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Freud

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Há alguns anos Rebecca e Rosmer vivem sós em Rosmersholm, num relacionamento<br />

que ele pretende considerar uma amizade puramente espiritual e<br />

ideal. Mas, quando as primeiras sombras dos boatos começam a obscurecer tal<br />

relação, e, ao mesmo tempo, dúvidas atormentadoras se agitam em Rosmer,<br />

quanto aos motivos que levaram à morte sua mulher, ele pede a Rebecca que<br />

se torne sua segunda esposa, para opor ao triste passado uma realidade nova e<br />

plena de vida (ato ii). Por um instante ela se alegra com tal proposta, mas logo<br />

afirma que é impossível a união e que, caso ele insista, ela “tomará o mesmo<br />

caminho de Beate”. Rosmer não compreende a rejeição; ainda mais incompreensível<br />

é ela para nós, que sabemos mais acerca dos atos e das intenções de<br />

Rebecca. Apenas não cabe duvidar que o seu “não” é dito seriamente.<br />

Como pôde acontecer que a aventureira de vontade livre e ousada, que sem<br />

escrúpulos pavimentou o caminho para a realização de seus desejos, agora se<br />

recuse a colher, quando lhe é oferecido, o fruto do sucesso? Ela mesma nos dá<br />

a explicação no quarto ato: “É justamente isso o mais terrível, que agora —<br />

quando toda a felicidade do mundo me é entregue nas mãos —, eu me tenha<br />

tornado uma pessoa cujo caminho para a felicidade é obstruído pelo próprio<br />

passado”. Então ela se tornou outra nesse meio tempo, sua consciência despertou,<br />

ela passou a ter um sentimento de culpa que lhe impede a fruição.<br />

E como foi despertada sua consciência? Escutemos ela mesma e reflitamos<br />

depois se é possível lhe dar crédito: “Foi a concepção de vida da casa Rosmer<br />

— ou, pelo menos, a tua concepção da vida — que contagiou minha vontade.<br />

[...] E a deixou doente. Subjugou-a com leis que antes não valiam para mim. A<br />

convivência contigo — isso enobreceu meu espírito”.<br />

Esta influência, podemos admitir, deu-se apenas quando Rebecca pôde<br />

conviver sozinha com Rosmer: “...na quietude, ...na solidão, ...quando você<br />

me confiava sem reservas os seus pensamentos, ...cada estado de ânimo, sutil e<br />

delicado como você o sentia, ...então houve a minha grande mudança”.<br />

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