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Freud

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outra limitação no significado de amor e ódio. Não dizemos que amamos os<br />

objetos que são úteis à conservação do Eu; enfatizamos que temos necessidade<br />

deles, e expressamos algo referente a um outro tipo de relação, ao utilizar palavras<br />

que indicam um amor bem atenuado, como “gostar de”, “achar<br />

agradável”, “apreciar”.<br />

Portanto, a palavra “amar” se avizinha cada vez mais à esfera da pura relação<br />

de prazer do Eu com o objeto, e finalmente se fixa nos objetos sexuais em<br />

sentido estrito, e nos objetos que satisfazem as necessidades dos instintos<br />

sexuais sublimados. A separação entre instintos do Eu e instintos sexuais, que<br />

impusemos à nossa psicologia, revela-se então conforme ao espírito de nossa<br />

língua. Se não estamos habituados a dizer que o instinto sexual ama seu objeto,<br />

mas vemos o uso mais adequado da palavra “amar” na relação do Eu com seu<br />

objeto sexual, essa observação nos ensina que tal emprego nessa relação<br />

começa apenas com a síntese de todos os instintos componentes da sexualidade,<br />

sob o primado dos órgãos genitais e a serviço da função reprodutiva.<br />

É digno de nota que na utilização da palavra “odiar” não apareça uma relação<br />

íntima com o prazer sexual e a função sexual, a relação de desprazer<br />

parecendo ser a única decisiva. O Eu odeia, abomina, persegue com propósitos<br />

destrutivos todos os objetos que se lhe tornam fonte de sensações desprazerosas,<br />

não importando se para ele significam uma frustração da satisfação sexual<br />

ou da satisfação de necessidades de conservação. Pode-se mesmo afirmar que<br />

os autênticos modelos da relação de ódio não provêm da vida sexual, mas da<br />

luta do Eu por sua conservação e afirmação.<br />

O amor e o ódio, que se nos apresentam como uma total oposição material,<br />

não se acham portanto numa relação simples um com o outro. Não nasceram<br />

da cisão de algo primordialmente comum, mas têm origens diversas e perfizeram<br />

cada qual uma evolução própria, antes de formarem um par de opostos, sob<br />

influência da relação prazer-desprazer. Neste ponto se nos depara a tarefa de<br />

resumir o que sabemos sobre a origem do amor e do ódio.<br />

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