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Restringimos a discussão anterior às ideias e agora podemos lançar uma nova<br />
questão, cuja resposta contribuirá para esclarecer nossos pontos de vista teóricos.<br />
Dissemos que existem ideias conscientes e inconscientes; mas haveria<br />
também impulsos, * sentimentos, percepções inconscientes, ou neste caso combinações<br />
assim não fariam sentido?<br />
De fato, creio que a oposição de consciente e inconsciente não se aplica aos<br />
instintos. Um instinto não pode jamais se tornar objeto da consciência, apenas<br />
a ideia que o representa. Mas também no inconsciente ele não pode ser representado<br />
senão pela ideia. Se o instinto não se prendesse a uma ideia ou não<br />
aparecesse como um estado afetivo, nada poderíamos saber sobre ele. Mas se,<br />
no entanto, falamos de um impulso inconsciente ou um impulso reprimido,<br />
trata-se de uma inócua negligência de expressão. Só podemos estar nos referindo<br />
a um impulso cujo representante ideativo * é inconsciente, pois outra coisa<br />
não poderia entrar em consideração.<br />
Deveríamos pensar que a resposta à questão sobre os afetos, sentimentos,<br />
sensações inconscientes, é igualmente fácil. Pois é da natureza de um sentimento<br />
que ele seja sentido, isto é, que se torne conhecido da consciência. A<br />
possibilidade de inconsciência se excluiria totalmente no caso de sentimentos,<br />
sensações, afetos. Mas na prática psicanalítica estamos acostumados a falar de<br />
amor, ódio, raiva etc. inconscientes, e vemos como inevitável até mesmo a insólita<br />
junção “consciência de culpa inconsciente” ** ou a paradoxal “angústia<br />
inconsciente”. Esse modo de falar tem maior significado do que no caso de<br />
“instinto inconsciente”?<br />
Aqui a coisa é realmente outra. Pode primeiramente suceder que um impulso<br />
afetivo ou emocional seja percebido, mas de forma equivocada. Ele é<br />
obrigado, devido à repressão de sua verdadeira representação, a unir-se com<br />
outra ideia, e passa a ser tido, pela consciência, como manifestação dessa última.<br />
Se restabelecemos o vínculo correto, chamamos o impulso afetivo original<br />
de “inconsciente”, embora seu afeto jamais tenha sido inconsciente,<br />
apenas sua ideia sucumbiu à repressão. O uso das expressões “afeto<br />
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