual as quilocalorias são convertidas em ATP<br />
utilizado pelos músculos é quase 2 vezes maior com os carboidratos<br />
do que lipídios e proteí nas. Isso quer dizer que a<br />
utilização de carboidratos possibilita ao atleta correr, pedalar<br />
ou nadar em ritmo sustentável mais rápido. Outra vantagem<br />
da utilização dos carboidratos como substrato de energia é<br />
que, por unidade de oxigênio consumida pelo corpo, aproximadamente<br />
6% mais ATP é produzido quando se metabolizam<br />
carboidratos em comparação com os lipídios. Assim, ao<br />
depender dos carboidratos como principal substrato de energia<br />
durante o exercício aeróbio, ocorre uso mais eficiente do<br />
oxigênio consumido pelos músculos em exercício (Boxe 9.1). Na<br />
transição do repouso para a atividade, a utilização de carboidratos<br />
como substrato metabólico aumenta e a de gordura<br />
diminui até certa intensidade de exercício, cerca de 60% do<br />
V . o 2 máx.<br />
para o não treinado, e o carboidrato se torna o principal<br />
substrato de energia (ver “Interações de substratos”, no<br />
Capítulo 3).<br />
O uso seletivo dos carboidratos como substrato metabólico<br />
durante o exercício prolongado resulta em depleção de<br />
glicogênio hepático, já que o fígado tenta manter os níveis<br />
de glicose sanguí nea e evita a depleção de glicogênio nos<br />
músculos em exercício. Por exemplo, 1 hora de exercício de<br />
endurance de alta intensidade reduz o glicogênio hepático em<br />
cerca de 55%. No entanto, 2 horas de atividade extrema esgota<br />
quase que completamente o glicogênio tanto do fígado<br />
quanto do músculo. Isso é muito importante, pois a depleção<br />
de glicogênio está ligada à fadiga. Sabemos, por meio de uma<br />
análise quantitativa, que em corridas de longa distância, mais<br />
do que dois quintos dos corredores participantes vivenciaram<br />
uma depleção das reservas de carboidrato que limitou<br />
seu desempenho, e muitos desistiram da corrida (1 a 2% dos<br />
que começaram). 86 Assim, abordagens in di vi dualizadas para<br />
melhorar os armazenamentos de carboidrato de um corredor<br />
parecem ser uma abordagem ótima para intervenção na dieta. 86<br />
Atletas de endurance denominam de fenômeno de exaustão<br />
o ponto na corrida em que ocorre a depleção de glicogênio.<br />
Nesse momento, o ritmo no qual a atividade é rea li zada precisa<br />
ser reduzido. Embora o(s) mecanismo(s) fisiológico(s)<br />
que relaciona(m) a depleção de glicogênio com a fadiga não<br />
seja(m) completamente conhecido(s), diversos fatores podem<br />
estar envolvidos:<br />
• A velocidade mais lenta da transferência de energia das<br />
quilocalorias em ATP com o lipídio em comparação com o<br />
carboidrato, o que requer que o ritmo da atividade diminua<br />
• O uso de glicose sanguí nea para a função ideal do sistema<br />
nervoso central; isso é prioridade em relação às necessidades<br />
dos músculos em trabalho<br />
• O aumento da dependência das fibras muscula res do tipo<br />
II com a intensificação do exercício; essas fibras produzem<br />
mais ácido láctico do que as fibras do tipo I.<br />
Assim, ainda que não esteja totalmente claro por que a depleção<br />
de glicogênio resulta em fadiga durante o evento de<br />
endurance, está evidente que a depleção de glicogênio está<br />
Boxe 9.1 Aplicação da pesquisa<br />
Não é só o músculo que precisa de carboidrato<br />
O carboidrato como um macronutriente<br />
tem um papel importante no desempenho físico, especialmente<br />
quando o conteúdo de glicogênio no fígado e no músculo é<br />
necessário para atender às demandas de energia do estresse<br />
do exercício. A menos que a cetona seja adaptada devido às<br />
dietas com pouco carboidrato, a glicose desempenha um papel<br />
principal no funcionamento do cérebro e do sistema nervoso. A<br />
glicose também é o combustível principal para os glóbulos brancos.<br />
Os carboidratos são a maneira mais eficiente de se obter<br />
energia durante o exercício e, conforme aumenta a intensidade,<br />
cada vez mais energia é derivada do glicogênio intramuscular<br />
e da glicose sanguínea. O exercício de endurance e exercícios<br />
anaeróbios de alto volume e alta intensidade, encontrados em<br />
alguns esportes e em alguns treinos de musculação, dependem<br />
dos carboidratos para ter a energia apropriada à manutenção da<br />
qualidade do esforço muscular e do desempenho. No entanto,<br />
há uma reserva limitada de carboidrato armazenado na forma<br />
de glicogênio e, portanto, a reposição é necessária seja por meio<br />
da dieta ou suplementação quando essa reserva é significativamente<br />
reduzida.
262 Parte 3 Nutrição e Ambiente<br />
relacionada com a fadiga e capacidades de desempenho reduzidas<br />
em eventos do tipo endurance de longa duração.<br />
O metabolismo do carboidrato também é importante<br />
como fonte de energia durante o exercício anaeróbio. Apenas<br />
o carboidrato na forma de glicose sanguí nea ou glicogênio<br />
muscular pode ser usado pela glicólise para produzir ATP e<br />
ácido láctico; os lipídios não podem ser usados como substrato<br />
para o metabolismo anaeróbio (ver “Glicólise”, no<br />
Capítulo 2). Pesquisas revelam que, conforme a intensidade<br />
do exercício aumenta, o mesmo acontece com seu uso e depleção<br />
dos estoques de glicogênio. O glicogênio muscular cai<br />
cerca de 72% durante as séries de sprint de 1 minuto de ciclismo<br />
em resistência igual a 140% daquela usada no consumo<br />
de oxigênio máximo. 63 O exercício resistido, devido à natureza<br />
anaeróbia, também é bastante dependente da glicólise<br />
e promove a depleção de glicogênio dos músculos que estão<br />
em trabalho. Isso é especialmente verdade ao realizar, pelo<br />
menos, um número moderadamente elevado de repetições e<br />
após realizar múltiplas séries com resistência submáxima. 64,90<br />
Em geral, as reduções do glicogênio são de 30 a 40% após o<br />
exercício resistido, com diminuição especialmente aparente<br />
nas fibras muscula res de tipo II. 113 Pesquisa determinou com<br />
clareza que o metabolismo do carboidrato, e portanto a ingestão<br />
de carboidratos, é importante para a rea li zação dos<br />
protocolos de treinamento, tanto aeróbio quanto anaeróbio<br />
de intensidade e duração mais alta (p. ex., treinamento intervalado);<br />
entretanto, para a rea li zação do treinamento resistido<br />
típico, o qual também é uma atividade anaeróbia, isso é menos<br />
importante. Nas próximas seções, discutimos diferentes estratégias<br />
dietéticas com objetivo de aumentar a disponibilidade<br />
do carboidrato para o metabolismo.<br />
Dietas de alta ingestão de carboidratos<br />
Em virtude da dependência do carboidrato como substrato de<br />
energia para a rea li zação de quase todos os tipos de atividade<br />
física, tem-se recomendado que os atletas consumam dietas<br />
que contenham os carboidratos suficientes. 1 Para a maioria<br />
dos atletas, durante o treinamento, a ingestão diá ria recomendada<br />
de carboidratos deve ser de pelo menos 50% das calorias<br />
totais consumidas. 1 No entanto, as necessidades de carboidratos<br />
podem ser maiores para alguns atletas. Por exemplo,<br />
recomenda-se que durante grandes volumes de treinamento a<br />
ingestão de carboidratos seja elevada – de 55 a 60% das calorias<br />
totais consumidas – pelos fisiculturistas e outros atletas de<br />
força. 58 Observe que esse valor está dentro da variação de 45<br />
a 65% das calorias totais normalmente recomendadas, e que a<br />
ingestão de carboidratos dos atletas de endurance pode alcançar<br />
o valor máximo dessa variação devido ao alto gasto energético<br />
com o treinamento. 114 Para todos os atletas, a ingestão<br />
insuficiente de carboidratos pode resultar em incapacidade de<br />
manutenção da intensidade e do volume de treinamento; redução<br />
da massa muscular e adaptações fisiológicas inadequadas<br />
ao treinamento. 1,40,58<br />
A ingestão de carboidratos está correlacionada com o<br />
conteú do de glicogênio muscular. Assim, as dietas que oferecem<br />
carboidratos suficientes mantêm o conteú do muscular<br />
Tempo para exaustão (min)<br />
250<br />
200<br />
150<br />
100<br />
50<br />
Dieta com alta ingestão de carboidratos<br />
Dieta normal<br />
Dieta de baixa ingestão de carboidratos<br />
0<br />
50 100<br />
150 200<br />
Glicogênio muscular inicial (mmol/kg músculo)<br />
FigurA 9.1 Existe correlação entre ingestão de carboidratos, conteúdo<br />
de glicogênio muscular e desempenho de endurance. Conforme a<br />
ingestão de carboidratos aumenta, o mesmo ocorre com o glicogênio<br />
muscular e o tempo para exaustão na intensidade submáxima do exercício.<br />
(Dados de Astrand PO. Diet and athletic performance. Federation<br />
Proceed. 1967; 26:1772-1777.)<br />
de glicogênio de modo que a fadiga possa ser postergada o<br />
máximo possível durante a atividade (Figura 9.1). Isso vale<br />
para esportes aeróbios, anaeróbios e intermitentes (basquetebol,<br />
voleibol e futebol). Entretanto, talvez seja mais aparente<br />
nas atividades de endurance. Estudos de 1939, 18 bem como alguns<br />
rea li zados depois disso, 5,37 mostraram que o tempo para<br />
exaustão é maior quando são ingeridas dietas ricas em carboidratos.<br />
Em um estudo, por exemplo, um grupo de pessoas<br />
seguiu determinada dieta na qual cerca de 22% das calorias<br />
totais provinham do carboidrato e outro grupo seguiu dieta<br />
que fornecia 52% das calorias na forma de carboidrato. Após<br />
3 dias dessa ingestão dietética, o tempo para exaustão no ciclismo<br />
a 68% do pico de consumo de oxigênio foi, para ambas<br />
as dietas, de cerca de 65 minutos. 37 No entanto, após perío do<br />
de repouso de 15 minutos, a exaustão na 2 a série de trabalho<br />
na mesma carga de trabalho foi de 9,5 e 65 minutos para<br />
os grupos da dieta de baixa e alta ingestão de carboidratos,<br />
respectivamente. Interessante observar que a importância da<br />
ingestão e suplementação de carboidratos para capacidades<br />
de desempenho de endurance de longa duração ou com repetição<br />
parece não estar relacionada aos efeitos ergogênicos da<br />
proteí na. 71 Devido à dependência do carboidrato como combustível<br />
metabólico nas atividades aeróbias e anaeróbias, o<br />
atleta precisa ingerir o bastante de carboidratos em sua dieta.<br />
Ainda que os carboidratos possam ser simples ou complexos<br />
na forma, a dependência dominante do atleta deve ser dos
Capítulo 9 Suporte Nutricional para o Exercício 263<br />
carboidratos complexos na dieta regular, pois os carboidratos<br />
complexos requerem bastante tempo para digestão, o que<br />
significa dizer que ocorre liberação lenta e regular de monossacarídios<br />
na corrente sanguí nea (todos os carboidratos são<br />
convertidos em glicose ou galactose antes de serem liberados<br />
no sangue), evitando, desse modo, a resposta aguda da insulina.<br />
Em conse quência, no repouso, os carboidratos complexos<br />
(grãos, vegetais etc.) são mais propensos à armazenagem no corpo<br />
na forma de glicogênio, o qual pode ser usado em outro momento<br />
durante o exercício. Em contraste, os carboidratos simples<br />
(p. ex., bala, refrigerante etc.) requerem pouquí ssima digestão e,<br />
por isso, a glicose é liberada com muita rapidez e, em abundância,<br />
na circulação sanguí nea. Esse pico na glicose sanguí nea desencadeia<br />
uma ampla resposta da insulina e, com isso, no repouso, mais<br />
glicose é convertida e armazenada na forma de gordura corporal.<br />
Claramente, todos os atletas e pessoas com consciên cia saudável<br />
devem fazer um esforço e se certificar de que geralmente os<br />
carboidratos consumidos sejam complexos, e não simples. Alguns<br />
podem começar a pensar sobre os carboidratos em um panorama<br />
geral, usando as informações no Boxe 9.1. Na próxima seção,<br />
serão explorados os efeitos dos alimentos que promovem a liberação<br />
de glicose rápida e lenta no sangue.<br />
Índice glicêmico<br />
O índice glicêmico é uma medida relativa do aumento da concentração<br />
de glicose sanguí nea no perío do de 2 horas após a ingestão<br />
de um alimento contendo 50 g de carboidrato. Depois disso,<br />
esse nível é comparado com os alimentos padrão que contêm<br />
carboidrato – em geral, pão branco ou glicose –, os quais elevam<br />
os níveis da glicose sanguí nea com bastante rapidez. O índice<br />
glicêmico padrão é 100. Se um alimento eleva as concentrações<br />
sanguí neas de glicose em 45% tanto quanto o padrão, considerase<br />
o índice glicêmico de 45. Para atletas, alimentos de alto índice<br />
glicêmico (70 ou mais) oferecem várias vantagens potenciais em<br />
comparação aos alimentos de índice glicêmico moderado (56 a<br />
69) ou baixo (55 ou menos), pois elevam rapidamente a glicose<br />
sanguí nea. O índice glicêmico de alguns alimentos comuns<br />
está na Tabela 9.1. Se as concentrações de glicose sanguí nea aumentam<br />
com rapidez, a glicose pode ser usada como substrato<br />
metabólico rapidamente durante o exercício. Além disso, se as<br />
concentrações de glicose sanguí nea se elevam de maneira rápida,<br />
a glicose sanguí nea pode ser usada para aumentar as concentrações<br />
esgotadas de glicogênio muscular e hepático de maneira veloz,<br />
ajudando a recupe ração entre as séries repetidas de exercício.<br />
Alimentos com índice glicêmico moderado a alto podem<br />
elevar o glicogênio muscular com mais velocidade do que os<br />
alimentos com baixo índice glicêmico. 117 Esse efeito pode ser<br />
valioso quando séries sucessivas de exercício são muito próximas.<br />
Entretanto, se as séries de exercício ou sessões de treinamento<br />
são separadas por longos perío dos, como 24 horas,<br />
os alimentos tanto de alto quanto de baixo índice glicêmico<br />
promoverão o retorno do glicogênio muscular ao nível normal,<br />
quando carboidratos suficientes forem ingeridos.<br />
Surpreendentemente, mesmo que os alimentos de alto índice<br />
glicêmico elevem a glicose do sangue com rapidez e resultem<br />
no reabastecimento mais ágil do glicogênio muscular<br />
Tabela 9.1 Índice glicêmico dos alimentos.<br />
Alimento<br />
Índice glicêmico<br />
(relativo à glicose)<br />
Alimentos de índice glicêmico alto (70 ou mais)<br />
Glicose 100<br />
Barras de fruta processada de morango 90<br />
Bolachas de arroz tufado 82<br />
Bala tipo Delicado ® 78<br />
Batata assada recheada 78<br />
Flocos de milho 77<br />
Pão branco 77<br />
Waffles 76<br />
Biscoitos de água e sal 74<br />
Bisnaga branca 72<br />
Alimentos de índice glicêmico moderado (56 a 69)<br />
Cereal Special K ® 69<br />
Coquetel de suco de cranberry 68<br />
Sorvete de chocolate 68<br />
Arroz branco, cozido 64<br />
Coca-cola ® 63<br />
Chips de milho 63<br />
Batata-doce 61<br />
Milho-doce 60<br />
Abacaxi, cru 59<br />
Suco de laranja 57<br />
Alimentos de índice glicêmico baixo (55 ou menos)<br />
Mingau de aveia 54<br />
Banana, amarela 51<br />
Feijão cozido 48<br />
Macarrão instantâneo 46<br />
Cereal All-Brand ® 42<br />
Pão de centeio 41<br />
Suco de maçã, não adoçado 40<br />
Feijão-roxinho 28<br />
Iogurte com redução de gordura 27<br />
Leite integral 27<br />
Dados de Foster-Powell K, Holt SHA, Brand-Miller JC. International table of<br />
glycemic index and glycemic load values: 2002. Am J Clin Nutr. 2002;76:5-56.<br />
após o exercício, as pesquisas não confirmam benefícios no<br />
desempenho de endurance com a ingestão de alimentos de alto<br />
índice glicêmico. Por exemplo, o desempenho durante uma<br />
prova de ciclismo contrarrelógio de 64 km não diferiu entre<br />
aqueles que consumiram suplementos de alto índice glicêmico<br />
e aqueles que ingeriram suplementos de baixo índice glicêmico<br />
durante o evento.<br />
Além do mais, as pesquisas conduzidas até hoje acerca do<br />
efeito do índice glicêmico das refeições antes das competições<br />
(30 minutos a 3 horas antes da atividade) sobre o desempenho<br />
de endurance produziram resultados ambíguos. 26,55,102,106,120
FUNDAMENTOS MATEMÁTICOS PARA<br />
A CIÊNCIA DA COMPUTAÇÃO<br />
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Gersting, Judith L., 1940-<br />
Fundamentos matemáticos para a ciência da computação : matemática discreta e suas aplicações / Judith L. Gersting ; tradução Valéria de<br />
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1. Matemática. 2. Modelos matemáticos. 3. Computação - Matemática. I. Título.<br />
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MATEMÁTICA DISCRETA E SUAS APLICAÇÕES<br />
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Indiana University-Purdue University at Indianapolis<br />
Tradução e Revisão Técnica<br />
Valéria de Magalhães Iorio<br />
Ph.D., Universidade da Califórnia em Berkeley<br />
Professora titular do UNIFESO, Teresópolis
Capítulo<br />
Grafos e Árvores<br />
6<br />
OBJETIVOS DO CAPÍTULO<br />
Após o estudo deste capítulo, você será capaz de:<br />
• Compreender e utilizar os diversos termos associados a grafos, grafos direcionados e<br />
árvores.<br />
• Avaliar a utilização de grafos, grafos direcionados e árvores como ferramentas de representação<br />
em uma ampla variedade de contextos.<br />
• Provar que dois grafos dados são isomorfos ou dar uma razão de por que não o são.<br />
• Usar a fórmula de Euler em grafos planares simples e conexos.<br />
• Compreender o papel de dois grafos específicos, K 5 e K 3,3 na teoria de grafos planares.<br />
• Provar propriedades elementares de grafos e árvores.<br />
• Usar a matriz de adjacência e a lista de adjacência para representar grafos e grafos direcionados.<br />
• Efetuar percursos em uma árvore em pré-ordem, em ordem simétrica e em pós-ordem.<br />
• Usar tabelas (arrays) e ponteiros para armazenar árvores binárias.<br />
• Usar árvores de decisão para representar os comandos executados por um algoritmo de<br />
busca ou ordenação.<br />
• Construir árvores binária de busca e efetuar uma busca em uma árvore binária.<br />
• Expressar cotas inferiores para o número de comparações, no pior caso, para busca ou<br />
ordenação em uma lista com n elementos.<br />
• Encontrar os códigos de Huffman para caracteres cuja frequência de ocorrência seja<br />
conhecida.<br />
Você trabalha no Departamento de Sistemas de Informação de Regenhocas Globais (RG), o<br />
líder mundial na produção de regenhocas.* Regenhocas são aparelhos extremamente complexos,<br />
com um número muito grande de componentes muito simples. Cada peça é de um dos<br />
seguintes tipos: Arruela (A), Biela (B), Cavilha (C), Engrenagem (E) ou Parafuso (P). Existem<br />
muitas variações diferentes de cada tipo básico. Os números das peças começam com uma<br />
letra, A, B, C, E ou P, que identifi ca o tipo, seguida de um número com 8 dígitos. Assim,<br />
B00347289<br />
A11872432<br />
P45003781<br />
são todos números legítimos de componentes. Usando o princípio de multiplicação, existem 5 3<br />
10 8 números de peças em potencial! A RG mantém um arquivo de dados com os números das<br />
peças que usa, que são a maioria dos números em potencial. A maior parte dos computadores,<br />
*A palavra utilizada no original inglês, widget, é uma palavra inventada, com um som semelhante à gadget, que significa<br />
“engenhoca”; traduzi por outra palavra inventada, com um som semelhante à engenhoca. (N.T.)<br />
428
Grafos e Árvores 429<br />
incluindo os usados na RG, usa o sistema de códigos ASCII para converter caracteres em forma<br />
binária, segundo o qual cada caractere necessita de 1 byte (8 bits) de armazenagem. Como<br />
cada número diferente de peça contém 9 caracteres, o arquivo de peças da RG é de aproximadamente<br />
9 3 5 3 10 8 bytes, ou 4,5 Gb.<br />
Pergunta:<br />
Como comprimir esse arquivo de número de peças de modo a usar menos espaço de<br />
armazenamento?<br />
Uma resposta a essa pergunta envolve a utilização de uma estrutura de árvores binárias. Uma<br />
árvore é uma representação visual de dados e conexões entre eles. É um caso especial<br />
de uma estrutura mais geral chamada grafo. Grafos ou árvores podem representar um<br />
número surpreendente de situações reais ― organogramas, mapas rodoviários, redes<br />
de transporte e comunicação, e assim por diante. Mais tarde veremos outros usos de<br />
grafos e árvores para representar redes lógicas, máquinas de estado finito e derivações<br />
de linguagens formais.<br />
A teoria dos grafos é um tópico extenso. As Seções 6.1 e 6.2 apresentam parte da terminologia<br />
associada a grafos e árvores, e alguns resultados elementares sobre essas estruturas.<br />
Para representar um grafo ou árvore na memória do computador, os dados precisam<br />
ser arrumados de forma a preservar toda a informação contida na representação visual.<br />
São discutidas diversas abordagens para a representação de grafos e árvores dentro de um<br />
computador.<br />
Árvores de decisão são representações gráficas das atividades de certos tipos de algoritmos.<br />
Elas são apresentadas e usadas, na Seção 6.3, para encontrar cotas inferiores para<br />
o comportamento, no pior caso, de algoritmos de busca e ordenação. Na Seção 6.4 é dado<br />
um algoritmo para a construção de árvores binárias que permitem a compressão dos dados<br />
em arquivos grandes.<br />
SEÇÃO 6.1 GRAFOS E SUAS REPRESENTAÇÕES<br />
Definições de um Grafo<br />
Um modo de passar a hora em uma viagem de avião é olhar os panfletos nos bolsos de<br />
assento. Esse material quase sempre inclui um mapa das rotas da companhia proprietária<br />
do avião, como na Figura 6.1. Toda essa informação sobre rotas poderia ser expressa em<br />
um parágrafo; por exemplo, existe uma rota direta entre Chicago e Nashville, mas não<br />
existe uma rota direta entre Nashville e St. Louis. No entanto, esse parágrafo seria bastante<br />
longo e complicado, e não seríamos capazes de assimilar a informação tão rápida<br />
e claramente quanto a partir do mapa. Existem muitos casos em que “uma imagem vale<br />
mais de mil palavras”.<br />
San Francisco<br />
Chicago<br />
Denver<br />
St. Louis<br />
Nashville<br />
Phoenix<br />
Albuquerque<br />
Dallas<br />
Miami<br />
Los Angeles<br />
Figura 6.1
430 Capítulo 6<br />
Gráfico em Setores<br />
Partes por Milhão<br />
Gráfico de Barras<br />
2012 2013 2014 2015<br />
Figura 6.2<br />
Grafo Pictórico<br />
Cada figura representa<br />
100.000<br />
Nova York<br />
Philadelphia<br />
Lucros<br />
18% Impostos<br />
23%<br />
Equipamentos<br />
novos<br />
25%<br />
Despesas<br />
gerais<br />
34%<br />
Gastos em 2014<br />
A palavra “gráfico” é, muitas vezes, usada informalmente para qualquer representação<br />
visual de dados, como na Figura 6.1; outras formas incluem o gráfico de barras, o<br />
gráfico pictórico e o gráfico em setores, ilustrados na Figura 6.2. Falamos, também, sobre gráfico<br />
de funções em um sistema retangular de coordenadas. Os gráficos de que trataremos<br />
agora são chamados grafos. Usaremos duas definições de grafos: uma é baseada em uma<br />
representação visual como a da Figura 6.1, e a outra é uma definição mais formal que não<br />
fala nada sobre uma representação visual.<br />
DEFINIÇÃO<br />
(Informal)<br />
GRAFO<br />
Um grafo é um conjunto não vazio de nós (vértices) e um conjunto de arcos (arestas)<br />
tais que cada arco conecta dois nós.<br />
Nossos grafos sempre terão um número finito de nós e de arcos.<br />
EXEMPLO 1<br />
O conjunto de nós no mapa das rotas aéreas na Figura 6.1 é {Chicago, Nashville, Miami,<br />
Dallas, St. Louis, Albuquerque, Phoenix, Denver, San Francisco, Los Angeles}. O grafo tem<br />
16 arcos; Phoenix-Albuquerque é um arco (denominamos, aqui, os arcos pelos nós que ele<br />
conecta), Albuquerque-Dallas é outro e assim por diante.<br />
EXEMPLO 2<br />
O grafo da Figura 6.3 tem cinco nós e seis arcos. O arco a 1 conecta os nós 1 e 2, a 3 conecta<br />
os nós 2 e 2 e assim por diante.<br />
a 1<br />
2<br />
a 2<br />
a 3<br />
a 4<br />
1<br />
a 5 3<br />
a 6 4 5<br />
Figura 6.3<br />
A definição informal de um grafo funciona muito bem se tivermos a representação<br />
visual do grafo na nossa frente mostrando que arcos conectam que nós. Sem uma figura,<br />
no entanto, precisamos de uma forma concisa de mostrar essa informação. Isso nos leva à<br />
segunda definição de grafos.
Grafos e Árvores 431<br />
DEFINIÇÃO<br />
(Formal)<br />
GRAFOS<br />
Um grafo é uma tripla ordenada (N, A, g), em que<br />
N = um conjunto não vazio de nós (vértices)<br />
A = um conjunto de arcos (arestas)<br />
g = uma função que associa cada arco a a um par não ordenado x-y de nós, chamados<br />
de extremidades de a.<br />
EXEMPLO 3<br />
Para o grafo da Figura 6.3, a função g que associa arcos a suas extremidades é a seguinte:<br />
g(a 1 ) = 1–2, g(a 2 ) = 1–2, g(a 3 ) = 2–2, g(a 4 ) = 2–3, g(a 5 ) = 1–3 e g(a 6 ) = 3–4.<br />
PROBLEMA PRÁTICO 1<br />
Esboce um grafo com nós {1, 2, 3, 4, 5}, arcos {a 1 , a 2 , a 3 , a 4 , a 5 , a 6 } e função g dada<br />
por g(a 1 ) = 1–2, g(a 2 ) = 1–3, g(a 3 ) = 3–4, g(a 4 ) = 3–4, g(a 5 ) = 4–5 e g(a 6 ) = 5–5.<br />
■<br />
Podemos querer que os arcos de um grafo comecem em um nó e terminem em outro,<br />
caso em que teríamos um grafo direcionado.<br />
DEFINIÇÃO<br />
GRAFO DIRECIONADO<br />
Um grafo direcionado (dígrafo) é uma tripla ordenada (N, A, g), em que<br />
N = um conjunto não vazio de nós<br />
A = um conjunto de arcos<br />
g = uma função que associa a cada arco um par ordenado (x, y) de nós, em que x é<br />
o ponto inicial (extremidade inicial) e y é o ponto final (extremidade final) de a.<br />
Em um grafo direcionado, cada arco tem um sentido ou orientação.<br />
EXEMPLO 4<br />
A Figura 6.4 mostra um grafo direcionado, com 4 nós e 5 arcos. A função g que associa a<br />
cada arco suas extremidades satisfaz g(a 1 ) = (1, 2), o que significa que o arco a 1 começa no<br />
nó 1 e termina no nó 2. Temos, também, g(a 3 ) = (1, 3) e g(a 4 ) = (3, 1).<br />
a 1 2<br />
4 a 5<br />
1<br />
a<br />
a 2 3<br />
a 4<br />
3<br />
Figura 6.4<br />
Além de impor orientação aos arcos de um grafo, podemos querer modificar a<br />
definição básica de um grafo de outras maneiras. Queremos, muitas vezes, que os nós<br />
de um grafo contenham informações identificadoras, ou rótulos, como os nomes das
432 Capítulo 6<br />
cidades no mapa de rotas aéreas. Esse seria um grafo rotulado. Podemos querer usar<br />
um grafo com pesos, no qual cada arco tem um valor numérico, ou peso, associado.<br />
Por exemplo, poderíamos querer indicar as distâncias nas várias rotas em nosso mapa<br />
da companhia aérea.<br />
Neste livro, a palavra “grafo” sempre indicará um grafo não direcionado. Para nos<br />
referirmos a um grafo direcionado, sempre escreveremos “grafo direcionado”.<br />
Aplicações de Grafos<br />
Embora a ideia de grafo seja bastante simples, um número surpreendente de situações envolve<br />
relações entre itens que podem ser representadas por um grafo. Não surpreendentemente,<br />
este livro contém muitos grafos. Vimos representações gráficas de conjuntos parcialmente<br />
ordenados (diagramas de Hasse) no Capítulo 5. Um diagrama PERT (Figura 5.7,<br />
por exemplo) é um grafo direcionado. O diagrama E-R (Figura 5.10, por exemplo) é um<br />
grafo. O diagrama comutativo que ilustra a composição de funções (Figura 5.23) é um grafo<br />
direcionado. O Capítulo 8 introduzirá redes lógicas e as representará como grafos direcionados.<br />
Grafos direcionados também serão usados para descrever máquinas de estado finito<br />
no Capítulo 9.<br />
Vimos que o mapa de rotas aéreas era um grafo. Uma representação de qualquer rede<br />
de rotas de transporte (um mapa de estradas, por exemplo), rede de comunicação (como em<br />
uma rede de computadores) ou rotas de distribuição de produtos ou serviços, como dutos<br />
de gás ou água, é um grafo. A estrutura química de uma molécula também pode ser representada<br />
por um grafo.<br />
PROBLEMA PRÁTICO 2<br />
Desenhe o grafo subjacente em cada um dos casos a seguir.<br />
a. A Figura 6.5 é um mapa de estradas do estado do Arizona, EUA.<br />
b. A Figura 6.6 é uma representação de uma molécula de ozônio com três átomos de oxigênio.<br />
Flagstaff<br />
Sedona<br />
Winslow<br />
Rimrock<br />
Strawberry<br />
Payson<br />
Carefree<br />
Phoenix<br />
Tempe<br />
Scottsdale<br />
Mesa<br />
Chandler<br />
Apache<br />
Junction<br />
O<br />
Figura 6.5<br />
Casa Grande<br />
O<br />
Figura 6.6<br />
O<br />
■
Grafos e Árvores 433<br />
EXEMPLO 5<br />
Uma visão esquemática do fluxo de informação no Departamento de Trânsito-Detran seria<br />
o primeiro passo para se desenvolver um novo sistema computadorizado para novas<br />
licenças. A Figura 6.7 mostra o grafo direcionado resultante, muitas vezes chamado de<br />
diagrama de fluxo.<br />
Pedido do cliente<br />
Formulário<br />
Validação<br />
Fatura<br />
Cliente<br />
Boleto para<br />
pagamento<br />
Pagamento<br />
Processamento<br />
do pagamento<br />
Autorização<br />
para emissão<br />
da placa<br />
Recibo<br />
Emissão<br />
da placa<br />
Placa<br />
Notificação de crédito<br />
Cópia do registro<br />
Divisão da<br />
receita estadual<br />
Detran<br />
Figura 6.7<br />
EXEMPLO 6<br />
A Figura 6.8 mostra um grafo que representa uma rede local de computadores em uma firma.<br />
Nessa “topologia estrela”, todas as máquinas se comunicam através de um servidor central.<br />
O grafo ilustra bem um dos pontos fracos de tal projeto de rede: sua dependência na operação<br />
confiável e constante do servidor central.<br />
Figura 6.8<br />
EXEMPLO 7<br />
Redes neurais, ferramentas utilizadas em inteligência artificial para tarefas como o reconhecimento<br />
de padrões, são representadas por grafos direcionados com peso. A Figura 6.9<br />
mostra uma rede com camadas múltiplas consistindo em unidades de entrada, unidades de<br />
saída e unidades de “camadas escondidas”. Os pesos nos arcos dos grafos são ajustados à<br />
medida que a rede neural “aprende” a reconhecer certos padrões em teste.
434 Capítulo 6<br />
Unidades de entrada Camada oculta Unidades de saída<br />
w 1 1, 1<br />
w 1 1, 2<br />
w 1 2, 1<br />
w 2 1, 1<br />
w 1 1, j<br />
w 2 1, k<br />
w 1 2, 2<br />
w 2 2, 1<br />
w 1 2, j<br />
w 2 2, k<br />
w 1 i, 1 w 1 i, 2<br />
w 2 j, 1<br />
w 1 i, j<br />
w 2 j, k<br />
Figura 6.9<br />
Terminologia sobre Grafos<br />
Antes de prosseguir, precisamos de alguma terminologia sobre grafos. Surpreendentemente,<br />
embora exista uma grande quantidade de livros sobre a teoria dos grafos, a terminologia<br />
não é completamente padronizada. Outros livros, portanto, podem ter nomes ligeiramente<br />
diferentes de alguns desses termos.<br />
Em um grafo, dois nós são ditos adjacentes se ambos são extremidades de um mesmo<br />
arco. Por exemplo, no grafo da Figura 6.3, reproduzido novamente a seguir, 1 e 3 são nós<br />
adjacentes, mas 1 e 4 não. O nó 2 é adjacente a si mesmo. Um laço em um grafo é um arco<br />
com extremidades n-n para algum nó n; na Figura 6.3, o arco a 3 é um laço com extremidades<br />
2-2. Usaremos a terminologia grafo sem laços no caso em que o grafo não tiver<br />
nenhum laço. Dois arcos com as mesmas extremidades são ditos arcos paralelos; os arcos<br />
a 1 e a 2 na Figura 6.3 são paralelos. Um grafo simples é um grafo sem laços nem arcos<br />
paralelos. Um nó isolado é um nó que não é adjacente a nenhum outro; na Figura 6.3, o nó<br />
5 é um nó isolado. O grau de um nó é o número de extremidades de arcos naquele nó. Na<br />
Figura 6.3, os nós 1 e 3 têm grau 3, o nó 2 tem grau 5, o nó 4 tem grau 1 e o nó 5 tem grau 0.<br />
a 1<br />
2<br />
a 2<br />
a 3<br />
a 4<br />
1<br />
a 5 3<br />
a 6 4 5<br />
Como a função g, que associa a cada arco suas extremidades na definição formal de<br />
grafo, é de fato uma função, cada arco tem um único par de extremidades. Se g for uma<br />
função injetora, então existirá no máximo um arco associado a cada par de extremidades;<br />
tal grafo não tem arcos paralelos. Um grafo completo é um grafo no qual dois nós distintos<br />
quaisquer são adjacentes. Nesse caso g é quase uma função sobrejetora ― todo par x-y de<br />
nós distintos é a imagem, sob g, de algum arco ―, mas não há a necessidade de se ter um<br />
laço em cada nó. Portanto, pares da forma x-x podem não ter uma imagem inversa.
Grafos e Árvores 435<br />
Um subgrafo de um grafo consiste em um conjunto de nós e um conjunto de arcos<br />
que são subconjuntos do conjunto original de nós e arcos, respectivamente, nos quais as<br />
extremidades de um arco têm que ser os mesmos nós que no grafo original. Em outras<br />
palavras, um subgrafo é um grafo obtido apagando-se parte do grafo original e deixando o<br />
resto sem modificações. A Figura 6.10 mostra dois subgrafos do grafo da Figura 6.3. Note<br />
que o grafo na Figura 6.10a é simples e completo.<br />
a 1<br />
2<br />
a4<br />
a 2<br />
a 3<br />
a 1<br />
2<br />
1<br />
a 5 3<br />
(a)<br />
1<br />
a 5 3<br />
(b)<br />
Figura 6.10<br />
Um caminho do nó n 0 para o nó n k é uma sequência<br />
n 0 , a 0 , n 1 , a 1 , … , n k−1 , a k−1 , n k<br />
de nós e arcos em que, para cada i, as extremidades do arco a i são n i -n i+1 . No grafo da Figura<br />
6.3, um caminho do nó 2 para o nó 4 consiste na sequência 2, a 1 , 1, a 2 , 2, a 4 , 3, a 6 , 4.<br />
O comprimento de um caminho é o número de arcos que ele contém; se um arco for usado<br />
mais de uma vez, ele é contado cada vez que é usado. O comprimento do caminho descrito<br />
neste parágrafo do nó 2 para o nó 4 é 4.<br />
Um grafo é conexo se existe um caminho de qualquer nó para qualquer outro. Ambos<br />
os grafos na Figura 6.10 são conexos, mas o grafo na Figura 6.3 não é. Um ciclo em um grafo<br />
é um caminho de algum nó n 0 para ele mesmo tal que nenhum arco aparece mais de uma<br />
vez, n 0 é o único nó que aparece mais de uma vez, e n 0 aparece apenas nas extremidades.<br />
(Nós e arcos podem ser repetidos em um caminho, mas não, com exceção do nó n 0 , em um<br />
ciclo.) No grafo da Figura 6.3,<br />
1, a 1 , 2, a 4 , 3, a 5 , 1<br />
é um ciclo. Um grafo sem ciclos é dito acíclico.<br />
PROBLEMA PRÁTICO 3 Considere o grafo criado no Problema Prático 1.<br />
a. Encontre dois nós que não são adjacentes.<br />
b. Encontre um nó adjacente a si mesmo.<br />
c. Encontre um laço.<br />
d. Encontre dois arcos paralelos.<br />
e. Encontre o grau do nó 3.<br />
f. Encontre um caminho de comprimento 5.<br />
g. Encontre um ciclo.<br />
h. Esse grafo é completo?<br />
i. Esse grafo é conexo? ■
Tels: (24) 2248-0326 | (24) 98874-6103<br />
victor.mauricio1@hotmail.com