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Freud

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ciúme, impediu o seu trabalho artístico e depois sucumbiu a uma incurável<br />

doença psíquica.<br />

Uma outra observação me revelou um homem bastante respeitável, que,<br />

professor universitário, por muitos anos alimentara o compreensível desejo de<br />

suceder na cátedra o seu mestre, que o havia introduzido na ciência. Quando,<br />

após o afastamento desse senhor, os colegas lhe participaram que somente ele<br />

poderia sucedê-lo, começou a hesitar, diminuiu seus méritos, declarou-se indigno<br />

de assumir a posição que lhe destinavam e caiu numa melancolia que nos<br />

anos seguintes o deixou incapaz de qualquer atividade.<br />

Embora diferentes em vários aspectos, esses dois casos coincidem em que a<br />

enfermidade aparece quando da realização do desejo e põe fim à fruição desta.<br />

Não é insolúvel a contradição entre essas observações e a tese de que as<br />

pessoas adoecem devido à frustração. Ela vem a ser abolida pela distinção<br />

entre uma frustração externa e uma interna. Se o objeto no qual a libido pode se<br />

satisfazer falta na realidade, eis uma frustração externa. Por si ela não tem<br />

efeito, não é patogênica, enquanto não se junta a ela uma frustração interna.<br />

Esta precisa originar-se do Eu e contrariar o acesso da libido a outros objetos,<br />

de que ela agora quer se apoderar. Só então surge o conflito e a possibilidade<br />

de um adoecimento neurótico, isto é, de uma satisfação substituta pela via indireta<br />

do inconsciente reprimido. Portanto, a frustração interna deve ser considerada<br />

em todos os casos, mas não produz efeito até que a real frustração externa<br />

tenha preparado o terreno para ela. Nos casos excepcionais em que as<br />

pessoas adoecem com o êxito, a frustração interna atuou por si só, e realmente<br />

só apareceu depois que a frustração externa deu lugar à realização do desejo. À<br />

primeira vista há algo surpreendente nisso, mas uma reflexão mais detida nos<br />

lembra que não é incomum o Eu tolerar um desejo como sendo inócuo,<br />

quando ele existe somente na fantasia e parece distante de se realizar, e opor-se<br />

fortemente a ele, quando está próximo de se concretizar e ameaça tornar-se<br />

realidade. Ante situações conhecidas de formação da neurose, a diferença está<br />

em que geralmente são intensificações interiores do investimento libidinal que

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