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Freud

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c) Novamente se busca uma outra pessoa como objeto, a qual, em virtude<br />

da transformação de meta ocorrida, tem de assumir o papel de sujeito.<br />

O caso c é o que comumente se chama de masoquismo. Também com ele a<br />

satisfação se dá pela via do sadismo original, o Eu passivo se colocando em<br />

fantasia no seu lugar anterior, agora deixado ao novo sujeito. É bastante<br />

duvidoso que exista uma satisfação masoquista mais direta. Não parece ocorrer<br />

um masoquismo original, que não surja a partir do sadismo, da maneira<br />

descrita. 2 Não é supérflua a hipótese do estágio b, como talvez se deduza do<br />

comportamento do instinto sádico na neurose obsessiva. Nela se encontra o<br />

voltar-se contra a própria pessoa sem a passividade diante de uma nova. A<br />

transformação vai somente até o estágio b. A ânsia de atormentar se torna tormento<br />

de si mesmo, castigo de si, e não masoquismo. O verbo ativo não se<br />

transforma no passivo, mas num médio reflexivo.<br />

A compreensão do sadismo é prejudicada também pela circunstância de que<br />

esse instinto parece buscar, além da sua meta geral (melhor, talvez: no interior<br />

dela) uma ação bem especial dotada de objetivo. Além da humilhação, do subjugamento,<br />

a inflição de dor. Mas a psicanálise parece mostrar que infligir<br />

dores não se relaciona com as originais ações do instinto dotadas de objetivo.<br />

A criança sádica não leva em conta a imposição de dor e não tem esse<br />

propósito. Uma vez efetuada a transformação em masoquismo, porém, as<br />

dores se prestam muito bem para uma meta masoquista passiva, pois temos todas<br />

as razões para supor que também as sensações dolorosas, como outras<br />

sensações de desprazer, invadem a excitação sexual e produzem um estado<br />

prazeroso, em virtude do qual se admite também o desprazer da dor. Quando<br />

sentir dores se torna uma meta masoquista, pode surgir também, retroativamente,<br />

a meta sádica de infligir dores, que o próprio indivíduo, ao suscitá-la<br />

em outros, frui masoquistamente na identificação com o objeto sofredor. Naturalmente<br />

se frui, em ambos os casos, não a dor mesma, mas a excitação sexual<br />

que a acompanha, o que é particularmente cômodo na posição do sádico. Portanto,<br />

fruir a dor seria uma meta originalmente masoquista, que no entanto só<br />

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