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Freud

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realidade, que diferencia o homem maduro da criança. Nessa obra educativa,<br />

dificilmente a melhor compreensão do médico tem papel decisivo; pois via de<br />

regra ele não sabe dizer ao doente senão o que o próprio entendimento deste<br />

lhe dirá. Mas não é a mesma coisa saber algo por si mesmo e ouvi-lo de outrem;<br />

o médico assume o papel desse outro eficaz; ele se utiliza da influência que<br />

uma pessoa exerce sobre a outra. Ou, lembrando que é costume da psicanálise<br />

pôr o que é original e radical no lugar do que é derivado e atenuado, digamos<br />

que o médico se serve de algum componente do amor em sua obra educativa.<br />

Provavelmente ele apenas repete, numa tal educação posterior, o processo que<br />

tornara possível a primeira educação. Ao lado da necessidade, o amor é o<br />

grande educador, e o ser humano incompleto é levado, pelo amor dos que lhe<br />

são próximos, a respeitar os mandamentos da necessidade, poupando-se os<br />

castigos por sua infração.<br />

Quando assim requeremos do doente uma momentânea renúncia a uma satisfação<br />

de prazer, um sacrifício, a disposição de temporariamente aceitar o sofrer<br />

em vista de um final melhor, ou apenas a decisão de submeter-se a uma<br />

necessidade que vale para todos, deparamos com certos indivíduos que se<br />

opõem a tal exigência por um motivo especial. Dizem que já sofreram e renunciaram<br />

o bastante, que têm direito a serem poupados de outras requisições, que<br />

não se sujeitam mais a qualquer necessidade desagradável, pois são exceções e<br />

pretendem continuar a sê-lo. Num doente desse tipo, essa reivindicação foi exacerbada<br />

na convicção de que uma providência especial zelava por ele e o protegeria<br />

de tais sacrifícios dolorosos. Os argumentos do médico nada valem<br />

contra certezas interiores que se exteriorizam com tal força; também sua influência<br />

fracassa de início, e ele se volta para a pesquisa das fontes que alimentam<br />

esse danoso preconceito.<br />

Não há dúvida de que cada qual gostaria de ver-se como “exceção” e<br />

reivindicar prerrogativas ante os demais. Mas justamente por isso deve haver<br />

uma razão especial, em geral não encontrada aqui, para que a pessoa se proclame<br />

uma exceção e se comporte como tal. Pode haver mais de uma razão

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