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objeto as psiconeuroses, mais precisamente aquelas denominadas “neuroses de<br />
transferência” (histeria e neurose obsessiva), e por meio delas chegou à compreensão<br />
de que um conflito entre as exigências da sexualidade e as do Eu se<br />
encontra na raiz de cada uma dessas afecções. É possível, porém, que um<br />
estudo aprofundado das outras afecções neuróticas (sobretudo das psiconeuroses<br />
narcísicas, as esquizofrenias) leve a uma mudança dessa fórmula, e com<br />
isso a uma outra classificação dos instintos primordiais. Mas atualmente não<br />
conhecemos essa nova fórmula, e ainda não deparamos com um argumento<br />
que fosse desfavorável à contraposição de instintos do Eu e instintos sexuais.<br />
Tenho sérias dúvidas de que seja possível, a partir do trabalho com o material<br />
psicológico, obter indicações decisivas a propósito da divisão e classificação<br />
dos instintos. Para os fins desse trabalho pareceria necessário, isto sim,<br />
aplicar ao material certas hipóteses sobre a vida dos instintos, e seria desejável<br />
que se pudesse retirar essas hipóteses de um outro campo, transportando-as<br />
para a psicologia. O que a biologia proporciona, no caso, não contraria certamente<br />
a distinção entre instintos sexuais e do Eu. A biologia ensina que a sexualidade<br />
não deve ser posta no mesmo plano que as demais funções do indivíduo,<br />
que as suas tendências vão além do individual e têm por conteúdo a<br />
produção de novos indivíduos, ou seja, a conservação da espécie. Ela nos<br />
mostra também que existem duas concepções, igualmente justificadas, para a<br />
relação entre o Eu e a sexualidade: segundo a primeira, o indivíduo é o principal,<br />
a sexualidade é uma de suas ocupações, a satisfação sexual, uma de suas<br />
necessidades; para a outra, o indivíduo é um apêndice provisório e passageiro<br />
do plasma germinativo quase imortal, que lhe foi confiado pela geração. A<br />
hipótese de que a função sexual se distingue dos outros processos corporais<br />
por um quimismo especial constitui também, pelo que sei, um pressuposto da<br />
pesquisa biológica de Ehrlich. *<br />
Como o estudo da vida instintual a partir da consciência traz dificuldades<br />
quase insuperáveis, a investigação psicanalítica dos distúrbios anímicos permanece<br />
a fonte principal de nosso conhecimento. Mas, em conformidade ao<br />
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