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Pouco antes, ela havia lamentado o outro lado dessa mudança: “Porque<br />
Rosmersholm me tirou a força, minha vontade e ousadia foi paralisada.<br />
Estropiada! Para mim passou o tempo em que eu me atrevia a tudo. Perdi a<br />
força para agir, Rosmer”.<br />
Ela dá essa explicação após haver se revelado uma criminosa, numa confissão<br />
espontânea a Rosmer e ao reitor Kroll, irmão da mulher que eliminou.<br />
Com breves toques de magistral sutileza, Ibsen deixa claro que Rebecca não<br />
mente, mas tampouco é inteiramente sincera. Assim como, apesar de toda a<br />
ausência de preconceitos, ela diminuiu em um ano a sua idade, também a sua<br />
confissão aos dois senhores é incompleta, e graças à insistência de Kroll vem a<br />
ser completada em alguns pontos essenciais. Também nós nos sentimos livres<br />
para supor que a explicação da sua renúncia apenas entrega uma coisa para<br />
esconder outra.<br />
É certo que não temos motivo para desconfiar da sua declaração de que o ar<br />
de Rosmersholm, o trato com aquele homem nobre, produziu efeito enobrecedor<br />
— e paralisador — sobre ela. Com isso está dizendo o que sabe e o que<br />
sentiu. Mas isto não é, necessariamente, tudo o que se passou dentro dela; também<br />
não é preciso que ela possa dar contas de tudo a si mesma. A influência de<br />
Rosmer pode ser apenas um manto sob o qual se oculta uma outra impressão, e<br />
algo notável aponta nessa outra direção.<br />
Mesmo após a confissão, no último diálogo entre eles, com o qual termina a<br />
peça, Rosmer lhe pede ainda uma vez que seja sua mulher. Ele lhe perdoa tudo<br />
o que cometeu por amor a ele. Ela não responde então o que deveria, que nenhum<br />
perdão pode livrá-la do sentimento de culpa que adquiriu por haver perfidamente<br />
enganado a pobre Beate. Em vez disso, chama para si uma outra recriminação,<br />
que nos parece estranha numa livre-pensadora, e que não merece<br />
de modo algum a importância que ela lhe dá: “Ah, meu amigo, ...não torne a<br />
falar nisso! É algo impossível! Você precisa saber, Rosmer, que eu tenho um<br />
passado”. Naturalmente ela insinua que teve relações sexuais com outro<br />
homem, e observemos que para ela tais relações, num tempo em que era livre e