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IO DESIGN<br />

PORTFÓLIO<br />

DESIGN EDITORIAL


Sobre<br />

nós<br />

A IO DESIGN atua há 17 anos no mercado editorial. Criada no ano<br />

2000 a IO DESIGN ao longo dos anos cresceu e ganhou espaço no<br />

competitivo mercado editorial.


NOSSa<br />

EQUIPE<br />

A IO DESIGN conta com uma equipe especializada formada por<br />

profissionais qualificados e capazes de realizar cada etapa da<br />

produção com qualidade e compromentimento com os prazos e as<br />

metas estabelecidas.


NOSSOS<br />

TRABALHOS<br />

A IO DESIGN trabalha com os melhores softwares de editoração do<br />

mercado, Adobe InDesign, Photoshop, Illustrator, InCopy, Pacote Office,<br />

dentre outros, todos nas suas versões mais atuais ou na versão que<br />

for solicitado. Nossos trabalhos são: editoração, criação de projetos,<br />

design de capa, tratamento de imagens, redesenho (figuras e gráficos),<br />

inserção de emendas em arquivos em preparação, adaptação de<br />

projetos editados em outros idiomas, criação de eBooks (ePUB/e-PDF),<br />

criação ou adaptação de capa. Nossa capacidade de produção vária de<br />

acordo com a necessidade apresentada pelo cliente.


PORTFÓLIO<br />

Apresentamos a seguir nossos últimos trabalhos, todos os projetos<br />

confeccionados contam com muita dedicação e empenho ao<br />

serem realizados.


CAMPBELL - CIRURGIA ORTOPÉDICA<br />

Ano: 2017<br />

Editora: Elsevier<br />

Volumes: 4<br />

Nº de Páginas: 4.240<br />

Formato: 21,6 x 27,6 cm<br />

Área: Medicina<br />

A seguir algumas páginas


© 2017 Elsevier Editora Ltda.<br />

Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610 de 19/02/1998.<br />

Nenhuma parte deste livro, sem autorização prévia por escrito da editora, poderá ser reproduzida ou transmitida sejam quais forem os meios empregados:<br />

eletrônicos, mecânicos, fotográficos, gravação ou quaisquer outros.<br />

ISBN: 978-85-352-7840-8<br />

ISBN versão eletrônica: 978-85-352-8598-7<br />

CAMPBELL’S OPERATIVE ORTHOPAEDICS, TWELFTH EDITION<br />

Copyright © 2013 by Mosby, an imprint of Elsevier Inc.<br />

This translation of Campbell’s Operative Orthopaedics, Twelfth Edition, by S. Terry Canale and James H. Beaty was undertaken by Elsevier Editora<br />

Ltda and is published by arrangement with Elsevier Inc.<br />

Esta tradução de Campbell’s Operative Orthopaedics, Twelfth Edition, de S. Terry Canale e James H. Beaty foi produzida por Elsevier Editora Ltda<br />

e publicada em conjunto com Elsevier Inc.<br />

ISBN: 978-0-323-07243-4<br />

Capa<br />

Studio Creamcrackers/Aline Haluch<br />

Editoração Eletrônica<br />

IO Design<br />

Elsevier Editora Ltda.<br />

Conhecimento sem Fronteiras<br />

Rua Sete de Setembro, nº 111 – 16º andar<br />

20050-006 – Centro – Rio de Janeiro – RJ<br />

Rua Quintana, nº 753 – 8º andar<br />

04569-011 – Brooklin – São Paulo – SP<br />

Serviço de Atendimento ao Cliente<br />

0800 026 53 40<br />

atendimento1@elsevier.com<br />

Consulte nosso catálogo completo, os últimos lançamentos e os serviços exclusivos no site www.elsevier.com.br<br />

NOTA<br />

Como as novas pesquisas e a experiência ampliam o nosso conhecimento, pode haver necessidade de alteração dos métodos de pesquisa, das práticas<br />

profissionais ou do tratamento médico. Tanto médicos quanto pesquisadores devem sempre basear-se em sua própria experiência e conhecimento<br />

para avaliar e empregar quaisquer informações, métodos, substâncias ou experimentos descritos neste texto. Ao utilizar qualquer informação ou<br />

método, devem ser criteriosos com relação a sua própria segurança ou a segurança de outras pessoas, incluindo aquelas sobre as quais tenham responsabilidade<br />

profissional.<br />

Com relação a qualquer fármaco ou produto farmacêutico especificado, aconselha-se o leitor a cercar-se da mais atual informação fornecida (i) a<br />

respeito dos procedimentos descritos, ou (ii) pelo fabricante de cada produto a ser administrado, de modo a certificar-se sobre a dose recomendada<br />

ou a fórmula, o método e a duração da administração, e as contraindicações. É responsabilidade do médico, com base em sua experiência pessoal e<br />

no conhecimento de seus pacientes, determinar as posologias e o melhor tratamento para cada paciente individualmente, e adotar todas as precauções<br />

de segurança apropriadas.<br />

Para todos os efeitos legais, nem a Editora, nem autores, nem editores, nem tradutores, nem revisores ou colaboradores, assumem qualquer responsabilidade<br />

por qualquer efeito danoso e/ou malefício a pessoas ou propriedades envolvendo responsabilidade, negligência etc. de produtos, ou advindos de<br />

qualquer uso ou emprego de quaisquer métodos, produtos, instruções ou ideias contidos no material aqui publicado.<br />

O Editor<br />

C22c<br />

12. ed.<br />

Canale, S. Terry<br />

Campbell cirurgia ortopédica / S. Terry Canale, James H. Beaty. - 12. ed. - Rio de<br />

Janeiro : Elsevier, 2017.<br />

il. ; 28 cm.<br />

Tradução de: Campbell’s operative orthopaedics<br />

Apêndice<br />

Inclui bibliografia e índice<br />

ISBN 978-85-352-7840-8<br />

1. Cirurgia ortopédica. I. Beaty, James H. II. Título.<br />

16-34351 CDD: 617.47<br />

CDU: 616-089.23<br />

01/07/2016 04/07/2016


CAMPBELL<br />

CIRURGIA<br />

ORTOPÉDICA<br />

DÉCIMA SEGUNDA EDIÇÃO<br />

volume I<br />

S. TERRY CANALE, MD<br />

Harold B. Boyd Professor and Chair, Department of Orthopaedic<br />

Surgery<br />

University of Tennessee—Campbell Clinic<br />

Memphis, Tennessee<br />

JAMES H. BEATY, MD<br />

Professor, Department of Orthopaedic Surgery<br />

University of Tennessee—Campbell Clinic<br />

Chief of Staff, Campbell Clinic<br />

Memphis, Tennessee<br />

Assistência Editorial de<br />

KAY DAUGHERTY e LINDA JONES<br />

Coordenação de Artes de<br />

BARRY BURNS<br />

Revisão Técnica<br />

da Tradução<br />

SBOT<br />

SOCIEDADE BRASILEIRA DE<br />

ORTOPEDIA E TRAUMATOLOGIA


CAMPBELL<br />

CIRURGIA<br />

ORTOPÉDICA<br />

DÉCIMA SEGUNDA EDIÇÃO<br />

volume II<br />

S. TERRY CANALE, MD<br />

Harold B. Boyd Professor and Chair, Department of Orthopaedic<br />

Surgery<br />

University of Tennessee—Campbell Clinic<br />

Memphis, Tennessee<br />

JAMES H. BEATY, MD<br />

Professor, Department of Orthopaedic Surgery<br />

University of Tennessee—Campbell Clinic<br />

Chief of Staff, Campbell Clinic<br />

Memphis, Tennessee<br />

Assistência Editorial de<br />

KAY DAUGHERTY e LINDA JONES<br />

Coordenação de Artes de<br />

BARRY BURNS<br />

Revisão Técnica<br />

da Tradução<br />

SBOT<br />

SOCIEDADE BRASILEIRA DE<br />

ORTOPEDIA E TRAUMATOLOGIA


CAMPBELL<br />

CIRURGIA<br />

ORTOPÉDICA<br />

DÉCIMA SEGUNDA EDIÇÃO<br />

volume III<br />

S. TERRY CANALE, MD<br />

Harold B. Boyd Professor and Chair, Department of Orthopaedic<br />

Surgery<br />

University of Tennessee—Campbell Clinic<br />

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JAMES H. BEATY, MD<br />

Professor, Department of Orthopaedic Surgery<br />

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KAY DAUGHERTY e LINDA JONES<br />

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da Tradução<br />

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SOCIEDADE BRASILEIRA DE<br />

ORTOPEDIA E TRAUMATOLOGIA


CAMPBELL<br />

CIRURGIA<br />

ORTOPÉDICA<br />

DÉCIMA SEGUNDA EDIÇÃO<br />

volume IV<br />

S. TERRY CANALE, MD<br />

Harold B. Boyd Professor and Chair, Department of Orthopaedic<br />

Surgery<br />

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da Tradução<br />

SBOT<br />

SOCIEDADE BRASILEIRA DE<br />

ORTOPEDIA E TRAUMATOLOGIA


PartE<br />

I<br />

PRINCÍPIOS<br />

BÁSICOS


TÉCNICAS E VIAS DE<br />

ACESSO CIRÚRGICAS<br />

Andrew H. Crenshaw , Jr.<br />

CaPÍtULO<br />

1<br />

TÉCNICAS CIRÚRGICAS 3<br />

TORNIQUeTeS 3<br />

RADIOGRAFIAS NA SALA De<br />

CIRURGIA 5<br />

POSICIONAMeNTO DO PACIeNTe 6<br />

PRePARAÇÃO LOCAL DO PACIeNTe 6<br />

Soluções para Irrigação de Ferida 7<br />

COLOCAÇÃO DO CAMPO CIRÚRGICO 7<br />

Colocação do Campo Cirúrgico nas<br />

Bordas da Incisão 8<br />

PReVeNÇÃO DA TRANSMISSÃO<br />

DO VÍRUS DA IMUNODeFICIÊNCIA<br />

HUMANA 8<br />

PReVeNINDO OS eRROS 9<br />

TÉCNICAS OPERATÓRIAS<br />

ESPECIAIS 9<br />

MÉTODOS De FIXAÇÃO DO<br />

TeNDÃO AO OSSO 9<br />

eNXeRTIA ÓSSeA 12<br />

Estrutura dos Enxertos Ósseos 13<br />

Fontes dos Enxertos Ósseos 13<br />

Banco de Ossos 13<br />

Substitutos de Enxerto Ósseo<br />

Esponjoso 14<br />

Indicações para Várias Técnicas de<br />

Enxerto Ósseo 14<br />

Condições Favoráveis para<br />

Enxertia Óssea 17<br />

Preparação dos Enxertos Ósseos 17<br />

Enxertos Ósseos Esponjosos da<br />

Crista Ilíaca 19<br />

ACESSOS CIRÚRGICOS 21<br />

ARTeLHOS 22<br />

Acesso às Articulações<br />

Interfalângicas 22<br />

Acessos à Articulação<br />

Metatarsofalângica do Hálux 22<br />

Acesso às Articulações<br />

Metatarsofalângicas dos Artelhos 23<br />

CALCÂNeO 23<br />

Acesso Medial 23<br />

Acesso Lateral 24<br />

Acesso em Forma de U 24<br />

Acesso de Kocher (L curvo) 25<br />

TARSO e TORNOZeLO 25<br />

Acessos Anteriores 25<br />

Acessos Laterais 28<br />

Acessos Posteriores 30<br />

Acessos Mediais 30<br />

TÍBIA 31<br />

Acesso Anterior 32<br />

Acesso Medial 32<br />

Acesso Posterolateral 32<br />

Acesso Posterior à<br />

Região Superomedial<br />

da Tíbia 32<br />

FÍBULA 34<br />

Acesso Posterolateral 34<br />

JOeLHO 35<br />

Acessos Anteromedial e<br />

Anterolateral 35<br />

Acessos Posterolateral e<br />

Posteromedial 38<br />

Acessos Mediais ao Joelho e<br />

Estruturas de Suporte 39<br />

Acesso Transverso ao Menisco 42<br />

Acessos Laterais ao Joelho e<br />

Estruturas de Suporte 42<br />

Acesso Extenso ao Joelho 46<br />

Acessos Diretos Posterior,<br />

Posteromedial e Posterolateral 47<br />

FÊMUR 51<br />

Acesso Anterolateral 51<br />

Acesso Lateral à Diáfise do Fêmur 51<br />

Acesso Posterolateral à Diáfise do<br />

Fêmur 53<br />

Acesso Posterior 53<br />

Acesso Medial à Superfície<br />

Posterior do Fêmur no<br />

Espaço Poplíteo 55<br />

Acesso Lateral à Superfície<br />

Posterior do Fêmur no<br />

Espaço Poplíteo 56<br />

Acesso Lateral à Diáfise<br />

Proximal e Região Trocantérica 57<br />

QUADRIL 58<br />

Acessos Anteriores 58<br />

Acessos Laterais 61<br />

Acessos Posteriores 68<br />

Acesso Medial 72<br />

ACeTÁBULO e PeLVe 73<br />

Acessos Anteriores 73<br />

Acesso Posterior 77<br />

Acessos Extensos ao Acetábulo 78<br />

ÍLIO 86<br />

SÍNFISe PÚBICA 87<br />

ARTICULAÇÃO SACROILÍACA 88<br />

Acesso Posterior 88<br />

Acesso Anterior 89<br />

Acesso a Ambas as Articulações<br />

Sacroilíacas ou ao Sacro 89<br />

COLUNA 90<br />

ARTICULAÇÃO eSTeRNOCLAVICULAR 90<br />

ARTICULAÇÃO ACROMIOCLAVICULAR<br />

e PROCeSSO CORACOIDe 91<br />

OMBRO 91<br />

Acessos Anteromediais 91<br />

Acesso Axilar Anterior 93<br />

Acessos Anterolaterais 94<br />

Acesso Transacromial 95<br />

Acessos Posteriores 95<br />

ÚMeRO 101<br />

Acesso Anterolateral 101<br />

Acesso Posterior ao Úmero<br />

Proximal 102<br />

Acessos à Diáfise Distal do<br />

Úmero 103<br />

COTOVeLO 106<br />

Acessos Posteriores 106<br />

Acessos Laterais 110<br />

Acesso Medial 112<br />

Acesso Medial e Lateral 113<br />

Acesso Global 113<br />

RÁDIO 116<br />

Acesso Posterolateral à Cabeça e<br />

ao Colo do Rádio 116<br />

Acesso aos Terços Proximal e<br />

Médio da Superfície<br />

Posterior 117<br />

Acesso Anterolateral à Diáfise<br />

Proximal e Articulação do<br />

Cotovelo 118<br />

Acesso Anterior à Metade<br />

Distal do Rádio 118<br />

ULNA 121<br />

Acesso ao Terço Proximal da<br />

Ulna e ao Quarto Proximal do<br />

Rádio 121<br />

PUNHO 121<br />

Acessos Dorsais 121<br />

Acesso Volar 121<br />

Acesso Lateral 123<br />

Acesso Medial 124<br />

MÃO 125<br />

2


CAPÍTULO 1 TÉCNICAS E VIAS DE ACESSO CIRÚRGICAS 3<br />

TÉCNICAS CIRÚRGICAS<br />

Existem várias técnicas cirúrgicas especialmente importantes na<br />

ortopedia: uso de torniquetes, uso de radiografias e intensificadores<br />

de imagem na sala de cirurgia, posicionamentos do paciente, preparação<br />

local do paciente, e colocação do campos cirúrgicos na parte<br />

ou partes apropriadas. Para evitar a repetição em outros capítulos,<br />

também são descritas as técnicas operatórias comuns a muitos procedimentos,<br />

à fixação de tendões ou fáscia ao osso, e à enxertia óssea.<br />

TORNIQUETES<br />

As operações nas extremidades são facilitadas pelo uso de um torniquete.<br />

O torniquete é um instrumento potencialmente perigoso<br />

que deve ser usado com cuidado e conhecimento adequados. Em<br />

alguns procedimentos, o torniquete é um luxo, enquanto em outros,<br />

como operações delicadas na mão, é uma necessidade. O torniquete<br />

pneumático é mais seguro do que um torniquete de Esmarch ou<br />

uma bandagem de borracha de Martin.<br />

Um torniquete pneumático com bomba manual e manômetro<br />

preciso é, provavelmente, o mais seguro, mas um torniquete de<br />

pressão constantemente regulada é satisfatório, se for mantido e<br />

verificado de maneira adequada. O torniquete deve ser aplicado por<br />

uma pessoa com experiência no seu uso.<br />

Vários tamanhos de torniquetes pneumáticos estão disponíveis<br />

para as extremidades superior e inferior. A parte superior do<br />

braço ou a coxa é envolvida com várias camadas de acolchoamento<br />

de algodão ortopédico suavemente aplicado. Rajpura et al.<br />

mostraram que a aplicação de mais de duas camadas de acolchoamento<br />

resultou em uma redução significativa na pressão real<br />

transmitida. Ao aplicar o torniquete em um paciente obeso, um<br />

assistente segura manualmente o tecido da extremidade imediatamente<br />

distal ao nível da aplicação do torniquete, e puxa firme<br />

este tecido no sentido distal antes da colocação do acolchoamento<br />

de algodão. A tração sobre o tecido mole é mantida enquanto o<br />

acolchoamento e o torniquete são aplicados, e o último é fixado.<br />

O assistente solta o tecido, o que resulta em uma maior proporção<br />

de tecido subcutâneo ainda em posição distal ao torniquete. Este<br />

tecido volumoso tende a suportar o torniquete e empurrá-lo para<br />

uma posição mais proximal. Todo o ar é expelido do esfigmomanômetro<br />

ou torniquete pneumático antes da aplicação. Quando<br />

um manguito de esfigmomanômetro é usado, ele deve ser envolvido<br />

com uma bandagem de crepom para evitar o seu deslizamento<br />

durante a inflação. A extremidade é elevada por 2 minutos,<br />

ou o sangue é expelido por uma bandagem de borracha estéril ou<br />

uma bandagem elástica de algodão. Iniciando na ponta dos dedos<br />

ou nos artelhos, a extremidade é envolvida proximalmente a 2,5<br />

a 5 cm do torniquete. Se uma bandagem de borracha de Martin<br />

ou uma bandagem elástica for aplicada até o nível do torniquete,<br />

este último tende a deslizar distalmente no momento da inflação.<br />

O torniquete deve ser inflado rapidamente para evitar o enchimento<br />

das veias superficiais antes do fluxo arterial ser ocluído.<br />

Todos os esforços são feitos para diminuir o tempo de torniquete;<br />

muitas vezes, a extremidade está preparada e pronta antes de o<br />

torniquete ser inflado. Hirota et al., usando ecocardiografia transesofágica<br />

durante a cirurgia artroscópica do joelho, mostraram<br />

que uma embolia pulmonar assintomática pode ocorrer dentro de<br />

1 minuto após a liberação do torniquete. Eles também observaram<br />

que o número de pequenos êmbolos depende da duração da inflação<br />

do torniquete.<br />

A pressão exata pela qual o torniquete deve ser inflado não foi<br />

determinada. A evidência indica que pressões mais altas do que o<br />

necessário têm sido usadas há muitos anos. A pressão correta<br />

depende da idade do paciente, da pressão arterial e do tamanho da<br />

extremidade. Reid, Camp e Jacob utilizaram pressões do torniquete<br />

pneumático determinadas pela pressão necessária para anular o<br />

pulso periférico (pressão de oclusão do membro) usando uma sonda<br />

de Doppler; então, eles adicionaram 50 a 75 mmHg para permitir<br />

circulação colateral e alterações da pressão arterial. Pressões do torniquete<br />

de 135 a 255 mmHg para a extremidade superior e de 175<br />

a 305 mmHg para a extremidade inferior foram satisfatórias para a<br />

manutenção da hemostasia. Younger et al. mostraram, com o protótipo<br />

de um aparelho automatizado de pressão de oclusão do<br />

membro, que as pressões do torniquete poderiam ser reduzidas em<br />

43%. Atualmente, dispositivos deste tipo são disponibilizados por<br />

várias empresas.<br />

De acordo com Crenshaw et al., manguitos de torniquetes largos<br />

são mais eficazes em pressões de inflação mais baixas do que os estreitos.<br />

Pedowitz et al. mostraram que torniquetes curvos nas extremidades<br />

cônicas requerem pressões de oclusão arterial significativamente<br />

mais baixas do que torniquetes retos (retangulares) (Fig. 1-1). Deve<br />

ser evitado o uso de torniquetes retos nas coxas cônicas, em especial<br />

em indivíduos extremamente musculosos ou obesos.<br />

Não se deve permitir que qualquer solução aplicada à pele<br />

escorra por baixo do torniquete, o que pode provocar uma queimadura<br />

química. O escorrimento de soluções por baixo do torniquete<br />

é evitado por um campo cirúrgico plástico adesivo circunferencial<br />

A<br />

B<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

FIGURA 1-1 A, Os torniquetes retos (retangulares) se ajustam<br />

de maneira ideal aos membros cilíndricos. B, Torniquetes curvos<br />

são mais adequados para membros cônicos. (De Pedowitz RA, Gershuni<br />

DH, Botte MJ, et al: The use of lower tourniquet inflation pressures<br />

in extremity surgery facilitated by curved and wide tourniquets and<br />

integrated cuff inflation system, Clin Orthop Relat Res 287:237, 1993.)


4<br />

PARTe I PRINCÍPIOS BÁSICOS<br />

TABELA 1-1<br />

Modificação das Dez Regras de Bruner por Braithwaite e Klenerman<br />

APLICAÇÃO<br />

Aplique somente em um membro saudável ou com cuidado em um membro não saudável<br />

TAMANHO DO TORNIQUETE Braço, 10 cm; perna, 15 cm ou mais largo em pernas grandes<br />

LOCAL DE APLICAÇÃO Braço superior; coxa média/superior idealmente<br />

ACOLCHOAMENTO<br />

De pelo menos duas camadas de algodão ortopédico<br />

PREPARAÇÃO DA PELE Oclua para evitar o umedecimento do algodão. Use 50 a 100 mmHg acima da pressão sistólica<br />

para o braço; o dobro da pressão sistólica para a coxa; ou 200-250 mmHg para o braço e<br />

250-350 mmHg para a perna (manguitos grandes são recomendados para membros maiores em<br />

vez de aumentar a pressão)<br />

TEMPO<br />

Máximo absoluto de 3 h (recupera-se em 5-7 dias), geralmente não exceder 2 h<br />

TEMPERATURA<br />

Evite o aquecimento (p. ex., luzes quentes), frio se viável, e mantenha os tecidos úmidos<br />

REGISTRO<br />

Duração e pressão calibrada pelo menos semanalmente com manômetro de mercúrio ou<br />

manômetro de teste de manutenção; manutenção a cada 3 meses<br />

Modificado de Kutty S, McElwain JP: Padding under tourniquets in tourniquet controlled surgery: Bruner’s ten rules revisited, Injury 33:75, 2002.<br />

aplicado sobre a pele imediatamente distal ao torniquete. Torniquetes<br />

pneumáticos estéreis estão disponíveis para operações ao redor<br />

do cotovelo e do joelho. O membro pode ser preparado e envolto<br />

em campos cirúrgicos antes da aplicação do torniquete. Eventualmente,<br />

uma lesão superficial da pele pode ocorrer na margem superior<br />

do torniquete na região da prega glútea. Esta lesão geralmente<br />

ocorre em indivíduos obesos e, provavelmente, está relacionada ao<br />

uso de um torniquete reto em vez de um curvo.<br />

Torniquetes pneumáticos devem ser mantidos em bom estado,<br />

e todas as válvulas e manômetros devem ser verificados rotineiramente.<br />

O tubo interno deve ser completamente vedado num invólucro<br />

para evitar que se inche por meio de uma abertura, permitindo<br />

a queda da pressão ou causando um “rompimento”. O manguito<br />

também deve ser inspecionado com cuidado. Torniquetes descartáveis<br />

estéreis de uso único são os preferíveis, uma vez que torniquetes<br />

reutilizáveis devem ser completamente descontaminados após cada<br />

uso a fim de evitar a colonização microbiana.<br />

Qualquer manômetro aneroide deve ser calibrado com frequência.<br />

Os manômetros mais recentes possuem fichas de instruções.<br />

Os torniquetes são vendidos com manômetros de teste para<br />

que tenham sua calibração adequada testada. No entanto, o manômetro<br />

de teste também é um manômetro aneroide, e está sujeito a<br />

erro. A precisão do manômetro de teste deve ser testada por meio<br />

de um manômetro de mercúrio. O manômetro de teste deve ser<br />

verificado uma vez por semana, e cada manômetro do torniquete<br />

deve ser testado com um manômetro de teste antes de seu uso. Se<br />

houver uma discrepância de mais de 20 mm entre o torniquete e<br />

o manômetro de teste, o equipamento deverá ser descartado. Um<br />

dos maiores perigos no uso de um torniquete é um manômetro<br />

com registro indevido; já foram observados manômetros de teste<br />

com erro de calibração de 300 mm. Em muitas lesões por torniquete,<br />

os manômetros foram posteriormente verificados, e foi descoberto<br />

que eles estavam totalmente imprecisos, causando uma<br />

pressão excessiva.<br />

A paralisia de torniquete pode ser resultante de (1) pressão<br />

excessiva; (2) pressão insuficiente, resultando em congestão passiva<br />

da parte, com infiltração hemorrágica do nervo; (3) permanência do<br />

torniquete por muito tempo; ou (4) aplicação sem considerar a<br />

anatomia local. Não há nenhuma regra sobre por quanto tempo um<br />

torniquete pode ser inflado com segurança. O tempo pode variar com<br />

a idade do paciente e o suprimento vascular da extremidade. Em um<br />

adulto saudável normal com menos de 50 anos de idade, nós preferimos<br />

manter o torniquete inflado por não mais de 2 horas. Se uma<br />

operação na extremidade inferior durar mais de 2 horas, é melhor<br />

terminá-la o mais rápido possível do que desinflar o torniquete por<br />

10 minutos e então inflá-lo novamente. Foi observado que 40<br />

minutos são necessários para que os tecidos retornem ao normal<br />

após o uso prolongado de um torniquete. Consequentemente, a<br />

prática anterior de desinflar o torniquete por 10 minutos parece ser<br />

inadequada. A síndrome pós-torniquete, como reconhecida primeiramente<br />

por Bunnell, é uma reação comum à isquemia prolongada<br />

e é caracterizada por edema, palidez, rigidez articular, fraqueza<br />

motora e parestesia subjetiva. Acredita-se que esta complicação seja<br />

relacionada à duração da isquemia, e não ao efeito mecânico do<br />

torniquete. A síndrome pós-torniquete interfere com o movimento<br />

precoce e resulta em maior necessidade de narcóticos. A resolução<br />

espontânea ocorre geralmente dentro de 1 semana.<br />

Síndrome compartimental, rabdomiólise e embolia pulmonar<br />

são complicações raras do uso de torniquete. Complicações vasculares<br />

podem ocorrer em pacientes com arteriosclerose grave ou<br />

enxertos protéticos. Um torniquete não deve ser aplicado sobre<br />

um enxerto protético vascular.<br />

Torniquetes pneumáticos geralmente são aplicados na parte<br />

superior do braço e da coxa, e um torniquete bem acolchoado na<br />

panturrilha proximal é seguro para a cirurgia do pé e do tornozelo.<br />

As orientações gerais para o uso seguro de torniquetes pneumáticos<br />

estão descritas na Tabela 1-1.<br />

O torniquete de Esmarch ainda está em uso em algumas áreas<br />

e é o mais seguro e mais prático dos torniquetes elásticos. Ele é usado<br />

somente nos terços médio e superior da coxa. Este torniquete tem um<br />

uso definido, embora limitado, uma vez que pode ser aplicado em<br />

uma posição mais alta na coxa − diferentemente do torniquete pneumático.<br />

O torniquete de Esmarch é aplicado em camadas, uma em<br />

cima da outra; uma faixa estreita produz menos danos aos tecidos do<br />

que uma larga.<br />

Uma bandagem de borracha de Martin pode ser usada com segurança<br />

como um torniquete para procedimentos rápidos no pé. A elevação<br />

e a exsanguinação da perna são feitas envolvendo a bandagem de<br />

borracha nos maléolos do tornozelo e fixando-a com uma braçadeira.<br />

A porção distal da bandagem é liberada para expor a área operatória.<br />

Atenção especial deve ser dada ao se usar torniquetes nos<br />

dedos e artelhos. Um torniquete de anel de borracha ou um torniquete<br />

feito com dedo de luva trançado ao redor do dedo não devem<br />

ser usados, pois podem ser inadvertidamente deixados no lugar<br />

sob um curativo, resultando na perda do dedo. Um dedo de luva<br />

ou dreno de Penrose podem ser colocados ao redor da porção<br />

proximal do dedo, esticados e fixados com uma pinça hemostática.<br />

Este é um método muito mais seguro para a cirurgia dos dedos. É<br />

difícil incluir inadvertidamente uma pinça hemostática em um<br />

curativo dos dedos.


CAPÍTULO 1 TÉCNICAS E VIAS DE ACESSO CIRÚRGICAS 5<br />

A<br />

B<br />

C<br />

D<br />

FIGURA 1-2 A e B, Configuração da fluoroscopia portátil com intensificador televisivo de imagem de braço C para a reparação de<br />

fraturas. O braço C gira 90 graus para obter uma visão lateral. C e D, Técnica para radiografias em dois planos durante a cirurgia de<br />

quadril com uma máquina portátil para visões anteroposterior e lateral. O cassete do filme para visão lateral é posicionado sobre o<br />

aspecto superolateral do quadril.<br />

Torniquetes de anel de borracha descartáveis estéreis estão disponíveis<br />

para uso nas extremidades superior e inferior. Estes torniquetes<br />

são envoltos por uma malha tubular e aplicados trançando o<br />

anel de borracha e a malha tubular até a extremidade, exsanguinando,<br />

assim, a extremidade. A malha tubular é, então, cortada no local<br />

operatório. Torniquetes de anel de borracha não são indicados na<br />

presença de malignidade, infecções, lesões cutâneas significativas, fraturas<br />

ou luxações instáveis, fluxo sanguíneo periférico insuficiente,<br />

edema ou trombose venosa profunda. O tamanho destes torniquetes<br />

é baseado na pressão arterial sistólica.<br />

RADIOGRAFIAS NA SALA DE CIRURGIA<br />

Muitas vezes, é necessário obter radiografias durante um procedimento<br />

ortopédico. Os técnicos em radiologia que trabalham na<br />

sala de cirurgia devem usar as mesmas roupas e máscaras utilizadas<br />

pelo pessoal circulante. Estes técnicos devem ter um claro<br />

entendimento das técnicas cirúrgicas assépticas e da colocação do<br />

campo cirúrgico para evitar a contaminação no campo operatório.<br />

As unidades portáteis de radiografia usadas na sala de cirurgia<br />

devem ser limpas regularmente e, idealmente, não devem ser<br />

usadas em qualquer outra área do hospital.<br />

Quando um cassete de radiografia não estéril for introduzido<br />

no campo estéril, ele deve ser colocado dentro de uma fronha dupla<br />

ou saco plástico estéreis dobrados de modo que o exterior permaneça<br />

estéril. A fronha ou o saco plástico são cobertos por uma toalha<br />

grande estéril, garantindo pelo menos duas camadas de campos<br />

cirúrgicos estéreis no cassete. A ferida operatória deve ser coberta<br />

com uma toalha estéril quando são feitas radiografias da visão anteroposterior<br />

a fim de evitar a possível contaminação da máquina<br />

durante sua colocação na posição.<br />

A fluoroscopia portátil com intensificador televisivo de imagem<br />

de braço C permite uma avaliação instantânea da posição dos fragmentos<br />

da fratura e dispositivos de fixação interna. Muitas dessas<br />

máquinas têm a capacidade de fazer radiografias permanentes.<br />

Quando usada próxima ao campo estéril, a parte do braço C da<br />

máquina deve ser envolvida de acordo com as técnicas de esterilização<br />

(Fig. 1-2A e B). Como em qualquer dispositivo eletrônico, pode<br />

ocorrer falha do intensificador de imagem. Neste caso, radiografias<br />

simples de suporte são necessárias. Podem ser feitas radiografias em<br />

dois planos, até mesmo do quadril quando necessário, usando-se<br />

equipamentos portáteis (Fig. 1-2C e D). As técnicas de fixação da<br />

haste intramedular fechada ou de fixação percutânea das fraturas<br />

podem precisar ser substituídas por uma técnica aberta caso haja falha<br />

do intensificador de imagem.


6<br />

PARTe I PRINCÍPIOS BÁSICOS<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

FIGURA 1-3 Relacões anatômicas do plexo braquial quando o membro é hiperabduzido. Inserção, Com o paciente na posição de<br />

Trendelenburg, a cinta no ombro não está em boa posição, uma vez que o membro foi abduzido e colocado na mesa de braço.<br />

Todo o pessoal da sala de cirurgia deve evitar exposição a<br />

radiografias. Aventais de chumbo adequados devem ser usados sob<br />

os aventais cirúrgicos estéreis. Protetores de tireoide, óculos impregnados<br />

com chumbo e luvas de borracha estão disponíveis para diminuir<br />

a exposição.<br />

POSICIONAMENTO DO PACIENTE<br />

Antes de entrar na sala de cirurgia, o cirurgião e o paciente, este<br />

acordado e alerta, devem estar de acordo sobre o local cirúrgico, e o<br />

cirurgião deve marcar isso claramente para evitar um erro de “local<br />

incorreto”. A posição do paciente na mesa cirúrgica deve ser ajustada<br />

para permitir as máximas segurança e conveniência para o cirurgião.<br />

Uma via respiratória deve ser mantida livre em todos os momentos,<br />

e deve-se evitar pressão desnecessária sobre o tórax ou o abdômen.<br />

Isso é particularmente importante quando o paciente estiver na posição<br />

prona; nela, sacos de areia são colocados sob os ombros, e um travesseiro<br />

fino é colocado sob a sínfise púbica e os quadris para minimizar<br />

a pressão no abdômen e no tórax. Rolos de tórax grandes e moderadamente<br />

firmes, estendendo-se desde a crista ilíaca às áreas claviculares,<br />

podem servir à mesma finalidade.<br />

Quando o paciente estiver na posição supina, o sacro deve ser<br />

bem acolchoado; e, quando o paciente estiver em decúbito lateral, o<br />

trocânter maior e o colo da fíbula devem ser protegidos da mesma<br />

maneira. O perigo de alongamento de um nervo ou de um grupo de<br />

nervos aumenta quando um medicamento relaxante muscular é<br />

usado. A Figura 1-3 mostra a tração sobre o plexo braquial devido<br />

ao posicionamento inadequado do braço. O plexo braquial pode ser<br />

alongado quando o braço estiver em uma mesa de braço, particularmente<br />

se estiver hiperabduzido para dar espaço ao cirurgião ou<br />

assistente, ou para a administração de terapia intravenosa. O braço<br />

nunca deve ser amarrado acima da cabeça em abdução e rotação<br />

externa enquanto um gesso de corpo é aplicado, uma vez que esta<br />

posição pode causar uma paralisia do plexo braquial. Em vez disso,<br />

o braço deve ser suspenso em flexão em uma estrutura suspensa, e<br />

a posição deve ser mudada frequentemente. A Figura 1-4 mostra a<br />

posição do braço na mesa cirúrgica que pode causar pressão sobre<br />

o nervo ulnar, particularmente se alguém da equipe cirúrgica se<br />

inclinar sobre o braço. Nunca se deve permitir que o braço fique<br />

pendurado na borda da mesa. O acolchoamento deve ser colocado<br />

sobre a área onde um nervo pode ser pressionado contra o osso (ou<br />

seja, o nervo radial no braço, o nervo ulnar no cotovelo, e o nervo<br />

fibular no colo da fíbula).<br />

PREPARAÇÃO LOCAL DO PACIENTE<br />

Os resíduos superficiais de pele e óleo são removidos com uma assepsia<br />

completa com água e sabão por 10 minutos. Nós preferimos um<br />

agente de limpeza de pele que contenha 7,5% de solução de iodopovidona,<br />

que é diluída em aproximadamente 50% com soro fisiológico<br />

estéril. O agente de limpeza contendo hexaclorofeno é substituído<br />

quando o paciente tem ou suspeita-se que tenha alergia a frutos do<br />

mar ou iodo. Após a assepsia, a pele é seca com toalhas estéreis. Esta<br />

assepsia pode ser realizada no quarto do paciente antes da cirurgia ou<br />

na sala de cirurgia. Se for realizada fora da sala de cirurgia, a extremidade<br />

deve ser envolvida com segurança com lençóis estéreis.<br />

Após o torniquete ser colocado, se isto for necessário, devem ser<br />

removidos os curativos estéreis aplicados durante a preparação anterior.<br />

Deve-se tomar cuidado com a contaminação do campo operatório,<br />

uma vez que a eficácia da preparação seria parcialmente perdida.<br />

Com o paciente na posição adequada, as soluções são aplicadas, cada<br />

uma com uma esponja de cabo estéril separada, iniciando-se na área<br />

central do local da incisão e seguindo perifericamente. A tintura de<br />

iodo contendo 85% de álcool ainda é amplamente usada como


CAPÍTULO 1 TÉCNICAS E VIAS DE ACESSO CIRÚRGICAS 7<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

FIGURA 1-4 Pontos em que os nervos do braço podem ser lesionados pela pressão. Inserção, Uma pressão é aplicada à face medial<br />

do braço, pois o paciente está mal posicionado na mesa cirúrgica.<br />

preparação da pele. Uma vez pintada, permite-se que ela seque e, em<br />

seguida, é retirada com álcool simples. Alguns cirurgiões usam rotineiramente<br />

a solução de iodopovidona, em especial quando o risco<br />

de uma queimadura química devido à tintura de iodo é significativo.<br />

O campo operatório imediato é preparado primeiro; a área é ampliada<br />

para incluir uma maior pele circundante. As gazes usadas para preparar<br />

a coluna lombar são conduzidas em direção à fenda glútea e ânus,<br />

e não na direção oposta. As gazes não devem ser saturadas, pois a<br />

solução ultrapassaria o campo operatório e deveria ser removida.<br />

O iodo em excesso, mesmo no campo operatório, deve ser removido<br />

com álcool para evitar dermatite química. Se os lençóis sobre a mesa<br />

ou os campos cirúrgicos estéreis se tornarem saturados com soluções<br />

antissépticas fortes, eles devem ser substituídos por novos lençóis ou<br />

campos. Não se deve permitir que as soluções escorram por baixo de<br />

um torniquete. Soluções à base de álcool devem ser removidas do<br />

campo, uma vez que podem provocar incêndio a partir de uma faísca<br />

de uma unidade de cauterização.<br />

Se um paciente é alérgico a iodo, álcool simples pode ser usado<br />

na preparação da pele. Antissépticos coloridos, comumente usados<br />

em cirurgia abdominal, não são adequados para cirurgia das extremidades<br />

quando há preparação dos artelhos ou das unhas. A maioria<br />

destas soluções é difícil de remover, e a cor vermelha, rosa ou laranja<br />

residual dificulta a avaliação da circulação após a cirurgia.<br />

Quando há feridas traumáticas, a tintura de iodo e outras<br />

soluções que contenham álcool não devem ser usadas para a preparação<br />

antisséptica da ferida. Em vez disso, soluções de iodopovidona<br />

ou hexaclorofeno sem álcool devem ser usadas para evitar a morte<br />

do tecido.<br />

Nas operações ao redor do terço superior da coxa, da pelve ou<br />

da coluna lombar inferior em pacientes do sexo masculino, a genitália<br />

deve ser deslocada e mantida longe do campo operatório com fita<br />

adesiva. Da mesma maneira, uma tira de fita longa e larga ajuda a<br />

cobrir a fenda glútea, onde há potencial de infecção. Nas pacientes do<br />

sexo feminino, a área genital e a fenda glútea também são cobertas<br />

longitudinalmente com tiras de fita adesiva. Panos cirúrgicos plásticos,<br />

aderentes e estéreis podem ser usados para essas finalidades.<br />

Antes da preparação do campo operatório na região da coluna<br />

lombar inferior, articulações sacroilíacas ou nádegas, a fenda glútea<br />

é limpa com uma esponja com álcool e gaze seca estéril é inserida<br />

ao redor do ânus, para evitar que o iodo ou outras soluções escorram<br />

para esta região, causando dermatite.<br />

Brown et al. e outros recomendam que, antes da artroplastia<br />

total da articulação, a extremidade deve ser segurada por um assistente<br />

paramentado, pois isso reduz a contagem do ar bacteriano em<br />

quase a metade. Eles também recomendam que os pacotes de instrumentos<br />

não sejam abertos até que a preparação da pele e a colocação<br />

do campo cirúrgico sejam concluídas.<br />

Quando estas preparações são feitas às pressas, o avental ou as<br />

luvas do assistente estéril que está preparando a área podem ser contaminados<br />

sem o conhecimento do mesmo. Para evitar isso, um enfermeiro<br />

ou anestesista deve ser convocado para assistir este estágio de<br />

preparação.<br />

SOLUÇÕES PARA IRRIGAÇÃO DE FERIDA<br />

Na nossa instituição, rotineiramente irrigamos as feridas cirúrgicas<br />

limpas com soro fisiológico estéril ou solução de Ringer com lactato<br />

a fim de mantê-las úmidas. Às vezes, se o risco de contaminação da<br />

ferida for alto, soluções antimicrobianas para irrigação são usadas.<br />

Dirschl e Wilson recomendam uma solução antibiótica tripla de<br />

bacitracina, neomicina e polimixina, pois esta fornece a mais completa<br />

cobertura para feridas limpas e contaminadas. As soluções<br />

antibióticas devem permanecer na ferida por pelo menos 1 minuto.<br />

Sistemas de lavagem pulsátil são mais eficazes na irrigação da ferida<br />

do que seringas simples do tipo alinhavo.<br />

COLOCAÇÃO DO CAMPO CIRÚRGICO<br />

A colocação do campo cirúrgico é um passo importante em qualquer<br />

procedimento cirúrgico e não deve ser atribuída a um assistente inexperiente.<br />

A colocação casual que resulta na exposição de áreas despreparadas<br />

da pele no meio de uma operação pode ser catastrófica. É<br />

necessário ter uma experiência considerável na colocação do campo<br />

cirúrgico não só para evitar a sua desorganização durante a operação,<br />

mas também para evitar a contaminação do cirurgião e dos campos.<br />

Se há a menor dúvida quanto à esterilidade dos campos ou do cirurgião<br />

quando a colocação for concluída, todo o processo deve ser<br />

repetido. A menos que os assistentes sejam bem treinados, o cirurgião<br />

deve realizar a colocação dos campos no paciente.<br />

Na camada de base dos campos cirúrgicos, ganchos de toalha ou<br />

grampos de pele são colocados através dos campos e da pele a fim de<br />

evitar o escorregamento dos campos e a exposição da pele contaminada.


CBR - CABEÇA E PESCOÇO<br />

Ano: 2017<br />

Editora: Elsevier<br />

Nº de Páginas: 856<br />

Formato: 21,6 x 27,6 cm<br />

Área: Medicina<br />

A seguir algumas páginas


Série<br />

Colégio Brasileiro<br />

de Radiologia e Diagnóstico<br />

por Imagem<br />

CABEÇA<br />

E PESCOÇO<br />

EDITORES ASSOCIADOS<br />

Ademar José de Oliveira Paes Junior<br />

Rainer G. Haetinger<br />

EDITORES DA SÉRIE<br />

C. Isabela S. Silva<br />

Giuseppe D’Ippolito<br />

Antônio José da Rocha


Série<br />

Colégio Brasileiro<br />

de Radiologia e Diagnóstico<br />

por Imagem<br />

Ademar José de Oliveira Paes Junior<br />

Doutor em Ciências na área de Radiologia e Diagnóstico por Imagem<br />

pelo Instituto de Radiologia da Faculdade de Medicina da Universidade<br />

de São Paulo.<br />

Médico Radiologista responsável pela área de Radiologia em Cabeça e<br />

Pescoço da Clínica Imagem e Hospital Baía Sul, Florianópolis, SC.<br />

Editor da revista Arquivos Catarinenses de Medicina, órgão de<br />

divulgação científica da Associação Catarinense de Medicina.<br />

Membro-titular do Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por<br />

Imagem.<br />

Rainer G. Haetinger<br />

Doutor em Ciências na área de Anatomia Morfofuncional pelo Instituto<br />

de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo.<br />

Professor da Pós-graduação no Departamento de Anatomia do Instituto<br />

de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo.<br />

Médico Radiologista responsável pela Radiologia de Cabeça e Pescoço<br />

e coordenador da Tomografia Computadorizada na Med Imagem,<br />

Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo.<br />

Membro-titular do Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por<br />

Imagem.


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ISBN: 978-85-352-3141-0<br />

ISBN versão eletrônica: 978-85-352-8585-7<br />

Capa<br />

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H157c<br />

de Oliveira Paes Junior, Ademar J.<br />

Cabeça e pescoço / Ademar José de Oliveira Paes Junior, Rainer G. Haetinger - 1. ed. - Rio de<br />

Janeiro :<br />

Elsevier, 2017.<br />

: il. (Colégio brasileiro de radiologia e diagnóstico por imagem)<br />

Inclui bibliografia e índice<br />

ISBN 978-85-352-3141-0<br />

1. Cabeça - Radiografia. 2. Pescoço - Radiografia. 3. Diagnóstico por imagem. I.<br />

José de Oliveira Paes Junior, Ademar. II. Título. III. Série.<br />

16-36773 CDD: 616.07572<br />

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04/10/2016 07/10/2016


Capítulo 6 Glândulas 6Salivares 303<br />

CAPÍtulo<br />

Glândulas salivares<br />

Luiz de Abreu Junior<br />

Renato Sartori de Carvalho<br />

Rainer G. Haetinger<br />

Ademar José de Oliveira Paes Junior<br />

QQIntrodução<br />

As glândulas salivares podem ser divididas em dois grupos<br />

exócrinos: glândulas salivares maiores e glândulas salivares<br />

menores. As glândulas salivares maiores incluem as glândulas<br />

parótidas, submandibulares e sublinguais. As centenas de glândulas<br />

salivares menores estão dispostas na mucosa da cavidade<br />

oral e faringe, principalmente orofaringe.<br />

A grande função das glândulas salivares é a secreção de saliva,<br />

que, por sua vez, apresenta um importante papel na lubrificação<br />

dentária e da mucosa na digestão e na imunidade, além<br />

de um papel adjunto na manutenção da homeostase do corpo<br />

humano. A redução da secreção salivar resulta em deterioração<br />

da saúde bucal, apresentando impacto na qualidade de vida<br />

do paciente.<br />

Pacientes com boca seca apresentam dificuldade para engolir,<br />

falar, usar próteses dentárias, ficando mais sucetíveis a ulcerações<br />

da mucosa oral. Também podem apresentar alterações gustativas,<br />

redução da higiene oral, sensação de queimação bucal,<br />

predispondo ao aparecimento de infecções por Candida albicans<br />

e, consequentemente, ao aparecimento de cáries dentárias. O<br />

uso de várias medicações é outro fator pode reduzir a produção<br />

salivar. Xerostomia também ocorre na síndrome de Sjögren e<br />

após tratamento radioterápico dos tumores de cabeça e pescoço.<br />

As glândulas salivares podem ser afetadas por uma grande<br />

variedade de processos patológicos: lesões inflamatórias, infecciosas,<br />

sistêmicas, obstrutivas ou neoplásicas, com uma grande<br />

diversidade de lesões malignas e benignas, apesar da baixa<br />

incidência das neoplasias salivares. Os tumores das glândulas<br />

salivares correspondem a menos de 3% dos tumores de cabeça<br />

e pescoço e menos de 0,1% das mortes causadas por câncer.<br />

Os tumores parotídeos correspondem à grande maioria dos<br />

tumores de glândulas salivares, seguidos por ordem de frequência<br />

pelas glândulas submandibulares, salivares menores,<br />

sublinguais e ectópicas. Acredita-se que as células basais dos<br />

ductos excretores e as células pertencentes aos ductos intercalados<br />

agem como células de reserva para células mais diferenciadas<br />

da unidade glandular salivar e, consequentemente, que<br />

os tumores epiteliais se originam destas células de reserva, em<br />

vez do ácino glandular.<br />

Epidemiologicamente, os tratamentos radioterápicos podem<br />

predispor ao aparecimento de tumores das glândulas salivares.<br />

Existem também relatos de predisposição aos tumores salivares<br />

relacionada ao vírus Epstein-Barr (EBV), principalmente ao<br />

carcinoma indiferenciado, especialmente em chineses e indivíduos<br />

de etnia esquimó. Infecções relacionadas a HIV, herpes e<br />

papiloma não são descritas na literatura como fatores de risco<br />

para a etiologia dos tumores.<br />

303


304 Capítulo 6 Glândulas Salivares<br />

Glândula parótida primitiva<br />

LÍNGUA<br />

Glândula submandibular primitiva<br />

Glândula sublingual primitiva<br />

FIGURA 6-1. Glândulas salivares maiores primitvas durante a fase embrionária. (Ilustração: Margareth Baldissara)<br />

QQEmbriologia<br />

O desenvolvimento das glândulas salivares ocorre da sexta à oitava<br />

semana de gestação, quando divertículos orais ectodérmicos<br />

se estendem para o mesoderma adjacente, local de origem<br />

das glândulas salivares maiores.<br />

Com o aparecimento de fendas epiteliais, inicia-se a<br />

formação de brotos ductais, revestidos internamente por<br />

células ciliadas e externamente por células ectodérmicas<br />

mioepiteliais, formando a aparência precoce de lóbulos e<br />

canalização ductal. Inicia-se então a formação de ácinos e<br />

ductos intercalados.<br />

A primeira glândula a aparecer é a glândula parótida primordial,<br />

que se desenvolve a partir do estomodeu posterior<br />

(Capítulo 1), alongando-se através de cordões sólidos junto ao<br />

desenvolvimento do músculo masseter. Esses cordões canalizam-se,<br />

formando os ductos e após os ácinos nas porções distais.<br />

No assoalho da boca, inicia-se a formação de pequenos<br />

brotamentos bilaterais à lingua durante a sexta semana de<br />

gestação, estendendo-se posteriormente junto aos músculos<br />

milo-hióideos, iniciando-se o desenvolvimento das glândulas<br />

submandibulares.<br />

Ainda no assoalho da boca, o aparecimento de brotos epiteliais<br />

ectodérmicos nos sulcos paralinguais dá origem às glândulas<br />

sublinguais (Fig. 6-1). Linfonodos e ductos maiores não se<br />

desenvolvem no interior destas glândulas.<br />

O ectoderma do trato respiratório superior origina estruturas<br />

tubuloacinares simples, que por sua vez vão se desenvolver<br />

em glândulas salivares menores, durante a décima segunda semana<br />

de gestação.<br />

Anatomia das Glândulas Salivares<br />

As glândulas parótidas, submandibulares e sublinguais são conhecidas<br />

como glândulas salivares maiores, cada uma delas com<br />

sua anatomia, histologia e fisiologia individualizadas (Fig. 6-2).<br />

As glândulas salivares menores correspondem a aglomerados<br />

submucosos de tecido glandular na cavidade oral e faringe. A<br />

maior parte está localizada nos lábios, na mucosa oral e no palato,<br />

embora possam estar também presentes junto a tonsilas,<br />

região supraglótica e seios paranasais.


Capítulo 6 Glândulas Salivares 305<br />

Parótida<br />

Sublingual<br />

Submandibular<br />

FIGURA 6-2. Desenho das glândulas salivares maiores: parótida, submandibular e sublingual. (Ilustração: Margareth Baldissara)<br />

Papila incisiva<br />

Pregas palatinas<br />

transversas<br />

Rafe do palato<br />

Processo palatino<br />

da maxila<br />

Glândulas palatinas<br />

Lâmina horizontal<br />

do osso palatino<br />

Aponeurose palatina<br />

(do músculo tensor<br />

do véu palatino)<br />

Músculo da úvula<br />

Glândulas salivares<br />

menores (molares)<br />

Músculo<br />

palatofaríngeo<br />

Tonsila palatina<br />

l<br />

Fossa incisiva<br />

Artéria e nervo palatinos maiores<br />

Forame palatino maior<br />

Forame palatino menor<br />

Artéria e nervos palatinos menores<br />

Tendão do músculo tensor<br />

do véu palatino<br />

Hâmulo pterigoideo<br />

Fibras interdigitais do músculo<br />

levantador do véu palatino<br />

Músculo bucinador<br />

Rafe pterigomandibular<br />

Músculo constritor<br />

superior da faringe<br />

Músculo palatoglosso<br />

Vista anterior<br />

FIGURA 6-3. Desenho das glândulas salivares menores. (De Norton, N. Netter Atlas de Cabeça e Pescoço, 2ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012. Com permissão)


306 Capítulo 6 Glândulas Salivares<br />

QQAnatomia por Tomografia Computadorizada e<br />

Ressonância Magnética<br />

mhg<br />

sl<br />

sm<br />

h<br />

sm<br />

mmh<br />

sm<br />

mgg<br />

sm<br />

mecm<br />

vji<br />

aci<br />

mecm<br />

vji<br />

aci<br />

A<br />

B<br />

mm<br />

mpm<br />

mgg<br />

p<br />

vrm<br />

sm<br />

mmh<br />

h<br />

C<br />

d<br />

pe<br />

p<br />

vji<br />

e<br />

sl<br />

vamd<br />

f<br />

mecm<br />

FIGURA 6-4. Imagens de Tomografia Computadorizada demonstrando as relações das glândulas parótidas (p), submandibulares (sm) e sublinguais (sl) com os<br />

músculos milo-hioideo (mmh), pterigoideo medial (mpm), músculo genio-hioideo (mgh), músculo genioglosso (mgg), osso hioide (h), músculo esternocleidomastoideo<br />

(mecm), artéria carótida interna (aci), veia jugular interna (vji), veia retromandibular (vrm), músculo masseter (mm), músculo pterigoideo medial (mpm), músculo<br />

pterigoideo lateral (mpl), ventre anterior do músculo digástrico (vamd), processo estiloide (pe).


Capítulo 6 Glândulas Salivares 307<br />

vamd<br />

mm<br />

sl<br />

mgh<br />

mmh<br />

sm<br />

vji<br />

sm<br />

p<br />

mecm<br />

mecm<br />

A<br />

B<br />

mpm<br />

mm<br />

mm<br />

vrm<br />

mpm<br />

p<br />

p<br />

C<br />

vpmd<br />

D<br />

vrm<br />

Ducto de Stensen<br />

Ducto de Stensen<br />

Músculo bucinador<br />

p<br />

E<br />

F<br />

FIGURA 6-5. Imagens de Ressonância magnética ponderadas em T1 demonstrando as relações das glândulas parótidas (p), submandibulares (sm) e sublinguais (sl)<br />

com os músculos milo-hioideo (mmh), pterigoideo medial (mpm), músculo genio-hioideo (mgh), músculo genioglosso (mgg), osso hioide (h), músculo esternocleidomastoideo<br />

(mecm), artéria carótida interna (aci), veia jugular interna (vji), veia retromandibular (vrm), músculo masseter (mm), músculo pterigoideo medial (mpm),<br />

músculo pterigoideo lateral (mpl), ventre anterior do músculo digástrico (vamd), ventre posterior do músculo digástrico (vpmd), processo estiloide (pe).


308 Capítulo 6 Glândulas Salivares<br />

sm<br />

A<br />

B<br />

sl<br />

mm<br />

mm<br />

mpm<br />

sm<br />

mmh<br />

sm<br />

C<br />

D<br />

p<br />

mecm<br />

E<br />

FIGURA 6-5. (continuação).


Capítulo 6 Glândulas Salivares 309<br />

Anatomia da Glândula Parótida<br />

A glândula parótida apresenta localização posterior ao ramo<br />

da mandíbula, junto ao tecido celular subcutâneo da região<br />

pré-auricular. No conceito cirúrgico, a parótida é dividida<br />

em lobos superficial e profundo, baseado no trajeto do nervo<br />

facial, contornando posterolateralmente a veia retromandibular<br />

(Fig. 6-6.A). Não há divisão estrutural entre os lobos.<br />

O lobo superficial corresponde a cerca de 80% do parênquima,<br />

localizando-se superficialmente ao músculo masseter, ao<br />

ramo da mandíbula e anteriormente ao meato acústico externo,<br />

estendendo-se cranialmente em direção ao arco zigomático.<br />

O lobo profundo corresponde a cerca de 20% de seu parênquima<br />

e estende-se medialmente através do canal ou túnel estilomandibular,<br />

posteriormente à borda do ramo da mandíbula,<br />

anteriormente à borda do ventre posterior do músculo digástrico.<br />

O canal ou túnel estilomandibular é delimitado pela borda<br />

posterior do ramo da mandíbula e pelo processo estiloide.<br />

Em algumas pessoas, podemos observar a presença de glândula<br />

parótida acessória, localizada na região anterior da face<br />

lateral do músculo masseter (Fig. 6-7).<br />

A<br />

B<br />

FIGURA 6-6. A, Divisão cirúrgica da glândula parótida em lobos superficial e profundo com base no trajeto do nervo facial (linha amarela) e na veia retromandibular<br />

(em azul). Junto à veia retromandibular está a artéria carótida externa (em vermelho). B, Trajetos dos ramos do nervo facial na face. (Ilustração: Margareth<br />

Baldissara)<br />

A<br />

B<br />

FIGURA 6-7. Glândulas salivares acessórias. Observe o aspecto e a topografia normais das glândulas acessórias (setas) nas imagens ponderadas em T2 (A) e STIR (B).


Este livro apresenta uma abordagem<br />

istência dos materiais: uma abordagem sintética apresenconteúdo<br />

clássico relacionado com o tema (equilíbrio,<br />

mática, solicitações, dimensionamento e estabilidade)<br />

uma abordagem atual e diferenciada, na qual foram<br />

uídos tópicos fundamentais para o entendimento do<br />

nto como propriedades geométricas das áreas e introduà<br />

Teoria da Elasticidade.<br />

leta de exercícios resolvidos e de propostas para desenimento<br />

de projetos práticos, o objetivo desta obra é apretar<br />

um conteúdo que possa ser utilizado da primeira à<br />

a página, nos mais diversos cursos de graduação em<br />

enharia, e servir como referência de consulta rápida de<br />

rmações para alunos de cursos de pós-graduação.<br />

RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS MARCELO GRECO | DANIEL NELSON MACIEL<br />

MARCELO GRECO | DANIEL NELSON MACIEL<br />

RESISTÊNCIA<br />

DOS<br />

MATERIAIS<br />

Uma abordagem sintética<br />

inovadora que sintetiza assuntos<br />

relacionados com a disciplina Resistência<br />

dos Materiais, com exercícios<br />

resolvidos e propostos, além de<br />

sugestões para desenvolvimento de<br />

projetos práticos. A importância dos<br />

projetos práticos está relacionada com<br />

os problemas reais de engenharia, nos<br />

quais nem sempre as especificações de<br />

projeto são claramente definidas. Ao<br />

conteúdo clássico relacionado com o<br />

tema (equilíbrio, cinemática, solicitações,<br />

dimensionamento e estabilidade)<br />

foram incluídos tópicos de fundamentação<br />

como propriedades geométricas<br />

das áreas e introdução à Teoria da<br />

Elasticidade, de modo a oferecer uma<br />

abordagem diferenciada, voltada a<br />

alunos de graduação das mais diversas<br />

áreas de engenharia.<br />

RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS<br />

Ano: 2016<br />

Editora: Elsevier<br />

Nº de Páginas: 336<br />

Formato: 21 x 27 cm<br />

Área: Engenharia<br />

A seguir algumas páginas


MARCELO GRECO | DANIEL NELSON MACIEL<br />

RESISTÊNCIA<br />

DOS<br />

MATERIAIS<br />

Uma abordagem sintética


Resistência dos<br />

Materiais<br />

Uma Abordagem Sintética<br />

Marcelo Greco<br />

Daniel Nelson Maciel


© 2016, Elsevier Editora Ltda.<br />

Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei nº 9.610, de 19/02/1998.<br />

Nenhuma parte deste livro, sem autorização prévia por escrito da editora, poderá ser<br />

reproduzida ou transmitida sejam quais forem os meios empregados: eletrônicos, mecânicos,<br />

fotográficos, gravação ou quaisquer outros.<br />

Copidesque: Angélica Angelo<br />

Revisão: Silvia Barbosa Lima<br />

Editoração Eletrônica: IO Design<br />

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0800-026 5340 atendimento1@elsevier.com<br />

ISBN: 978-85-352-7458-5<br />

ISBN (versão digital): 978-85-352-7459-2<br />

Nota: Muito zelo e técnica foram empregados na edição desta obra. No entanto,<br />

podem ocorrer erros de digitação, impressão ou dúvida conceitual. Em qualquer<br />

das hipóteses, solicitamos a comunicação ao nosso Serviço de Atendimento ao<br />

Cliente, para que possamos esclarecer ou encaminhar a questão.<br />

Nem a editora nem o autor assumem qualquer responsabilidade por eventuais<br />

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CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDI-<br />

CATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ<br />

G829r<br />

Greco, Marcelo<br />

Resistência dos materiais : uma abordagem sintética / Marcelo<br />

Greco, Daniel Nelson Maciel. - 1. ed. - Rio de Janeiro : Elsevier, 2016.<br />

il. ; 27 cm.<br />

Inclui bibliografia<br />

ISBN 978-85-352-7458-5<br />

1. Materiais. 2. Projetos de engenharia. I. Maciel, Daniel<br />

Nelson. II. Título.<br />

16-35030 CDD: 620.11<br />

CDU: 620.1/.2<br />

28/07/2016 01/08/2016


CAPÍTULO<br />

Propriedades Geométricas<br />

das Áreas Planas<br />

1<br />

Este livro iniciará o estudo da Resistência dos Materiais abordando as propriedades<br />

geométricas das áreas planas, que são utilizadas na análise do comportamento mecânico<br />

de seções transversais de elementos estruturais. Serão apresentados os conceitos<br />

fundamentais e as aplicações em problemas associados à Resistência dos Materiais.<br />

Para o cálculo dos valores principais dos momentos de inércia em relação aos eixos no<br />

plano da área será introduzido o conceito de tensores e suas transformações, assunto<br />

abordado com maior profundidade no próximo capítulo que tratará da introdução à<br />

Teoria da Elasticidade. Uma breve aplicação do círculo de Mohr para transformações<br />

de momentos de inércia também será apresentada neste capítulo.<br />

1 Propriedades Geométricas<br />

O escopo da resistência dos materiais é descrever o comportamento mecânico dos corpos<br />

sólidos deformáveis por meio de equacionamentos. A descrição geralmente é de natureza<br />

diferencial e possibilita encontrar soluções de engenharia capazes de suportar o nível de<br />

ações de serviço às quais os componentes estruturais são submetidos ao longo de suas<br />

I<br />

vidas úteis. Vale salientar que existem soluções X<br />

de engenharia consagradas, mas sempre<br />

há uma característica aproximada, tanto em termos teóricos como em termos conceptivos.<br />

A melhor maneira conhecida de racionalizar a análise mecânica nos sólidos é formular<br />

teorias baseadas em propriedades físicas e geométricas dos elementos analisados.<br />

Neste sentido, as propriedades baricêntricas e centroidais dos corpos sólidos analisados<br />

são importantes. E este capítulo dedica-se ao estudo dessas propriedades.<br />

1.1 Baricentro<br />

É uma característica física do sólido, associada ao ponto pelo qual a linha de ação da força<br />

peso sempre atua. O baricentro também é conhecido como Centro de Gravidade (C.G.).<br />

A Fig. 1.1 apresenta um procedimento prático para determinar a posição do baricentro no<br />

CG<br />

(A)<br />

(B)<br />

Figura 1.1 Linhas de ação da força peso<br />

em duas posições de equilíbrio diferentes<br />

(A) e (B).<br />

1


44 CAPÍTULO 1 Propriedades Geométricas das Áreas Planas<br />

Exercício resolvido<br />

Calcular os momentos principais de inércia da seção “L” e o ângulo principal em relação<br />

ao sistema de referência X 0 Y 0 , usando o círculo de Mohr.<br />

2<br />

Yo<br />

Tensor das inércias:<br />

[I ] x0 y 0<br />

= 3156<br />

2825<br />

2825<br />

676,3<br />

cm 4<br />

22<br />

2,875<br />

Xo<br />

7,875<br />

2<br />

12<br />

Cotas em [cm]<br />

Figura 1.50 Área “L” utilizada para o cálculo dos momentos de inércia principais.<br />

_<br />

I_<br />

XY<br />

3156 + 676,3<br />

l med = = 1916,15 cm 4<br />

2<br />

-(-825)<br />

B<br />

R =<br />

3156 1 676,3<br />

2<br />

2<br />

+ (2825) 2 = 1489,25 cm 4<br />

676,3<br />

3156<br />

2θ p<br />

_ _<br />

I_<br />

X,<br />

I_<br />

Y<br />

-825<br />

A<br />

Figura 1.51 Construção inicial do círculo de Mohr para o cálculo dos momentos de inércia principais.<br />

Inércias principais:<br />

Ângulo principal: tg2qp =<br />

I 1 = Imed + R = 3405,35 cm 4<br />

I 2 = Imed 2 R = 426,85 cm 4<br />

825<br />

(3156 2 676,3) ⇒ 2qp = 33,64 o ↺<br />

/ 2<br />

qp = 16,82 o ↺


CAPÍTULO<br />

Análise de Estados<br />

Particulares de Tensão<br />

3<br />

Este capítulo trata da análise de problemas de Resistência dos Materiais relacionados<br />

a casos que envolvem estados de tensão mais simples. Serão estudados também<br />

problemas com vasos de pressão das paredes finas, solicitação axial e cisalhamento<br />

simples. Serão introduzidos conceitos importantes, como o Princípio de Saint-Venant<br />

e o Princípio da Superposição de Efeitos, além de uma breve discussão a respeito<br />

das propriedades mecânicas dos materiais isotrópicos, aplicadas na resolução de<br />

problemas dos estados particulares de tensão estudados neste capítulo. Também<br />

serão abordadas neste capítulo as transformações de tensores usando o círculo de<br />

Mohr, como alternativa mais simples às transformações tensoriais apresentadas no<br />

capítulo anterior deste livro.<br />

1 Análise dos estados planos de tensão e deformação<br />

A transformação dos estados de tensão por rotação foi apresentada no capítulo anterior,<br />

aplicada tanto a casos bidimensionais (estados planos de tensão) quanto a casos<br />

tridimensionais. Neste item, é possível obter equações algébricas de transformação de<br />

tensões que possam ser utilizadas diretamente na análise de estados planos de tensão.<br />

A Fig. 3.1 apresenta um estado de tensões inicial, descrito em termos do sistema de<br />

coordenadas XY, que será transformado em um estado de tensões rotacionado X 1 Y 1 .<br />

Na realidade, o estado inicial e o estado transformado são sobrepostos e na figura são<br />

expostos separadamente apenas para facilitar a visualização.<br />

σ Y<br />

t XY<br />

σ Y1<br />

t X1Y1<br />

t X1Y1<br />

Y<br />

t XY<br />

Y 1<br />

X 1<br />

σ X1<br />

σ x<br />

X<br />

σ x<br />

θ<br />

t XY<br />

σ X1<br />

t XY<br />

t X1Y1<br />

t X1Y1<br />

σ Y1<br />

σ Y<br />

(A)<br />

(B)<br />

Figura 3.1 Componentes de um estado plano de tensões transformado por rotação: (A) estado inicial de<br />

tensões; (B) estado transformado de tensões.<br />

93


CAPÍTULO<br />

Torção<br />

4<br />

Este capítulo trata do estudo do problema da torção em elementos estruturais. Inicialmente<br />

será desenvolvida a fórmula da torção para situações de eixos com seção<br />

transversal circular, que são os mais eficientes para resistir ao torque.<br />

Na sequência do capítulo serão apresentadas as fórmulas relacionadas com a torção<br />

em seções transversais de paredes finas fechadas e abertas, além da extensão do equacionamento<br />

para o caso de seções de paredes finas multicelulares.<br />

Serão ainda descritos os procedimentos de cálculo para o caso de torção de barras<br />

constituídas por outros tipos de seções transversais maciças, baseado no método<br />

semi-inverso de Saint-Venant, e uma breve descrição da analogia da membrana.<br />

Tópicos especiais como dimensionamento de elementos discretos de ligação utilizados<br />

para resistir à torção e estruturas de molas helicoidais também serão discutidos<br />

brevemente neste capítulo.<br />

1 Torção em barras de seção circular<br />

As barras com seções circulares são importantes no estudo da torção por dois aspectos.<br />

O primeiro está relacionado à eficiência desse tipo de seção quando submetida à torção<br />

pura 1 , que é a mais eficiente por apresentar menor nível de tensões e deformações<br />

quando construída com a mesma quantidade de material. O segundo aspecto é devido<br />

ao fato de problemas mais complexos, como torções de seções maciças quaisquer,<br />

fornecerem fórmulas para distribuição de tensões de cisalhamento máximas similares à<br />

fórmula da torção obtida no caso da torção de seções circulares. Neste ponto, é possível<br />

distinguir uma diferença do tipo de tensão provocada na seção pela torção. Ou seja, a<br />

torção produz nas seções transversais tensões de cisalhamento, que atuam no próprio<br />

plano da área da seção.<br />

Para o cálculo de tensões de cisalhamento em uma barra com comportamento elástico<br />

linear submetida à torção pura, considera-se a hipótese de distribuição proporcional de<br />

tensões ao longo da direção radial da seção transversal, conforme apresentado na Fig. 4.1.<br />

É importante destacar que, por hipótese de cálculo, qualquer direção radial da seção<br />

apresentará a mesma distribuição de tensões. Assim, as tensões de cisalhamento<br />

são máximas na superfície da barra 2 e nulas sobre o eixo da barra. Considerando uma<br />

distância radial do centro da barra (r) e o raio da seção circular (c), é possível estabelecer<br />

a relação de proporcionalidade entre a tensão de cisalhamento no ponto interno<br />

considerado (τ) e a tensão de cisalhamento máxima no limite da seção (τ máx ).<br />

τ = ρ c . τ máx<br />

(4.1)<br />

1. Barra submetida apenas a solicitação de torques.<br />

2. E também nos limites da seção transversal circular.<br />

171


CAPÍTULO<br />

Flexão e Linha Elástica<br />

5<br />

Este capítulo trata do estudo do problema da flexão em elementos estruturais e da cinemática<br />

relacionada a este tipo de solicitação. Inicialmente será desenvolvida a Fórmula<br />

da Flexão pura reta 1 para o caso de elementos estruturais sem curvatura inicial, que<br />

são encontrados em aplicações estruturais. Na sequência do capítulo será apresentado<br />

o estudo de vigas constituídas por mais de um material, com o uso da técnica da homogeneização.<br />

O caso de flexão assimétrica, em relação a dois eixos perpendiculares<br />

da seção, será o próximo tópico apresentado juntamente com a flexão associada à<br />

solicitação de força normal. Por fim, serão abordados dois tópicos um pouco mais<br />

avançados, como flexão em vigas com curvatura inicial circular e flexão elastoplástica.<br />

1 Deformação por flexão pura reta em um elemento sem<br />

curvatura inicial<br />

Solicitações por flexão são muito comuns em elementos estruturais dos tipos mais diversos.<br />

No caso da engenharia aeroespacial, a longarina da asa do avião é um exemplo<br />

de viga “I” solicitada principalmente à flexão. Em Engenharia Mecânica, conjuntos de<br />

travessas, longarinas de caminhões e pontes rolantes são exemplos típicos de elementos<br />

solicitados à flexão. Já na Engenharia Civil, as vigas e placas 2 são elementos estruturais<br />

essencialmente solicitados à flexão.<br />

A cinemática utilizada no desenvolvimento deste capítulo será adequada para o<br />

caso de vigas com relação das dimensões da seção transversal por comprimento menores<br />

que 10%. Tal cinemática é conhecida como cinemática de Bernoulli-Euler. Há<br />

outra cinemática conhecida como cinemática de Reissner 3 que é a mais adequada para<br />

vigas com essa relação superior a 10%, sendo aplicada nas denominadas vigas de<br />

Timoshenko. A hipótese cinemática de Reissner é aplicada nas vigas de Timoshenko,<br />

que consideram uma distribuição média constante para as tensões de cisalhamento<br />

causadas pela flexão e são aplicáveis em vigas com geometria mais próxima às chapas 4 .<br />

Para o cálculo de tensões normais em uma barra inicialmente reta (configuração<br />

inicial) com comportamento elástico linear submetida à flexão pura atuando no eixo<br />

normal ao plano, considera-se a hipótese cinemática apresentada na Fig. 5.1 (configuração<br />

deformada).<br />

1. Se refere ao momento fletor atuando em apenas um eixo da seção transversal.<br />

2. As placas são elementos estruturais que apresentam uma das dimensões geométricas (no caso a espessura) consideravelmente<br />

menor que as demais e sobre as quais o carregamento atua na direção normal à superfície preponderante. São<br />

elementos indicados para o uso em lajes de edificações.<br />

3. O tipo de cinemática vem da teoria de placas, na qual há uma cinemática mais adequada para chapas finas (com relação<br />

espessura/dimensão menor que 10%) conhecida como cinemática de Kirchhoff. Outra cinemática mais adequada para<br />

chapas espessas (com relação espessura/dimensão maior que 10%) é a conhecida como cinemática de Reissner-Mindlin.<br />

4. As chapas são elementos estruturais semelhantes às placas, porém o carregamento é aplicado no próprio plano do<br />

elemento. São elementos encontrados em aplicações de painéis, vigas-parede e mecanismos de apoio e de ligação.<br />

217


CAPÍTULO<br />

Cisalhamento<br />

6<br />

Este capítulo trata do estudo do problema do cisalhamento associado à flexão em<br />

elementos estruturais e da cinemática relacionada a esse tipo de solicitação. Inicialmente<br />

será deduzida a fórmula do cisalhamento para o caso de elementos estruturais<br />

reticulados. Na sequência do capítulo, desenvolve-se o estudo da influência das seções<br />

transversais solicitadas ao esforço de cisalhamento. Ademais, o conceito de fluxo de<br />

cisalhamento será introduzido para aplicações de seções de paredes finas, também será<br />

abordado o dimensionamento de ligações em seções transversais compostas por elementos<br />

independentes. Por fim, será apresentado o conceito de centro de cisalhamento.<br />

1 Cisalhamento em vigas reticuladas prismáticas<br />

As tensões de cisalhamento em vigas reticuladas prismáticas são causadas pelos esforços<br />

cortantes atuantes nas seções transversais. Se além do esforço cortante a seção<br />

for solicitada à flexão, ocorrem distribuições complexas de tensões de cisalhamento.<br />

São admitidas as seguintes hipóteses de cálculo:<br />

a) As tensões de cisalhamento (τ) são paralelas à força cortante (V) sobre a Linha<br />

Neutra (L. N.) da seção;<br />

b) Para larguras de seção (t) constantes, as tensões de cisalhamento são<br />

distribuídas uniformemente para cada posição na altura;<br />

c) Consideram-se inicialmente elementos reticulados e prismáticos na dedução da<br />

fórmula do cisalhamento.<br />

Na Fig. 6.1 é apresentada a distribuição das tensões de cisalhamento sobre a linha<br />

neutra de uma seção transversal de viga prismática, provocada por um momento fletor<br />

(M Z ) e esforço cortante (V) positivos, de acordo com a convenção usual de esforços<br />

solicitantes.<br />

y<br />

V<br />

Elemento no plano XY<br />

(posicionado sobre a L. N.)<br />

τ<br />

M z<br />

z<br />

t<br />

τ<br />

L. N.<br />

x<br />

τ<br />

y<br />

τ<br />

x<br />

τ<br />

Figura 6.1 Distribuição de tensões de cisalhamento máximas sobre a L.N. de uma viga submetida à solicitação<br />

combinada de flexão e cisalhamento.<br />

267


CAPÍTULO<br />

Estabilidade Elástica<br />

7<br />

Este capítulo trata do estudo da estabilidade elástica de colunas submetidas à compressão.<br />

Tal fenômeno também é conhecido como flambagem de colunas ou simplesmente<br />

flambagem. Trata-se de um problema geométrico associado à equação diferencial que<br />

descreve o comportamento de estruturas na iminência da perda de estabilidade.<br />

Serão apresentados inicialmente os conceitos fundamentais relacionados com<br />

estabilidade elástica e na sequência problemas relacionados com o cálculo de cargas<br />

críticas de flambagem em diversos tipos de situação. No final do capítulo serão desenvolvidas<br />

as fórmulas tangente e secante para o caso de colunas submetidas a forças de<br />

compressão com excentricidade.<br />

1 Conceitos fundamentais sobre estabilidade elástica<br />

A perda de estabilidade elástica em estruturas submetidas à compressão é um problema<br />

de autovalores e autovetores associado a uma condição crítica que ocorre nas equações<br />

diferenciais que governam o comportamento mecânico de estruturas esbeltas como<br />

colunas, placas, chapas e cascas 1 . Esse tipo de problema é comum em diversas áreas<br />

da ciência e engenharia, conforme pode ser visto em Prigogine (2002).<br />

O primeiro conceito fundamental no estudo da estabilidade elástica é a carga crítica.<br />

Em diversos tipos de análise estrutural procura-se descrever o comportamento dos sistemas<br />

em termos qualitativos, com o uso da chamada análise P - d. Esse tipo de análise<br />

permite descrever o comportamento global da estrutura (P - D) ou local (P - d) de acordo<br />

com uma força externa aplicada (P) e com os deslocamentos associados (d ou D) ao grau<br />

de liberdade 2 no qual a força é aplicada. Carga crítica (P CR ) é uma ação de compressão que<br />

altera o estado do equilíbrio estrutural. Se a carga aplicada for menor que a carga crítica<br />

(P < P CR ) assume-se que o sistema estrutural é estável. Se a carga aplicada for maior ou<br />

igual à carga crítica (P > P CR ) assume-se que o sistema estrutural é instável.<br />

O estado de equilíbrio de um sistema estrutural pode ser classificado em estável,<br />

instável ou indiferente. No equilíbrio estável, após a introdução de uma pequena perturbação<br />

o sistema retorna à sua posição inicial. No equilíbrio instável, após a introdução<br />

de uma pequena perturbação no sistema não é possível retornar à posição inicial.<br />

O fenômeno da perda de estabilidade estrutural está associado a uma condição crítica<br />

do sistema na qual o equilíbrio assume um comportamento instável. No equilíbrio<br />

1. Colunas são elementos estruturais reticulados que trabalham à compressão. Placas são elementos planos com ações<br />

aplicadas na direção normal ao plano. Chapas são elementos planos com ações aplicadas no próprio plano. Cascas são<br />

elementos planos ou curvos com espessura fina submetidos a forças que causam esforços em três direções distintas. O<br />

caso de perda de estabilidade em chapas é menos comum em relação ao dos demais elementos estruturais.<br />

2. Graus de liberdade são direções cartesianas, nas quais podem ser aplicados deslocamentos ou forças em um sistema<br />

estrutural discretizado. É um termo fundamental usado na área de métodos numéricos.<br />

293


DELINEAMENTO DE FORMAS FARMACÊUTICAS<br />

Ano: 2016<br />

Editora: Elsevier<br />

Nº de Páginas: 872<br />

Formato: 21 x 27 cm<br />

Área: Medicina<br />

A seguir algumas páginas


TraDuÇÃO Da<br />

4ª EDIÇÃO<br />

aulton<br />

Delineamento De<br />

Formas Farmacêuticas<br />

editado por<br />

Michael E. aulton<br />

Kevin M. G. Taylor


© 2016 Elsevier Editora Ltda.<br />

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ISBN: 978-85-352-8316-7<br />

ISBN versão eletrônica: 978-85-352-6278-0<br />

AULTON’S PHARMACEUTICs: THE DESIGN AND MANUFACTURE OF MEDICINES, 4TH EDITION<br />

Copyright © 2013 Elsevier Ltd. All rights reserved.<br />

First edition 1988<br />

Second edition 2002<br />

Third edition 2007<br />

Fourth Edition 2013<br />

This translation of Aulton’s Pharmaceutics: The Design and Manufacture of Medicines, 4th Edition, by Michael E. Aulton and Kevin M. G. Taylor was<br />

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Esta tradução de Aulton’s Pharmaceutics: The Design and Manufacture of Medicines, 4th Edition, de Michael E. Aulton e Kevin M. G. Taylor foi produzida<br />

por Elsevier Editora Ltda e publicada em conjunto com Elsevier Ltd.<br />

ISBN: 978-0-7020-4290-4<br />

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CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE<br />

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A924a<br />

4 ed.<br />

Aulton, Michael E.<br />

Aulton delineamento de formas farmacêuticas / Michael E. Aulton , Kevin M. G.<br />

Taylor ; [tradução Francisco Sandro Menezes]. - 4 ed. - Rio de Janeiro : Elsevier, 2016.<br />

il. ; 27 cm.<br />

Tradução de: Aulton’s pharmaceutics the design and manufacture of medicines,<br />

4th edition<br />

Inclui índice<br />

ISBN 978-85-352-8316-7<br />

1. Farmácia. I. Taylor, Kevin M. G. II. Menezes, Francisco Sandro. III. Título.<br />

15-28486 CDD: 615<br />

CDU: 615<br />

23/11/2015 25/11/2015


Quarta edição<br />

Editado por<br />

Michael E. Aulton BPharm PhD FAAPS FSP FRPharmS<br />

Emeritus Professor, School of Pharmacy, De Montfort University, Leicester, UK<br />

e<br />

Kevin M. G. Taylor BPharm PhD MRPharmS<br />

Professor of Clinical Pharmaceutics, UCL School of Pharmacy, London, UK


3 Propriedades das soluções<br />

Michael E. Aulton<br />

CONTEÚDO DO CAPÍTULO<br />

Introdução ................................. 36<br />

Tipos de solução. ........................... 37<br />

Pressões de vapor de sólidos, líquidos .<br />

e soluções. ............................. 37<br />

Soluções ideais: Lei de Raoult .............. 37<br />

Soluções reais ou não ideais ............... 38<br />

Ionização de solutos. ........................ 39<br />

Concentração de íon hidrogênio e pH. ....... 39<br />

Constantes de dissociação (ou de ionização);<br />

pK a e pK b ............................... 40<br />

Soluções-tampão e capacidade de .<br />

tamponamento. .......................... 42<br />

Propriedades coligativas. ..................... 43<br />

Pressão osmótica ........................ 43<br />

Difusão em solução. ......................... 44<br />

Resumo. ................................... 45<br />

Bibliografia. ................................ 45<br />

PONTOS-CHAVE<br />

• Uma vez que as soluções são produzidas, da forma<br />

descrita no capítulo anterior, elas têm várias<br />

propriedades importantes para a ciência<br />

farmacêutica.<br />

• Há vários tipos de solução que devem ser<br />

entendidos. Isso envolve as diferenças entre<br />

soluções teóricas ou “ideais” e as soluções “reais”<br />

encontradas na prática.<br />

• De particular relevância para a administração de<br />

fármacos pelo trato gastrintestinal é o grau de<br />

ionização de solutos e o efeito do pH nessa<br />

ionização.<br />

• O conceito de pH e pK a e sua inter-relação, e a<br />

ligação entre grau de ionização e solubilidade são<br />

fundamentais para entender a administração de<br />

fármacos no trato gastrintestinal, devido às<br />

mudanças de pH nas áreas próximas do trato<br />

durante a passagem do fármaco.<br />

• Outras propriedades das soluções de particular<br />

importância são: pressão de vapor, pressão<br />

osmótica e difusibilidade.<br />

Introdução<br />

O objetivo deste capítulo é fornecer informações sobre<br />

certas propriedades das soluções que se relacionam com<br />

sua aplicação nas ciências farmacêuticas. Este capítulo<br />

lida, principalmente, com as propriedades físico-químicas<br />

das soluções que são importantes quanto a sistemas<br />

farmacêuticos. Esses aspectos são abordados detalhadamente<br />

para apresentar o cientista farmacêutico a tais<br />

propriedades, a fim de possibilitar a compreensão de sua


Propriedades das soluções CAPÍTULO 3<br />

importância no delineamento de formas farmacêuticas e<br />

na administração de fármacos. Muito já foi publicado em<br />

outras fontes e com mais detalhamento. Por isso, o leitor<br />

que necessite de informações adicionais pode buscar<br />

algumas referindo-se à bibliografia no final do capítulo.<br />

Tipos de solução<br />

As soluções podem ser classificadas de acordo com o<br />

estado físico (isto é, gasoso, líquido ou sólido) do(s)<br />

soluto(s) e do solvente. Embora possa haver diversos<br />

tipos, quase todas as soluções de interesse farmacêutico<br />

têm solventes líquidos. Além disso, os solutos são predominantemente<br />

substâncias sólidas. Consequentemente, a<br />

maior parte da informação deste capítulo é relevante para<br />

soluções de sólidos em líquidos.<br />

Pressões de vapor de sólidos, líquidos<br />

e soluções<br />

Para entender várias das propriedades das soluções, é<br />

necessário conhecer o conceito de uma solução ideal e<br />

seu uso como sistema de referência, com o qual o comportamento<br />

de soluções reais (não ideais) pode ser comparado.<br />

Por sua vez, esse conceito baseia-se no<br />

entendimento da pressão de vapor. A presente seção<br />

serve como introdução para a discussão posterior sobre<br />

soluções ideais e não ideais.<br />

A teoria cinética da matéria mostra que o movimento<br />

térmico das moléculas de uma substância no seu estado<br />

gasoso é mais do que suficiente para superar as forças<br />

atrativas que existem entre as moléculas. Assim, as<br />

moléculas estarão submetidas a um movimento completamente<br />

aleatório dentro dos limites do recipiente.<br />

A situação é inversa, porém, quando a temperatura é<br />

reduzida o suficiente para que uma fase condensada seja<br />

formada. Nesta, os movimentos térmicos das moléculas<br />

são agora insuficientes para superar completamente as<br />

forças atrativas intermoleculares e surge algum grau de<br />

ordem no arranjo relativo das moléculas. Esse estado<br />

condensado pode ser líquido ou sólido.<br />

No caso em que as forças intermoleculares sejam tão<br />

fortes que deem origem a um alto grau de ordem,<br />

quando a estrutura é influenciada muito pouco por<br />

movimentos térmicos, a substância costuma estar no<br />

estado sólido.<br />

No estado condensado líquido, as influências relativas<br />

do movimento térmico e das forças atrativas intermoleculares<br />

são intermediárias entre aquelas nos estados<br />

gasoso e sólido. Assim, os efeitos de interação entre os<br />

dipolos permanentes e induzidos, isto é, as ditas forças<br />

de atração de van der Waals, causam alguma coesão entre<br />

as moléculas do líquido. Consequentemente, os líquidos<br />

ocupam um volume definido sobre uma superfície, diferentemente<br />

dos gases. Além disso, não obstante haja<br />

evidência de estrutura nos líquidos, essa estrutura é<br />

muito menos aparente do que nos sólidos.<br />

Embora tanto os sólidos quanto os líquidos sejam sistemas<br />

condensados com moléculas coesas, algumas das<br />

moléculas nas superfícies desses sistemas ocasionalmente<br />

irão adquirir energia suficiente para superar as forças<br />

atrativas exercidas pelas moléculas adjacentes. Essas<br />

moléculas podem, portanto, escapar da superfície para<br />

formar uma fase de vapor. Na situação em que a temperatura<br />

seja mantida constante, um equilíbrio será estabelecido<br />

entre a fase de vapor e a fase condensada. A<br />

pressão exercida pelo vapor neste equilíbrio é chamada<br />

de pressão de vapor da substância.<br />

Todos os sistemas condensados têm a habilidade inerente<br />

de dar origem a uma pressão de vapor. No entanto,<br />

as pressões de vapor exercidas pelos sólidos são geralmente<br />

bem menores do que aquelas exercidas pelos<br />

líquidos, pois as forças intermoleculares nos sólidos são<br />

mais fortes do que nos líquidos. Portanto, a tendência<br />

das moléculas superficiais ao escape é maior nos líquidos.<br />

Consequentemente, a perda de vapor na superfície dos<br />

líquidos pelo processo de evaporação é mais comum do<br />

que a perda de vapor na superfície dos sólidos por<br />

sublimação.<br />

No caso de um solvente líquido contendo um soluto<br />

dissolvido, as moléculas tanto do solvente quanto do<br />

soluto podem apresentar tendência a escapar da superfície<br />

e a contribuir para a pressão de vapor. As tendências<br />

relativas ao escape dependerão do número relativo de<br />

moléculas diferentes na superfície da solução e das intensidades<br />

relativas das forças atrativas entre moléculas adjacentes<br />

de solvente por um lado e moléculas do soluto e<br />

do solvente por outro. Como as forças intermoleculares<br />

entre solutos sólidos e solventes líquidos tendem a ser<br />

relativamente fortes, essas moléculas de soluto geralmente<br />

não escapam da superfície de uma solução e não<br />

contribuem para a pressão de vapor. Em outras palavras,<br />

o soluto não costuma ser volátil e a pressão de vapor<br />

surge unicamente do equilíbrio dinâmico estabelecido<br />

entre as taxas de evaporação e condensação de moléculas<br />

de solvente contidas na solução. Em uma mistura de<br />

líquidos miscíveis, ou seja, um líquido em uma solução<br />

líquida, as moléculas de ambos os componentes tendem<br />

a evaporar e contribuem para a pressão de vapor total<br />

exercida pela solução.<br />

Soluções ideais: Lei de Raoult<br />

O conceito de uma solução ideal foi apresentado a fim<br />

de oferecer um sistema-modelo que possa ser usado<br />

como um padrão com o qual soluções reais ou não ideais<br />

sejam comparadas. No modelo, presume-se que todas as<br />

forças intermoleculares sejam idênticas. Assim, as interações<br />

solvente/solvente, soluto/solvente e soluto/soluto<br />

são idênticas e iguais à força da interação intermolecular<br />

tanto no solvente puro quanto no soluto puro. Por causa<br />

37


Parte 1 Princípios científicos de formas de produção de dosagens, dissolução e solubilidade<br />

dessa igualdade, as tendências relativas de escape de<br />

moléculas de soluto e solvente da superfície da solução<br />

serão determinadas apenas pelo seu número relativo na<br />

superfície.<br />

Como uma solução é homogênea por definição, o<br />

número relativo dessas moléculas superficiais será o<br />

mesmo que o número relativo na solução como um todo.<br />

O mesmo pode ser expresso convenientemente pela fração<br />

molar dos componentes, pois, para uma solução binária (ou<br />

seja, aquela com dois componentes), x 1 + x 2 = 1, em que<br />

x 1 e x 2 são as frações molares do soluto e do solvente,<br />

respectivamente.<br />

A pressão de vapor total (P) exercida por uma solução<br />

binária é dada pela Equação 3.1:<br />

P = p 1 + p 2<br />

(3.1)<br />

em que p 1 e p 2 são as pressões de vapor parciais exercidas<br />

sobre a solução pelo soluto e pelo solvente,<br />

respectivamente. A Lei de Raoult afirma que a pressão<br />

parcial de vapor (p) exercida por um componente volátil<br />

em uma solução a uma dada temperatura é igual à<br />

pressão de vapor do componente puro à mesma temperatura<br />

(p o ), multiplicada pela sua fração molar na solução<br />

(x). Isto é:<br />

Assim, pelas Equações 3.1 e 3.2:<br />

p<br />

= p o x<br />

(3.2)<br />

o o<br />

P = p + p = p x + p x<br />

1 2 1 1 2 2<br />

(3.3)<br />

em que p 1 o e p 2 o são as pressões de vapor exercidas pelo<br />

soluto puro e pelo solvente puro, respectivamente. Se a<br />

pressão de vapor total da solução for descrita pela<br />

Equação 3.3, então o sistema obedece à Lei de Raoult.<br />

Uma das consequências dos comentários anteriores é<br />

que uma solução ideal pode ser definida como aquela que<br />

obedece à Lei de Raoult. Além disso, só se deve esperar<br />

que exibam o comportamento ideal sistemas reais compostos<br />

de substâncias quimicamente similares, pois<br />

apenas neles as condições de forças intermoleculares<br />

iguais entre os componentes (como presume o modelo<br />

ideal) pode provavelmente ser satisfeita. Consequentemente,<br />

a Lei de Raoult é obedecida por meio de uma<br />

faixa considerável de concentrações por relativamente<br />

poucos sistemas na realidade.<br />

Misturas de, por exemplo, benzeno + tolueno, n-hexano<br />

+ n-heptano, bromoetano + iodoetano e misturas<br />

binárias de hidrocarbonetos fluorados são sistemas que<br />

exibem esse comportamento ideal. Note a similaridade<br />

química entre os dois componentes da mistura em cada<br />

exemplo.<br />

Soluções reais ou não ideais<br />

A maioria das soluções reais não exibe comportamento<br />

ideal, pois as forças de interação soluto-soluto, solutosolvente<br />

e solvente-solvente são desiguais. Essas desigualdades<br />

alteram a concentração efetiva de cada<br />

componente. Desse modo, ele não pode ser representado<br />

por uma expressão normal de concentração como<br />

o termo x de fração molar usado nas Equações 3.2 e<br />

3.3. Consequentemente, as soluções reais frequentemente<br />

desviam da Lei de Raoult e as equações anteriores<br />

não são obedecidas nestes casos. Essas equações<br />

podem ser modificadas, porém, substituindo-se cada<br />

termo de concentração (x) por uma medida da concentração<br />

efetiva, fornecida pela chamada atividade (ou<br />

atividade termodinâmica), a. Assim, a Equação 3.2 converte-se<br />

na Equação 3.4:<br />

p<br />

= p o a<br />

(3.4)<br />

e a equação resultante é aplicável a todos os sistemas,<br />

independentemente de serem ideais ou não ideais.<br />

Convém notar que, se a solução exibe comportamento<br />

ideal, então a é igual a x, porém a não será igual a x se<br />

houver desvios de tal comportamento. A razão entre a<br />

atividade e a fração molar é chamada coeficiente de atividade<br />

(f) e oferece uma medida do desvio com relação<br />

ao ideal. Assim, quando a = x, f = 1.<br />

No caso em que as forças atrativas entre as moléculas<br />

de soluto e do solvente forem mais fracas do que aquelas<br />

entre as próprias moléculas do soluto ou entre as próprias<br />

moléculas do solvente, os componentes tenderão<br />

a apresentar baixa afinidade um pelo outro. A tendência<br />

de escape das moléculas superficiais nesse tipo de<br />

sistema é maior quando comparada com uma solução<br />

ideal. Em outras palavras, p 1 , e p 2 e, portanto, P são<br />

maiores do que o esperado pela Lei de Raoult. Assim,<br />

as atividades termodinâmicas dos componentes são<br />

maiores do que suas frações molares, isto é, a 1 > x 1 e<br />

a 2 > x 2 . Diz-se que esse tipo de sistema apresenta um<br />

desvio positivo da Lei de Raoult e a extensão do desvio<br />

aumenta conforme a miscibilidade dos componentes<br />

diminui. Por exemplo, uma mistura de álcool e benzeno<br />

apresenta um desvio menor do que a mistura menos<br />

miscível de água + éter dietílico, enquanto a mistura<br />

praticamente imiscível de benzeno + água exibe um<br />

desvio positivo extremamente grande.<br />

Por outro lado, se as moléculas de soluto e solvente têm<br />

forte afinidade mútua (o que pode, por vez, resultar na<br />

formação de um complexo ou composto), ocorre um<br />

38


Propriedades das soluções CAPÍTULO 3<br />

desvio negativo da Lei de Raoult. Assim, p 1 , p 2 e, portanto,<br />

P são menores do que o esperado e a 1 < x 1 e a 2 < x 2 .<br />

São exemplos de sistemas que apresentam este tipo de<br />

comportamento clorofórmio + acetona, piridina + ácido<br />

acético e água + ácido nítrico.<br />

Embora a maior parte dos sistemas não seja ideal e<br />

desvie positiva ou negativamente da Lei de Raoult,<br />

esses desvios são pequenos quando a solução é diluída.<br />

Isso ocorre porque o efeito que uma pequena quantidade<br />

de soluto tem sobre as interações entre as moléculas<br />

de solvente é mínimo. Assim, soluções diluídas<br />

tendem a exibir comportamento ideal e as atividades<br />

dos seus componentes aproximam-se de suas frações<br />

molares, ou seja, a 1 é aproximadamente igual a x 1 e a 2<br />

é aproximadamente igual a x 2 . Por outro lado, grandes<br />

desvios podem ser observados quando a concentração<br />

da solução é alta.<br />

Conhecer as consequências de tamanhos desvios é<br />

particularmente importante no que diz respeito à<br />

destilação de misturas líquidas. Por exemplo, a separação<br />

completa dos componentes de uma mistura por<br />

destilação fracionada pode não ser conseguida se<br />

grandes desvios positivos ou negativos da Lei de<br />

Raoult causarem a formação das chamadas misturas<br />

azeotrópicas com pontos de ebulição mínimo ou<br />

máximo, respectivamente.<br />

Ionização de solutos<br />

Vários solutos dissociam-se em íons se a constante dielétrica<br />

do solvente for alta o bastante para causar separação<br />

suficiente entre íons de carga oposta. Esses solutos<br />

são denominados eletrólitos e sua ionização (ou dissociação)<br />

tem várias consequências, que costumam ser<br />

importantes na prática farmacêutica. Algumas dessas<br />

consequências estão indicadas a seguir.<br />

Concentração do íon hidrogênio e pH<br />

A dissociação da água pode ser representada pela<br />

Equação 3.5:<br />

+ −<br />

HO 2 ↔ H + OH<br />

(3.5)<br />

Deve dar-se conta de que esta é uma representação simplificada,<br />

pois os íons hidrogênio e hidroxila não existem<br />

em estado livre, mas combinados com moléculas de água<br />

não dissociadas para formar íons mais complexos, como<br />

H 3 O + e H 7 O 4 − .<br />

Na água pura, as concentrações dos íons H + e OH −<br />

são iguais e a 25 °C – ambas têm o valor de 1 × 10 −7<br />

mol L −1 . A teoria de Brönsted-Lowry de ácidos e bases<br />

define um ácido como uma substância que doa um próton<br />

(ou íon hidrogênio). Portanto, a adição de um soluto<br />

ácido à água resultará em uma concentração de íon hidrogênio<br />

que excede aquela da água pura. Por outro lado, a<br />

adição de uma base, definida como uma substância aceptora<br />

de prótons, reduzirá a concentração de íons hidrogênio<br />

na solução. A faixa de concentração de íon<br />

hidrogênio decresce desde 1 mol L −1 para um ácido forte<br />

até 1 × 10 −14 mol L −1 para uma base forte.<br />

A fim de evitar o uso frequente de números inconvenientes<br />

que surgem dessa faixa tão ampla, o conceito<br />

de pH foi introduzido como uma medida mais<br />

conveniente da concentração de íons de hidrogênio.<br />

Define-se pH como o logaritmo negativo da concentração<br />

de íons hidrogênio [H + ], conforme mostrado<br />

na Equação 3.6:<br />

+<br />

pH =− log [ H ]<br />

10<br />

(3.6)<br />

Desse modo, o pH de uma solução neutra, como da água<br />

pura, é 7. Isso ocorre porque, conforme mencionado<br />

anteriormente, a concentração de íons H + (e, portanto,<br />

de íons OH − ) na água pura é de 1 × 10 −7 mol L −1 .<br />

O pH de soluções ácidas é menor do que 7 e o pH de<br />

soluções alcalinas é maior do que 7.<br />

O pH tem várias implicações importantes na prática<br />

farmacêutica, tendo efeito sobre:<br />

• O grau de ionização de fármacos que sejam ácidos<br />

ou bases fracas.<br />

• A solubilidade de fármacos que sejam ácidos ou<br />

bases fracas.<br />

• A facilidade de absorção de fármacos do trato<br />

gastrintestinal para o sangue. Por exemplo, muitos<br />

fármacos (cerca de 75%) são bases fracas ou sais<br />

destas. Esses fármacos dissolvem-se mais.<br />

rapidamente no pH baixo do estômago ácido.<br />

Entretanto, haverá pouca ou nenhuma absorção do<br />

fármaco nesse local, pois ele está muito ionizado.<br />

A absorção do fármaco normalmente deverá esperar<br />

até o intestino, mais alcalino, no qual a ionização da<br />

base fraca dissolvida é reduzida.<br />

• A estabilidade de muitos fármacos.<br />

• Tecidos corporais (ambos os extremos de pH são<br />

danosos).<br />

Essas implicações têm grande consequência durante a<br />

administração de fármacos por via oral, uma vez que o<br />

pH a que o fármaco é exposto pode variar de pH 1 a<br />

8, à medida que ele atravessa o trato gastrintestinal. A<br />

inter-relação entre o grau de ionização, a solubilidade e<br />

o pH serão discutidos a seguir neste capítulo. As consequências<br />

biofarmacêuticas serão discutidas no Capítulo<br />

20.<br />

39


Parte 1 Princípios científicos de formas de produção de dosagens, dissolução e solubilidade<br />

Constantes de dissociação<br />

(ou de ionização); pK a e pK b<br />

Vários fármacos são ácidos fracos ou bases fracas. Nas soluções<br />

desses fármacos, existem equilíbrios entre moléculas<br />

não dissociadas e seus íons. Em uma solução de um fármaco<br />

fracamente ácido HA, o equilíbrio pode ser representado<br />

pela Equação 3.7:<br />

+ −<br />

HA ↔ H + A<br />

(3.7)<br />

+ −<br />

− log K a = −log [ H ] − log [ A ] + log [ HA]<br />

10 10 10 10<br />

(3.12)<br />

O símbolo pK a é usado para representar o logaritmo<br />

negativo da constante de dissociação ácida K a , de modo<br />

análogo à forma pela qual o pH é usado para representar<br />

o logaritmo negativo da concentração de íons hidrogênio<br />

(como na Equação 3.6). Portanto:<br />

pK<br />

a<br />

=−log 10 K a<br />

(3.13)<br />

De modo similar, a protonação de um fármaco fracamente<br />

básico B pode ser representado pela Equação 3.8:<br />

B+ H + ↔ BH<br />

+ (3.8)<br />

Em soluções da maioria dos sais de ácidos fortes ou bases<br />

fortes na água, esses equilíbrios são deslocados fortemente<br />

para um dos lados da equação, pois estes compostos<br />

são praticamente completamente ionizados. No caso<br />

de soluções aquosas de ácidos ou bases mais fracos, o<br />

grau de ionização é muito mais variável e, de fato, como<br />

será visto, passível de controle.<br />

A constante de ionização (ou constante de dissociação)<br />

K a de uma espécie ácida fraca parcialmente ionizada pode<br />

ser obtida pela aplicação da Lei de Ação de Massas para<br />

formar a Equação 3.9, em que [I + ] e [I − ] representam<br />

as concentrações das espécies ionizadas dissociadas e [U]<br />

é a concentração da espécie não ionizada.<br />

K<br />

a =<br />

+ −<br />

[ I ][ I ]<br />

[ U]<br />

(3.9)<br />

No caso de um ácido fraco, isso pode ser escrito (a partir<br />

da Equação 3.7) como:<br />

+ −<br />

[ H ][ A ]<br />

K a =<br />

[ HA]<br />

(3.10)<br />

Obtendo-se os logaritmos de ambos os lados da Equação<br />

3.10, resulta-se em:<br />

+ −<br />

log K a = log [ H ] + log [ A ] − log [ HA]<br />

10 10 10 10<br />

(3.11)<br />

Os sinais dessa equação podem ser invertidos para obterse<br />

a Equação 3.12:<br />

Agora, a Equação 3.12 pode ser reescrita como a Equação<br />

3.14:<br />

ou<br />

ou mesmo<br />

−<br />

pK = pH+ log [ HA] − log [ A ]<br />

a<br />

10 10<br />

HA<br />

pK a = pH + log [ ]<br />

10 −<br />

[ A ]<br />

pH = pK<br />

+ log<br />

a<br />

10<br />

−<br />

[ A ]<br />

[ HA]<br />

(3.14)<br />

(3.15)<br />

(3.16)<br />

As Equações 3.15 e 3.16 são conhecidas como as equações<br />

de Henderson-Hasselbach para um ácido fraco.<br />

As constantes de ionização tanto dos fármacos<br />

ácidos quanto dos fármacos básicos são geralmente<br />

expressas em termos de pK a . A constante de dissociação<br />

ácida equivalente para a protonação de uma base<br />

fraca é dada (a partir da Equação 3.8) pela Equação<br />

3.17. Note que a equação parece estar invertida, mas<br />

ela é escrita em termos de K a em vez de K b (a constante<br />

de dissociação básica):<br />

+<br />

[ H ][ B]<br />

K a =<br />

+<br />

[BH ]<br />

(3.17)<br />

Obtendo-se os logaritmos negativos, resulta a Equação<br />

3.18:<br />

+ +<br />

− log K a = −log [ H ] − log [ B] + log [ BH ]<br />

10 10 10 10<br />

(3.18)<br />

40


Propriedades das soluções CAPÍTULO 3<br />

ou<br />

ou<br />

+<br />

BH<br />

pK a = pH + log [ ]<br />

10<br />

[ B]<br />

[ B]<br />

pH = pKa<br />

+ log10<br />

+<br />

[ BH ]<br />

(3.19)<br />

(3.20)<br />

As Equações 3.19 e 3.20 são conhecidas como as equações<br />

de Henderson-Hasselbach para base fraca.<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

Relação entre pH, pK a , grau de ionização e<br />

solubilidade de fármacos fracamente ácidos<br />

ou básicos<br />

Existe uma relação direta para a maior parte dos compostos<br />

polares entre o grau de ionização e a solubilidade<br />

aquosa. Conforme mostrado anteriormente, por sua vez,<br />

o grau de ionização é controlado pelo pK a da molécula e<br />

pelo pH do ambiente circundante. Essa inter-relação está<br />

representada na Figura 3.1.<br />

Tomando primeiramente a linha do ácido fraco, pode<br />

ver-se que, em um pH alto, o fármaco está completamente<br />

ionizado e no seu máximo de solubilidade. Sob<br />

condições de pH baixo, o oposto é verdadeiro. A forma<br />

da curva é definida pela equação de Henderson-Hasselbalch<br />

para ácidos fracos (Equação 3.15), que mostra a<br />

relação entre pH, pK a e grau de ionização para um<br />

fármaco fracamente ácido. Pode depreender-se também<br />

da Figura 3.1 que, quando o pH é igual ao pK a do fármaco,<br />

este está 50% ionizado. Isso também é previsto pelas<br />

equações de Henderson-Hasselbalch.<br />

A Equação 3.16 mostra que, quando [A − ] = [HA], o<br />

log([A − ]/[HA]) será igual a log 1 (ou seja, zero) e, portanto,<br />

pH = pK a . Dito de outra maneira, quando o pH<br />

da solução ao redor for igual ao pK a , a concentração da<br />

espécie ionizada, [A − ], será igual à concentração da<br />

espécie não ionizada, [HA], ou seja, o fármaco está 50%<br />

ionizado. As equações de Henderson-Hasselbalch<br />

também mostram que um fármaco está quase completamente<br />

ionizado ou não ionizado (conforme apropriado)<br />

quando o pH está a duas unidades de distância do pK a .<br />

O exame da linha equivalente para uma base fraca<br />

mostra que, provavelmente, não é uma coincidência que<br />

a maioria dos fármacos de administração por via oral seja<br />

de bases fracas. Uma base fraca estará ionizada e no seu<br />

máximo de solubilidade no estômago ácido, e não ionizada<br />

no intestino delgado mais alcalino, no qual, portanto, será<br />

mais facilmente absorvida. A escolha do pK a de um<br />

fármaco é, pois, de importância fundamental na administração<br />

por via oral.<br />

Fig. 3.1 • Variação no grau de ionização e solubilidade<br />

relativa de fármacos fracamente ácidos e fracamente básicos<br />

em função do pH.<br />

Uso das equações de Henderson-<br />

Hasselbalch para o cálculo do grau de<br />

ionização de fármacos fracamente ácidos<br />

ou básicos<br />

Várias técnicas analíticas, como os métodos espectrofotométricos<br />

e potenciométricos, podem ser usadas para<br />

determinar constantes de ionização, mas a temperatura<br />

na qual a determinação é realizada deve ser especificada,<br />

uma vez que o valor das constantes varia com a<br />

temperatura.<br />

O grau de ionização de um fármaco em solução pode<br />

ser determinado a partir de equações de Henderson-Hasselbalch<br />

para ácidos ou bases fracas (Equações 3.15 e<br />

3.19, respectivamente) rearranjadas, se o valor do pK a do<br />

fármaco e o pH da solução são conhecidos. As equações<br />

resultantes para ácidos e bases fracas são as Equações<br />

3.21 e 3.22, respectivamente:<br />

log [ HA ]<br />

10 = pKa<br />

−pH<br />

−<br />

[ A ]<br />

log [ +<br />

BH ]<br />

10 = pKa<br />

−pH<br />

[ B]<br />

(3.21)<br />

(3.22)<br />

Esses cálculos são particularmente úteis para determinar<br />

o grau de ionização de fármacos nas várias partes<br />

do trato gastrintestinal e no plasma. Os exemplos a<br />

seguir são relacionados com esse tipo de situação,<br />

portanto.<br />

41


Parte 1 Princípios científicos de formas de produção de dosagens, dissolução e solubilidade<br />

Soluções-tampão e capacidade de<br />

tamponamento<br />

As soluções-tampão manterão um pH constante, mesmo<br />

quando pequenas quantidades de ácido ou álcali são adicionados<br />

à solução. Os tampões geralmente contêm misturas<br />

de um ácido fraco e um de seus sais, embora<br />

misturas de uma base fraca e um de seus sais também<br />

possam ser utilizadas. As últimas sofrem com as desvantagens<br />

oriundas da volatilidade de muitas bases.<br />

A ação de uma solução-tampão pode ser compreendida<br />

considerando-se, por exemplo, um sistema<br />

simples como uma solução de uma mistura de ácido<br />

acético e acetato de sódio em água. O ácido acético,<br />

sendo um ácido fraco, estará confinado praticamente<br />

à sua forma não dissociada, pois sua ionização será<br />

suprimida pela existência de íons acetato em comum,<br />

produzidos pela dissociação completa do sal de sódio.<br />

O pH dessa solução pode ser descrito pela Equação<br />

3.23, que é a Equação 3.16 em que [A − ] é a concentração<br />

de íons acetato e [HA] é a concentração de<br />

ácido acético na solução-tampão:<br />

−<br />

A<br />

pH = pKa<br />

+ log [ ]<br />

[ HA]<br />

(3.23)<br />

Pode ver-se, a partir da Equação 3.23, que o pH permanecerá<br />

constante enquanto o logaritmo da razão<br />

[acetato]/[ácido acético] não se altere. Quando uma<br />

pequena quantidade de ácido é adicionada à solução, ela<br />

converterá parte do sal em ácido acético. No entanto,<br />

se as concentrações tanto de íon acetato quanto de<br />

ácido acético forem suficientemente grandes, então o<br />

efeito da mudança será desprezível e o pH permanecerá<br />

constante. Do mesmo modo, a adição de uma pequena<br />

quantidade de base converterá uma parte do ácido<br />

acético em sua forma de sal, mas o pH permanecerá<br />

basicamente inalterado se as mudanças das concentrações<br />

em geral das duas espécies forem relativamente<br />

pequenas.<br />

No caso de grandes quantidades de ácido ou base<br />

serem adicionadas a um tampão, as mudanças na razão<br />

entre as espécies ionizada e não ionizada se tornam<br />

Quadro 3.1<br />

Exemplos discutidos:<br />

1. O valor de pK a do ácido acetilsalicílico, um ácido<br />

fraco, é cerca de 3,5. Se o pH do conteúdo gástrico<br />

for 2, podemos calcular a partir da equação 3,21:<br />

log [ HA ]<br />

10 = pKa<br />

− pH = 35 , −20 , = 15 ,<br />

−<br />

[A ]<br />

de modo que a razão entre a concentração não<br />

ionizada do ácido acetilsalicílico dividido pela<br />

concentração do ânion acetilsalicilato, é dada por:<br />

[ HA]:[ A − ] = antilog 15 , = 31, 61 :<br />

e<br />

log [ HA ]<br />

10 = pKa<br />

− pH = 80 , −50<br />

, = 30 ,<br />

−<br />

[ A ]<br />

− 3<br />

[ HA]:[ A ] = antilog 30 , = 10 : 1<br />

4. O pK a do fármaco básico amidopirinaé 5,0. No<br />

estômago, a razão entre a forma ionizada pela forma<br />

não ionizada do fármaco é calculada a partir da<br />

seguinte equação 3.22:<br />

2. O pH do plasma é 7,4 de modo que a razão da forma<br />

não ionizada pela forma ionizada do ácido<br />

acetilsalicílico nesse meio é dada por:<br />

log [ HA ]<br />

10 = pKa<br />

− pH = 35 , − 74 , =−39<br />

,<br />

−<br />

[ A ]<br />

e<br />

log [ +<br />

BH ] = pKa<br />

−pH<br />

= 50 , − 20 , = 30 ,<br />

[ B]<br />

+ 3<br />

[ BH ]:[ B] = antilog 30 , = 10 : 1<br />

e<br />

Enquanto que no intestino, a razão é dada por:<br />

−<br />

−4<br />

[ HA]:[ A ] = antilog ( −39 , ) = 12 , 6×<br />

10 : 1<br />

3. O pK a do fármaco, fracamente ácido, sulfapiridina é<br />

cerca de 8,0 e se o pH do conteúdo intestinal é 5,0 a<br />

razão do fármaco na forma não ionizada pela forma<br />

ionizada é dada por:<br />

e<br />

log [ +<br />

BH ] = pKa<br />

−pH<br />

= 50 , − 50 , = 0<br />

[ B]<br />

[ BH + ]:[ B] = antilog 0 = 11 :<br />

42


Propriedades das soluções CAPÍTULO 3<br />

consideráveis e o pH será alterado. A habilidade de um<br />

tampão de resistir aos efeitos de ácidos e bases é uma<br />

propriedade importante do ponto de vista prático. Esta<br />

habilidade é expressa em termos da capacidade de tamponamento<br />

(β). Ela pode ser definida como igual à quantidade<br />

de ácido ou base forte, expressa em mols de íon<br />

H + ou OH − , necessária para alterar o pH de um litro<br />

do tampão em uma unidade de pH. Dos comentários<br />

anteriores, deve ficar claro que a capacidade de tamponamento<br />

aumenta conforme a concentração dos componentes<br />

do tampão aumenta. Além disso, a capacidade<br />

também é afetada pela razão entre as concentrações do<br />

ácido fraco e seu sal, sendo a capacidade máxima (b max )<br />

obtida quanto a razão entre ácido e sal é = 1, ou seja,<br />

o pH é igual ao pK a do ácido.<br />

Os componentes de vários sistemas-tampão e as<br />

concentrações necessárias para produzir diferentes pH<br />

estão listados em vários livros de referência, como as<br />

farmacopeias. Ao selecionar um tampão apropriado, o<br />

valor do pK a do ácido deve ser próximo ao pH necessário<br />

e a compatibilidade dos componentes com outros<br />

ingredientes no sistema deve ser considerada. A toxicidade<br />

de componentes do tampão também deve ser<br />

levada em conta se a solução for usada para fins<br />

medicinais.<br />

Propriedades coligativas<br />

Quando um soluto não volátil é diluído em um solvente,<br />

certas propriedades da solução resultante são basicamente<br />

independentes da natureza do soluto e são determinadas<br />

pela concentração de partículas do soluto. Essas<br />

propriedades são chamadas de propriedades coligativas.<br />

No caso de um soluto não eletrolítico, as partículas de<br />

soluto serão moléculas, mas, se o soluto é um eletrólito,<br />

seu grau de dissociação determinará se as partículas serão<br />

apenas íons ou se uma mistura de íons e moléculas não<br />

dissociadas.<br />

A propriedade coligativa mais importante no aspecto<br />

farmacêutico é a pressão osmótica. Entretanto, como<br />

todas as propriedades coligativas estão relacionadas<br />

umas com as outras em virtude da sua dependência<br />

comum da concentração de moléculas do soluto, outras<br />

propriedades coligativas (como redução da pressão de<br />

vapor do solvente, elevação do seu ponto de ebulição e<br />

redução do seu ponto de fusão) são de interesse<br />

farmacêutico. As observações dessas outras propriedades<br />

oferecem alternativas às medidas da pressão osmótica<br />

como método para comparar as propriedades<br />

coligativas de diferentes soluções<br />

Pressão osmótica<br />

A pressão osmótica de uma solução é a pressão externa<br />

que deve ser aplicada a uma solução para evitar que<br />

ela seja diluída pela entrada de solvente por um processo<br />

conhecido como osmose. Esse consiste na difusão<br />

espontânea de solvente de uma solução de baixa concentração<br />

de soluto (ou solvente puro) para uma mais<br />

concentrada por meio de uma membrana semipermeável.<br />

Esse tipo de membrana separa as duas soluções e<br />

é permeável apenas a moléculas do solvente (ou seja,<br />

não às do soluto).<br />

Embora o processo ocorra espontaneamente sob<br />

temperatura e pressão constantes, as leis da termodinâmica<br />

indicam que ele será acompanhado por redução<br />

na energia livre (G) do sistema. Essa energia livre pode<br />

ser encarada como a energia disponível para a realização<br />

de trabalho útil. Quando se consegue uma posição<br />

de equilíbrio, não resta diferença entre as energias dos<br />

estados que estão em equilíbrio. A taxa de aumento<br />

na energia livre de uma solução causada por um<br />

aumento no número de mols de um componente é<br />

determinada pela energia livre molar parcial ( G ) ou<br />

pelo potencial químico (µ) daquele componente. Por<br />

exemplo, o potencial de solvente em uma solução<br />

binária é dado pela Equação 3.24. Os subscritos fora do<br />

parêntese do lado esquerdo indicam que a temperatura,<br />

a pressão e a quantidade de componente 1 (o soluto,<br />

neste caso) permanecem constantes:<br />

⎛ ∂G⎞<br />

⎝<br />

⎜<br />

∂ ⎠<br />

⎟ = G2 = µ 2<br />

n<br />

2 TPn , , 1<br />

(3.24)<br />

Uma vez que (por definição) apenas moléculas do<br />

solvente podem passar através de uma membrana<br />

semipermeável, a força-motriz (driving force) para<br />

osmose surge da desigualdade de potenciais químicos<br />

do solvente nos lados opostos da membrana. Assim, a<br />

direção de fluxo osmótico é da solução diluída (ou do<br />

solvente puro), em que o potencial químico do solvente<br />

é maior, devido à maior concentração de moléculas<br />

de solvente, para a solução mais concentrada, na<br />

qual a concentração e, consequentemente, o potencial<br />

químico do solvente são reduzidos pela presença de<br />

mais soluto. O potencial químico do solvente na<br />

solução mais concentrada pode ser aumentado, forçando-se<br />

as moléculas a uma proximidade maior sob a<br />

influência de uma pressão aplicada externamente. A<br />

osmose pode ser prevenida por tais meios – daí o<br />

termo pressão osmótica.<br />

A relação entre a pressão osmótica (π) e a concentração<br />

de um não eletrólito é definida para soluções<br />

diluídas. Presume-se que estas apresentam comportamento<br />

ideal pela equação de van’t Hoff (Equação<br />

3.25):<br />

πV<br />

= n 2 RT<br />

(3.25)<br />

43


CIÊNCIA E ENGENHARIA DE MATERIAIS<br />

Ano: 2016<br />

Editora: Grupo GEN | Selo LTC<br />

Nº de Páginas: 912<br />

Formato: 21 x 28 cm<br />

Área: Engenharia<br />

A seguir algumas páginas


9 a Edição<br />

Ciência e Engenharia<br />

de Materiais<br />

UMA INTRODUÇÃO<br />

WILLIAM D. CALLISTER, JR.<br />

Departamento de Engenharia Metalúrgica<br />

The University of Utah<br />

DAVID G. RETHWISCH<br />

Departamento de Engenharia Química e Bioquímica<br />

The University of Iowa<br />

Tradução<br />

Sergio Murilo Stamile Soares, M.Sc.<br />

Engenheiro Químico<br />

Revisão Técnica<br />

Prof. Dr. Álvaro Meneguzzi<br />

Profa. Dra. Annelise Kopp Alves<br />

Prof. Dr. Carlos Arthur Ferreira<br />

Prof. Dr. Carlos Pérez Bergmann<br />

Profa. Dra. Jane Zoppas Ferreira<br />

Profa. Dra. Liane Roldo<br />

Prof. M.Sc. Marcelo Duarte Mabilde Silveira<br />

Prof. Dr. Sandro Campos Amico<br />

Prof. Dr. Saulo Roca Bragança<br />

Professores do Departamento de Materiais (DEMAT) –<br />

Escola de Engenharia (EE) –<br />

Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)


Os autores e a editora empenharam-se para citar adequadamente e dar o devido crédito a todos os detentores dos direitos autorais de qualquer<br />

material utilizado neste livro, dispondo-se a possíveis acertos caso, inadvertidamente, a identificação de algum deles tenha sido omitida.<br />

Não é responsabilidade da editora nem dos autores a ocorrência de eventuais perdas ou danos a pessoas ou bens que tenham origem no uso<br />

desta publicação.<br />

Apesar dos melhores esforços dos autores, do tradutor, do editor e dos revisores, é inevitável que surjam erros no texto. Assim, são bemvindas<br />

as comunicações de usuários sobre correções ou sugestões referentes ao conteúdo ou ao nível pedagógico que auxiliem o<br />

aprimoramento de edições futuras. Os comentários dos leitores podem ser encaminhados à LTC __ Livros Técnicos e Científicos Editora<br />

pelo e-mail ltc@grupogen.com.br.<br />

Traduzido de MATERIALS SCIENCE AND ENGINEERING: AN INTRODUCTION, NINTH EDITION<br />

Copyright © 2014, 2010, 2007, 2003, 2000 John Wiley & Sons, Inc.<br />

All Rights Reserved. This translation published under license with the original publisher John Wiley & Sons, Inc.<br />

ISBN: 978-1-118-32457-8<br />

Portuguese edition copyright © 2016 by<br />

LTC __ Livros Técnicos e Científicos Editora Ltda.<br />

All rights reserved.<br />

Direitos exclusivos para a língua portuguesa<br />

Copyright © 2016 by<br />

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Reservados todos os direitos. É proibida a duplicação ou reprodução deste volume, no todo ou em parte, sob quaisquer formas ou por quaisquer<br />

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Travessa do Ouvidor, 11<br />

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www.ltceditora.com.br<br />

Diretor de arte: Harry Nolan<br />

Designer sênior: Madelyn Lesure<br />

Editor de fotografia sênior: MaryAnn Price<br />

Arte de capa: Roy Wiemann e William D. Callister, Jr.<br />

Editoração Eletrônica: IO Design<br />

Capa: Representação de uma célula unitária para o carbeto de ferro (Fe 3 C) a partir de três perspectivas diferentes. As esferas de cor marrom e<br />

azul representam os átomos de ferro e de carbono, respectivamente.<br />

Contracapa: Três representações da célula unitária para o ferro cúbico de corpo centrado (α-ferrita); cada célula unitária contém um átomo de<br />

carbono intersticial.<br />

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO<br />

SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ<br />

C162c<br />

9. ed.<br />

William, D. Callister<br />

Ciência e engenharia de materiais : uma introdução / William D. Callister, Jr., David G. Rethwisch ; tradução Sergio Murilo Stamile Soares.<br />

- 9. ed. - Rio de Janeiro : LTC, 2016.<br />

il. ; 28 cm.<br />

Tradução de: Materials science and engineering: an introduction<br />

Apêndice<br />

Inclui bibliografia e índice<br />

ISBN 978-85-216-3103-3<br />

1. Materiais. I. Título.<br />

16-31462 CDD: 620.11<br />

CDU: 620.1/.2


Capítulo1 Introdução<br />

© iStockphoto/Jill Chen<br />

Um objeto familiar que pode ser fabricado a partir de três tipos de<br />

materiais diferentes é o vasilhame de bebidas. As bebidas são comercializadas<br />

em latas de alumínio (metal, foto superior), garrafas de vidro<br />

(cerâmica, foto central) e garrafas plásticas (polímero, foto inferior).<br />

© blickwinkel/Alamy<br />

© iStockphoto/Mark Oleksiy<br />

© iStockphoto/Mark Oleksiy<br />

© blickwinkel/Alamy<br />

• 1


Objetivos do Aprendizado<br />

Após estudar este capítulo, você deverá ser capaz de fazer o seguinte:<br />

1. Listar seis diferentes classificações das propriedades dos<br />

materiais, as quais determinam sua aplicabilidade.<br />

2. Citar os quatro componentes que estão envolvidos no<br />

projeto, na produção e na utilização dos materiais, e descrever<br />

sucintamente suas possíveis inter-relações.<br />

3. Citar três critérios que são importantes no processo de<br />

seleção de materiais.<br />

4. (a) Listar as três classificações principais dos materiais<br />

sólidos, e então citar as características químicas que<br />

distinguem cada uma delas.<br />

(b) Citar os quatro tipos de materiais avançados e, para<br />

cada um deles, sua(s) característica(s) distinta(s).<br />

5. (a) Definir sucintamente material/sistema inteligente.<br />

(b) Explicar sucintamente o conceito de nanotecnologia<br />

e sua aplicação a materiais.<br />

1.1 PERSPECTIVA HISTÓRICA<br />

Os materiais estão mais enraizados em nossa cultura do que a maioria de nós se dá conta. Nos transportes,<br />

habitação, vestuário, comunicação, recreação e produção de alimentos — virtualmente, todos<br />

os seguimentos de nosso cotidiano são influenciados, em maior ou menor grau, pelos materiais.<br />

Historicamente, o desenvolvimento e o avanço das sociedades estiveram intimamente ligados às<br />

habilidades de seus membros em produzir e manipular materiais para satisfazer às suas necessidades.<br />

De fato, as civilizações antigas foram identificadas de acordo com seu nível de desenvolvimento em<br />

relação aos materiais (Idade da Pedra, Idade do Bronze, Idade do Ferro). 1<br />

Os primeiros seres humanos tiveram acesso a apenas um número muito limitado de materiais,<br />

aqueles que ocorrem naturalmente: pedra, madeira, argila, peles, e assim por diante. Com o tempo,<br />

eles descobriram técnicas para a produção de materiais que tinham propriedades superiores àquelas<br />

dos materiais naturais; esses novos materiais incluíam as cerâmicas e vários metais. Além disso,<br />

descobriu-se que as propriedades de um material podiam ser alteradas por meio de tratamentos<br />

térmicos e pela adição de outros constituintes. Naquele ponto, a utilização dos materiais era um<br />

processo totalmente seletivo, que envolvia escolher, entre um conjunto específico e limitado de<br />

materiais, aquele que por suas características mais se adequava a uma dada aplicação. Somente em<br />

tempos mais ou menos recentes os cientistas compreenderam as relações entre os elementos estruturais<br />

dos materiais e suas propriedades. Esse conhecimento, adquirido aproximadamente ao longo<br />

dos últimos 100 anos, deu-lhes as condições para moldar, de modo significativo, as características dos<br />

materiais. Nesse contexto, desenvolveram-se dezenas de milhares de materiais diferentes, com características<br />

específicas, os quais atendem às necessidades da nossa moderna e complexa sociedade,<br />

e incluem metais, plásticos, vidros e fibras.<br />

O desenvolvimento de muitas das tecnologias que tornam a nossa existência tão confortável<br />

está intimamente associado à disponibilidade de materiais adequados. Um avanço na compreensão<br />

de um tipo de material leva com frequência ao progresso gradativo de alguma tecnologia.<br />

Por exemplo, não teria sido possível fabricar os automóveis, sem a disponibilidade, a baixo<br />

custo, de aço ou de outro material substituto comparável. Nos tempos atuais, os dispositivos<br />

eletrônicos sofisticados dependem de componentes fabricados a partir dos chamados materiais<br />

semicondutores.<br />

1.2 CIÊNCIA E ENGENHARIA DE MATERIAIS<br />

Muitas vezes, é conveniente subdividir a disciplina Ciência e Engenharia de Materiais nas subdisciplinas<br />

Ciência de Materiais e Engenharia de Materiais. Especificamente, a Ciência de Materiais<br />

envolve a investigação das relações entre as estruturas e as propriedades dos materiais. Em contraste,<br />

a Engenharia de Materiais, com base nas correlações estrutura-propriedade, projeta ou<br />

“engenhera” a estrutura de um material para obter nele um conjunto predeterminado de propriedades.<br />

2 A partir de uma perspectiva funcional, o papel de um cientista de materiais é desenvolver<br />

ou sintetizar novos materiais, ao passo que um engenheiro de materiais é chamado para criar<br />

1 As datas aproximadas para o início das Idades da Pedra, do Bronze e do Ferro foram 2,5 milhões a.C., 3500 a.C. e 1000 a.C., respectivamente.<br />

2 Ao longo deste texto, chamamos a atenção para as relações que existem entre as propriedades dos materiais e os elementos estruturais.<br />

2 •


Introdução • 3<br />

novos produtos ou sistemas usando materiais existentes, e/ou para desenvolver técnicas para o<br />

processamento de materiais. A maioria dos estudantes de Engenharia de Materiais é treinada para<br />

ser tanto um cientista de materiais quanto um engenheiro de materiais.<br />

Estrutura é, a essa altura, um termo nebuloso que merece alguma explicação. De maneira<br />

sucinta, a estrutura de um material refere-se, em geral, ao arranjo dos seus constituintes internos.<br />

A estrutura subatômica envolve os elétrons nos átomos individuais e as interações com seus<br />

núcleos. Em nível atômico, a estrutura engloba a organização dos átomos ou das moléculas, uns<br />

em relação aos outros. O próximo nível estrutural na escala crescente das dimensões, que contém<br />

grandes grupos de átomos que estão normalmente conglomerados, é chamado de microscópico,<br />

e significa aquele que está sujeito a uma observação direta por meio de algum tipo de<br />

microscópio. Finalmente, os elementos estruturais que podem ser vistos a olho nu são chamados<br />

de macroscópicos.<br />

A noção de propriedade merece alguma consideração. Em serviço, todos os materiais são expostos<br />

a estímulos externos que causam algum tipo de resposta. Por exemplo, uma amostra submetida<br />

à ação de forças deformará, ou uma superfície metálica polida refletirá a luz. Propriedade é uma<br />

característica de um dado material, em termos do tipo e da magnitude da sua resposta a um estímulo<br />

específico que lhe é imposto. Geralmente, as definições das propriedades são feitas de modo a serem<br />

independentes da forma e do tamanho do material.<br />

Virtualmente, todas as propriedades importantes dos materiais sólidos podem ser agrupadas em<br />

seis categorias diferentes: mecânica, elétrica, térmica, magnética, óptica e de deterioração. Para cada<br />

categoria existe um tipo característico de estímulo que é capaz de provocar diferentes respostas. As<br />

propriedades mecânicas relacionam a deformação com uma carga ou força que é aplicada; os exemplos<br />

incluem o módulo de elasticidade (rigidez), a resistência e a tenacidade. Para as propriedades<br />

elétricas, tais como a condutividade elétrica e a constante dielétrica, o estímulo é um campo elétrico.<br />

O comportamento térmico dos sólidos pode ser representado em termos da capacidade calorífica<br />

e da condutividade térmica. As propriedades magnéticas demonstram a resposta de um material<br />

à aplicação de um campo magnético. Para as propriedades ópticas, o estímulo é a radiação eletromagnética<br />

ou a radiação luminosa; o índice de refração e a refletividade são propriedades ópticas<br />

representativas. Finalmente, as características de deterioração estão relacionadas com a reatividade<br />

química dos materiais. Os capítulos seguintes discutem propriedades que se enquadram em cada<br />

uma dessas seis classificações.<br />

Além da estrutura e das propriedades, dois outros componentes importantes estão envolvidos<br />

na Ciência e Engenharia de Materiais, que são o processamento e o desempenho. No que se refere<br />

às relações entre esses quatro componentes, a estrutura de um material dependerá de como ele é<br />

processado. Ademais, o desempenho de um material é uma função de suas propriedades. Desse<br />

modo, a inter-relação entre processamento, estrutura, propriedades e desempenho ocorre como está<br />

demonstrado na ilustração esquemática na Figura 1.1. Ao longo deste texto, chamamos a atenção<br />

para as relações que existem entre esses quatro componentes em termos de projeto, produção e<br />

utilização dos materiais.<br />

Apresentamos agora, na Figura 1.2, um exemplo desses princípios de processamento-estrutura-propriedades-desempenho:<br />

uma fotografia que apresenta três amostras com formato de discos<br />

delgados, colocadas sobre um material impresso. É óbvio que as propriedades ópticas (isto é, a<br />

transmitância da luz) de cada um dos três materiais são diferentes; o material mais à esquerda é<br />

transparente (ou seja, virtualmente, toda luz refletida passa através dele), enquanto os discos no<br />

centro e à direita são, respectivamente, translúcido e opaco. Todas essas amostras são do mesmo<br />

material, óxido de alumínio, mas aquela mais à esquerda é o que chamamos de monocristal, isto é,<br />

tem um elevado grau de perfeição, e dá origem à sua transparência. A amostra no centro é composta<br />

por um grande número de monocristais muito pequenos, todos ligados entre si; as fronteiras entre<br />

esses pequenos cristais espalham uma fração da luz refletida da página impressa, o que torna esse<br />

material opticamente translúcido. Finalmente, a amostra à direita é composta não apenas por um<br />

número muito grande de pequenos cristais interligados, mas também por inúmeros poros ou espaços<br />

vazios muito pequenos. Esses poros também espalham, de maneira efetiva, a luz refletida e tornam<br />

opaco esse material.<br />

Processamento Estrutura Propriedades Desempenho<br />

Figura 1.1 Os quatro componentes da disciplina Ciência e Engenharia de<br />

Materiais e seu inter-relacionamento.


4 • Capítulo 1<br />

Figura 1.2 Três amostras de discos delgados, de óxido de<br />

alumínio, que foram colocadas sobre uma página impressa,<br />

com o objetivo de realçar suas diferenças em termos das<br />

características de transmitância da luz. O disco mais à esquerda<br />

é transparente (isto é, praticamente toda luz refletida<br />

na página passa através dele), enquanto o disco no centro<br />

é translúcido (significando que parte dessa luz refletida é<br />

transmitida através do disco). O disco à direita é opaco, ou<br />

seja, nenhuma luz passa através dele. Essas diferenças nas<br />

propriedades ópticas são uma consequência de diferenças<br />

nas estruturas desses materiais, as quais resultaram da maneira<br />

como os materiais foram processados.<br />

Preparo das amostras, P. A. Lessing<br />

Dessa forma, as estruturas dessas três amostras são diferentes em termos dos contornos entre os<br />

cristais e da presença de poros, o que afeta as propriedades de transmitância óptica. Além disso, cada<br />

material foi produzido com a utilização de uma técnica de processamento diferente. E, certamente,<br />

se a transmitância óptica for um parâmetro importante em relação à aplicação final do material, o<br />

desempenho apresentado por cada um deles será diferente.<br />

1.3 POR QUE ESTUDAR A CIÊNCIA E A ENGENHARIA DE MATERIAIS?<br />

Por que estudamos os materiais? Muitos cientistas experimentais ou engenheiros, sejam eles mecânicos,<br />

civis, químicos ou elétricos, irão uma vez ou outra deparar-se com um problema de projeto que<br />

envolve materiais. Os exemplos podem incluir uma engrenagem de transmissão, a superestrutura<br />

para um edifício, um componente de uma refinaria de petróleo, ou um chip de circuito integrado.<br />

Obviamente, os cientistas e engenheiros de materiais são especialistas que estão totalmente envolvidos<br />

na investigação e no projeto de materiais.<br />

Muitas vezes, um problema de materiais consiste na seleção do material correto entre os muitos<br />

milhares que estão disponíveis. A decisão final normalmente se baseia em diversos critérios.<br />

Em primeiro lugar, as condições de serviço devem ser caracterizadas, uma vez que elas ditarão as<br />

propriedades necessárias do material. Raramente um material possui a combinação máxima ou<br />

ideal de propriedades. Dessa forma, pode ser necessário abrir mão de uma característica por outra.<br />

O exemplo clássico envolve a resistência mecânica e a ductilidade; normalmente, um material que<br />

possui alta resistência mecânica terá uma ductilidade apenas limitada. Em tais casos, pode ser necessário<br />

um compromisso entre duas ou mais propriedades.<br />

Uma segunda seleção a ser considerada é a deterioração das propriedades dos materiais durante<br />

sua vida útil. Por exemplo, reduções significativas na resistência mecânica podem resultar da<br />

exposição a temperaturas elevadas ou a ambientes corrosivos.<br />

Finalmente, a consideração definitiva provavelmente estará relacionada com aspectos<br />

econômicos: quanto custará o produto acabado? Um material pode apresentar um conjunto ideal<br />

de propriedades, mas pode ser de custo proibitivo. Novamente, algum comprometimento será<br />

inevitável. O custo de uma peça acabada inclui também os custos para sua conformação na forma<br />

desejada.<br />

Quanto mais familiarizado estiver um engenheiro, ou um cientista, com as várias características<br />

e relações estrutura-propriedade, assim como com as técnicas de processamento dos materiais, mais<br />

capacitado e confiante estará para definir materiais com base nesses critérios.<br />

1.4 CLASSIFICAÇÃO DOS MATERIAIS<br />

Os materiais sólidos foram agrupados convenientemente em três categorias básicas: metais,<br />

cerâmicas e polímeros. Esse esquema está baseado principalmente na composição química e<br />

na estrutura atômica. A maioria dos materiais se enquadra em um ou outro grupo distinto.<br />

Adicionalmente, existem os compósitos, que são combinações engenheiradas de dois ou mais


Introdução • 5<br />

E S T U D O D E C A S O<br />

Falhas dos Navios Classe Liberty<br />

seguinte estudo de caso ilustra um papel para o<br />

O qual os cientistas e engenheiros de materiais são<br />

chamados para assumir na área de desempenho dos<br />

materiais: analisar falhas mecânicas, determinar suas<br />

causas, e então propor medidas apropriadas para evitar<br />

futuros incidentes.<br />

A falha de muitos dos navios da classe Liberty 3<br />

durante a Segunda Guerra Mundial é um exemplo bem<br />

conhecido e dramático da fratura frágil de um aço que<br />

era considerado dúctil. 4 Alguns dos primeiros navios<br />

experimentaram danos estruturais quando se desenvolveram<br />

trincas nos seus cascos. Três deles se dividiram<br />

ao meio de forma catastrófica quando as trincas se<br />

formaram, cresceram até um tamanho crítico, e então<br />

se propagaram rápida e completamente até preencher<br />

o perímetro transversal do casco do navio. A Figura 1.3<br />

mostra um dos navios que fraturou no dia seguinte ao do<br />

seu lançamento.<br />

Investigações subsequentes concluíram que um ou<br />

mais dos seguintes fatores contribuíram para cada falha: 5<br />

• Quando algumas ligas metálicas normalmente dúcteis<br />

são resfriadas até temperaturas relativamente<br />

baixas, elas ficam suscetíveis a uma fratura frágil,<br />

ou seja, elas experimentam uma transição de dúctil<br />

para frágil com o resfriamento através de uma faixa<br />

de temperatura crítica. Os navios da classe Liberty<br />

foram construídos com um aço que experimentava<br />

uma transição de dúctil para frágil. Alguns deles foram<br />

posicionados no gelado Atlântico Norte, onde<br />

o metal originalmente dúctil experimentava fratura<br />

frágil quando as temperaturas caíam abaixo da temperatura<br />

de transição. 6<br />

• Os cantos das escotilhas (a porta) eram cantos vivos;<br />

esses cantos atuaram como pontos de concentração<br />

de tensões em que podia haver a formação de trincas.<br />

Figura 1.3 O navio classe Liberty S.S. Schenectady, que em 1943<br />

falhou antes de deixar o estaleiro.<br />

(Reimpresso com permissão de Earl R. Parker, Brittle Behavior of Engineering<br />

Structures, National Academy of Sciences, National Research Council, John<br />

Wiley & Sons, Nova York, 1957.)<br />

3 Durante a Segunda Guerra Mundial, 2.710 navios cargueiros da classe Liberty foram produzidos em massa pelos Estados Unidos para<br />

abastecer de alimentos e materiais os combatentes na Europa.<br />

4 Os metais dúcteis falham após níveis de deformação permanente relativamente grandes; contudo, muito pouca, ou mesmo<br />

nenhuma deformação permanente acompanha a fratura de materiais frágeis. As fraturas frágeis podem ocorrer repentinamente, na<br />

medida em que as trincas se espalham rapidamente; a propagação da trinca é normalmente muito mais lenta nos materiais dúcteis,<br />

e a eventual fratura leva mais tempo. Por essas razões, a modalidade dúctil de fratura é geralmente preferida. As fraturas dúctil e<br />

frágil são discutidas nas Seções 8.3 e 8.4.<br />

5 As Seções 8.2 a 8.6 discutem vários aspectos da falha.<br />

6 Esse fenômeno de transição de dúctil para frágil, assim como técnicas que são usadas para medir e aumentar a faixa de temperaturas<br />

críticas, são discutidos na Seção 8.6.<br />

(continua)


6 • Capítulo 1<br />

• Os barcos alemães classe U estavam afundando navios<br />

cargueiros mais rapidamente do que eles podiam<br />

ser repostos usando as técnicas de construção<br />

existentes. Consequentemente, tornou-se necessário<br />

revolucionar os métodos de construção para a fabricação<br />

de navios cargueiros mais rapidamente e<br />

em maior número. Isso foi feito com a utilização de<br />

lâminas de aço pré-fabricadas que eram montadas<br />

usando-se solda, em vez do método convencional e<br />

demorado de uso de rebites. Infelizmente, as trincas<br />

em estruturas soldadas podem se propagar sem<br />

impedimentos ao longo de grandes distâncias, o que<br />

pode levar a uma falha catastrófica. Contudo, quando<br />

as estruturas são rebitadas, uma trinca deixa de se<br />

propagar quando ela atinge a aresta da chapa de aço.<br />

• Defeitos nas soldas e descontinuidades (isto é, sítios<br />

em que pode haver a formação de trincas) foram introduzidos<br />

por operadores inexperientes.<br />

Algumas medidas remediadoras que foram tomadas<br />

para corrigir esses problemas incluíram o seguinte:<br />

• Redução da temperatura, da transição de dúctil<br />

para frágil, do aço até um nível aceitável, mediante<br />

uma melhoria na qualidade do aço (por exemplo,<br />

pela redução dos teores das impurezas de enxofre<br />

e fósforo).<br />

• Arredondamento dos cantos das escotilhas, mediante<br />

a solda de uma tira de reforço curvada em cada canto. 7<br />

• Instalação de dispositivos de supressão de trincas,<br />

tais como tiras rebitadas e cordões de solda resistentes,<br />

para interromper a propagação de trincas.<br />

• Melhoria na prática de soldagem e estabelecimento de<br />

códigos de soldagem.<br />

Apesar das falhas, o programa de embarcações da<br />

classe Liberty foi considerado um sucesso por várias razões;<br />

a principal delas foi que os navios que sobreviveram<br />

à falha foram capazes de suprir as Forças Aliadas<br />

no teatro de operações e, muito provavelmente, encurtaram<br />

a guerra. Além disso, foram desenvolvidos aços<br />

estruturais, com resistência amplamente aprimorada<br />

às fraturas frágeis catastróficas. As análises detalhadas<br />

dessas falhas possibilitaram maior compreensão da formação<br />

e do crescimento de uma trinca, e isso contribuiu<br />

para o surgimento da Mecânica da Fratura como área<br />

de conhecimento.<br />

7 O leitor pode observar que os cantos das janelas e portas de todas as estruturas marinhas e aeronáuticas são atualmente arredondados.<br />

materiais diferentes. Uma explicação sucinta dessas classificações de materiais e das suas características<br />

representativas será apresentada a seguir. Outra categoria é a dos materiais avançados<br />

— aqueles que são usados em aplicações de alta tecnologia, como os semicondutores, os<br />

biomateriais, os materiais inteligentes e os materiais “nanoengenheirados”, que serão discutidos<br />

na Seção 1.5.<br />

Metais<br />

Os metais são compostos por um ou mais elementos metálicos (por exemplo, ferro, alumínio, cobre,<br />

titânio, ouro e níquel), e com frequência também por elementos não metálicos (por exemplo,<br />

carbono, nitrogênio, oxigênio) em quantidades relativamente pequenas. 8 Os átomos nos metais e<br />

nas suas ligas estão arranjados de uma maneira muito ordenada (como discutido no Capítulo 3)<br />

e, em comparação às cerâmicas e aos polímeros, são relativamente densos (Figura 1.4). Quanto<br />

às características mecânicas, esses materiais são relativamente rígidos (Figura 1.5) e resistentes<br />

(Figura 1.6), e ainda assim são dúcteis (isto é, são capazes de se deformar intensamente sem sofrer<br />

fratura), e resistentes à fratura (Figura 1.7); por isso são amplamente utilizados em aplicações<br />

estruturais. Os materiais metálicos possuem grande número de elétrons livres. Esses elétrons não<br />

estão ligados a qualquer átomo em particular. Muitas das propriedades dos metais podem ser<br />

atribuídas diretamente a esses elétrons. Por exemplo, os metais são bons condutores de eletricidade<br />

(Figura 1.8) e de calor e não são transparentes à luz visível; uma superfície metálica, polida,<br />

possui uma aparência brilhosa. Além disso, alguns metais (isto é, Fe, Co e Ni) têm propriedades<br />

magnéticas interessantes.<br />

A Figura 1.9 mostra vários objetos comuns e familiares que são feitos de materiais metálicos.<br />

Os tipos e as aplicações dos metais e das suas ligas serão discutidos no Capítulo 11.<br />

8 A expressão liga metálica refere-se a uma substância metálica que é composta por dois ou mais elementos.


Introdução • 7<br />

Densidade (g/cm 3 ) (escala logarítmica)<br />

40<br />

20<br />

10<br />

8<br />

6<br />

4<br />

2<br />

1,0<br />

0,8<br />

0,6<br />

0,4<br />

Metais<br />

Platina<br />

Prata<br />

Cobre<br />

Ferro/Aço<br />

Titânio<br />

Alumínio<br />

Magnésio<br />

Cerâmicas<br />

ZrO 2Al2<br />

O 3<br />

SiC,Si 3 N 4<br />

Vidro<br />

Concreto<br />

Polímeros<br />

PTFE<br />

PVC<br />

PS<br />

PE<br />

Borracha<br />

Compósitos<br />

CRFV<br />

CRFC<br />

Madeiras<br />

Figura 1.4<br />

Gráfico de barras dos<br />

valores da massa específica<br />

à temperatura<br />

ambiente para vários<br />

materiais metálicos,<br />

cerâmicos, polímeros e<br />

compósitos.<br />

0,2<br />

0,1<br />

Rigidez [módulo de elasticidade (ou Módulo de Young)<br />

(em unidades de gigapascal)] (escala logarítmica)<br />

1.000<br />

100<br />

10<br />

1,0<br />

0,1<br />

0,01<br />

Metais<br />

Tungstênio<br />

Ferro/Aço<br />

Titânio<br />

Alumínio<br />

Magnésio<br />

Cerâmicas<br />

SiC<br />

AI 2 O 3<br />

Si 3 N 4<br />

ZrO 2<br />

Vidro<br />

Concreto<br />

Polímeros<br />

PVC<br />

PS, Náilon<br />

PTFE<br />

PE<br />

Borrachas<br />

Compósitos<br />

CRFC<br />

CRFV<br />

Madeiras<br />

Figura 1.5<br />

Gráfico de barras dos<br />

valores da rigidez (isto<br />

é, do módulo de elasticidade)<br />

à temperatura<br />

ambiente para vários<br />

materiais metálicos,<br />

cerâmicos, polímeros e<br />

compósitos.<br />

0,001<br />

Resistência (limite de resistência à Tração, em<br />

unidades de megapascal) (escala logarítmica)<br />

1.000<br />

100<br />

10<br />

Metais<br />

Ligas<br />

de aço<br />

Ligas de<br />

Cu, Ti<br />

Ligas de<br />

alumínio<br />

Ouro<br />

Figura 1.6<br />

Compósitos<br />

Cerâmicas<br />

CRFC<br />

Si 3 N 4<br />

CRFV<br />

SiC<br />

Al 2 O 3<br />

Vidro<br />

Náilon<br />

PS<br />

PE<br />

Polímeros<br />

PVC<br />

PTFE<br />

Madeiras<br />

Gráfico de barras dos<br />

valores da resistência<br />

(isto é, do limite de<br />

resistência à tração) à<br />

temperatura ambiente<br />

para vários materiais<br />

metálicos, cerâmicos,<br />

polímeros e compósitos.


FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO<br />

Ano: 2016<br />

Editora: Grupo GEN | Selo Guanabara Koogan<br />

Nº de Páginas: 560<br />

Formato: 21 x 28 cm<br />

Área: Medicina<br />

A seguir algumas páginas


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Os autores deste livro e a EDITORA GUANABARA KOOGAN LTDA. empenharam seus melhores esforços para assegurar que<br />

as informações e os procedimentos apresentados no texto estejam em acordo com os padrões aceitos à época da publicação, e todos<br />

os dados foram atualizados pelos autores até a data da entrega dos originais à editora. Entretanto, tendo em conta a evolução das ciências da<br />

saúde, as mudanças regulamentares governamentais e o constante fluxo de novas informações sobre terapêutica medicamentosa e<br />

reações adversas a fármacos, recomendamos enfaticamente que os leitores consultem sempre outras fontes fidedignas, de modo a se<br />

certificarem de que as informações contidas neste livro estão corretas e de que não houve alterações nas dosagens recomendadas ou<br />

na legislação regulamentadora. Adicionalmente, os leitores podem buscar por possíveis atualizações da obra em http://gen-io.grupogen.com.br.<br />

Os autores e a editora envidaram todos os esforços no sentido de se certificarem de que a escolha e a posologia dos medicamentos<br />

apresentados neste compêndio estivessem em conformidade com as recomendações atuais e com a prática em vigor na época<br />

da publicação. Entretanto, em vista da pesquisa constante, das modificações nas normas governamentais e do fluxo contínuo<br />

de informações em relação à terapia e às reações medicamentosas, o leitor é aconselhado a checar a bula de cada fármaco para<br />

qualquer alteração nas indicações e posologias, assim como para maiores cuidados e precauções. isso é particularmente importante<br />

quando o agente recomendado é novo ou utilizado com pouca frequência.<br />

Os autores e a editora se empenharam para citar adequadamente e dar o devido crédito a todos os detentores de direitos autorais<br />

de qualquer material utilizado neste livro, dispondo-se a possíveis acertos posteriores caso, inadvertida e involuntariamente, a<br />

identificação de algum deles tenha sido omitida.<br />

Traduzido de:<br />

EXERCISE PHYSIOLOGY: INTEGRATING THEORY AND APPLICATION, SECOND EDITION<br />

Copyright © 2016 Wolters Kluwer<br />

Copyright © 2012 Lippincott Williams & Wilkins, a Wolters Kluwer business.<br />

All rights reserved.<br />

2001 Market Street<br />

Philadelphia, PA 19103 USA<br />

LWW.com<br />

Published by arrangement with Lippincott Williams & Wilkins, Inc., USA.<br />

Lippincott Williams & Wilkins/Wolters Kluwer Health did not participate in the translation of this title.<br />

ISBN: 978-1-4511-9319-0<br />

Direitos exclusivos para a língua portuguesa<br />

Copyright © 2016 by<br />

EDITORA GUANABARA KOOGAN LTDA.<br />

Uma editora integrante do GEN | Grupo Editorial Nacional<br />

Travessa do Ouvidor, 11<br />

Rio de Janeiro – RJ – CEP 20040-040<br />

Tels.: (21) 3543-0770/(11) 5080-0770 | Fax: (21) 3543-0896<br />

www.grupogen.com.br | editorial.saude@grupogen.com.br<br />

Reservados todos os direitos. É proibida a duplicação ou reprodução deste volume, no todo ou em parte, em quaisquer formas ou<br />

por quaisquer meios (eletrônico, mecânico, gravação, fotocópia, distribuição pela Internet ou outros), sem permissão, por escrito,<br />

da EDITORA GUANABARA KOOGAN LTDA.<br />

Capa: Editorial Saúdc<br />

Editoração eletrônica: IO Design<br />

j<br />

Ficha catalográfica<br />

F565<br />

Fisiologia do exercício : teoria e prática / William J. Kraemer, Steven J. Fleck, Michael R. Deschenes ; tradução Ana Cavalcanti<br />

Carvalho Botelho, Dilza Balteiro Pereira de Campos. - 2. ed. - Rio de Janeiro : Guanabara Koogan, 2016.<br />

il.<br />

Tradução de: Exercise physiology: integrating theory and application<br />

ISBN 978-85-277-3022-8<br />

1. Fisiologia humana. I. Fleck, Steven J. II. Deschenes, Michael R. III. Botelho, Ana Cavalcanti Carvalho.<br />

16-34640 CDD: 612<br />

CDU: 612


William J. Kraemer, PhD<br />

Professor<br />

Department of Human Sciences<br />

College of Education and Human Ecology<br />

The Ohio State University<br />

Columbus, Ohio<br />

Steven J. Fleck, PhD<br />

Professor and Chair<br />

Department of Kinesiology<br />

University of Wisconsin-Eau Claire<br />

Eau Claire, Wisconsin<br />

Michael R. Deschenes, PhD<br />

Professor and Chair<br />

Department of Kinesiology and Health Sciences<br />

The College of William & Mary<br />

Williamsburg, Virginia<br />

Revisão Técnica<br />

Hugo Celso Dutra de Souza<br />

Professor Doutor Associado da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto/USP.<br />

Doutor em Ciências e Fisiologia pela USP.<br />

Segunda edição


PARTE 3<br />

nutrição e<br />

Ambiente


Capítulo<br />

9<br />

Suporte Nutricional para o Exercício<br />

Após a leitura deste capítulo, você deve ser capaz de:<br />

Definir e distinguir os três macronutrientes<br />

Explicar o papel dos macronutrientes nas funções corporais e no<br />

metabolismo dos substratos<br />

Identificar e contrastar as recomendações nutricionais da American<br />

Dietetic Association para atletas<br />

Explicar o índice glicêmico dos alimentos<br />

Descrever o processo e o objetivo da sobrecarga de carboidratos<br />

Discutir o propósito das bebidas esportivas<br />

Analisar a composição e as consequências metabólicas das dietas<br />

com baixa ingestão de carboidratos<br />

Descrever as estratégias de suplementação de carboidratos e<br />

proteínas para os atletas de endurance e força<br />

Diferenciar os tipos de triglicerídios e especificar seus papéis nos<br />

riscos de doenças<br />

Discutir o papel das dietas ricas em gordura no desempenho<br />

esportivo<br />

Compreender e explicar a função das vitaminas e dos minerais no<br />

metabolismo do substrato<br />

Explicar as consequências da deficiência de vitaminas ou minerais<br />

Descrever a composição e o objetivo das refeições antes e depois<br />

das competições<br />

Há alguns meses, várias mulheres foram treinadas<br />

para a corrida de 5 km Susan G. Komen Race for the<br />

Cure que divulga e arrecada fundos para a luta contra<br />

o câncer de mama. Cada uma das mulheres seguiu<br />

orientações básicas do American College of Sports<br />

Medicine no que se refere à prescrição de exercícios,<br />

e estão muito motivadas para correr o mais rápido que<br />

puderem e tentar definir um recorde pessoal para essa<br />

corrida. Na tentativa de melhorar todos os aspectos<br />

de sua preparação para a corrida, uma das mulheres<br />

disse que consumir muito carboidrato iria ajudá-las a<br />

fazer a melhor corrida possível. Outra mulher no grupo<br />

não tinha certeza de se essa era uma boa ideia depois<br />

de verificar essa informação com o departamento de<br />

fisiologia do exercício da universidade. Ela contou<br />

ao grupo o que aprendeu: devido à curta distância da<br />

corrida, o carboidrato adicional armazenado, conhecido


260 Parte 3 Nutrição e Ambiente<br />

como glicogênio, não seria de fato necessário mesmo<br />

se fossem buscar seu recorde pessoal para 5 km. Além<br />

disso, com cada grama de glicogênio são armazenadas<br />

até 5 gramas de água, criando um ganho de peso<br />

significativo que pode não ser benéfico. Assim, ela<br />

incentivou o grupo a focar no que já estavam fazendo,<br />

além de seguirem um programa consistente de nutrição.<br />

Ao fazerem isso, elas garantiram que as calorias necessárias<br />

seriam consumidas a fim de atender às demandas de seu<br />

programa de condicionamento total na pista e na sala<br />

de musculação, sem usar qualquer tipo de dieta com<br />

sobrecarga de carboidrato para essa corrida. Após a corrida,<br />

recuperando-se alegremente por terem atingido seu recorde<br />

pessoal para a distância de 5 km, todas agradeceram a ela<br />

por pesquisar sobre o que era necessário ao se realizar uma<br />

corrida.<br />

Aprendendo o básico sobre nutrição e como um<br />

atleta ou praticante de atividade física pode se beneficiar<br />

da compreensão de como carboidratos, lipídios, proteínas,<br />

vitaminas e minerais são usados durante e depois<br />

das sessões de treinamento diferentes ou competições,<br />

uma abordagem mais científica pode ser utilizada para<br />

determinar a necessidade de dietas e alterações benéficas<br />

na alimentação.<br />

Neste capítulo, serão exploradas as estratégias na<br />

dieta acerca do consumo de carboidratos, gorduras,<br />

proteínas, vitaminas e minerais para melhorar o desempenho<br />

físico.<br />

MACrONuTriENTES<br />

O corpo humano apresenta uma grande necessidade de carboidratos,<br />

proteí nas e lipídios; portanto, estes são chamados<br />

de macronutrientes. Todos os três são orgânicos por natureza,<br />

o que significa dizer que são substâncias com base de<br />

carbono. Os três macronutrientes contêm moléculas de carbono,<br />

hidrogênio e oxigênio, e, além disso, a proteí na também<br />

tem moléculas de nitrogênio. Todos os macronutrientes podem<br />

ser usados no metabolismo para produzir energia utilizada na<br />

forma de trifosfato de adenosina (ATP; ver Capítulos 2 e 3).<br />

No entanto, o número de quilocalorias – uma medida de<br />

energia potencial – por grama de substrato é diferente entre<br />

os macronutrientes: o carboidrato e a proteí na, cada um,<br />

produzem 4 kcal/g e a gordura 9 kcal/g. Por isso, o fato de<br />

conterem energia que pode ser convertida em ATP por meio<br />

das vias metabólicas aeróbias e anaeróbias é uma razão dessa<br />

necessidade de consumo relativamente elevada dos macronutrientes.<br />

Lembre-se de que o ATP é a única forma de energia<br />

que pode ser usada de maneira direta pelo corpo em todas as<br />

suas funções, inclusive na contração muscular. Em par ticular,<br />

os carboidratos e os lipídios são importantes para o metabolismo,<br />

uma vez que são responsáveis por boa parte do ATP<br />

produzido durante o metabolismo. Sob condições normais,<br />

pouca proteí na é usada na produção de ATP; entretanto, isso<br />

pode mudar em situações específicas. Por exemplo, o uso de<br />

proteí na no metabolismo aumenta quando se consome dieta<br />

rica em proteí nas ou quando a ingestão de calorias totais não<br />

satisfaz as necessidades energéticas do corpo (dieta ou fome).<br />

Nesses casos, a proteí na que compõe o tecido corporal, como<br />

os músculos esqueléticos, é degradada, e os aminoá cidos resultantes<br />

são utilizados para sintetizar ATP via metabolismo<br />

aeróbio.<br />

Além de servir como substrato metabólico, todos os três<br />

macronutrientes são essenciais para o desenvolvimento teci<br />

dual corporal, inclusive do músculo estriado esquelético.<br />

Nesse contexto, os carboidratos são fundamentais por duas<br />

razões. Primeiro porque são a fonte primária de energia durante<br />

a atividade de alta intensidade, como o exercício resistido<br />

(levantamento de peso), que é um potente estimulante do<br />

crescimento do tecido muscular. Segundo porque o consumo<br />

adequado de carboidratos na dieta permite que as proteí nas<br />

ingeridas sejam usadas no crescimento muscular. O músculo<br />

esquelético, como a maioria dos tecidos do corpo, é composto<br />

de muita proteí na na forma de aminoá cidos. Por isso, é preciso<br />

consumir aminoá cidos para sintetizar e reparar o músculo<br />

esquelético.<br />

Embora, normalmente, seja recomendada uma ingestão<br />

limitada por questões de saú de, como prevenção de doença<br />

cardiovascular, os lipídios são elementos fundamentais na<br />

nossa dieta diá ria por muitas razões. Por exemplo, os lipídios<br />

são essenciais para manter o ambiente hormonal necessário<br />

para a síntese proteica e a função reprodutiva. Além disso,<br />

eles são componentes importantes das membranas de todas<br />

as células no corpo. A ingestão adequada (IA) de todos os<br />

três macronutrientes é indispensável para o crescimento normal<br />

do corpo humano, para a manutenção da função corporal<br />

regular e para as adaptações ao treinamento físico, como aumento<br />

da massa muscular decorrente do treinamento resistido<br />

ou manutenção e reparo de massa muscular em virtude<br />

do treinamento aeróbio. Nas seções seguintes, será explorada<br />

com mais detalhes a função dos macronutrientes para melhorar<br />

potencialmente o desempenho físico.<br />

Revisão rápida<br />

• Os três macronutrientes são o carboidrato, o lipídio e<br />

a proteína<br />

• Todos os macronutrientes são necessários para a ampla<br />

organização das funções corporais<br />

• Todos os três macronutrientes podem ser usados como<br />

substratos metabólicos, porém, em geral, pouca proteína<br />

é usada na produção do ATP.<br />

Carboidrato<br />

Embora a American Dietetic Association recomende que<br />

45 a 65% da ingestão calórica diá ria total seja composta de<br />

carboidratos, da perspectiva prática, o menor valor dessa variação,<br />

45 a 50%, parece ser mais prudente, a não ser que


Capítulo 9 Suporte Nutricional para o Exercício 261<br />

o in di ví duo seja um corredor de endurance e precise de um<br />

maior consumo quando o volume de treinamento é alto.<br />

O consumo elevado de carboidratos de alto índice glicêmico<br />

interfere nas ingestões necessárias de proteí na e gordura, e<br />

os carboidratos de alto índice glicêmico promovem a deposição<br />

de gordura no corpo devido à função da insulina, que<br />

inibe as enzimas lipolíticas que degradam a gordura. 1 A Food<br />

and Drug Administration (FDA) estima que 130 g por dia<br />

de carboidratos sejam a quantidade mínima média de glicose<br />

metabolizada pelo encéfalo, que tem uma grande preferência<br />

por esse substrato de energia. 32 Em virtude dessa necessidade,<br />

juntamente com o fato de os carboidratos serem usados por<br />

muitos outros tecidos do corpo, o valor diá rio nos rótulos dos<br />

alimentos desses macronutrientes é de 300 g por dia. Muitos<br />

alimentos ricos em carboidratos, como frutas e vegetais, também<br />

apresentam percentual relativamente baixo de gordura<br />

e alto de fibra. Tanto a baixa ingestão de gordura quanto a<br />

alta ingestão de fibras são associadas a benefícios gerais para a<br />

saú de, como diminuição do risco de alguns tipos de câncer, da<br />

obesidade e da doen ça cardiovascular. No entanto, em termos<br />

de desempenho físico, talvez o aspecto mais importante da<br />

ingestão de carboidratos seja atender às necessidades energéticas<br />

para a atividade.<br />

Durante eventos aeróbios, como a maratona, o carboidrato<br />

é o substrato metabólico preferido por diversos fatores. 14,103<br />

A velocidade na qual as quilocalorias são convertidas em ATP<br />

utilizado pelos músculos é quase 2 vezes maior com os carboidratos<br />

do que lipídios e proteí nas. Isso quer dizer que a<br />

utilização de carboidratos possibilita ao atleta correr, pedalar<br />

ou nadar em ritmo sustentável mais rápido. Outra vantagem<br />

da utilização dos carboidratos como substrato de energia é<br />

que, por unidade de oxigênio consumida pelo corpo, aproximadamente<br />

6% mais ATP é produzido quando se metabolizam<br />

carboidratos em comparação com os lipídios. Assim, ao<br />

depender dos carboidratos como principal substrato de energia<br />

durante o exercício aeróbio, ocorre uso mais eficiente do<br />

oxigênio consumido pelos músculos em exercício (Boxe 9.1). Na<br />

transição do repouso para a atividade, a utilização de carboidratos<br />

como substrato metabólico aumenta e a de gordura<br />

diminui até certa intensidade de exercício, cerca de 60% do<br />

V . o 2 máx.<br />

para o não treinado, e o carboidrato se torna o principal<br />

substrato de energia (ver “Interações de substratos”, no<br />

Capítulo 3).<br />

O uso seletivo dos carboidratos como substrato metabólico<br />

durante o exercício prolongado resulta em depleção de<br />

glicogênio hepático, já que o fígado tenta manter os níveis<br />

de glicose sanguí nea e evita a depleção de glicogênio nos<br />

músculos em exercício. Por exemplo, 1 hora de exercício de<br />

endurance de alta intensidade reduz o glicogênio hepático em<br />

cerca de 55%. No entanto, 2 horas de atividade extrema esgota<br />

quase que completamente o glicogênio tanto do fígado<br />

quanto do músculo. Isso é muito importante, pois a depleção<br />

de glicogênio está ligada à fadiga. Sabemos, por meio de uma<br />

análise quantitativa, que em corridas de longa distância, mais<br />

do que dois quintos dos corredores participantes vivenciaram<br />

uma depleção das reservas de carboidrato que limitou<br />

seu desempenho, e muitos desistiram da corrida (1 a 2% dos<br />

que começaram). 86 Assim, abordagens in di vi dualizadas para<br />

melhorar os armazenamentos de carboidrato de um corredor<br />

parecem ser uma abordagem ótima para intervenção na dieta. 86<br />

Atletas de endurance denominam de fenômeno de exaustão<br />

o ponto na corrida em que ocorre a depleção de glicogênio.<br />

Nesse momento, o ritmo no qual a atividade é rea li zada precisa<br />

ser reduzido. Embora o(s) mecanismo(s) fisiológico(s)<br />

que relaciona(m) a depleção de glicogênio com a fadiga não<br />

seja(m) completamente conhecido(s), diversos fatores podem<br />

estar envolvidos:<br />

• A velocidade mais lenta da transferência de energia das<br />

quilocalorias em ATP com o lipídio em comparação com o<br />

carboidrato, o que requer que o ritmo da atividade diminua<br />

• O uso de glicose sanguí nea para a função ideal do sistema<br />

nervoso central; isso é prioridade em relação às necessidades<br />

dos músculos em trabalho<br />

• O aumento da dependência das fibras muscula res do tipo<br />

II com a intensificação do exercício; essas fibras produzem<br />

mais ácido láctico do que as fibras do tipo I.<br />

Assim, ainda que não esteja totalmente claro por que a depleção<br />

de glicogênio resulta em fadiga durante o evento de<br />

endurance, está evidente que a depleção de glicogênio está<br />

Boxe 9.1 Aplicação da pesquisa<br />

Não é só o músculo que precisa de carboidrato<br />

O carboidrato como um macronutriente<br />

tem um papel importante no desempenho físico, especialmente<br />

quando o conteúdo de glicogênio no fígado e no músculo é<br />

necessário para atender às demandas de energia do estresse<br />

do exercício. A menos que a cetona seja adaptada devido às<br />

dietas com pouco carboidrato, a glicose desempenha um papel<br />

principal no funcionamento do cérebro e do sistema nervoso. A<br />

glicose também é o combustível principal para os glóbulos brancos.<br />

Os carboidratos são a maneira mais eficiente de se obter<br />

energia durante o exercício e, conforme aumenta a intensidade,<br />

cada vez mais energia é derivada do glicogênio intramuscular<br />

e da glicose sanguínea. O exercício de endurance e exercícios<br />

anaeróbios de alto volume e alta intensidade, encontrados em<br />

alguns esportes e em alguns treinos de musculação, dependem<br />

dos carboidratos para ter a energia apropriada à manutenção da<br />

qualidade do esforço muscular e do desempenho. No entanto,<br />

há uma reserva limitada de carboidrato armazenado na forma<br />

de glicogênio e, portanto, a reposição é necessária seja por meio<br />

da dieta ou suplementação quando essa reserva é significativamente<br />

reduzida.


262 Parte 3 Nutrição e Ambiente<br />

relacionada com a fadiga e capacidades de desempenho reduzidas<br />

em eventos do tipo endurance de longa duração.<br />

O metabolismo do carboidrato também é importante<br />

como fonte de energia durante o exercício anaeróbio. Apenas<br />

o carboidrato na forma de glicose sanguí nea ou glicogênio<br />

muscular pode ser usado pela glicólise para produzir ATP e<br />

ácido láctico; os lipídios não podem ser usados como substrato<br />

para o metabolismo anaeróbio (ver “Glicólise”, no<br />

Capítulo 2). Pesquisas revelam que, conforme a intensidade<br />

do exercício aumenta, o mesmo acontece com seu uso e depleção<br />

dos estoques de glicogênio. O glicogênio muscular cai<br />

cerca de 72% durante as séries de sprint de 1 minuto de ciclismo<br />

em resistência igual a 140% daquela usada no consumo<br />

de oxigênio máximo. 63 O exercício resistido, devido à natureza<br />

anaeróbia, também é bastante dependente da glicólise<br />

e promove a depleção de glicogênio dos músculos que estão<br />

em trabalho. Isso é especialmente verdade ao realizar, pelo<br />

menos, um número moderadamente elevado de repetições e<br />

após realizar múltiplas séries com resistência submáxima. 64,90<br />

Em geral, as reduções do glicogênio são de 30 a 40% após o<br />

exercício resistido, com diminuição especialmente aparente<br />

nas fibras muscula res de tipo II. 113 Pesquisa determinou com<br />

clareza que o metabolismo do carboidrato, e portanto a ingestão<br />

de carboidratos, é importante para a rea li zação dos<br />

protocolos de treinamento, tanto aeróbio quanto anaeróbio<br />

de intensidade e duração mais alta (p. ex., treinamento intervalado);<br />

entretanto, para a rea li zação do treinamento resistido<br />

típico, o qual também é uma atividade anaeróbia, isso é menos<br />

importante. Nas próximas seções, discutimos diferentes estratégias<br />

dietéticas com objetivo de aumentar a disponibilidade<br />

do carboidrato para o metabolismo.<br />

Dietas de alta ingestão de carboidratos<br />

Em virtude da dependência do carboidrato como substrato de<br />

energia para a rea li zação de quase todos os tipos de atividade<br />

física, tem-se recomendado que os atletas consumam dietas<br />

que contenham os carboidratos suficientes. 1 Para a maioria<br />

dos atletas, durante o treinamento, a ingestão diá ria recomendada<br />

de carboidratos deve ser de pelo menos 50% das calorias<br />

totais consumidas. 1 No entanto, as necessidades de carboidratos<br />

podem ser maiores para alguns atletas. Por exemplo,<br />

recomenda-se que durante grandes volumes de treinamento a<br />

ingestão de carboidratos seja elevada – de 55 a 60% das calorias<br />

totais consumidas – pelos fisiculturistas e outros atletas de<br />

força. 58 Observe que esse valor está dentro da variação de 45<br />

a 65% das calorias totais normalmente recomendadas, e que a<br />

ingestão de carboidratos dos atletas de endurance pode alcançar<br />

o valor máximo dessa variação devido ao alto gasto energético<br />

com o treinamento. 114 Para todos os atletas, a ingestão<br />

insuficiente de carboidratos pode resultar em incapacidade de<br />

manutenção da intensidade e do volume de treinamento; redução<br />

da massa muscular e adaptações fisiológicas inadequadas<br />

ao treinamento. 1,40,58<br />

A ingestão de carboidratos está correlacionada com o<br />

conteú do de glicogênio muscular. Assim, as dietas que oferecem<br />

carboidratos suficientes mantêm o conteú do muscular<br />

Tempo para exaustão (min)<br />

250<br />

200<br />

150<br />

100<br />

50<br />

Dieta com alta ingestão de carboidratos<br />

Dieta normal<br />

Dieta de baixa ingestão de carboidratos<br />

0<br />

50 100<br />

150 200<br />

Glicogênio muscular inicial (mmol/kg músculo)<br />

FigurA 9.1 Existe correlação entre ingestão de carboidratos, conteúdo<br />

de glicogênio muscular e desempenho de endurance. Conforme a<br />

ingestão de carboidratos aumenta, o mesmo ocorre com o glicogênio<br />

muscular e o tempo para exaustão na intensidade submáxima do exercício.<br />

(Dados de Astrand PO. Diet and athletic performance. Federation<br />

Proceed. 1967; 26:1772-1777.)<br />

de glicogênio de modo que a fadiga possa ser postergada o<br />

máximo possível durante a atividade (Figura 9.1). Isso vale<br />

para esportes aeróbios, anaeróbios e intermitentes (basquetebol,<br />

voleibol e futebol). Entretanto, talvez seja mais aparente<br />

nas atividades de endurance. Estudos de 1939, 18 bem como alguns<br />

rea li zados depois disso, 5,37 mostraram que o tempo para<br />

exaustão é maior quando são ingeridas dietas ricas em carboidratos.<br />

Em um estudo, por exemplo, um grupo de pessoas<br />

seguiu determinada dieta na qual cerca de 22% das calorias<br />

totais provinham do carboidrato e outro grupo seguiu dieta<br />

que fornecia 52% das calorias na forma de carboidrato. Após<br />

3 dias dessa ingestão dietética, o tempo para exaustão no ciclismo<br />

a 68% do pico de consumo de oxigênio foi, para ambas<br />

as dietas, de cerca de 65 minutos. 37 No entanto, após perío do<br />

de repouso de 15 minutos, a exaustão na 2 a série de trabalho<br />

na mesma carga de trabalho foi de 9,5 e 65 minutos para<br />

os grupos da dieta de baixa e alta ingestão de carboidratos,<br />

respectivamente. Interessante observar que a importância da<br />

ingestão e suplementação de carboidratos para capacidades<br />

de desempenho de endurance de longa duração ou com repetição<br />

parece não estar relacionada aos efeitos ergogênicos da<br />

proteí na. 71 Devido à dependência do carboidrato como combustível<br />

metabólico nas atividades aeróbias e anaeróbias, o<br />

atleta precisa ingerir o bastante de carboidratos em sua dieta.<br />

Ainda que os carboidratos possam ser simples ou complexos<br />

na forma, a dependência dominante do atleta deve ser dos


Capítulo 9 Suporte Nutricional para o Exercício 263<br />

carboidratos complexos na dieta regular, pois os carboidratos<br />

complexos requerem bastante tempo para digestão, o que<br />

significa dizer que ocorre liberação lenta e regular de monossacarídios<br />

na corrente sanguí nea (todos os carboidratos são<br />

convertidos em glicose ou galactose antes de serem liberados<br />

no sangue), evitando, desse modo, a resposta aguda da insulina.<br />

Em conse quência, no repouso, os carboidratos complexos<br />

(grãos, vegetais etc.) são mais propensos à armazenagem no corpo<br />

na forma de glicogênio, o qual pode ser usado em outro momento<br />

durante o exercício. Em contraste, os carboidratos simples<br />

(p. ex., bala, refrigerante etc.) requerem pouquí ssima digestão e,<br />

por isso, a glicose é liberada com muita rapidez e, em abundância,<br />

na circulação sanguí nea. Esse pico na glicose sanguí nea desencadeia<br />

uma ampla resposta da insulina e, com isso, no repouso, mais<br />

glicose é convertida e armazenada na forma de gordura corporal.<br />

Claramente, todos os atletas e pessoas com consciên cia saudável<br />

devem fazer um esforço e se certificar de que geralmente os<br />

carboidratos consumidos sejam complexos, e não simples. Alguns<br />

podem começar a pensar sobre os carboidratos em um panorama<br />

geral, usando as informações no Boxe 9.1. Na próxima seção,<br />

serão explorados os efeitos dos alimentos que promovem a liberação<br />

de glicose rápida e lenta no sangue.<br />

Índice glicêmico<br />

O índice glicêmico é uma medida relativa do aumento da concentração<br />

de glicose sanguí nea no perío do de 2 horas após a ingestão<br />

de um alimento contendo 50 g de carboidrato. Depois disso,<br />

esse nível é comparado com os alimentos padrão que contêm<br />

carboidrato – em geral, pão branco ou glicose –, os quais elevam<br />

os níveis da glicose sanguí nea com bastante rapidez. O índice<br />

glicêmico padrão é 100. Se um alimento eleva as concentrações<br />

sanguí neas de glicose em 45% tanto quanto o padrão, considerase<br />

o índice glicêmico de 45. Para atletas, alimentos de alto índice<br />

glicêmico (70 ou mais) oferecem várias vantagens potenciais em<br />

comparação aos alimentos de índice glicêmico moderado (56 a<br />

69) ou baixo (55 ou menos), pois elevam rapidamente a glicose<br />

sanguí nea. O índice glicêmico de alguns alimentos comuns<br />

está na Tabela 9.1. Se as concentrações de glicose sanguí nea aumentam<br />

com rapidez, a glicose pode ser usada como substrato<br />

metabólico rapidamente durante o exercício. Além disso, se as<br />

concentrações de glicose sanguí nea se elevam de maneira rápida,<br />

a glicose sanguí nea pode ser usada para aumentar as concentrações<br />

esgotadas de glicogênio muscular e hepático de maneira veloz,<br />

ajudando a recupe ração entre as séries repetidas de exercício.<br />

Alimentos com índice glicêmico moderado a alto podem<br />

elevar o glicogênio muscular com mais velocidade do que os<br />

alimentos com baixo índice glicêmico. 117 Esse efeito pode ser<br />

valioso quando séries sucessivas de exercício são muito próximas.<br />

Entretanto, se as séries de exercício ou sessões de treinamento<br />

são separadas por longos perío dos, como 24 horas,<br />

os alimentos tanto de alto quanto de baixo índice glicêmico<br />

promoverão o retorno do glicogênio muscular ao nível normal,<br />

quando carboidratos suficientes forem ingeridos.<br />

Surpreendentemente, mesmo que os alimentos de alto índice<br />

glicêmico elevem a glicose do sangue com rapidez e resultem<br />

no reabastecimento mais ágil do glicogênio muscular<br />

Tabela 9.1 Índice glicêmico dos alimentos.<br />

Alimento<br />

Índice glicêmico<br />

(relativo à glicose)<br />

Alimentos de índice glicêmico alto (70 ou mais)<br />

Glicose 100<br />

Barras de fruta processada de morango 90<br />

Bolachas de arroz tufado 82<br />

Bala tipo Delicado ® 78<br />

Batata assada recheada 78<br />

Flocos de milho 77<br />

Pão branco 77<br />

Waffles 76<br />

Biscoitos de água e sal 74<br />

Bisnaga branca 72<br />

Alimentos de índice glicêmico moderado (56 a 69)<br />

Cereal Special K ® 69<br />

Coquetel de suco de cranberry 68<br />

Sorvete de chocolate 68<br />

Arroz branco, cozido 64<br />

Coca-cola ® 63<br />

Chips de milho 63<br />

Batata-doce 61<br />

Milho-doce 60<br />

Abacaxi, cru 59<br />

Suco de laranja 57<br />

Alimentos de índice glicêmico baixo (55 ou menos)<br />

Mingau de aveia 54<br />

Banana, amarela 51<br />

Feijão cozido 48<br />

Macarrão instantâneo 46<br />

Cereal All-Brand ® 42<br />

Pão de centeio 41<br />

Suco de maçã, não adoçado 40<br />

Feijão-roxinho 28<br />

Iogurte com redução de gordura 27<br />

Leite integral 27<br />

Dados de Foster-Powell K, Holt SHA, Brand-Miller JC. International table of<br />

glycemic index and glycemic load values: 2002. Am J Clin Nutr. 2002;76:5-56.<br />

após o exercício, as pesquisas não confirmam benefícios no<br />

desempenho de endurance com a ingestão de alimentos de alto<br />

índice glicêmico. Por exemplo, o desempenho durante uma<br />

prova de ciclismo contrarrelógio de 64 km não diferiu entre<br />

aqueles que consumiram suplementos de alto índice glicêmico<br />

e aqueles que ingeriram suplementos de baixo índice glicêmico<br />

durante o evento.<br />

Além do mais, as pesquisas conduzidas até hoje acerca do<br />

efeito do índice glicêmico das refeições antes das competições<br />

(30 minutos a 3 horas antes da atividade) sobre o desempenho<br />

de endurance produziram resultados ambíguos. 26,55,102,106,120


FUNDAMENTOS MATEMÁTICOS PARA<br />

A CIÊNCIA DA COMPUTAÇÃO<br />

Ano: 2017<br />

Editora: Grupo GEN | Selo LTC<br />

Nº de Páginas: 908<br />

Formato: 21 x 28 cm<br />

Área: Informática<br />

A seguir algumas páginas


A autora e a editora empenharam-se para citar adequadamente e dar o devido crédito a todos os detentores dos direitos autorais de qualquer material<br />

utilizado neste livro, dispondo-se a possíveis acertos caso, inadvertidamente, a identificação de algum deles tenha sido omitida.<br />

Não é responsabilidade da editora nem da autora a ocorrência de eventuais perdas ou danos a pessoas ou bens que tenham origem no uso desta<br />

publicação.<br />

Apesar dos melhores esforços da autora, da tradutora, do editor e dos revisores, é inevitável que surjam erros no texto. Assim, são bem-vindas as<br />

comunicações de usuários sobre correções ou sugestões referentes ao conteúdo ou ao nível pedagógico que auxiliem o aprimoramento de edições<br />

futuras. Os comentários dos leitores podem ser encaminhados à LTC __ Livros Técnicos e Científicos Editora pelo e-mail ltc@grupogen.com.br.<br />

MATHEMATICAL STRUCTURES FOR COMPUTER SCIENCE, SEVENTH EDITION<br />

First published in the United States by<br />

W. H. FREEMAN AND COMPANY, New York<br />

Copyright © 2014 by W. H. Freeman and Company<br />

All Rights Reserved.<br />

Publicado originalmente nos Estados Unidos por<br />

W. H. FREEMAN AND COMPANY, Nova York<br />

Copyright © 2014 by W. H. Freeman and Company<br />

Todos os Direitos Reservados.<br />

ISBN: 978-1-4292-1510-7<br />

Portuguese edition copyright © 2017 by<br />

LTC __ Livros Técnicos e Científicos Editora Ltda.<br />

All rights reserved.<br />

ISBN: 978-85-216-3259-7<br />

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Editoração Eletrônica: IO Design<br />

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO<br />

SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ<br />

G328f<br />

7. ed.<br />

Gersting, Judith L., 1940-<br />

Fundamentos matemáticos para a ciência da computação : matemática discreta e suas aplicações / Judith L. Gersting ; tradução Valéria de<br />

Magalhães Iorio. - 7. ed. - Rio de Janeiro : LTC, 2017.<br />

il. ; 28 cm.<br />

Tradução de: Mathematical structures for computer science<br />

Apêndice<br />

Inclui bibliografia e índice<br />

ISBN 978-85-216-3259-7<br />

1. Matemática. 2. Modelos matemáticos. 3. Computação - Matemática. I. Título.<br />

16-35249 CDD: 004.0151<br />

CDU: 004:51-7


Fundamentos Matemáticos<br />

para a Ciência da Computação<br />

7 a<br />

Edição<br />

MATEMÁTICA DISCRETA E SUAS APLICAÇÕES<br />

Judith L. Gersting<br />

Indiana University-Purdue University at Indianapolis<br />

Tradução e Revisão Técnica<br />

Valéria de Magalhães Iorio<br />

Ph.D., Universidade da Califórnia em Berkeley<br />

Professora titular do UNIFESO, Teresópolis


Capítulo<br />

Grafos e Árvores<br />

6<br />

OBJETIVOS DO CAPÍTULO<br />

Após o estudo deste capítulo, você será capaz de:<br />

• Compreender e utilizar os diversos termos associados a grafos, grafos direcionados e<br />

árvores.<br />

• Avaliar a utilização de grafos, grafos direcionados e árvores como ferramentas de representação<br />

em uma ampla variedade de contextos.<br />

• Provar que dois grafos dados são isomorfos ou dar uma razão de por que não o são.<br />

• Usar a fórmula de Euler em grafos planares simples e conexos.<br />

• Compreender o papel de dois grafos específicos, K 5 e K 3,3 na teoria de grafos planares.<br />

• Provar propriedades elementares de grafos e árvores.<br />

• Usar a matriz de adjacência e a lista de adjacência para representar grafos e grafos direcionados.<br />

• Efetuar percursos em uma árvore em pré-ordem, em ordem simétrica e em pós-ordem.<br />

• Usar tabelas (arrays) e ponteiros para armazenar árvores binárias.<br />

• Usar árvores de decisão para representar os comandos executados por um algoritmo de<br />

busca ou ordenação.<br />

• Construir árvores binária de busca e efetuar uma busca em uma árvore binária.<br />

• Expressar cotas inferiores para o número de comparações, no pior caso, para busca ou<br />

ordenação em uma lista com n elementos.<br />

• Encontrar os códigos de Huffman para caracteres cuja frequência de ocorrência seja<br />

conhecida.<br />

Você trabalha no Departamento de Sistemas de Informação de Regenhocas Globais (RG), o<br />

líder mundial na produção de regenhocas.* Regenhocas são aparelhos extremamente complexos,<br />

com um número muito grande de componentes muito simples. Cada peça é de um dos<br />

seguintes tipos: Arruela (A), Biela (B), Cavilha (C), Engrenagem (E) ou Parafuso (P). Existem<br />

muitas variações diferentes de cada tipo básico. Os números das peças começam com uma<br />

letra, A, B, C, E ou P, que identifi ca o tipo, seguida de um número com 8 dígitos. Assim,<br />

B00347289<br />

A11872432<br />

P45003781<br />

são todos números legítimos de componentes. Usando o princípio de multiplicação, existem 5 3<br />

10 8 números de peças em potencial! A RG mantém um arquivo de dados com os números das<br />

peças que usa, que são a maioria dos números em potencial. A maior parte dos computadores,<br />

*A palavra utilizada no original inglês, widget, é uma palavra inventada, com um som semelhante à gadget, que significa<br />

“engenhoca”; traduzi por outra palavra inventada, com um som semelhante à engenhoca. (N.T.)<br />

428


Grafos e Árvores 429<br />

incluindo os usados na RG, usa o sistema de códigos ASCII para converter caracteres em forma<br />

binária, segundo o qual cada caractere necessita de 1 byte (8 bits) de armazenagem. Como<br />

cada número diferente de peça contém 9 caracteres, o arquivo de peças da RG é de aproximadamente<br />

9 3 5 3 10 8 bytes, ou 4,5 Gb.<br />

Pergunta:<br />

Como comprimir esse arquivo de número de peças de modo a usar menos espaço de<br />

armazenamento?<br />

Uma resposta a essa pergunta envolve a utilização de uma estrutura de árvores binárias. Uma<br />

árvore é uma representação visual de dados e conexões entre eles. É um caso especial<br />

de uma estrutura mais geral chamada grafo. Grafos ou árvores podem representar um<br />

número surpreendente de situações reais ― organogramas, mapas rodoviários, redes<br />

de transporte e comunicação, e assim por diante. Mais tarde veremos outros usos de<br />

grafos e árvores para representar redes lógicas, máquinas de estado finito e derivações<br />

de linguagens formais.<br />

A teoria dos grafos é um tópico extenso. As Seções 6.1 e 6.2 apresentam parte da terminologia<br />

associada a grafos e árvores, e alguns resultados elementares sobre essas estruturas.<br />

Para representar um grafo ou árvore na memória do computador, os dados precisam<br />

ser arrumados de forma a preservar toda a informação contida na representação visual.<br />

São discutidas diversas abordagens para a representação de grafos e árvores dentro de um<br />

computador.<br />

Árvores de decisão são representações gráficas das atividades de certos tipos de algoritmos.<br />

Elas são apresentadas e usadas, na Seção 6.3, para encontrar cotas inferiores para<br />

o comportamento, no pior caso, de algoritmos de busca e ordenação. Na Seção 6.4 é dado<br />

um algoritmo para a construção de árvores binárias que permitem a compressão dos dados<br />

em arquivos grandes.<br />

SEÇÃO 6.1 GRAFOS E SUAS REPRESENTAÇÕES<br />

Definições de um Grafo<br />

Um modo de passar a hora em uma viagem de avião é olhar os panfletos nos bolsos de<br />

assento. Esse material quase sempre inclui um mapa das rotas da companhia proprietária<br />

do avião, como na Figura 6.1. Toda essa informação sobre rotas poderia ser expressa em<br />

um parágrafo; por exemplo, existe uma rota direta entre Chicago e Nashville, mas não<br />

existe uma rota direta entre Nashville e St. Louis. No entanto, esse parágrafo seria bastante<br />

longo e complicado, e não seríamos capazes de assimilar a informação tão rápida<br />

e claramente quanto a partir do mapa. Existem muitos casos em que “uma imagem vale<br />

mais de mil palavras”.<br />

San Francisco<br />

Chicago<br />

Denver<br />

St. Louis<br />

Nashville<br />

Phoenix<br />

Albuquerque<br />

Dallas<br />

Miami<br />

Los Angeles<br />

Figura 6.1


430 Capítulo 6<br />

Gráfico em Setores<br />

Partes por Milhão<br />

Gráfico de Barras<br />

2012 2013 2014 2015<br />

Figura 6.2<br />

Grafo Pictórico<br />

Cada figura representa<br />

100.000<br />

Nova York<br />

Philadelphia<br />

Lucros<br />

18% Impostos<br />

23%<br />

Equipamentos<br />

novos<br />

25%<br />

Despesas<br />

gerais<br />

34%<br />

Gastos em 2014<br />

A palavra “gráfico” é, muitas vezes, usada informalmente para qualquer representação<br />

visual de dados, como na Figura 6.1; outras formas incluem o gráfico de barras, o<br />

gráfico pictórico e o gráfico em setores, ilustrados na Figura 6.2. Falamos, também, sobre gráfico<br />

de funções em um sistema retangular de coordenadas. Os gráficos de que trataremos<br />

agora são chamados grafos. Usaremos duas definições de grafos: uma é baseada em uma<br />

representação visual como a da Figura 6.1, e a outra é uma definição mais formal que não<br />

fala nada sobre uma representação visual.<br />

DEFINIÇÃO<br />

(Informal)<br />

GRAFO<br />

Um grafo é um conjunto não vazio de nós (vértices) e um conjunto de arcos (arestas)<br />

tais que cada arco conecta dois nós.<br />

Nossos grafos sempre terão um número finito de nós e de arcos.<br />

EXEMPLO 1<br />

O conjunto de nós no mapa das rotas aéreas na Figura 6.1 é {Chicago, Nashville, Miami,<br />

Dallas, St. Louis, Albuquerque, Phoenix, Denver, San Francisco, Los Angeles}. O grafo tem<br />

16 arcos; Phoenix-Albuquerque é um arco (denominamos, aqui, os arcos pelos nós que ele<br />

conecta), Albuquerque-Dallas é outro e assim por diante.<br />

EXEMPLO 2<br />

O grafo da Figura 6.3 tem cinco nós e seis arcos. O arco a 1 conecta os nós 1 e 2, a 3 conecta<br />

os nós 2 e 2 e assim por diante.<br />

a 1<br />

2<br />

a 2<br />

a 3<br />

a 4<br />

1<br />

a 5 3<br />

a 6 4 5<br />

Figura 6.3<br />

A definição informal de um grafo funciona muito bem se tivermos a representação<br />

visual do grafo na nossa frente mostrando que arcos conectam que nós. Sem uma figura,<br />

no entanto, precisamos de uma forma concisa de mostrar essa informação. Isso nos leva à<br />

segunda definição de grafos.


Grafos e Árvores 431<br />

DEFINIÇÃO<br />

(Formal)<br />

GRAFOS<br />

Um grafo é uma tripla ordenada (N, A, g), em que<br />

N = um conjunto não vazio de nós (vértices)<br />

A = um conjunto de arcos (arestas)<br />

g = uma função que associa cada arco a a um par não ordenado x-y de nós, chamados<br />

de extremidades de a.<br />

EXEMPLO 3<br />

Para o grafo da Figura 6.3, a função g que associa arcos a suas extremidades é a seguinte:<br />

g(a 1 ) = 1–2, g(a 2 ) = 1–2, g(a 3 ) = 2–2, g(a 4 ) = 2–3, g(a 5 ) = 1–3 e g(a 6 ) = 3–4.<br />

PROBLEMA PRÁTICO 1<br />

Esboce um grafo com nós {1, 2, 3, 4, 5}, arcos {a 1 , a 2 , a 3 , a 4 , a 5 , a 6 } e função g dada<br />

por g(a 1 ) = 1–2, g(a 2 ) = 1–3, g(a 3 ) = 3–4, g(a 4 ) = 3–4, g(a 5 ) = 4–5 e g(a 6 ) = 5–5.<br />

■<br />

Podemos querer que os arcos de um grafo comecem em um nó e terminem em outro,<br />

caso em que teríamos um grafo direcionado.<br />

DEFINIÇÃO<br />

GRAFO DIRECIONADO<br />

Um grafo direcionado (dígrafo) é uma tripla ordenada (N, A, g), em que<br />

N = um conjunto não vazio de nós<br />

A = um conjunto de arcos<br />

g = uma função que associa a cada arco um par ordenado (x, y) de nós, em que x é<br />

o ponto inicial (extremidade inicial) e y é o ponto final (extremidade final) de a.<br />

Em um grafo direcionado, cada arco tem um sentido ou orientação.<br />

EXEMPLO 4<br />

A Figura 6.4 mostra um grafo direcionado, com 4 nós e 5 arcos. A função g que associa a<br />

cada arco suas extremidades satisfaz g(a 1 ) = (1, 2), o que significa que o arco a 1 começa no<br />

nó 1 e termina no nó 2. Temos, também, g(a 3 ) = (1, 3) e g(a 4 ) = (3, 1).<br />

a 1 2<br />

4 a 5<br />

1<br />

a<br />

a 2 3<br />

a 4<br />

3<br />

Figura 6.4<br />

Além de impor orientação aos arcos de um grafo, podemos querer modificar a<br />

definição básica de um grafo de outras maneiras. Queremos, muitas vezes, que os nós<br />

de um grafo contenham informações identificadoras, ou rótulos, como os nomes das


432 Capítulo 6<br />

cidades no mapa de rotas aéreas. Esse seria um grafo rotulado. Podemos querer usar<br />

um grafo com pesos, no qual cada arco tem um valor numérico, ou peso, associado.<br />

Por exemplo, poderíamos querer indicar as distâncias nas várias rotas em nosso mapa<br />

da companhia aérea.<br />

Neste livro, a palavra “grafo” sempre indicará um grafo não direcionado. Para nos<br />

referirmos a um grafo direcionado, sempre escreveremos “grafo direcionado”.<br />

Aplicações de Grafos<br />

Embora a ideia de grafo seja bastante simples, um número surpreendente de situações envolve<br />

relações entre itens que podem ser representadas por um grafo. Não surpreendentemente,<br />

este livro contém muitos grafos. Vimos representações gráficas de conjuntos parcialmente<br />

ordenados (diagramas de Hasse) no Capítulo 5. Um diagrama PERT (Figura 5.7,<br />

por exemplo) é um grafo direcionado. O diagrama E-R (Figura 5.10, por exemplo) é um<br />

grafo. O diagrama comutativo que ilustra a composição de funções (Figura 5.23) é um grafo<br />

direcionado. O Capítulo 8 introduzirá redes lógicas e as representará como grafos direcionados.<br />

Grafos direcionados também serão usados para descrever máquinas de estado finito<br />

no Capítulo 9.<br />

Vimos que o mapa de rotas aéreas era um grafo. Uma representação de qualquer rede<br />

de rotas de transporte (um mapa de estradas, por exemplo), rede de comunicação (como em<br />

uma rede de computadores) ou rotas de distribuição de produtos ou serviços, como dutos<br />

de gás ou água, é um grafo. A estrutura química de uma molécula também pode ser representada<br />

por um grafo.<br />

PROBLEMA PRÁTICO 2<br />

Desenhe o grafo subjacente em cada um dos casos a seguir.<br />

a. A Figura 6.5 é um mapa de estradas do estado do Arizona, EUA.<br />

b. A Figura 6.6 é uma representação de uma molécula de ozônio com três átomos de oxigênio.<br />

Flagstaff<br />

Sedona<br />

Winslow<br />

Rimrock<br />

Strawberry<br />

Payson<br />

Carefree<br />

Phoenix<br />

Tempe<br />

Scottsdale<br />

Mesa<br />

Chandler<br />

Apache<br />

Junction<br />

O<br />

Figura 6.5<br />

Casa Grande<br />

O<br />

Figura 6.6<br />

O<br />


Grafos e Árvores 433<br />

EXEMPLO 5<br />

Uma visão esquemática do fluxo de informação no Departamento de Trânsito-Detran seria<br />

o primeiro passo para se desenvolver um novo sistema computadorizado para novas<br />

licenças. A Figura 6.7 mostra o grafo direcionado resultante, muitas vezes chamado de<br />

diagrama de fluxo.<br />

Pedido do cliente<br />

Formulário<br />

Validação<br />

Fatura<br />

Cliente<br />

Boleto para<br />

pagamento<br />

Pagamento<br />

Processamento<br />

do pagamento<br />

Autorização<br />

para emissão<br />

da placa<br />

Recibo<br />

Emissão<br />

da placa<br />

Placa<br />

Notificação de crédito<br />

Cópia do registro<br />

Divisão da<br />

receita estadual<br />

Detran<br />

Figura 6.7<br />

EXEMPLO 6<br />

A Figura 6.8 mostra um grafo que representa uma rede local de computadores em uma firma.<br />

Nessa “topologia estrela”, todas as máquinas se comunicam através de um servidor central.<br />

O grafo ilustra bem um dos pontos fracos de tal projeto de rede: sua dependência na operação<br />

confiável e constante do servidor central.<br />

Figura 6.8<br />

EXEMPLO 7<br />

Redes neurais, ferramentas utilizadas em inteligência artificial para tarefas como o reconhecimento<br />

de padrões, são representadas por grafos direcionados com peso. A Figura 6.9<br />

mostra uma rede com camadas múltiplas consistindo em unidades de entrada, unidades de<br />

saída e unidades de “camadas escondidas”. Os pesos nos arcos dos grafos são ajustados à<br />

medida que a rede neural “aprende” a reconhecer certos padrões em teste.


434 Capítulo 6<br />

Unidades de entrada Camada oculta Unidades de saída<br />

w 1 1, 1<br />

w 1 1, 2<br />

w 1 2, 1<br />

w 2 1, 1<br />

w 1 1, j<br />

w 2 1, k<br />

w 1 2, 2<br />

w 2 2, 1<br />

w 1 2, j<br />

w 2 2, k<br />

w 1 i, 1 w 1 i, 2<br />

w 2 j, 1<br />

w 1 i, j<br />

w 2 j, k<br />

Figura 6.9<br />

Terminologia sobre Grafos<br />

Antes de prosseguir, precisamos de alguma terminologia sobre grafos. Surpreendentemente,<br />

embora exista uma grande quantidade de livros sobre a teoria dos grafos, a terminologia<br />

não é completamente padronizada. Outros livros, portanto, podem ter nomes ligeiramente<br />

diferentes de alguns desses termos.<br />

Em um grafo, dois nós são ditos adjacentes se ambos são extremidades de um mesmo<br />

arco. Por exemplo, no grafo da Figura 6.3, reproduzido novamente a seguir, 1 e 3 são nós<br />

adjacentes, mas 1 e 4 não. O nó 2 é adjacente a si mesmo. Um laço em um grafo é um arco<br />

com extremidades n-n para algum nó n; na Figura 6.3, o arco a 3 é um laço com extremidades<br />

2-2. Usaremos a terminologia grafo sem laços no caso em que o grafo não tiver<br />

nenhum laço. Dois arcos com as mesmas extremidades são ditos arcos paralelos; os arcos<br />

a 1 e a 2 na Figura 6.3 são paralelos. Um grafo simples é um grafo sem laços nem arcos<br />

paralelos. Um nó isolado é um nó que não é adjacente a nenhum outro; na Figura 6.3, o nó<br />

5 é um nó isolado. O grau de um nó é o número de extremidades de arcos naquele nó. Na<br />

Figura 6.3, os nós 1 e 3 têm grau 3, o nó 2 tem grau 5, o nó 4 tem grau 1 e o nó 5 tem grau 0.<br />

a 1<br />

2<br />

a 2<br />

a 3<br />

a 4<br />

1<br />

a 5 3<br />

a 6 4 5<br />

Como a função g, que associa a cada arco suas extremidades na definição formal de<br />

grafo, é de fato uma função, cada arco tem um único par de extremidades. Se g for uma<br />

função injetora, então existirá no máximo um arco associado a cada par de extremidades;<br />

tal grafo não tem arcos paralelos. Um grafo completo é um grafo no qual dois nós distintos<br />

quaisquer são adjacentes. Nesse caso g é quase uma função sobrejetora ― todo par x-y de<br />

nós distintos é a imagem, sob g, de algum arco ―, mas não há a necessidade de se ter um<br />

laço em cada nó. Portanto, pares da forma x-x podem não ter uma imagem inversa.


Grafos e Árvores 435<br />

Um subgrafo de um grafo consiste em um conjunto de nós e um conjunto de arcos<br />

que são subconjuntos do conjunto original de nós e arcos, respectivamente, nos quais as<br />

extremidades de um arco têm que ser os mesmos nós que no grafo original. Em outras<br />

palavras, um subgrafo é um grafo obtido apagando-se parte do grafo original e deixando o<br />

resto sem modificações. A Figura 6.10 mostra dois subgrafos do grafo da Figura 6.3. Note<br />

que o grafo na Figura 6.10a é simples e completo.<br />

a 1<br />

2<br />

a4<br />

a 2<br />

a 3<br />

a 1<br />

2<br />

1<br />

a 5 3<br />

(a)<br />

1<br />

a 5 3<br />

(b)<br />

Figura 6.10<br />

Um caminho do nó n 0 para o nó n k é uma sequência<br />

n 0 , a 0 , n 1 , a 1 , … , n k−1 , a k−1 , n k<br />

de nós e arcos em que, para cada i, as extremidades do arco a i são n i -n i+1 . No grafo da Figura<br />

6.3, um caminho do nó 2 para o nó 4 consiste na sequência 2, a 1 , 1, a 2 , 2, a 4 , 3, a 6 , 4.<br />

O comprimento de um caminho é o número de arcos que ele contém; se um arco for usado<br />

mais de uma vez, ele é contado cada vez que é usado. O comprimento do caminho descrito<br />

neste parágrafo do nó 2 para o nó 4 é 4.<br />

Um grafo é conexo se existe um caminho de qualquer nó para qualquer outro. Ambos<br />

os grafos na Figura 6.10 são conexos, mas o grafo na Figura 6.3 não é. Um ciclo em um grafo<br />

é um caminho de algum nó n 0 para ele mesmo tal que nenhum arco aparece mais de uma<br />

vez, n 0 é o único nó que aparece mais de uma vez, e n 0 aparece apenas nas extremidades.<br />

(Nós e arcos podem ser repetidos em um caminho, mas não, com exceção do nó n 0 , em um<br />

ciclo.) No grafo da Figura 6.3,<br />

1, a 1 , 2, a 4 , 3, a 5 , 1<br />

é um ciclo. Um grafo sem ciclos é dito acíclico.<br />

PROBLEMA PRÁTICO 3 Considere o grafo criado no Problema Prático 1.<br />

a. Encontre dois nós que não são adjacentes.<br />

b. Encontre um nó adjacente a si mesmo.<br />

c. Encontre um laço.<br />

d. Encontre dois arcos paralelos.<br />

e. Encontre o grau do nó 3.<br />

f. Encontre um caminho de comprimento 5.<br />

g. Encontre um ciclo.<br />

h. Esse grafo é completo?<br />

i. Esse grafo é conexo? ■


Tels: (24) 2248-0326 | (24) 98874-6103<br />

victor.mauricio1@hotmail.com

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