Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
precipita nas insolúveis dificuldades do paralelismo psicofísico, fica aberta à<br />
crítica de superestimar sem fundamentação razoável o papel da consciência, e<br />
nos obriga a deixar o âmbito da pesquisa psicológica, sem nos trazer compensação<br />
de outros campos.<br />
De todo modo é claro que essa questão, de saber se os incontestáveis estados<br />
latentes da vida psíquica devem ser concebidos como estados psíquicos inconscientes<br />
* ou como físicos, ameaça redundar numa disputa de palavras. Daí<br />
ser aconselhável pôr em primeiro plano aquilo que sabemos com certeza sobre<br />
a natureza desses estados. Quanto a suas características físicas, eles nos são<br />
completamente inacessíveis; nenhuma concepção ** fisiológica, nenhum processo<br />
químico pode nos dar ideia de sua essência. Por outro lado se verifica<br />
que eles mantêm o mais amplo contato com os processos psíquicos conscientes;<br />
mediante um certo trabalho podem se transformar neles, serem substituídos<br />
por eles, e se deixam descrever com todas as categorias que aplicamos<br />
aos atos anímicos conscientes, tais como representações, decisões, aspirações<br />
etc. Mais ainda, de muitos desses estados devemos dizer que se diferenciam dos<br />
conscientes apenas pela falta da consciência. Logo, não hesitaremos em tratálos<br />
como objetos da investigação psicológica, em íntima relação com os atos<br />
anímicos conscientes.<br />
A tenaz rejeição do caráter psíquico dos atos anímicos latentes se explica<br />
pelo fato de a maioria dos fenômenos considerados não haver se tornado objeto<br />
de estudo fora da psicanálise. Quem não conhece os fatos patológicos, vê<br />
como casuais os lapsos das pessoas normais e se limita à velha sabedoria de que<br />
“os sonhos são espumas” [Träume sind Schäume], precisa apenas negligenciar<br />
mais alguns enigmas da psicologia da consciência para se poupar a hipótese de<br />
uma atividade anímica inconsciente. As experiências hipnóticas, aliás, especialmente<br />
a sugestão pós-hipnótica, demonstraram de modo tangível a existência e<br />
maneira de operar do inconsciente psíquico, antes mesmo da época da<br />
psicanálise.<br />
77/225