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até de homem sem terra e sem grande sustento,<br />
do que reinar aqui sobre todos os mortos.”<br />
(Odisseia, canto xi, versos 484-91) *<br />
Ou, na vigorosa e amarga paródia de Heine:<br />
O menor vivente filisteu<br />
Numa aldeia à beira do Neckar, é mais feliz<br />
do que eu, o Pélida, o herói defunto,<br />
O príncipe-espectro do ínfero mundo. *<br />
Apenas mais tarde as religiões vieram a proclamar essa outra existência<br />
mais preciosa e plenamente válida, reduzindo a uma mera preparação a vida<br />
que termina com a morte. Depois disso foi algo apenas consequente prolongar<br />
a vida no passado, inventar existências anteriores, a transmigração das almas e<br />
a reencarnação, tudo com o propósito de roubar à morte seu significado de abolição<br />
da vida. Foi assim cedo que teve início a negação da morte que designamos<br />
como cultural-convencional.<br />
Junto ao corpo da pessoa amada surgiram não só a doutrina da alma, a<br />
crença na imortalidade e uma poderosa fonte da consciência de culpa humana,<br />
mas também os primeiros mandamentos éticos. A primeira e mais significativa<br />
proibição feita pela consciência que despertava foi: “Não matarás”. Foi adquirida<br />
ante o morto amado, como reação frente à satisfação do ódio que se<br />
escondia por trás do luto, e gradualmente estendeu-se ao estranho não amado<br />
e por fim também ao inimigo.<br />
Neste último caso não é mais sentida pelo homem civilizado. Quando a<br />
selvagem luta dessa guerra estiver decidida, cada um dos combatentes<br />
vitoriosos retornará feliz para o lar, para sua mulher e seus filhos, desimpedido<br />
e sem perturbar-se com a lembrança dos inimigos que matou em corpo a corpo<br />
ou por armas de longo alcance. É digno de nota que os povos primitivos que