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processo tão doloroso, isso não compreendemos, e não conseguimos explicar<br />
por nenhuma hipótese até o momento. Só percebemos que a libido se apega a<br />
seus objetos e, mesmo quando dispõe de substitutos, não renuncia àqueles perdidos.<br />
Isso, portanto, é o luto.<br />
A conversa com o poeta aconteceu no verão antes da guerra. Um ano depois<br />
rompeu a guerra e despojou o mundo de suas belezas. Destruiu não só a<br />
beleza das paisagens por onde passou e as obras de arte que deparou no caminho,<br />
mas destroçou também nosso orgulho pelas realizações da cultura, nosso<br />
respeito por tantos pensadores e artistas, nossa esperança de uma superação final<br />
das diferenças entre povos e raças. Maculou a altiva imparcialidade de<br />
nossa ciência, mostrou nossa vida instintiva em toda a sua nudez, libertou os<br />
maus espíritos que existem em nós, os que julgávamos domados para sempre,<br />
por séculos de educação através das mentes mais nobres. Tornou nosso país<br />
novamente pequeno e o resto do mundo novamente distante. Despojou-nos de<br />
muitas coisas que amávamos, e revelou a fragilidade de tantas outras que<br />
acreditávamos sólidas.<br />
Não é de estranhar que a nossa libido, tão empobrecida de objetos, tenha se<br />
ligado com intensidade tanto maior àquilo que nos restou, que o amor à pátria,<br />
a ternura pelos mais próximos e o orgulho pelo que temos em comum tenham<br />
se fortalecido subitamente. E aqueles outros bens agora perdidos tornaram-se<br />
realmente sem valor para nós, por terem se revelado tão frágeis e sem resistência?<br />
Muitos entre nós pensam assim; mas injustamente, afirmo outra vez. Creio<br />
que os que têm essa opinião e parecem dispostos a uma renúncia permanente,<br />
já que o precioso não demonstrou ser durável, acham-se apenas em estado de<br />
luto pela perda. Sabemos que o luto, por mais doloroso que seja, acaba naturalmente.<br />
Tendo renunciado a tudo que perdeu, ele terá consumido também a si<br />
mesmo, e nossa libido estará novamente livre — se ainda somos jovens e vigorosos<br />
— para substituir os objetos perdidos por outros novos, possivelmente<br />
tão ou mais preciosos que aqueles. Cabe esperar que não seja diferente com as<br />
perdas dessa guerra. Superado o luto, perceberemos que a nossa elevada