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Freud

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[Ato v, cena 1]<br />

Por quem sois, meu senhor, que vergonha! Um soldado com medo? — Por que<br />

havemos de recear que alguém o saiba, se ninguém nos pode pedir contas?<br />

Ouve batidas na porta, as mesmas que aterrorizaram seu marido após o<br />

crime. Ao mesmo tempo se esforça por “desfazer o ato que não pode ser desfeito”.<br />

Lava as mãos, que estão sujas de sangue e que cheiram a sangue, e<br />

torna-se cônscia da inutilidade desse esforço. O arrependimento parece havêla<br />

prostrado, a ela, que parecia não tê-lo. Quando ela morre, Macbeth, que<br />

nesse ínterim se tornou implacável como ela fora no início, tem apenas este<br />

breve epitáfio para ela:<br />

(Ato v, cena 5):<br />

É morta... Não devia ser agora.<br />

Sempre seria tempo para ouvir-se<br />

Essas palavras.<br />

Agora nos perguntamos o que quebrantou esse caráter, que parecia feito do<br />

mais duro metal. Seria apenas a decepção, a outra face que mostra o ato consumado?<br />

* Devemos inferir que também em lady Macbeth uma psique originalmente<br />

branda e feminina se exercitara até atingir uma concentração e elevada<br />

tensão que não podia durar? Ou podemos pesquisar indícios de uma motivação<br />

mais profunda, que nos torne humanamente mais inteligível esse<br />

colapso?<br />

Considero impossível chegar aqui a uma decisão. O Macbeth de<br />

Shakespeare é uma peça de ocasião, escrita quando subiu ao trono James, até<br />

então rei da Escócia. O material já existia e foi tratado por outros autores, que<br />

Shakespeare provavelmente utilizou, como costumava fazer. Ele ofereceu<br />

notáveis referências à situação contemporânea. A “virginal” Elizabeth, da qual

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