Freud
42/225 interna de estímulo, e sobretudo obrigam o aparelho nervoso a renunciar à sua intenção ideal de manter a distância os estímulos, pois sustentam um inevitável, incessante afluxo de estímulos. Talvez possamos concluir, então, que eles, os instintos, e não os estímulos externos, são os autênticos motores dos progressos que levaram o sistema nervoso, tão infinitamente capaz, ao seu grau de desenvolvimento presente. Claro que nada contraria a suposição de que os próprios instintos sejam, ao menos em parte, precipitados de efeitos de estímulos externos, que no curso da filogênese atuaram de modo transformador sobre a substância viva. E ao descobrir que mesmo a atividade dos mais evoluídos aparelhos psíquicos está sujeita ao princípio do prazer, ou seja, é automaticamente regulada por sensações da série prazer-desprazer, dificilmente podemos rejeitar o pressuposto seguinte, de que tais sensações reproduzem a maneira como se realiza a sujeição dos estímulos. Seguramente no sentido de que a sensação de desprazer está ligada ao aumento, e a sensação de prazer ao decréscimo do estímulo. Mas cuidemos de preservar essa hipótese em toda a sua indefinição, até que nos seja dado intuir a natureza da relação entre prazer-desprazer e as flutuações das grandezas de estímulos que atuam na vida psíquica. Certamente é possível que tais relações sejam muito variadas e bem pouco simples. Voltando-nos agora para a consideração da vida psíquica do ângulo da biologia, o “instinto” nos aparece como um conceito-limite entre o somático e o psíquico, como o representante psíquico dos estímulos oriundos do interior do corpo e que atingem a alma, como uma medida do trabalho imposto à psique por sua ligação com o corpo. Agora podemos discutir alguns termos utilizados em relação com o conceito de instinto, tais como: impulso, meta, objeto, fonte do instinto. Por impulso* de um instinto compreende-se o seu elemento motor, a soma de força ou a medida de trabalho que ele representa. O caráter impulsivo é uma característica geral dos instintos, é mesmo a essência deles. Todo instinto
é uma porção de atividade; quando se fala, desleixadamente, de instintos passivos, não se quer dizer outra coisa senão instintos com meta passiva. A meta* de um instinto é sempre a satisfação, que pode ser alcançada apenas pela supressão do estado de estimulação na fonte do instinto. Mas embora essa meta final permaneça imutável para todo instinto, diversos caminhos podem conduzir à mesma meta final, de modo que um instinto pode ter várias metas próximas ou intermediárias, que são combinadas ou trocadas umas pelas outras. A experiência também nos permite falar de instintos “inibidos na meta”, em processos que são tolerados por um trecho de caminho, na direção da satisfação instintual, mas que logo experimentam uma inibição ou desvio. É de supor que uma satisfação parcial também esteja ligada a esses processos. O objeto do instinto é aquele com o qual ou pelo qual o instinto pode alcançar a sua meta. É o que mais varia no instinto, não estando originalmente ligado a ele, mas lhe sendo subordinado apenas devido à sua propriedade de tornar possível a satisfação. Não é necessariamente um objeto estranho, mas uma parte do próprio corpo. Pode ser mudado frequentemente, no decorrer das vicissitudes que o instinto sofre ao longo da vida; esse deslocamento do instinto desempenha papéis dos mais importantes. Pode ocorrer que o mesmo objeto se preste simultaneamente à satisfação de vários instintos, o caso do “entrelaçamento instintual”, * segundo Alfred Adler. Uma ligação particularmente estreita do instinto ao objeto é qualificada de “fixação” do mesmo. Ela se efetua com frequência nos períodos iniciais do desenvolvimento instintual e põe termo à mobilidade do instinto, ao se opor firmemente à dissolução do laço. Por fonte do instinto se compreende o processo somático num órgão ou parte do corpo, cujo estímulo é representado na psique pelo estímulo. Não se sabe se tal processo é normalmente de natureza química ou se pode corresponder também à liberação de outras forças, mecânicas, por exemplo. O estudo das fontes de instintos já não pertence à psicologia; embora a procedência a partir da fonte somática seja o mais decisivo para o instinto, na psique nós o 43/225
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incessante afluxo de estímulos. Talvez possamos concluir, então, que<br />
eles, os instintos, e não os estímulos externos, são os autênticos motores dos<br />
progressos que levaram o sistema nervoso, tão infinitamente capaz, ao seu<br />
grau de desenvolvimento presente. Claro que nada contraria a suposição de<br />
que os próprios instintos sejam, ao menos em parte, precipitados de efeitos de<br />
estímulos externos, que no curso da filogênese atuaram de modo transformador<br />
sobre a substância viva.<br />
E ao descobrir que mesmo a atividade dos mais evoluídos aparelhos psíquicos<br />
está sujeita ao princípio do prazer, ou seja, é automaticamente regulada por<br />
sensações da série prazer-desprazer, dificilmente podemos rejeitar o pressuposto<br />
seguinte, de que tais sensações reproduzem a maneira como se realiza<br />
a sujeição dos estímulos. Seguramente no sentido de que a sensação de desprazer<br />
está ligada ao aumento, e a sensação de prazer ao decréscimo do estímulo.<br />
Mas cuidemos de preservar essa hipótese em toda a sua indefinição, até<br />
que nos seja dado intuir a natureza da relação entre prazer-desprazer e as flutuações<br />
das grandezas de estímulos que atuam na vida psíquica. Certamente é<br />
possível que tais relações sejam muito variadas e bem pouco simples.<br />
Voltando-nos agora para a consideração da vida psíquica do ângulo da biologia,<br />
o “instinto” nos aparece como um conceito-limite entre o somático e o<br />
psíquico, como o representante psíquico dos estímulos oriundos do interior do<br />
corpo e que atingem a alma, como uma medida do trabalho imposto à psique<br />
por sua ligação com o corpo.<br />
Agora podemos discutir alguns termos utilizados em relação com o conceito<br />
de instinto, tais como: impulso, meta, objeto, fonte do instinto.<br />
Por impulso* de um instinto compreende-se o seu elemento motor, a soma<br />
de força ou a medida de trabalho que ele representa. O caráter impulsivo é<br />
uma característica geral dos instintos, é mesmo a essência deles. Todo instinto