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o pelo ideal. Havendo uma tal instância, será impossível para nós descobri-la;<br />
poderemos apenas identificá-la e constatar que o que chamamos de nossa consciência<br />
moral tem essas características. O reconhecimento dessa instância nos<br />
torna possível compreender o que chamam delírio de ser notado ou, mais corretamente,<br />
observado, que surge de maneira tão clara na sintomatologia das<br />
doenças paranoides, podendo sobrevir também como doença isolada, ou entremeada<br />
na neurose de transferência. Os doentes se queixam então de que todos<br />
os seus pensamentos são conhecidos, todas as suas ações notadas e vigiadas; há<br />
vozes que os informam do funcionamento dessa instância, falando-lhes caracteristicamente<br />
na terceira pessoa (“Agora ela pensa novamente nisso; agora ele<br />
vai embora”). Essa queixa é justificada, ela descreve a verdade; um tal poder,<br />
que observa todos os nossos propósitos, inteirando-se deles e os criticando, existe<br />
realmente, e existe em todos nós na vida normal. O delírio de ser notado a<br />
apresenta em forma regressiva, e nisso revela a sua gênese e o motivo pelo<br />
qual o enfermo se revolta contra ela.<br />
Pois a incitação a formar o ideal do Eu, cuja tutela foi confiada à consciência<br />
moral, partiu da influência crítica dos pais intermediada pela voz, aos quais<br />
se juntaram no curso do tempo os educadores, instrutores e, como uma hoste<br />
inumerável e indefinível, todas as demais pessoas do meio (o próximo, a opinião<br />
pública).<br />
Grandes quantidades de libido essencialmente homossexual foram assim<br />
carreadas para a formação do ideal narcísico do Eu, e acham vazão e satisfação<br />
em conservá-lo. A instituição da consciência moral foi, no fundo, uma corporificação<br />
inicialmente da crítica dos pais, depois da crítica da sociedade, processo<br />
que é repetido quando nasce uma tendência à repressão a partir de uma<br />
proibição ou um obstáculo primeiramente externos. As vozes e a multidão indefinida<br />
são trazidas à luz pela doença, a evolução da consciência moral se reproduz<br />
regressivamente. Mas a revolta contra essa instância censória vem de<br />
que a pessoa, consoante o caráter fundamental da doença, quer se livrar de todas<br />
essas influências, começando pela dos pais, e retira deles a libido<br />
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