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Freud

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Não é raro ouvirmos a exigência de que uma ciência deve ser edificada sobre<br />

conceitos fundamentais claros e bem definidos. Na realidade, nenhuma ciência<br />

começa com tais definições, nem mesmo as mais exatas. O verdadeiro início da<br />

atividade científica está na descrição de fenômenos, que depois são agrupados,<br />

ordenados e relacionados entre si. Já na descrição é inevitável que apliquemos<br />

ao material certas ideias abstratas, tomadas daqui e dali, certamente não só da<br />

nova experiência. Ainda mais indispensáveis são essas ideias — os futuros<br />

conceitos fundamentais da ciência — na elaboração posterior da matéria.<br />

Primeiro elas têm de comportar certo grau de indeterminação; é impossível<br />

falar de uma clara delimitação de seu conteúdo. Enquanto se acham nesse estado,<br />

entramos em acordo quanto ao seu significado, remetendo continuamente<br />

ao material de que parecem extraídas, mas que na realidade lhes é subordinado.<br />

Portanto, a rigor elas possuem o caráter de convenções, embora a<br />

questão seja que de fato não são escolhidas arbitrariamente, mas determinadas<br />

por meio de significativas relações com o material empírico — relações que<br />

acreditamos adivinhar, ainda antes que possamos reconhecer e demonstrar.<br />

Apenas depois de uma exploração mais radical desse âmbito de fenômenos podemos<br />

apreender seus conceitos científicos fundamentais de maneira mais<br />

nítida e modificá-los progressivamente, tornando-os utilizáveis em larga medida<br />

e ao mesmo tempo livres de contradição. Então pode ser o momento de<br />

encerrá-los em definições. Mas o progresso do conhecimento também não tolera<br />

definições rígidas. Como ilustra de maneira excelente o exemplo da física,<br />

também os “conceitos fundamentais” fixados em definições experimentam<br />

uma constante alteração de conteúdo.<br />

Um conceito básico assim convencional, provisoriamente ainda um tanto<br />

obscuro, mas que não podemos dispensar na psicologia, é o de instinto [Trieb].<br />

Vamos tentar preenchê-lo de conteúdo a partir de ângulos diversos.<br />

Primeiramente a partir da fisiologia. Ela nos deu o conceito de estímulo e o<br />

esquema do arco reflexo, segundo o qual um estímulo que vem de fora para o<br />

tecido vivo (a substância nervosa) é descarregado para fora por meio da ação.

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