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mas também, por outro lado, estímulos contra os quais é inútil tal ação, que<br />
apesar disso mantêm o seu caráter de constante premência; esses estímulos são<br />
o sinal característico de um mundo interior, a evidência de necessidades instintuais.<br />
A substância percipiente desse ser terá adquirido, na eficácia de sua<br />
atividade muscular, um ponto de apoio para distinguir um “fora” de um<br />
“dentro”.<br />
Assim, encontramos a essência do instinto, primeiramente, em suas características<br />
principais: a origem em fontes de estímulo no interior do organismo,<br />
o aparecimento como força constante; e derivamos daí um outro de seus<br />
traços: sua irredutibilidade por meio de ações de fuga. Mas nesta discussão não<br />
pudemos deixar de perceber uma coisa que requer uma nova admissão. Nós<br />
não apenas aplicamos à matéria da experiência determinadas convenções, na<br />
forma de conceitos fundamentais, como nos servimos também de vários pressupostos<br />
complicados, para nos guiar no trabalho com os fenômenos psicológicos.<br />
O mais importante desses pressupostos já foi assinalado; resta-nos apenas<br />
destacá-lo expressamente. É de natureza biológica, faz uso do conceito de<br />
tendência (eventualmente de finalidade) e diz que o sistema nervoso é um<br />
aparelho ao qual coube a função de eliminar os estímulos que lhe chegam, de<br />
reduzi-los ao mais baixo nível, um aparelho que, se fosse possível, gostaria de<br />
manter-se verdadeiramente livre de estímulos. Não nos surpreendamos, no<br />
momento, com a imprecisão dessa ideia, e vamos atribuir ao sistema nervoso,<br />
em termos bem gerais, a tarefa de dominar os estímulos. Vemos, então, como o<br />
simples esquema do reflexo fisiológico torna-se complicado com a introdução<br />
dos instintos. Os estímulos externos colocam apenas a tarefa de subtrair-se a<br />
eles, o que acontece então por movimentos musculares, dos quais um alcança o<br />
fim e, sendo o mais apropriado, torna-se disposição hereditária. Os estímulos<br />
instintuais que surgem no interior do organismo não podem ser liquidados por<br />
esse mecanismo. Portanto, colocam exigências bem mais elevadas ao aparelho<br />
nervoso, induzem-no a atividades complexas, interdependentes, as quais modificam<br />
tão amplamente o mundo exterior, que ele oferece satisfação à fonte<br />
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