You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
esposta tem de ser: quase a mesma daquela do homem primevo. Neste, como<br />
em muitos outros aspectos, o homem da pré-história continua a viver inalterado<br />
em nosso inconsciente. Portanto, nosso inconsciente não crê na própria<br />
morte, faz como se fosse imortal. O que chamamos de nosso “inconsciente”, as<br />
camadas mais profundas de nossa alma, constituídas de impulsos instintuais,<br />
não conhece em absoluto nada negativo, nenhuma negação — nele os opostos<br />
coincidem —, e por isso não conhece tampouco a própria morte, a qual só podemos<br />
dotar de um conteúdo negativo. Logo, não existe em nós nada instintual<br />
que favoreça a crença na morte. Talvez esteja aí o segredo do heroísmo. A<br />
fundamentação racional do heroísmo repousa no julgamento de que a própria<br />
vida da pessoa não pode ser tão valiosa quanto certos bens abstratos e universais.<br />
Mas acho que bem mais frequente deve ser o heroísmo instintivo e impulsivo,<br />
* que não considera tal motivação e enfrenta os perigos simplesmente<br />
conforme a certeza do João Bate-Pedra, de Anzengruber: “Nada te pode<br />
acontecer!”. * Ou tal motivação serve apenas para afastar os escrúpulos que poderiam<br />
deter a reação heroica que corresponde ao inconsciente. Já o medo da<br />
morte, que com frequência nos domina mais do que pensamos, é algo secundário,<br />
e em geral proveniente da consciência de culpa.<br />
Por outro lado, admitimos a morte para estranhos e inimigos e os condenamos<br />
a ela com a mesma disposição e leveza que o homem primitivo. Mas aqui<br />
há uma diferença que na realidade consideraremos decisiva. Nosso inconsciente<br />
não executa o assassínio, apenas o imagina e deseja. Não seria justo,<br />
porém, subestimar tão completamente essa realidade psíquica, em comparação<br />
à fática. Ela é significativa e prenhe de consequências. Em nossos impulsos inconscientes<br />
eliminamos, a todo dia e momento, todos os que nos estorvam o<br />
caminho, que nos ofenderam e prejudicaram. O “Vá para o inferno!”, que não<br />
raro nos vem aos lábios com mau humor brincalhão, e que na verdade quer<br />
dizer “Que a morte o leve!”, é em nosso inconsciente um desejo sério e vigoroso<br />
de morte. Sim, o nosso inconsciente mata inclusive por ninharias; como a<br />
antiga legislação ateniense de Draco, não conhece outro castigo senão a morte,<br />
179/225