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Quando o objeto entra no estágio do narcisismo primário, chega-se à formação<br />
da segunda antítese do amar, o odiar.<br />
Como vimos, o objeto é levado ao Eu, desde o mundo exterior, primeiramente<br />
pelos instintos de autoconservação, e não se pode descartar que também<br />
o sentido original do ódio designe a relação para com o mundo exterior alheio<br />
e portador de estímulos. A indiferença se liga ao ódio, à aversão, como um seu<br />
caso especial, após ter surgido primeiro como seu precursor. O exterior, o objeto,<br />
o odiado seriam sempre idênticos no início. Se depois o objeto se revela<br />
fonte de prazer, ele será amado, mas também incorporado ao Eu, de modo que<br />
para o Eu-prazer purificado o objeto coincide novamente com o alheio e<br />
odiado.<br />
Mas notamos agora também que, assim como o par de opostos amor-indiferença<br />
reflete a polaridade Eu-mundo exterior, também a segunda oposição<br />
amor-ódio reproduz a polaridade prazer-desprazer que se relaciona à primeira.<br />
Depois que o estágio puramente narcísico dá lugar ao estágio do objeto, prazer<br />
e desprazer significam relações do Eu com o objeto. Quando o objeto se torna<br />
fonte de sensações prazerosas, produz-se uma tendência motora que busca<br />
aproximá-lo do Eu, incorporá-lo ao Eu; fala-se então da “atração” que o objeto<br />
dispensador de prazer exerce, e diz-se que se “ama” o objeto. Inversamente,<br />
quando o objeto é fonte de sensações desprazerosas, há uma tendência<br />
que se esforça por aumentar a distância entre ele e o Eu, repetir a original<br />
tentativa de fuga face ao mundo externo emissor de estímulos. Sentimos a “repulsão”<br />
do objeto e o odiamos; esse ódio pode então se exacerbar em<br />
propensão a agredir o objeto, em intenção de aniquilá-lo.<br />
É possível dizer de um instinto, se necessário, que ele “ama” o objeto que<br />
procura para a sua satisfação. Que um instinto “odeie” um objeto, porém, é<br />
algo que nos soa estranho, de modo que atentaremos para o fato de que as designações<br />
* amor e ódio não se aplicam às relações dos instintos com seus objetos,<br />
sendo reservadas para a relação do Eu total com os objetos. Mas a observação<br />
do uso da linguagem, sem dúvida pleno de sentido, mostra-nos uma<br />
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