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Freud

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As três polaridades psíquicas estabelecem as conexões mais significativas<br />

entre si. Há uma situação psíquica primordial, em que duas delas coincidem.<br />

Originalmente, bem no começo da vida anímica, o Eu se acha investido instintualmente,<br />

e em parte é capaz de satisfazer seus instintos em si mesmo. A esse<br />

estado chamamos de narcisismo, e de autoerótica a possibilidade de satisfação. 4<br />

Nesse tempo o mundo exterior não está investido de interesse (falando de<br />

modo geral) e não faz diferença no que toca à satisfação. Logo, nesse momento<br />

o Eu-sujeito coincide com o que é prazeroso, o mundo externo com o que é indiferente<br />

(eventualmente com o que, enquanto fonte de estímulos, é desprazeroso).<br />

Se provisoriamente definimos o amar como a relação do Eu com suas<br />

fontes de prazer, então a situação na qual o Eu ama apenas a si mesmo e é indiferente<br />

para com o mundo ilustra a primeira das oposições em que encontramos<br />

o “amar”.<br />

Na medida em que é autoerótico, o Eu não precisa do mundo exterior, mas<br />

recebe dele objetos, devido às experiências dos instintos de conservação do Eu,<br />

e portanto não pode deixar de sentir estímulos instintuais internos como desprazerosos<br />

por algum tempo. Sob o domínio do princípio do prazer se efetua<br />

nele mais uma evolução. Ele acolhe em seu Eu * os objetos oferecidos, na medida<br />

em que são fontes de prazer, introjeta-os (conforme a expressão de Ferenczi)<br />

e por outro lado expele de si o que se torna, em seu próprio interior,<br />

motivo de desprazer. (Ver mais adiante o mecanismo da projeção.)<br />

Logo, há uma mudança do Eu-realidade inicial, que distinguiu interior e<br />

exterior conforme um bom critério objetivo, em um purificado Eu-de-prazer,<br />

que põe o atributo do prazer acima de qualquer outro. O mundo externo se divide<br />

para ele em uma parte prazerosa, que incorporou em si, e um resto que<br />

lhe é estranho. Ele segregou uma parte integrante do próprio Eu, que lança ao<br />

mundo externo e percebe como inimiga. Após essa reordenação, restabelece-se<br />

a coincidência das duas polaridades:<br />

Eu-sujeito — com o prazer.<br />

Mundo externo — com o desprazer (antes com a indiferença).<br />

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