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Freud

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mesmas percepções e vivências que os mais execrados por eles, e que originalmente<br />

eles se diferenciem uns dos outros apenas por mudanças mínimas. Pode<br />

mesmo ocorrer, como vimos na gênese do fetiche, que a representante original<br />

do instinto se decomponha em duas partes, das quais uma sucumbe à<br />

repressão, e a restante, precisamente devido a esse íntimo enlace, tem o destino<br />

da idealização.<br />

Aquilo que resulta de uma deformação maior ou menor pode também ser<br />

alcançado na outra ponta do aparelho, por assim dizer, através de uma modificação<br />

nas condições da produção de prazer-desprazer. Técnicas especiais foram<br />

desenvolvidas, com o propósito de efetuar mudanças tais no jogo das<br />

forças psíquicas, que o que normalmente produz desprazer será também portador<br />

de prazer, e, sempre que tal recurso entrar em ação, será suspensa a<br />

repressão de uma representante instintual que normalmente seria rechaçada.<br />

Até agora, essas técnicas foram estudadas com maior detalhe apenas nas piadas.<br />

Via de regra a suspensão da repressão é apenas provisória; logo é<br />

restabelecida.<br />

Mas observações desse tipo nos levam a atentar para outras características<br />

da repressão. Ela é não só, como acabamos de ver, individual, mas também extremamente<br />

móvel. Não se deve imaginar o processo de repressão como algo<br />

acontecido uma única vez e que tem resultado duradouro, mais ou menos<br />

como quando se abate algo vivo, que passa a estar morto; a repressão exige,<br />

isto sim, um constante gasto de energia, cuja cessação colocaria em perigo o<br />

seu êxito, de modo que um novo ato de repressão se tornaria necessário. É lícito<br />

imaginar que o reprimido exerce uma contínua pressão na direção do consciente,<br />

a qual tem de ser compensada por uma ininterrupta contrapressão.<br />

Portanto, manter uma repressão pressupõe um permanente dispêndio de energia,<br />

e a sua eliminação significa, economicamente, uma poupança. A mobilidade<br />

da repressão, aliás, também acha expressão nas características psíquicas do<br />

sono, o único estado que torna possível a formação do sonho. Com o<br />

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